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RESUMO
O Exame Nacional de Cursos (ENC) vem sendo aplicado desde 1996 como um dos
instrumentos de aferição da qualidade dos Cursos de Graduação do país.
As diretrizes do Exame, definidas por comissões de professores especialistas
(Comissões de Curso), estabelecem: objetivos do ENC para o curso, perfil desejado do
graduando, competências, habilidades e conteúdos que o formando deve ter desenvolvido
e/ou adquirido ao longo de sua vida acadêmica, formato da prova que teste as expectativas
delineadas.
A aplicação do ENC, baseada nessas diretrizes, tem contribuído para a reflexão
sobre os perfis profissionais a construir e quanto ao currículo/projeto pedagógico capaz de
desenvolver as competências e habilidades coerentes com o perfil definido.
Este trabalho focaliza, a partir da visão das Comissões de Curso, a valorização
conferida à formação humanística do Engenheiro.
Considerando os objetivos específicos do ENC, os perfis profissionais apontados
para os graduandos das engenharias (Civil, Química, Elétrica, Mecânica), e as habilidades
a serem testadas, objetiva-se:
a) identificar atitudes e competências adquiridas e/ou desenvolvidas através de
estudos e atividades nas áreas de Humanidades e de formação geral, consideradas
relevantes para o profissional de Engenharia das citadas habilitações;
b) correlacionar tais atitudes e competências aos projetos pedagógicos desses
cursos, para atender às habilidades e perfis delineados para os graduandos.
1. INTRODUÇÃO.
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2. A FORMAÇÃO HUMANÍSTICA E GERAL DO ENGENHEIRO E AS
COMISSÕES DO ENC
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Essas preocupações vão se manifestar também, e com maior clareza, nos perfis
profissionais definidos pelas Comissões de Curso para os graduandos em Engenharia Civil,
Engenharia Química, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica.
2.2 Os perfis profissionais requeridos
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d) capacidade de comunicação, inclusive em língua portuguesa;
e) senso e postura ético-profissional;
f) atitude e espírito empreendedor.
Estão presentes ainda referências a responsabilidade social, liderança, formação
humanística, cidadania, inter e multidisciplinaridade, visão sistêmica/holística.
Os perfis profissionais formulados pelas Comissões de Curso estão em sintonia
com o Perfil do Egresso [2] constante das Diretrizes Curriculares para os Cursos de
Graduação em Engenharia (Anteprojeto de Resolução).
A partir dos objetivos do ENC definidos por uma determinada Comissão de Curso e
do perfil profissional de referência delineado, são estabelecidas as habilidades desejáveis
ao graduando. O Exame deverá verificar se o mesmo desenvolveu essas habilidades no
decorrer do seu curso de graduação.
Evidentemente, nem todos os aspectos do perfil, associado aos objetivos do ENC
em uma dada área, traduzem-se em habilidades passíveis de ser testadas através de uma
prova escrita. E daí porque o conjunto de habilidades elencadas em [3], [4], [5] e [6], e
consideradas desejáveis, respectivamente, para os graduandos das engenharias Química,
Civil, Elétrica e Mecânica, esteja longe de contemplar a amplitude e abrangência do perfil
profissional delineado, principalmente no que se refere a valores, atitudes e competências
não estritamente do campo técnico-científico da área em exame.
Em Engenharia Civil, uma das habilidades [4] a serem testadas é a capacidade de
“síntese, aliada à capacidade de compreensão e expressão em língua portuguesa”. Uma
outra habilidade trata da competência para o “gerenciamento e operação de sistemas de
Engenharia”.
Para o ENC em Engenharia Química consta, entre as habilidades [3] a serem
verificadas, a capacidade de “analisar criticamente aspectos técnicos, científicos e
econômicos de um problema e apresentar soluções adequadas”. E ainda a capacidade de
“organizar idéias e comunicá-las”, além de “buscar e obter informações”.
Entre as habilidades [5] a serem avaliadas pelo ENC em Engenharia Elétrica
também está a capacidade de comunicação.
Na área de Engenharia Mecânica, salienta-se entre as habilidades [6] relacionadas a
“capacidade de selecionar materiais, métodos e processos, levando em conta os aspectos
éticos, sociais e ambientais”. Requer-se também a “capacidade de planejamento e análise
de custo e benefício, com visão gerencial que habilite (o profissional) a fazer análise de
cenário”.
Em resumo, as habilidades “mensuráveis” dentre as relativas à formação
humanística e geral, definidas pelas Comissões de Curso para o ENC nas quatro
habilitações de Engenharia até agora submetidas ao Provão, envolvem principalmente:
a) comunicação e expressão;
b) gerenciamento/administração;
c) planejamento/análise econômica;
d) visão crítica e abrangente dos múltiplos aspectos envolvidos em um problema.
Os conteúdos verificados pelo ENC são definidos pela Comissão de cada curso e se
constituem no programa do Exame. As questões do Provão devem ser capazes de
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testar/avaliar habilidades dentro dos conteúdos estabelecidos e amplamente divulgados
junto às instituições e graduandos.
Nas engenharias, a referência adotada para a definição dos conteúdos foi a
Resolução 48/76, do antigo Conselho Federal de Educação (CFE), ainda em vigor. Isso é
perceptível, principalmente com relação às matérias de formação básica e de formação
geral.
As discussões em andamento sobre as novas diretrizes curriculares para os cursos
de graduação, bem como a visão particular das comissões, tiveram, naturalmente, alguma
influência na escolha dos conteúdos, em particular nas matérias de formação profissional
específica.
Em Engenharia Civil [4], Elétrica [5] e Mecânica [6], os conteúdos de caráter geral
explicitados abrangem as Ciências Humanas e Sociais, Economia, Administração e
Ciências do Ambiente, as chamadas matérias de formação geral, de acordo com a
legislação em vigor relativa aos currículos dos cursos de Engenharia.
É interessante verificar que o ENC em Engenharia Química [3] não contempla
esses conteúdos de formação geral, atendo-se aos assuntos mais diretamente relacionados à
área de Engenharia Química.
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b) Ecologia/Meio Ambiente foi tema central de uma ou mais disciplinas para 58,4% dos
graduandos de Engenharia Química, 41,7% dos graduandos em Engenharia Civil e
55,4% dos graduandos em Engenharia Elétrica;
c) O tema Qualidade foi estudado em várias disciplinas do curso para 32,1% dos
graduandos em Engenharia Química, em Engenharia Civil (para 44,5%) e em
Engenharia Elétrica (para 29,5%);
d) O tema Ética foi tratado superficialmente em uma disciplina para 29,7% dos
graduandos em Engenharia Química, em Engenharia Civil (para 32,4%) e em
Engenharia Elétrica (para 34,3%). Entretanto, o assunto não foi localizado em nenhum
momento para 20,9% dos graduandos em Engenharia Química, em Engenharia Civil
(para 11,4%) e em Engenharia Elétrica (para 18,2%). O tema Ética foi abordado
apenas em atividades extra-classe (palestras, conferências etc) para 22% dos
graduandos em Engenharia Química, Engenharia Civil (18,5%) e Engenharia Elétrica
(17,7%).
Observa-se que apenas o tema Ecologia/Meio Ambiente atinge percentuais
superiores a 60% nas três engenharias, dos que afirmam que o tema foi estudado em várias
disciplinas durante o curso e que foi tema central de uma ou mais disciplinas.
Ainda é relativamente baixa a atenção conferida ao tema da Qualidade e muito
pouca a importância com que se trata o tema da Ética.
Para uma apreciação mais completa da presença de assuntos desse tipo nos cursos
de graduação em Engenharia e da importância que se lhes confere, seria útil a inclusão de
novos temas em pesquisas de amplitude nacional, a exemplo da pesquisa realizada pelo
INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) por ocasião do Provão.
4. CONCLUSÕES
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participações em empresas júnior e outras atividades empreendedoras. Nestas atividades
procurar-se-á desenvolver posturas de cooperação, comunicação e liderança”.
Será, portanto, na execução do projeto pedagógico do curso, e não apenas da sua
grade curricular, que serão viabilizadas as atividades e procedimentos pedagógicos capazes
de contribuir, sinergicamente, para a aquisição do perfil profissional delineado para os
egressos dos cursos de Engenharia. E, dentro desse perfil, os aspectos relacionados à
formação humanística e de caráter geral.
Nesse contexto, as chamadas atividades complementares crescem em importância,
consolidando a concepção moderna de currículo que vai além da grade de disciplinas,
incorporando vivências, experiências, auto-aprendizado e atividades acadêmicas que não
se restrinjam à sala de aula. Aspectos do perfil profissional que envolvam atitudes e
valores dificilmente poderão ser estimulados e desenvolvidos apenas através dos processos
tradicionais de ensino-aprendizagem.
Daí porque, certamente, a proposta em discussão de diretrizes curriculares para as
engenharias estabeleça, no artigo 4o do Anteprojeto de Resolução, que “as estruturas
deverão ser organizadas de forma a permitir que haja disponibilidade de tempo para a
consolidação dos conhecimentos adquiridos e para as atividades complementares,
objetivando uma progressiva autonomia intelectual do aluno”. E mais: “enfatiza-se a
necessidade de se reduzir o tempo em sala de aula, favorecendo o trabalho individual e em
grupo dos estudantes”.
Finalmente, é importante assinalar a necessidade de que os docentes do curso,
quaisquer que sejam as disciplinas que ministrem, estejam imbuídos do propósito de dar
concretude, na sala de aula ou fora dela, ao projeto pedagógico enquanto proposta de
trabalho coletivamente assumida, em sua construção e execução.
Na prática, esse compromisso significa procurar criar e desenvolver, no âmbito do
trabalho docente, mecanismos, atividades e espaços pedagógicos que contemplem o perfil
profissional a perseguir, buscando a formação plena do futuro engenheiro, tanto no plano
técnico-científico quanto no plano da cidadania, para a qual a formação humanística é
componente imprescindível.
5. REFERÊNCIAS
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