Você está na página 1de 92

“Não há nada no mundo que

esteja melhor repartido do que


a razão; toda a gente está
convencida de que a tem de
sobra”

René Descartes
“A FORMAÇÃO NO FUTSAL”

Porto, 22 de Outubro de 2004


Orlando Duarte

orlando_duarte@netcabo.pt

orlando.duarte@clix.pt
SABER O QUE TRABALHAR
EM CADA ETAPA DE
APRENDIZAGEM
ETAPAS DE APRENDIZAGEM

06 – 10 Anos (Iniciação)

11 – 14 Anos (Pré-Especialização
Especialização)

15 – 19 Anos (Especialização
Aperfeiçoamento)
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(6 - 10 Anos)

1 - Perfil Biológico:
 Crescimento estável e progressivo.
 Desenvolvimento das capacidades
coordenativas, mais especificamente,
coordenação e equilíbrio.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(6 - 10 Anos)
2 – Capacidades Motoras:
Capacidade Conteúdos
Não realizar trabalho específico.
Força Trabalhar destrezas básicas e gerais.

Trabalhar velocidades de reacção e de execução.


Velocidade Maturação das células nervosas.

Trabalho de resistência aeróbia.


Resistência Aquisição mediante o jogo.
Regula-se inconscientemente.

Perde-se com o tempo.


Flexibilidade Capacidade articular elevada.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(6 - 10 Anos)
3- Preparação Técnica:
 “Ferramenta” do jogo (diferentes tipos de
passe e recepção), promover o contacto com a
bola.
 Familiarização com o campo e com a bola (bola
adaptada).
 Noções de tempo e espaço.
 Tudo baseado no Jogo (jogos reduzidos/jogos
lúdicos).
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(6 - 10 Anos)
4- Preparação Táctica:
 Diferenciar defensor/atacante.
 Princípios do conceito de cobertura ofensiva.
 Marcação individual.
 Bolas paradas.
 Jogadas combinadas com pouco tempo de
execução.
 Estar, sempre que possível, atrás da linha da
bola.
 Não especializar nas diferentes posições.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(6 - 10 Anos)
5- Preparação Psicológica:

 Criança egocêntrica.
 Não tem capacidade de abstracção.
 Não compreende, imita (treinador é o
exemplo).
 Níveis de atenção muito baixos; estimular esta
capacidade.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(6 - 10 Anos)

6- Metodologia de Treino:

 Muitos jogos (variedade).


 Muitas bolas.
 Eliminar tempos de espera.
 Não encher os atletas de teoria.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
1 - Perfil Biológico:
 Cresce mais em largura do que em altura.
 Maior equilíbrio e coordenação.
 Aparecimento da puberdade e PVC (pico de
velocidade de crescimento).
 Idade cronológica e não fisiológica.
 Desarmonia do corpo.
 Fragilidade de estruturas (crescimento exagerado).
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
2 – Capacidades Motoras (1ª Fase):
Capacidade Conteúdos
Melhorar a coordenação inter e intra muscular.
Força Não realizar trabalho específico.
Trabalhar destrezas básicas.
Trabalhar velocidade de reacção e execução.
Velocidade Maior coordenação neuromuscular.

Trabalho de resistência aeróbia.


Resistência Aquisição mediante o jogo.
Esforços até 5’’.

Perde-se com o tempo.


Flexibilidade Diminuição da capacidade articular/aumento da massa
muscular.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
2 – Capacidades Motoras (2ª Fase):
Capacidade Conteúdos
Aumento da massa muscular.
Força Hipertrofia muscular.
Diminui velocidade de reacção e execução.
Velocidade Aumenta a velocidade de deslocamento (devido à
hipertrofia muscular).

Combina esforços aeróbios/anaeróbios.


Resistência Esforços até 10’’.

Aumento da secção muscular.


Flexibilidade Evita lesões.
Aumenta elasticidade dos músculos.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
3 - Preparação Técnica:
 Etapa fundamental para a aprendizagem
técnica (todos os fundamentos básicos).
 Técnica é equilíbrio e coordenação.
 Jogos e competição adaptados à idade
(espaço; tempo; regras).
 Aprendizagem inteligente do movimento
(percebe quando faz um passe bem ou mal;
introspecção).
 Ganha autonomia e autocontrolo.
 Jogos que contenham competição.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
4.1- Preparação Táctica:
 Assimila, analisa e sintetiza conceitos básicos.
 Estimulação à capacidade de decisão (não
devemos falar muito com eles mas sim incitá-
los a tomar decisões).
 Táctica individual e colectiva (1x1; 2x2; 2x1;
passe e entra; passe e apoio; iniciação ao
contra-ataque).
 Entende sistemas de jogo.
 Identificação do último homem.
 Bolas paradas.
 Especializar nas diferentes posições.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
4.2- Preparação Táctica:
 Entende conceitos tácticos ofensivos
(paralela; diagonal; sobreposição; cobertura
ofensiva; desmarcação; etc...).
 Entende conceitos tácticos defensivos
(cobertura defensiva; vigilância; pressão;
temporização; contenção; marcação; etc...).
 Aperfeiçoamento dos contra-ataques.
 Identificação das linhas defensivas e de
marcação.
 Métodos de jogo ofensivo pouco complexos
(jogar com pivô).
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
5- Preparação Psicológica:

 Abandona a imitação e passa ao jogo com


regras.
 Qualitativamente pensa como um adulto mas
não quantitativamente.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(11 - 14 Anos)
6- Metodologia de Treino:
 Variedade de jogos pré-desportivos.
 Método de jogo globalizado, registar durante
o jogo e depois corrigir.
 Correcção de exercícios analíticos.
 Procura constante da optimização (nunca se
deve dizer que já está bom: ex.: passe e
recepção).
 Treino na base da idade fisiológica.
 Incidir mais na aprendizagem do gesto do que
na velocidade de execução.
 Treino integrado.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)
1 - Perfil Biológico:
 Dotar o atleta da competência motriz
(desenvolvimento integral).
 Tem de ser um jogador de elite mas com falta
de experiência.
 Estabilidade do crescimento e definição da
composição corporal.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)
2 – Capacidades Motoras:
Capacidade Conteúdos
Trabalho normal mas com cuidado sobre a coluna
Força vertebral.
Trabalho de força explosiva e resistente.
Trabalho de velocidade de deslocamento.
Velocidade Trabalho de velocidade de execução.

Combina esforços aeróbios/anaeróbios.


Resistência Esforços até 1’30’’ ou 2’.

Evita lesões.
Flexibilidade Estimular a coordenação entre unidades motoras.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)

3 - Preparação Técnica:
 Aplicação da técnica em jogo real (mas com
correcção dos defeitos).
 Busca da precisão e velocidade de execução.
 Relação competição/rendimento.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)
4.1- Preparação Táctica:
 Capacidade perceptiva (campo visual; visão
periférica; atenção selectiva), ex.: jogos com
estímulos externos.
 Mecanismo percepção/decisão/execução.
 Utilização de todo o tipo de meios e
procedimentos tácticos.
 Métodos de jogo ofensivo e defensivo mais
complexos.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)
4.2- Preparação Táctica:
 Aperfeiçoamento do sentido de cobertura.
 Saber que as linhas defensivas se alteram
constantemente, em função da organização
ofensiva do adversário.
 São reconhecidos pela sua qualidade em
determinada posição. Mas reúnem informação
para identificar o básico de todas elas.
 Ler e entender o jogo.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)
5- Preparação Psicológica:
 Etapa complicada (dúvidas: família, amigos,
amor, etc...).
 Favorecer a autoconfiança e auto-estima.
 Noção de responsabilidade, coesão de grupo e
liderança.
ETAPA DE APRENDIZAGEM
(15 - 19 Anos)
6- Metodologia de Treino:

 Máxima participação nos exercícios.


 Eliminar o jogador “espectador”.
 Máxima especialização em jogo, de cada
jogador.
 Treino integrado.
ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
MÉTODO DE JOGO DEFENSIVO
ADOPTADO
 A adopção de um ou vários métodos defensivos prende-se inevitavelmente com os
conceitos de cada treinador.
 Implica tentar a recuperação da bola, de uma forma organizada, paciente e
confiando sempre nas acções dos nossos companheiros. Não devemos ser
precipitados.
 Implica saber adaptar o nosso método defensivo ao método ofensivo da equipa
adversária e suplantá-lo.
 Implica saber proteger as zonas de maior risco.
 Implica, na minha perspectiva, saber utilizar a zona pressionante o mais longe
possível da nossa baliza.
 Esta zona pressionante diminui o espaço de jogo, criando-se condições favoráveis
para a recuperação da posse da bola longe da nossa baliza e, por inerência, perto
da baliza adversária.
 Diminui também a iniciativa do adversário.
 Implica ainda a quase inexistência de espaços livres nas zonas próximas da bola,
perante a concentração de jogadores existente.
 A organização defensiva deverá deslocar-se de uma forma homogénea e
concentrada, em função do deslocamento da bola.
MÉTODO DE JOGO DEFENSIVO
ADOPTADO
 Quando a bola se encontra numa das alas, o corredor contrário nunca deverá ser
marcado.
 Quando a bola se encontra na zona central, o(s) corredor(es) lateral(ais)
deverá(ão) ser marcado(s) sob vigilância.
 A comunicação verbal entre os jogadores tem de ser constante.
 A equipa tem de ser solidária.
 Requer também a execução de constantes trocas de marcação, tanto no sentido
longitudinal como no sentido latitudinal do campo. Estas trocas têm como
fundamentos básicos um menor desgaste físico e pressão continuada sobre o
portador da bola.
 Nada disto será eficaz se não efectuarmos uma marcação rigorosa ao portador
da bola, sendo agressivos na procura da recuperação da posse da bola, ou
obrigando-o a cometer erros. Além disto teremos de ser extremamente eficazes
na pressão sobre as linhas de passe.
LINHAS DE MARCAÇÃO

Linha 1 Linha 2 Linha 3 Linha 4 Linha 5 Linha 6


CORREDORES DE MARCAÇÃO
LINHAS DEFENSIVAS
Paralela
Diagonal
LIVRES
10 METROS
TRANSIÇÃO
PARA DEFESA
G. R. + 1 x 2
G. R. + 2 x 3
G. R. + 3 x 4
G. R. + 4 x 5
G. R. + 4 x 5
G. R. + 4 x 5
ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
MÉTODO DE JOGO OFENSIVO
ADOPTADO
 A adopção de um ou vários métodos ofensivos prende-se inevitavelmente com os
conceitos de cada treinador.
 Implica saber conservar a posse da bola, não passar nem rematar sem nexo,
partindo do princípio lógico de que “se tens a bola, não a tem o adversário”.
 Implica saber adaptar o nosso método ofensivo ao método defensivo da equipa
adversária e suplantá-lo.
 Implica saber penetrar na defesa contrária de uma forma segura, obstando aos
contra-ataques, com eficácia, com variedade de soluções, através de movimentos
e jogadas planeadas perfeitamente definidas e rotinadas.
 Implica, na minha perspectiva, saber aproveitar o que possamos retirar de melhor
dos métodos existentes e criar um método com as mais diversificadas soluções,
onde possamos ainda aproveitar a capacidade técnica dos nossos jogadores e a
sua criatividade, a qual não pode, nem deve, nunca ser cerceada.
 A procura constante de novas soluções devidamente treinadas/rotinadas, ao longo
de um jogo, contribui decisivamente para que a equipa adversária raramente se
adapte no seu método defensivo.
4 : 0 (Método adoptado)
Paralela
Diagonal
TRANSIÇÃO
PARA ATAQUE
2 x 2 + G. R.
3 x 2 + G. R.
3 x 2 + G. R.
4 x 3 + G. R.
5 x 4 + G. R.
SAÍDA DE PRESSÃO Nº 0
SAÍDA DE PRESSÃO Nº 1
SAÍDA DE PRESSÃO Nº 2
SAÍDA DE PRESSÃO Nº 3
SAÍDA DE PRESSÃO Nº 4
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
SAÍDA DE PRESSÃO
CONSELHOS ÚTEIS
 Dificilmente teremos uma equipa evoluída táctica e estrategicamente sem
jogadores evoluídos tecnicamente.
 Deve-se treinar, em todos os treinos, o pé menos hábil, assim como outras
debilidades dos jogadores, não deixando de potenciar as suas qualidades.
 Deve-se treinar, assiduamente, em espaços reduzidos.
 Deve-se treinar, assiduamente, a visão periférica.
 Deve-se treinar, em todos os treinos, a 3, 2 e/ou 1 toques.
 Devem-se treinar, em todos os treinos, multi-passes e multi-recepções.
 Devem-se treinar, insistentemente, as acções defensivas e ofensivas (criar
rotinas). No entanto, a tónica do ensino do jogo deverá ser posta na compreensão
do próprio jogo e não na obrigação de se treinarem rotinas de jogo até se
acertar.
 É fundamental compreender o jogo, associar todos os seus factores e saber
comunicar.
 Ter sempre presente que o jogo é movimento.
 Não chega ter a bola. Temos de saber o que fazer com ela.
 No relacionamento diário com todos os jogadores deve existir uma grande
cumplicidade e, palavra-chave, respeito. Devemos manter a distância necessária
ao exercício das nossas funções mas, ao mesmo tempo, fazê-los sentir que,
quando precisam de nós, estamos sempre disponíveis.
CONSELHOS ÚTEIS
 No que respeita à equipa técnica, ela é isso mesmo, uma “equipa”. É fundamental
que todos se sintam úteis e responsáveis pelo desempenho da equipa. Grande
espírito de colaboração. Apesar de definirmos tarefas, todos devemos estar
aptos e disponíveis para o que for necessário. Todos têm de saber tudo e de tudo.
 Nunca digam, em relação à vossa equipa: “Eu ganhei, nós empatámos, eles
perderam”.
 Devemos estar sempre disponíveis para aprender com os outros.
 O vosso trabalho deverá sempre obedecer a objectivos perfeitamente definidos
(“Para onde caminhamos se não existem objectivos ?” ).
 Tenham sempre presente a diferença que existe entre ir treinar e ir para o
treino.
 Nunca misturem amizade com trabalho.
 Tenham sempre presente e façam-no sentir a quem os rodeia que as funções de
um treinador não se esgotam no campo.
 Tenham sempre presente que “joga-se como se treina”.
 Lembrem-se que o desporto forma o carácter e prepara para a vida.
 Aprender cedo é aprender para a vida.
 Se queremos continuar a ensinar temos de continuar a aprender.
 O mais difícil não é conseguir o que se quer, é querer depois de se ter
conseguido.
“É impossível para um homem
aprender aquilo que ele acha
que já sabe”

Epícteto
“O problema é que, no mundo do
desporto, aquilo que separa um
treinador com conhecimento de
um otário com sorte não é
perceptível aos olhos da
maioria”

Gustavo Pires
“Não encontre defeitos,
encontre soluções. Qualquer um
sabe queixar-se”

Henry Ford
“O comportamento é um espelho
onde cada um mostra a sua
imagem”

Goethe
“A verdadeira generosidade
para com o futuro consiste em
dar tudo ao presente”

Albert Camus
Referências Bibliográficas

 Lozano, J. Vários

 Ferretti, F. Vários
OBRIGADO
PELA
ATENÇÃO

Você também pode gostar