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CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Artigo 1º
Objecto
A presente lei define as bases da política pública de apoio e desenvolvimento do
cinema e do audiovisual, num contexto de protecção e valorização da identidade, da
cidadania e da diversidade cultural e de aproveitamento do potencial dos sectores
cinematográfico e audiovisual, enquanto indústrias criativas.
Artigo 2º
Definições
Para os efeitos da aplicação da presente Lei, entende-se por:
a) ―Obras cinematográficas‖ as criações expressas por um conjunto de combinações
de palavras, música, sons, textos escritos e imagens em movimento, fixadas em
qualquer suporte, destinadas prioritariamente à distribuição e exibição em salas de
cinema;
b) ―Obras audiovisuais‖ as criações expressas por um conjunto de combinações de
palavras, música, sons, textos escritos e imagens em movimento, fixadas em qualquer
suporte, destinadas prioritariamente à teledifusão;
c) ―Produtor independente‖ a pessoa colectiva, com sede ou estabelecimento estável
no território nacional, cuja actividade principal consista na produção de obras
cinematográficas ou audiovisuais, desde que preencha cumulativamente os seguintes
requisitos:
i) Capital social não detido, directa ou indirectamente, em mais de 25% por um
operador de televisão ou em mais de 50% no caso de vários operadores de
televisão;
ii) Limite anual de 90% de vendas para o mesmo operador de televisão.
d) «Produção» a execução da obra, até à obtenção da cópia final, independentemente
do seu suporte original, abrangendo a produção de elementos que permitam toda a
promoção posterior da obra, nomeadamente, entre outros, fotos de cena e filmes
promocionais (teasers e trailers);
e) «Obra de criação original de produção independente» a obra produzida por um
produtor independente e que satisfaça os seguintes requisitos:
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PORTUGUESA – MUSEU DO CINEMA, I.P., ICA, I.P.
E IGAC) – VERSÃO DISCUSSÃO PÚBLICA] 30 de Setembro de 2010
i) Detenção da titularidade de direitos sobre a obra por parte do produtor, com clara
definição contratual do tipo e duração dos direitos de difusão cedidos aos
operadores de televisão e do número de difusões coberto por essa cedência;
ii) Liberdade na forma de desenvolvimento da obra, nomeadamente no que respeita
à escolha dos estúdios, actores, meios e distribuição.
f) ―Exibidor‖ a pessoa singular ou colectiva com domicílio ou estabelecimento estável
em Portugal que tem por actividade a exibição de obras cinematográficas,
independentemente dos seus suportes originais;
g) «Distribuidor» a pessoa singular ou colectiva com domicílio ou estabelecimento
estável em Portugal que tem por actividade principal a distribuição de obras
cinematográficas e audiovisuais, quaisquer que sejam os seus suportes.
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS E OBJECTIVOS
Artigo 3º
Princípios
1 - A política pública de apoio e desenvolvimento do cinema e do audiovisual orienta-
se pelos princípios da liberdade de expressão, da liberdade de criação intelectual e
artística e do respeito e protecção dos direitos de autor e de propriedade intelectual, e
visa, designadamente:
a) Promover o acesso e fruição generalizados e não discriminatórios aos conteúdos
culturais, com a correcção de assimetrias regionais ou outras;
b) Assegurar o cumprimento das obrigações estabelecidas no domínio das relações
internacionais, em especial, no que diz respeito à promoção da língua portuguesa e
dos laços com os países de língua oficial portuguesa;
c) Assegurar a livre concorrência e prevenir abusos de posição dominante e práticas
restritivas da concorrência;
d) Incentivar a actividade empresarial, em particular, das pequenas e médias
empresas;
e) Apoiar a projecção internacional dos criadores, das obras e das empresas
portuguesas.
2 – No âmbito da aplicação da presente Lei o Estado garante a observância e o
respeito pelas normas e princípios de direito internacional aplicáveis e tem em conta
as recomendações relevantes, nomeadamente:
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Artigo 5º
Papel do Estado
1 – Incumbe ao Estado em especial:
a) Promover uma visão estratégica e prospectiva da política cinematográfica e
audiovisual;
b) Planear e assegurar o controlo estratégico das políticas definidas para os sectores
cinematográfico e audiovisual;
c) Assegurar a sustentabilidade do regime de financiamento das políticas definidas
para os sectores cinematográfico e audiovisual, de acordo com critérios de rigor e
transparência;
d) Estimular a diversificação de centros de financiamento e decisão e sua
complementaridade;
e) Assegurar uma participação efectiva dos criadores, profissionais e associações do
sector, garantindo o acompanhamento e controlo da execução e da gestão dos
recursos atribuídos;
f) Promover e estimular a diversidade e a fruição das obras apoiadas pelo Estado,
tendo em vista a satisfação dos cidadãos.
2 - A acção do Estado, no âmbito das matérias relacionadas com a presente Lei, é
exercida através do Instituto de Cinema e Audiovisual e da Cinemateca Portuguesa -
Museu do Cinema, sem prejuízo das competências legalmente atribuídas nesta
matéria a outros serviços ou entidades.
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CAPÍTULO III
DO CINEMA E AUDIOVISUAL
ARTIGO 6º
Apoios
1 – O Estado fomenta a criação, a produção, a realização de co-produções, a
promoção, a exibição, a distribuição, a difusão nacional e a internacionalização de
obras cinematográficas e audiovisuais, designadamente através de:
a) Atribuição de incentivos financeiros;
b) Criação de obrigações de investimento;
c) Promoção de medidas fiscais e de valorização de mecenato.
2 – Os incentivos financeiros referidos na alínea a) do número anterior são definidos
por decreto-lei, podendo incluir mecanismos selectivos e automáticos, apoios directos
e em parceria, bem como outras modalidades que venham a revelar-se apropriadas.
3 – Os incentivos financeiros referidos na alínea a) de natureza selectiva atribuídos
pelo Instituto de Cinema e Audiovisual são propostos por um corpo de jurados, cuja
composição é designada pela Secção Especializada do Cinema e Audiovisual do
Conselho Nacional de Cultura, nos termos definidos pelo decreto-lei referido no
número anterior.
4 – O Estado apoia ainda a formação profissional, incentiva o ensino das artes
cinematográficas e audiovisuais no sistema educativo, e apoia acções destinadas a
crianças e jovens, à formação de públicos e literacia dos media, bem como outras
actividades de promoção da cultura cinematográfica e audiovisual.
5 – Sem prejuízo de outras contrapartidas estabelecidas, ou acordadas, o Estado
detém o direito de exibição não comercial das obras produzidas com incentivos ao
abrigo da presente Lei.
ARTIGO 7º
Salvaguarda, Valorização e Fruição do Património
1 — O Estado garante a preservação e a conservação a longo prazo das obras do
património cinematográfico e audiovisual português ou existente em Portugal,
património que constitui parte integrante do património cultural do País.
2 — O Estado promove o acesso público às obras que integram o património
cinematográfico e audiovisual nacional para fins de investigação artística, histórica,
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Capítulo IV
Registo de obras, empresas e profissionais
Artigo 9º
Registo de Obras
1 – O Estado organiza o registo das obras cinematográficas e audiovisuais, tendo em
vista a segurança do comércio jurídico.
2 – Estão sujeitas a registo obrigatório as obras cinematográficas e audiovisuais,
qualquer que seja o seu género, formato, suporte e duração, produzidas, distribuídas
ou exibidas em território nacional.
3 – As regras a observar no registo são definidas por decreto-lei.
Artigo 10º
Registo de Empresas cinematográficas e audiovisuais
1 – É criado um registo de empresas cinematográficas e audiovisuais regularmente
constituídas.
2 — O registo referido no número anterior é obrigatório para todas as pessoas
singulares ou colectivas com sede ou estabelecimento estável no território nacional
que tenham por actividade comercial a produção, a distribuição e a exibição, bem
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Capítulo V
Distribuição e exibição
Artigo 12º
Licença de Distribuição
1 - Considera-se licença de distribuição aquela que permite a uma pessoa singular ou
colectiva com domicílio ou estabelecimento estável em Portugal que tenha por
actividade principal a distribuição de obras cinematográficas e audiovisuais, quaisquer
que sejam os seus suportes, a respectiva exploração.
2 — A distribuição, incluindo a venda, aluguer e comodato, de obras cinematográficas
destinadas à exploração comercial depende de prévia emissão de licença.
3 — Pela licença referida no número anterior é devido o pagamento, pelo distribuidor,
de uma taxa, que constitui receita da entidade emissora.
4 — Os filmes nacionais exibidos com menos de seis cópias estão isentos do
pagamento da taxa de distribuição.
5 — A determinação do valor, as formas de liquidação, a cobrança e a fiscalização dos
montantes a arrecadar com a taxa de distribuição são definidos por decreto-lei.
ARTIGO 13º
Classificação Etária
1 – A comercialização, exibição, difusão das obras cinematográficas e audiovisuais,
bem como a oferta ao público de serviços audiovisuais a pedido, qualquer que seja o
meio ou o suporte, só pode ter lugar após ter obtido a respectiva classificação etária
pela Comissão de Classificação e as advertências obrigatórias que devem ser
incluídas na sua promoção junto do público.
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CAPÍTULO VI
DO FINANCIAMENTO
ARTIGO 17º
Formas de financiamento
As medidas de política pública no âmbito da presente Lei são financiadas através de:
a) Pagamento de contribuições;
b) Realização de investimentos.
ARTIGO 18º
Contribuições
1 – Os operadores de serviços de programas de televisão de acesso não condicionado
livre, na acepção da Lei n.º 27/2007, de 30 de Julho, estão sujeitos ao pagamento de
uma contribuição correspondente a 2% dos seus proveitos operacionais anuais totais
nesses serviços, incluindo as receitas dos serviços referidos no n.º 3 do presente
artigo.
2 – No caso das empresas concessionárias do serviço público de televisão, o valor da
contribuição referida no número anterior é de 3%.
3 – Os operadores de serviços de programas de televisão de acesso condicionado ou
de acesso não condicionado com assinatura, sob a jurisdição do Estado Português, na
acepção da Lei n.º 27/2007, de 30 de Julho, estão sujeitos ao pagamento de uma
contribuição correspondente a 1,5% dos seus proveitos operacionais anuais totais
nesses serviços.
4 – Os operadores de distribuição de serviços de programas televisivos, na acepção
da Lei n.º 27/2007, de 30 de Julho, estão sujeitos ao pagamento de uma contribuição
anual correspondente a 2% dos seus proveitos operacionais anuais totais nesses
serviços.
5 - As empresas que oferecem serviços de comunicações electrónicas em redes fixas
ou móveis, na acepção da Lei nº 5/2004, de 10 de Fevereiro, estão sujeitos ao
pagamento de uma contribuição, correspondente a:
a) no caso das operações em redes fixas, 1,5% dos proveitos operacionais anuais da
prestação de serviços de fornecimento de acesso de banda larga à Internet;
b) no caso das operações em redes móveis, 0,25% dos seus proveitos operacionais
anuais totais nesses serviços.
6 – O processo de liquidação e cobrança da contribuição a que se refere este artigo é
objecto de regulamentação autónoma, sendo aplicável o disposto na Lei Geral
Tributária e no Código de Procedimento e de Processo Tributário.
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Artigo 20.º
Retenção do preço dos bilhetes
1 – Os exibidores cinematográficos devem reter 10% da importância do preço da
venda ao público dos bilhetes de cinema.
2 – A verba proveniente da retenção referida no número anterior é aplicada da
seguinte forma:
a) 80% destinam-se exclusivamente ao fomento da exibição cinematográfica e à
manutenção da sala geradora da receita, é gerida pelo exibidor e tem expressão
contabilística própria;
b) 20% constituem receita do Instituto de Cinema e Audiovisual, consignada a
medidas de apoio ao sector da exibição, incluindo a digitalização da salas.
ARTIGO 21º
Investimentos
1 — A participação dos distribuidores de cinema e de videogramas na produção
cinematográfica e audiovisual é assegurada pelo investimento anual de um montante
não inferior ao equivalente a 2% dos seus proveitos operacionais anuais totais.
2 - Para além das contribuições obrigatórias referidas no número anterior, as
entidades referidas nos nºs 1 e 2, do artigo 18.º, estão ainda obrigadas a realizar
investimentos anuais na produção cinematográfica e audiovisual no valor equivalente
a 5% dos seus proveitos operacionais anuais totais.
3 — O investimento referido nos números anteriores, pode assumir as seguintes
modalidades:
a) Participação na montagem financeira de obra de criação original de produção
independente, como co-financiador, sem envolvimento na produção;
b) Participação na produção de obra de criação original de produção independente,
como co-produtor;
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