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Acórdão nº126/84

O representante do Ministério Público recorreu de uma decisão do Tribunal da Relação do


Porto que se recusou a aplicar o preceito do artigo 1º da Lei nº68/79, de 9 de Outubro,
julgando tal preceito inconstitucional, por infração do princípio da igualdade, explicitamente
consagrado no artigo 13º da Constituição.

Artigo 1º Lei nº68/79


O despedimento de trabalhadores que exerçam, entre outros, o cargo de delegado sindical, só
pode ser determinado, verificados certos pressupostos, por decisão judicial

 A foi despedido, por alegada justa causa, pela entidade patronal da empresa onde
trabalhava
 Intentou uma ação no Tribunal do Trabalho de Matosinhos alegando que, sendo
delegado sindical, o seu despedimento só poderia ter tido lugar por meio de ação
judicial, nos termos da Lei nº 68/79
 Requereu, por isso, a declaração de nulidade do despedimento, com as necessárias
consequências legais

 Contestou a ré (empresa) arguindo a inconstitucionalidade da Lei nº 68/79

 O Tribunal não atendeu a arguição de inconstitucionalidade, dando provimento à ação


e condenando a ré a reintegrar o trabalhador despedido ou, em alternativa, a pagar-
lhe a competente indemnização

 Ré recorre para o Tribunal da Relação do Porto, insistindo na doutrina da


inconstitucionalidade da Lei nº 68/79

 Tribunal da Relação do Porto julgou inconstitucionais as questionadas normas legais,


revogando assim a sentença recorrida.

 Ministério Público recorre para o Tribunal Constitucional

Segundo a decisão recorrida, os preceitos da Lei nº 68/79 ofendem o princípio constitucional


da igualdade, garantido pelo artigo 13º, dado que confere aos delegados sindicais (e a outros
representantes dos trabalhadores) um privilégio, pois nada justifica um regime diverso do que
vale para os demais trabalhadores, que podem ser despedidos por decisão da própria entidade
patronal.

Delegados sindicais - representam os trabalhadores, têm de ser os porta-vozes dos seus


interesses e reivindicações, dirigem as lutas pela defesa dos seus direitos.
São quem mais imediatamente personifica os trabalhadores perante a entidade patronal e,
portanto, são eles os mais diretamente expostos a eventuais manifestações de animosidade
das entidades patronais. Estão sujeitos a maior risco e maior risco reclama maior proteção.

Recorrente
Alega que não existe qualquer violação do princípio da igualdade, pois a solução específica da
Lei nº68/79 em relação ao despedimento de trabalhadores que desempenhem cargos sindicais
(ou equiparados) justifica-se plenamente pelo maior risco em que se encontram de, por
motivo das suas funções, virem a ser objeto de discriminação ou perseguição patronal.
Trata-se de prever um regime diferente para situações claramente diferentes, de modo a
evitar descriminações que, com um tratamento jurídico igual, inevitavelmente ocorreriam.

A proteção especial contra despedimentos conferida pela Lei nº 68/79 aos trabalhadores
titulares de cargos sindicais (ou equiparados) não viola o princípio da igualdade.
Seguramente não é contrária ao espírito e à letra da Constituição da República.
Trata-se de conferir uma proteção acrescida contra despedimentos arbitrários, ou injustos,
àqueles trabalhadores que, pelos cargos de dirigentes sindicais (ou equiparados) que
desempenham, incorram em risco acrescido.
Trata-se de dar uma solução específica a uma situação particular.

Princípio da igualdade e proteção constitucional da liberdade sindical

Proibição do arbítrio – critério razoável e suficiente. É necessário os afastamento de casos de


intolerável desigualdade. Neste caso parece que estamos perante um critério razoável.
Não se trata de um privilégio, um benefício injustificado, ou uma diferenciação arbitrária.
A diferenciação legislativa baseia-se, não num elemento subjetivo ou arbitrário, mas sim num
elemento objetivo e relevante sob o ponto de vista da disciplina legal.

Proibição de discriminação – categorias suspeitas

Obrigação de diferenciação – o princípio de igualdade não só autoriza como pode exigir


desigualdades de tratamento, sempre que por motivo de situações diversas um tratamento
igual conduzisse a resultados desiguais. É o caso em questão. Existe uma diferença específica
na situação dos dirigentes sindicais, quando comparada com a da generalidade dos
trabalhadores.

A proteção especial contra eventuais discriminações ou arbitrariedades patronais é condição


essencial para que os trabalhadores ocupem e exerçam cargos sindicais sem limitações.
Sem essa garantia é a própria liberdade dos trabalhadores, enquanto delegados ou dirigentes
sindicais ou membros de comissões de trabalhadores, que fica afetada.

A solução legislativa:

 Não gera discriminações, antes, procura impedi-las


 Não infringe o princípio da igualdade, antes, garante-o
 Não institui qualquer imunidade disciplinar aos dirigentes sindicais ou equiparados
 Não impede que eles sejam despedidos se houver justa causa para isso
 Visa impedir que eles sejam despedidos por outros motivos que não por justa causa

Decisão
TC considera que norma do artigo 1º da Lei nº68/79 não é inconstitucional.

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