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DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTA MULTICRITÉRIO PARA AVALIAÇÃO DE


CONDIÇÕES DE VIDA EM COMUNIDADES RURAIS TRADICIONAIS

Article  in  Brazilian Journal of Development · January 2020


DOI: 10.34117/bjdv6n8-403

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5 authors, including:

Bernat Vinolas Prat Jean CARLO Laughton


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
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Rosana Passos Cambraia


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
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Brazilian Journal of Development
Desenvolvimento de ferramenta multicritério para avaliação de condições de
vida em comunidades rurais tradicionais

Development of a multicritery tool for the evaluation of life conditions in


traditional rural communities

DOI:10.34117/bjdv6n8-403

Recebimento dos originais:08/07/2020


Aceitação para publicação:20/08/2020

Ricardo de Oliveira Brasil costa


Formação acadêmica mais alta: Mestre em Saúde Sociedade e Ambiente
Instituição: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Endereço: Campus JK - Diamantina/MG Rodovia MGT 367 - Km 583, nº 5.000 Alto da Jacuba
CEP 39100-000
E-mail: ricardobrasil@ufvjm.edu.br

Bernat Vinolas Prat


Formação acadêmica mais alta: Doutor em Engenharia da Construção
Instituição: Universidade Politécnica de Catalunya - UPC (Barcelona, Espanha)
Endereço: Instituto de Ciência e Tecnologia - Campus JK - Diamantina/MG Rodovia MGT 367 -
Km 583, nº 5.000 Alto da Jacuba CEP 39100-000
E-mail: bernat.vinolas@ict.ufvjm.edu.br

Jean Carlo Laughton de Sousa


Formação acadêmica mais alta: Mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente
Instituição: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Endereço: BR-226, S/N - Vila Nenzim, Barra do Corda - MA, 65950-000
E-mail: jean.carlo@ifma.edu.br

Marivaldo Aparecido de Carvalho


Formação acadêmica mais alta: Doutor em Sociologia
Instituição: Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP
Endereço: Campus JK - Diamantina/MG Rodovia MGT 367 - Km 583, nº 5.000 Alto da Jacuba
CEP 39100-000
E-mail: marivaldo.aparecido@ufvjm.edu.br

Rosana Passos Cambraia


Formação acadêmica mais alta: Doutora em Psicobiologia
Instituição: Universidade de São Paulo, USP Ribeirão Preto
Endereço: Departamento de Farmácia, Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
FCBS/UFVJM. Campus JK, Rodovia MGT 367, km 583, n. 5.000, Alto da Jacuba, Diamantina,
MG, 39100-000
E-mail: rosa.cambraia@iufvjm.edu.br

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 8, p. 59738-59759 aug. 2020. ISSN 2525-8761


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RESUMO
Estudo descritivo do desenvolvimento de um aplicativo de informática, utilizando a análise
multicritério para avaliação da qualidade de vida de comunidades rurais tradicionais e também o
potencial uso de materiais naturais em construções locais. A ferramenta de avaliação multicritério
em níveis de prioridades para intervenções locais agrupou os seguintes: a) características da
comunidade; b) materiais naturais no ambiente; c) necessidades habitacionais. A dinâmica do
aplicativo provê ao pesquisador ou gestor, agilidade na consolidação de informações de qualificação
da forma como vive uma determinada comunidade. Acredita-se que a rapidez e a simplicidade do
uso refletirão na agilidade e na inferência sobre a informação coletada. O aplicativo QualiVida
possibilita, por meio de relatórios, o mapeamento das intervenções prioritárias, podendo dar suporte
aos pesquisadores, as administrações municipais e associações comunitárias.

Palavras-Chave: Análise multicritério, Aplicativo de informática, Comunidade tradicional,


População rural, Qualidade de vida.

ABSTRACT
This is a descriptive study on the development of a computer software using multi criteria analysis
to evaluate the quality of life of traditional rural communities and also the its potential use of natural
materials in local constructions. The objective of the research was to create a multi criteria
evaluation tool at priority levels for interventions, with indicators grouped in: a) characteristics of
the community; b) existing natural material; c) housing needs. The application dynamics provide
the researcher or manager with agility in consolidating information that serves the process of
qualification on how one community lives. It is believed that the simplicity of use reflects the gain
of time and the possibility of inference on the information collected. The QualiVida software allows,
through reports, the mapping of priority interventions, supporting researchers, municipal
administrations and community associations.

Keywords: Multi criteria analysis, Software, Traditional community, Rural population, Quality of
life.

1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de comunidades mais saudáveis, considerando as variáveis que afetam
a qualidade de vida das pessoas, implica em um enfoque interdisciplinar, com a promoção de
atitudes saudáveis em diversos ambientes (físico, social, econômico e cultural). Isto é, ter uma visão
mais ampla e interdisciplinar do conceito de qualidade de vida (de Abreu et al., 2020). A valorização
do conhecimento local deve levar em conta também as condições ambientais que possam ser mais
saudáveis e favoráveis ao controle de doenças, que promovam a saúde e o bem-estar da população,
especialmente a rural e tradicional. Pensando nas características de algumas comunidades
remanescentes de quilombos, predominantes no alto Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais,
Brasil, foi desenvolvida uma ferramenta multicritério informatizada, a partir da geração de árvores
(estruturas) de decisão, como forma de facilitação do diálogo entre áreas e o encontro de saberes e
de soluções aplicadas localmente.

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Sobre a atenção básica à saúde em Minas Gerais, o Estado apresenta heterogeneidade
socioeconômica, reproduzindo as desigualdades observadas no país. As piores condições de vida ali
concentram-se nos municípios das regiões norte e nordeste, onde situa-se o Vale do Jequitinhonha.
O acesso aos serviços de saúde é tão mais difícil quanto mais pobre é uma região (VIACAVA,
2010). A influência sociocultural e ambiental na determinação das doenças, está relacionada ao
acesso aos recursos de saúde pelas comunidades. Em geral os agravos à saúde são passíveis de
localização no espaço, podendo também ser consequência da desigual distribuição de fontes de
contaminação, agentes de risco, da exposição da família/indivíduo a esses agentes ou das próprias
características de suscetibilidade.
Outra forma de melhoria da saúde da população refere-se às condições de moradia (COHEN,
2004), assim como a qualidade da água na habitação (COHEN et al., 2007). Algumas pesquisas
desenvolvidas no alto Vale do Jequitinhonha trazem também discussões acerca da gestão e conflitos
associadas ao acesso a água na região, (RIBEIRO; GALIZONNI, 2003; RODRIGUES et al., 2014;
FREITAS et al., 2015), controle de doenças parasitárias (CAMBRAIA et al., 2015) e saneamento
ambiental (MURTA et al., 2012; LAUGHTON et al., 2016).
Quanto as construções saudáveis em comunidades rurais tradicionais, destacamos o
aproveitando os materiais naturais locais e avaliação dos fatores na prevenção de doenças (energia,
água, ventilação, saneamento e isolamento), conforme descrito e exemplificado por Van Lengen
(2008). Associando a realidade rural ao abastecimento e uso da água, Oliveira et al. (2017, p.223),

[...] sinalizam para a necessidade de investimentos do setor saneamento em termos de


ampliação da cobertura do abastecimento de água na área rural, ainda que de forma
adequada/adaptada à realidade, mas cumprindo os princípios de universalidade e equidade e
garantindo o direito humano de acesso à água segura.

A relação entre populações rurais tradicionais e as necessidades de conservação envolve


diretamente a proteção de recursos naturais. Arruda (1999) diante das características do modelo de
conservação chama atenção para a procura de uma compreensão destas populações, de seu padrão
de ocupação do espaço e utilização dos materiais naturais disponíveis no nível local. Ao mesmo
tempo é importante aplicar ações que visem a conservação de seus recursos naturais (do Nascimento
et al., 2019).
O objetivo desta pesquisa foi desenvolver um aplicativo para sistematização, visualização,
planejamento e tomada de decisões, considerando as características específicas de comunidades
rurais tradicionais. Como objetivos específicos, a pesquisa buscou integrar um aplicativo de

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informática a uma ferramenta multicritério voltada para a caracterização de comunidades rurais e
também destacar o aproveitamento de recursos naturais com foco na sustentabilidade local.
Assim diante da meta de criação de um aplicativo para avaliação interdisciplinar para ser
utilizada em uma dada comunidade, ou conjunto de comunidades, foram considerados os aspectos
da saúde da população, da vida social e a interação com o seu ambiente rural, com valorização do
conhecimento tradicional de forma sustentável.

2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo sobre o processo de desenvolvimento de um aplicativo de
informática, utilizando a análise multicritério para avaliação da qualidade de vida em comunidades
rurais tradicionais e da potencialização de uso de materiais naturais locais, com práticas e
procedimentos interdisciplinares.
Forma de avaliação de uma comunidade: Os dados para avaliação da comunidade, diante
das suas especificidades, são como aqueles que se encontram na ficha A do Sistema Único de Saúde
(SUS). Os dados que foram adicionados ao aplicativo são: tempo médio gasto para chegar na escola
(crianças e jovens escolares) e tempo médio gasto para chegar no hospital.
O aplicativo utiliza dados para o cálculo do índice de qualidade de vida que estão previstos
para cada uma das residências ou famílias existentes e são os seguintes: 1) número de pessoas
existente e número de cômodos; 2) existência de energia elétrica ou não; 3) abastecimento de água
mediante rede pública, poço ou nascente, ou sem abastecimento; 4) tipo de saneamento: rede de
saneamento, fossa séptica ou nenhuma das duas opções; 5) destino dos resíduos sólidos: coletado,
queimado ou enterrado; 6) existência de meios de comunicação: televisão, rádio, internet ou outros;
7) tipo de locomoção: carroça, cavalo, caminhão, carro, outro; 8) tipo de assistência médica
procurada pela família; 9) participação de membros da família em associação ou cooperativa.
Em relação a cada habitante da comunidade, é preciso conhecer se a pessoa está alfabetizada
ou não. Os cálculos baseiam-se na avaliação dos indicadores (aspectos mais específicos da última
ramificação da árvore de decisão) apresentados na figura 1.

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Figura 1 – Esquema da árvore de decisão

Fonte: Laughton (2014, p. 28). Adaptado.

A figura 1 mostra de forma esquemática os aspectos que o aplicativo avalia automaticamente


para obtenção do índice de qualidade de vida de uma comunidade. Inicialmente são avaliados os
indicadores (aspectos da última ramificação da árvore que aparecem sombreados). Posteriormente
os critérios são avaliados a partir dos indicadores que pertencem a esse critério. Como exemplo, o
critério ‘resíduos’ é avaliado a partir da média das avaliações dos indicadores que pertencem a este
critério (média das avaliações saneamento e destino dos resíduos sólidos).
A forma de avaliação dos requerimentos é pela média das avaliações dos critérios que
pertencem ao requerimento avaliado. Finalmente, o índice de qualidade de vida é calculado pela
média das avaliações dos três requerimentos (ambiental, social e saúde). Os indicadores (aspectos
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da última ramificação) são avaliados família por família. Posteriormente para avaliação de uma
comunidade inteira, o aplicativo realiza a média das avaliações de cada membro da comunidade. A
avaliação de cada indicador acontece da seguinte forma (LAUGHTON, 2014):
- N° de pessoas versus cômodos: X = (n° cômodos – 3) / (número de pessoas) sendo
X no máximo 1.
- Energia elétrica. Mediante % de famílias com energia elétrica. 100% pontua 1; 0%
pontua com 0.
- Tipo de abastecimento de água. Caso a água venha de rede pública pontua 1; caso
venha de poço ou nascente pontua 0,25; caso não exista abastecimento pontua 0.
- Tipo de tratamento da água: Caso sejam realizados dois tratamentos de água a
pontuação é 1; caso só seja realizado um tratamento a pontuação é 0,5; sem tratamento da
água a pontuação é 0. Os tratamentos considerados são: filtração, cloração e fervura.
- Saneamento. Caso haja sistema de saneamento a pontuação será de 1; caso exista
fossa séptica a pontuação será 0,66; caso não tenha, a pontuação será 0.
- Destino dos resíduos sólidos. Caso os resíduos sejam colocados a céu aberto a
pontuação será 0. Caso os resíduos sejam queimados ou enterrados a pontuação será 0,33;
caso o resíduo seja coletado a pontuação será 1.
- Alfabetização de 6 a 14 anos; de 15 a 29 anos; maiores de 30 anos. Cada faixa etária
é avaliada em função da % de alfabetizados. 100% de alfabetizados pontua 1; 0% pontua 0.
- Tempo até a escola. Tempo médio de chegada a escola. Avaliação = 1 – Tempo
médio de ida (minutos) / 160 minutos.
- Participação em associações. Pontuação de 0,33 no caso de participação em uma
cooperativa, adicionando a pontuação de 0,66 caso participe também de uma associação.
- Meios de comunicação. Para famílias sem meios de comunicação a pontuação será
0. Caso a família disponha de um meio de comunicação a pontuação será 0,5. Se existem
dois meios de comunicação a pontuação será 1.
- Meios de transporte. Para pessoas que dispõem de carro a pontuação será 1, para
pessoas que se movimentam de caminhão ou moto, a pontuação será 0,66 e as pessoas que
dispõem de carroças ou cavalo a pontuação será 0,33.
- Existência de registro. Avaliada em função da % de pessoas registradas. 100% de
alfabetizados pontua 1; 0% pontua 0.
- Doenças crônicas, endêmicas e dependências químicas. Avaliada em função da % de
pessoas doentes. 100% das doenças citadas pontua 0; 0% pontua 1.

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- Tempo gasto até o hospital. Pontuação do tempo médio de chegada ao hospital.
Avaliação = 1 – Tempo médio de ida (minutos) / 170 (minutos).
- Tipo de assistência procurada. Somam-se os seguintes valores: 0,75 no caso de
procura pelo hospital + 0,5 no caso de procura por uma unidade de saúde + 0,25 no caso de
procura por farmácia ou benzedor, sendo a soma sempre menor a 1.

Os critérios (aspectos da 2ª ramificação) são avaliados da seguinte forma:


- Condições de espaço = Avaliação do indicador nº pessoas versus cômodos.
- Instalações elétricas e hidráulicas = Avaliação energia x 0,33 + avaliação
abastecimento de água x 0,33 + Avaliação tratamento água x 0,33.
- Resíduos = Avaliação saneamento x 0,50 + Avaliação destino de resíduos x 0,50.
- Educação = Avaliação alfabetização de 6 a 14 anos x 0,25 + Avaliação alfabetização
de 15 a 29 anos x 0,25 + Avaliação alfabetização de mais de 30 anos x 0,25 + Avaliação
tempo a escola x 0,25.
- Ajuda de associações = Avaliação participação em associações.
- Comunicações = Avaliação meios de comunicação x 0,33 + Avaliação do critério
transporte + Avaliação existência registro x 0,33.
- Doenças existentes = Avaliação doenças crônicas x 0,33 + Avaliação doenças
endêmicas x 0,33 + Avaliação dependências químicas x 0,33.
- Assistência médica = Avaliação tempo até hospital x 0,50 + Avaliação assistência
procurada x 0,50.

Os requerimentos (aspectos da 3ª ramificação) são avaliados da seguinte forma:


- Requerimento ambiental = Avaliação critério instalações elétricas x 0,5 + Avaliação
critério resíduos x 0,5.
- Requerimento social = Avaliação critério educação x 0,33 + Avaliação critério ajuda
de associações x 0,33 + Avaliação critério comunicações x 0,33.
- Requerimento saúde = Avaliação critério doenças existentes x 0,50 + Avaliação
critério assistência médica x 0,50.

Para a avaliação final, o índice de qualidade de vida = Avaliação requerimento ambiental x


0,33 + Avaliação requerimento social x 0,33 + Avaliação requerimento saúde x 0,33.

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Forma de avaliação dos materiais naturais locais: Existem diversos materiais naturais que
podem ser utilizados na construção de casas e benfeitorias, especialmente em ambientes rurais, onde
a densidade da população é menor que em centros urbanos, e onde pode haver disponibilidade destes
materiais na natureza. Dentre estes materiais, destacamos: areia, bambu, plantas como cactos e
palmeiras, terra, etc. (MINKE 2006; BARBOZA et al., 2008; LAUGHTON et al., 2016; THOMA
et al., 2016). Considerando as características das comunidades rurais, é possível o aproveitamento
destes materiais, pois facilitam melhorias habitacionais e peridomiciliares com economia nos
insumos e respeito ao ambiente. Evita-se a compra de materiais industrializados que dispendem
maior custo ambiental: pelo processo de produção do insumo e pelo transporte deste material das
plantas de produção (normalmente localizadas em centros urbanos) até o lugar de uso.
Em síntese, numa comunidade rural, caracterizada pela disponibilidade de materiais naturais,
não faz sentido a compra exclusiva de materiais industrializados sem antes avaliar a possibilidade
de uso de materiais naturais próximos. Embora o aplicativo apresentado neste trabalho busque a
visibilidade daquelas comunidades com menor índice de qualidade de vida, também pretende trazer
soluções a alguns problemas destas comunidades. Nesse sentido, as melhorias habitacionais e
peridomiciliares possibilitam a melhoria da qualidade de vida das famílias, pois existe relação direta
entre condições habitacionais, qualidade de vida e bem-estar.
Os materiais utilizados por este aplicativo são simples, como documentos de texto (alguns
com desenhos) que auxiliam as pessoas (agentes de saúde, responsáveis por organizações não
governamentais, moradores de comunidades rurais, etc.), no aproveitamento dos materiais naturais
existentes.
Quando uma comunidade rural for cadastrada no aplicativo, será possível selecionar numa
lista os materiais naturais existentes no bioma onde se insere. Posteriormente, o aplicativo mostrará
os documentos/cartilhas geradas para que as pessoas possam conhecer e identificar o tipo de material
natural local e a forma e o processo de uso deste para realização de alguma melhoria numa
construção.
Processo de desenvolvimento do sistema: O sistema foi dividido em dois módulos e a forma
de desenvolvimento em sete fases do primeiro módulo são descritas a seguir.
Fase I. Análise de requisitos - A análise de requisitos foi construída da abstração de
conversas em reuniões e encontros com pesquisadores. Também foram coletadas
informações dos trabalhos de Aguiar (2015) e Laughton (2014).

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Fase II. Banco de dados - A criação do banco de dados subdivide-se em duas etapas: projeto
conceitual, que é gerado da abstração da análise de requisitos e projeto lógico, o
detalhamento do projeto conceitual com a criação das chaves.

Fase III. Diagrama de casos de usos - Com a criação do diagrama descrevem-se as principais
funcionalidades do sistema e a interação dessas funcionalidades com os usuários, elaborada
a partir do desenvolvimento do banco dados e análise de requisitos.

Fase IV. Codificação - O desenvolvimento da codificação aconteceu a partir da utilização de


um arcabouço de códigos, funções, bibliotecas e classes existentes dentro do framework e
da combinação das fases anteriores.

Fase V. Visões (‘Views’) - O desenvolvimento das visões ocorreu a partir da criação do


banco de dados e da análise de requisitos e resultados esperados da abstração de informações.

Fase VI. Testes e inserção de dados - Os testes e a inserção de dados foram realizados por
meio de exemplos coletados dos trabalhos de Laughton (2014) e Aguiar (2015). Nesta fase
foi validado o aplicativo desenvolvido.

Fase VII. Melhoramentos e ajustes - Após os testes o aplicativo passa por ajustes e são
sugeridos melhoramentos que podem ser efetuados ou propostos para trabalhos futuros.

3 RESULTADOS
Funcionamento do aplicativo e entrada de dados: O Sistema de Avaliação de Qualidade de
Vida, denominado a partir daqui como QualiVida, foi desenvolvido inicialmente para auxilio aos
pesquisadores e gestores públicos e não governamentais, a utilizarem dos resultados para tomarem
decisões que ajudem na melhoria das condições de vida de comunidades como aquelas rurais
tradicionais. Os dados coletados das fichas da saúde da família e inseridos no aplicativo são
transformados em uma análise multicritério de índice de qualidade.
O primeiro módulo que compõe o QualiVida foi baseado nas entradas da ficha A do SUS,
para o desenvolvimento da tela de cadastro de dados da comunidade e de cada família. Foi projetado
objetivando a simplicidade e facilidade de uso. A primeira tela (página) como mostra a figura 2 foi
dividida em três áreas: comunidades, recursos ambientais (dados referentes ao 2º módulo) e árvore

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de decisão. O link comunidades direciona o usuário para a página onde as comunidades são listadas
e outras de suas ações são acessadas.
Gerenciamento de comunidades: Cadastrar / Listar comunidades - Como observado na figura
2, o nome da comunidade, município, recursos naturais e quantidade de famílias de cada
comunidade são listados, além de serem dadas as opções de inserção de família, edição de
comunidade, relatórios e exclusão de comunidade. Os recursos naturais e o quantitativo de famílias
possuem links próprios para sua visualização detalhada.

Figura 2 – Página inicial e página com lista de comunidades

Fonte: COSTA, 2016, p. 59-60.

Cadastrar comunidades: A página de cadastramento de comunidade é subdividida em duas


partes. O lado esquerdo da tela é composto pelo link de Listar Comunidades, o lado direito apresenta
o formulário de cadastramento da comunidade. Observa-se a área do formulário de cadastro de
comunidade tendo como base a ficha A e dados abstraídos da análise de requisitos. Os campos do
formulário se dispõem da seguinte forma:
- Nome da comunidade: nome do distrito, povoado ou vila.
- Município: código do município utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
- Endereço: nome da rua, avenida ou praça do domicílio. Registra ponto de referência quando
necessário.
- CEP: Código de endereçamento postal.
- UF: Sigla da Unidade da Federação.
- Segmento: código do segmento territorial. Cada código tem um número de dois algarismos,
definido pela Secretaria Municipal de Saúde.

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- Área: código da área/equipe. Os códigos das áreas/equipes são sequenciados em cada
município, sendo cada código um número de três algarismos, definido pela Secretaria
Municipal de Saúde.
- Microárea: os códigos das microáreas são sequenciados para cada área/equipe, sendo cada
código um número de dois algarismos, definido pela equipe de saúde.
- Tempo médio até a escola: o tempo que se gasta para se alcançar a escola.
- Tempo médio até o hospital: o tempo que se gasta para se alcançar o hospital.
- Latitude: coordenadas geográficas em graus da latitude para localização da comunidade.
- Longitude: coordenadas geográficas em graus da longitude para localização da
comunidade.
- Recursos Naturais da Comunidade: informações já inseridas no módulo de recursos
naturais, para o funcionamento do segundo módulo do aplicativo.

Após a digitação nos campos obrigatórios do formulário, ao clicar no botão salvar, a


mensagem de cadastramento realizado com sucesso é informada na página de listagem de
comunidades, conforme figura 3 a seguir.

Figura 3 – Página de cadastramento da comunidade e ações

Fonte: COSTA, 2016, p. 63.

Listar comunidades: A página de listagem de comunidades é subdividida em Ações e


Comunidades. Na área Ações é permitido cadastrar novas comunidades.
No final da listagem de cada comunidade são atribuídas ações independentes a cada registro. As
ações são determinadas para cada comunidade através dos botões de incluir família, editar

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comunidade, relatório e excluir comunidade. Ao clicar no botão incluir Comunidade a página
Famílias é acessada.
Gerenciamento e cadastramento de famílias: Listar / Cadastrar famílias - A página Famílias
é subdividida em Ações de Listar famílias na comunidade e retornar a listagem de comunidades e
no formulário para o cadastramento de família na referida comunidade.
Os campos do formulário de cadastro de família têm como fonte a ficha A e dados abstraídos
da análise de requisitos. Os campos se dispõem para a seleção de uma ou mais opções, quando
necessário:
- Família: Os códigos das famílias são sequenciados dentro de cada microárea, sendo cada
código um número, definido pela equipe de saúde.
- Data: dia, mês e ano do cadastramento da família.
- Situação da moradia e saneamento.
- Tipos de casa: tijolo/adobe - parede construída com qualquer tipo de tijolo, inclusive adobe,
adobão e semelhantes (adobe = bloco semelhante ao tijolo, preparado com argila crua, secada
ao sol); taipa revestida - parede de taipa com o interior do domicílio completamente revestido
por reboco ou emboço (primeira camada de argamassa); taipa não revestida - parede de taipa
sem revestimento; madeira - parede de madeira; material aproveitado - materiais como
papelão, plástico, lona, palha, flandre, etc.; outro - outros materiais de construção, como
pedra, concreto, etc.
- Cômodos: quantidade de cômodos na residência da família.
- Tratamento de água: tratamento da água feito continuamente no domicílio. Não é
considerado o tratamento da água realizado por empresa fornecedora. Filtração, fervura,
cloração, sem tratamento.
- Destino dos resíduos sólidos: coletado - por serviço, empresa pública ou particular;
queimado ou enterrado; jogado a céu aberto.
- Abastecimento de água: Registrada a origem da água utilizada no domicílio: rede geral ou
pública - domicílio servido de água proveniente de uma rede geral de abastecimento, no
domicílio ou no peridomicílio; poço ou nascente - domicílio servido de água proveniente de
poço ou nascente próprios; outros - domicílio abastecido com água de chuva, carro-pipa, ou
apanhada em fonte pública, poço, ou bica, fora do domicílio ou peridomicílio.
- Destino das fezes e urina: sistema de esgoto (rede geral) - fezes e urina são canalizadas
para o sistema de esgoto (rede pública geral); fossa - qualquer tipo de fossa; céu aberto - no
quintal, na rua, em um riacho, etc.

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- Energia elétrica: o domicílio possui energia elétrica, mesmo que o fornecimento não seja
contínuo, ou que a instalação não seja regularizada (ligação clandestina, ‘gato’, ‘gambiarra’).
Energia elétrica, solar, não possui.
- Recebe algum benefício social? Sim, não.

Em seguida ao quadro relativo à situação de moradia e de saneamento, abrem-se alguns


campos destinados ao registro de outras informações para a caracterização do padrão de vida da
família.
- Em caso de doença procura: hospital - unidade de saúde que realiza internação (inclui
unidades mistas); unidade de saúde - postos e centros de saúde (unidades que não fazem
internação); benzedeira; farmácia; outros - campo para especificar.
- Participação em grupos comunitários: cooperativa; grupo religioso; associações -
associações de bairro, de moradores, de mães, de trabalhadores, comunidades de base e
sindicatos; outros - campo para especificar.
- Meios de transporte: ônibus, caminhão, carro, carroça, moto, outros - campo para
especificar.
- Meios de comunicação: rádio, televisão, outros - campo para especificar.
- Alguém da família com plano de saúde: é considerado como plano de saúde qualquer
seguro para assistência médica privada de qualquer tipo (hospitalizações, consultas, exames
laboratoriais, etc.), pago pela família ou por outro (empregador de algum membro da família,
parentes, etc.). Nome do plano; quantas pessoas cobertas.

Listar família: A escolha da comunidade permite a lista de famílias nela inseridas, que em
forma de tabela apresenta os registros de famílias em linha dos campos: Identificador, Comunidade,
Cômodos na Casa, Benefícios Governo Federal, Pessoas no Plano de Saúde, Pessoas na Família.
A página de listagem das famílias é subdividida em ações externas as famílias na parte
esquerda e ações internas a cada família na parte direita da tela. Na parte direita é permitido o
cadastramento de mais famílias na comunidade em seleção.
O primeiro botão representado pelo ícone verde com um “+” permite a inserção de mais
pessoas na família, o segundo botão azul com um “>” permite a edição desta família e o botão
vermelho com “-” permite a exclusão da família. Para listar as pessoas na família com seus detalhes,
é necessário clicar no link referente a quantidade de pessoas.

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3.1 GERENCIAMENTO DE PESSOAS
Listar pessoas: A página de listagem de pessoas na família é subdividida em ações externas
as pessoas e ações internas a cada pessoa na família. Na parte esquerda é permitido o cadastramento
de mais pessoas na família, listar pessoas da família e retornar a listagem de famílias na comunidade.
As ações referentes a cada família estão apresentadas na parte direita da tela.
Informa-se também em um quadro explicativo, as abreviaturas das doenças ou condições
referidas elencadas pela ficha A: alcoolismo (ALC), Chagas (CHA), deficiência (DEF), diabetes
(DIA), epilepsia (EPI), hanseníase (HAN), hipertensão arterial (HA), malária (MAL), tuberculose
(TB), gestação (GES) e outras (O).
Cadastrar pessoa: Para cadastrar nova pessoa basta acessar o link Nova Pessoa na parte
esquerda da página.
A página de cadastro de pessoas na família é subdividida em link a esquerda, que retorna à
navegação para a página que lista pessoas na família e do lado direito com o formulário que
acrescenta a pessoa na família. Alguns campos se dispõem para a seleção de uma ou mais opções,
quando necessário:
- Nome: nome completo.
- Data de nascimento: usar o formato dd/mm/aaaa (d-dia, m-mês, a-ano).
- Sexo: masculino ou feminino.
- Alfabetizado: sim ou não.
- Ocupação: tipo de trabalho exercido, independente da profissão de origem ou de
remuneração, mesmo que no momento do cadastramento o indivíduo esteja de férias, licença
ou afastado temporariamente por qualquer motivo. A realização de tarefas domésticas
caracteriza o trabalho doméstico, ainda que este não seja remunerado. Se o indivíduo se
referir a mais de uma ocupação, deverá ser anotada aquela a que ele dedica o maior número
de horas na semana, no seu período de trabalho.

O botão salvar envia as informações para o banco de dados e retorna a página para listagem
de pessoas na família. As ações de cada pessoa na página de com a lista de pessoas na família são
apresentadas na tela. O primeiro botão azul com “>” permite a edição desta pessoa e o botão
vermelho com “-” permite a exclusão da pessoa na referida família.
O resultado final com os indicadores gerados a partir do método multicritério para as
informações de cada comunidade é detalhado na página de relatórios. A página comunidade
apresenta o ícone que direciona aos relatórios com os indicadores de cada comunidade. A página de

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indicadores é subdividida em duas partes: ações da comunidade e resultado detalhado dos
indicadores ambientais, sociais e de saúde.

3.2 VISÕES (VIEWS)


Pode ser definida como uma tabela virtual composta por linhas e colunas de dados vindos
de tabelas relacionadas em uma query (um agrupamento de select’s, por exemplo). As linhas e
colunas da view são geradas dinamicamente no momento em que é feita uma referência a ela. Ao
criarmos uma view, podemos filtrar o conteúdo de uma tabela a ser exibida, já que a função da view
é exatamente essa: filtrar tabelas, servindo para agrupá-las, protegendo certas colunas e
simplificando o código de programação.
O QualiVida utiliza-se deste recurso para a simplificação do código e aumento da
produtividade no seu desenvolvimento. Além disso, garante também com as views a segurança dos
dados, ocultando determinadas colunas da tabela. A seguir é apresentado o código das views da
consolidação dos indicadores através da análise multicritério.

3.3 FUNCIONAMENTO DO MÓDULO DE AVALIAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS


Este módulo implicou na criação de mais uma entidade no banco de dados relacionado às
comunidades com os seus recursos naturais. Ao iniciar o aplicativo na primeira página, o link
Recursos Naturais direciona o usuário para a página onde os recursos naturais são listados e as ações
Cadastrar Novo Recurso Natural e Tela Inicial são acessadas. Uma lista contendo o nome do
material, e sua descrição com utilização, são apresentadas em forma de tabela.

3.4 GERENCIANDO RECURSOS NATURAIS


Cadastrando Recurso Natural: A página de cadastro de recurso natural é subdividida em um
link a esquerda, que retorna à navegação para a página que lista recursos naturais e do lado direito
com o formulário que acrescenta recurso natural a base de dados, como apresentado na figura 4 a
seguir. Os materiais naturais cadastrados são listados na página de cadastramento de comunidade.

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Figura 4 – Página do módulo de recursos naturais

Fonte: COSTA, 2016, p. 81.

Ao inserir o material natural local o usuário é redirecionado para a página de listagem de


materiais, que é subdividida em link a esquerda que retorna à navegação para a página que lista e
do lado direito com o formulário que acrescenta o recurso a base de dados. Os materiais cadastrados
são listados na página de cadastramento da comunidade.
A página de listagem de recursos naturais possibilita ao usuário a exibição, edição e exclusão
do material como mostra a tela. A exclusão de um material natural gera uma mensagem de
segurança.

3.5 VALIDAÇÃO DE RESULTADOS


Para validação do aplicativo, foram introduzidos os dados das famílias pertencentes a três
comunidades remanescentes de quilombos (Algodoeiro, Covão e Quartel do Indaiá), no município
de Diamantina (MG). As informações destas famílias encontram-se na dissertação de Laughton
(2014) e no artigo de Laughton et al. (2017), identificadas somente por meio de códigos, mantendo
o anonimato das famílias. Cabe destacar que os resultados obtidos foram idênticos aos calculados
manualmente por Laughton (2014). Isto nos leva a constatar que o novo aplicativo realiza de forma
correta as avaliações multicritério para cálculo do índice de qualidade de vida. O aplicativo permite
a saída de resultados de arquivos num formato de extensão para abrir os arquivos em aplicativos
comerciais, como editores de planilhas e outros. Isto permite confeccionar posteriormente gráficos
de saída com apresentações de formato segundo as preferências de cada usuário. A figura 5
apresenta dois exemplos dos resultados que o aplicativo gera, como a avaliação de alguns
indicadores de saúde e a avaliação dos requerimentos para as comunidades de Quartel de Indaiá,
Covão e Algodoeiro.

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Figura 5 – Gráficos da avaliação dos indicadores de saúde (acima) e de síntese de requerimentos (abaixo)

Fonte: Laughton (2014).

4 DISCUSSÃO
Uma das áreas de estudo para integração do conhecimento multidisciplinar é a ‘Multicriteria
Decision Making’ (MCDM), ferramenta fundamental de apoio ao processo de análise multicritério.
Belton e Steward (2002) esclarecem que esta área consiste numa série de conceitos, métodos e
técnicas para suporte ao técnico ou pesquisador na avaliação de problemas, tendo em conta diversos
aspectos e múltiplos agentes interessados. São várias as metodologias existentes neste âmbito
(BELTON; STEWARD, 2002; FIGUEIRA et al., 2005; PRAT et al., 2011).
No caso desta pesquisa de desenvolvimento, os resultados do sistema estão relacionados aos
testes realizados, levando-se em consideração as funcionalidades implementadas na interface
gráfica. Ao fim do desenvolvimento individual de cada método das classes, foram realizados testes
pontuais, passando parâmetros para os métodos, gravando no banco de dados e gerando relatórios.
Todos estes testes obtiveram resultados satisfatórios quanto aos aspectos técnicos do sistema, uma
vez que todas as funcionalidades foram executadas com sucesso. A maior dificuldade encontrada
no desenvolvimento do aplicativo foi a utilização do Framework CakePHP, que exigiu esforço no
aprendizado, para obtenção de resultados satisfatórios quanto à finalização do sistema.

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Durante o desenvolvimento do aplicativo de informática, segundo Cardoso (2008), é
possível observar que a fase definida como processo de requisitos, é uma fase crítica, pois a incorreta
identificação dos requisitos pode levar ao desenvolvimento de um produto que não atenderia aos
objetivos para o qual foi planejado, sendo total ou parcialmente desperdiçado todo tempo empregado
nessa construção.
A utilização do Padrão de Arquitetura de Software MVC (Model-View-Controller) foi
fundamental para definição o fluxo de informação entre o banco de dados e a interface com o
usuário. A criação do banco de dados utilizado o PostgreSQL, partiu da premissa de se utilizar o
que atualmente é um dos SGBDs (Sistema Gerenciador de Bancos de Dados) de códigos abertos
mais avançados. A programação do QualiVida com a adoção do Framework CakePHP possibilitou
o trabalho de forma estruturada e rápida com flexibilidade de desenvolvimento.
O sistema construído sob o conceito do MVC possibilita o acoplamento de módulos futuros.
A coleta de dados poderá ser automatizada para algumas informações da comunidade coletadas em
bases de dados governamentais públicos e de base abertas. O conceito MVC ainda possibilita o
acoplamento de módulos de geração de gráficos e de migração de dados.
A razão da proposição do uso de sistemas especialistas em construção de indicadores, reside
no fato de tais sistemas possuírem características interessantes por serem, necessariamente,
modulares, altamente flexíveis, possibilitando a configuração em conformidade com as
características contextuais locais, e por permitir a expansão da base de conhecimento das
comunidades rurais tradicionais.
O QualiVida foi projetado com as funcionalidades de listar, adicionar, editar, visualizar e
excluir dados. O levantamento de requisitos resultou na elaboração do caso de uso, do banco de
dados e da abstração dos relatórios necessários para os usuários do sistema. A governança da
informação permeada na construção do aplicativo pode auxiliar no planejamento e na tomada de
decisões com relação às comunidades rurais tradicionais. O mesmo agente comunitário de saúde,
que insere os dados referentes a ficha A do SUS para as diversas famílias contidas numa
comunidade, utilizando o aplicativo poderá visualizar os resultados de avaliação da qualidade de
vida da comunidade ou da família em questão.
A entrada de dados é realizada desde uma interface de fácil entendimento, sendo que para
cada um dos comandos existe uma legenda explicativa. A saída de resultados permite que qualquer
pessoa, agente comunitário, pesquisador, gestor, etc., obtenha os resultados sobre a qualidade de
vida das comunidades em forma numérica ou gráfica. Permite posteriormente trabalhar com estes
arquivos em outros aplicativos com formato .xls, como um editor de planilhas.

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Os resultados gerados pelos cálculos multicritérios do QualiVida para as três comunidades
remanescentes de quilombos (Algodoeiro, Covão e Quartel do Indaiá) foram conferidos com os
dados analisados manualmente por Laughton (2014) e apresentados por Laughton et al. (2017) e
confirmam que o aplicativo atende as expectativas do seu desenvolvimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização da governança em tecnologia da informação para a criação do QualiVida está
se mostrando de relevância para que pesquisadores, gestores públicos e outros usuários possam
visualizar as necessidades e prioridades, resultando em ações motivadoras para melhora de
qualidade de vida das comunidades e o QualiVida se mostra assim como uma ferramenta útil.
O aplicativo não substitui as formas de construção dos indicadores de qualidade de vida de
uma comunidade, mas sua dinâmica provê ao pesquisador ou gestor, agilidade na consolidação de
informações que sirvam ao processo de qualificação da forma como vive uma comunidade alvo de
atenção. Acredita-se que a rapidez e a simplicidade do uso refletem no ganho de tempo e na
possibilidade de inferência sobre a informação coletada. Desenvolvido em uma linguagem atual, o
aplicativo contribui para que o conhecimento existente seja realmente eficaz, objetivando sensível
melhora nas práticas dos gestores públicos e pesquisadores junto às comunidades, em especial
aquelas rurais tradicionais.
Este aplicativo possibilita também a realização de outros tipos de avaliações, tais como
exemplificadas a seguir. 1) Caso os dados de uma comunidade sejam inseridos em duas datas
diferentes, pode-se realizar uma comparação temporal de evolução desta comunidade. Assim
possibilita avaliar políticas públicas, ações de organizações, etc. 2) Caso seja listado numa
comunidade somente um grupo específico de famílias, a avaliação pode ser específica para somente
esse grupo. Desta mesma forma, pode ser avaliada qual família, dentro de uma mesma comunidade,
tem maior ou menor qualidade de vida.
Concluímos que o aplicativo, depois de testado com os dados reais, considerando a técnica
de multicritério para estimativa da qualidade de vida de comunidades, apresenta potencialidade de
uso na gestão pública e na realização de pesquisas locais e regionais. As experiências existentes
tanto no desenvolvimento quanto na utilização de tecnologias, que envolvem a saúde da população
e seu bem estar, sua interação social e com o ambiente, nos remete à necessidade de avaliação, não
apenas dos produtos tecnológicos construídos, mas também na forma com que estes têm contribuído
para o processo de desenvolvimento, tendo como foco o seu impacto.

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Precisamos ir além do desenvolvimento de ferramentas, assim, em continuidade a este
estudo, recomendamos a validação do QualiVida em outras comunidades, avaliando o impacto de
seu uso no processo de pesquisa, inserido na abordagem problematizadora. Restam questões a serem
resolvidas e respondidas neste campo de investigação, inclusive no que diz respeito às intervenções
que, a partir das intervenções possam, mais eficazmente, melhorar a qualidade de vida da população
rural, e em especial daquelas tradicionais que em geral estão localizadas em áreas rurais.
Resumidamente, o QualiVida é um sistema web que utiliza o conceito responsivo que
apresenta a informação de forma acessível e confortável para diversos meios de acesso. Utiliza de
navegadores para sua operação, possibilita a portabilidade de sistema operacional. Os elementos
que o compõem adaptam-se automaticamente à largura de tela do dispositivo no qual é visualizado,
são mais dinâmicos, uma vez que são on-line, podendo as informações serem acessadas em qualquer
lugar, a qualquer momento.

AGRADECIMENTOS
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), fomento APQ 002294-
14. Fundação Diamantinense de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FUNDAEPE). Programa
de Pós-Graduação Interdisciplinar em Saúde, Sociedade e Ambiente e Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação (PRPPG) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Agradecimentos aos colaboradores Andrea Cristina Thoma, Nilza da Conceição Aguiar e William
Leite de Araújo.

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