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Recife
Fevereiro/2018
MAYARA SOUZA SANTIAGO
Recife
Fevereiro/2018
DEDICATÓRIA
A Deus e os bons espíritos, apesar de saber que não precisam deste tipo de coisa,
pelas oportunidades incríveis e pelas pessoas que colocaram no caminho para que
eu pudesse crescer.
A Ladjane Souza, minha mãe, por ser a melhor mãe de todas, por me ensinar a amar
através do seu exemplo e dedicação e por me apoiar mesmo nos sonhos que não
compreende.
Aos meus familiares mais próximos que sempre me cercaram de afeto e cuidados e
me tornaram um indivíduo capaz de exercer a empatia.
Aos meus colegas do curso que sempre estavam dispostos a ajudar, a ensinar, a
esclarecer e inclusive a ouvir desabafos mesmo quando a relação não era próxima.
A Luiz Kleber pela coragem de orientar meu pré-projeto “sem pé e nem cabeça” e
extremamente direcionado a uma área que não domina. Também pela bondade em
me aceitar ainda tão “verde” como sua aluna de canto e me proporcionar momentos
de grande realização pessoal.
A Maria Aida pela disponibilidade e informações burocráticas para mim e para os meus
colegas. Por movimentar de todas as formas o curso e disponibilizar muitas
oportunidades de aprendizagem, por me ensinar coisas que eu nem poderia imaginar
sobre música e por ser um grande exemplo de ser humano. Jamais imaginei encontrar
na Universidade alguém que me inspirasse tanto apenas sendo.
A Crislany Viana por ter me deixado “aperriar” nas viagens e não se importar que
grudasse ao seu lado nas apresentações em congressos. Agradeço as trocas e a
chance de ver de perto, através dos seus trabalhos, como funciona o mundo
acadêmico.
A Rodrigo Cardoso, amigo com quem aprendi muito no convívio diário, que muito me
ouviu e precisou aguentar, mas que sem ele meus caminhos poderiam ter sido
diferentes.
A todos que fazem e fizeram parte do LEMEI por tudo que aprendi e toda adrenalina
liberada durante a correria dos Encontros com muita coisa para fazer e equipe
reduzida.
A Avner Pardal pela compreensão, pelas revisões, tradução e por me fazer prometer
ir falar com a orientadora para finalmente começar a escrever. Detesto quebrar
promessas e precisava de um pontapé inicial.
A Cantina Vegetariana que me acolheu nos últimos meses pela compreensão com os
horários, pelo carinho, pela comida deliciosa e a oportunidade de sair de um estado
emocional terrível e poder lidar com pessoas, algo que adoro e preciso para me sentir
viva. Em especial a minha gerente Lilia Odilia por acreditar em mim, nas minhas
capacidades e fazer com que todos também acreditem.
Toda alma é uma música que se toca.
Rubem Alves
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
This research is a bibliographical survey, in the last ten years in Brazil, of the academic
publications about the relation of musical education with the person with Autism
Spectrum Disorder. It aims to categorize these publications, with the purpose of: 1.
facilitating the search by future researchers; 2. to promote a brief discussion about the
current scenario of the publications concerning this theme, as well as other subjects
such as the rights of people with disabilities, inclusive music education and training of
music teachers to work with diversity. As methodology, we used the search
mechanisms in 24 national databases of music, education and health. We selected
only the works that had the title some of the variations of the word autism throughout
history, as well as pedagogical musical matters, and we organized in 7 categories from
the analysis of the content. The conclusion of the research points to the need of
expanding publications on this subject and the promotion of greater discussions on
inclusive musical education within universities.
Quando criança, por algum motivo que não sei bem explicar, me apaixonei pela
música e quis que ela fizesse parte da minha vida. Eu não vivia em nenhum meio
musical e meus familiares não tinham a música como uma rotina em suas vidas. Só
aos 13 anos tive a oportunidade de começa a estudar e escolhi o piano como meu
instrumento, já que canto só era permitido aos 17 anos no local onde queria estudar.
Durante a adolescência, descobri a Musicoterapia em uma matéria da televisão e isso
me deixou com os olhos vidrados. A partir de então, fiz diversas pesquisas na área, e
inclusive um trabalho escolar para a “feira de profissões”. Usar a música não só como
forma de entretenimento e cuidar das pessoas parecia a coisa certa a se fazer e eu
tinha certeza que seria muito feliz escolhendo essa profissão.
Numa relação de amor e ódio com a música em seu formato conservatorial que
muito me tirou do prazer real de viver a música, eu continuei, porque nada parecia
mais encantador do que o caminho que escolhi, mesmo sendo tão nova. Defini ainda
aos 15 anos que terminaria a Licenciatura em Música para fazer a pós-graduação em
Musicoterapia no Rio de Janeiro, porque gostei mais da grade curricular. Para minha
surpresa o curso que seria apenas um meio, virou o fim. Não que encerrarei por aqui
minha formação, mas que descobri na educação o caminho para a realização pessoal
e profissional. E de repente eu tinha alguns amigos com interesse na educação
musical inclusiva com os quais muito partilhei, de repente todas as oportunidades
estavam diante dos meus olhos e eu fiz todos os cursos que pude, entrando em um
mergulho sem volta.
Após passar o curso aprendendo sobre inclusão e trabalhando para disseminá-
la, não poderia escolher um tema para meu trabalho de conclusão de curso que fosse
longe disso. Escolhi o autismo, em um leque enorme de possibilidades, por causa do
encanto inicial ao descobrir como a música poderia ser um importante instrumento de
comunicação para autistas, ajudando a desenvolver a socialização, uma das
dificuldades que mais caracterizam os indivíduos com TEA.
Sendo assim, espero que esta pesquisa possa contribuir para disseminar cada
vez mais o que para mim é um ideal sem o qual não consigo mais seguir: a educação
musical inclusiva. Aquela que inclui não só pessoas com diagnósticos, mas todas,
através da competência de um profissional bem instruído e, antes de tudo, do afeto.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13
4 METODOLOGIA ......................................................................................... 39
5 RESULTADOS ........................................................................................... 42
6 DISCUSSÃO ............................................................................................... 52
7 CONCLUSÃO ............................................................................................. 63
8 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 64
9 APÊNDICE ................................................................................................. 72
1. INTRODUÇÃO
1 Apesar do termo correto ser Transtorno do Espectro Autista, neste trabalho usaremos outros termos
tais como autista, autismo, pessoa com autismo para maior fluência do texto e para que o mesmo não
fique repetitivo.
2 Comorbidade é o termo utilizado para designar o diagnóstico de duas ou mais patologias relacionadas
em um mesmo indivíduo.
3 Atualmente colocado como autismo leve pelo DSM -5 (Obs: O DSM será tratado adiante).
4 http://www.kissin.dk Link do site do pianista Kissin.
14
Se hoje com a Lei 11.7696 que coloca a música com conteúdo obrigatório nas
escolas e a Lei 13.146 que institui os novos direcionamentos sobre a inclusão de
pessoas com deficiência em todos os âmbitos da sociedade, podemos esperar que
qualquer professor de música pode se deparar em sua sala de aula com um aluno
autista, ainda que não tenha formação específica para lidar com essa nova realidade.
Por isso, deverá ser crescente a busca por trabalhos acadêmicos que possam nortear
as atividades em sala de aula.
6 Lei de 18 de agosto de 2008 que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes
e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica
(BRASIL, 2008)
17
contexto inclusivo;
• Capítulo 4: Relata a metodologia utilizada nesta pesquisa, com as referências aos
bancos de dados consultados, os termos de busca, e os critérios de seleção dos
artigos;
• Capítulo 5: contém os resultados, com as tabelas das categorias criadas e suas
descrições, assim como, as listas de todos os trabalhos acadêmicos que
encontramos dentro dos critérios estabelecidos, de forma que facilite a consulta.
Ainda neste capítulo, há alguns gráficos para a melhor visualização dos dados
encontrados que estarão descritos;
• Capítulo 6: traz uma breve discussão sobre as publicações encontradas frente ao
cenário pedagógico musical vigente;
• Capítulo 7: apresenta as conclusões da pesquisa;
• Capítulo 8: lista as referências bibliográficas utilizadas neste trabalho;
• Apêndice: lista dos trabalhos coletados, com citação original as normas vigentes.
A palavra autismo7 tem origem na palavra grega "autos" que significa de si mesmo,
sendo utilizada já em 1911 por Bleuler8 quando as características do autismo foram
classificadas como transtorno básico da esquizofrenia. Em 1943 o psiquiatra austríaco
Kanner descreveu casos de 11 crianças que desde a primeira infância demonstravam
isolamento e desejo por manter a rotina de forma extrema, o que prejudicava o
estabelecimento de relações afetivas. Observou também estereotipias motoras, tendência
a ecolalia (vocalizações repetitivas). Em 1972 os estudos de Kanner já abrangiam mais
de 150 casos e com suas contribuições as crianças autistas deixaram de ser consideradas
com deficiência intelectual, esquizofrenia ou deficiência auditiva. Um ano após Kanner
relatar suas primeiras observações, outro pesquisador e psiquiatra austríaco, Hans
Asperger9, escreve “A psicopatia autista na infância” no qual relata observações de
características e habilidades que ocorriam geralmente em meninos os quais possuíam
grave deficiência de socialização, porém, grande precocidade verbal (BRENTANI et al,
2013; KORTMANN, 2013, p. 5).
As características do quadro diagnóstico do autismo foram sintetizadas em três
áreas de comprometimento pela Dra. Lorna Wing, psiquiatra inglesa, em 1976, sendo elas:
problemas na Imaginação, socialização e comunicação. Segundo Wing estas áreas
apresentavam uma variável de características, introduzindo o conceito de um espectro
autista. Em 1978, Michael Rutter propõe quatro critérios para o diagnóstico: atraso e
desvios sociais, problemas de comunicação, comportamentos incomuns como
maneirismos e estereotipias e início antes dos 30 meses de idade (nenhum destes
comportamentos sendo necessariamente associado a deficiência intelectual)
(TAMANAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008).
Em 1979 o autismo entrou para o catálogo internacional de doenças dentro da
categoria de “transtornos psicóticos”, mudando em 1993 para Transtorno Invasivo do
7 Nessa pesquisa os termos autismo, autista, Transtorno do Espectro Autista e TEA serão utilizados
como sinônimos para dar maior fluência ao texto e não cansar o leitor com palavras repetitivas.
8 Paul Eugen Bleuler foi um importante psiquiatra suíço que ficou conhecido por estudar e nomear a
esquizofrenia.
9 Seus escritos estavam em alemão e tiveram data de publicação próxima a época da guerra e
provavelmente por isso foi reconhecido tardiamente como um dos pioneiros no estudo do autismo. Seu
nome batizou a Síndrome de Asperger.
20
desenvolvimento (TID). Desde que foi relatado pela primeira vez, os critérios diagnósticos
do autismo têm se modificado nas diferentes edições dos manuais de
classificação dos transtornos mentais, mas a essência dos sintomas é sempre a mesma.
Até o ano de 2012, a definição e critérios diagnósticos do autismo eram baseados no DSM-
IV. Com a quinta edição do DSM, alguns critérios mudaram. O DSM-5, publicado em Maio
de 2013 nos Estados Unidos, propõe a denominação Transtorno do Espectro Autista
(TEA)10, termo vigente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, há 1 bilhão de pessoas com algum tipo
de deficiência no mundo, estando 45,6 milhões no Brasil, segundo estatística do IBGE em
2010, sendo 2,6 milhões (aproximadamente 6%) com deficiência intelectual. Apesar dos
dados estatísticos serem importante fonte de consulta, eles não deixam claro a incidência
de pessoas com autismo no Brasil. O DSM-5 (APA, 2014, p.55) traz o dado que a
frequência relatada de transtorno do espectro autista tanto em adultos quanto crianças
nos Estados Unidos e em outros países chega a 1% da população, porém não se sabe
se houve um aumento real na incidência ou se a expansão dos critérios no DSM-IV, por
exemplo, mais indivíduos foram percebidos com sintomas que se enquadram nesta
patologia.
O relatório de 2014 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC alertou
para os novos dados sobre a prevalência de autismo nos Estados Unidos. Este estudo de
vigilância identificou 1 em 68 crianças (1 em cada 42 meninos e 1 em cada 189 meninas)
com Transtorno do Espectro Autista. Não há estudos no Brasil completos sobre
prevalência (CHRISTESEN; BAIO; BRAUN, 201611, p.5).
12 Termo escolhido para refletir o fato de que múltiplas áreas do conhecimento eram afetadas no
autismo e nas condições a ele relacionadas.
13 Parece ter nenhuma patologia ou alteração.
22
1962 – DSM-I: Sintomas autísticos eram classificados como um subgrupo da esquizofrenia infantil.
1968 – DSM-II: Sintomas eram vistos como reflexo de grandes dificuldades subjacentes ou reações de
má adaptação aos problemas da vida.
1994 – DSM-IV: Novos critérios, Síndrome de Asperger é adicionada e casos mais leves passam a ser
considerados. O autismo começa a fazer parte dos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Os
sistemas de avaliação da CID-10 e do DSM se tornam equivalentes.
• 2013 – DSM-5: Alterações importante na nomenclatura e forma de classificar, agora fazendo parte dos
Transtorno do neurodesenvolvimento.
14 A revisão do DSM começou a ser pensada em 1999. De 2003 a 2008 ocorreram 13 conferências
internacionais com dezenas de países e centenas de participantes que realizaram uma grande revisão
bibliográfica das pesquisas realizadas em todo o mundo com o objetivo de melhorar os critérios
diagnósticos tanto do DSM quando do CID, o qual iria para a 11ª edição (APA, 2014, p. 6-7).
15 Termo escolhido para refletir o fato de que múltiplas áreas do conhecimento eram afetadas no
transtornos Psicóticos em 1979, mas em 1993 virou uma categoria à parte, nomeada de
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (APA, 2002; OMS, 1993; MORAES, 2015 apud
LOURO, 2017, p. 22). Na CID-10 todas as patologias possuem um código e o autismo,
que está enquadrado nos TID possui o código F84 (Quadro 3).
Nos dias de hoje os casos são tratados por uma equipe multidisciplinar com
terapias comportamentais, remédios quando necessário e algumas recomendações de
dieta (para alguns casos), como eliminação do glúten e da caseína19, além do consumo
de alguns suplementos vitamínicos que demonstram melhorar os sintomas
comportamentais.
Das terapias comumente utilizadas para o tratamento do TEA, temos:
Terapias comportamentais
• ABA: Aba (ABA – Applied behavior analysis), por português, Análise aplicada do
comportamento, na qual se busca a mudança de comportamento e aprendizagem
de atitudes mais sociais utilizando práticas intensas e reforço positivo e direcionado.
O ABA é um programa amplo de intervenção precoce que demonstra eficácia na
melhoria do desempenho cognitivo, habilidades linguísticas, e comportamento
adaptativo. Dentro da estrutura da ABA há o modelo de intervenção UCLA/Lovaas,
o Early Start Denver Model (ESDM) ambos com bons resultados (BRENTANI et al,
2013).
Fármacos e dietas
Sertralina Depressão
Carbamazepina Epilepsia
Paroxetina Depressão
20 Entendemos aqui inclusiva no aspecto mais amplo da palavra, sendo a possibilidade de fato de
vivenciar, descobrir os sons e se expressar, independente de fatores sociais, econômicos, raciais, de
gênero ou de deficiências
21 O termo atualmente utilizado é Pessoa com deficiência, porém por ser uma citação direta e na data
Quanto currículo, as escolas têm liberdade para decidir como este conteúdo de
música será organizado nos anos escolares e segundo Sobreira (2008, p.48) “o valor que
é atribuído ao ensino de música na escola depende da concepção vigente a respeito das
funções da música na formação do indivíduo” e continua na página seguinte falando das
justificativas “problemáticas” utilizadas para a música estar presente no currículo escolar
como a de facilitar a aprendizagem de outras disciplinas, ser um elemento socializante ou
terapêutico, e entretenimento para as festividades escolares.
Fonterrada (2007, p. 29 apud SOBREIRA, 2008, p. 50) coloca que “ainda não
há uma política nacional que ampare o retorno da música às escolas, e nem
profissionais habilitados em número suficiente para levar adiante esse projeto.”
Quando analisamos a situação dos professores em música preparados para lidar com
o contexto inclusivo a situação é ainda pior.
Diante no número de alunos com deficiência e dificuldades de aprendizagem
sem assistência devida, estabelece-se diversas metas para melhorar a escolarização
e alfabetização destas crianças. Como comentado acima, espera-se que o primeiro
passo seja dado pelas leis, que significam que as necessidades já foram observadas
e que há a necessidade de fazer algo para mudar, ainda que nem sempre a
implementação dessas se dê de imediato. Entre as leis importantes para as questões
que levantamos neste trabalho então o Artigo 208 da nossa Constituição, o qual
garante atendimento especializado para pessoas com deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino (BRASIL, 1988) e a Resolução CNE/CP de 2002, no Artigo
6, que trata da formação de professores dizendo no parágrafo 3º que entre as
competências necessárias deverá também contemplar as especificidades dos alunos
com deficiência (BRASIL, 2002).
Faz-se necessário entender que as Leis atuais que tanto visam a inclusão não
surgiram de discussões superficiais, mas antes, vem de um longo percurso histórico
de militâncias e discussões coletivas, o que gerou uma infinidade de documentos
30
Legais que hoje alicerçam os novos paradigmas educacionais (Quadro 6). Temos em
nossa história educacional pelo menos 35 anos de reflexões, tentativas e ações em
prol da inclusão educacional de alunos com necessidades diferenciadas no que tange
o aprendizado. Por esse motivo, não cabe hoje o discurso de muitos professores de
que não sabem lidar com esse público ou que nunca ouviram falar sobre tal assunto.
1981 Declaração de Sundberg. Conferência Mundial sobre Ações e Estratégias para Educação,
Prevenção e Integração (Unesco, 1981).
1990 Declaração da Tailândia – Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das
necessidades básicas de aprendizagem.
Declaração de Santiago – resultou da V Reunião do Comitê Regional Intergovernamental
1993
do Projeto Principal de Educação na América Latina e Caribe, com o objetivo de melhorar
os níveis globais da qualidade de aprendizagem.
Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. Visa à promoção, defesa e
2007
garantia das condições de vida com dignidade e à emancipação das pessoas com
deficiência.
1988
Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1988 – Integração Social.
1988
Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.
1990 Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990 – Concursos Públicos (assegura 5% das vagas
para deficientes).
1991
Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991 – cotas de contratação para empresas privadas.
1996
LDBEN, Cap. V. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
2001 Lei n. 10.172, de 09 de janeiro de 2001 – Plano Nacional de Educação (objetivos e metas
para implementar NEE).
2005
Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002 – LIBRAS.
2012 Lei n. 12.764, de 27 de dezembro de 2012 – Política de proteção a indivíduos com autismo.
Na rede pública, há alguns anos, alunos com deficiência são aceitos, não
necessariamente dispondo de todos os recursos que indica a lei 13.146, conhecida
como estatuto da pessoa com deficiência. Porém, em escolas da rede privada,
alegando a obrigatoriedade de contratação de profissionais de apoio, por exemplo,
muitos não eram aceitos ou precisavam pagar taxas para ter acesso a recursos
garantidos por lei. A cobrança não é mais permitida desde 2016.
Ainda no Estatuto da pessoa com deficiência, Art. 27, temos:
22O Documento em questão deixa claro que esse processo de inclusão educacional se expande para
contextos educacionais não convencionais também, tais como cursos livres e técnicos em quaisquer
áreas, o que nos aponta ainda mais a urgência de discussões acerca disso no âmbito da educação
musical.
32
Na citação acima o que mais chama a atenção é o trecho que grifamos, por
notarmos a preocupação em abranger no texto do documento o maior número de
pessoas e suas especificidades, já que existem várias deficiências e transtornos, que
vão dos casos mais simples aos que trazem maior comprometimento e, as pessoas
com altas habilidades ou superdotação, que não costumam ser vistas como
necessitadas de apoio pedagógico específico, apesar de legalmente, o serem.
Ainda na Meta 4 (PNE, 2014, p. 24-25), é significativo pontuar os planos de
ação 4.13 que trata da ampliação da equipe de profissionais e o 4.16 que fala da
necessidade de referenciais teóricos, teorias da aprendizagem e dos processos de
ensino-aprendizagem específicos nos cursos de formação de professor, ou seja,
23 Estabelece 20 metas com prazo de 10 anos para serem cumpridas, a fim de direcionar esforços e
investimentos para a melhoria da educação no país.
24 O termo Transtornos Globais do Desenvolvimento ainda é utilizado na CID10, porém foi substituído
• Exigir seus direitos como educador dentro do processo inclusivo. Para tanto
é necessário conhecer as Leis e as obrigações das instituições.
Nas perspectivas analisadas por Schambeck (2016), apesar de todas as leis e
decretos que tratam da inclusão na sociedade e mais precisamente no espaço
escolar, apesar de metas bem definidas e propostas resultantes de longos períodos
de estudos, pouco vemos sendo aplicado, principalmente quando a formação do
professor, que demanda reformulação de todos os currículos das licenciaturas.
Proporcionar aos licenciandos em música o contato com aqueles
conteúdos culturais que lhes permitam desenvolver uma compreensão
mais racional do mundo em que vivem, com metodologias didáticas
que propiciem o desenvolvimento de um pensamento crítico e criativo,
enfim, ter contato com a diversidade, característica no mundo
contemporâneo, pressupõe habilitar esse aluno a entender,
argumentar e conviver com pessoas de distintas culturas. Acredita-se
que essa segurança pedagógica não terá o poder de transformar
imediatamente uma realidade ou de criar fórmulas rápidas, mas
poderá gerar processos de autorreflexão e autocrítica, à medida que
esses estudantes estiverem em contato com a realidade da escola
inclusiva (SCHAMBECK, 2016, p. 29).
Em suma, a inclusão é um caminho sem volta e urgente e será cada vez mais
exigida e cobrada nos meios de aprendizagem, pois as Leis estão mais delineadas e
as pessoas com deficiências e transtornos e suas famílias, mais conscientes de seus
direitos. Além disso, a sociedade atual está vivendo um momento de transformação
em busca por empoderamento das minorias, o que fortalece o caminhar por mais
representatividade e espaços sociais para essas pessoas. Sendo assim, a área de
música precisa ampliar suas discussões e ações para acompanhar o progresso social
quanto a essa temática.
da música Evgeny Kissin e Derek Paravicini26, dois pianistas famosos que possuem
características bastante marcantes de autismo e ainda assim grandes habilidades
musicais.
Ainda que para algumas pessoas autistas a música seja um grande foco de
interesse, os benefícios e o prazer em descobrir novas possibilidades com ela não fica
restrito a apenas este recorte de indivíduos, assim como não se restringe apenas às
possibilidades terapêuticas. É inegável o potencial terapêutico já amplamente
explorado da música com a musicoterapia, psicologia, terapia ocupacional e outras,
que podem utilizar a música como um dos meios para atingir melhoras no prognóstico.
Entre teóricos que abordam o tema, entende-se que a música é capaz de produzir
mudanças do tipo emocional, fisiológica, espiritual, social e intelectual, ganhando um
significado de cada ouvinte, porém não sendo essas possibilidades impedimento para
qualidade sonora (BLASCO, 1996 e 1999; COSTA, 1989; BARCELLOS, 1992a apud
SILVA JUNIOR, 2008, p.24).
O diagnóstico é importante para fornecer informações pelas quais o professor
começará27 a basear os objetivos e planejar as metodologias. Porém, em um contexto
em que o professor está despreparado para lidar com o aluno com deficiência, o
diagnóstico pode ser utilizado de forma a rotular o aluno e retirar a responsabilidade
do professor pelo aluno não estar acompanhando o conteúdo, por isso a importância
de derrubar as barreiras atitudinais comentadas no tópico anterior (SOUSA e
FORTES-LUSTOSA, 2015).
Precisamos compreender que em qualquer processo educacional,
principalmente na infância, o aprender e o brincar estão intimamente ligados, e
enquanto se aprende, mesmo após a idade adulta, ao mesmo tempo desenvolvemos
áreas do nosso cérebro e do nosso corpo que serão utilizadas para desempenhar
com mais qualidade várias outras habilidades. Um olhar atento a este
desenvolvimento de forma global não coloca a educação musical especial ou inclusiva
como, uma atividade terapêutica, da mesma forma que a musicoterapia jamais terá
funções educacionais, ainda que se aprenda informalmente algo. É importante
esclarecer este ponto, que em muitos momentos fica confuso tanto para os
profissionais da educação musical, quanto da musicoterapia. Temos em Louro (2017)
26https://www.ted.com/speakers/derek_paravicini
27Começará, pois só conhecendo bem a especificidade do caso é que a prática docente atingirá o
objetivo de ensinar.
36
28 O termo estava em vigência na data de publicação, não sendo mais utilizado atualmente.
37
contexto inclusivo. O que observamos é que para ensinar para qualquer aluno será
necessário estar previamente informado de como é a instituição, o que espera, que
recursos oferece, quais são as expectativas dos pais e alunos e como esse aluno
aprende e desenvolve as habilidades musicais.
Nessa linha de raciocínio podemos citar Soares (2012) que relata o processo
de inclusão de um jovem com autismo em escola de música no qual o aluno era
submetido a aulas teóricas e práticas com o apoio de monitores que adaptavam o
material e intervinham de modo a promover o entrosamento com professores e
colegas, além de evitar direcionar as ações, motivando o desenvolvimento da
autonomia. Para que as finalidades do projeto fossem alcançadas, foi investido tempo
em levantamento de dados sobre os alunos, necessidades e expectativas dos
professores o que criou um contexto de ensino colaborativo com reuniões semestrais
garantidas para falar sobre o autismo e as especificidades do aluno (SOARES, 2012,
p. 62).
Existem várias abordagens pedagógicas ou formas de adaptar o ensino musical
a pessoas com essa patologia. Há pessoas que preferem trabalhar com os alunos
separados da família, como por exemplo o trabalho de Louro (2006, 2012, 2016) e
Soares (2012). Mas há abordagens musicais que já colocam a família como parte do
aprendizado, por exemplo, Oliveira, Peixoto e Parizzi (2013) expõem uma pesquisa
realizada com duas crianças de 3 anos com o diagnóstico de TEA que tiveram um
semestre de aulas com a participação das mães. Alguns dos resultados obtidos foram
a internalização do pulso, ampliação da extensão melódica nas vocalizações, redução
dos movimentos estereotipados que foram substituídos por gestos mais expressivos
ao estímulo musical e desenvolvimento de novas habilidades motoras nos
instrumentos adquiridas através da imitação. Estes resultados demonstram o que um
trabalho bem estruturado, a partir do conhecimento do aluno e da participação da
família pode atingir como objetivos pedagógicos, sem por isso acreditar que será
assim em todos os casos, ou que a aprendizagem é uma linha reta (PRESTES, 2008,
p. 1-2).
Os objetivos da musicalização, assim como de todo o processo pedagógico na
primeira e segunda infância (quando o conteudismo ainda não tomou conta das salas
de aula), é (ou deveria ser) o desenvolvimento cognitivo e global, com ênfase no social
e emocional (BRASIL, 1988). Para tal, as propostas costumam ser lúdicas, com
vivências que priorizam o sentir e o fazer explorando as possibilidades. Parece ser
38
4. METODOLOGIA
30Abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é colocar
o pesquisador em contato direto com tudo o que foi produzido sobre determinado assunto (LAKATOS,
2003, p.183).
31 A pesquisa exploratória tem como principal objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema
e assim torná-lo mais explícito, e aprimorar as ideias e intuições do pesquisador (Gil, 2002).
32 As revisões bibliográficas geralmente são realizadas nos últimos cinco anos, mas devido à escassez
de pesquisas que abordem a pedagogia musical e inclusão musical de pessoas com TEA, preferimos
expandir o tempo para dez anos.
33 Consideramos Anais da ABEM como o conjunto de todos os anais de Congressos Nacionais e
Encontros Regionais.
40
5. RESULTADOS
Quadro 11. Categorias classificatórias dos trabalhos que compõem o resultado desta pesquisa.
34A escolha para a distribuição das categorias obedece a ordem alfabética. A categoria “outros” ficou
por último na posição pois por serem trabalhos que não se encaixaram nas categorias estipuladas e
não obedece, portanto, a ordem alfabética.
43
Quantidade de
Banco de dados
trabalhos encontrados
12 Anais da ABEM
1 Anais CBEE
1 Anais Congresso Brasileiro de Autismo
1 Anais Congresso de Educação Musical Unicamp
1 Anais ISME35
4 Anais SIMCAM
1 Cadernos de Pedagogia
3 Repositório UFPA
1 Repositório UFPR
1 Repositório UFRN
1 Revista da ABEM
1 Revista Brasileira de Educação Especial
1 Revista Educação, Arte e Inclusão
1 Revista Música
1 Revista Nupeart
6 Site Música e Inclusão36
35 Sigla em inglês para Sociedade Internacional de educação musical. O trabalho que se encontra nesta
plataforma foi utilizado por ter sido publicado a partir do congresso que aconteceu no Brasil e ter tido
autores brasileiros.
36 Importante ressaltar que este site não é uma revista indexada, banco de dados ou repositório, o que
faz dele uma fonte de pesquisa não oficial, sendo somente um portal para divulgação sobre a temática
música e inclusão. Os locais originais de publicação desses 6 artigos foram arduamente procurados,
porém não foram localizados. Portanto, como foram julgados importantes trabalhos para esta pesquisa,
bem como, por esse site ser muito conhecido e considerado sério como um portal sobre o tema música
e inclusão, optamos por mantê-los.
44
Anais da ABEM
Anais CBEE
Anais SIMCAM
32%
Cadernos de Pedagogia 3%
Repositório UFPA 3%
Repositório UFPR
3%
Repositório UFRN
3%
Revista ABEM
3%
Revista Brasileira de Educação Especial
Revista Música 3% 3%
Revista Nupeart 3%
Site Música e Inclusão 8% 3%
3%
3%
11%
Gênero
Quantidade Instituição
Textual
30 27
20
10 4 4
1 1 1 Gráfico 2. Número de pesquisas
0 por gênero textual.
TCC - Artigo Monografia
Monografia - Lato Sensu Dissertação
Tese Artigo - Anais e Revistas
12
Categoria 1: Ensino de
11 instrumento;
Categoria 2: Ensino de
10 9 Categoria 1
teoria musical;
Categoria 2 Categoria 3: Formação do
8 professor;
Categoria 3
Categoria 4: Música como
6 Categoria 4 ferramenta de inclusão
4 4 4 social/escolar;
Categoria 5
4 3 3
Categoria 5: Musicalização;
Categoria 6 Categoria 6: Música como
2 Categoria 7 ferramenta de
desenvolvimento global;
Categoria 7: Outras.
0
Desta forma, fica claro que as áreas que contemplam mais pesquisas envolvem
os benefícios gerais que o ensino de música pode trazer para pessoas com TEA,
considerando o desenvolvimento de habilidades úteis para diversas áreas da vida. O
segundo maior número de trabalhos tem como foco a musicalização e geralmente
trazem uma descrição de processos realizados e propostas pedagógicas. Todas as
outras categorias tiveram número semelhante de trabalhos.
46
12
10
10 9
8
6
6 5
4 4
4
• T= Tese de (doutorado);
• D = Dissertação (mestrado);
• TCC - M = Trabalho de conclusão de curso feito em forma de monografia;
• TCC – A = Trabalho de conclusão de curso feito em forma de artigo;
• Art = Artigos publicados em revistas indexadas;
• Art * = Artigos encontrados em sites especializados, mas que não foram
publicadas em revistas indexadas.
47
Categoria 1
ENSINO DE INSTRUMENTO
BANCO DE
AUTOR TÍTULO TIPO ANO
DADOS
Avaliação do aprendizado musical de
OLIVEIRA, GF Repositório
crianças com Transtorno do Espectro do D. 2015
de UFPA
Autismo em aulas de percussão.
Categoria 2
ENSINO DE TEORIA MUSICAL
BANCO DE
AUTOR TÍTULO TIPO ANO
DADOS
Categoria 3
FORMAÇÃO DO PROFESSOR
BANCO DE
AUTOR TÍTULO TIPO ANO
DADOS
Anais: IX
Congresso
Educação musical para autistas. Art. 2013
BARBOSA, LKC Brasileiro de
Autismo
Biblioteca
O ensino de música para Autistas:
Digital de
BARBOSA, LKC reflexões a partir de uma experiência TCC -M 2013
Monografias
em Natal-RN.
UFRN
Aspectos do Transtorno do Espectro do
Autismo: reflexões para a aula de Site Música e
PANHOTO, DP TCC – A 2013
música para crianças de 7 a 11 anos na Inclusão
perspectiva inclusiva.
Quadro 17. Categoria 4: Processo pedagógico musical como ferramenta de inclusão social/escolar.
Categoria 4
Categoria 5
MUSICALIZAÇÃO
BANCO DE
AUTOR TÍTULO TIPO ANO
DADOS
Anais ABEM:
Música e Autismo: práticas musicais e
XXI
AFONSO, LM. desenvolvimento sonoro musical de Art. 2013
Congresso
uma criança autista de 5 anos.
Nacional
Anais ABEM:
Educação musical e inclusão: a
IX Encontro
ALVES, DC. importância das aulas de música para a Art. 2014
Regional
criança autista.
Sudeste
Anais ABEM:
BARBOSA, LKC Projeto Som Azul: musicalização e XIII Encontro
Art. 2016
et al. autismo. Regional
Nordeste
BORGES, BM; Anais ABEM:
Educação Musical Infantil e Autismo:
MONTEIRO, Art. 2012 VII Encontro
uma proposta de ensino.
GR Regional Norte
FIGUEIREDO, Práticas pedagógicas e musicais com
Anais ABEM:
CF; LÜDERS, estudantes com transtorno do espectro Art. 2016
Regional Sul
V. do autismo.
Anais ABEM:
MEDINA, Luana Musicalização para bebês com
Art. 2016 XVII Encontro
et al. Transtorno do Espectro Autista.
Regional Sul
Anais ABEM:
OLIVEIRA, GC Criança autista e Educação Musical: um XXI
Art. 2013
et al. estudo exploratório. Congresso
Nacional
Um olhar diferenciado na abordagem da
SALVADOR, Site Música e
educação musical: relato de experiência TCC- A 2013
Ester. Inclusão37
com uma criança autista.
ANAIS ISME:
Interações de crianças com Transtorno XI Conferência
WILLE, RB; et
do Espectro Autista num contexto de Art. 2017 Regional
al.
Educação Musical Infantil. Latino-
Americana
Quadro 19. Categoria 6: Processo pedagógico musical como ferramenta de desenvolvimento global.
Categoria 6
Desenvolvimento de habilidades
SANTOS, CEC Revista
musicais em crianças autistas: um Art. 2015
dos. Nupeart
projeto de extensão, pesquisa e ensino.
A neurociência como aliada no processo
de aprendizagem musical e
SANTOS, EA; Cadernos de
desenvolvimento global de pessoas com Art. 2017
LOURO, V. Pedagogia
transtorno do espectro autista: um relato
de caso.
Categoria 7
OUTRAS
BANCO
AUTOR TÍTULO TIPO ANO
DE DADOS
O comportamento de crianças com
ESPÍRITO
Transtorno do Espectro Autístico no Repositório
SANTO, LAA D. 2012
contexto de educação musical – um UFPA
do.
estudo de caso.
Avaliação auditiva de sequências
Revista
LOURO, VS et sonoro-musicais: um estudo piloto para
Art. 2015 Música da
al validação de teste musical para pessoas
USP
com transtorno do espectro autista.
PENDEZA, D;
Educação Musical e TEA: um panorama Revista
DALLABRIDA, Art. 2016
das publicações nacionais. ABEM
IC.
52
6. DISCUSSÃO
39Podemos encontrar este mesmo número de trabalhos com o termo de busca autismos em BEZERRA,
2014.
54
cognitivo, motor, emocional e social, sendo ele com ou sem deficiência. (BRITO, 2010;
KATER, 2012; NASCIMENTO, 2015) Esses dados são alarmantes (apesar de não
muito novo para nossa realidade): a área de educação musical não fomenta o
exercício da educação inclusiva e por isso não promove muitas pesquisas sobre o
assunto. Igualmente, a área de educação (em geral), não encara a música como
importante para a educação coletiva e inclusiva e por isso também não promove
pesquisas sobre isso. Não estaria na hora de mudarmos essa realidade?
Ainda sobre os resultados desta pesquisa, na Revista Brasileira de Educação
Especial, o artigo encontrado sobre comportamento da criança autista com seus pares
caminhou lado a lado com a psicologia, sendo apenas 1 dos 6 autores com formação
acadêmica em música. Este autor chama-se Áureo De Freitas, que era, na época em
que o artigo foi publicado, coordenador do projeto Cordas da Amazônia do Pará e este
projeto rendeu pelo menos mais outros 3 artigos e 3 dissertações de Mestrado. No
decorrer de nossas pesquisas, encontramos inúmeros outros trabalhos originados
deste projeto, porém voltados para a inclusão de forma mais ampla ou para alunos
com outra deficiência ou transtorno. Com isso, fica fácil notar que quando uma
instituição de ensino superior promove aos seus alunos a oportunidade de auxiliar a
comunidade externa e ao mesmo tempo vivenciar práticas pedagógicas que o
aproximem e preparem para a realidade fora dos muros da universidade, esta
experiência torna-se uma área de rica produção acadêmica.
Mas esse dado também nos leva a refletir novamente sobre a educação
musical: não é curioso que o artigo sendo sobre processo de ensino musical haja
somente um músico educador dentre os 6 autores? Isso pode nos fazer criar várias
hipóteses: a primeira delas é que realmente os educadores musicais não se atentam
ou interessam pela temática, relegando, portanto, aos profissionais de outras áreas
um interesse maior do que da própria área de educação musical no que se refere a
compreensão do processo de ensino-aprendizagem musical de pessoas com autismo,
o que é grave nos dias atuais com a inclusão educacional tão amplamente difundida.
A segunda hipótese é de que há mais interesse em entender a música no contexto
inclusivo, do ponto de vista de outros olhares (como psicologia, terapia, musicoterapia)
do que da própria abordagem pedagógica musical, o que é igualmente grave, pois
perdemos autonomia no que tange a importância do aprendizado por ele mesmo, o
que corrobora para a ideia da música sempre como coadjuvante de algo. A terceira
hipótese, igualmente preocupante, é a de que os educadores musicais não tenham
55
O autor José Bueno (1999) comenta um pouco mais sobre essa questão:
7. CONCLUSÃO
A partir dos dados coletados neste levantamento, bem como, das discussões
geradas por esta pesquisa por meio do embasamento teórico escolhido chegamos às
seguintes conclusões:
8. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, AC; NETO, FL. A nova classificação Americana para os Transtornos Mentais –
DSM-5. rev. Bras. De ter. Comp. Cogn., 2014, Vol. XVI, no. 1, 67 – 82. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/jp/v46n85/v46n85a11.pdf>. Acesso em 06 jun. 2016
ARANHA, Maria Salete Fábio. Paradigmas da relação da sociedade com as pessoas com
deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, Ano XI, no. 21, março, 2001, pp.
160-173
ÁVILA, Cássia Pinto. A música como ferramenta inclusiva do aluno com TEA:
intervenção terapêutica aplicada à educação musical. Trabalho de conclusão de curso
(graduação). Universidade Vale do Rio Verde, Três corações, 2014. [online]. Disponível
em: <https://musicaeinclusao.files.wordpress.com/2014/12/mc3basica-e-tea.pdf>.Acessa
do em: 15 de Out.
ÁVILA, Pinto Cássia; MORAIS, Daniela Vilela de. A música na inclusão de um aluno
com TEA sob a ótica DIR-Floor Time. In: VIII Encontro de Educação Musical,
Campinas. Abril, 2015. Disponível em: https://musicaeinclusao.files.wordpress.com/
2016/06/avila-cc3a1ssia-a-mc3basica-na-inclusc3a3o-de-um-aluno-com-tea-sob-ac3
b3tica-dir_floor-time.pdf. Acesso em: 15 de set. de 2017
BARBOSA, Luana Kalinka C.; ARAÚJO, Gessé J.; SILVA, Raiane Silmara
Nascimento da. Projeto Som Azul: musicalização e autismo. In: XIII Encontro
Regional da ABEM, 2016, Teresina. Anais XIII Encontro Regional da ABEM. v. 1. p.
1-10. Teresina, 2016.
BARROSO, Maria Aida. Música e Inclusão nas Universidades. In: LOURO, Viviane
(Org.). Música e Inclusão: Múltiplos olhares. São Paulo: Editora Som, 2016.
BERTOLUCHI, M. A. Autismo, musicalização e musicoterapia. Artigos Meloteca.
2011. [online] Disponível em: https://www.meloteca.com/pdf/musicoterapia/autismo-
educacao-musical-e-musicoterapia.pdf. Acesso em: 18 de set.
BUENO, José Geraldo Silveira. Crianças com necessidades educativas especiais, política
educacional e a formação de professores: generalistas ou especialistas?. Revista
Brasileira de Educação Especial. v.3. n.5. Editora UNIMEP: Piracicaba, 1999. p.7-25.
Disponível em: <http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/artigos_em_pdf/revista5
numero1pdf/r5_art01.pdf >. Acessado em 10 de Janeiro de 2018.
BRITO, Teca Alencar de. Ferramentas com brinquedos: a caixa da música. Revista da
ABEM, Porto Alegre, v. 24, 89-93, set. 2010.
CHRISTENSEN, Deborah L.; BAIO, Jon; BRAUN, Kim Van Naarden. Prevalence and
Characteristics of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years — Autism
and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2012.
MMWR Surveill Summ 2016, vol. 65, Nº3. p. 5. Disponível em: <https://www.cdc.gov/
mmwr/volumes/65/ss/pdfs/ss6503.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2017
CNE. Resolução CNE/CP 1/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de 2002.
Seção 1, p. 31. Republicada por ter saído com incorreção do original no D.O.U. de 4
de março de 2002. Seção 1, p. 8. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquiv
os/pdf/rcp01_02.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2018.
FANTINI, Renata Franco Severo; JOLY, Ilza Zenker Leme; ROSE, Tânia Maria
Santana de. Educação Musical Especial: produção brasileira nos últimos 30 anos.
Revista da ABEM. Londrina. v.24. n.36. 36-54. Jan-jun, 2016
______ (org). Música e Inclusão: múltiplos olhares. 1. ed. vol 1. p. 284. São Paulo:
Som, 2016
PENNA, Maura. Caminhos para a conquista de espaços para a música na escola: uma
discussão em aberto. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 19, 57-64, mar. 2008
PRESTES, Clarisse. Musicoterapia: estudo de caso de uma criança autista. In: XVII
Encontro Nacional da ABEM, São Paulo, out. 2008.
9. APÊNDICE
Categoria 1
ENSINO DE INSTRUMENTO
OLIVEIRA, Gleisson do Carmo. Avaliação do aprendizado musical de crianças
com transtorno do espectro do autismo em aulas de percussão. Dissertação
(mestrado) apresentada à Universidade Federal do Pará. Belém, 2015.
PAIVA, A. C. de C. de; DEFREITAS JUNIOR, A. D. Educação musical no
programa corda da Amazônia: violoncelo para crianças e adolescentes com
autismo, dislexia e TDAH. In: XII Encontro Regional Nordeste da ABEM. São Luís,
2014.
RODRIGUES, J. C. Caminhos de formação em música de estudantes com
transtorno do espectro do autismo em uma escola técnica em música. 2014.
96 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências
da Arte, Belém, 2014. Programa de Pós-Graduação em Artes.
SILVA, Suene Ferreira da. A intervenção Musical mediando o processo de
Aprendizagem de alunos diagnosticados com Perturbações do Espectro do
Autismo (PEA). In: Anais do VII Encontro Regional Norte da ABEM. p. 165-172.
Belém, 2012.
Categoria 2
ENSINO DE TEORIA MUSICAL
FIGUEIREDO, Camila Fernandes. A aprendizagem musical de estudantes com
autismo por meio da improvisação. 2016. 136 f. Dissertação (Mestrado) – Setor
de Artes, Comunicação e Design da Universidade Federal do Paraná. Curitiba,
2016.
LOURO, Viviane dos Santos. Ações pedagógicas para inclusão de aluno com
Transtorno do Espectro Autista numa escola de música de São Paulo: Relato de
caso. In: Revista Educação Arte e Inclusão. Vol. 10. No. 2. São Paulo, 2014
RODRIGUES, J.C.; DEFREITAS JÚNIOR, A.D. Um estudo do processo de
inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo na Escola de
Música da Universidade Federal do Pará: Um projeto de pesquisa. In: Anais do
XXI Congresso Nacional ABEM. p.2321-2332. Pirenópolis, 2013
SARTORELLO, KALF. Educação musical e a inclusão de um autista na aula
de rítmica. Trabalho de conclusão de curso apresentado para a pós em Educação
musical do curso Lato Sensu em Educação Musical. f. 46. São Paulo, 2013
74
Categoria 3
FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA TRABALHAR COM PESSOAS AUTISTAS
BARBOSA, Luana Kalinka Cordeiro. Educação musical para autistas. In: IX
Congresso Brasileiro de Autismo, 2013, Maceió, 2013. v. 1. p. 91-97
______. O ensino de música para autistas: reflexões a partir de uma experiência
em Natal-RN. 2013. 38 f. Monografia (graduação) - Escola de Música,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2013.
PANHOTO, Debora. Aspectos do TEA: reflexões para a aula de música para
crianças de 7 a 11 anos na perspectiva inclusiva. Trabalho de encerramento de
curso de Licenciatura em Música da UFSCAR. Setembro, 2013.
Categoria 4
PROCESSO PEDAGÓGICO MUSICAL COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO
SOCIAL/ESCOLAR
ÁVILA, Pinto Cássia; MORAIS, Daniela Vilela de. A música na inclusão de um
aluno com TEA sob a ótica DIR-Floor Time. In: VIII Encontro de Educação
Musical, Campinas. Abril, 2015. Disponível em:
https://musicaeinclusao.files.wordpress.com/2016/06/avila-cc3a1ssia-a-mc3basica-
na-inclusc3a3o-de-um-aluno-com-tea-sob-a-c3b3tica-dir_floor-time.pdf. Acesso
em: 15 de set. de 2017
NASCIMENTO, Paulyane Silva do. et al. Comportamento de crianças do espectro
do autismo com seus pares no contexto de educação musical. Rev. Bras. Ed.
Esp., Marília, v. 21, n. 1, p. 93-110, Jan.-Mar., 2015. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-65382115000100007>. Acesso em: 30 nov. 2017
SILVA, Suene Ferreira da et al. A intervenção musical mediando o processo de
aprendizagem de alunos autistas na perspectiva inclusiva. In: VI CBEE -
Congresso Brasileiro de Educação Especial – São Carlos/São Paulo, 2014
Categoria 5
MUSICALIZAÇÃO
AFONSO, Lucyanne de Melo. Música e Autismo: práticas musicais e
desenvolvimento sonoro musical de uma criança autista de 5 anos. In: Anais do
XXI Congresso Nacional ABEM. p. 1396-1405. Pirenópolis, 2013.
ALVES, Daniella Camargos. Educação musical e inclusão: a importância das
aulas de música para a criança autista. In: Anais do IX Encontro Regional Sudeste.
Vitória, 2014.
BARBOSA, Luana Kalinka C.; ARAÚJO, Gessé J.; SILVA, Raiane Silmara
Nascimento da. Projeto Som Azul: musicalização e autismo. In: XIII Encontro
Regional da ABEM, 2016, Teresina. Anais XIII Encontro Regional da ABEM. v. 1.
p. 1-10. Teresina, 2016.
75
.
Categoria 6
PROCESSO PEDAGÓGICO MUSICAL COMO FERRAMENTA DE
DESENVOLVIMENTO GLOBAL
ÁVILA, Cássia Pinto. A música como ferramenta inclusiva do aluno com TEA:
intervenção terapêutica aplicada à educação musical. Trabalho de conclusão de curso
(graduação). Universidade Vale do Rio Verde, Três corações, 2014. [online].
Disponível em: <https://musicaeinclusao.files.wordpress.com/2014/12/mc3basica-e-
tea.pdf>. Acessado em: 15 de Out.
BIZARRIA, Fábio de Oliveira. A improvisação musical como ferramenta de
comunicação para aluno incluído portador de autismo. Artigo de conclusão de
curso. São Paulo: UNESP, 2012. Retirado de
www.musicaeinclusao.wordpress.com. Acesso em 16 de Outubro de 2014.
Disponível em: <https://musicaeinclusao.files.wordpress.com/2016/06/bizarria-
fc3a1bio-santos-maria-improvisac3a7c3a3o-musical-como-ferramenta-de-
comunicac3a7c3a3o-para-aluno-incluido-portador-de-autismo.pdf>. Acesso em: 3
de set. 2017.
BLUMER, Caroline; ZATTERA, Vilson. Percepção e cognição na educação
musical de pessoas com TEA e as contribuições das construções simbólicas
para constituição do sujeito. In: Anais do XIII Simpósio Internacional de
Cognição e Artes Musicais. p. 97-105. Curitiba, 2017.
GOMES, Hendy Anna Oliveira. Autismo e educação musical. In: Anais do IX
Encontro Regional Sudeste ABEM. Vitório, 2014
76
Categoria 7
OUTRAS
ESPÍRITO SANTO, Lady Anny Araújo do. O comportamento de crianças com
Transtorno do Espectro Autístico no contexto de educação musical: estudo
de caso. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Núcleo de Teoria
e Pesquisa do Comportamento, Belém, 2012. 111f. Programa de Pós-Graduação
em Teoria e Pesquisa do Comportamento.
LOURO, Viviane dos Santos. Avaliação auditiva de sequências sonoro-musicais:
um estudo piloto para validação de teste musical para pessoas com transtorno do
espectro autista. Revista Música – USP. Vol. 15. 1ª ed. p. 103-126. São Paulo,
2015.
OLIVEIRA, G. C.; PARIZZI, M.B.; PEIXOTO, V. R. M. et al. Desenvolvimento
musical de crianças autistas: uma proposta de avaliação. In: Anais do XI
SIMCAM. p. 74-79. Pirenópolis, 2015.
PENDEZA, Daniele; DALLABRIDA, Iara Cadore. Educação Musical e TEA: um
panorama das publicações nacionais. Revista da ABEM, Londrina. v.24. n.37. p.
98-113. Jul-dez, 2016.