Você está na página 1de 10

1

Análise do princípio do poluidor-pagador em seu âmbito


histórico, conceitual, legal e jurisprudencial.

Fernanda Freitas de Aguiar Vasconcelos1


Kaio Cezar Luiz Chaves2
Dr. Talden Queiroz Farias3

SUMÁRIO: 1 Introdução – 2 Conceito de princípios jurídicos – 3 Breve histórico do


surgimento dos princípios – 4 O princípio do poluidor pagador – 5 O princípio do poluidor-
pagador no ordenamento jurídico brasileiro – 6 A jurisprudência pátria e o princípio do
poluidor-pagador – 7 Conclusões – 8 Referências.

RESUMO: Este trabalho busca abordar o princípio do poluidor pagador, iniciando com uma
análise sobre o que é um princípio, o contexto histórico do surgimento de um princípio e de
forma objetiva da técnica de resolução da colisão de princípios, mais especificamente a técnica
da ponderação. Com efeito, este trabalho em seu segundo momento vai buscar compreender o
conceito do princípio do poluidor pagador, o contexto do seu surgimento e uma análise dele no
âmbito constitucional brasileiro. A última parte deste resumo expandido busca avaliar os
impactos do princípio em estudo na jurisprudência pátria e a relevância do referido princípio
no ordenamento jurídico pátrio.

PALAVRAS-CHAVE: Direito Ambiental – Princípio do Poluidor-Pagador – Ordenamento


Jurídico Brasileiro.

1 Introdução

Este trabalho busca compreender a importância do princípio do poluidor pagador,


aspectos ligados à sua origem, a sua presença no âmbito constitucional e infraconstitucional e
ainda a sua aplicação por parte da jurisprudência pátria. É prudente destacar que esse trabalho
não possui pretende esgotar o tema, haja vista se trata de um tema profundo e que ainda está
em construção. Este trabalho se inicia com uma relevante abordagem sobre o conceito de

1
Graduanda em Direito pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Matrícula: 11500322, Período:
9º, turno: noturno.
2
Graduando em Direito pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Matrícula: 11500322, período:
9º, turno: noturno.
3
Docente da Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
2

princípio jurídico, a sua origem histórica, passando pelos períodos jusnaturalista, positivista e
pós-positivista, até finalmente declinar no conceito do princípio por renomados autores e na sua
abordagem retro mencionada.

2 Conceito de princípios jurídicos

Em primeiro lugar, podemos observar que há um consenso doutrinário em afirmar que


os princípios são normas, tais como as regras, em razão de apresentarem “categorias
deontológicas comuns às normas — o mandado (determina-se algo), a permissão (faculta-se
algo) e a proibição (veda-se algo) ” (MENDES; BRANCO, 2012, p. 108). Do mesmo modo, os
princípios são normas que apresentam um teor mais aberto em detrimento das regras, haja vista
que os princípios carecem de mediações concretizadoras por parte do legislador, do juiz ou da
Administração (MENDES; BRANCO, 2012, p. 108). Os autores da obra retromencionada ainda
afirmam que os princípios estão ligados a uma ideia de justiça, quando se parte para conceituar
os princípios de acordo com a ideia de Direito. Alguns pontos relevantíssimos para a nossa
análise do conceito de princípios são tratados pelos autores do seguinte modo:
“Os princípios teriam, ainda, virtudes multifuncionais, diferentemente das
regras. Os princípios, nessa linha, desempenhariam também uma função
argumentativa. Por serem mais abrangentes que as regras e por assinalarem os
standards de justiça relacionados com certo instituto jurídico, seriam
instrumentos úteis para se descobrir a razão de ser de uma regra ou mesmo de
outro princípio menos amplo. Assim, o princípio da igualdade informaria o
princípio da acessibilidade de todos aos cargos públicos, que, de seu turno,
confere a compreensão adequada da norma, que exige o concurso público para
o preenchimento desses cargos. ” (MENDES; BRANCO, 2012, p. 108).

De outra banda, é prudente ressaltar que os princípios para parte da doutrina ocupam
um lugar importantíssimo no mundo jurídico tendo em vista que ocupam um lugar de destaque
nas fontes do Direito, pois influenciam as outras fontes do Direito. É por meio dos princípios
que nascem os mais importantes leis, costumes, jurisprudência e doutrina. De fato, a margem
de aplicabilidade dos princípios é vasta, caso em nenhuma das fontes haja margem para sua
respectiva aplicabilidade, os princípios certamente oferecerão uma boa solução para os conflitos
existentes em nossos tribunais. Já no fim deste tópico vamos trazer aqui dois conceitos de
princípios jurídicos de renomados autores da doutrina pátria, vejamos:
Para o autor Uadi Lammêgo Bulos o conceito de princípio jurídico diz que:

“É um mandamento nuclear do sistema, alicerce, pedra de toque, disposição


fundamental, que esparge sua força por todos os escaninhos do ordenamento.
Não comporta enumeração taxativa, mas exemplifica, porque além de
3

expresso, também pode ser implícito. Seu espaço é amplo, abarcando debates
ligados à Sociologia, à antropologia, à Medicina, ao Direito, à filosofia, e, em
particular, à liberdade, à igualdade, à justiça, à paz etc.” (BULOS, 2015, p.
507).

Já o grande jurista José Afonso da Silva afirma que os princípios:

“São ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas, são [como


observam Gomes Canotilho e Vital Moreira] ‘núcleos de condensações’ nos
quais confluem valores e bens constitucionais. Mas, como disseram os
mesmos autores, “os princípios, que começam por ser a base de normas
jurídicas, podem estar positivamente incorporados, transformando-se em
normas-princípios e constituindo preceitos básicos da organização
constitucional. ” (SILVA, 2016)

3 Breve histórico do surgimento dos princípios


Até que o direito chegasse na configuração atual, denominada por alguns autores de
pós-moderna, ele passou por algumas fases, os grandes estudiosos da teoria geral do Direito
como Tércio Sampaio Ferraz Júnior e Miguel Reale simplificam essas fases em três: O
jusnaturalismo, o positivismo e o pós-positivismo. É necessário ponderar que este trabalho não
tem por objetivo esgotar esses conceitos que são complexos e envolve o pensamento de
inúmeros autores e filósofos.
Em primeiro lugar, o jusnaturalismo foi uma fase do direito em que era muito latente a
ideia de justiça imutável e universal. Para grande parte dos autores o jusnaturalistas, o direito é
algo natural e anterior ao ser humano e que procura sempre estar próximo dos valores humanos,
a exemplo da dignidade humana e a igualdade. O jusnaturalismo, quanto a sua abordagem
principiológica, de forma geral não se entendia que os princípios possuíam normatividade,
tratavam-se apenas de diretrizes para dar ensejo a uma decisão justa.
Em seguida, veio ao mundo jurídico uma nova fase, o positivismo, marcada pelo rigor
normativo, uma fase em que as codificações começaram a surgir e alguns autores imaginavam
que seriam capazes de fazer códigos com a previsão de todas as condutas possíveis e foram
completamente refutados ao longo do tempo com as transformações que o mundo moderno
oferecia. Nessa fase os princípios ganharam espaço nos ordenamentos jurídicos e estavam aptos
a realizar o preenchimento de lacunas e no auxílio na interpretação das leis, podemos aqui citar
como exemplo a famosa ideia da moldura de Hans Kelsen, em que a norma oferecia algumas
possíveis interpretações e o autor poderia acolher a que se aplicasse ao caso concreto.
E finalmente, podemos citar o pós-positivismo, essa fase se deu início com os horrores
que aconteceram na segunda guerra mundial, mais especificamente falando com os horrores
4

enfrentados no holocausto judeu e de alguns outros grupos minoritários como homossexuais


ciganos. A partir daí nós entramos no pós-positivismo uma fase não linear, mas com a forte
presença da aplicação dos princípios tanto em termos de presença nas normas, quando nas
jurisprudências e nas doutrinas. É válido destacar por fim, que se entende hodiernamente que
os princípios possuem normatividade.

4 O princípio do poluidor pagador


Segundo os doutrinadores do Direito Ambiental, esse princípio surgiu da recomendação
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em maio de 1972.
A lógica desse princípio encontra-se na simples ideia de que quem polui tem que pagar, tendo
em vista que o poluidor priva a coletividade de utilizar um bem comum a todos. Dentro deste
princípio ainda surgiu a ideia de que o poluidor não deve lucrar com o dano que causou a
sociedade, mas sim arcar com os danos causados para que não venha a cometer os mesmos atos
novamente e para que sirva de exemplo também para outros membros da sociedade, para que
não venham cometer os mesmos equívocos. Por isso, não visa incentivar uma situação de
“posso poluir porque pago”, mas sim fazer com que as empresas e empresários suportem os
custos da degradação ambiental, internalizando-os.
Para uma melhor compreensão deste princípio recorramos a duas visões da construção
doutrinária a este respeito:

“O princípio da prevenção estabelece a vedação de intervenções no meio


ambiente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações
adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas
conclusivas sobre a incolumidade de determinados procedimentos.
(COUTINHO; FARIAS; MELO, 2015, p. 45)

A doutrina de Cristiane Derani que "durante o processo produtivo, além do


produto a ser comercializado, são produzidas ' externalidades negativas'. São
chamadas externalidades porque, embora resultantes da produção, são
recebidas pela coletividade, ao contrário do lucro, que é percebido pelo
produtor privado. Daí a expressão 'privatização de lucros e socialização de
perdas', quando identificadas as externalidades negativas. Com a aplicação
deste princípio procura-se corrigir este custo adicionado à sociedade,
impondo-se sua internalização". (SILVA, 2015, p. 75)

5 O Princípio do Poluidor-Pagador no ordenamento jurídico brasileiro

Compreendido o que são os princípios e a definição do que é poluidor-pagador, é


necessário saber como ocorre sua incursão e análise à luz do ordenamento jurídico brasileiro,
5

tanto na ordem constitucional, como na infraconstitucional. Para isso, porém, é preciso que
antes haja uma retrospectiva histórica em como o princípio aqui estudado encontrou sua
importância e normatividade nas leis nacionais.

Assim sendo, o direito ambiental é marcado por três fases: a individualista, do


descobrimento até meados da década de 1950, na qual não havia preocupação com o meio
ambiente, mas sim com as riquezas econômicas que podiam ser geradas através de sua
exploração; a fragmentária, ocorrida entre 1950 a 1980, na qual era possível observar que alguns
recursos naturais eram protegidos em razão de sua importância para determinadas atividades
econômicas; e, por fim, a holística, etapa em que o meio-ambiente passa a ser “todo integrado
e interdependente” (COUTINHO; FARIAS; MELO, 2015, p. 20), merecendo ser protegido em
sua totalidade, e não por fragmentos considerados em sua importância para geração de riquezas.
Esta última fase iniciou por volta de 1981, persistindo até os dias atuais. (COUTINHO;
FARIAS; MELO, 2015)

Importante saber tal classificação pois é a partir dos últimos anos da fase fragmentária
que a preocupação com o meio ambiente no âmbito internacional vai tomando força e, por
conseguinte, são realizadas conferências reunindo diversos países para tratar sobre o tema,
encaminhando-se, portanto, para a concepção do meio-ambiente como unidade integrada e
interdependente, direito humano fundamental.

É nesse contexto que, em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza a
Conferência de Estocolmo, resultando na “Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente”. É nesse documento que importantes diretrizes, princípios e objetivos quanto
ao meio ambiente e sua proteção são traçados.

O princípio do poluidor não surge diretamente dessa Declaração, mas, no mesmo ano,
a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) adota uma
recomendação que define o princípio do poluidor-pagador. O texto, não vinculativo, assim diz:
“As despesas relativas aos custos de prevenção e controle da poluição devem ser imputadas
aos poluidores. O custo destas medidas deve se refletir no preço do produto cuja produção ou
consumo provoca a poluição.”4 (OCDE, 1972)

Entretanto, apenas em 1992, com a realização da Eco-92 (Conferência das Nações


Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvida), realizada no Rio de Janeiro, Brasil, há a

4
Tradução livre.
6

previsão expressa e direta do princípio do poluidor-pagador em uma declaração da ONU. A


Eco-92 resultou no que ficou conhecida como “Declaração do Rio de Janeiro”, que em sua
Princípio 16 assim diz:

“Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo


decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem promover a
internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos,
levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os
investimentos internacionais. ”
(CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDADES SOBRE O MEIO
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1992)
No direito nacional, contudo, o princípio analisado já havia sido inserido, mesmo que
de forma implícita, na Lei nº 6.938 de 1981, conhecida por Política Nacional do Meio
Ambiente. Assim, a legislação menciona:

“Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características
do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;
Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,
estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação
da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente.” (BRASIL, 1981)
7

Portanto, pela lei descrita, o poluidor-pagador não é aquele que causa ou causará
poluição, mas, em conceito mais abrangente, aquele que causa degradação ambiental, definido
nos termos supramencionados.

Pelos conceitos estudados, vê-se que o princípio não objetiva ser punição, porque os
atos são lícitos. Mesmo assim, não é permissão para poluir, consubstanciando-se em
internalização do custo ambiental que é suscitado em razão de determinada atividade. Assim,
o poluidor arca com os custos ambientais que sua atividade causa, sem onerar a sociedade ou o
Poder Público, mas, por outro lado, retribuindo-os, ou, em último caso, reparando os danos
causados.

Assim, o princípio do poluidor-pagador tem duas faces: o de prevenir, ou seja, o de


evitar a ocorrência de dano ambiental, e o repressivo, o que significa que, se o dano ambiental
ocorrer, este deverá ser devidamente reparado.

Por fim, na ordem constitucional o princípio do poluidor-pagador é reconhecido em dois


momentos sob a égide do artigo 225, parágrafos 2º e 3º da CRFB/88.

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” (BRASIL,
1988)
Assim, diz-se que o princípio do poluidor-pagador foi recepcionado pela Constituição
atual em seu artigo 225, § 3. Para uma análise mais acurada do referido princípio na ordem
constitucional, o próximo tópico apresenta alguns julgados e suas interpretações da matriz
principiológica em comento.

6 A jurisprudência pátria e o Princípio do Poluidor-Pagador

Como dito, o princípio estudado tem uma órbita repressiva, e nesse sentido, a
jurisprudência brasileira o associa à responsabilidade civil objetiva prevista no § 3º, art. 225 da
CRFB/88, pois como visto na conceituação, o pagamento decorrente da poluição (no princípio
8

do poluidor-pagador) não decorre de uma pena, ou infração administrativa, ou ambos


simultaneamente, mas sim de uma internalização de custos.

Por isso, tanto na jurisprudência das cortes superiores, quanto das ordinárias, o princípio
do poluidor-pagador tem sido aplicado como forma de responsabilizar objetivamente, isto é,
sem qualquer demonstração de culpa, aquele que causa degradação ambiental.

Destarte, o Egrégio Superior tribunal de Justiça dispõe por meio de teses e julgados:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO AO
MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO
DE HOTEL EM ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE
AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-AMBIENTAL. OBRA
POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA
DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO DE
IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO
AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO
URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR
(ART. 4°, VII, PRIMEIRA PARTE, DA LEI 6.938/1981).
RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981).
PRINCÍPIO DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°,
CAPUT, DA LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública
proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de Porto
Belo-SC e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por
construção irregular de hotel de três pavimentos com aproximadamente 32
apartamentos. (...) 11. Pacífica a jurisprudência do STJ de que, nos termos
do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência do
princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte),
do mesmo estatuto, é obrigado, independentemente da existência de
culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos que
cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo
prescindível perquirir acerca do elemento subjetivo, o que, consequentemente,
torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de acertamento da natureza,
conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico
e de indenização.
(STJ, REsp 769753 / SC, 2009)
A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como
excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante a incidência da teoria
do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental
(art. 225, §3º, da CF e art. 14, §1º, da Lei n. 6.938/1981), responsabilizando
o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador.
(STJ, 2019. Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 438)”
Tal entendimento também é reforçado na jurisprudência dos tribunais federais, a
exemplo da apelação cível julgada pelo Tribunal Regional Federal da 4º Região:

“ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


SUPRESSÃO DE MATA ATLÂNTICA. INEXISTÊNCIA DE LICENÇA
9

AMBIENTAL. RECUPERAÇÃO. INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA


SUPLEMENTAR. 1. A responsabilidade civil por danos ao meio ambiente é
de natureza objetiva e encontra respaldo no art. 225, § 3º da Constituição
Federal, no art. 14, § 1º, da Lei n.º 6.938/1981, no art. 7º da Lei n.º 7.661/1988,
no art. 2º, § 1º, do Código Florestal, e nos princípios do poluidor-pagador, da
prevenção e da precaução. (..)”

(TRF-4 - AC: 50064501720144047215 SC 5006450-17.2014.4.04.7215,


Relator: VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, Data de Julgamento:
27/03/2019, QUARTA TURMA)

7 Conclusões

Ante o exposto, é possível concluir que o princípio do poluidor-pagador não é só mais


uma norma geral e abstrata, posto que se encontra concretizada no ordenamento jurídico
brasileiro, tendo previsão expressa no âmbito internacional, na legislação nacional infra e
constitucional.

Tendo dois aspectos de aplicação, o repressivo e preventivo, sua incidência também


justifica a responsabilidade objetiva, como visto pelos julgados apresentados.

Assim sendo, tem-se que o princípio do poluidor-pagador tem sua importância


consubstanciada no fato de que permite que a sociedade e o Poder Público não suportem danos
pelos quais não foram responsáveis, atribuindo os custos àquele que causou ou poderia causar
a degradação ambiental, assim retribuindo ou reparando a avaria ocasionada ao meio-ambiente.

8 Referências

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, 1981. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm>. Acesso em :21 mar. 2020

_______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em :21
mar. 2020.

_______. STJ. REsp 769753 / SC. Disponível em


<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:superior.tribunal.justica;turma.2:acordao;resp:2009
-09-08;769753-1112299>. Brasília, 2009. Acesso em: 21 mar. 2020.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9º. ed. São Paulo: Editora Saraiva,
2015.
10

CONSULTOR JURÍDICO. Superior Tribunal de Justiça divulga 11 teses sobre dano


ambiental. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-fev-25/superior-tribunal-justica-
divulga-11-teses-dano-ambiental>. Acesso em: 21 mar. 2020.

COUTINHO, Francisco Seráphico da Nóbrega; FARIAS, Talden; MELO, Geórgia, Karênia


R. M. M. Direito ambiental. 3º. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2015.

Declaração do Rio de Janeiro. Estud. av., São Paulo , v. 6, n. 15, p. 153-159, ago. 1992
.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40141992000200013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2020.

FIORILO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental. 19. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

JUSBRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região TRF-4 - APELAÇÃO CIVEL : AC


50064501720144047215 SC 5006450-17.2014.4.04.7215. Disponível em: <https://trf-
4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/699692442/apelacao-civel-ac-50064501720144047215-sc-
5006450-1720144047215/inteiro-teor-699692456>. Porto Alegre. 2019. Acesso em: 20 mar.
2020.

MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito


constitucional. 7º. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO


ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO. O princípio do poluidor-pagador: Análise e
recomendações da OCDE. Paris, 1992. Disponível em:
<http://www.oecd.org/officialdocuments/publicdisplaydocumentpdf/?cote=OCDE/GD(92)81
&docLanguage=En>. Acesso em: 21 mar. 2020.

PANTOJA, Othon. Os 5 mais importantes princípios do direito ambiental. Disponível em:


<https://www.aurum.com.br/blog/principios-do-direito-ambiental>. Acesso em: 20 mar. 2020.

SOUZA, Menahem David Dansiger de. Princípio do poluidor-pagador no Direito


Ambiental Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 22 mar 2020. Disponivel
em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/42158/principio-do-poluidor-pagador-
no-direito-ambiental. Acesso em: 20 mar 2020.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25º. ed. São Paulo: Editora
Malheiros, 2006.

Você também pode gostar