Manual 05 - Socorro Florestal.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Praça da República, nº 45,


Centro, Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20.211-350.
www.cbmerj.rj.gov.br
Tel.: (+55 21) 2333-2362.

Copyright © 2019. Catalogação na fonte:


Estado-Maior Geral do CBMERJ.

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (Brasil).

Manual de Socorro Florestal: 2019 / CBMERJ. Rio de Janeiro: CBMERJ, 2019

Prefixo editorial: 68512

Número ISBN: 978-85-68512-14-2

Tipo de suporte: E-book

Formato: PDF

1. Corpo de Bombeiro Militar.

CDD 341.86388

É permitida a reprodução do conteúdo deste Manual desde que


obrigatoriamente seja citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são rigorosamente proibidas.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA CIVIL


CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ESTADO-MAIOR GERAL

Governador do Estado do Rio de Janeiro


WILSON JOSÉ WITZEL

Secretário de Estado de Defesa Civil e Comandante-Geral do CBMERJ


CORONEL BM ROBERTO ROBADEY COSTA JUNIOR

Subcomandante-Geral e Chefe do Estado-Maior Geral do CBMERJ


CORONEL BM MARCELO GISLER

Subchefe Administrativo do Estado-Maior Geral


CORONEL BM MARCELO PINHEIRO DE OLIVEIRA

Subchefe Operacional do Estado-Maior Geral


CORONEL BM LUCIANO PACHECO SARMENTO

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AUTORES

CORONEL BM EDSON NEY CURVELLO DA SILVA


MAJOR BM ALBERTO PINTO NAGIPE
CAPITÃO BM JULIANA ROBAINA MEDINA
CAPITÃO BM DIEGO SAPUCAIA COSTA DE OLIVEIRA
CAPITÃO BM RAPHAEL FREIRE DE SOUZA
CAPITÃO BM RAPHAEL FREIRE DE SOUZA
CAPITÃO BM MARCOS FABRÍCIO DOS SANTOS
CAPITÃO BM ANSELMO BARBOZA EDUARDO JUNIOR
1º TENENTE BM FABIANE NAVARRO MENDONÇA
1º TENENTE BM MARSON ANTONIO ALENCASTRO
1º TENENTE BM RAFAEL DE ARAUJO REIS

MANUAL DE SOCORRO FLORESTAL

MOPBM 3 -005

Este manual foi elaborado por


iniciativa do Estado-Maior Geral e
atende as prescrições contidas na
Portaria CBMERJ nº 962 de 26 de
dezembro de 2017, publicada no
boletim da SEDEC/CBMERJ nº 008 de
11 de janeiro de 2018.

Rio de Janeiro
2019

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

REALIZAÇÃO
ESTADO-MAIOR GERAL

COORDENAÇÃO
TENENTE-CORONEL BM ALEXANDRE LEMOS CARNEIRO
MAJOR BM EULER LUCENA TAVARES LIMA
MAJOR BM FÁBIO LUIZ FIGUEIRA DE ABREU CONTREIRAS
CAPITÃO BM RAFAELA CONTI ANTUNES NUNES
CAPITÃO BM DIEGO SAPUCAIA COSTA DE OLIVEIRA

COLABORADORES
TENENTE-CORONEL BM RENAN ALVES DE OLIVEIRA
TENENTE-CORONEL BM RICARDO GOMES PAULA
TENENTE-CORONEL BM PAULO NUNES COSTA FILHO
TENENTE-CORONEL BM FELIPE DO VALLE PUELL
MAJOR BM JOSIANE DOS SANTOS DE MELO

REVISORES
TENENTE-CORONEL BM RODRIGO LARA DE AZEVEDO
CAPITÃO BM ALAN TEIXEIRA CAZZOLATTO
CB BM CARLOS ALBERTO RODRIGUES PEIXOTO

PROJETO GRÁFICO
1º TENENTE BM DJALMA DE FIGUEIREDO JUNIOR

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SUMÁRIO

SUMÁRIO.................................................................................................................... 6

OBJETIVO................................................................................................................. 11

FINALIDADE ............................................................................................................. 12

REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA ..................................................... 13

DEFINIÇÕES E CONCEITOS ................................................................................... 15

1 SOBREVIVÊNCIA E AMBIENTAÇÃO A MATA ATLÂNTICA ................................. 16

1.1 Introdução ........................................................................................................ 16


1.2 Conceitos Básicos de Sobrevivência ............................................................... 16
1.3 Animais Venenosos e Peçonhentos ................................................................ 18
1.3.1 Ofídios (Subordem ophidia)....................................................................... 19
1.3.1.1 Gênero BOTHROPS ........................................................................... 25
1.3.1.2 Gênero CROTALUS ........................................................................... 26
1.3.1.3 Gênero LACHESIS ............................................................................. 27
1.3.1.4 Gênero MICRURUS ........................................................................... 28
1.3.1.5 Gênero MICRURUS CORALLINUS .................................................... 29
1.3.1.6 Prevenção de acidentes ..................................................................... 30
1.3.1.7 Conduta em casos de acidentes......................................................... 30
1.3.1.8 Soros .................................................................................................. 31
1.3.2 Aracnídeos ................................................................................................ 32
1.3.2.1 Aranhas .............................................................................................. 32
1.3.2.2 Aranhas caranguejeiras ...................................................................... 32
1.3.2.3 Aranha marrom ................................................................................... 33
1.3.2.4 Viúva negra......................................................................................... 34
1.3.2.5 Aranha armadeira ............................................................................... 35
1.3.2.6 Tarântula ou aranha de grama ........................................................... 36
1.3.3 Escorpiões................................................................................................. 37
1.3.4 Medidas de primeiros socorros em casos de acidentes com animais
peçonhentos....................................................................................................... 38
1.4 Obtenção de água ........................................................................................... 39

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

1.4.1 Água corrente ............................................................................................ 41


1.4.2 Água parada .............................................................................................. 41
1.4.3 Água em partes baixas do terreno ............................................................ 41
1.4.4 Água de vegetais....................................................................................... 42
1.4.5 Captação de água de chuva ou orvalho .................................................... 43
1.4.6 Construção de condensador de água ....................................................... 44
1.4.7 Filtração da água....................................................................................... 44
1.4.8 Purificação de água................................................................................... 45
1.5 Obtenção de alimentos de origem vegetal ....................................................... 45
1.5.1 Alimentos nativos da mata atlântica .......................................................... 46
1.6 Obtenção de alimentos de origem animal ........................................................ 51
1.6.1 Caça .......................................................................................................... 52
1.6.2 Armadilhas ................................................................................................ 53
1.6.3 Pesca ........................................................................................................ 55
1.6.4 Abate e esfola ........................................................................................... 56
1.6.4.1 Animais de pelo .................................................................................. 56
1.6.4.2 Aves.................................................................................................... 57
1.6.4.3 Peixes ................................................................................................. 58
1.6.4.4 Répteis................................................................................................ 58
1.6.4.5 Anfíbios ............................................................................................... 59
1.7 Obtenção de fogo ............................................................................................ 59
1.7.1 Preparando a área .................................................................................... 59
1.7.2 Iniciando o fogo ......................................................................................... 60
1.7.3 Obtendo fogo com arco ............................................................................. 60
1.7.4 Obtendo fogo através do atrito .................................................................. 61
1.7.5 Tipos básicos de fogueiras ........................................................................ 61
1.7.5.1 Cone ................................................................................................... 61
1.7.5.2 Pirâmide.............................................................................................. 62
1.8 Construção de abrigos ..................................................................................... 63
1.8.1 Tipos de abrigos ........................................................................................ 63
1.8.2 Escolha do local para a construção de um abrigo ..................................... 64
1.9 Sinalização ...................................................................................................... 67
2 MONTANHISMO .................................................................................................... 69

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2.1 Introdução ao Montanhismo ............................................................................ 69


2.2 Montanhismo no CBMERJ ............................................................................... 71
2.3 Conceito de ética aplicada ao montanhismo ................................................... 72
2.4 Equipamentos de Proteção Individual.............................................................. 73
2.4.1 Capacetes de proteção ............................................................................. 73
2.4.2 Luvas de proteção ..................................................................................... 73
2.4.3 Cordas....................................................................................................... 74
2.4.4 Mosquetões ............................................................................................... 75
2.4.5 Baudrier ..................................................................................................... 75
2.4.6 Cordeletes ................................................................................................. 76
2.5 Técnicas de Escalada ...................................................................................... 76
2.5.1 Escalada em Livre ..................................................................................... 76
2.5.1.1 Escalada em agarras .......................................................................... 77
2.5.1.2 Oposição............................................................................................. 78
2.5.1.3 Chaminé ............................................................................................. 78
2.5.1.4 Aderência............................................................................................ 79
2.5.2 Escalada Artificial ...................................................................................... 79
2.5.3 Ancoragens e Equalizações ...................................................................... 79
2.5.3.1 Ancoragem com fitas tubulares e anéis de fita ................................... 79
2.5.3.2 Ancoragem em grampos e chapeletas ............................................... 80
2.5.3.3 Ancoragem Equalizada ....................................................................... 80
2.6 Técnicas Verticais ............................................................................................ 81
2.6.1 Rapel ......................................................................................................... 81
2.6.1.1 Rapel Clássico .................................................................................... 81
2.6.1.2 Comicci ............................................................................................... 82
2.6.1.3 Yosemite ............................................................................................. 82
2.6.2 Ascensão .................................................................................................. 83
2.6.2.1 Ascensão com nó prussik ................................................................... 83
2.6.2.2 Ascensão com par de ascensores ...................................................... 84
2.6.2.3 Prática de escalada em Top Rope ...................................................... 85
3 OPERAÇÕES HELITRANSPORTADAS ................................................................ 87

3.1 Características das aeronaves de asa rotativa ................................................ 87


3.2 Principais técnicas de utilização ...................................................................... 88

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.3 Zona de pouso de helicóptero (ZPH) ............................................................... 90


3.4 Fatores a observar no acionamento de um helicóptero ................................... 92
3.5 Operações com helicóptero ............................................................................. 93
3.5.1 Embarque e desembarque da aeronave em vôo pairado ......................... 93
3.5.2 Descida livre .............................................................................................. 95
3.5.3 Dimensões da área queimada................................................................... 97
4 NOÇÕES BÁSICAS DE GEOPROCESSAMENTO E CARTOGRAFIA.................. 98

4.1 Geoprocessamento.......................................................................................... 98
4.2 Cartografia ....................................................................................................... 99
4.3 Topografia ...................................................................................................... 100
4.4 Geodesia ....................................................................................................... 100
4.5 Sistema de Posicionamento Global (GPS) .................................................... 101
4.6 Fotogrametria ................................................................................................ 102
4.7 Sensoriamento Remoto ................................................................................. 103
4.8 Computação .................................................................................................. 104
4.9 Processo de Orientação ................................................................................ 104
4.9.1 Orientação pelo Sol ................................................................................. 106
4.9.2 Orientação pelas estrelas ........................................................................ 107
4.9.3 Orientação pela bússola .......................................................................... 109
4.10 Escala .......................................................................................................... 112
4.11 Representação Cartográfica ........................................................................ 114
4.12 Formas da Terra .......................................................................................... 115
4.12.1 Datum .................................................................................................... 117
4.13 Projeções Cartográficas............................................................................... 120
4.14 Sistema de Coordenadas ............................................................................ 122
4.14.1 Sistemas de Coordenadas Geográficas ................................................ 122
4.14.2 Sistemas de Coordenadas UTM ........................................................... 123
4.15 Azimute e Rumo .......................................................................................... 126
4.16 Norte Magnético (NM), Norte de Quadrícula (NQ) e Norte Geográfico ou
Verdadeiro (NG) .................................................................................................. 127
4.17 Nomenclatura e Articulação de Folhas Topográficas ................................... 131
4.18 Planejamento e desenho de mapas............................................................. 134
4.19 Representação da Topografia de um Terreno ............................................. 136

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.19.1 Cores Hipsométricas ............................................................................. 136


4.19.2 Curvas de Nível ..................................................................................... 137
4.19.2.1 Perfil Topográfico ............................................................................ 140
4.20 GPS (Global Positioning System) ................................................................ 143
4.21 Utilização da carta topográfica no terreno ................................................... 146
4.21.1 Definição da Quadrícula ........................................................................ 146
4.21.2 Medidas de Distância ............................................................................ 147
4.21.2.1 Medidas no terreno ......................................................................... 147
4.21.2.2 Medidas em linha reta na carta ....................................................... 147
4.21.2.3 Distâncias em curvas na carta ........................................................ 149
4.21.3 Medidas de Altitude ............................................................................... 150
4.21.4 Medida e escala de declividade ............................................................ 150
4.21.5 Medidas de Área ................................................................................... 151
4.21.6 Processo para a leitura das coordenadas ............................................. 154
4.21.6.1 Coordenadas UTM ......................................................................... 154
4.21.6.2 Coordenadas Geográficas .............................................................. 157
4.22 Deslocamento orientado .............................................................................. 160
4.22.1 Orientação pela carta ............................................................................ 160
4.22.2 Azimute-distância .................................................................................. 161
4.22.3 Através do GPS..................................................................................... 161
4.22.4 Navegando por uma rota ....................................................................... 161
4.22.5 Navegando por um trajeto ..................................................................... 162
4.22.6 Navegando através de track back ......................................................... 162
ANEXO 1 – NÓS E VOLTAS ................................................................................... 163

ANEXO 2 – HISTÓRICO ......................................................................................... 171

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

OBJETIVO

Este manual técnico objetiva facilitar o acesso as informações pertinentes nas


instruções das fases básicas dos cursos de salvamento em montanha, prevenção e
combate a incêndio florestal e de busca e resgate com cães realizados pelo Corpo
de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro em ambientes naturais de matas e
montanhas.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FINALIDADE

Divulgar conhecimentos gerais, técnicas e processos para capacitar


bombeiros militares a executarem atividades operacionais secundárias (terrestres ou
aerotransportadas) em ambiente rural de matas e montanhas, tais como: atividades
de sobrevivência, de transposição de obstáculos naturais e de orientação e
navegação terrestre a fim de permitir que o militar possa realizar as suas atividades
especializadas e se sustentar abaixo de suas necessidades normais e com carência
de recursos.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA

As normas e bibliografias abaixo contêm disposições que estão relacionadas


com este manual.

a. Normas e legislações

- Decreto .... Instruções Provisórias 21-80. Exército Brasileiro;

- Nota CHEMG 633/2012 acionamento de aeronave de asa rotativa do


Grupamento DE Operações Aéreas - GOA - normas reguladoras, publicada
no Boletim SEDEC/CBMERJ n° 166, de 03/09/2012;

- Nota CHEMG 228/2013 - Procedimentos de pousos e decolagens de


helicópteros operados pelo Grupamento de Operações Aéreas (GOA) nas
unidades do CBMERJ – DETERMINAÇÃO.

b. Bibliografia

- Livro Fundamentos de Orientação, Cartografia e Navegação Terrestre. 3ª


Edição 2009 – Revista e Atualizada;

- CBMERJ – Manual de salvamento em montanhas - 2018;


- Cartografia Básica - ROSA, Roberto, 2004

- Conquistadores do inútil – Leonel Teray - Edições Desnível - 2008;

- Marinharia e trabalhos em cabos – Colin Jarman e Bill Beavis – ed marítimas


ltda - 1983;

- SOBREVIVÊNCIA NA SELVA IP 21-80 - Exército Brasileiro - 2ª Edição. 1999.

- Arte naval – Maurilio M. Fonseca – Ministério da Marinha - vol.1 7ª edição -


2005;

- Manual de Sistema de Comando de Incidentes - CBMGO - 16 de maio de


2017;

- Curso de Cartografia basica GPS e ArcGis – Outubro de 2010 – Universidade

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de Santa Maria;

- Lei 2608 - Política Nacional de Defesa Civil - 10 de abril de 2012;

- Manual de Investigação de Incêndios Florestais - 2011- IBAMA;

- Legislação Ambiental Básica – Brasília – 2008 – Ministério do Meio Ambiente;

- Noções Básicas de Cartografia - 1998 – IBGE;

- Manual Técnico T34-700 - Convenções Cartográficas – EB - 2002.

- Manual de campanha - Geoinformaçao - 2014 - EB20 -MC-10.209;

- Cartografia Básica - Laboratório de Geoprocessamento - Universidade


Federal de Uberlandia – 2004;

- Cartografia Temática - Lisboa 2007 - Maria Helena Dias - Universidade de


Lisboa;

- Cálculo de Área pelo método de Gauss - Programa auxiliar para aprendizado


topográfico - Universidade Federal de Santa Maria - 2009.

- Dicionário Michaelis <http://www.michaelis.uol.com.br> em 09/01/2016

- Todabiologia <http://todabiologia.com>, em 13/10/2019

- Portal São Francisco <https://www.portalsaofrancisco.com.br/animais/cobras


>, em 30/05/2016

- Doctorul < https://consultadoctorul.ro/articole-medicale/miastenia-gravis-


cauze-simptome-tratament/>, em 08/09/2014

- Blogdescalada < https://blogdescalada.com/escalada-em-rocha-quais-sao-os-


tipos-de-fundamentos-existentes-para-o-estilo-livre/>, em 17/05/2017

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Para efeito deste manual, aplicam-se as definições específicas deste item:

CBMERJ - Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro.

GSFMA - Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente.

Kt - 1 nó = 1 milha náutica por hora = 1,852 km/h

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

1 SOBREVIVÊNCIA E AMBIENTAÇÃO A MATA ATLÂNTICA

1.1 Introdução

Vivemos uma era de facilidades. Época de crescimento vertiginoso dos


hábitos urbanos e digitais, onde as pessoas podem comprar todo o tipo de coisa e
serviços, facilmente, com um clique de computador ou smartphone, sem aprender a
construir, sem conhecer a natureza, sem reconhecer o suor do esforço físico e o frio
da chuva durante o inverno. Esse vem sendo um crescente desafio na formação do
Bombeiro Militar, pois como familiarizar pessoas tão urbanas com as dificuldades,
intempéries da natureza, frio, fome, calor, sede, cansaço, e mais uma infinidade de
desconfortos inerentes à atividade de Bombeiro Militar?
Como selecionar aqueles que podem se adaptar ao meio silvestre e realizar o
serviço de Combate a Incêndio Florestal e Salvamento em Montanha com força e
presteza? Como garantir que esses militares tenham o conhecimento necessário
para agir caso um evento de socorro se transforme em períodos de isolamento e
sobrevivência nas matas e montanhas?
É nesse contexto que foi incluído nos Planos de Disciplinas do Curso de
Salvamento em Montanha e do Curso de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal
o Módulo de Sobrevivência e Ambientação à Mata Atlântica, como uma forma de
estimular a rusticidade e introduzir os conhecimentos de sobrevivência aos militares
especializados no 1º GSFMA.

1.2 Conceitos Básicos de Sobrevivência

Segundo o dicionário online Michaelis (2016), sobrevivência é:

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

"-Ato ou efeito de manter-se vivo, de continuar existindo.


-Ação de continuar vivo mais tempo que outra(s) pessoa(s): A sobrevivência
dos filhos aos pais.
-Condição de permanecer vivo após acontecimento de gravidade extrema: A
sobrevivência ao acidente aéreo que sofreu foi um verdadeiro milagre.
-A continuidade da vida ou existência diante ou a despeito de condições
adversas: Aqueles que vivem na região do polígono das secas enfrentam
graves problemas de sobrevivência.
-Aquilo que perdura fora de seu tempo; continuidade, persistência: A
sobrevivência do sistema escravagista em algumas fazendas do interior do
país deixa a todos perplexos.
-Manutenção de um estado ou condição: Sua maior preocupação agora é
garantir sua sobrevivência política depois de tantos escândalos.
-A continuidade da existência após a morte."

Conforme se observa nas definições acima, sobreviver é basicamente


conseguir manter a vida e a saúde, mesmo em condições desfavoráveis, superando
o desgaste físico e psicológico. Mas qual é a necessidade do conhecimento de
sobrevivência para a atividade diária dos militares especializados?
O serviço diário dos Bombeiros Militares é normalmente arriscado e com
constantes momentos de exposição, porém a atividade de socorro em matas e
montanhas, muitas vezes em locais ermos e desabitados, traz uma gama diferente
de perigos, bem diversos daqueles encontrados nos socorros urbanos, e por isso a
necessidade de que os combatentes florestais e montanhistas tenham
conhecimentos de sobrevivência.
Existem aspectos físicos e psicológicos os quais determinam o sucesso em
situações de sobrevivência.
Aspectos determinantes em situações de sobrevivência:
a) Físicos - Condicionamento físico, conservação da saúde e sucesso na
obtenção de alimento e água.
b) Psicológicos - Conhecimentos de técnicas de sobrevivência, estabilidade
emocional e vontade de viver.
As principais necessidades de um sobrevivente são água e alimentação, e em
um segundo momento temos a necessidade de abrigo, fogo e de comunicação ou
sinalização, sendo estes últimos necessários para que a pessoa seja resgatada.
O que fazer, caso se encontre em situação de sobrevivência?
Primeiro reconheça a sua situação, tentando pensar calmamente no que
fazer, em qual local se encontra e se consegue sair dele. Cuidado com o medo e o

17
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

pânico, pois eles impedirão que você pense com clareza, reduzindo suas chances
de sucesso. Lembre-se das técnicas de sobrevivência, procure um local seguro para
a sua estadia, consiga água e alimento, e lembre-se de improvisar e adaptar seus
conhecimentos, de acordo com a realidade que encontrar.
Para facilitar o aprendizado, e visando a memorização do "passo-a-passo",
caso alguém se encontre isolado ou perdido, foi criada a sigla ESAON, que significa:
a) E - Estacione
b) S - Sente-se
c) A - Alimente-se
d) O - Oriente-se
e) N – Navegue

Ilustrando uma das formas de se orientar através das ferramentas bússola e


carta topográfica, tem-se a figura 1 a seguir.

Figura 1 – Orientação de carta topográfica


Fonte: http://bombeiroswaldo.blogspot.com/2013/10/bussola-como-usar-uma-bussola-navegacao.html

1.3 Animais Venenosos e Peçonhentos

O trabalho em meio natural obriga que se tenha conhecimento razoável dos


perigos existentes neste ambiente, e, sem dúvida, um dos riscos mais relevantes
presente é o de acidentes com animais venenosos e peçonhentos.
Como forma de defesa ou visando adquirir alimentos, muitos animais
produzem substâncias tóxicas, e tanto os animais ditos peçonhentos quanto os
venenosos produzem essas toxinas, que são capazes de causar danos também à
saúde humana. A diferença básica é que os animais peçonhentos possuem órgãos

18
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

especializados em inocular a toxina no corpo da vítima ou presa, enquanto os


animais venenosos não.
Exemplos de Animais peçonhentos: cobras, escorpiões, aranhas, águas-
vivas, etc.
Exemplos de Animais venenosos: sapos, baiacu, etc.

1.3.1 Ofídios (Subordem ophidia)

Os ofídios, também conhecidos como cobras e serpentes, são répteis sem


membros, que ocupam quase todo o planeta, com exceção de alguns territórios mais
frios ou geograficamente isolados. Esses animais podem possuir ou não peçonha,
hábitos diurnos ou noturnos e viver nos mais diversos locais, inclusive em água
salgada.

Família Gênero Espécies mais comuns


ELAPIDAE MICRURUS Micrurus frontalis, Micrurus coralinus (cobra
coral)
VIPERIDAE LACHESIS Lachesis muta (surucucu pico de jaca)
CROTALUS Crotalus durissus (cascavel), Crotalus
colineatus (cascavel)
BOTHROPS Bothrops jararaca (jararaca), Bothrops
jararacussu (jararacuçu), Bothrops
alternatus (urutu-cruzeiro), Bothrops
insularis (jararaca ilhoa), Bothrops billineata
(jararaca verde), Bothrops moojeni
(caiçaca), Bothrops newiedii (jararaca
pintada)
Tabela 1 - Ofídios peçonhentos no Brasil
Fonte: CBMERJ

A primeira característica a ser estudada nos ofídios será a dentição, pois ela
está diretamente relacionada à capacidade do animal de inocular peçonha ou não.
Dentição áglifa - Todos os dentes são iguais, com o mesmo tamanho e são
usados para impelir a presa para trás. Estão presentes em serpentes não
peçonhentas, como por exemplo a jibóia, a sucuri e a caninana. Exemplo de
dentição áglifa conforme figura 2.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 2 – Dentição áglifa


Fonte: https://paixaoporbiologia.blogspot.com/2013/05/tipos-de-denticao-em-serpentes-1.html

Dentição opistóglifa – Há um ou mais pares de dentes proeminentes e


chanfrados longitudinalmente, localizados na parte posterior da arcada dentária
superior. Apesar de possuir dentes mais especializados que as áglifas, as cobras de
dentição opistóglifa causam raros acidentes com humanos, pois a localização e
ranhura não tão eficiente dos dentes, favorecem a dispersão e dificultam a
inoculação da peçonha, conforme figura 3.

Figura 3 - Dentição opistóglifa


Fonte: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/6263

Dentição proteróglifa - Apresentam geralmente um par de dentes bastante


pronunciados, na parte anterior do maxilar superior. Seu aparelho inoculador é bem
mais desenvolvido que nas dentições anteriores, pois seus dentes possuem sulcos
profundos para o transporte de peçonha até o interior do corpo da vítima, conforme
figura 4.

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Figura 4 - Dentição proteróglifa


Fonte: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/7519

Dentição solenóglifa - É o mais bem desenvolvido sistema de inoculação de


peçonha entre as serpentes, uma vez que permite a injeção da toxina diretamente
no corpo da presa, através de dentes maxilares grandes e móveis, com um canal em
seu interior. Essa dentição possui uma articulação que projeta os dentes para fora
no momento da mordida, mas que se retrai quando o animal fecha boca. As
mandíbulas desses animais possuem abertura de até 160º, observada conforme
figura 5.

Figura 5 - Dentição solenóglifa


Fonte: https://paixaoporbiologia.blogspot.com/2013/05/

As serpentes dispõem de importantes órgãos sensoriais utilizados na


percepção do ambiente e para a captura de presas.
A visão dos ofídios é pouco apurada, principalmente naquelas de hábitos
noturnos, que enxergam pouco. Eles também não são capazes de ouvir sons, pois
não possuem ouvido externo, interno, nem tímpano, mas percebem vibrações físicas
fortes, como por exemplo passos e a queda de objetos. Todavia as serpentes
possuem especializações que permitem receber informações minuciosas do espaço
ao seu redor, como por exemplo o órgão de Jacobson, as escamas supralabiais e a
fosseta loreal.

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O órgão de Jacobson está localizado na cavidade oral e associa-se à língua,


colhendo partículas do ar ou solo para então ajudar na captura de presas e
identificação de objetos ao seu redor, segundo a figura 6.

Figura 6 – Ilustração do mecanismo do órgão de jacobson


Fonte: http://lazysupply.co/diagram-toung-snake.html

Alguns ofídios possuem detectores térmicos usados para capturar a imagem


de possíveis presas e também de predadores. Na família BOIDAE existem as
escamas supralabiais e na família VIPERIDAE, as fossetas loreais, conforme figura
7.
De acordo com Portal São Francisco (2016):
"As fossetas loreais são aberturas que possuem uma membrana
ricamente enervada com terminações capazes de perceber variações de
calor de até 0,5 graus Celsius em um raio de 5 metros de distância.
As emissões de calor, emanadas pelo animal homeotérmico, atingem
a membrana e, por meio das enervações ligadas ao cérebro, criam uma
'imagem térmica' altamente precisa, fornecendo o tamanho do animal
(através das concentrações dos raios infravermelhos), a distância (através
da variação de temperatura) e os movimentos (pelo deslocamento da
'imagem térmica'). "

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Figura 7 – serpente com fosseta loreal


Fonte: http://snakesonmyblog.blogspot.com/2010/07/

Existem diversas serpentes no Brasil que não possuem peçonha, como por
exemplo a jibóia, a caninana, a boipeva, a sucuri, etc., porém esses animais não são
inofensivos, de forma que uma mordida deles pode causar infecções locais
importantes, e, por isso, esses animais não devem ser manuseados
desnecessariamente. Exemplos desses animais conforme a figura 8.

Figura 8 – esq. Caninana – dir. Jibóia


Fonte: http://www.vitalbrazil.rj.gov.br/cobras_nao_venenosas.html

A Peçonha é uma secreção produzida nas glândulas de veneno, as quais


ficam situadas atrás e abaixo dos olhos, e estão ligadas as presas inoculadoras. Ela
é bastante tóxica e serve para matar a caça, possuindo também ação digestiva, que
inicia a digestão do alimento antes deste ser ingerido. A quantidade de peçonha
inoculada em uma picada é em função do tamanho da presa e/ou do nível de
estresse da serpente. Exemplos podem ser visualizados conforme a figura 9.

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Figura 9 - Glândulas de peçonha


Fonte: <http://silvercrossfox.deviantart.com/>

No Brasil se pode identificar as serpentes peçonhentas tendo atenção a


algumas características físicas bem aparentes. A presença de fosseta loreal,
conforme mostrado acima, já é um fator determinante na identificação, pois todas as
serpentes com fosseta loreal são peçonhentas. Além disso, podemos observar o
padrão de cores que o animal apresenta, o que também poderá ajudar na
identificação do animal peçonhento ou não.

FAMÍLIA GÊNERO NOME VULGAR CARACTERÍSTICA


VIPERIDAE BOTHROPS JARARACA

CROTALUS CASCAVEL

LACHESIS SURUCUCU

ELAPIDAE MICRURUS CORAL

Tabela 2 – Padrão de cores das serpentes


Fonte: CBMERJ

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1.3.1.1 Gênero BOTHROPS

Existem cerca de 30 espécies, distribuídas por todo o território nacional. São


conhecidas por: jararaca, jararacuçu, urutu-cruzeira, surucucurana, jararaca pintada,
malha de sapo, caiçaca, patrona, ouricana, jararaca-do-rabo-branco, combóia, etc.

Habitat
Ambientes úmidos como matas e florestas.
Nas zonas rurais e periferias de grandes cidades buscam alimentos em locais
onde haja facilidade para proliferação de roedores (depósitos de madeira, de lixo,
terrenos baldios, etc.). Alguns animais de tal gênero são apresentados conforme a
figura 10.

Figura 10 – Bothrops sp.


Fonte: http://snakesonmyblog.blogspot.com/2010/07/

Ação da peçonha
O veneno botrópico causa destruição de proteínas (ação proteolítica),
hemorragias e graves lesões nos vasos sanguíneos, (ação coagulante e
hemorrágica) que determinam manifestações precoces, em geral entre uma e três
horas após o acidente.
Caracteriza-se por inchaço (edema) no local da picada, acompanhado de dor
que pode variar de discreta a intensa, bolhas, necroses e abscessos. A ação
sobre os vasos manifesta-se também por hemorragias e sangramentos gengivais e
nasais, conforme as figura 11 e 12.

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Figura 11 – lesão causada pelo veneno brotópico


Fonte: https://autohemoterapianaocausacancer.wordpress.com/2014/03/31/picada-de-cobra-jararaca/

Figura 12 - lesões causadas pelo veneno brotópico


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/378805/

1.3.1.2 Gênero CROTALUS

As serpentes do gênero crotalus apresentam como característica principal


uma espécie de chocalho na cauda e o desenho em forma de losango no dorso.
Tem comprimento aproximado médio de 1,6m.

Habitat
Campos abertos, lugares secos e pedregosos. Ilustrada conforme figura 13.

Figura 13 - Cascavel
Fonte: https://www.blogdomagno.com.br/ver_post.php?id=170937&pagina=8096

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Ação da peçonha
Ação neurotóxica: ocorre bloqueio neuromuscular, podendo ocasionar a face
miastênica que é a chamada “cara de bêbado”. As pálpebras ficam caídas (ptose
palpebral), ocorre incapacidade de movimentação do globo ocular, podendo também
causar visão turva e/ou visão dupla.
Ação miotóxica: dores musculares, lesões de fibras musculares (urina
avermelhada ou marrom).
Ação coagulante: aumento do tempo de coagulação, diminuição de plaquetas.

1.3.1.3 Gênero LACHESIS

As serpentes do gênero Lachesis podem atingir até 4,5m, sendo as maiores


serpentes peçonhentas das Américas. São popularmente conhecidas por surucucu,
surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo, entre outros. Esse tipo de
serpente pode desferir um bote com a metade de seu tamanho, o que a torna ainda
mais perigosa.

Habitat
Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e alguns enclaves de
matas úmidas do Nordeste. Pode ser identificado conforme a figura 14.

Figura 14 - Surucucu
Fonte: http://cobrasvenenosas.com/as-10-cobras-mais-venenosas-do-brasil/surucucu-pico-de-jaca/

Ação da peçonha
Este tipo de envenenamento assemelha-se muito com o do gênero Bothrops,
uma vez que ambos apresentam ação proteolítica, coagulante e hemorrágica, porém

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os acidentes costumam ser mais graves, devido à maior quantidade de peçonha


inoculada.
Possui também ação “neurotóxica” devida à ativação do Sistema Nervoso
Parassimpático. Pode ocorrer vômito, dor abdominal, diarréia, sudorese, hipotensão
arterial, bradicardia, podendo chegar ao choque e até óbito, conforme figura 15.

Figura 15 - lesões causadas pelo veneno laquésico.


Fonte: Olhardireto.com.br/anallisevidaselvagem

1.3.1.4 Gênero MICRURUS

São mais de 20 espécies, distribuídas por todo o território nacional, possuem


pequeno e médio porte, em torno de 1,0 m, conhecidos popularmente por coral,
coral verdadeira ou boicorá. Apresentam anéis vermelhos, amarelos, pretos e
brancos em qualquer tipo de combinação.

Habitat
De acordo com o site todabiologia (2019) e conforme ilustrado na figura 16:
"A cobra coral verdadeira é encontrada em matas das regiões sudeste e sul
do Brasil. São encontradas também em áreas florestais do Uruguai,
Paraguai e algumas regiões da América Central. Elas vivem em galhos de
árvore, folhagens, buracos em tocos em decomposição, debaixo de pedras
e buracos no chão."

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Figura 16 – Cobra coral


Fonte: http://zoovirtualbr.blogspot.com/2010/04/cobra-coral-verdadeira.html

1.3.1.5 Gênero MICRURUS CORALLINUS

Ação da peçonha
Conforme em Todabiologia (2013) e conforme figura 17:
"Representa aproximadamente 0,7% dos acidentes por serpentes
peçonhentas registrados no Brasil. A ação neurotóxica pode causar
inicialmente vômitos, posteriormente fraqueza muscular progressiva, ptose
palpebral, sonolência, perda de equilíbrio, sialorréia, oftalmoplegia e
presença de fáscies miastênica. Podem surgir mialgia localizada ou
generalizada, dificuldade de deglutir e afonia, devido a paralisia do véu
palatino. O quadro de paralisia flácida pode comprometer a musculatura
respiratória, evoluindo para uma insuficiência respiratória aguda (esta
considerada uma complicação do acidente)."

Figura 17 - Face miastênica


Fonte:https://consultadoctorul.ro/articole-medicale/miastenia-gravis-cauze-simptome-tratament/

A maioria dos acidentes é causada pelas serpentes do gênero Bothrops


(73,5%), seguido pelo Crotalus (7,5%), Lachesis (3%) e Micrurus (0,7%). Fonte:
Ministério da Saúde, ano 2008.

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1.3.1.6 Prevenção de acidentes

Conhecendo a biologia dos ofídios, seus hábitos e habitats e a epidemiologia


dos acidentes causados por serpentes, torna-se fácil preveni-los.
Evite o acúmulo de lixo e entulho nas áreas, ao redor dos acampamentos e
áreas de bivaques. Quando necessário, enterre profundamente os restos que
possam servir de alimento para roedores;
Usar sempre coturnos com bombachas, botas luvas em deslocamentos e
remoção de materiais suspeitos (pedras, madeiras entulhos, etc.);
Cuidado com o local em que colocará sua mochila e roupas;
Cuidado na escolha do local de acampamento. Troncos ocos, amontoados de
folhas e pedras são possíveis abrigos para animais peçonhentos. Se possível, evite
amarrar tirantes das barracas em troncos de árvores, pois podem servir de acesso
para ofídios.
Mantenha fechados os sacos de dormir, redes de selva e mochilas para não
dividi-los com companhia indesejáveis.
Tape a extremidade dos coturnos e botas com meias.
Sacuda bem as roupas e coturnos antes de colocá-los. As serpentes buscam
locais secos e aquecidos durante a noite.
Cuidado ao pisar ou saltar troncos caídos. Eles tornam-se “passarelas” para
roedores dentro das matas, cujo odor deixado pelas passagens sucessivas pelo
local atrai ofídios em busca de comida.

1.3.1.7 Conduta em casos de acidentes

Checando a vítima:
a) Procure uma ou mais picadas, com ou sem sangramento;
b) Localize a dor;
c) Veja se existe inchaço, edema local;

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d) Verifique se existe náusea, vômitos, formigamentos e tremores (sinais de


envenenamento moderado);
e) Verifique se ocorre choque, coma e paralisia (sinais de envenenamento
severo);
f) Observe se existe necrose no local.
g) Prestação de socorro:
h) Mantenha o paciente em repouso e emocionalmente calmo;
i) Com cuidado, lave o local da picada com água e sabão;
j) Imobilize a extremidade picada, mantendo o local da lesão aproximadamente
na altura do coração da vítima;
k) Procure por ajuda;
l) Não deixe o paciente se movimentar desnecessariamente.

Atenção!
a) Não faça torniquetes ou garrotes;
b) Não faça cortes no local da picada;
c) Não tente “sugar” a peçonha com a boca;
d) O melhor tratamento é a aplicação de soro, por isso conheça os hospitais de
referência para aplicação do tratamento.

1.3.1.8 Soros

a) Anti-Botrópico – SAB = contra acidentes com jararacas;


b) Anti-Crotálico – SAC = contra acidentes com cascavel;
c) Anti-Laquésico – SAL = contra acidentes com surucucu;
d) Anti-Elapídico – SAE = contra acidentes com coral;
e) Anti-Crotálico/Botrópico – SACB = contra acidentes com Cascavéis e
Jararacas;
f) Anti-Botrópico/Laquésico – SABL = contra acidentes com Jararacas e
Surucucus.

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1.3.2 Aracnídeos

1.3.2.1 Aranhas

As aranhas são animais muito comuns nos mais diversos habitats brasileiros.
Elas possuem o aparelho bucal (quelíceras) adaptado para a inoculação de toxina,
que tem função paralisante e digestiva, e depois o usam para macerar o alimento,
aproveitando a parte líquida e desprezando a parte sólida sob a forma de um
aglomerado. As aranhas que fazem vistosas e geométricas teias, que aparecem em
estábulos, arbustos e outros locais, dificilmente causam acidentes ao homem, a não
ser que o acidentado seja sensível a uma determinada proteína da toxina. Pode ser
exemplificada conforme figura 18.

Figura 18 – anatomia básica de aracnídeo


Fonte: https://pestcontroll.com.br/aranhas.php

1.3.2.2 Aranhas caranguejeiras

Existem diversos gêneros de caranguejeiras espalhados pelo mundo, porém


poucas espécies com toxina ativa. No Brasil temos como exemplo a representante a
espécie Trechona venosa, que habita buracos feitos no solo e ornamentam com
seda em forma de lençol a borda do abrigo. Habitam buracos no solo, em troncos
podres, bromélias, pilhas de tijolos e detritos amontoados em zona rural. Se

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alimentam de animais vivos, que devido ao seu tamanho avantajado podem predar
até pequenos pássaros e roedores. Exemplificada conforme figura 19.

Figura 19 - Trechona sp.


Fonte:museunacional.ufrj.br

Sintomas
Ocorre dor no local da picada de pequena intensidade e curta duração, às
vezes acompanhada de discreta hiperemia local. Não se conhece relato de
acidentes graves.
As caranguejeiras possuem pelos urticantes, que são encontrados na região
posterior do abdome, que podem ser liberados como forma de defesa, e, do
desprendimento deles, ocorrem manifestações cutâneas e das vias respiratórias
altas, provocadas por ação irritativa ou alérgica nos pacientes.

1.3.2.3 Aranha marrom

Habitam nas florestas úmidas, principalmente na região sul e sudeste, os


troncos podres, cascas de árvores, abrigos de rochas, casas de barro e terrenos de
zona rural. Fazem uma pequena teia irregular rente e ao redor de sua cavidade de
moradia. É conhecida cientificamente pelo gênero Loxosceles, com diversas
espécies espalhadas pelos estados do Brasil. Pode ser identificada conforme figura
20, e o local da picada conforme figura 20.

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Figura 20 - Aranha marrom


Fonte: http://www.noticiario.com.br/dicas.asp?cod_dica=48

Sintomas
a) Edema;
b) Eritema;
c) Dor local (semelhante a queimadura);
d) Febre
e) Mal-estar generalizado;
f) Icterícia;
g) Equimose;
h) Bolhas;
i) Necrose e ulceração;
j) Urina escura (cor de “coca-cola”).

Figura 21 - Local de picada de Loxosceles


Fonte: rmmg.org

1.3.2.4 Viúva negra

Também com um tamanho diminutivo, estas aranhas possuem a cor negra

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com detalhes característicos em seu abdômen: manchas vermelhas na parte


superior e um desenho em forma de ampulheta na parte inferior. Habitam os
arbustos de áreas de restinga, onde podem construir teias grandes e irregulares,
que podem ser habitadas por várias aranhas juntas. Também são encontradas em
folhas murchas que lhe servem para abrigo individual. Pertencem ao gênero
Latrodectus, com diversas espécies espalhadas por áreas litorâneas do Brasil,
exemplificadas conforme figura 22.

Figura 22 – Latrodectus sp.


Fonte: revistaaquiali.com.br

Existe também uma espécie do gênero Latrodecus que não possui cor preta,
sendo conhecida por viúva marrom, que também é encontrada no estado do Rio de
Janeiro.

Sintomas
Seu veneno tem ação neurotóxica e, em envenenamentos sérios, causam:
a) Sudorese;
b) Dor no corpo;
c) Taquicardia;
d) Desconforto.

1.3.2.5 Aranha armadeira

Com o tamanho de aproximadamente 4 cm de corpo e longas pernas com


duras cerdas em forma de espinho, possuem a coloração marrom com ornamentos.
Podem ser confundidas com outras aranhas bem parecidas morfologicamente
(gênero Ctenus) que algumas vezes também se colocam em postura de ataque. As
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armadeiras são representantes do gênero Phoneutria, com algumas espécies


espalhadas pelo Brasil. Não constroem teias, mas habitam os troncos podres e
folhas secas do solo das matas, bambuzais, bananais. Podem ser exemplificadas
conforme figura 23.

Figura 23 – Phoneutria sp.


Fonte: domtotal.com.br

Sintomas
Conforme citado em Saudeanimal (2015):
"Tem ação neurotóxica, podendo causar:
-Dor local e generalizada pelo membro atingido;
-Pulso rápido, febre e sudorese, principalmente na nuca;
-Problemas respiratórios, vômitos, vertigens e dificuldades de
acomodação visual;
-Morte por asfixia, principalmente em crianças."

1.3.2.6 Tarântula ou aranha de grama

São encontradas em campos, gramados e vegetação em geral. Possuem na


parte superior do abdômen um desenho escuro em forma de uma ponta de flecha,
enquanto que o ventre é negro, conforme figura 24.

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Figura 24 - Tarântula
Fonte: insetologia.com.br

Sintomas
a) Dor aguda;
b) Coceira local;
c) Inchaço;
d) Equimoses;
e) Necrose superficial.

1.3.3 Escorpiões

Os escorpiões são os mais primitivos artrópodes e possuem um par de garras


(chamadas de palpo quelado) que servem para segurar o alimento (baratas, grilos,
etc.). Através da extremidade do abdômen inocula toxina por um acúleo e suas
quelíceras possuem garras que maceram o alimento.
Existem dezenas de espécies do gênero Tityus, no Brasil, porém raras são
causadores acidentes perigosos. Os escorpiões T. serrulatus e T. bahiensis são
exemplos dos mais perigosos do Brasil, conforme figuras 25 e 26.

Figura 25 - Tityus serrulatus (escorpião amarelo)


Fonte: g1.com.br

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Conforme o portal São Francisco (2016):


"Com tamanho entre 5 e 7 centímetros, apresenta o tronco escuro, patas,
pedipalpos e cauda amarelos sendo esta serrilhada no lado dorsal.
Considerado o mais venenoso da América do Sul, é o escorpião causador
de acidentes graves."

Figura 26 - Tityus bahiensis (marrom avermelhado)


Fonte: Fiocruz.br

Ligeiramente maior que o T. serrulatus, o animal possui colorido geral


marrom-escuro, por vezes marrom-avermelhado, pernas amareladas com manchas
escuras. Fêmures e tíbias dos pedipalpos com mancha escura. O macho apresenta
a mão dilatada. No entanto, é o escorpião que apresenta a maior frequência de
acidentes.

Sintomas
A peçonha tem ação neurotóxica, causando dor local, com sensação de
formigamento adjacente ao local da picada, paralisia dos músculos respiratórios,
podendo evoluir para morte por asfixia.

1.3.4 Medidas de primeiros socorros em casos de acidentes com animais


peçonhentos

a) Tratamento médico (até seis horas)


b) Manter a vítima em repouso;
c) Limpar o ferimento;
d) Manter o membro no nível do coração;
e) Não romper bolhas;

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f) Não garrotear o membro;


g) Não sugar o ferimento;
h) Não fazer sangria;
i) Capturar e/ou identificar o animal;
j) Administrar água a vítima;
k) Não Adm AAS/anti-inflamatórios (hemorragias).

1.4 Obtenção de água

Conforme o manual IP21-80 (1999):


"O ser humano pode resistir vários dias sem alimento, estando, entretanto,
com menores possibilidades de sobreviver se lhe falta a água. Essa
resistência estará condicionada à capacidade orgânica e às condições
físicas do indivíduo, as quais, na selva, estarão, sempre aquém das
possibilidades normais deste mesmo indivíduo."

Sem atividade física, um homem pode aguentar sem água cerca de:
a) Dez dias a temperatura de 10°C;
b) Sete dias a temperatura de 32°C;
c) Dois dias a temperatura de 49°C.
A contínua hidratação do corpo é prioridade em situações de sobrevivência,
de forma que a busca por meios de obtenção de água deve ser constante.
Nunca beba água não potável e de modo algum beba outros líquidos como
álcool, gasolina, urina ou água salgada (do mar). A urina e a água salgada
aumentam a concentração de sais no corpo, o que causa aumento da sede e da
desidratação. Os sintomas e consequencias da desidratação se encontram
ilustrados conforme figura 27.

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Figura 27 – sintomas e consequências da desidratação


Fonte: www1.folha.com.br

A obtenção de água pode ser feita nos seguintes locais:


a) Águas correntes (rios, igarapés...);
b) Águas paradas (lagos, lagoas...);
c) Águas da chuva e orvalho;
d) Partes baixas do terreno (ravinas, linhas de talvegue...);
e) Vegetais ( cipó d’água, cactos, cocos...).

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1.4.1 Água corrente

A água corrente, como, por exemplo, a de rios e riachos, deve ser recolhida
do fundo, observando a existência de animais mortos nas proximidades. Sempre que
possível, a água deve ser purificada, uma vez que pode conter fezes e material
orgânico em decomposição.

1.4.2 Água parada

A água proveniente de lagos, pântanos e charcos DEVE SEMPRE ser


purificada antes de ingerida. Uma opção é cavar um buraco a uma distância
aproximada de 5 metros da fonte de água. A porosidade do solo fará com o buraco
se encha de água já filtrada e mais indicada à ingestão, porém ainda assim
aconselha-se a purificação.

1.4.3 Água em partes baixas do terreno

É bastante comum encontrar riachos, pequenas cachoeiras ou leitos secos de


rios em ravinas e vales, conforme figura 28. Em casos de leitos secos, pode-se
cavar próximo a tufos de vegetação viçosa, onde a água “brotará” e servirá para ser
bebida.

Figura 28 – tipos de obtenção de água com fatores clima, topografia e vegetação.


Fonte: BR.depositphotos.com

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1.4.4 Água de vegetais

Existem diversas formas de se obter água a partir de vegetais, seja através de


frutos, ou através da seiva da própria planta.
Exemplos:
a) água de coco, conforme figura 29.

Figura 29 - coco
Fonte: cocolegal.com.br

b) água dos gomos de bambu, conforme figura 30.

Figura 30 - Bambu
Fonte: tudosobreplantas.com.br

c) água na planta embaúba, conforme figura 31.

Figura 31 - embaúba
Fonte: plantasementes.com.br

d) água armazenada em bromélias, conforme figura 32.

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Figura 32 - bromélia
Fonte: canteiroliterario.com.br

e) cipós d´água, conforme figura 33.

Figura 33 cipó d’ água


Fonte: fabioromero.blogspot.com

1.4.5 Captação de água de chuva ou orvalho

Conforme o manual IP21-80 (1999):


"A água poderá ser colhida diretamente em recipientes, em buracos ou com
o emprego do telheiro da rede de selva, poncho ou plástico. Quando houver
troncos pelos quais ela escorra, para colhê-la bastará interromper o fluxo
com um pano, cipó ou folhagem, canalizando-a para qualquer vasilhame.
Na falta de outro material, as próprias roupas, depois que forem limpas,
poderão ser expostas à chuva e, uma vez encharcadas e torcidas, a água
delas resultante deverá ser purificada pela fervura."

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1.4.6 Construção de condensador de água

O condensador permitirá a captação de água potável da umidade do solo e


dos demais materiais colocados no sistema. A construção deverá seguir o esquema
da figura 34:

Figura 34 – Condensador de água.


Fonte: destino.blogspot.com

1.4.7 Filtração da água

A filtração é um processo que permite a retirada de partículas sólidas da


água, tornando-a mais adequada ao consumo. Ela não substitui a purificação, que
consiste na eliminação de microrganismos, porém é parte bastante importante do
processo de obtenção de água.
A filtragem pode ser feita de várias formas diferentes, utilizando-se da
criatividade, e seguem abaixo algumas formas:
a) Uso de filtro improvisado de areia e outros materiais disponíveis, conforme
figura 35;

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Figura 35 – Filtro improvisado


Fonte:guiadossobreviventes.com.br

b) Uso de tecidos disponíveis e limpos como coador. Ex: meias e outras peças
de roupa.

1.4.8 Purificação de água

A água colhida diretamente da chuva e de alguns vegetais, como cipó d´água,


coco, etc., não necessita ser purificada, porém nos demais casos, existe a
necessidade de exterminar quaisquer possíveis microrganismos nocivos à saúde
humana, e, para tal, faz-se o processo de purificação.
Segue abaixo alguns processos de purificação:
a) Fervura da água durante cinco minutos, no mínimo;
b) Uso de comprimido de Hipoclorito, sendo um comprimido por litro,
aguardando-se 30 minutos para bebê-la;
c) Uso de 8 a 10 gotas de tintura de iodo por litro, aguardando-se também 30
minutos.

1.5 Obtenção de alimentos de origem vegetal

Existem milhares de espécies vegetais no mundo, e destas, uma pequena


minoria pode levar um indivíduo à morte, mesmo quando ingeridas em pequenas
45
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quantidades.
Utilizando-se da regra abaixo, reduz-se o risco de intoxicação, podendo
utilizar vegetais, frutos ou tubérculos desconhecidos para alimentação.

Não ingerir vegetais que sejam (C-A-L):


a) Cabeludos;
b) Possuam sabor Amargo;
c) Possuam seiva Leitosa.

Além disso observa-se que a maioria dos vegetais consumidos por animais,
são comestíveis para humanos e que Alguns vegetais possuem sua toxidez
eliminada, quando são fervidos por aproximadamente 5 minutos, realizando duas ou
três trocas de água neste período.
CUIDADO – Um organismo não habituado sofrerá com dieta exclusivamente
composta de vegetais. Deve-se comê-los moderadamente no início.
Preferencialmente, devem ser utilizados para a alimentação vegetais
conhecidos. Em casos de dúvida, a regra “CAL” deve ser seguida e o alimento
fervido.

1.5.1 Alimentos nativos da mata atlântica

A seguir, serão listados alguns vegetais facilmente encontrado na mata


atlântica e que podem servir de alimento para uma pessoa.

Palmeiras
Encontrar uma palmeira na mata é um fato bastante positivo para um
sobrevivente, quando levamos em conta as diferentes possibilidades de utilização da
planta para fins diversos.
No que se refere a alimentação, as palmeiras oferecem frutos com polpa e
líquidos bastante nutritivos, além do palmito, normalmente encontrado no caule do
vegetal. Além disso, suas folhas podem ser usadas na construção de abrigos, redes,
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cestos, entre outros.

Brejaúva
Possui estipe e folhas cobertas de espinhos, com frutos marrons de amêndoa
comestível e que se dispõem em cachos, conforme figura 36.

Figura 36 – Brejaúva
Fonte:Wikipédia.com

Guariroba
Possui frutos levemente elípticos, de coloração verde amarelada, cujo
mesocarpo e amêndoa branca oleaginosa são comestíveis, conforme figura 37

Figura 37 - Guariroba
Fonte:sementearbocenter.com

Jerivá
Conhecido como baba-de-boi, têm frutos globosos, amarelos, com mesocarpo
carnoso, amêndoa comestíveis e é nativo da mata atlântica, conforme figura 38.

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Figura 38 - Jarivá
Fonte:pt.wikipedia.org

Coqueiro
Vastamente encontrado no mundo, os coqueiros oferecem frutos com polpa
comestível e a conhecida água de coco em seu interior, conforme figura 39.

Figura 39 - Coqueiro
Fonte:jardimexotico.com.br

Juçara
Esta palmeira tem palmito bastante conhecido como alimento, inclusive por
esse motivo é uma espécie ameaçada da mata atlântica. Seus frutos possuem
mesocarpo pouco espesso, mas que se forem tratados, fornecem bebida altamente
energética, semelhante ao açaí. O processo de extração é bastante simples,
devendo se colocar os frutos de molho em recipiente com água morna, por 30 a 40
minutos. Após isto, a polpa se soltará facilmente da semente ao apertar com a mão.
Após retirar a água, deve-se envolver os frutos em pano limpo, amassar e, em um
recipiente, jogar água potável aos poucos, para que a polpa se solte totalmente da
semente, conforme figura 40.

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Figura 40 - Juçara
Fonte:redeglobo.globo.br

Tucum
Possui caule coberto de espinhos e frutos esféricos, com aproximadamente 2
centímetros de diâmetro. Quando verdes, contêm polpa e água no interior e quando
maduros, ficam roxos e doces, com castanhas de polpa branca e comestível,
conforme figura 41.

Figura 41 - Tucum
Fonte:arvores.brasil.non.br

Broto de bambu
Deve ser utilizado como alimento com cautela, após retirados todos os pêlos
e depois de passar por duas fervuras de 30 minutos, conforme figura 42.

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Figura 42 – Broto de bambu


Fonte:pt.dreanstime.com

Grumixama, jabuticaba, cambucá, goiaba, pitanga e araçá


Esses são alguns exemplos de frutos comestíveis de uma mesma família
botânica (Myrtaceae), facilmente encontrados nas matas do Rio de Janeiro,
conforme figura 43.

Figura 43 – Goiaba, Grumixama, Jabuticaba, cambucá, pitanga e araça respectivamente.


Fonte:jardimexoticos.com.br

Maracujá
Com diversas espécies nativas, o fruto do maracujá, que é comestível, pode
ser encontrado facilmente, em diversos tamanhos e colorações. Possui flor bastante
característica e de fácil identificação conforme figura 44.

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Figura 44 - Maracujá
Fonte:organicsnewsbrasil.com.br

Framboesa silvestre
Espécie pouco conhecida como alimento (Rubus rosaefolius), possui planta
herbácea, com espinhos e frutos bastante adocicados, que ficam vermelhos quando
maduros, conforme figura 45.

Figura 45 – Framboesa silvestre


Fonte:ciprest.blogspot.com

1.6 Obtenção de alimentos de origem animal

Os alimentos de origem animal serão muito úteis para a alimentação de um


sobrevivente, devido a sua riqueza de proteínas e maior quantidade de calorias,
quando comparados com alimentos vegetais, porém também serão de mais difícil
obtenção, se tornando necessário conhecimentos básicos por parte do caçador ,
como “habitat” e hábitos do animal , para que a busca seja possível.

Alimento (100 g) Quantidade de calorias

Bisteca de porco 337

Alcatra 200

Coco ralado fresco 250

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Tangerina 50

Alface 20

Palmito 26
Tabela 3 – Quantidade energética dos alimentos
Fonte: CBMERJ

A obtenção de carne será feita normalmente através da caça e da pesca, e no


que se refere ao preparo, podemos dividir a caça em:
a) Animais de pelo;
b) Aves;
c) Peixes;
d) Répteis;
e) Anfíbios.

1.6.1 Caça

A caça é um processo que exige paciência e cuidado, por isso, durante todo o
tempo, o caçador deve manter-se em silêncio, e realizando movimentos lentos e
seguros. Também deve cuidar para que o vento não leve o cheiro do caçador para a
caça, mantendo-se em posição que permita que primeiro o vento passe pela caça, e
depois por ele. Os períodos mais recomendáveis para caçar são entre 04:00h e
06:00h e entre 18:00 e 21:00h, pois é o momento em que diversos animais saem de
suas tocas para se alimentar. Além disso, os animais também necessitam beber
água, e, por isso, a caça será mais fácil próximo à água. Atenção também às pistas
da caça, como trilhas, restos de alimentos, pegadas, etc., pois essas informações
são primordiais para que se planeje a caça e as armadilhas a serem preparadas. De
acordo com o manual IP21-80 (1999):

“Muitas espécies de animais vivem em buracos, nos ocos das árvores ou no


chão. No primeiro caso, para pegá-los, tampam-se todos eles, menos um, o
qual será remexido com uma vara comprida e flexível, ou enchido de água,
para forçar a saída do animal; quando isto se der, uma pancada forte na
cabeça será suficiente.
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A caça noturna geralmente dará bom resultado, pois a maior parte dos
animais se movimenta à noite. A luz de uma lanterna ou de um archote,
projetada nos olhos do animal, torná-lo-á parcialmente cego, o que permitirá
maior aproximação do caçador que, se não possuir arma de fogo, procurará
abatê-lo com uma lança (pau com ponta afiada) ou mesmo com uma
paulada.”

ATENÇÃO: Vários animais são fontes seguras de alimento para seres


humanos, porém sempre deve haver o cuidado de evitar animais de cor vistosa
(pode representar presença de veneno) e animais que aparentam estar doentes,
pois estes podem colocar a saúde do sobrevivente em grande risco.

1.6.2 Armadilhas

O uso de armadilhas permitirá a captura de animais de portes diversos,


mesmo sem que o sobrevivente permaneça no local de montagem, o que
possibilitará o trânsito mais despreocupado do animal. Deve-se ter atenção para o
local de estabelecimento da armadilha, pois deve ser na trilha do animal pretendido,
ou próximo ao seu local de moradia, alimentação ou hidratação. Também podem ser
usadas iscas que atraiam os animais para próximo da armadilha. Além disso, é
importante ter cuidado para modificar o mínimo as proximidades do local escolhido,
pois o animal pode perceber a presença estranha e se afastar, tornando a armadilha
inútil.
Exemplos de armadilhas:
a) Chiqueiro – usado para a captura de felinos e animais de grande e médio
porte, conforme figura 46.

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Figura 46 - Chiqueiro
Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

b) Mundéus – Podem ser usados para a captura de animais de pequeno e médio


porte, como tatus, gambás, cutias e pacas, conforme figura 47.

Figura 47 - Mundéus

Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

c) Arapuca – Usada para a captura de aves, conforme figura 48.

Figura 48 - Arapuca
Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

d) Laços – São úteis na captura de animais de pequeno e médio porte como


teiús, gambás, etc. Conforme figura 49.

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Figura 49 - Laços
Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

e) Armadilhas com arma de fogo – Podem ser usadas no abate de diversos


animais, porém deve-se tomar extremo cuidado para que o sobrevivente não venha
a se acidentar. Conforme figura 50.

Figura 50 – Armadilhas com gatilho em arma de fogo


Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

1.6.3 Pesca

A pesca poderá ser realizada com armadilhas fixas, linha e anzol, redes
improvisadas, isto é, todo e qualquer meio que o sobrevivente disponha no
momento. É importante ter criatividade, pois muitas vezes o improviso será
necessário.
Os peixes devem ser normalmente encontrados em locais de remanso,
próximos à vegetação marginal e pedras, onde podem se esconder e longe de
correntezas, conforme figura 51.

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Figura 51 – Armadilha para peixe


Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

1.6.4 Abate e esfola

1.6.4.1 Animais de pelo

O animal deverá ser pendurado em estaca de madeira pelos membros


posteriores. De acordo com o Manual IP 21-80 (1999) e com a figura 52 :

“Faz-se uma incisão transversal na parte mais alta dos mesmos, abaixo dos
joelhos, e outra longitudinal até as entrepernas. Com a ponta da faca inicia-
se o esfolamento, liberando a pele do músculo de uma fina camada de
gordura ali existente. Procede-se com os demais membros da mesma
forma;
...
Após esfolado ou descamisado, o animal será aberto pela linha do peito
para a evisceração.”

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Figura 52 – Linhas de corte para esfola


Fonte: Exército brasileiro IP 21-80
Atenção:
− Alguns animais, como o gambá e a cutia, possuem glândulas axilares, que
devem ser retiradas;
− A pele dos animais podem ser utilizadas para fins diversos. Não descartá-las!
− Não consumir sangue de animais “in natura”;
− Ao eviscerar o animal, cuidado com a vesícula biliar e com a bexiga.

1.6.4.2 Aves

Depois que a ave for abatida, as penas devem ser retiradas rapidamente,
para que se soltem com mais facilidade, ou então pode-se mergulhar a ave na água
fervente para a retirada das penas. Em último caso, pode ser feito o
“descamisamento”, porém, com este método, a pele do animal, grande fonte de
energia, será perdida. As aves possuem vísceras que podem ser aproveitadas que
são o coração, a moela e o fígado. Os ovos podem ser usados como alimento com
segurança, não somente o de aves, mas também de outros animais como os
quelônios.

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1.6.4.3 Peixes

Os peixes podem ser descamados, sempre da cauda para a cabeça, no


sentido contrário ao das escamas. Além disso, também existem peixes de couro,
como o bagre, que podem ter a pele retirada completamente. Das vísceras dos
peixes podemos aproveitar somente as ovas. De acordo com o Manual do Exército
Brasileiro IP 21-80 – Sobrevivência na selva, 2ª Edição, 1999 :

“... Os melhores locais para pescar são os poços profundos, ao pé das


cachoeiras, no final das corredeiras rápidas ou entre rochedos. Em
correntes muito velozes, os peixes costumam se chegar mais para as
margens.
À noite, a pescaria poderá tornar-se mais produtiva que de dia, caso se
disponha de lanternas ou archotes, ocasião em que, até com pauladas ou
varas pontiagudas, será possível matar os peixes....
Como iscas, poderão ser usados insetos, minhocas, carnes e vísceras de
quaisquer animais. Caso se consiga descobrir o que comem os peixes no
local em que se está, a pescaria será mais fácil. Iscas artificiais poderão ser
confeccionadas com pedaços de pano coloridos, com penas de cores vivas,
com fragmentos de algum metal brilhante ou com pequenos objetos.”

1.6.4.4 Répteis

Apesar de alguns serem peçonhentos, os ofídios poderão representar


excelente refeição, mas com o cuidado de descartar um palmo a partir da cabeça
(como forma de excluir a glândula de peçonha) e um a partir da cauda (inclusive a
cloaca), além de toda a víscera do animal.
Os lagartos e jacarés também servirão de alimento, sobretudo a cauda do
animal, que possui maior quantidade de carne.
Os quelônios incluem as tartarugas, tracajás, jabutis, etc., e para comê-los
deve-se bater com o facão nas laterais da carapaça ventral, de forma a rompê-la,
para que então o animal seja eviscerado. Não se deve aproveitar as vísceras,
porém, caso haja os ovos, estes poderão ser comidos. O próprio casco pode servir
de vasilha para o cozimento do animal.

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1.6.4.5 Anfíbios

Entre os anfíbios, existem espécies de rãs que servirão de alimento,


porém os sapos e pererecas deverão ser evitados. Como podem ser de difícil
identificação, em caso de dúvida, o ideal é que o sobrevivente escolha outra fonte de
alimento, evitando assim uma possível intoxicação.

1.7 Obtenção de fogo

O fogo é um recurso de extrema necessidade para sobreviventes, pois poderá


ser útil para:
a) Purificar água;
b) Cozinhar;
c) Secar roupas;
d) Aquecer o corpo;
e) Sinalizar;
f) Iluminar;
g) Fazer segurança noturna.

1.7.1 Preparando a área

Busque uma área limpa, livre de vento e, na medida do possível, seca;


Verifique os materiais e ferramentas disponíveis;
Procure o local para fazer fogo próximo de seu abrigo (verificando direcionar o
calor e a fumaça);
Certifique-se que o fogo não sairá de seu controle, isolando-a do resto da
vegetação (limpeza da serrapilheira com aproximadamente 1 metro de diâmetro);
Avalie a necessidade de construir uma base para o fogo (locais muito úmidos
ou com neve), conforme figura 53;
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Figura 53 – Base contra umidade para fogueiras


Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

1.7.2 Iniciando o fogo

Para dar início ao fogo podemos utilizar:


a) Fósforos e isqueiros;
b) Pederneira;
c) Palha de aço e pilhas;
d) Lentes;
e) Materiais de fortuna.

1.7.3 Obtendo fogo com arco

Figura 54 – Método de obtenção de fogo - Arco


Fonte: sobrevivaatudo.wordpress.com

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1.7.4 Obtendo fogo através do atrito

Figura 55 - Método de obtenção de fogo - Atrito


Fonte: sobrevivaatudo.wordpress.com

OBS: Isca para fogo – Combustível de fácil e rápida combustão utilizado para
iniciar o fogo. Ex: Serragem, capim seco, papel, folhas secas, gravetos, cascas de
árvores, palha de aço, etc.

1.7.5 Tipos básicos de fogueiras

1.7.5.1 Cone

Para este método, organize o material inflamável e alguns paus de lenha na


forma de uma tenda ou um cone. Este tipo de fogueira queima bem, mesmo com
lenha molhada, conforme figura 56.

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Figura 56 – Fogueira tipo cone


Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

1.7.5.2 Pirâmide

Na fogueira tipo pirâmide, coloque dois pequenos troncos paralelos no chão.


Coloque uma camada contínua de pequenas toras paralelamente sobre os troncos.
Adicione mais três ou quatro camadas de troncos, diminuindo seu diâmetro e
tamanho. Acenda o fogo na parte superior da pirâmide, e você obterá um fogo que
queima de cima para baixo, mais vagarosamente, o que permitirá que não haja
necessidade de atenção permanente. Formato conforme figura 57.

Figura 57 – Fogueira tipo fogueira


Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

Na construção de uma fogueira também é importante avaliar a necessidade


de construir um abrigo para o fogo e também barreiras de direcionamento para o
calor, conforme figura 58.

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Figura 58 – abrigos para fogueira


Fonte: safarinasiberia.wordpress.com

1.8 Construção de abrigos

1.8.1 Tipos de abrigos

Conforme o manual IP21-80 (1999):

"- Abrigos Permanentes - Construídos com ou sem material da região e


destinados a permitir a permanência continuada e por tempo indeterminado
do combatente na selva.
- Abrigos Semipermanentes - Construídos com material da região e
destinados a dar condições à permanência na selva por um longo período
de tempo. Em função do número de indivíduos a abrigar ou de sua
utilização, podem ser feitos de formas diversas.
- Abrigos temporários - Construídos com material da região, utilizando
também, se necessário, partes do próprio equipamento, e destinados a
permitir a permanência do combatente na selva por curtos períodos de
tempo."

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

1.8.2 Escolha do local para a construção de um abrigo

Procure um local alto, que não esteja sujeito a alagamentos, próximo de fonte
de água, porém longe de charcos e brejos.
Ao iniciar a construção do abrigo, verifique se as árvores onde serão feitas as
amarrações estão firmes e não possuem galhos secos, pois, caso contrário, poderão
cair provocando acidentes. O abrigo não deve estar próximo ou embaixo de árvores
secas.
Evite preparar seu abrigo no topo de montanhas, pois trata-se de um lugar
muito exposto a ventos (sobretudo quando não existe vegetação) e a raios,
colocando em risco a saúde do sobrevivente.
Não durma no chão. Após preparado o abrigo, monte uma cama, de
preferência confortável e que te deixe afastado do chão. Além de transmitir umidade
e facilitar a perda de calor, no chão existem vários animais que podem causar danos
à saúde, como cobras, escorpiões, formigas etc.
É importante prestar atenção no vento predominante do local, como forma de
construir um abrigo o mais protetor possível.
Não construa seu abrigo em barrancos que possam ceder.
Não deixe o seu material, como mochilas, roupas, calçados, ferramentas,
entre outros, no chão. No chão fica facilitado o acesso de animais peçonhentos,
aumentando o risco de acidentes. Já as ferramentas podem ser pisadas, sem
querer, causando danos graves à saúde.
A latrina será o local onde serão lançados os dejetos produzidos pelos
sobreviventes, por isso, não poderá ser construída próximo de fontes de água
potável. Também deve-se tomar o cuidado de construí-la no mesmo nível, ou
abaixo do nível do abrigo, evitando que materiais indesejados sejam carreados para
o local de descanso e abrigo do sobrevivente.
Alguns exemplos de abrigos conforme figuras 59, 60, 61 e 62.

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Figura 59 - Abrigo natural de pedra


Fonte: alamy.pt

Figura 60 - Abrigo improvisado com lona e rede


Fonte: sobrevivencialismo.com

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Figura 61 - Rabo de Jacu


Fonte: sobrevivencialismo

Figura 62 - Tapiri Simples


Fonte: sobrevivencialismo.com

Conforme o manual IP21-80 (1999):

"Na construção do tapiri simples, devem ser observadas as seguintes


características:
- Amarração firme;
- Quatro dedos de distância entre os talos das palhas de cobertura e todos
os talos amarrados ao teto;
- Regularidade dos paus do assoalho, todos eles de mesmo diâmetro;
- Bom aspecto: não deixar pontas irregulares de madeira e palhas, criando
assim boas condições psicológicas nos ocupantes.
- É conveniente “passar no fogo” as palhas que serão utilizadas para forrar o
local de repouso, a fim de eliminar carrapatos.
Outras providências para o local de abrigo:
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- É necessário construir um abrigo (rabo-de-jacu, por exemplo) para a


fogueira, para a lenha, para alimentos, etc., pois as chuvas podem ser fortes
e quase sempre inesperadas.
- É imprescindível que todos os detritos sejam enterrados numa fossa, o que
evita companhias indesejáveis (roedores, serpentes, formigas, etc). - Essa
observação inclui a utilização de latrinas.
- Um terçado (facão) é o equipamento suficiente para a construção de um
abrigo.
- Não devem ser dados nós em cipós (exceção feita ao nó de porco ou de
barqueiro), suas pontas devem ser enroladas nas voltas dadas nas vigas."

1.9 Sinalização

Em um grupo de sobreviventes, uma das prioridades é que eles sejam


encontrados, o que torna a sinalização imprescindível para que se alcance o
sucesso, todavia o método escolhido deverá ser adequado para a situação.
Sinalização acústica – pode ser realizada usando apitos, tiros ou outros
dispositivos sonoros.
Sinalização visual – podem ser usados meios luminosos ou não, levando-se
em consideração se é dia ou noite. Durante o dia pode-se usar a fumaça da queima
de vegetais, borrachas, etc. Além disso, existem códigos de sinalização terra-ar que
transmitem mensagens e pedidos de socorro, conforme figura 63. O uso correto do
espelho para a sinalização também se mostra bastante promissor nesse caso.
Durante a noite, serão úteis fogueiras, lanternas e sinalizadores de emergência.
OBS: Caso se decida por deslocar-se no terreno, o sobrevivente deve marcar
a sua passagem, deixando galhos quebrados, marcas nos troncos, restos de
embalagens e objetos, tudo o que possa evidenciar sua presença e a direção de sua
movimentação.

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Figura 63 - Código de sinais visuais terra-ar


Fonte: plus.google.com

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2 MONTANHISMO

2.1 Introdução ao Montanhismo

Antes de iniciarmos o módulo de Montanhismo e tudo aquilo que ele engloba


na teoria e prática devemos esclarecer algumas terminologias que ao longo do
tempo foram confundidas e muitas das vezes usadas de maneira errada. Quem
nunca ouviu falar em MONTANHISMO, ALPINISMO e ESCALADA? Seja onde for já
se ouviu falar nos termos citados, como profissionais BOMBEIROS MILITARES
devemos entender que Montanhismo é o ato de subir montanhas seja por quaisquer
finalidades (Religiosas, Científicas, Econômicas ou Militares), independente do
caminho que se percorra (Trilhas, Paredões rochosos, etc.). ALPINISMO é o ato de
subir montanhas na região dos ALPES (berço mundial do Montanhismo). Já a
ESCALADA é um método específico de se ascender/subir Montanhas, sendo este
através de caminhos onde homens sem habilidades ou equipamentos especiais para
tal atividade não conseguiram progredir na direção do cume almejado. Exemplo de
cume conforme figura 64.

Figura 64 – Morro da babilônia (CSMont/2015)


Fonte: CBMERJ

O montanhismo está citado em vários lugares (Bíblia, documentos militares,


relatos científicos) e existem registros de pessoas que ascenderam elevações desde
a antiguidade com os mais variados objetivos. Porém quando falamos do marco para
a atividade de Montanhismo os estudiosos são unânimes em dizer que foi a
69
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ascensão em 1786 do Mont Blanc (4.808m), em português Monte Branco, localizado


na fronteira França – Itália, nos Alpes. No dia 8 de agosto de 1786, os franceses
Jacques Balmat e Michel Gabriel Paccard, conquistaram o cume do monte. O que
torna o Mont Blanc o ponto inicial do Montanhismo é que antes de sua conquista
nada mudara e após a prática de ascender montanhas se tornou um movimento em
todo mundo, conforme figura 65.

Figura 65 - Mont Blanc – França – 4.808 metros de altitude


Fonte: www.popmag.com

No Brasil houveram várias ascensões em diversas montanhas, a maioria


delas executadas por exploradores, porém não foram documentadas oficialmente.
Porém em 1817 uma inglesa de 39 anos de idade chamada HENRIETTA
CARSTEIRS, ousou subir o Pão de Açúcar(396m) e no topo da elevação fincou a
bandeira de seu país.

A atitude da Inglesa foi divulgada por toda a cidade e gerou nos colonizadores
um incômodo, fazendo que no dia posterior a conquista o Soldado português José
Maria Gonçalves subisse os 396 metros e trocasse a bandeira do Reino Unido pelo
Pavilhão Real Português. Desde então vários cumes foram conquistados no Brasil,
por diversos motivos. Sendo para o Montanhismo Brasileiro o grande marco a
conquista do Dedo de Deus (1.675m) localizado na Serra dos Órgãos entre os
municípios de Teresópolis e Guapimirim, conforme figura 66, o feito foi executado
por um grupo de teresopolitanos liderados por José Teixeira Guimarães.

A conquista durou sete dias e no fatídico dia 08 de abril de 1912 o cume foi
alcançado, de maneira rústica e rudimentar com utilização de troncos e grampos
feitos em granito.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 66 - Dedo de Deus – Guapimirim – 1.692 metros de altitude


Fonte: CBMERJ

2.2 Montanhismo no CBMERJ

As atividades de Montanhismo no CBMERJ sempre estiveram presente


devido as características do terreno do Estado do Rio de Janeiro. Porém houve um
marco devido ao evento de Salvamento em Montanha de grande vulto na mídia que
aconteceu no Rio de Janeiro, Parque Nacional da Tijuca, 1975.
O local do referido evento é a montanha denominada Pedra da Gávea,
especificamente na via de escalada Travessia dos Olhos, a escaladora brasileira,
Marizel, sofre uma queda e infelizmente veio a falecer. Os Bombeiros são
acionados, mas ao se aproximarem da cenário, tem a percepção que a missão é de
grande complexidade. Vários escaladores civis deslocam-se para o local e decidem
escalar a fim de recuperar o corpo da mulher e resgatar seu companheiro de
cordada, que estava impossibilitado de se movimentar.

Nesse momento, destacaram-se os personagens: Capitão BM Da Silva, com


sua guarnição, e os Montanhistas civis, que atuaram em conjunto na operação de
resgate. As ações de Salvamento exigiram coragem, rusticidade e habilidade
específica. Porém apesar de já operar em terreno montanhoso os bombeiros não
possuíam treinamento e equipamentos específicos. Os militares se arriscaram
bravamente, mas foram alertados pelos escaladores civis sobre o risco elevado da
71
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ocorrência. Mesmo com as agruras e peculiaridades da missão, o escalador e o


corpo de sua companheira de cordada, foram resgatados pelos bombeiros e
escaladores civis que atuaram em conjunto.

A Corporação percebeu a necessidade da realizar instruções específicas para


operar em terreno Montanhoso, desta maneira veio a ser concretizada uma relação
de trocas de conhecimento entre o escalador civil-Juratan Câmara e o Corpo de
Bombeiros, sendo ministradas instruções e estágios de 1975 a 1985. Essa iniciativa
foi uma semente plantada e através dela houve a criação do Curso de Salvamento
em Montanha do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro em 1986.

2.3 Conceito de ética aplicada ao montanhismo

Durante a prática de montanhismo, por diversas vezes nos deparamos com a


expressão “Ética do montanhismo”, porém o que isto quer dizer?

Ética no montanhismo envolve um conjunto de práticas saudáveis para o


melhor aproveitamento e menor impacto à natureza. Ou seja, é como se fosse um
código de ética e conduta sobre o que fazer e o que não fazer durante as
atividades do montanhismo.

Aprofundando um pouco mais o estudo sobre a ética encontramos uma nova


expressão correlata ao tema, chamada de Mínimo Impacto. Trata-se dos princípios
consentidos entre os praticantes de atividades de montanhismo, ambientalistas,
entre outros, que norteiam as práticas desenvolvidas em ambientes naturais.

A principal finalidade da ética do montanhismo está relacionada a manter ou


preservar as características do ambiente natural para que todos o usufruam da
mesma forma, mesmo em tempos distintos, ou pelo menos causando a menor
interferência antrópica possível, uma vez que a permanência ou passagem de
pessoas por esses locais já promove “pequenos rastros”.

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2.4 Equipamentos de Proteção Individual

A seguir verificaremos os equipamentos de proteção individual essenciais:

2.4.1 Capacetes de proteção

Figura 67 - Capacetes de proteção


Fonte: CBMERJ

Capacete, conforme figura 67, tem a finalidade de proteger o crânio do militar


de choques mecânicos. Possui um sistema de suspensão e absorção de choques.

2.4.2 Luvas de proteção

Figura 68 - Luvas de proteção


Fonte: CBMERJ

Utilizada em atividades que devido ao atrito, tragam riscos de lesões as mãos


do militar. Normalmente as luvas utilizadas nas operações de bombeiro militar são

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de raspa de couro ou vaqueta, porém existem luvas desenvolvidas com diversos


tipos de materiais. Exemplo conforme figura 68.

2.4.3 Cordas

As cordas são divididas em:

Estática – está conforme a NFPA 1983 (Norma Americana de Proteção contra


Fogo) que define como estáticas, entre outras características, cordas com
alongamento estático* de até 2% com uma carga de 90kg. Só poderão ser utilizadas
em situações onde não haverá queda do socorrista em altura ou da vítima

Semi-estática ou de impacto – está conforme a EN 1981 (Norma Europeia


para fabricação de Cordas) que define como semi-estáticas ou de impacto, entre
outras características, cordas que sofrem alongamento estático* de até 5% com
cargas de 50 a 150 kg.

Dinâmica – está conforme a EN 892 que denomina como dinâmicas cordas


que resistam a quedas consideráveis de socorristas ou vítimas sem se danificarem e
absorvem o impacto da queda minimizando os danos ao corpo humano.

De baixo alongamento – cordas que não se enquadram em Normas


conhecidas e possuem um alongamento estático de até 2%.

No caso do Montanhismo prioritariamente serão utilizadas as cordas


Dinâmicas devido ao risco de quedas na atividade, conforme figura 69.

Figura 69 - Cordas dinâmicas


Fonte: CBMERJ

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2.4.4 Mosquetões

O mosquetão é amplamente utilizado nas atividades de montanhismo e é


classificado conforme diversas características, sendo: formato, material, trava e
finalidade.

Nomenclatura das partes do mosquetão, conforme figura 70:

Figura 70 - Mosquetão
Fonte: CBMERJ

2.4.5 Baudrier

O Baudrier ou cadeirinha, como é conhecido no universo da escalada, tem a


finalidade de unir o escalador ao sistema da corda e proteções através de seu
encordoamento, mosquetão, freio ou solteira. É confeccionado com fitas de alta
resistência e pode variar seu formato de acordo com o fabricante, conforme figura
71.

Figura 71 - Baudrier
Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2.4.6 Cordeletes

Os cordeletes são cordas que variam de 2 a 8 mm, normalmente de 1,50m a


5,00 m. São certificados por norma e servem para diversas funções, desde realizar
simples amarrações até auxiliar em um sistema de forças, conforme figura 72.

Figura 72 - Cordeletes
Fonte: CBMERJ

2.5 Técnicas de Escalada

2.5.1 Escalada em Livre

No Brasil a escalada em livre é o estilo mais praticado. Consiste em utilizar


somente os pés e mãos em contato direto com a rocha, sendo utilizados
equipamentos (grampos, chapeletas, corda, costuras etc.) como segurança caso o
escalador sofra uma queda conforme figura 73.

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Figura 73 - Alunos do CSMont/2015 escalando em livre na via Coringa - URCA.


Fonte: CBMERJ

A escalada em livre é subdividida em grupos, podemos dizer que são estilos


diferentes a serem praticados por um escalador em livre. Encontramos na
subdivisão:

2.5.1.1 Escalada em agarras

É o estilo onde são utilizadas as imperfeições da rocha (as agarras) para


conseguir escalar, conforme figura 74.

Figura 74 - Escalada em agarras via P3 – Floresta da tijuca.


Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2.5.1.2 Oposição

Conforme o site blogdescalada (2017), ficar em oposição na escalada implica


em utilizar o próprio peso do corpo para compensar algum tipo de disposição de
agarras de escalada e minimizar o uso da força dos braços.

2.5.1.3 Chaminé

Este tipo de fundamento é utilizado quando há uma fenda, geralmente entre


dois paredões (estreitas, médias e largas), e o escalador utiliza os pés e as costas
para ascender. O movimento é feito de maneira coordenada com a planta dos pés
em contato com a parede e as costas em oposição. A progressão é vagarosa e
exige do escalador atributos como o vigor físico, concentração e persistência,
conforme figura 75.

Figura 75 - O montanhista Sargento Cunha realizando a técnica chaminé.


Fonte: CBMERJ

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2.5.1.4 Aderência

Neste estilo é utilizada para progressão a força de atrito entre as mãos e pés
com a rocha. Aplicada em rochas com inclinação positiva.

2.5.2 Escalada Artificial

A escalada artificial consiste em utilizar meios que não sejam naturais para
progredir na escalada. Os meios artificiais podem ser cabos de aço no caso de uma
via ferrata, móveis em uma via com lances que empreguem móveis ou até mesmo
estribos em vias com proteções fixas próximas.

2.5.3 Ancoragens e Equalizações

A confecção de uma ancoragem é algo vital nas atividades de montanhismo.


Pois o bom desenvolvimento das técnicas e procedimentos depende de uma
ancoragem correta.

2.5.3.1 Ancoragem com fitas tubulares e anéis de fita

Utilizamos fitas tubulares e anéis de fita quando possuímos pontos de


ancoragem confiáveis. Porém não excluí a necessidade de confeccionar a
ancoragem secundária. Ao utilizarmos as fitas devemos atentar para proteger as
quinas vivas e pontos abrasivos. Outro ponto importante é de não passar a corda
diretamente na fita, pois devemos evitar o contato do tecido com tecido, conforme
figura 76.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 76 - Padrão de ancoragem ministrado pelos Sargentos BM Cunha e Caliocane.


Fonte: Manual Técnico de Montanhismo CSMont

2.5.3.2 Ancoragem em grampos e chapeletas

Esse tipo de ancoragem é utilizado em proteções fixas, consistindo em


conectar o mosquetão diretamente no grampo ou chapeleta com um nó de formação
de alça, fitas tubulares e mosquetões ou nó confeccionado diretamente no grampo,
sendo que o último método só deverá ser utilizado em grampos com excelente
estado de conservação e sem quinas vivas. Preferencialmente devemos colocar os
mosquetões com as travas para lados opostos, conforme figura 77.

Figura 77 - Ancoragem em grampos e chapeletas


Fonte: Manual Técnico de Montanhismo CSMont

2.5.3.3 Ancoragem Equalizada

Quando possuímos dois ou mais pontos de ancoragens onde podemos dividir


a carga entre os mesmos, utilizaremos a ancoragem equalizada. Com a utilização de
80
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

fita tubular ou anel de fita e mosquetões. Preferencialmente os pontos deverão estar


alinhados e o ângulo formado entre as linhas de ancoragem não deve ser superior a
90º. Se o ângulo for superior a 90º o esforço será demasiado nos pontos, podendo
causar o colapso.

2.6 Técnicas Verticais

2.6.1 Rapel

Rapel é uma atividade muito difundida em todas as áreas e com as mais


diversas finalidades. Sendo em nosso meio utilizado para evasão de locais e acesso
com finalidade de socorro. Existem vários métodos de se executar um rapel,
dependendo dos equipamentos disponíveis teremos as variações.

2.6.1.1 Rapel Clássico

Esta modalidade é empregada somente com a corda, quando não contamos


com freios descensores, mosquetões ou quaisquer equipamentos que possam fazer
às vezes de um cinto. Utilizado em afloramentos rochosos com inclinação positiva.

Para se executar esse tipo de descida, o militar deverá posicionar a corda no


entre as pernas, trazê-la para frente laçando uma perna e jogá-la sobre o ombro
oposto. Feito isso segura-se a corda que desce pelas costas com a mão do mesmo
lado da perna lançada (inverso ao ombro). A corda passa por meio das pernas e é
jogada para frente sobre o ombro oposto. A corda que desce pelas costas é
segurada controlando a descida.

O atrito com o corpo faz o controle da descida.

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2.6.1.2 Comicci

Técnica utilizada em trechos curtos de descida e com inclinação positiva do


terreno. A execução consiste em cavalgar a corda e realizar um giro de
aproximadamente 90º, segurando a corda. O atrito do corpo com a corda fará a
frenagem, conforme figura 78.

Figura 78 - Comicci
Fonte: CBMERJ

2.6.1.3 Yosemite

A técnica consiste em utilizar quatro mosquetões assimétricos do mesmo


modelo para improvisar um freio para descida. Devemos ter o cuidado de não deixar
a corda passar pela porta/trava dos mosquetões, conforme figura 79.

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Figura 79 – yosemite
Fonte: CBMERJ

2.6.2 Ascensão

A ascensão é a realizada com o intuito de progredir verticalmente.


Padronizaremos neste módulo a ascensão realizada através do nó prussik e a
utilização de aparelhos ascensores.

2.6.2.1 Ascensão com nó prussik

Com a corda já ancorada o militar equipado deverá portar dois cordeletes já


unidos através de um nó (oito guiado, direito ou pescador) arrematado e mosquetão
assimétrico. Confeccionar com os cabos o nó prussik na corda, devendo o nó
superior ser conectado ao mosquetão assimétrico que estará no olhal do cinto
utilizado; o prussik inferior deverá servir para a colocação do pé. O militar deverá
checar todos os elementos do sistema conferindo todos os nós e travas de
mosquetões. Após a checagem iniciará coordenadamente o movimento de
ascensão.

Poderá ser utilizado um dispositivo de segurança, ligando o prussik do pé ao

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olhal do cinto. Utilizado normalmente para treinamentos e militares inexperientes,


conforme figura 80.

Figura 80 - Ascensão com nó prussik


Fonte: CBMERJ

2.6.2.2 Ascensão com par de ascensores

Com a corda já ancorada o militar equipado deverá portar um par de


ascensores equipados com mosquetões conectados a fitas tubulares e dois
mosquetões sem trava. Acoplar os ascensores na corda utilizando o mosquetão sem
trava no orifício superior do equipamento, para segurança, devendo o ascensor
superior ser conectado ao mosquetão assimétrico que estará no olhal do cinto
utilizado; o ascensor inferior conectado a fita tubular deverá servir para a colocação
do pé. O militar deverá checar todos os elementos do sistema conferindo todos os
nós e travas de mosquetões. Após a checagem iniciará coordenadamente o
movimento de ascensão, conforme figura 81.

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Figura 81 - Ascensão com par de ascensores


Fonte: CBMERJ

2.6.2.3 Prática de escalada em Top Rope

A prática de escalada em Top Rope é feita normalmente quando o


montanhista está em treinamento, possibilitando uma total segurança.

Top Rope, conforme figura 82, é um termo em inglês que significa Corda de
Cima, uma vez que a técnica consiste em:

- Colocar dois mosquetões, com gatilhos posicionados para lados opostos, em


um ponto de ancoragem;

- Passar a corda pelos mosquetões;

- Com chicote da corda confeccionamos um nó formador de alça e conectamos


dois mosquetões, com gatilho para lados opostos;

- A parte da corda que não passou pelos mosquetões é utilizada para fazer a
segurança, com um militar equipado com algum freio;

- Antes de iniciar a escalada o militar escalador deve checar seus


equipamentos, bem como o militar da segurança;

- Feito isso começa a escalada enquanto o militar da segurança vai recolhendo

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a corda não deixando se formar um seio tão grande, porém atento para não
puxar o escalador;

- O militar da segurança deverá estar totalmente atento ao escalador, no caso


de uma queda deverá travar a corda, impedindo que o mesmo chegue ao solo
ou caia demasiadamente.

Figura 82 - Prática de escalada em Top Rope


Fonte: CBMERJ

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3 OPERAÇÕES HELITRANSPORTADAS

3.1 Características das aeronaves de asa rotativa

A aeronave de asa rotativa, também conhecida como helicóptero, é uma


máquina que se mantém, e se move, no ar graças a uma grande hélice superior,
conhecida como rotor principal, servindo para subir / descer e avançar / retroceder
funcionando em conjunto com uma hélice menor na parte de trás, conhecida como
rotor de cauda, que serve para contrabalancear o impulso do rotor principal e para
girar o helicóptero tanto para direita / esquerda.

As aeronaves de asa rotativa possuem a vantagem, em comparação com as


de asa fixa, de: decolar e pousar em trajetória vertical, poder permanecer parado no
ar ou em voo lento e podem se mover em todas as direções. Tais características a
tornam uma ferramenta que pode ser utilizada em várias situações.

O CBMERJ utiliza em suas operações aeronaves modelo AS-350 BA/B2,


popularmente conhecida como ESQUILO. Ela é uma aeronave com monoturbina e
capacidade de transportar até 05(cinco) passageiros e mais 01(um) piloto. Esse
modelo é atualmente o mais utilizado por órgãos de aviação de segurança pública e
defesa civil.

Esse modelo possui uma autonomia média de 3h30min de voo, máximo


alcance de 360 milhas náuticas (aproximadamente 666km) e não pode exceder a
velocidade de 155 kt (aproximadamente 287 km/h).

Seu peso máximo de decolagem é de 2250 Kg e de 2500 kg se houver carga


externa. O gancho, localizado na parte inferior da aeronave, suporta 1160 kg e o
guincho, localizado na direita da aeronave, suporta 136 kg (cabe ressaltar que os
pesos no guincho e no gancho devem ser contabilizados no peso total da aeronave).
Tem-se como exemplo o Bombeiro 02 na figura 83.

87
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Figura 83 - Helicóptero Bombeiro 02.


Fonte: CBMERJ

3.2 Principais técnicas de utilização

A aeronave pode ser empregada para facilitar e agilizar os resgates em matas


e montanhas. Pode-se utilizar as mesmas para fazer o translado da equipe e/ou dos
materiais necessários para a operação até o local do evento, bem como para fazer o
retorno e principalmente fazer a evacuação da vítima caso haja necessidade. Cabe
ressaltar que para isso é necessário possuir as coordenadas do local para repassar
ao piloto do helicóptero.

Devido à dificuldade de ter acesso a algum escalador que tenha se


acidentado em uma via de escalada de grau elevado ou o tempo que levaria para
fazer o acesso escalando e recomendado que se faça o acesso à vítima através de
trilha até o topo da via e então efetuar descida livre até o acesso à mesma, porém
existem vias em que não é possível se utilizar de tal artifício, podendo utilizar o apoio
88
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

do helicóptero para fazer o acesso direto ao escalador através de uma descida livre
da aeronave ou caso as condições não permitam, até o cume do morro. Assim como
já citado, caso seja necessário uma rápida evacuação da vítima, é possível remover
a vítima em uma maca, presa na aeronave por intermédio de uma corda ancorada
no mesmo, com um militar acompanhando o acidentado.

Em Operações de Combate a incêndio florestal as aeronaves de asas


rotativas são utilizadas para a plotagem dos focos, desembarque de tropa,
dimensionamento da área queimada e para o combate direto e indireto. No estado
do Rio de Janeiro esse tipo de aeronave se torna mais eficiente, por se tratar de um
local com grandes elevações, tornando-se difícil encontrar boas áreas para pousos e
decolagens, algo que demandaria tempo para seu reabastecimento, pelo fato de
seus aeroportos se concentrarem na área metropolitana. O 1º GSFMA e 2º GSFMA
possuem diversos dispositivos de armazenamento de água, que podem ser levados
próximos às áreas onde está ocorrendo o incêndio florestal, conforme figura 84.

Figura 84 - Captação de recurso hídrico no Fireflex.


Fonte: CBMERJ

Conduta operacional dos Bombeiros Militares na utilização do helicóptero,


conforme o Manual do SCI do CBMGO (2017):
"-Antes da operação deverá ser feito um Briefing com o piloto;
-Seguir todas as instruções do Comandante da aeronave;
-Aproximar-se pela frente da aeronave, de forma que esteja sempre em
89
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contato visual com o piloto;


-Manter-se distante do rotor de cauda;
-Não tocar nem falar com o piloto; caso seja necessário, faça o contato com
o fiel, para que ele passe a demanda ao mesmo;
-Não fumar, nem tampouco abastecer equipamentos, dentro de um raio de
20 metros da aeronave;
-Carregar ferramentas na horizontal, pois na vertical poderá atingir o rotor
principal;
-Não se aproximar da aterrissagens, decolagens e pairados, a não ser que
disponha de protetores auriculares e visuais;
-Não se aproximar da aeronave utilizando cobertura;
-Em terrenos inclinados aproximar-se ou afastar-se da aeronave pelo lado
descendente, pois o rotor principal poderá atingir o combatente;
-Colocar fitas adesivas nas lâminas de corte das ferramentas;
-Colocar uma capa protetora no sabre de motosserras."

3.3 Zona de pouso de helicóptero (ZPH)

Para as ZPH deve ter uma área de no mínimo 15m de raio, livre de
obstáculos significativos, tais como mastros, antenas, fios e etc. Para maior controle
é recomendado que essa zona seja cercada por militares para evitar a aproximação
indesejada na ZPH.
Em locais arenosos é recomendado que molhe o local, para evitar que
partículas sejam suspensas enquanto a aeronave pousa/decola.
Quando as ZPHs forem localizadas dentro de uma UBM, deve-se atentar
para:
Nas operações de pousos e decolagens efetuados por helicópteros operados
pelo GOA, o Comandante da aeronave é o responsável pela segurança da mesma
em todas as fases do voo, conforme estabelecido em legislação aeronáutica.
Sempre que possível esses pousos deverão ser coordenados entre o GOA e
o Comandante da Unidade do CBMERJ envolvida. Dessa forma, os procedimentos
adotados serão os seguintes:
a) Nos voos programados, o contato entre o GOA e a Unidade do CBMERJ
onde será realizado o pouso é obrigatório. Entende-se que voos programados são
todos os voos nos quais o tempo entre a solicitação e a decolagem seja longo o
bastante para que haja a coordenação acima mencionada;

90
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b) Nos voos não programados, o Centro de Operações do DBM 1/GOA - Lagoa


coordenará com o Comandante da Unidade do CBMERJ onde será efetuado o
pouso ou com seu representante legal, dentro das possibilidades do operador que
estará envolvido na demanda. Entende-se que voos não programados são todos os
voos nos quais o tempo entre a solicitação e a decolagem seja o menor possível
devido a uma situação de urgência em que o helicóptero seja utilizado;
c) Nas Unidades do CBMERJ, o local para o pouso do helicóptero deve respeitar
as seguintes condições: ter área livre de obstáculos, tais como alambrados, fios de
alta tensão, cabos, postes, placas de sinalização e etc., respeitando um raio de 15
metros; não ter movimento de carros, viaturas, animais e pedestres; ter piso
nivelado, firme e limpo;
d) As áreas de pousos e decolagens das Unidades do CBMERJ devem
obrigatoriamente dispor de uma guarnição de prevenção de combate a incêndio
composta por 02 (dois) bombeiros militares do expediente, munida de linha de
mangueira pressurizada com o emprego de bomba portátil e manancial local, sendo
admitido, diante da impossibilidade de atendimento ao exposto anteriormente, o
emprego de viaturas de socorro, desde que sem prejuízo para a prestação de
socorro, que deve ter prioridade sobre a prevenção;
e) Caso não seja possível munir a guarnição de prevenção de combate a
incêndio mencionada no item imediatamente anterior de linha de mangueira
pressurizada com o emprego de bomba portátil e manancial local, a referida
guarnição deverá dispor de 02 (dois) extintores de PQS de 6 Kg cada um e 02 (dois)
extintores de CO2 de 6 Kg cada um;
f) Nas Unidades do CBMERJ em que o local para o pouso do helicóptero for
composto de areia, devem ser respeitadas as mesmas condições citadas
anteriormente e a guarnição de prevenção de combate a incêndio deverá molhar o
piso, a fim de que as manobras de pouso e decolagem ocorram com a visibilidade e
a segurança adequadas;
g) Nas áreas de pousos e decolagens das Unidades do CBMERJ, a guarnição
de prevenção de combate a incêndio ou outro militar só poderá se aproximar do
helicóptero quando o motor estiver desligado, as pás completamente paradas e/ou
com autorização do Comandante da aeronave;

91
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

h) Nas operações aéreas em que haja necessidade de um pouso não previsto, o


Comandante da aeronave está autorizado a efetuá-lo em qualquer Unidade do
CBMERJ, sem prévia coordenação.

3.4 Fatores a observar no acionamento de um helicóptero

Considerando que a aviação do CBMERJ tem como características seu


múltiplo emprego, atuando com velocidade e prontidão em todo Estado do Rio de
Janeiro, podendo estender-se aos demais Estados da Federação, o GOA poderá
atuar em missões de:
a) Salvamento: no mar, em altura, montanha, floresta, em locais acometidos por
desastres naturais e em qualquer outro lugar onde a intervenção do helicóptero deva
ser imediata;
b) Evacuação aeromédica (EVAM);
c) Combate a incêndio florestal;
d) Transporte inter-hospitalar (TIH);
e) Buscas;
f) Transporte de tropa, cães e mantimentos;
g) Transportes de órgãos e tecidos;
h) Treinamentos, instruções e demonstrações de interesse da Corporação;
i) Apoio a outras Secretarias de Estado e aos demais Estados da Federação;
j) Transporte de Autoridades.

k) Considerando que os acionamentos a serem feitos para a atividade de


salvamento em montanha se caracterizam como vôos emergenciais o acionamento
se dá através do COCB, onde o mesmo verificará a possibilidade das aeronaves
serem empenhadas na operação.
l) Cabe Ressaltar que nossas aeronaves não são equipadas para vôos
noturnos, dependendo da luz do dia para voar. Além disso caso as condições
climáticas do local não permitam a utilização dos helicópteros, os Pilotos do GOA
irão informar a situação ao solicitante.
92
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

m) Para maiores precisões no apoio aéreo se faz necessário a transmissão de


coordenadas geográficas, devendo o militar estar atento a essa questão ao passar
as informações ao GOA.

3.5 Operações com helicóptero

3.5.1 Embarque e desembarque da aeronave em vôo pairado

Em virtude da alta rotação do rotor de cauda, o mesmo torna-se praticamente


invisível para os tripulantes e passageiros, sendo um perigo. Por este motivo, a
aproximação em direção ao helicóptero deve ser feita com extrema cautela com
tronco baixado e no campo de visão do piloto e/ou tripulação embarcada;
Em terrenos inclinados todo cuidado é pouco, o rotor de cauda e o rotor
principal ficarão mais próximos do solo, um dos lados do esqui poderá ficar fora do
solo. Movimente-se pela descida;
Guarde sua cobertura ou capacete com segurança;
Nunca se estique para tentar recuperar qualquer objeto que tenha sido levado
pelo deslocamento de ar;
Ancorar ou prender de alguma forma os objetos para não cair durante o
embarque/desembarque;
Proteja os olhos;
Se perder a visão devido a poeira ou a algum objeto que tenha atingido seus
olhos PARE e ABAIXE-SE;
Durante o embarque ou desembarque não segure na porta, não esbarre na
cadeira do piloto, nos cintos de segurança ou na maçaneta;
Ao adentrar a aeronave ponha o cinto de segurança, mantendo o mesmo
preso durante todo o vôo, use o fone de ouvido e não coloque quaisquer materiais

93
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

entre os assentos dianteiros ou entre o assento e porta do co-piloto (esquerda);


Aguarde o corte total dos rotores antes do desembarque;
Somente desembarque com os rotores girando, se devidamente autorizado;
Ao ser solicitado pelo tripulante operacional, se identifique (elevando o punho
cerrado) e quando o mesmo autorizar proceda com a aproximação;
Utilize a proa para se aproximar de forma a ficar sempre no ângulo de visão
do piloto (aproximadamente 45º), nunca se aproxime por trás (cauda);
Aproxime-se rápido e com o corpo um pouco agachado, mantendo sempre o
material abaixo da linha de cintura e seguro;
Esteja sempre atento a movimentação da aeronave. Caso a proa gire,
acompanhe a mesma;
Cuidado com a declividade do terreno, nunca se aproxime pelo lado mais alto,
tenha sempre em vista o rotor principal;
Caso a aeronave esteja pairando sem tocar o solo não se posicione muito
próximo ao esqui, jamais permaneça com o pé abaixo do esqui ou da aeronave e
fique atento as oscilações laterais, conforme figura 85;
Repasse o material às mãos do tripulante operacional. Não jogue-o;
Ao regressar faça conforme os procedimentos de aproximação;
Não tire sua atenção do helicóptero;
Desloque-se observando seu próprio caminho a percorrer e a trajetória da
aeronave;
Posicione-se em área segura;
Caso o embarque seja de materiais longos (Ex.: prancha rígida), os mesmos
deverão ser mantidos na horizontal durante todo o transporte e embarque. No caso
de materiais de sapa (pás, enxadas e outros), o cabo será embarcado por último,
pois será mantido fora da aeronave durante o vôo.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 85 - Alunos do CSMont fazendo o desembarque com aeronave em vôo pairado.


Fonte: CBMERJ

3.5.2 Descida livre

Para efetuar algumas técnicas de resgate pode ser feito o acesso ao local do
incidente através da descida livre, porém é necessário que sejam seguidos certos
procedimentos, além dos já mencionados anteriormente.
Com a corda já ancorada, o militar (equipado com todo material necessário
para a atividade) irá passar a corda pelo seu freio, somente após isso e a
conferência do material o bombeiro soltará o cinto de segurança e se posicionará no
ski. Retirando o máximo possível de folga e com os pés na parte mais baixa do ski o
militar começará a descida, efetuando a técnica do morcego (relembrando que se
deve evitar movimentos bruscos)
Ao ficar de cabeça para baixo, o bombeiro soltará os pés do ski e retornará
95
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

para a posição original, devendo então prosseguir na descida, de maneira devagar,


até alcançar o seu objetivo. Caso o objetivo seja atingir o solo, o militar deverá andar
para trás, se afastando da aeronave, até a corda passar completamente pelo freio e
o militar estar solto, podendo prosseguir para a missão a ser efetuada, conforme
figura 86.

Figura 86 - Início da descida livre, utilizando o “morcego”


Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.5.3 Dimensões da área queimada

O Dimensionamento da área queimada, em um incêndio florestal, é muito


importânte para o combatente florestal, pois é a partir dele que o especialista irá
escolher a melhor técnica e tática para efetuar o combate e proceder com a escolha
da quantidade de material empregado. Pode ser feito com o aparelho GPS,
percorrendo o entorno da área queimada durante o sobrevoo, conforme figura 87,
(Precisão maior). Em sua impossibilidade, utilizar proporções com as quais estamos
acostumados em nosso cotidiano: Ex. 2 Campos de Futebol = 10.000 m².

Figura 87 - Sobrevôo de área queimada, para dimensionamento da mesma.


Fonte: CBMERJ

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4 NOÇÕES BÁSICAS DE GEOPROCESSAMENTO E CARTOGRAFIA

4.1 Geoprocessamento

Segundo Roberto Rosa (Cartografia Básica, 2004):

" O termo Geoprocessamento é a união de várias tecnologias de


utilização de dados geográficos: A cartografia digital, o processamento
digital de imagens, os sistemas de posicionamento global e os sistemas de
informação geográfica (SIG) são exemplos de geoprocessamento. Dentre
estes, o SIG é a técnicas de geoprocessamento mais utilizada, uma vez que
pode englobar todas as demais, mas é importante salientar que nem todo
geoprocessamento é um SIG.
A tecnologia de SIG integra operações convencionais de bases de
dados, com possibilidades de seleção e busca de informações e análise
estatística, conjuntamente com possibilidades de visualização e análise
geográfica oferecida pelos mapas. Esta capacidade distingue os SIG dos
demais Sistemas de Informação e torna-os úteis para organizações no
processo de entendimento da ocorrência de eventos, predição e simulação
de situações, e planejamento de estratégias. Os SIG permitem a realização
de análises espaciais complexas através da rápida formação e alteração de
cenários que propiciem aos planejadores e administradores em geral,
subsídios para a tomada de decisões. A opção por esta tecnologia, busca
melhorar a eficiência operacional e permitir uma boa administração das
informações estratégicas, tanto para minimizar os custos operacionais
quanto para agilizar o processo decisório”

Os dois Sistemas de informações cartográficas mais utilizados no Brasil são o


ArGis e o QGis, sendo o segundo um software totalmente gratuito e disponível na
internet para download, conforme figura 88.

98
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 88 - sistema de geoprocessamento


Fonte: http://www2.sieg.go.gov.br/post/ver/169642/geoprocessamento

4.2 Cartografia

De acordo com a Associação cartográfica Internacional - ACI (1996), a


cartografia é um "Conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas
que, tendo por base o resultado de observações diretas ou da análise da
documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de
expressão e representação de objetos, fenômenos e ambientes físicos e sócio-
econômicos, bem como sua utilização.”
Esta ciência tem a finalidade de representar graficamente e de forma
bidimensional (ex.: uma carta topográfica) o espaço físico tridimensional ( ex.: O
globo terrestre) na escala mais apropriada, através de símbolos predefinidos que
visam indicar a presença das feições do terreno na imagem gerada.

99
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.3 Topografia

Muitas das características do relevo aparecem descritas nas designadas


cartas topográficas, de cuja leitura se pode tirar muito proveito, nomeadamente no
combate a incêndios florestais e em trabalhos relacionados com os mesmos.
Portanto, é imprescindível a aquisição de conhecimentos sobre topografia de
campanha, por parte dos combatentes florestais, que permitam uma análise global
da área onde estes sinistros ocorrem.
Segundo Domingues (1979), a topografia tem a finalidade de indicar o
contorno, a dimensão e a posição relativa de uma região do globo terrestre, sem
considerar a sua curvatura.
“A palavra “topografia” deriva das palavras gregas “topos” (lugar) e “graphen”
(descrever), o que significa, a descrição exata e minuciosa de um lugar.”
(DOMINGUES, 1979)
Vejam algumas aplicações da topografia de campanha nos incêndios
florestais:
a) Orientar equipes nos deslocamentos nas matas;
b) Plotagem de focos de Incêndio Florestal;
c) Cálculo da Área queimada;
d) Direcionar a construção de aceiros;
e) Levantar as características do tipo de relevo;
f) Marcar pontos críticos e etc.

4.4 Geodesia

Utiliza modelos matemáticos e estatísticos com a finalidade de estudar a


forma e as dimensões da Terra. Ao contrário da topografia, na geodésia as
medições são realizadas em grandes territórios, e por isso a curvatura da terra deve
ser levada em consideração nos cálculos para que haja mais exatidão nos
resultados.

100
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Desta ciência, resultam os datum geodésicos (vertical e horizontal) e os


sistemas de coordenadas que são referências no Brasil e em todo o mundo,
conforme figura 89 (WGS 84, SIRGAS 2000, Córrego alegre, SAD 69, etc.). Graças
a geodésica foi possível criar modelos matemáticos para representar a superfície
real da Terra (Geóide, Elipsóide, Esfera, Plano, etc.).

Figura 89 - DATUM estabelecido de acordo com o geóide e elipsóide


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/9350494/

4.5 Sistema de Posicionamento Global (GPS)

O GPS é um sistema de posicionamento global por satélite (GNSS) que tem


como objetivo determinar a posição de um receptor no planeta medindo os
diferentes tempos que os sinais emitidos pelos satélites levam para chegar nesse
receptor. Quanto maior for a quantidade de satélites enxergados pelo receptor
melhor será o resultado dessa posição geográfica (latitude, longitude e altitude).
O sistema GPS foi criado pelos norte-americanos e atualmente possui 24
satélites a 20.000 km de altitude distribuído em órbitas que permitem deixar pelo
menos 4 desses satélites visíveis em qualquer local do globo terrestre, conforme
figura 90.
O GPS pode ser subdividido em dois grandes sistemas denominados de GPS
civil e GPS militar. O GPS civil é gratuito e o seu sinal permite falsificação e imitação
101
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

devido a sua previsibilidade e transparência.


O GPS militar (PPS - Precision Positioning System) é restrito ao governo
norte-americano e à seus aliados e é criptografado a fim de evitar fraudes e garantir
a confiabilidade da informação e a precisão do posicionamento.

Figura 90 - Sistema de Posicionamento Global e Coordenadas de um GPS


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.6 Fotogrametria

De acordo com a American Society of Photogrammetry a fotogrametria é a


ciência e a arte de obter medidas dignas de confiança utilizando-se fotografias.
(PAREDES, 1987).
É a capacidade, portanto, de se medir as distâncias e as dimensões reais de
um corpo por intermédio da utilização de um conjunto de pares sobrepostos de
fotografias simultâneas desse corpo e de um estereoscópio, capaz de gerar uma
visão tridimensional do terreno, conforme figura 91.

102
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 91 - Processo para aquisição de imagens fotogramétricas


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.7 Sensoriamento Remoto

Segundo Lillesand e Kiefer (1994), o sensoriamento remoto é a ciência e a


arte de obter informação sobre um alvo analisando os dados adquiridos através de
um sensor, que se encontra afastado desse objeto e consegue captar a interação
entre esta superfície e o espectro eletromagnético (ondas de rádio, as micro-ondas,
o infravermelho, os raios X, a radiação gama, os raios violeta e a luz visível),
conforme figura 92.

Figura 92 - Processo de aquisição de imagens orbitais


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

103
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.8 Computação

Municia todo o hardware e software necessários para a realização do


Geoprocessamento, conforme figura 93.

Figura 93 - Geoprocessamento computacional


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.9 Processo de Orientação

O Combatente Florestal é, geralmente, empregado em operações de combate


a incêndio florestal desenvolvidas em regiões totalmente estranhas. Por esse motivo,
aumenta a importância de orientar-se em áreas desconhecidas, quaisquer que
sejam suas características e sob quaisquer condições.
Determinar e manter uma direção durante os deslocamentos em combate
torna-se importante, quando a direção correta dos movimentos das guarnições e das

104
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

frentes de incêndios são fatores preponderantes para o cumprimento da missão.


O processo de orientação consiste em técnicas que permitem localizar as
direções base e/ou azimutes e podem ser divididos em dois grupos: os processos
expeditos, que permitem localizar a direção do norte sem o uso de equipamentos e
os processos técnicos, nas quais empregamos equipamentos técnicos e específicos
para este fim.
Segundo Roberto Rosa (Cartografia Básica, 2004):
“A orientação é feita a partir dos pontos cardeais, ou seja, são os pontos de
referência. Devido a extensão da superfície terrestre e ao aumento da
circulação de pessoas e mercadorias, surgiu a necessidade de posicionar
corretamente as localidades e traçar rotas a seguir. Daí resultaram os
diversos meios de orientação. A princípio essa orientação era feita pelos
astros, depois vieram a bússola e o astrolábio, até chegarmos, atualmente,
ao rádio, radares e GPS. Graficamente, representa-se a orientação pela
rosa-dos-ventos. Nela, a orientação norte-sul é considerada sobre qualquer
meridiano e a orientação leste oeste, sobre qualquer paralelo.”

Na rosa dos ventos temos que:


a) Pontos Cardeais - N = Norte, S = Sul, E = Leste e W = Oeste;
b) Pontos Colaterais - NW = Noroeste, NE = Nordeste, SE = Sudeste e SW =
Sudoeste;
c) Pontos Sub colaterais - NNW = Norte-Noroeste, NNE = Norte-Nordeste, SSE
= Sul Sudeste, SSW = Sul-Sudoeste, ENE = Leste-Nordeste, ESE = Leste-Sudeste,
WSW = Oeste Sudoeste e WNW - Oeste-Noroeste, conforme figura 94.

Figura 94 - Pontos Cardeais


Fonte: Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia

Para o combatente florestal é importante o conhecimento dos métodos


expedidos de orientação uma vez que o militar pode ser surpreendido pela ausência,
105
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

inoperância ou perda dos seus equipamentos de orientação (GPS e bússola)


durante uma marcha longa ou durante um combate a incêndio florestal.
Para tal é necessário orientar-se através da observação dos astros e das
estrelas.

4.9.1 Orientação pelo Sol

Durante o dia o militar deverá observar a direção em que nasce o sol e


posicionar o seu braço direto nesta direção e neste sentido (indicando a direção
leste de onde estamos). Se esticar o braço esquerdo na mesma direção, mas no
sentido contrário, teremos a indicação da direção oeste do local em que estamos,
conforme figura 95.

Figura 95 - orientação pelo sol


Fonte: http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=%201086&evento=1

Para que o militar seguir para a direção norte, basta seguir em frente e o sul
seria no sentido contrário.
Esta técnica só é possível graças ao movimento de rotação que a Terra
realiza (que é de oeste para leste). Tal movimento, na prática, deixa transparecer
que é o Sol quem está se movimentando no sentido inverso (leste para a oeste),
conforme figura 96.

106
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 96 - movimento de rotação da Terra


Fonte: https://blogdoenem.com.br/movimento-de-rotacao-da-terra-geografia-enem/

4.9.2 Orientação pelas estrelas

Durante a noite o militar deverá observar as outras estrelas. No hemisfério Sul


é possível utilizar as estrelas da constelação do Cruzeiro do Sul para descobrir a
localização da direção sul de sua posição, conforme figura 97.

107
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 97 - orientação através da constelação do Cruzeiro do Sul


Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/o-cruzeiro-sul.htm

Para que isso seja possível o Bombeiro Militar deverá encontrar a constelação
Cruzeiro do Sul (quatro estrelas em formato de cruz) e traçar uma reta entre as
pontas (as duas estrelas que formam o eixo maior desta cruz). Feito isso é preciso
estender esta reta até atingir quatro vezes e meia a distância entre as pontas no
sentido do terreno. A direção Sul estará localizada no horizonte, conforme figura 98,
(nova reta gerada entre o ponto final da reta anterior até o ponto perpendicular com
o terreno.)

Figura 98 - orientação através da constelação do Cruzeiro do Sul


Fonte: https://blog.fengshuilogico.com/wp-content/uploads/2011/11/cruzeiro_do_sul_2.jpg

108
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.9.3 Orientação pela bússola

Para realizar a orientação por bússola corretamente, o Bombeiro Militar deve


entender que existem três nortes: O magnético (NM), o norte Geográfico ou Real
(NG) e o Norte de Quadrícula (NQ), conforme figura 99.

Figura 99 - nortes da orientação


Fonte: http://rumoselvagem.blogspot.com/2012/06/orientacao-com-bussola-e-mapa.html

A bússola é projetada para que uma agulha imantada aponte sempre para o
Norte magnético da Terra; o Norte Real pode ser calculado, sabendo-se o valor da
diferença entre NM e NG, chamada de declinação magnética, bem como a sua
variação anual nas cartas topográficas e o Norte de Quadrícula coincide com a
direção das linhas de longitude desenhadas nas cartas topográficas, conforme figura
100.

109
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

.
Figura 100 - orientação pela bússola
Fonte: http://blog.tocandira.com.br/wp-content/uploads/2013/03/silva.jpg

O segredo da orientação por bússola e carta está no alinhamento entre esses


três nortes (NQ, NM e NG) para apontar a direção em que a tropa deverá seguir no
terreno. O militar seleciona na carta o ponto destino (D) e o ponto de partida (P),
gerando uma direção (PD), que possui uma angulação entre a direção Norte. Este
angulo é chamado de azimute de quadrícula ou lançamento. fazendo as devidas
transformações (Figura 99) até encontrar o Norte Real podemos encontrar também o
azimute geográfico ou real em que a tropa deverá seguir para atingir o seu objetivo,
conforme figura 101.

Figura 101 - orientação pela bússola e carta


Fonte:http://www.fpo.pt/manuais/doc_apoio_form_pratic/Doc_apoio_form_pratic.html

110
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Paralelos e Meridianos
Considerando a Terra como Esfera que gira entorno de um eixo imaginário
(movimento de rotação) temos que:
a. Os pontos que interceptam esse eixo imaginário e a superfície da Terra
são os polos geográficos (Polo Norte e Polo Sul).
b. Se dividirmos a Terra ao meio, perpendicularmente ao eixo de rotação
teremos dois hemisférios (Norte e Sul) divididos simetricamente pelo
equador geográfico (que será um círculo máximo na figura). Se
continuarmos a dividir a Terra com cortes paralelos a esse equador,
teremos outros círculos menores chamados de latitude geográfica.
c. Se dividirmos a Terra ao meio, perpendicularmente ao equador
também serão criados mais dois hemisférios (ocidental e oriental). Se
continuarmos a dividir a Terra com cortes perpendiculares a esse
equador, teremos outros círculos menores chamados de longitude
geográfica.
d. É por intermédio da latitude geográfica e da longitude geográfica que
podemos determinar as coordenadas geográficas de um determinado
ponto no planeta.

Sobre os paralelos geográficos podemos acrescentar que:


a. O equador é o paralelo origem, ou seja de valor 0º de latitude.
b. As latitudes vão até 90º a norte e até -90º a Sul do equador.

Sobre os meridianos geográficos ou linhas de longitude podemos acrescentar


que, conforme figura 102:
a. O meridiano de origem, ou seja de valor 0º de longitude é o Meridiano
de Greenwich .
b. As longitudes vão até 180º a leste e até -180º a oeste do meridiano
origem.

111
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 102 - Latitude x Longitude


Fonte:http://santa_isabel.tripod.com/tecnica/orientacao/latitude_longitude.html

4.10 Escala

Uma escala indica uma fração matemática ou gráfica entre o valor


correspondente no mapa e o valor daquela mesma representação na realidade.
Para exemplificar temos uma escala numérica de mapa 1:50.000, que indica
ao usuário que naquele mapa cada centímetro ilustrado representa 50.000
centímetros na realidade.
Na escala numérica haverá sempre um numerador e um denominador, onde o
primeiro representa o valor no mapa e o denominador indica a sua correspondência
na realidade. Normalmente a escala numérica de um mapa é calculada de modo a
manter o seu numerador igual ao valor unitário, conforme podemos observar na
figura 103.

112
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 103 - Escalas


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

No terreno é necessário que haja agilidade no cálculo das distâncias e


coordenadas nos mapas. Uma maneira bastante usual de realizar este cálculo na
prática é através do uso de uma escala gráfica e de um barbante, onde é possível
descobrir rapidamente esses valores apenas comparando essas distâncias grafadas
na escala com a distância que se deseja percorrer no mapa, conforme figura 104.

Figura 104 - Escala métrica


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Numa escala numérica, quanto maior for o seu denominador, menor será a
resolução espacial da imagem e o detalhamento das feições e da região estudada e,
consequentemente, menor será a escala. Desta forma, temos que escalas pequenas
113
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

representam grandes regiões com pouco detalhamento e escalas grandes


representam áreas menores com riqueza de detalhes.
Ex.: 1/100.000 é uma escala menor que 1/10.000.

4.11 Representação Cartográfica

Segundo o IBGE, no seu manual básico de cartografia, são exemplos de


representação cartográfica o globo, o mapa, a carta e a planta, sendo que:
a. O globo é a representação do planeta sobre uma superfície esférica,
em escala pequena;
b. O mapa é a representação plana de uma grande área da superfície
terrestre, em escala pequena;
c. A carta é a representação plana de uma área pequena da superfície
terrestre em escala média ou grande;
As cartas são classificadas quanto à sua representação gráfica em:
− Topográfica, quando reproduz os acidentes naturais (nas posições
horizontais e verticais) da superfície terrestre (altitudes);
− Planimétrica, quando representa apenas a posição horizontal do
acidente reproduzido (latitudes e longitudes).
− Em Relevo, quando representa as diferenças de nível por meio de
sombreamento.
− Fotográfica, quando é reproduzida de uma fotografia aérea, também
chamada de fotocarta.
Quanto à sua finalidade as cartas podem ser classificadas da seguinte
maneira:
− Temáticas, quando exibem um determinado acidente geográfico com
maiores detalhes, omitindo-se os demais.
− Aplicadas, quando possuem objetivos especiais.

114
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d. A planta é a representação plana de uma área muito pequena da


superfície terrestre (não considera a curvatura da Terra nas medições) em
escala constante, conforme figura 105.

Figura 105 - Tipos de Representação Cartográfica


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

No Brasil as organizações públicas mais atuantes na confecção do


mapeamento sistemático são a Diretoria de Serviço Geográfico do Exército (DSG) e
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

4.12 Formas da Terra

O nosso planeta possui forma bastante irregular, dificultando a sua


modelagem matemática para fins de representação cartográfica sem deformá-la.
Com o objetivo de realizar uma modelagem matemática mais simples para a
representação da Terra, algumas figuras geométricas que se aproximam da forma
real da Terra (desconsiderando o seu relevo da superfície), foram selecionadas a fim
de facilitar os cálculos necessários às atividades de orientação, de mapeamento e
outras aplicações humanas.
A primeira figura geométrica escolhida foi a Esfera. Porem a Terra não é
exatamente uma Esfera: por conta do seu achatamento nos polos ela se aproxima
muito mais de um elipsoide de revolução, gerada pela rotação de uma elipse em
torno do seu eixo menor.
Em escalas muito pequenas, representadas normalmente por um globo ou
por um mapa, a diferença entre os raios da esfera e o eixo da elipse torna-se
igualmente muito pequeno, a ponto de poder ser desconsiderado nos cálculos das
115
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

coordenadas (latitude e longitudes geográficas). Nestes casos, a Terra é


representada por uma Esfera (forma aproximada).
Em escalas maiores (cartas), a representação é feita por intermédio de uma
elipsóide. Existem infinitos elipsoides que são definidos por dois parâmetros (os
semi-eixos da elipse) que podem representar o nosso planeta , sendo a sua escolha
essencial para que se defina a superfície de referência de uma nação ou localidade
(datum).
A fim de realizar o mapeamento sistemático e planimétrico do país é
necessário que seja adotada uma superfície de referência, e no Brasil, foram
adotados recentemente dois elipsóides: O elipsóide de Hayford, no datum DAD-69 e
o elipsóide GRS80, no datum SIRGAS 2000.
Considerando que a superfície real da Terra é constituída por inúmeros
relevos (superfície topográfica), que a maior parte da superfície terrestre se encontra
camuflada pelas águas dos oceanos e que toda essa irregularidade na forma
causam variações na gravidade do planeta; é possível definir a forma de todo o meio
líquido presente no globo terrestre. Esta forma também seria irregular, por conta da
variação da gravidade, e define uma superfície cuja elevação do nível médio dos
mares é sempre nula (cota zero da região).
Este modelo (chamado de Geóide) é utilizado como ponto de partida para
medir as altitudes dos pontos na superfície (carta topográfica ou planialtimétrica),
conforme figura 106.

Figura 106 - Formas da Terra


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

116
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.12.1 Datum

O datum é um conjunto de parâmetros utilizados por uma nação para definir


um sistema de coordenadas geodésico e pode ser planimétrico ou altimétrico.
Existem inúmeros datum e eles podem ser definidos por um conjunto de cinco
parâmetros: os dois parâmetros que definem o elipsóide adotado (semi-eixo menor e
semi-eixo maior) e outros três que definem a posição deste em relação a Terra
(geocêntrico ou topocêntrico ) e que servem para auxiliar na sua conversão para
outro datum quando necessário: um ponto de origem (latitude 0º e longitude 0º) e
uma direção origem (azimute 0º).
A escolha do datum mais adequado depende da máxima justaposição entre a
superfície do geóide, a superfície topográfica e a superfície do elipsóide utilizado
naquela localidade, conforme figura 107.

Figura 107 - Representação do Datum


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Os data (plural de datum) horizontais objetivam gerar os sitemas de


coordenadas geodésicos horizontais (definem as latitudes e longitudes) enquanto
que um datum vertical tem o objetivo de definir um sistema de coordenadas verticais
(definem as altitudes) de uma localidade.
No Brasil, já foram utilizados data horizontais topocêntricos (considera a
origem do sistema no centro de massa da Terra) e geocêntricos (considera a origem
do sistema no centro da Terra), conforme figura 108.
117
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 108 – datum topocêntrico x datum geocêntrico


Fonte: https://www3.ufpe.br/cgtg/SIMGEOII_CD/Organizado/geo/040.pdf

Os data horizontais topocêntricos utilizados no Brasil foram o datum


AstroChuá, o datum Córrego Alegre e o datum SAD-69 (datum oficial adotado até
2005).
Os data horizontais geocêntricos utilizados no Brasil foram o datum WGS-84
(internacional e utilizado pelo sistema GPS) e o SIRGAS 2000 (datum oficial adotado
a partir de 2005 até os dias atuais).
Os data verticais, segundo IBGE (1990), só foram utilizados no Brasil depois
que o referido Instituto criou a sua rede de nivelamento de precisão. A partir de
então fora adotado o Marégrafo de Torres, RS, como o primeiro datum altimétrico do
Brasil, sendo substituído pelo Marégrafo de Imbituba, SC, em 1958, o qual
permanece sendo o referencial altimétrico (altitude origem ou 0m) adotado no país
até os dias atuais.
Na prática é importante que o Combatente Florestal saiba identificar nas
legendas das cartas, dos mapas e nas configurações do receptor GPS utilizado o
sistema geodésico adotado (SAD-69, SIRGAS 2000, etc.) uma vez que
apresentaram diferenças significativas nos seus resultados, gerando erros que
podem variar entre 10 a 80 metros, conforme figura 109.

118
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 109 – localização do datum na carta


Fonte: https://altamontanha.com/as-maravilhas-do-gps/

Esta transformação entre os data podem ser realizados através de aplicações


computacionais ou diretamente no receptor GPS e são de extrema importância para
que o Bombeiro Militar se oriente corretamente no terreno. Cabe ressaltar que, no
Brasil, grande parte do acervo cartográfico impresso possui datum diferente do
datum oficial adotado atualmente, uma vez que foram adquiridos até a década de
1980.
O receptor GPS normalmente vem configurado para utilizar o datum WGS-84
como referencial ao sistema geodésico e deve ser alterado pelo combatente florestal
para o sistema local utilizado no documento cartográfico em questão (SAD-69,
Córrego Alegre ou SIRGAS 2000), a fim de garantir que todos os dados e
informações gerados sejam provenientes do mesmo sistema de coordenadas,
conforme figura 110.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 110 – observação do datum no GPS


Fonte: http://www.gpslandsurveying.com/must-have-gps-app-for-land-surveyor-over-10-million-downloads/

4.13 Projeções Cartográficas

As projeções cartográficas são necessárias para que a superfície geográfica


ou geodésica adotada (esfera ou elipsóide), que é uma superfície curva, possa ser
desenhada numa folha de papel, ou seja, numa superfície plana (carta ou mapa).
Esta projeção, inevitavelmente gerará deformações no produto cartográfico.
O sistema de projeção que será adotado num mapeamento dependerá do tipo
de deformação que o profissional pretende realizar ou evitar e pelo tipo de superfície
que será utilizada para que seja realizada essa projeção.
As deformações podem ser nas áreas, nos ângulos e/ou nas distâncias e
existem três superfícies de projeção que podem ser utilizadas na projeção
cartográfica: o cilindro, o cone e o plano, conforme figura 111.

120
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 111 - Projeções Cartográficas


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

A projeção plana é bastante utilizada na navegação marítima e na navegação


aeronáutica. Tem como característica principal, a capacidade de manter
praticamente sem deformação as áreas próximas ao local de tangência entre o plano
e a superfície esférica, aumentando essa deformação a medida que se afasta deste
ponto.
A projeção cônica é bastante utilizada pelos países do hemisfério norte, pois a
deformação só aumenta a medida que se afastam dos ponto (tangente) ou pontos
(secante) de contato com o cone, ou seja nas áreas de latitude baixa (próxima ao
equador).
A projeção cilíndrica é a mais utilizada na cartografia e deformam as áreas de
latitudes altas, mantendo as formas e dimensões das áreas próximas ao equador.
Para atender todas as necessidades de mapeamento, um país necessita
padronizar um grupo de projeções. No Brasil, oficialmente, são utilizados os
seguintes sistemas de projeção: a Projeção UTM ou de Mercator, a Projeção
Conforme de Lambert e a Projeção Policônica.
Na projeção de Mercator, o tamanho e o formato das áreas são mantidas nas
áreas situadas entre os trópicos (câncer e de capricórnio), enquanto que nas áreas
externas apresentam demasiada deformação. É utilizada no sistema UTM para
mapear toda a superfície terrestre.
Na projeção cônica conforme de Lambert os ângulos são preservados e as
formas das regiões próximas as linhas de contato praticamente sem alteração. É

121
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

muito utilizada em regiões de grande extensão leste-oeste e é utilizada na Carta


Internacional do Mundo ao Milionésimo.
Na projeção Policônica os ângulos e as áreas são alteradas, aumentando as
distorções significamente nas áreas externas e mantendo apenas os das regiões
próximas ao meridiano central preservados. É bastante utilizada em países de
grandes extensões no sentido norte-sul (EUA) e em mapas regionais ou estaduais
(Brasil).

4.14 Sistema de Coordenadas

Os sistemas de coordenadas geográficos foram criados a fim de garantir que


um ponto qualquer da superfície terrestre possa ser identificado em um mapa. Para
obter as coordenadas deste ponto, basta obter a interseção das linhas de latitude
(meridianos) e longitude (paralelos) que o representam no mapa.
Existem dois sistemas de coordenados que são extremamente utilizados no
mapeamento sistemático brasileiro, são eles: o sistema de coordenadas geográficos
e o sistema Universal Transversa de Mercator (UTM).

4.14.1 Sistemas de Coordenadas Geográficas

É o sistema mais simples e antigo, onde as coordenadas de um ponto do


planeta (latitude e longitude geográfica) podem ser localizados através da interseção
de um paralelo e de um meridiano, conforme figura 112.

122
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 112 - Coordenadas Geográficas


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

A latitude geográfica de um ponto é o ângulo medido a partir do paralelo


origem (equador) até o ponto desejado. a latitude varia de 0º a 90º (também
representado por 90º N) no sentido norte e de 0º a -90º (também representado por
90º S) no sentido sul.
A longitude geográfica de um ponto é o ângulo medido a partir do meridiano
origem (Greenwich) até o ponto desejado. a latitude varia de 0º a 180º (também
representado por 180º E) no sentido leste e de 0º a -180º (também representado por
180º W) no sentido oeste.
Para obter os valores das coordenadas geográficas de um ponto basta
calcular a latitude e a longitude deste ponto. ex.: latitude 26º e longitude - 120º ou
26ºN e 120º W.

4.14.2 Sistemas de Coordenadas UTM

O sistema de coordenadas UTM foi gerado a partir da Projeção Universal


Transversa de Mercator (UTM) e, por isso, assumiu essa denominação.
Nesse sistema existe a formação de quadrantes que são formadas por linhas
equidistantes, paralelas e/ou perpendiculares entre si. Ele possui valores lineares,
inteiros e medido em metros, que varia conforme a escala da carta adotada e esses
valores estão sempre dispostos nas laterais das cartas ao lado dessas linhas
equidistantes.
123
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

No sistema UTM, ao contrário do sistema geográfico, esses valores de


coordenadas se repetem em cada um dos 60 fusos longitudinais existentes que
representam globo terrestre, sendo portanto necessário que o combatente florestal
indique, além dos valores de latitude e longitude, o fuso local para encontrar o ponto
desejado no mapa ou no GPS, conforme figura 113.

Figura 113 - Sistema de Coordenada UTM


Fonte: Manual de Campanha do EB

Sobre o sistema UTM podemos afirmar que:


a. possui 60 fusos longitudinais, dividindo a Terra a cada 6º de longitude,
numerados a partir do meridiano origem para a direita (do fuso 1 ao fuso 60),
até completar os 360º.
b. O quadriculado, característico do sistema de coordenadas UTM, se repete em
cada um dos 60 fusos, tento a sua linha vertical de origem coincidindo com o
meridiano central do próprio fuso, portanto, temos no seu interior 3º para leste
e 3º para oeste de longitude geográfica.
c. Verticalmente, o quadriculado de cada fuso é limitado nas latitudes
geográficas de 84º N e 80º S, devido as deformações geradas pelo sistema
de projeção UTM nos polos. Desta maneira, a contagem dos paralelos se
inicia no paralelo 80ºS e é escalonado de 8º em 8º até o paralelo 84ºN

124
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

(Observação: A ultima faixa entre os paralelos possui 12º de latitude de


largura).
d. O sistema UTM possui 20 faixas, identificadas por uma letra maiúscula,
sequencialmente disposta, em ordem crescente, iniciando coma letra C até a
letra X, omitindo as letras I e O.
e. Considerando, que as coordenadas métricas (latitude e longitude) no sistema
UTM não possuem valores negativos e que existem duas coordenadas, com o
mesmo valor de latitude (um em cada um dos hemisfério), torna-se
imprescindível que o combatente florestal também indique a letra
correspondente a faixa referente a sua região no GPS para que não haja erro
na localização do ponto desejado.
f. O Brasil está localizado entre os fusos 18 e 25.
g. O Estado do Rio de Janeiro está localizado no fuso 23, na faixa K, logo o seu
quadrante será sempre o 23K.
h. Uma coordenada UTM bem definida deverá conter as seguintes informações:
o fuso, a faixa, a longitude (m) e a latitude (m). Ex.: (23K 273.000,
7.250.000).

As medidas no Sistema de Coordenadas UTM são oriundas do cruzamento


entre o meridiano central do fuso e a linha do equador. Como não existem valores
negativos, ao meridiano central foi atribuído o valor de 500.000m, reduzindo para
oeste e aumentando para leste. O equador recebeu o valor 0m e 10.000.000m ao
mesmo tempo, dependendo se a medição é feita para o Norte ou para o Sul,
respectivamente.
Desta forma, temos que a latitude aumenta para norte e decresce no sentido
sul do equador geográfico. Como o Rio de Janeiro é localizado totalmente no
hemisfério sul, as latitudes UTM das cartas utilizadas no CBMERJ sempre serão
menores que 10.000.000m, partindo do equador, conforme figura 114.

125
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 114 - Sistema de Medidas no Sistema UTM


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.15 Azimute e Rumo

São angulações utilizadas para orientar o combate florestal no terreno e na


carta, indicando as direções que deverão ser seguidas.
O azimute é medido a partir da origem (norte) do sistema e no sentido horário.
Pode ser magnético, de quadrícula ou verdadeiro, dependendo da finalidade e do
referencial utilizado e pode variar entre 0º e 360º. Neste mesmo sentido, o contra-
azimute possui a mesma direção do azimute, porem no sentido contrário.
Rumo é definido como o menor ângulo possível entre a linha Norte-Sul e a
126
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

direção desejada, pode variar entre os valores de 0º a 90º. Como esse valor pode se
repetir para azimutes diferentes, o valor rumo deverá ser sempre acompanhado do
quadrante em que a direção pertence, conforme figura 115.

Figura 115 - Rumos e Azimutes


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.16 Norte Magnético (NM), Norte de Quadrícula (NQ) e Norte Geográfico ou


Verdadeiro (NG)

O segredo da navegação e orientação terrestre está em alinhar os três nortes


conhecidos, através de equipamentos de navegação (bússola) e de cálculos
matemáticos.
Existem três nortes: O norte geográfico, o norte de quadrícula e o norte
magnético.
Antes de definirmos cada um deles é necessário acrescentar que no sistema
UTM os meridianos do fuso (norte verdadeiro) sempre formam um ângulo com as
linhas verticais da quadrícula (Norte de Quadrícula). Este angulo é chamado de
convergência meridiana, é nulo no meridiano central e aumenta a medida que as
127
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

linhas de latitude e de longitude se afastam do centro, conforme figura 116.

Figura 116 - Diferença entre o norte de quadrícula, norte geográfico e norte magnético
Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Além da convergência meridiana, existe também a declinação magnética para


expressar a diferença entre o norte geográfico e o norte magnético. Esta declinação
varia com o tempo (anualmente); pode apresentar valor nulo (localidade onde o
norte verdadeiro coincide com o norte magnético), positivo (norte magnético está a
leste do norte verdadeiro) ou negativo (norte magnético está a oeste do norte
verdadeiro) e também é descrita nas cartas militares, conforme figura 117.

128
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 117 - Declinação magnética e convergência meridiana uma Carta


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

O norte geográfico é também denominado norte verdadeiro e indica a direção


dos seus meridianos, ou seja, do norte verdadeiro.
O norte de quadrícula é uma paralela ao meridiano central do fuso onde o
ponto está localizado e é representada nas cartas pelas suas linhas verticais.
O norte magnético é encontrado com a utilização de uma bússola. Ela
coincide com a direção apontada pela sua agulha imantada.

Na prática, o combatente florestal precisará calcular constantemente a


direção a ser seguida no terreno (dependem do norte magnético e do norte
verdadeiro) através das informações contidas nas cartas (dependem do norte de
quadrícula) e vice-versa. Para isso, deverá encontrar os valores atuais da declinação
magnética e da diferença entre os norte de quadrícula e magnético (chamado de
ângulo QM).
Sabemos que na teoria existem três tipos de azimutes, mas na prática
chamaremos de azimute apenas os ângulos formados entre o norte magnético e a
direção a ser seguida no terreno (azimute magnético) e de lançamento o ângulo
formado entre o norte de quadrícula e a direção do ponto a ser seguido marcado na
129
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

carta (azimute de quadrícula), conforme figura 118.

Figura 118 - Ângulo QM


Fonte: Manual de campanha do EB

O ângulo QM pode ser calculado de duas formas, conforme se apresentem as


posições das direções base: Somando-se a declinação magnética (Dm) e a
convergência de meridianos (Cm) ou Subtraindo-se da declinação magnética (Dm) a
convergência de meridianos (Cm).
Entretanto, não deve esquecer que a declinação magnética sofre uma
variação anual e, por isso, pode existir um aumento ou uma diminuição do ângulo
QM. Isso ocorre quando as direções do NM e do NQ se afastam ou se aproximam.
Na figura da esquerda abaixo o angulo QM é a soma de NM e NQ, mas na figura da
direita o ângulo QM é a diferença entre NM e NQ, conforme figura 119.

130
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 119 - Afastamento ou aproximação do NM e do NQ


Fonte: Manual de campanha do EB

Para calcular a declinação magnética atual (2019) de uma localidade é


preciso descobrir o valor da declinação magnética no momento em que a carta foi
produzida ( vamos considerar que seu valor corresponde a 16º30'); o ano de
confecção da carta (1973) e a sua variação anual ( cresce 3' ao ano). A seguir
podemos observar os cálculos:
Cálculos:
2019 -1973 = 46 anos
46 x 3' = 138' = 2º 18'
Declinação atual: 16º 30'+ 2º 18' = 18º 48'.

Em uma carta topográfica militar, a medição de uma direção fornece o


azimute de quadrícula (ou lançamento). Em consequência, para a determinação de
uma direção no terreno, há necessidade de converter esse azimute de quadrícula
em azimute magnético.
Sabendo a declinação magnética atual (18º 48') e a convergência meridiana
(0º 44' 47''), temos condições de encontrar o angulo QM da figura 118 e,
consequentemente, encontrar o azimute a ser seguido pela tropa.

Cálculos:
QM = 18º 48' + 0º 44' 47''
QM = 19º 32' 47''
azimute em exemplo 01 da figura 118 é igual ao lançamento - QM
azimute em exemplo 02 da figura 118 é igual a lançamento + QM

4.17 Nomenclatura e Articulação de Folhas Topográficas

O mapeamento sistemático nacional reúne cartas e mapas em diferentes


escalas padronizadas a partir da carta do Brasil ao Milionésimo, que possui escala

131
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

1:1.000.000 na projeção Cônica Conforme de Lambert. Esta projeção, também


divide o planeta em 60 fusos e em faixas denominadas SA, SB, SC, SD... no sentido
sul e NA, NB, NC, ND... no sentido norte a partir do equador.
Casa quadrante do sistema citado acima indica uma carta do mundo ao
milionésimo e será denominada pelo seu fuso e pela sua faixa (NA-22, por exemplo.)
Para aumentar o detalhamento das informações nas cartas, as escalas
podem ser ampliadas, seguindo o padrão estabelecido internacionalmente. No
Brasil, podemos encontrar mapeamentos do território nacional, gerenciados pelos
órgãos oficiais, nas seguintes escalas: 1:500.000, 1:250.000, 1:100.000, 1:50.000,
1:25.000.
Estas escalas foram selecionas a fim de facilitar a subdivisão quíntupla da
carta do mundo ao milionésimo em escalas superiores, até atingir uma amplitude 40
vezes maior (escala 1:25.000), facilitando a nomenclatura dessas folhas e a sua
consequente busca. As subdivisões e as nomenclaturas foram padronizadas da
seguinte forma, conforme figura 120:
a. 1:500.000 - dividiu a carta 1:1.000.000 em 4 partes iguais (v, x, y e z);
b. 1:250.000 - dividiu a carta 1:500.000 em 4 partes iguais (A, B, C e D);
c. 1:100.000 - dividiu a carta 1:250.000 em 6 partes iguais (I, II, III, IV, V e VI);
d. 1:50.000 - dividiu a carta 1:100.000 em 4 partes iguais (1, 2, 3 e 4);
e. 1:25.000 - dividiu a carta 1:50.000 em 4 partes iguais (NO, NE, SO e SE).

132
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Figura 120 - Mapeamento Sistemático no Brasil


Fonte: IBGE – Noções Básicas de Cartografia

133
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4.18 Planejamento e desenho de mapas

Um mapa profissional é confeccionado na dimensões reais de sua impressão.


A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), estabeleceu em 1970, uma
padronização nas dimensões das folhas utilizadas em trabalhos oficiais, conforme a
figura 121:

Figura 121 - Folhas de desenho segundo a ABNT


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Embora exista esta padronização pela ABNT, em algumas ocasiões é preciso


elaborar um mapa temático, por exemplo, em outras dimensões, o que é
devidamente permitido e viável, bastando para isso atentar para que o elemento
representado não possua dimensão inferior a 0,2 mm na carta (erro máximo
admissível).
Segue abaixo, alguns fatores que podem definir a escala ou as dimensões de
uma carta:
a. o detalhamento desejado na imagem e
b. o espaço disponível para o mapa na folha ou para a folha no ambiente
(parede).

No CBMERJ, dependendo do público a ser atingido, poderá ser necessário a


elaboração desses três tipos de mapas:
a. Mapa Geral - atende ao público em geral e não apresenta riqueza de detalhes
na informação transmitida;
b. Mapa Especial - atende a um público especializado que utilizarão e
entenderão as informações dispostas.
134
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c. Mapa Temático - Visa atender um determinado tema político-administrativo e


é construído sobre um mapa base. É o tipo mais utilizado no CBMERJ.

Para a elaboração de um mapa temático no CBMERJ, além de adquirir um


software e um computador compatíveis o bombeiro militar deverá seguir os
seguintes passos:
a. Escolher o tema;
b. Adquirir e filtrar as Informações e os dados necessários;
c. Definir o tipo, formato, as configurações (orientação, datum, coordenadas,
legenda, etc.), a disposição, a dimensão e a escala do mapa;
d. Encontrar um mapa base atualizado que lhe forneça as informações sobre a
área a ser estudada ou mapeada (ex.: Google Maps, OpenStreetMap, etc.);
e. Padronizar os elementos, cores, símbolos e desenhos especiais que
representarão a realidade no mapa (convenções cartográficas), relacionando
os seus esclarecimentos na legenda desse mapa e satisfazendo os seguintes
requisitos;
− Ser facilmente inteligível;
− Uniformidade no mapa ou em um conjunto de mapas;
− Ser satisfatoriamente preciso;
− Ser legível.

f. Utilizar as cores de modo a garantir a visibilidade da informação que se


pretende destacar sem desconsiderar a padronização sugerida pelos órgãos
oficiais de mapeamento para a elaboração das cartas topográficas:
− Preto é usual na nomenclatura;
− Azul é usado na hidrografia e para grafar os nomes dos rios;
− Vermelho é empregado para desenhar as rodovias e as estradas;
− Castanho é empregado para desenhar as curvas de nível e
− Verde é utilizado para pintar a vegetação.

g. Analisar e avaliar o entendimento e o resultado do mapa;


h. Imprimir e disponibilizar.

135
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.19 Representação da Topografia de um Terreno

Para que um objeto em, três dimensões possa ser representado em um


mapa, é necessário reduzi-lo para duas dimensões, para tal, a terceira dimensão
deverá ser indicada no mapa de forma seletiva.
Esta representação seletiva deverá conter todos os elementos característicos
do relevo desenhado, tais como: cumes, divisores de água, elevações do terreno e
declividade, a fim de tornar a imagem compreensível e fiel à realidade.
A elevação e a declividade são elementos essenciais para a representação do
relevo, sendo que só é possível calcular a declividade, sabendo a altitude relativa do
objeto, o que implica numa dependência da declividade em relação a elevação do
terreno estudado.
Por esse motivo, temos que a determinação das altitudes precedem todos os
outros cálculos relativos a representação do relevo numa carta topográfica.
O relevo pode ser representado nas cartas de pequena escala e nas cartas
de grande escala, mas devido ao detalhamento da informação esta representação
ocorre de maneiras distintas, sendo que em grandes áreas, podemos visualizá-los
através de hachuras na imagem ou por intermédio de cores hipsométricas. Em áreas
menores, em que temos um maior detalhamento da imagem, o relevo é visualizado
através das curvas de nível e dos pontos de cumieira (ponto de maior elevação do
relevo representado).

4.19.1 Cores Hipsométricas

Esse tipo de representação do relevo depende de uma divisão das elevações


em classes, onde cada classe de altitude será representada por uma determinada
cor no mapa, conforme figura 122.

136
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 122 - Representação hipsométrica por cores


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Na prática, ao realizar esse tipo de representação, devemos evitar o uso


demasiado de cores e de classes, sendo aconselhado o uso de máximo de 5 cores.
Como é sabido que aproximadamente 85% do relevo terrestre não ultrapassa
os 1.000 metros de altitude, sugere-se que as classes de altitudes sejam divididas
abaixo desse valor em intervalos múltiplos de 50m, dependendo da quantidade de
cores desejadas.

4.19.2 Curvas de Nível

Para desenhar uma curva de nível de um relevo, devemos imaginar este


relevo sendo cortado por planos horizontais, equidistantes e paralelos, onde o
resultado da interseção desses planos com a figura recortada formam as isolinhas,
formadas de pontos que possuem a mesma altitude, a partir de um datum vertical de
referência, indicando a origem nacional das altitudes, na superfície do geóide,
conforme podemos observar na figura 123.

137
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 123 - Representação por curvas de nível


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Na maioria das cartas topográficas, além das curvas de nível, podemos


observar uma representação de cores que indicam a presença de um relevo e que
servem para comparar esta sombra com as suas isolinhas sobrepostas, conforme
figura 124.

138
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 124 - Curvas de nível numa carta topográfica


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

O intervalo entre as curvas de linha é sempre constante, ou seja, as linhas


são equidistantes entre si e o valor desta distância depende da escala da carta. No
mapeamento sistemático brasileiro foram padronizados as seguintes equidistâncias:
a. 10 m para uma escala de 1:25.000;
b. 20 m para uma escala de 1:50.000;
c. 50 m para uma escala de 1:100.000 e
d. 100 m para uma escala de 1:250.000.

As curvas de nível possuem as seguintes características e propriedades:


a. São isolinhas de mesma altitude;
b. Não se tocam e não se cruzam e
c. Ela é sempre fechada em si mesma.
d. A cada 5 isolinhas haverá uma linha traçada de forma mais grossa (curva
mestre) e numerada com o seu valor de altitude a fim de facilitar a
identificação e a visualização nas cartas topográficas, conforme figura 125.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 125 - Curvas mestres e espaçamento entre as curvas


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.19.2.1 Perfil Topográfico

Para que o combatente florestal consiga traçar o perfil topográfico de uma


rota numa carta topográfica é necessário que, primeiramente, ele marque os pontos
de saída e de chegada na referida carta e ligue-os através de uma linha reta.
Os pontos em que esta linha cruzar com uma curva de nível deverão ser
identificados e posteriormente elevados, através de uma reta perpendicular a rota,
até atingir os valores de latitude descritos num gráfico de elevação x distância, que
deverá ser criado logo acima desta rota, conforme figura 126.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 126 - Perfil de uma linha


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

É importante salientar que na confecção do gráfico elevação x distância a


escala deve ser respeitada, uma vez que tanto a latitude, quanto a distância estão
medidas em metros. Este cuidado permitirá que o perfil topográfico reflita com mais
fidelidade a realidade do terreno a ser percorrido pelo bombeiro militar.
Para representar alguns tipos de relevo, tais como uma linha de crista, uma
vertente ou uma encosta e uma linha de talvegue, uma existem características que
podemos observar nas curvas de nível como veremos a seguir. è muito importante
que o bombeiro militar especialista, consiga identificar essas características nas
cartas topográficas a fim de evitar alguns relevos ou para buscar alimentos e água
nos terrenos acidentados de mapas e montanhas, conforme figura 127.

141
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 127 - Representação no terreno


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Linha de Crista é uma linha imaginária que passa pelas partes mais altas das
elevações, ligando os diversos cumes e é um divisor de águas natural. Chama-se
crista topográfica ao ponto mais alto de uma linha de crista, conforme figura 128.

Figura 128 - Representação dos Divisores d’Água


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Vertentes ou Encostas são superfícies inclinadas do terreno que formam um


ângulo com o plano horizontal. O grau de inclinação é chamado de declive. A ligação
de duas vertentes pode formar uma linha de crista ou uma linha de fundo, conforme
figura 129.

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Convexas Côncavas
Figura 129 - Vertentes convexas e côncavas
Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Linha de talvegue é a linha imaginária que interceptar (no plano inferior) duas
encostas. São linhas que, por serem coletoras de água, podem formar os rios e os
córregos da região, conforme figura 130.

Perfil
Figura 130 - Estrutura de curvas em talvegue
Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.20 GPS (Global Positioning System)

O sistema NAVigation System with Time And Ranging Global Positioning


System (NAVSTAR GPS) foi elaborado pelo governo americano, está disponível
para uso em qualquer parte do globo terrestre (desde o final de 1993) e pode ser
subdividido em três partes, sendo um segmento espacial (satélites), um segmento
de controle e um segmento do usuário (receptor), conforme figura 131.

143
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 131 - Funcionamento do GPS (adaptado de MORGAN e ESS, 1997)


Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69162006000200023

No segmento espacial o sistema GPS possui 24 satélites distribuídos em seis


planos orbitais elípticos distintos emitindo sinais que podem ser recebidos em
qualquer parte do planeta, durante 24 horas do dia.
No segmento de controle temos os centros de controle em terra que existem
para monitorar os satélites e as órbitas; agrupar e processar os dados gerados pelo
sistema e para modelar e corrigir os erros de refração, que são transmitidos para os
receptores a fim de melhorar o resultado do seu processamento.
No segmento de usuário temos os receptores com as suas antenas que
recebem os sinais dos satélites e as informações das estações de controle,
processam os dados obtidos e produzem os resultados relativos a posição e a
velocidade dos objetos envolvidos.
O GPS foi criado com a finalidade de determinar a posição de um receptor,
através da intersecção das distâncias entre os receptores e os satélites, sendo
necessário que haja pelo menos 4 satélites visíveis para determinar uma posição de
maneira satisfatória (veremos o motivo a seguir).
Cada satélite do sistema GPS transmite um sinal com as suas informações
(efemérides - 16 constantes físicas e 4 coeficientes polinomiais) que são recebidos
pelos receptores. Estes receptores conseguem calcular a distância que o separa do
satélite transmissor, multiplicando o tempo que este sinal levou para atingi-lo pela
144
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

velocidade da luz e, consequentemente, calculam a suas posições através de um


sistema polinomial que deve possuir pelo menos 4 equações, afim de determinar os
valores dos quatro coeficientes polinomiais existentes.
Sabemos que para que haja uma solução num sistema linear devemos ter o
mesmo número de equações e de incógnitas envolvidas (figura 132). Considerando
que cada sinal recebido pelo receptor gera uma equação polinomial no sistema e
que temos 4 coeficientes polinomiais para desvendar, temos que existe a
necessidade do receptor ter que captar pelo menos 4 satélites no espaço para que
haja um resultado aceitável, conforme figura 132.

Figura 132 - Sistemas de Equações Lineares


Fonte: https://www.paulobrites.com.br/leis-de-kirchhoff-e-sistemas-de-equacoes-lineares/

Sobre os serviços disponíveis pelo sistema GPS podemos afirmar que:


a. Existem dois tipos de serviço o Standard Positioning Service - SPS e o
Precise Positioning Service - PPS;
b. O SPS é o serviço liberado gratuitamente para o uso (civil) e fornece
uma precisão que gira em torno de 5 a 15m;
c. O PPS é o serviço de uso exclusivo das forças armadas americanas e
pode fornecer uma precisão na casa de milímetros.
d. Essa exclusividade do serviço PPS só é possível graças a dois
sistema internos de proteção (o AntiSpoofing - AS e o Selective
Availability - SA), que não permitem que a precisão total chegue aos
usuários do serviço SPS e que são removidos para os militares
americanos através de criptografia.

145
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.21 Utilização da carta topográfica no terreno

4.21.1 Definição da Quadrícula

Quadrículas são linhas horizontais e verticais que dividem a carta em, facilitando
a identificação e a designação de pontos. Utilizando o sistema UTM para indicar a
quadrícula da carta a ser utilizada podemos apontar a numeração desta utilizando as
coordenadas dessas linhas de baixo para cima e da esquerda para direita, conforme
figura 133.

Figura 133 - Indicação de uma quadrícula


Fonte: CBMERJ

146
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.21.2 Medidas de Distância

4.21.2.1 Medidas no terreno

Antes de executar a medição de distâncias no terreno o combatente florestal


deverá “aferir” a sua passada.
A aferição de passo é a técnica de convencionar medidas de passos para
metros, onde se demarca a distância de 100 metros em um terreno plano para que o
militar percorra essa distância por 10 vezes seguidas obtendo-se assim, cada vez,
um determinado número de passos.
A seguir é calculada a média para 100 metros por passos (P). A esse número
(P) soma-se P/3 (um terço) como margem de segurança para compensar as quedas,
os desequilíbrios e as passagens sobre obstáculos existentes nos deslocamentos
através da selva.
Com o passo aferido é possível montar uma equipe de navegação, composta
de no mínimo cinco militares cuja finalidade é conduzir a tropa/grupo, com
segurança, até seu objetivo. Cada militar executará uma determinada missão,
denominados: Homem – Ponto, Homem – Bússola, Homem – Passo, Homem –
Carta e Homem - GPS

4.21.2.2 Medidas em linha reta na carta

São obtidas de forma direta ou indireta dependendo do método utilizado. O


combatente florestal pode utilizar os seguintes métodos: a régua ou compasso, o
escalímetro e as coordenadas dos pontos, conforme figura 134.

147
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 134 - Medição de distância em linha reta


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Se o escalímetro for utilizado, a distância será encontrada de forma direta se


a régua escolhida for compatível com a escala da carta.
Usando a régua ou o compasso o militar poderá atingir o seu objetivo de
forma direta, precisando apenas comparar a medida obtida com a escala gráfica da
carta.
Através da régua podemos calcular a distância também de forma indireta,
multiplicando o valor obtido na escala da régua pela escala da carta e efetuando as
transformações de unidade necessárias.
Se o militar só tiver as coordenadas dos pontos, a distância será calculada de

forma indireta através da fórmula: , onde E é a longitude e


N é a latitude, conforme figura 135.

148
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2 (E 2, N 2)



1 (E 1, N 1)



Figura 135 - Medição de distância por coordenadas


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.21.2.3 Distâncias em curvas na carta

Esta distância pode ser encontrada de forma direta utilizando um barbante ou


uma tira de papel.
Com uma tira de papel (poderia ser um barbante) contínua, o militar deverá
acompanhar todo o caminho a ser seguido pela tropa, comparando o tamanho final
desta tira com a escala gráfica da carta, conforme figura 136.

Figura 136 - Processo da tira de papel


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

149
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.21.3 Medidas de Altitude

A altitude de um ponto é obtida diretamente na carta, quando o ponto


desejado encontra-se sobre uma isolinha, porem pode ser calculada de forma
indireta se este ponto estiver localizado entre duas isolinhas através de uma regra
de três simples (interpolação linear simples), conforme figura 137.

EXTRAPOLAÇÃO

540 m
500 m

520 m

B
A

560 m
cia
tân
Dis erfície 540 m
p
Su

520 m
Mapa

Figura 137 - Determinação de altitudes por extrapolação e interpolação


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.21.4 Medida e escala de declividade

A declividade entre dois pontos pode ser calculada de forma indireta se


dividirmos a diferença entre as altitudes dos pontos e pela distância horizontal entre
eles, conforme podemos observar na figura abaixo.
Normalmente a declividade é calculada de forma percentual, conforme figura
138.

150
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 138- Cálculo da declividade


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

4.21.5 Medidas de Área

O combate florestal precisa conhecer alguns métodos de calcular áreas de


maneira prática a fim agilizar a sua tomada de decisão no combate a incêndio
florestal e/ou numa situação de busca em matas e montanhas.
Para um cálculo direto da área de uma região o combatente florestal sempre
poderá comparar o tamanho da imagem com a área de um objeto conhecido. Um
campo de futebol, por exemplo, possui a área correspondente a aproximadamente
0,5 hectare, sendo que 1 hectare é igual a 10.000m².
No caso acima se o militar conseguir estimar a quantidade de campos de
futebol que equivalem aquela determinada área, consequentemente ele chegará a
um valor aproximado de área para aquela região.

Existem inúmeros métodos que podem ser utilizados para encontrar a área de
uma região de forma indireta, a seguir vamos estudar os seguintes métodos: Papel
milimetrado, decomposição e fórmula de Gauss.
Quando o militar precisar calcular a área de uma pequena região com certo
grau de precisão ele poderá utilizar o método do papel milimetrado. Neste caso, ele
deverá proceder da seguinte maneira, conforme figura 139:
a. transcrever esta área para o papel milimetrado;

151
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b. contar a quantidade de quadrados inteiros que estão no interior da


figura;
c. contar a quantidade de quadrados que são contados pela figura;
d. calcular a área, utilizando a fórmula da figura abaixo;
e. multiplicar o resultado pelo quadrado da escala da carta.

Figura 139 - Cálculo de área pelo papel milimetrado


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

- int. = quantidade de quadrados inteiros e


- não int = quantidade de quadrados cortados.

Quando o militar precisar calcular a área de uma grande região com certo
grau de precisão ele poderá utilizar o método da decomposição. Neste caso, ele
deverá proceder da seguinte maneira, conforme figura 140:
a. dividir a toda a área em pequenas regiões no formato de figuras
geometricamente conhecidas (triângulos e retângulos);.
b. calcular a área de cada uma dessas figuras geométricas;
c. somar todas essas áreas;

152
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3 4 6

Figura 140 - Medição de área por decomposição


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Quando o militar precisar calcular a área de uma grande região com uma
precisão maior ele poderá utilizar o método da fórmula de Gauss. Neste caso, ele
deverá proceder da seguinte maneira, conforme figura 141:
a. calcular as coordenadas (latitude e longitude UTM) de todos os vértices
da figura e
b. Calcular a área através da seguinte fórmula:

2A = ∑ Ni * (Ei - 1 - Ni + 1)

2 (E 2, N 2)

3 (E3, N 3 )

1 (E 1, N 1)

n (E n, N n) 4 (E 4, N 4)

7 (E 7, N 7)

5 (E 5 , N5)
6 (E6, N 6)

Figura 141 - Área a ser calculada e as coordenadas dos seus vértices


Fonte: Instituto de Engenharia Cartográfica da UERJ

Sobre o método de Gauss é importante dizer que a precisão da área


calculada está diretamente ligada a quantidade de vértices da figura.

153
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.21.6 Processo para a leitura das coordenadas

Para que o combatente florestal consiga se localizar na carta e/ou no terreno


é necessário que ele saiba extrair as coordenadas de um ponto na carta, bem como
localizar um ponto, através das suas coordenadas.
Dependendo da finalidade (navegação aérea, cálculo de distância, calculo de
azimute, etc.), o bombeiro militar deverá usar os seus conhecimentos para descobrir
as coordenadas geográficas e/ou as coordenadas métricas (sistema de coordenadas
UTM) de uma carta topográfica.
Independente do tipo de coordenadas, este militar deverá ter conhecimento
básico de algumas operações matemáticas a fim de ser bem sucedido nos seus
cálculos. São elas: regra de três simples, operações algébricas de transformações
de ângulos (grau, minuto e segundo), transformação de unidades métricas (metro,
centímetro, quilômetro, etc.) e conceitos relativos a segmentos proporcionais.

4.21.6.1 Coordenadas UTM

A fim de realizar cálculo de distâncias e de áreas o bombeiro especializado


deverá dominar o procedimento para a obtenção das coordenadas métricas de um
determinado ponto.
Tal procedimento consiste em:
a. Localizar o ponto desejado na carta;
b. Localizar as linhas de latitude e de longitude grafadas nas margens da
carta mais próximas do referido ponto (a imediatamente menor e a
imediatamente maior ), observando a distância real entre elas;
c. Com o uso de uma régua, medir as distâncias (em centímetro) entre as
duas linhas de latitude e de longitude.
d. Com o uso de uma régua, medir as distâncias (em centímetro) do
ponto desejado até uma dessas linhas de latitude e de longitude.

154
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

e. Realizar regra de três simples para encontrar as coordenadas do


ponto, observando os sentidos em que valores estão crescendo ou
diminuindo, conforme figura 142.

Figura 142 - Encontrando as coordenadas métricas ou retangulares


Fonte: Apostila de noções básicas de cartografia do IBGE

Para exemplificar vamos calcular as coordenadas (latitude e longitude) do


ponto A na carta da figura acima:
a. Encontrando a latitude (N)

155
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

− Localizado o ponto A, temos que as linhas de latitude mais próximas


são as linhas 7.368.000m e 7.370.000m;
− A distancia total entre as duas linhas de latitude é de 2.000m;
− Usando a régua temos que a distância, em cm, entre as duas linhas de
latitude é de 4 cm;
− Usando a régua, temos que a distancia, em cm, do ponto A até a linha
7.368.000m é de 1,5 cm;
− Fazendo a regra de três temos que:
(7.370.000m - 7.368.000m) no terreno corresponde a 4 cm na carta.
( N - 7.368.000m) no terreno corresponde a 1,5 cm na carta.

2.000m = 4 cm .
N - 7.368.000m = 1,5 cm.

4 x N - 7.368.000 x 4 = 2.000 x 1,5


4 x N = 3.000 + 29.472.000
4 x N = 29.475.000
N = 29.475.000/4
N = 7.368.750 m

b. Encontrando a longitude (E)

− Localizado o ponto A, temos que as linhas de longitude mais próximas


são as linhas 350.000m e 352.000m;
− A distancia total entre as duas linhas de longitude é de 2.000m;
− Usando a régua temos que a distância, em cm, entre as duas linhas de
longitude é de 4 cm;
− Usando a régua, temos que a distancia, em cm, do ponto A até a linha
352.000m é de 0,5 cm;
− Fazendo a regra de três temos que:
(350.000m - 352.000m) no terreno corresponde a 4 cm na carta.
( E - 352.000m) no terreno corresponde a 0,5 cm na carta.

156
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

- 2.000m = 4 cm .
E - 352.000m = 0,5 cm.

4 x E - 352.000 x 4 = - 2.000 x 0,5


4 x E = - 1.000 + 1.408.000
4 x E = 1.407.000
E = 1.407.000/4
E = 351.750 m

4.21.6.2 Coordenadas Geográficas

Com a finalidade de encontrar a localização de um ponto no mapa para uma


operação aérea o bombeiro militar especializado deverá dominar o procedimento
para a obtenção das coordenadas geográficas de um determinado ponto.
Tal procedimento consiste em:
a. Localizar o ponto desejado na carta;
b. Localizar as coordenadas geográficas de latitude e de longitude que
estão grafadas nas margens da carta observando a diferença entre elas
(normalmente na casa dos minutos);
c. Com o uso de uma régua, medir as distâncias (em centímetro) entre as
duas coordenadas de latitude e de longitude.
d. Com o uso de uma régua, medir as distâncias (em centímetro) do
ponto desejado até uma dessas linhas de latitude e de longitude.
e. Realizar regra de três simples para encontrar as coordenadas do
ponto, observando os sentidos em que valores estão crescendo ou
diminuindo, conforme figura 143.

157
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 143 - Encontrando as coordenadas geográficas


Fonte: Apostila de noções básicas de cartografia do IBGE

Para exemplificar vamos calcular as coordenadas geográficas (latitude e


longitude) do ponto A na carta da figura acima:
a. Encontrando a latitude (N)
− Localizado o ponto A, temos que as coordenadas geográficas de
latitude encontradas na carta são as 22º 45' 00'' e 23º 00' 00'';
− A diferença entre as duas coordenadas de latitude é de -15' 00'';
− Usando a régua temos que a distância, em cm, entre as duas
coordenadas de latitude grafadas na carta é de 11cm;

158
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

− Usando a régua, temos que a distancia, em cm, do ponto A até a


coordenada 22º 45' 00'' é de 4,5 cm;
− Fazendo a regra de três temos que:
(22º 45' 00'' - 23º 00' 00'') na carta corresponde a 11 cm na régua.
(22º 45' 00'' - N ) na carta corresponde a 4,5 cm na régua.

-15' = 11 cm .
22º 45' 00'' - N = 4,5 cm.

-15' x 4,5 = 22º 45' x 11 - N x 11


11 x N = (22x60' + 45') x 11 + 15' x 4,5
11 x N = 15015' + 67,5'
11 x N = 15082,5'
N = 15082,5' / 11
N = 1371,14'
N = 22º 51' 8,18''

b. Encontrando a longitude (E)


− Localizado o ponto A, temos que as coordenadas geográficas de
longitude encontradas na carta são as 54º 00' 00'' e 53º 45' 00'';
− A diferença entre as duas coordenadas de longitude é de 15' 00'';
− Usando a régua temos que a distância, em cm, entre as duas
coordenadas de longitude grafadas na carta é de 10 cm;
− Usando a régua, temos que a distancia, em cm, do ponto A até a
coordenada 53º 45' 00'' é de 2 cm;
− Fazendo a regra de três temos que:
(54º 00' 00'' - 53º 45' 00'') na carta corresponde a 10 cm na régua.
( E - 53º 45' 00'') na carta corresponde a 2 cm na régua.

15' = 10 cm .
E - 53º 45' 00'' = 2 cm.

15' x 2 = E x 10 - 53º 45' 00'' x 10

159
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

-E x 10 = - 53º 45' 00'' x 10 - 15' x 2


E x 10 = 53º 45' 00'' x 10 + 15' x 2
E x 10 = (53 x 60 + 45)' x 10 + 30'
E x 10 = 32250' + 30'
E x 10 = 32280'
E = 32280' / 10
E = 3228
E = 53º 48' 00''

4.22 Deslocamento orientado

4.22.1 Orientação pela carta

Sabendo-se qual é a direção norte-sul e onde esta, uma pessoa pode se


orientar pela carta, em um processo chamado carta-terreno.
O Processo consiste em comparar as formas de relevo que se vê com a carta,
desta forma se mantendo orientado durante o deslocamento. Para que seja efetivo,
o militar necessita ter um bom domínio da leitura da carta e, desta forma, obter
imagens mentais de como as representações cartográficas se apresentarão no
terreno.
O ideal é que se faça marcações na carta, em pontos estratégicos do trajeto,
para que se possa ter certeza do caminho, assim, caso o militar tenha dificuldades
de navegação, poderá voltar ao ponto anterior para refazer seu trajeto.

160
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.22.2 Azimute-distância

Com o passo aferido é possível montar uma equipe de navegação composta


de, no mínimo, cinco militares cuja finalidade é conduzir a tropa/grupo, com
segurança, até seu objetivo. Cada militar executará uma determinada missão,
denominados: Homem – Ponto, Homem – Bússola, Homem – Passo, Homem –
Carta e Homem – GPS.
Essa técnica consiste em se calcular os azimutes e as distâncias entre os
pontos de referência na carta. O Homem- carta irá realizar essa aferição e passará
ao homem passo a distância e ao Homem- bússola o azimute; O Homem-ponto
servirá de referência para o Homem – bússola dizer a direção do azimute; o Homem-
passo irá aferir a distância entre os pontos através de seu passo e o Homem- GPS
irá traçar o trajeto percorrido.
Essa técnica é muito demorada e pouco produtiva para as operações de
bombeiro.

4.22.3 Através do GPS

Atualmente, no CBMERJ existem 3 modelos de GPS sendo utilizados. Todos


eles tem o mesmo princípio de funcionamento e, mesmo apresentando diferenças
não produzirão dúvidas de operação em um especialista que saiba manusear um
deles.
Existem 3 formas de realizar a navegação pelo GPS: através de uma rota, de
um trajeto e de um track back.

4.22.4 Navegando por uma rota

Rota é o nome dado pelo sistema a um conjunto de azimutes traçados entre


161
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

“waypoints” ( pontos salvos no GPS).Para se navegar ,em modo recreativo, por


esses azimutes basta que o militar acesse uma rota previamente estabelecida ou
acesse a opção “planificador de rotas” e escolha os “waypoints” pelos quais deseja
passar em sua rota.
Após selecionar a rota, será mostrado, na tela do aparelho, uma linha
indicando o azimute até o próximo “waypoint”. O usuário terá dificuldades em manter
sua seta direcional em cima do azimute, porém o objetivo é chegar no ponto
desejado, e não manter-se em cima do azimute.
Caso o usuário mude o modo do GPS para automotivo, a rota será traçada
utilizando-se das estradas salvas no aparelho.

4.22.5 Navegando por um trajeto

Os trajetos são caminhos salvos na memória do aparelho. Para navegar por


esses caminhos basta que o usuário acesse o menu “Gestor de trajectos” e escolha
um trajeto para seguir. Não é possível traçar um trajeto através de “waypoints”.
Ao iniciar o trajeto, aparecerá um caminho na tela do aparelho. Basta seguir
com a seta de navegação do aparelho sobre o caminho, que o especialista chegará
ao ponto desejado.

4.22.6 Navegando através de track back

Os aparelhos de GPS salvam o trajeto percorrido automaticamente enquanto


estão sendo utilizados. Caso o militar deseje voltar ao ponto inicial ou algum ponto
previamente percorrido durante sua navegação, basta que ele utilize o menu da tela
de navegação e escolha a opção “track back” ou “voltar”, dependendo do aparelho.
Isso fará com que, mesmo que não houvesse um trajeto salvo anteriormente, se
consiga navegar de volta pelo trajeto feito na ida.

162
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ANEXO 1 – NÓS E VOLTAS

Características comuns a todos os nós e que são exigidas para que ele seja
um bom nó serão: Fácil confecção, cumprir bem a função a que se destina, ser
seguro e fácil de desatar. Uma observação pertinente é a de que se um nó estiver
trepado o mesmo estará comprometendo a resistência do cabo onde foi
confeccionado.
A seguir veremos os nós essenciais, da figura 144 à 162:
Figura 144 - Fiador

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 145 - Pescador

Fonte: Manual
Técnico de Montanhismo do CBMERJ

163
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 146 - Direito

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 147 - Escota simples

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 141 - Pescador de correr

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 148 - Encapeladura simples

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

164
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 149 - Catau de reforço

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 150 - Lais de guia

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

165
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 151 - Azelha equalizada

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 152 - Azelha simples

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 153 - Pata de gato pelo seio

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

166
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 154 - Azelha dupla

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 155 - Pata de gato pelo chicote

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 156 - Moringa

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

167
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 157 - Fiel

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 158 - Boca de lobo pelo seio

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

168
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 159 - Boca de lobo pelo chicote

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 160 - Balso pelo seio fixo

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

Figura 161 - Balso pelo seio de correr

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 162 - Frade

Fonte: Manual Técnico de Montanhismo do CBMERJ

170
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ANEXO 2 – HISTÓRICO

A rápida evolução das sociedades humanas, o vertiginoso processo na


área tecnológica, industrial e de urbanização, contribuíram para as crescentes e
insaciáveis necessidades do homem; entretanto, os prejuízos causados à natureza,
ativaram a consciência de que algo deveria ser feito, a fim de compatibilizar o
crescimento e a melhoria de qualidade de vida da população e a preservação do
ecossistema. Por isso, as Autoridades constituintes estaduais, preocupadas com a
destruição do Meio Ambiente e, em especial, com os incêndios florestais, face aos
grandes danos causados por estes, inseriram na Constituição Estadual, promulgada
em 05 de outubro de 1989 em seu Capítulo VII – Do Meio Ambiente, Art. 268,
Parágrafo 1º n.º. XXVI, o seguinte texto:

“Criar, no Corpo de Bombeiros Militar, Unidades de Combate a Incêndios


Florestais, assegurando a prevenção, fiscalização, combate a incêndios e controle
de queimadas”.

Em fevereiro de 1990, um incêndio florestal ocorreu na Reserva Biológica


de Poço das Antas, localizada no Município de Silva Jardim. Embora a participação
do CBMERJ tenha sido definitiva para o controle e a extinção do incêndio, cerca de
3.000 hectares da mata nativa foram destruídos pela ação do fogo, quase levando
os micos leões-dourados, espécie em extinção que ainda habitava a região, ao
extermínio. Este fato motivou um convênio entre o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA e o Governo do Estado do Rio de
Janeiro estabelecendo, através do auxílio mútuo a prevenção e o combate a
incêndios florestais, através do CBMERJ, em todas as Unidades de Conservação do
IBAMA.

Em 10 de março de 1990, foi desativado o Núcleo do Centro de Pesquisas,


e implantando em suas instalações o 1º Grupamento de Socorro Florestal e Meio
Ambiente – 1º GSFMA, local que após sofrer reformas estruturais, foi inaugurado em
07 de novembro de 1990, pelo Exmº. Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro,
171
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Dr.º. WELLINGTON MOREIRA FRANCO, tendo como seu primeiro Comandante o


Ten Cel BM CARLOS ALBERTO MADEIRA DE MAGALHÃES.

O 1º GSFMA, através dos anos, vem participando decisivamente na


ampliação do poder operacional da Corporação, em face de ser uma Unidade
Escolar de Apoio ao Ensino e Instrução, bem como uma Unidade Especializada,
frente aos incêndios em vegetação e no salvamento em montanhas, através dos
Cursos de Salvamento em Montanhas (CSMont) e o de Prevenção e Combate a
Incêndios Florestais (CPCIF).

Recentemente, nos meses de março e abril de 1998 o poder operacional


do 1º GSFMA em uma atividade de apoio e de Defesa Civil, deslocou 119 militares
para combater os incêndios florestais que assolaram o Estado do Roraima; além de
equipamentos específicos e viaturas operacionais, tendo sido o Plano de Operações
elaborando por Oficiais deste Grupamento que fizeram o Curso de Prevenção e
Combate a Incêndios Florestais, além dos Cursos de Gerenciamento de Desastres
do Serviço Florestal dos Estados Unidos da América, que foram seguidos por
Corporações de Bombeiros Co-irmãs, haja visto terem sido os Oficiais do 1ºGSFMA
os primeiros bombeiros a apoiarem o Governo daquele Estado, realizando vôos de
reconhecimento para posterior confecção da estratégia de combate.

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