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Direito Administrativo I

Caso n.º 3

A Câmara Municipal de Almada decidiu conceder um subsídio à Sra D. Rosa das


hortaliças para que esta desenvolvesse, de forma intensiva, a cultura de hortaliças, dado
considerar que esta actividade se revestia de grande interesse para o município.

Ao tomarem conhecimento deste facto, outros agricultores da região requereram


também ao Presidente a concessão de benefício idêntico, o que foi recusado por aquele
Órgão autárquico.

Entretanto, a Sra Dona Rosa das Hortaliças, aproveitando o montante recebido, começa
a plantar as suas hortaliças num terreno no qual não era proprietária, pelo que o
Presidente da Câmara viu-se obrigado a proferir, com base numa norma legal que
confere poderes à Câmara para despejar inquilinos de edificações sem licença, o
seguinte despacho:

- Ordeno a desocupação do terreno em causa, bem como a destruição de tudo o que


estiver cultivado e demais instrumentos conexos com a actividade desenvolvida.

O director de serviços camarários recusa-se, no entanto, a cumprir, alegando que a


norma legal que confere estes poderes à câmara é gravemente atentatória dos direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos.

1) Poderia a Câmara Municipal atribuir o subsídio em causa?


A administração pode actuar desta forma? A administração apenas pode actuar em
determinadas condições, ou seja, com base no princípio da legalidade do procedimento,
art.º 3º da CPA.
A CMA tem este poder conferido no art.º 33º/1 ff) da lei 75/2013, sendo a agricultura
uma actividade económica, falta ver se existe um interesse municipal, o que é isto de
interesse municipal? Quem decide se é de interesse público municipal?
Cabe ao órgão em concreto, neste caso ao município, e à situação em concreto
determinar o que é de interesse público municipal.
O legislador ao não pormenoriza o que é interesse publico dá alguma
discricionariedade, a norma pode ser mais aberta ou fechada enumerando os elementos
necessários, não pode é dar uma carta banca à administração neste caso terá de ser uma
actividade económica deixando ao aplicador densificar este conceito.
Ao densificar este conceito poderão surgir casos que ficam numa zona cinzenta, no
entanto a administração terá de ter algum espaço de manobra para decidir dentro
daquilo que a lei define.

2) Têm razão os agricultores que reclamaram um subsídio idêntico?


Tem algum fundamento esta reclamação? Poderão estar em causa os princípios da
imparcialidade em sentido negativo referimo-nos à última parte do artigo, mencionando
um interesse relevante que deverá ser interpretado como de interesse público, em
sentido positivo (art.º 9º do CPA) e da Igualdade (art.º 6º do CPA).
Deverão ser analisados os interesses mencionados no pedido, neste caso da D. Rosa,
mas também o que não é exposto, mas todos os interesses relevantes, por exemplo dos
outros agricultores infringindo o princípio da imparcialidade no sentido positivo.
A realização de um concurso traria transparência à actividade administrativa, apesar não
é obrigatório, terão de ser colocados em ponderação todos os interesses.

3) Poderia o presidente da Câmara Municipal ordenar a desocupação do terreno?


A norma legal do enunciado não tem aplicação ao caso em concreto, este seria uma
problemática entre particulares e assim sendo não existe base legal para a acção do
presidente da CMA.

4) Poderia ordenar a destruição das ferramentas de trabalho?


Não poderia, pois, seria uma evidente infracção ao princípio da proporcionalidade, pois
esse seria a desocupação daquela propriedade e destruição das ferramentas seria algo
que não seria necessário para a obtenção do interesse definido.

5) Poderia o director dos serviços camarários recusar-se a cumprir o despacho do


Presidente da Câmara?
O dever de obediência cessa, segundo art.º 261/3, quando o cumprimento da ordem leve
ao cometimento de um crime.

Professor Marcelo Rebelo de Sousa


Tem o dever de cumprir a inconstitucionalidade da norma da

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