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12 Monografia - Zingara Merice
12 Monografia - Zingara Merice
São Luís
2005
São Luís
2005
13
88 fls.
Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
__________________________________________
2° EXAMINADOR
__________________________________________
3° EXAMINADOR
15
A Deus.
Aos meus filhos.
16
Oh! Homem,
Eu estou sempre contigo,
Porque quando ouvires a tua
consciência,
É a minha voz;
Quando a natureza ficar zangada,
Sou eu te avisando;
Quando os pingos da chuva
Caírem sobre tua cabeça,
São as minhas lágrimas;
Quando ouvires a corrente dos rios,
É o meu murmúrio;
Quando olhares as estrelas piscando,
Sou eu te chamando;
Quando ouvires os pássaros cantando,
É o meu hino;
Quando a brisa soprar o teu rosto,
É o meu beijo;
Quando o crepúsculo for caindo,
É a minha tristeza;
Quando a manhã for nascendo,
É a minha alegria;
Portanto, mesmo que me esqueças,
Eu estou junto de ti.
AGRADECIMENTOS
Vieira!
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RESUMO
ABSTRACT
In this essay will be showed a biographical profile of the poet and composer of the
Maranhão Antonio Vieira like art and expression of the Maranhão music. Will have a
study of all his life trajectory, since his birty until our days, emphasizing his peculiar
characteristics of artist, his artistic-musical course, his great partness and successes.
Based in researches and interviews, will explain the magnitude and the singularity of
the poetry in the poetic-musical work of this illustrious man of the Maranhão.
LISTA DE FIGURAS
p.
LISTA DE ANEXOS
p.
SUMÁRIO
p.
1 INTRODUÇÃO
2 A LUZ
2.1 O Nascimento
demais histórico, assim parecia sorrir à-toa, mas não era para menos, era
Vieira. Nasceu em uma casa meia morada na antiga Rua de São João, muito
foram Wilson Vieira e Itamar Farias. Nasceu mais uma pérola intocável da
2.2 A Família
um menino pobre criado por família de posse”. Quando estava com um ano de
idade, a pedido de seus padrinhos João Batista Alves Lomba e sua filha Odila
quais foram os principais responsáveis por sua educação e criação. Não lhes
faltaram cuidados e carinho, bem como conforto, que lhe era proporcionado via
pai adotivo foi por longos anos o Chefe da Tipografia da estrada de Ferro São
cidade à época.
família adotiva aqui no Maranhão. Mas tem ainda um irmão de criação, Durval
Alves Duarte Lomba, psicólogo que reside já há muito tempo no Paraná, o qual
após longos anos sem mandar notícias, se manifestou em 2003, por ocasião
e Isabel Vieira Parada e uma sobrinha, Raimunda Helena Vieira Parada. Teve
Vieira está resumida às duas irmãs e a sobrinha. Reside na Rua Teófilo Dias,
188 – bairro do Monte Castelo, onde divide a morada com a irmã Isabel, a
portanto muito estimado por eles, principalmente por suas irmãs, que o
agradecimento:
29
[...] Agradeço a Deus pela família que tenho, principalmente pelo meu
irmão primogênito, Antonio Vieira, por ser amigo, compreensível,
sempre disposto a nos ouvir. É um raio de luz em nossas vidas, com
muita experiência adquirida na batalha diária. Com grande
capacidade de comunicação, linguagens claras, cultas e simples,
cada composição sua é um poema, onde se sente a sensibilidade do
compositor Antonio Vieira, em um trabalho desenvolvido com talento e
amor. (Isabel Vieira Parada apud CARACAS, 2003: 24).
com todo o carinho e o conforto que lhe eram dados por sua família adotiva,
jamais esqueceu as suas origens e raízes. Era sagrada a sua visita aos
Vieira, Lourival e Durval Alves Duarte Lomba, esses dois últimos eram netos do
uma época que deixou enorme saudade das brincadeiras nas ruas, sem o
mínimo de medo disso ou daquilo, era uma época da São Luís provinciana,
pacata e fraternal. Assim, jogou bola nos paralelepípedos, nos largos, nas
praças, nas fontes e nas coroas das marés em vazante; brincou de peteca,
maneira, não foi o moderno que lhe incentivou para compor “Papagaio de
(...)
(...)
VOU LANCEAR
É DE VIDRO FINO
MATOU, CORTOU
(...)
acordar, estudar, brincar e dormir. Não se tinha a liberdade que se tem hoje”.
formação.
era bastante comedido nas suas diversões, dava prioridade à praia e as seções
daquela época, o “Automóvel Futebol Clube”, onde se destacou por sua boa
agradável e por muito tempo teve criação de pombos, no que aproveitava para
32
2.4 A Escolarização
sua família, a qual lhe proporcionou os melhores meios possíveis para uma
Vieira, ele sempre fora muito bom aluno, possuidor de uma inteligência
privilegiada, sua performance era sempre ganhar, não por ser exímio
estudioso, porque não o era, mas sim pela força de sua inteligência que lhe
esclarece que:
Simples em tudo que fez e faz, o Mestre Antonio Vieira deixar florir
o conhece, mesmo com o mais ínfimo período de tempo dar para conceber a
defesa das coisas e da gente de seu torrão. Desta forma, o resgate das raízes
primas de sua filosofia de vida, não se casou, estando solteiro até os dias
atuais em virtude de que, no seu entender, não ter tido em momento algum a
labor é voltado para dar conforto ao seu lar, antiga moradia do seu pai
biológico.
35
para dar uns passeios, conversar com amigos e conhecidos. Existem pontos
de seu amigo Dácio Melo, localizada na Praia Grande ao lado do Viva Cidadão.
Ali se encontra com amigos, recebe recados, quando chega o ambiente vira um
logo muito cedo. Tudo andava no mais perfeito entendimento quando o jovem
Antonio Vieira tinha seus exatos dezesseis anos, mas nem tudo no seu jardim
dos primeiros passos foram flores e o seu pai de criação veio a falecer nessa
época, e, para completar a mudança radical que se daria em sua vida dali em
diante, a sua madrinha, Odila, que era filha do padrinho e mãe de criação,
casou-se. E foi assim, dentro desse cenário familiar que o jovem Vieira voltou a
morar com seus pais biológicos. Deixou um sobrado confortável situado à Rua
que trabalhar, e o fez com prazer, pois como ele mesmo afirma: “Trabalho faz
Assim lhe foi arrumado uma atividade após o seu horário da escola
Lisboa. Não deu nem para sentir maiores gostos pelas peças automobilísticas,
escritório, local em que construiu uma grande amizade com o tão saudoso
Haroldo José Rocha de Moraes Rego, que era filho do Diretor Presidente desta
teve através do convite do seu particular amigo Dr. Domingos Silva Costa,
Patrimônio, exercendo tal função por oito longos anos, onde teve convívio com
e de ciências contábeis ao hoje Dr. Manoel Rubim da Silva, filho do seu antigo
patrão.
4 O ARTISTA
com a música, é de longas e eternas datas, vem desde a sua infância quando
Ribalta e Smile (que em português quer dizer Sorrir) permanecem até hoje em
herança do seu pai biológico, o qual se destacou como um dos bons cantores
nas românticas serenatas das rodas boêmias, em que muitas vezes era
contrabaixista Roque, que mais tarde afirmou para o próprio mestre Vieira que
irreversível. Assim, com apenas 16 anos de idade, sem ainda saber tocar
MULATA BONITA
E O CORPO GINGANDO
E SABE SAMBAR
ELA SAPATEIA
NA RODA DE SAMBA
MACHUCANDO A GENTE
ELA ME CONQUISTOU
inéditas.
43
exatamente por falta de chance, apoio e outros tantos fatores. Por isso acabam
cenários não foram diferentes para o Mestre Antonio Vieira, apesar de sinais de
Sua construção musical vem de longas datas, dos idos de 1942, que
com louvores. Assim cantou a primeira vez em público, fazendo a primeira voz
com a sua voz, meiga em tal momento e grave em outros, por essa
44
faz chorar”.
Lua, porém Antonio Vieira resolveu deixar o grupo e se dedicar às suas belas
naquela década de 40, fez com que as suas produções musicais fossem
Ponto e Vírgula, composta por Othon Santos e Jorge Barros. Tinham tal
surge o convite da dupla a Antonio Vieira, para que este fizesse parte do grupo,
que já estava há dezoito anos no mundo artístico. Desta maneira, ele passou a
retirado das iniciais de Jorge Barros, o qual era o responsável pela abertura
nome. Ainda nos anos 70, mestre Vieira brilha como percussionista e, em 1978
intitulado Lances de Agora, disco esse produzido por Marcos Pereira que teve
Rayol, Paulo Trabulsi, Fernando Vieira e Adelino Valente, desta maneira acaba
dissolveu.
gigantesco trabalho de pesquisa lança uma obra inédita no ramo dos costumes
maranhense com seu cantar. Sobre esse trabalho realizado por Antonio Vieira
anos de idade, utiliza o método autodidata e aprende a tocar violão. Por isso,
realizou uma temporada nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, com
Cabecinha da Dora.
memória Pedro Giusti, foi incluído como uma das faixas do compacto duplo que
depoimento sobre essa trajetória de Antonio Vieira até a sua primeira gravação:
nunca se envaideceu com isso, pois sempre soube lidar com as luzes do palco:
grandes sucessos nas vozes de vários intérpretes como Rita Ribeiro, que
conta o mestre Vieira que a inspiração que teve para compô-la foi as brigas
que a sua madrinha e mãe de criação Odila Alves Lomba tinha com ele todas
às vezes na hora do almoço quando ele não comia tudo e esta sempre lhe
dizia: “Antonio, come tudo. Se tu não quer tem quem queira” e colocava a
comida quase toda para o cachorro. E foi dessa maneira que surgiu a música
Tem quem queira, que se tornou um grande sucesso nacional, sendo, inclusive
Música no Maranhão, mas não era pra menos, pois o mestre Vieira sempre
esbanja sabedoria, talento e simplicidade por onde passa. E foi assim, com
esse jeito de menino faceiro que sabe o que faz que, por volta de 1997 sua
estrela começa a brilhar mais forte e mais alto, despontando para grandes
hoje já falecido, que também era conhecido como Chaminé. A música românica
com a gravação das músicas Cocada e Tem quem queira a nível nacional,
50
sucesso em todo o Brasil. Não tardou para serem confirmadas tais colocações,
pois em 1998 a música Cocada cantada por Rita Ribeiro galgou o 2º lugar no
mestre Vieira até então tinha somente uma única música ao nível de Brasil, que
Antonio Vieira e Lopes Bogéa, outras onze músicas baseadas nas brincadeiras
depoimento:
show titulado de Múmias que Cantam, onde estavam Antonio Vieira e seu
com oitenta anos de idade, mas ainda com enorme disposição e com uma
paixão redobrada pela música. Foi o show Papel de Seda que reuniu Antonio
que, mesmo com características marcantes, são duas gerações distintas dessa
produz o show O Samba é Bom, realizado no Teatro Arthur Azevedo nos dias
nível nacional Sivuca e Elza Soares e dos maranhenses Rita Ribeiro, Zeca
Antonio Vieira, que, aos 81 anos cantou e encantou a imensa platéia presente
gravado ao vivo, foi lançado a nível nacional pela Elo Music, de Milliet e Paulo
projeto:
Desde que conheço Seu Vieira, que penso em fazer um disco dele, só
dele, que revisse toda a sua obra, desde as primeiras canções até as
mais recentes. Sempre que falava no assunto com ele, sentia que ele
não levava muita fé no projeto. Até que um dia se deu. Quando vi, já
estávamos todos, músicos, produtores e entusiastas do seu trabalho,
todos envolvidos até o pescoço com a idéia (irrealizável para alguns!)
de fazer um CD ao vivo, com participações de outros grandes artistas,
gente que tinha alguma importância na vida e na carreira de Vieira.
Obviamente não poderia faltar Rita Ribeiro, que havia gravado
“Cocada” e “Tem quem queira” no seu primeiro disco; nem Célia
55
conhecido do Mestre Vieira desde a época do grupo musical Tira Teima, onde
Popular Maranhense para fazer parte desse novo trabalho, que foram: Célia
Maria, Luiz Mochel, Léo Capiba, Cláudio Lima, Anna Cláudia, Zeca do Cavaco
Zeca Baleiro, Lúcia Faia, Letice Valente, Josias Sobrinho e Chico Saldanha.
Adelino Valente:
especialmente pelo seu parceiro Zeca Baleiro para realizarem uma turnê de
inúmeras matérias foram publicadas nos mais diversos jornais a seu respeito,
porém o ponto mais alto foi a entrevista feita por Marilia Gabriela no programa
De frente com Gabi, em que o mestre Vieira, com sua simplicidade falou de
suas composições e do seu amor pelas coisas de sua terra. Antes de retornar
para o Maranhão, mestre Vieira ainda faz uma parada na capital federal –
vários títulos e troféus, como por exemplo, o Prêmio Universidade 2002 nos
méritos no cenário musical nacional e uma das provas mais recentes desta
trajetória, porém serão citadas apenas algumas das várias condecorações que
já teve.
Esses oitenta e cinco anos sabiamente vividos com o seu enorme amor pela
compor, com muita honra um gingle para o guaraná Jesus, que assim como o
hino desta instituição, em dezembro de 1997. Possui ainda uma placa afixada
no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, uma que lhe foi oferecida
pelo grupo de pagode Força Maior, como forma de agradecimento e uma outra
60
que lhe foi concedida pela Câmara Municipal de São Luís por sua contribuição
Doce, que, com esse projeto, foi premiada em oito categorias e recebeu o
Doce). Foi a partir desse projeto que o cantor, compositor e poeta Antonio
música maranhense.
Após tanto tempo e uma longa carreira, não será tarde demais para
que os brasileiros reconheçam que a obra de Vieira merece destaque
na ala dos grandes compositores brasileiros. Agora todos poderão
dizer: O Samba é Bom! Melhor é Vieira.
E, por último, esta singela biografia que ora faço intitulada Antonio Vieira: Arte
sobre o mestre Vieira, Felipe, com a clareza de quem sabe o que diz, afirma:
raça. A homenagem teve por tema São Luís, minha cidade sonora e foi
5 VIDA
uma vida saudável, desde a sua infância e mantém até os dias atuais. Tem o
hábito de dormir cedo e gosta de roupas leves e claras, não muito formal. E
sobre esse hábito ele afirma: “Não gosto de andar apertado. Sem dinheiro sim,
apertado não. A vida é leve. A gente é que aperta ela”. Raramente usa
para tudo”, declara o mestre. Porém atualmente a comida mais consumida por
ele é cozido de peixe por ser mais saudável e aconselhável para a sua idade.
ser goleiro de futebol de campo. É tão bom desportista que até hoje pratica
exercícios físicos. O seu horário para se exercitar é sagrado, das nove às dez
relacionam como se fosse o cordão umbilical que liga a mãe ao bebê que está
5.1 Lembranças
de sua época nas tradicionais ruas são-luisense, de onde retira até hoje, devido
canções, como A doceira, música que retrata a negra velha da esquina que
vendia os deliciosos doces que até hoje o mestre Vieira lembra com saudade:
(...)
(...)
idade e de quando cantou em público pela primeira vez num show do quinteto
Anjos do Samba por volta de 1942. Até então não aceitava que também sabia
cantar, assim como chegou a pensar que talvez não aprendesse a tocar violão
66
aos sessenta anos, porém quando começou a tocar nunca mais parou. Aliás,
antes, nunca teve o seu sustento através da música. Desta Maneira, são
a ouvi seus grandes ídolos na rádio Timbira e na Rádio Nacional: “No tempo de
Francisco Alves e Orlando Silva não era qualquer um que cantava, precisava
ter coragem”.
Lopes Bogéa, um importante marco em sua vida, pois lhe ajudou não só como
artista, mas como pessoa, uma vez que ao falar e cantar as coisas de pessoas
simples como os pregoeiros, ele via aguçar ainda mais a sua sensibilidade
como ser humano, principalmente por ter feito esse trabalho com um amigo
que ele sempre admirou e admira. É nesse rol de sentimentos que o mestre
Tira Teima, o qual marcou a vida musical de São Luís por mais de uma
Guesta. Foi uma das quatro canções a integrar o compacto duplo titulado
gravação pela cantora maranhense Rita Ribeiro, de sua música Cocada. São
inúmeros shows que lhe marcaram muito, como o Múmias que Cantam!
show Papel de Seda, em que dividiu o palco com César Teixeira. Com 81 anos
vida, com o Teatro Artur Azevedo lotadíssimo por dois dias, cujo show foi
Rita Ribeiro, Célia Maria, João Pedro Borges – Sinhô – e Zeca Baleiro,
sentidos, seria repetir muito o que já se narraram nos demais itens do texto
deste trabalho. Ainda bem que a vida do mestre Antonio Viera está sendo
suas lembranças não venham a ser unicamente suas, mas do Maranhão e dos
De tudo o que foi dito até agora sobre o artista Antonio Vieira,
cidade de São Luís, ou melhor, como ele mesmo denomina em muitos de seus
[...] Minha obra é toda em cima do que vejo, do que ouço, do que
sinto. Eu não componho nada à toa. Uma folha se estiver caindo,
aquela folha de outono, com princípio de poesia na queda dela, eu
componho em cima daquilo... A influência do Maranhão sobre a minha
obra é muito grande. O Maranhão tem um grande artista chamado
Ubiratan Sousa. Ele é um estudioso e um grande compósito. Então
ele disse que no Maranhão tem 45 ritmos. Eu, pó exemplo, não tive
tempo de estudar a música do Maranhão. Mas ele passou a vida dele
estudando, olhando os ritmos, arranjando os ritmos. A música do
Maranhão é muito rica. Só quem pode saber disso é quem vem aqui...
Então, como eu sou filho do povo, de origem negra, sabe como é!
Tudo do que eu ouço, às vezes uma frase, um dito simples pela rua, é
fonte de inspiração e assim tenho sido feliz nas minhas composições
e na minha vida...
CHAMADO TURY-TURY
(...)
NA LOUCURA MERGULHOU
(...)
pelas ruas e becos. O poeta Antonio Vieira canta e retrata essas belezas, mas
não esquece das mazelas de sua terra. No samba intitulado Zé do lixo ele
(...)
(...)
(...)
72
7 DEPOIMENTOS
local, estadual e nacional sobre o Mestre Antonio Vieira, inclusive, muitos deles
enriquecem já o computo desta monografia, mas optou-se por citar outros com
Falar de Antonio Vieira é uma coisa simples como ele sempre foi. A
primeira vez que o vi foi no Governo do Dr. Paulo Martins de Sousa
Ramos, Interventor Federal do Estado do Maranhão, em 1940.
Quando da inauguração da rádio, situada na Rua 13 de Maio, esquina
com a Rua da Misericórdia, na Praça do Mercado Central, onde
funcionava a imprensa oficial do Estado, eu era um “macaco de
auditório”. Assim eram chamadas as pessoas que freqüentavam a
emissora. Assistindo à programação, encontrei Antonio Vieira, que
fazia parte do conjunto musical intitulado “Anjos do samba”, por sinal
um dos melhores conjuntos musicais da época. Depois em outra
oportunidade, encontrei-o na Praça João Lisboa, conversando com
75
FIGURA 11: ANTONIO VIEIRA SENDO ENTREVISTADO PELA FORMANDA ZÍNGARA PAVÃO
Antonio Vieira com referência a sua vida e a sua obra. Com relação a sua
citação:
música muito cedo. Desde quando fez a música Mulata Bonita, aos dezesseis
“melhor canção” de 1997, conquistado pela sua música Cocada gravada por
Não pensei que fosse chegar a esse grau não. Mas acredito no meu
trabalho e tenho outras tantas cocadas aqui... Quem ouve meu disco
solo, que já falamos sobre o mesmo, o nome dele é “O Samba é
Bom”, ouve algumas jóias que eu tenho, cantadas por mim e por
outros cantores como a Célia Maia, uma grande cantora que a gente
tem; a Rita Ribeiro, que você conhece; o Zeca Baleiro, que o Brasil
conhece; o Sivuca, que esteve aqui acompanhando e a Elza Soares.
Ela esteve aqui e cantou três músicas minhas...
inseparável do poeta-compositor.
Porque o meu forte não é o samba. A questão é que tudo o que faço
agrada. O que eu faço são canções, que tenho muitas canções
bonitas. Esse “Poema para o Azul” é uma canção. Essa canção é tão
bonita que uma vez passou por aqui um flautista, o Copinha, hoje
falecido, e ele chegou e me elogiou o trabalho. Ele disse: “olha você
já é um grande compósito dessa terra”. Ele ficou maravilhado. A
música é simples: O mar é verde azul / o céu é mais azul / O céu é
irmão do mar / E o azul é que os foi ligar // Eu que amo o céu / eu que
gosto do mar / Não sou pelo menos azul / Pra com eles me identificar.
Eu não complico nada. Nem a minha vida. Minha vida é uma vida
muito simples.
pois sempre que comenta sobre sua obra, cita Chaplin como sendo o maior
como relata:
sua velha e inarredável companheira, declara: “Nunca vivi dela, não. Sempre
tive outras funções. Aqui na nossa região ninguém pode viver somente da
Esse período foi uma época de ouro dos cantores brasileiros, quando
imperavam Francisco Alves e Orlando Silva. Um tempo em que eu
não tinha a audácia de cantar, como hoje canto. O nível era muito
alto. Hoje qualquer pessoa canta. Tem os recursos eletrônicos com os
quais se corrigem os defeitos. Naquele tempo, não. O individuo tinha
que ser bom mesmo... Atualmente é uma época diferente. Você sabe,
a evolução nunca é tão ruim como a gente pode pensar. E dá
saudades, porque a gente percebe que naquela época tinham mais
valores do que hoje. Essa é a verdade. Tem mais quantidade e
menos qualidade.
81
do próprio Vieira:
[...] uns quatro programas do Rolando Boldrin em São Paulo, que era
um programa muito bom. Depois disso eu comecei a ser mais
procurado. Fui umas quatro vezes a São Paulo. Um número que
agradou bastante foi justamente a música Cocada... Quando o
governador era Paulo Maluf e ele fez uma festa da mocidade, onde de
cada estado foi um grupo de valores. Mas eu fui para São Paulo não
como cantor e compositor, fui como percussionista. Colocaram-me
para cantar um número e eu fiz a música Cocada, que agradou muito
o público. Foi assim: Tinha um canto chamado Dércio Marques, um
mineiro radicado na Bahia, que quando virou uma fita minha ficou
impressionado com a letra da música. Fui apresentado a ele nessa
época e ele que me levou ao Rolando Boldrin. Foi por isso que
comecei a fazer o programa dele. Nessa época conheci o Tom Zé,
conheci de perto também o Gonzagão, Quinteto Violado, Demônios
da Garoa e Paulinho da Viola. Esse pessoal todo fazia o Som Brasil e
num aniversário do programa eu também participei e fui eu quem
encerrou o programa em alto astral...
Antonio Vieira fala pela primeira vez de seu novo projeto, que é uma
toda a sua vida, cujo título será Contos fantasmagóricos. Esse projeto, segundo
conviver com o mestre Vieira, que dentro de tudo aquilo que fora narrado,
sua maior fonte de inspiração, que transforma um caso banal em poesia e que,
além de ser um apaixonado pelas coisas de sua terra, se orgulha em ser o que
9 CONCLUSÃO
fora dito, muito mais se poderia dizer ainda sobre a vida, a geniosidade de
música. É alguém que sabe o que faz e porque faz, que tem revelado muito
sobre “as coisas do Maranhão”, sobre aquilo que existe de melhor nesta terra
que gosta da vida e de viver, e que sabe como eternizar com suas simples
povo, com características peculiares que fazem com que toda a sua plenitude
oprimida.
84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOGÉA, Lopes e VIEIRA, Antonio. Pregões de São Luís. São Luís: Edições
FUNC. 1980. 112p.
BOGES, Robinson. Aos 82 anos, Antonio Vieira lança seu primeiro CD. Valor
Econômico. São Paulo, 16 maio 2002. Eu & Cultura p. D 6.
CARA, Sal ete de Almeida. A poesia lírica. 3ª ed. São Paulo: Editora Ática
S.A. 1989.
TEIXEIRA, César. Antonio Vieira: um artista todo raiz. Jornal Pequeno, São
Luís, 222 mar. 2002. n.4, p.2. Suplemento Cultural e Literário Guesa Errante.
ANEXOS
87
ZÉ DO LIXO
ZÉ DO LIXO
VOCÊ SOFRE COMO QUE
LIMPANDO A CIDADE
NINGUÉM LIGA PRA VOCÊ
BALAIO DE GUARIMÃ
A DOCEIRA
E NÃO-ME-TOQUES E AS PASTILHAS
QUE OFERECIA QUANDO EU NÃO TINHA TOSTÃO
EU NÃO SABIA QUE ERA MAIS DOCE
SE OS SEUS DOCES OU O SEU CORAÇÃO
CHORAR
CHORAR
É O QUE DEVEMOS FAZER
PORQUE TUDO O QUE HOJE NASCE
AMANHÃ IRÁ MORRER
CHORAR
PORQUE A VIDA É UMA ILUSÃO
E O RISO QUE SE DÁ
NÃO CONTÉM A COMPAIXÃO
A BALSA
BARQUINHO DE PAPEL
COCADA
DEPOIS SATISFEITO
DE TANTA DENTADA
NA BOCA DE TODAS
EU ME DERRETIA
AÍ NOVAMENTE
EU ABRIA UM BORACO
METIA OS PÉS DENTRO
COM TODA ALEGRIA
90
VIRAVA COQUEIRO
COLHIA MEUS COCOS
RALAVA ELES TODOS
FAZIA TACHADA
COM CRAVO E AÇÚCAR
E FICAVA ROXINHO
FICAVA DOIDINHO
PRA SER MAIS COCADA
OH! SE EU PUDESSE
VIRAVA COCADA
MARANHENSIDADE
ISSO É A VERDADE
ISSO É A VERDADE
ISSO É MARANHENSIDADE
MULATA BONITA
MULATA BONITA
COM LAÇO DE FITA
E O CORPO GINGANDO
E SABE SAMBAR
CHINELAS SEM MEIA
ELA SAPATEIA
NA RODA DE SAMBA
ELA VAI CANTAR
MACHUCANDO A GENTE
COM SUA VOZ DOLENTE
COM ESSES ENCANTOS
ELA ME CONQUISTOU
MULATA BONITA
91
BONITA MULATA
VOCÊ É UM AMOR
NA CABECINHA DA DORA
NA CABECINHA DA DORA
MEU PENSAMENTO CONCENTRO
TEM MUITO ROLO POR FORA
E POUCO MIOLO POR DENTRO
NA CABECINHA DA DORA
MEU PENSAMENTO CONCENTRO
TEM MUITO ROLO POR FORA
E POUCO MIOLO POR DENTRO
PAPAGAIO DE PAPEL
QUANTA LEMBRANÇA
DO MEU TEMPO DE CRIANÇA
QUANDO VEJO PAPAGAIOS
PAPAGAIOS DE PAPEL
DANDO GUINADA
NA MANHÃ ENSOLARADA
ALEGRANDO A GAROTADA
E COLORINDO O CÉU
ARRIBA RIBINHA
QUE EU PUXO A LINHA
O VENTO SOPRA
E O PAPAGAIO EMPINA
VOU LANCEAR
REPARA RIBINHA
QUE EU VOU LANCEAR
EU ENTRO POR CIMA
MEU CEROL É BOM
É DE VIDRO FINO
MATOU, CORTOU
E FOI ASSIM
MAIS UM PAPAGAIO QUE ESTICOU
SÓ RESTA AGORA
NA AMPLIDÃO DESTA LEMBRANÇA
UM COLORIDO PAPAGAIO
PAPAGAIO DE ILUSÃO
DANDO GUINADA
NA MANHÃ ENSOLARADA
92
O SAMBA É BOM
O SAMBA É BOM
MELHOR SOU EU QUE GOSTO DELE
O SAMBA É BOM
MELHOR SOU EU
O SAMBA É BOM
MELHOR SOU EU QUE GOSTO DELE
O SAMBA É BOM
MELHOR SOU EU
O SAMBA É BOM
COM CAVAQUINHO E VIOLÃO
E TAMBÉM PRA SE FAZER A MARCAÇÃO
O SAMBA É BOM
MELHOR SOU EU QUE GOSTO DELE
O SAMBA É BOM
MELHOR SOU EU
O SAMBA É BOM
SE TEM CABROCHA PRA BAILAR
SE O SAMBA É BOM
NÃO SE TEM HORA PRA ACABAR
TURY-TURY
E O MENINO SÓ GOSTAVA
DE NA MATA IR BRINCAR
SEM SABER QUE HAVIA UM SER
QUE QUERIA LHE ROUBAR
O SEU PAI SEMPRE DIZIA
NÃO VÁ NELA SE METER
NESSA MATA TEM MISTÉRIOS
QUE NINGUÉM PODE ENTENDER