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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC

Curso de Psicologia

Artigo

Adoecimento mental: Uma análise da influência de representações


sociais

Gama-DF

2021
PEDRO PAULO AZEVEDO SILVA

Adoecimento mental: Uma análise da influência de representações


sociais

Artigo apresentado como requisito para conclusão


do curso de Bacharelado em psicologia pelo
Centro Universitário do Planalto Central
Apparecido dos Santos – Uniceplac.

Orientador(a): Prof(a). Hannah Deborah Haemer


Jamati De Souza

Gama-DF

2021
PEDRO PAULO AZEVEDO SILVA

Adoecimento Mental: Uma análise da influência de representações sociais

Artigo apresentado como requisito para conclusão


do curso de Bacharelado em Psicologia pelo
Centro Universitário do Planalto Central
Apparecido dos Santos – Uniceplac.

Gama, 08 de dezembro de 2021.


Banca Examinadora

Prof. Nome completo

Orientador

Prof. Nome completo

Examinador

Prof. Nome Completo

Examinador
Adoecimento Mental: Uma análise da influência de representações
sociais
Pedro Paulo Azevedo Silva

Resumo:
Este trabalho apresenta uma análise do que se entende por adoecimento mental a partir da
consideração das representações sociais e de seus impactos sobre indivíduos em sofrimento
psíquico. Discute-se a hipótese de que a percepção dos profissionais de saúde, da pessoa em
sofrimento psíquico e daqueles que interagem com esta no âmbito familiar, social e de trabalho
pode ter forte influência sobre o modo de abordar esse problema. Foi realizada uma revisão de
literatura para construir tal análise, especificamente no que diz respeito ao diagnóstico, à
prevenção e ao tratamento desse tipo de doença. Foram utilizados na pesquisa 20 artigos, três
livros e duas dissertações de mestrado, e foram excluídos os trabalhos que fugiam da proposta do
tema, ou tratavam-no de uma maneira já citada na pesquisa, assim como aqueles de fontes não
confiáveis. As palavras chaves utilizadas na pesquisa foram: adoecimento mental; percepção;
psicopatologia; transtornos mentais; representações sociais. Com base nos resultados fica
evidente que as representações sociais, principalmente as do sujeito adoecido, são pouco
consideradas na prevenção, diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais. Também pode ser
observada uma ausência de pesquisas que visem averiguar os impactos das representações sociais
sobre os processos referentes ao adoecimento mental, ficando assim uma sugestão para criação de
tais pesquisas.
Palavras-chave: adoecimento mental; percepção; psicopatologia; transtornos mentais;
representações sociais.

Abstract:
This study is an analysis of what is understood by mentally getting sick based upon the
consideration of social representations and their impacts on individuals in psychological
suffering. The hypothesis of the perception of healthcare professionals, the person that is in
psychological suffering and the ones that interact with him/her in family, social and work
environment may have a strong influence of the way of approaching this problem. A literature
review was conducted to construct this analysis, specifically concerning the diagnostics,
prevention, and treatment of this type of illness. 20 research articles, three books and two
master’s theses were used, and studies that escaped the proposal of the topic, or that did treat it in
a way already cited in research, as well as the ones from unreliable resources. The keywords used
in this research were: mentally getting ill; perception; psychopathology; mental disorders; social
representations. Based on the results, it is evident that social representations, principally the ones
of the ill person, are little considered in prevention, diagnostics, and treatment of mental
disorders. It may also be observed a lack of research that aims to evaluate the impacts of social
representations upon the processes referring to mental health, suggesting future research to this
matter.

Keywords: mentally getting ill; perception; psychopathology; mental disorders; social


representations.
1 INTRODUÇÃO
Existe uma alta incidência de transtornos mentais detectados em pessoas inseridas nos
setores de atendimento primário da saúde. Dados demonstram que o adoecimento mental atinge
todas as classes sociais, mas que sua incidência é significativamente maior entre as pessoas de
baixa e média renda. No Brasil a taxa de transtornos mentais nesse segmento é consideravelmente
alta, oscilando entre 51% e 64% da população estudada (GONÇALVES et al, 2014). Além disso,
recentemente, os casos de ansiedade, depressão e estresse que se configuram como adoecimento
mental tem aumentado diante do surgimento da pandemia do COVID-19. Esse cenário é ainda
mais agravado nos profissionais da saúde que atuam no combate ao vírus, como enfermeiros e
médicos (MIRANDA et al, 2020).

De acordo com informações do site da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021),


não existe uma equivalência entre a incidência e as capacidades dos sistemas de saúde privado ou
público para lidar com os transtornos mentais. Especificamente, entre 76% e 85% das pessoas
que apresentam esse tipo de adoecimento, não possuem acesso a nenhum tipo de tratamento.
Segundo informações presentes em estudos de Bonadiman et al (2017), os transtornos mentais
geram altos custos econômicos e sociais ao estado. Ainda assim, a maior parte dos países de
média e baixa renda como o Brasil, gasta menos de 2 dólares em tratamento e prevenção de
doenças mentais, já países desenvolvidos gastam mais de 50 dólares nas mesmas medidas. Essa
informação deixa evidente que existe certa ineficiência em relação à gestão da saúde pública
sobre o adoecimento mental.

Ainda, Santos et al (2009) associam tentativas de suicídio com a presença de transtornos


mentais, sendo estas um grande fator causador de incapacitação física entre as pessoas, gerando
por consequência custos a sociedade através da perda de pessoas e de danos físicos aos
sobreviventes. Além, disso geram-se custos ao estado através do aumento de gastos financeiros,
sendo assim, este tipo de acontecimento passa a se caracterizar como um problema de saúde
pública. Entretanto, os determinantes para a saúde e a presença de transtornos mentais não se
limitam a fatores individuas como a capacidade de administrar emoções, pensamentos,
comportamentos e interações, sendo necessária a consideração de fatores sociais, culturais,
econômicos, políticos e ambientais. Sendo assim o adoecimento mental deve ser visto de uma
perceptiva ampla que considere não só o individuo, mas tudo o que se relacione a este, como
aponta a OMS (2021).

A questão da percepção acerca do adoecimento mental exige uma atenção condizente


com sua importância, tanto por parte do estado por ser responsável por medidas de tratamento e
prevenção, como por parte da população que é diretamente afetada por tudo que envolva tal
temática. Portanto, é pertinente levantar os seguintes questionamentos: o que é considerado
adoecimento mental pelos agentes de suporte, como psiquiatras e psicólogos, e o que é percebido
como esse adoecimento pelas pessoas em geral? Em que momento o sofrimento e as questões
próprias do sujeito podem lhe caracterizar em estado de adoecimento? Qual a influencia do
ambiente social de cada pessoa na construção de uma interpretação sobre o adoecimento mental?

Busca-se através desta pesquisa bibliográfica analisar a influência das representações


sociais a respeito do adoecimento mental, com a hipótese de estas serem relevantes sobre o modo
em que ocorre o diagnóstico, a prevenção e o tratamento desse tipo de doença. Assim, pretende-
se contribuir para um maior entendimento do adoecimento mental para promover a
conscientização sobre o tema, assim como estratégias de prevenção da doença e promoção de
saúde.

Metodologia

Os estudos base utilizados na pesquisa foram encontrados nas plataformas Scielo Brasil,
Pepsic, Google Acadêmico, no site da Organização Mundial da Saúde (OMS) e no livro
“Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais” (DALGALARRONDO, 2019). Foram
utilizados na pesquisa 20 artigos, três livros e duas dissertações de mestrado, e foram excluídos
os trabalhos que fugiam da proposta do tema, ou tratavam-no de uma maneira já citada na
pesquisa, assim como aqueles de fontes não confiáveis. A revisão de literatura não foi limitada a
um período de tempo especifico, pois se entendeu que a configuração do tema permite que este
seja tratado de maneira a não ser afetado por estudos de pesquisas datadas, com pesquisas mais
antigas inclusive tendo uma boa contribuição para uma construção de artigos como estes que
visem trazer maior esclarecimento acerca da percepção e representações sociais sobre o
adoecimento mental, sendo assim o artigo mais antigo foi publicado no ano de 2000 e o mais
recente em 2020. O material reunido para a construção da pesquisa teve como critério a presença
de informações que contribuem para trazer maior esclarecimento e reflexões sobre a maneira com
que o adoecimento mental é percebido. Para isso recorreu-se as fontes citadas buscando
credibilidade de dados. Propositalmente, o tema não foi delimitado a uma população específica,
pois a proposta da pesquisa visa trazer uma perspectiva focada na percepção do adoecimento
mental e suas implicações de forma mais abrangente. Uma restrição de pesquisa tem como fator
positivo mais precisão das informações, porém como fator negativo o adoecimento mental ficaria
em segundo plano. No decorrer da pesquisa foram utilizadas as seguintes palavras chaves:
psicopatologia, adoecimento mental, percepção, transtornos mentais, representações sociais.

Resultados e Discussões

Tratando do adoecimento mental, buscou-se aqui dividi-lo em três subtemas aos quais
descrevem de maneira mais organizada e dinâmica a forma com que os agentes de intervenção
abordam a questão. Sendo esses subtemas o diagnóstico, a prevenção e o tratamento.

Diagnóstico em adoecimento mental:

A temática do adoecimento mental tem seu próprio campo de estudo dentro da ciência,
sendo conhecido como psicopatologia. Segundo Campbell (1986) apud Dalgalarrondo (2019), a
psicopatologia é a área da ciência que se dedica a estudar as doenças ou transtornos mentais,
também sendo referida como o conjunto de conhecimentos acerca do adoecimento mental obtido
de maneira sistemática, elucidativa e desmistificante. Os transtornos mentais de acordo com o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 (2014), têm definições
atravessadas pelos valores culturais, sociais e familiares. Dentro desta perspectiva, a definição do
que pode ser considerado adoecimento mental está associada à presença de um comportamento
ou estado individual destoante do que é considerado normal dentro do que é prescrito pela cultura
da sociedade em que este individuo está inserido. Evidentemente, essa prescrição cultural se
associa a representações sociais sobre o adoecimento.
Uma das primeiras atribuições do psicólogo foi a de aferir diagnóstico e estes eram
feitos com base na aplicação de testes psicológicos de modo a reconhecer síndromes indicativas
de diferentes patologias e tinham o pressuposto de conseguir medir características psíquicas com
a mesma exatidão de características físicas. O paciente nesse sentido tem um papel secundário no
próprio diagnostico de adoecimento mental, sendo colocado no lugar de objeto a ser testado e
observado, com suas próprias considerações sobre si não tendo a relevância reconhecida
(PIMENTEL, 2003). Especificamente, Paoliello (2001) aponta que o psicodiagnóstico em
psiquiatria possui um foco no modelo biomédico, centrado em identificar doenças classificadas
no DSM-5, sendo esse foco uma linha de análise equivocada, pois desconsidera o fato de os
transtornos mentais não terem um caráter objetivo e sim subjetivo. Ainda, o diagnóstico em
transtornos mentais tem base em exames e observação clínica que muitas vezes não são
realizados de uma maneira satisfatoriamente minuciosa, por conta do contexto em que se
apresenta ser recorrentemente de precariedade, como no caso de muitos serviços de atendimento
publico (IRIBARRY, 2003). Com o psicodiagnóstico sendo atravessado por tamanhas limitações,
cabe questionar se isso também se estende a prevenção em saúde mental.

Prevenção:

De acordo com Oliveira (2012), a prevenção trata-se de uma intervenção junto à


população com o objetivo de diminuir a incidência de transtornos mentais. Nesse sentido ocorrem
intervenções que visão desenvolver habilidades e gerar meios para que a pessoa consiga enfrente
problemas pessoais e contextuais tendo como foco a redução do risco de surgimento de
psicopatologias. Ainda de acordo com a autora, a prevenção é dividida em primaria “que visa
prevenir o adoecimento mental”, secundária, “intervenção oferecida à população que vem
mostrando sinais iniciais de transtornos ou dificuldades” e terciara “intervenção oferecida aos que
apresentam um transtorno diagnosticado”, com a definição primária sendo a mais aceita como
uma definição geral, pois não existe um consenso em relação à secundária e terciaria, por essas
duas se misturarem ao que se entende por tratamento. Exemplos de medidas de prevenção ao
adoecimento mental são: Campanhas de conscientização da população visando reduzir a
estigmatização de portadores de transtornos mentais, orientação educacional contínua para os
integrantes de comunidades, programas de suporte a famílias de doentes mentais e divulgação de
serviços de saúde mental ás pessoas em geral (CORDEIRO, 2010).

Outros recursos de prevenção do adoecimento mental podem ser encontrados em


medidas de fortalecimento de fatores de proteção, como autoestima, rede de apoio, redução de
estressores ambientais e engajamento social (ABREU et al, 2016). Para além dos fatores de
proteção individuais e coletivos, Cordeiro (2010), também defende que a prevenção ao
adoecimento mental faz parte da atribuição do Estado, sendo oferecido pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). Porém o SUS não tem sido eficiente nessa tarefa, muito por conta da má
distribuição de recurso financeiros, o que impacta gerando uma ausência de serviços de
promoção a saúde mental. Em relação a esse fato observa-se que a saúde mental tem sido
banalizada em relação à física, com os portadores de doenças mentais sendo negligenciados pelo
Estado. Analisaremos, portanto, a seguir o tratamento de transtornos mentais no âmbito
brasileiro.
Tratamento:

No Brasil a temática do tratamento de transtornos mentais vem desde sua fundação


como nação, com destaque para implantação do primeiro manicômio em 1952, o Hospício
Nacional dos Alienados, fundado nos moldes do alienismo francês, com este não sendo na prática
um meio de tratamento e sim um mecanismo de exclusão do adoecido mentalmente da sociedade.
Práticas com essa similaridade, onde a exclusão era mascarada na forma de tratamento é algo
recorrente, não só na história, como também na forma atual de lidar com os transtornos mentais
(GUIMARÃES et al, 2013). Um caminho para o sucesso no tratamento de transtornos mentais
poderia ser uma linha de ação na qual se superaria a lógica técnico-cientifica tradicional,
considerando a subjetividade e os saberes do sujeito que necessita de atendimento (GAMA et al
2014). No entanto essa parece uma realidade distante, pois o modelo vigente ainda trata-se do
biomédico, no qual o sujeito é tratado com base em possibilidades de diagnósticos cabíveis sobre
si.

De Oliveira Nunes (2012) salienta que o processo de definição do adoecimento mental e


loucura envolve vários aspectos, como a cultura, as construções sociais e fatores biológicos,
apresentando-se assim como algo de cunho biopsicossociocultural. Porém por um fator social
contemporâneo do capitalismo que valoriza uma suposta funcionalidade do sujeito a psiquiatria
acaba por priorizar o biológico, buscando soluções medicamentosas que tem uma lógica mais
pragmática e imediatista para essas questões, deixando assim em segundo plano os demais
aspectos envolvidos.

Seguindo uma trajetória que demonstra as consequências das formas com as quais o
tratamento vem sendo considerado, Ribeiro et al (2008) aponta que existe uma alta taxa de
abandono ou falta de adesão aos tratamentos das pessoas com transtornos mentais, com essa
proporção podendo chegar a um quarto das pessoas que começam esse tipo de tratamento. Isso
pode está associado a fatores sociodemográficos, características do atendimento, crenças do
paciente e a rejeição da estratégia de atendimento, entre outros. Essas crenças são construídas
socialmente junto ao ambiente de convivência. Portanto, exploraremos a seguir as representações
sociais sobre o adoecimento.

Representações sociais:

As representações sociais são um tipo de conhecimento construído com a finalidade de


elaborar comportamentos e a comunicação entre indivíduos. Portanto trata-se de uma modalidade
específica de conhecimento que se diferencia das outras por sustenta-se a partir de experiências
do cotidiano, experiências sociais e sobre a interpretação da realidade de acordo com as vivencias
dos indivíduos e grupos, sendo sinônimo de senso comum, possuindo assim semelhanças e de
forma contrastante muitas diferenças com o conhecimento científico (ALEXANDRE, 2004). Por
mais que esse conhecimento tenha sua credibilidade questionada na comunidade científica não
deve ser desconsiderado, principalmente por ser à base de referência de muitas pessoas que
necessitam de cuidados em saúde mental. Por exemplo: uma pessoa em intenso e constante
estado de melancolia pode ser percebida pelas pessoas e grupos mais próximos como alguém
fraco que deliberadamente escolheu não se mobilizar para com o próprio bem-estar e diante disto
ao invés de receber apoio, passa a receber criticas e julgamentos e toma isso como verdade
passando a compartilhar tal percepção de quem está a sua volta.

A teoria da representação social parte do princípio de que o conhecimento só pode ser


encontrado através da experiência social e que a experiência social se dá através do
conhecimento, ou seja, um está condicionado ao outro. Nesse sentido as definições dos vários
aspectos do conhecimento são construídas por indivíduos inseridos em grupo que acabam por
gerar definições mais amplas através dessa interação (DURKHEIM, 1983 apud ALEXANDRE,
2004). Essa teoria faz uma relação pertinente com as definições acerca do adoecimento mental,
pois ressalta o papel da percepção social na construção do atendimento de conceitos vivenciados
por indivíduos ou grupos, sendo isso o que ocorre nessa temática. Exemplo disso é a
estigmatização da loucura ao qual é bem descrita por Portocarrero (2002) ao colocar que até o
século XX a psiquiatria classificava qualquer individuo que fugia do estado de normalidade
atribuído pela sociedade, como anormal, que nesse sentido passava a ser sinônimo de louco e
perigoso, com a sociedade tomando para si essa representação social da loucura.

Especificamente, Silva et al (2011) expõem através de pesquisa que as representações


sociais sobre o processo de envelhecimento do adoecido mentalmente são consideravelmente
negativas, sendo associadas a exclusão social e abandono familiar, também possuindo forte
ligação com a representação social que culturalmente é atribuída a loucura e ao louco. Dessa
forma, pacientes acometidos por adoecimento mental percebem uma ruptura de sua vida
cotidiana a parti do adoecimento, ocorrendo à diminuição de possibilidades referentes a trabalho
e lazer. Isso deixa claro certo processo de exclusão relacionando a representação social do
adoecimento mental, sendo assim enfrentam problemas como desemprego, baixa renda e falta de
redes sociais (SALES; BARROS, 2009). Isto é, o adoecimento mental causa danos às pessoas e a
sociedade em diversas esferas, existindo vários estudos que se propõem a analisar a temática, por
exemplo, sob a óptica do trabalho, social e familiar, entre outras.

Relação das representações e o adoecimento mental sob uma perspectiva do trabalho:

Diante do adoecimento mental as pessoas em um contexto de trabalho podem criar


estratégias de defesas para lidar com as imposições sociais a respeito do adoecimento. Estas
estratégias podem evoluir para um sistema coletivo onde o grupo cria crenças e percepções que
tornam o sofrimento suportável, mas também aliena e traz uma fuga do enfrentamento do
adoecimento. Dejours (1994) nomeava as crenças que sustentam a fuga de ideologias defensivas .
Nesse contexto pode ser observada a construção de uma percepção do adoecimento mental
através do coletivo que influencia o trato da temática por aqueles que a vivenciam.

A sociedade contemporânea na qual são rotineiras experiências ansiogênicas e


padecedoras atua como um fator altamente relevante na perda de identidade e no surgimento do
adoecimento mental nas pessoas através da habituação, estado no qual o sujeito se encontra em
sofrimento, mas se mantém inerte por este fazer parte de sua rotina (NASCIMENTO et al, 2012).
Esse contexto se apresenta como mais um elemento que ressalta a importância de um processo
perceptivo em relação ao adoecimento mental. Especificamente, professores no exercer de sua
profissão tendem a manifestar sintomas de adoecimento mental, tais como apatia, desânimo,
estresse e desesperança (DIEHL; MARIN, 2016). De acordo com esse direcionamento na
pesquisa os autores trazem um foco acerca do adoecimento mental voltado para uma perspectiva
trabalhista que de uma maneira mais direcionada trás os impactos específicos sob os indivíduos
estudados, assim como a sociedade a qual eles estão inseridos. Ainda de acordo com Silva et al
(2014) partindo da perspectiva trabalhista o adoecimento mental é frequente entre os
colaboradores das mais diversas organizações e é comum que estes acabem sendo incapacitantes,
gerando danos irreparáveis aos indivíduos e prejuízo ao estado, que por sua vez tem que arcar
com o custo de aposentadorias provenientes desse tipo de adoecimento.

Perspectiva Familiar:

Partindo para uma perspectiva familiar sobre o adoecimento mental, Galera et al (2011)
colocam que a família já teve um papel de responsabilidade sobre o adoecimento mental dos
indivíduos atribuído a si. Porém com um aprofundamento de estudos da temática, posteriormente
chegou-se a conclusão de que a família está sob forte efeito deste contexto, não sendo
propriamente a causadora, mas sim sofrendo com as consequências e exigindo cuidado por parte
dos profissionais da saúde. Sobre os efeitos advindos da presença de uma ou mais pessoas em
estado de adoecimento na família, estes podem se apresentar na forma de perdas financeiras,
prejuízos nas relações pessoais e na rotina, agressões físicas e verbais, aspectos subjetivos do
cuidador, etc. Além disso, fatores psicossociais tais como religião, orientação sexual, relações
interpessoais do sujeito com familiares, amigos e colegas de trabalho exercem grande influência
em relação ao surgimento de um contexto de adoecimento mental, atuando como elementos de
proteção ou de risco a depender do caso (JESUS , 2019). Em relação ao trato familiar vemos que
as representações sociais são de tamanha importância a ponto de definir socialmente se a família
é colocada como responsável pela patologia do sujeito inserido nela, ou padecedora do
adoecimento mental presente em seus membros.

Perspectiva da Psicologia Social:

Uma área de atuação em psicologia que considera e utiliza o que se entende por
representações sociais no trato com a população é a Psicologia Social. Diversos profissionais
dessa área optam por dar forte ênfase ao senso comum trazido pela população atendida, com a
consciência de que isto tem relevância para o sucesso ou insucesso da intervenção
(NASCIMENTO et al, 2000). Portanto, existe na Psicologia social uma forte mobilização para
identificar e considerar o saber do plural, daqueles que estão inseridos no contexto ao qual se
propõe uma intervenção. Dentro dessa visão pode ser identificada uma hierarquização da
consideração do saber do outro, na qual comumente se observa que saberes são considerados
superiores ou inferiores a depender do grupo ou individuo que o proclama (JOVCHELOVITCH,
2004). Um exemplo dessa hierarquia é o trato que se dá ao conhecimento popular, proferido pelo
leigo com base em suas vivencias e o conhecimento cientifico proferido pelos intelectuais.
Porém, a Psicologia Social, mesmo com suas contribuições, não esta em um cenário ideal. De
acordo com Scarparo et al (2007) a área de atuação em Psicologia Social ainda carece de
profissionais com qualidade em suas formações e engajamento social. Nesse sentido, apesar de
haver uma consideração das representações sociais na atuação em Psicologia Social, esta por suas
limitações ainda não se apresenta como um modelo de atuação que utiliza de maneira abrangente
e efetiva o entendimento popular na construção de um suporte ao adoecimento mental.

Considerações Finais

O presente estudo demonstrou alguns dos graves impactos que o adoecimento mental
tem sobre o sujeito, sobre os grupos e sobre a sociedade em si. Ele também trouxe algumas
definições consolidadas do que é entendido por adoecimento mental pelos estudiosos do assunto
e apresentou informações que expressão a ineficiência no trato da questão, com serviços de
suporte em saúde mental sendo pouco abrangentes e eficientes. Isso nos leva ao seguinte
questionamento: O que está faltado para que o suporte aos adoecidos mentalmente seja eficiente?
Ao longo do processo de pesquisa se pode concluir que existem muitos estudos acerca
dos diversos tipos de adoecimento mental, estudos estes que se propõem a analisar definições,
impactos, fatores de risco e populações, entre outros aspectos envolvidos. Porém nesses estudos é
dada pouca ou nenhuma importância ao fator da representação social do adoecimento mental que
o sujeito ou grupo trás consigo. Tal fato nos leva a uma possível resposta ao questionamento
anteriormente apresentado.

É necessário que sejam feitas mais pesquisas acerca das representações sociais que as
pessoas têm em relação ao adoecimento mental. Abordar essa questão com medidas de
prevenção, diagnóstico e tratamento sem que o entendimento dos principais envolvidos seja
levado em conta têm se mostrado um fracasso.

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Agradecimentos

Por fim venho aqui expressar minha gratidão, primeiramente a Deus deixando clara
minha fé e o reconhecimento do agir deste em minha vida, depois a minha família sobre a qual
não citarei nomes, mas que de forma indireta me apoio bastante em toda a caminhada até aqui,
agradeço também aos meus valorosos companheiros de curso que estiveram juntos a mim durante
tantas tarefas em grupo e compartilharam de alegrias e sofrimentos, cito aqui como mais
próximos dentre eles Yara Martins Nunes, Ana Gabrielle Pinheiro dos Santos, Polyane Cristina
da Silva Nogueira, Meirille Barbosa da Silva e Suyzi Gomes Ferreira. Por ultimo, mas não menos
importante agradeço a meus professores que me ensinaram, que foram referência durante meu
processo de torna-se psicólogo e que continuarão sendo.

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