Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Abstract: This article will promote an analysis if an relevant tool to public policys called
Enviromental Impact Research, and his Relatory (“EIA/RIMA”) is compactible to me
elaborated and required in scope of another, the Consortium Urban Operations. Its about an
Interdisciplinary matter which involves the analysis of 1988’s Federal Constitution, legislation
and regulations, as specialized doctrine
Key Words: Environmental Law, Enviromental Impact Research and Relatory, Consortium
Urban Operations
1. Introdução
Os seres humanos vivem, em maioria, nas cidades. Desta forma, pode-se considerá-las
como habitat e é com elas que interagimos todos os dias modificando-as e sendo modificados
3
por elas, mesmo que não seja percebido. Com o crescimento exponencial da população urbana
e a verticalização das cidades, a densidade demográfica nas próximas décadas deverá atingir
proporções tais que intervenções urbanas agora são, mais do que nunca, medidas profiláticas
inibidoras de uma futura vida na urbe insustentável.
Diante deste cenário alarmante é que surgem as Operações Urbanas Consorciadas como
as grandes responsáveis por tornarem viáveis amplas intervenções em cidades que se preparam
para os novos tempos.
Esta conveniência de amplitude, todavia, não significa abrir-se mão da qualidade da
intervenção, ou seja, da forma com que ocorrerá a sua implantação e operação, em respeito à
sadia qualidade de vida daqueles direta e indiretamente afetados pelas obras. Afinal, uma vez
que as presentes e futuras gerações mereceram especial atenção do Poder Constituinte
Originário, o meio ambiente construído, altamente antropizado, também é objeto de proteção
ambiental
Segundo os estudiosos, as primeiras cidades surgiram no período neolítico, há cerca de
5 ou 6 mil anos, quando a atividade de agricultura passou a se tornar a maior fonte do comércio
e as pessoas passaram a ter a necessidade de viverem mais próximas umas das outras [3].
As primeiras cidades a surgirem possuíram a característica comum de serem em suas
respectivas épocas os principais polos de convergência das rotas comerciais. Estamos falando
das cidades ao longo dos vales dos rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia; ao longo do Nilo,
no Egito; do rio Indo, na Índia; do Yang-Tsé- Kiang e Hoang-Ho na China; e do San Juan, na
Meso-América. No entanto, a que mais se destacou devido a sua complexidade foi Roma.
Com o evoluir das civilizações e a percepção pelo homem de que as cidades constituíam
não apenas uma conveniência meramente espacial e circunstancial, mas também de garantia e
exercício de Direitos fundamentais, até mesmo aqueles que viviam e tiravam seu sustento dos
campos, viram-se atraídos pelas inúmeras facilidades geradas pelas cidades.
Entretanto, não apenas de benefícios podemos atualmente usufruir ao optarmos por
viver nos aglomerados urbanos. E tal constatação deve-se exatamente à grande atração gerada
por eles outrora. O “inchaço” os tornaram um ambiente favorável à violência, à propagação de
doenças, ao desvio de verbas públicas, e até mesmo a mais completa desordem urbana tendo
em vista o crescimento de sua população e a ineficiente atuação do Poder Público.
Recentemente, a cidade de São Paulo registrou um congestionamento de veículos
recorde, alcançando a marca histórica de 836 km de lentidão (notícias da Band Uol). Ao
considerarmos uma cidade como um organismo vivo, com órgãos públicos incumbidos de
atender às necessidades da população, agentes de saúde, de segurança pública etc. podemos
concluir que a capital paulista sofreu um colapso em suas artérias, enfartou. [3]
Isto porque, em uma cidade cujo crescimento tenha sido desordenado, o
congestionamento pode ser considerado como o primeiro e principal sintoma de uma ineficiente
política pública de ordenação adequada do espaço urbano. A gravidade é tamanha que, se não
fossem os modernos instrumentos de políticas urbanas atualmente existentes, em um futuro
muito próximo verificaríamos o mais completo esvaziamento de direitos e garantias
fundamentais a serem gozados pelos residentes das maiores metrópoles brasileiras.
Graças, portanto, à Lei Federal nº 10.257/2001, o Estatuto das Cidades, temos agora um
diploma legal sistematizando juridicamente a forma com que o Direito Urbanístico poderá
nortear a execução das políticas urbanas pelos Administradores Públicos no âmbito dos
Municípios, merecendo, contudo, nossa atenção para compatibilizar adequadamente seus novos
institutos com outros já consagrados no Direito brasileiro, como é o caso das Operações
Urbanas Consorciadas e o Estudo de Impacto Ambiental.
4
Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição
Federal, será aplicado o previsto nesta Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade,
estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade
urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como
do equilíbrio ambiental.
Em relação ao EIA/RIMA, a sua inclusão foi uma opção muito feliz do legislador uma
vez que tal instrumento possui arrimo na Constituição Federal de 1988, onde, no art. 225, inciso
IV, o previu expressamente para nos informar que será exigido, na forma da lei, “para instalação
de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente”.
O Constituinte atribuiu especial importância a este estudo ao estabelecer, em uma
norma constitucional de eficácia limitada, que será exigido como forma de permitir aos órgãos
de controle competentes a verificação técnica de questões ambientais de determinado
empreendimento. Tal previsão é salutar e escorreita medida de prevenção e tutela do meio
ambiente, importante direito e garantia de 3ª geração, de natureza transindividual e difuso.
O instrumento das Operações Urbanas Consorciadas, criado pela Lei Federal nº 10.257,
de 2001, é conceituado pela mesma como sendo “o conjunto de intervenções e medidas
coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores,
usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área
transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental”.
Logo, não seria equivocado entender que cada intervenção urbanística estrutural (e não
o seu conjunto) inserida no âmbito de uma Operação Urbana Consorciada é a efetiva execução
de um único projeto urbanístico e deve ser objeto de análise individualizada pelo órgão
ambiental competente para que, se for caso, se pronunciar acerca da exigibilidade ou não de
apresentação de estudos ambientais.
Tal medida vai ao encontro do Princípio da Eficiência uma vez que na dinâmica das
cidades muitos projetos sequer saem do papel. Portanto, demasiado prejuízo ocorreria ao
interesse e finanças públicas se toda e qualquer Operação Urbana Consorciada fosse
interrompida devido a uma ou outra intervenção urbanística que apresentasse irregularidades
técnicas. A nobre previsão do legislador restaria completamente esvaziada, se tornando um
instrumento apenas teórico e utilizado somente em provas de concursos públicos, tal como era
o Mandado de Injunção antes da evolução jurisprudencial (“um sino sem badalo”), pois
dificilmente uma OUC se iniciaria e terminaria durante o mandado do Administrador Público
idealizador.
Ainda mais quando muitas vezes são previstas para épocas, estágios e fases
completamente distintos para serem implementados, conforme previsto em instrumento
contratual. A Operação Urbana Consorciada da Região do Porto do Rio de Janeiro – OUCPRJ,
mais famosa como Porto Maravilha, por exemplo, possui o prazo de 30 anos para ser concluída
e diversas fases de obras que se protraem no tempo:
Observamos de plano, portanto, que as operações urbanas não configuram per si uma
única intervenção, mas um conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder
Público municipal. Neste sentido, renomado jurista já definiu igualmente aludido instrumento:
Logo, o EIA não é o estudo adequado para uma OUC a ser implantada em área urbana
em total degradação, inserida em meio ambiente construído, altamente antropizado, por
exemplo. As obras de intervenção urbanística de ampla escala normalmente visam resgatar o
meio urbano de uma situação de completo abandono e deterioração. Como dito, objetiva
alcançar transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental
(art. 32, do Estatuto da Cidade).
Neste contexto, supracitado julgado ainda poderia ter ido além esclarecendo que o
constituinte previu requisitos para o estudo em comento. São eles: 1) obra ou atividade; 2)
potencialidade de impactos ambientais negativos; 3) significativa degradação. Logo
percebemos a presença de conceitos jurídicos indeterminados (com destaque para a palavra
significativa) que, como muito bem terminou o julgado, carecem de definição pelo órgão
ambiental competente, considerando-se o interesse público, se nacional, regional ou local.
No âmbito do interesse local municipal, tais requisitos assumem grande importância,
pois a tutela do meio-ambiente, após a Constituição Federal de 1988, passou a receber
influência pelos princípios da Ordem Econômica e Financeira, estabelecidos no Título VII.
10
Não diferente é a doutrina do mestre José Afonso da Silva (DA SILVA, 1992, p. 47):
“Da rigidez emana, como primordial consequência, o Princípio da
Supremacia da Constituição. (...) Significa que a constituição se coloca
no vértice do sistema jurídico do país, a que confere validade, e que
todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os
reconheça e na proporção por ela distribuído”. [10]
O dispositivo acima transcrito nos leva à conclusão de que o rol das atividades não é
taxativo, mas exemplificativo, com possibilidade de o órgão ambiental exigir o estudo para
outras hipóteses que não aquelas elencadas no art. 2º, e até mesmo dispensá-lo ainda que em
eventual caso ali previsto.
Aproveita-se, então, o ensejo para retornarmos ao item anterior para demonstrar que o
conceito jurídico indeterminado (BARROSO, 2010, p; 313) “significativa degradação
ambiental” empregado na Resolução Conama nº 237, de 1997, diga-se de passagem, não se
encontra ali coincidentemente em consonância com o texto constitucional. Datada de 19 de
dezembro de 1997, a atual redação surgiu compatibilizada com a utilizada pelo Constituinte de
1988. [13]
A potencial degradação deve ser significativa, cabendo ao órgão estadual proceder à
elaboração de critérios para estabelecer os graus dos impactos da atividade humana sobre o
meio ambiente a fim de aferir a potencialidade de degradação pela atividade ou
empreendimento.
O licenciamento ambiental, por sua vez, é fixado de modo inflexível pelo órgão
competente. Este determinará a forma pela qual o projeto será executado, impondo medidas de
prevenção e mitigação de impactos, bem como medidas compensatórias de danos que não
possam ser evitados.
Este licenciamento é incompatível com o planejamento urbanístico também em função
da constante análise discricionária a cargo do Administrador Público, envolvendo um processo
político e democrático de debates e decisões, além de outras variáveis técnicas que, no âmbito
das grandes cidades, conta com inúmeras influências de todas as áreas e graus de intensidade.
Contudo, tal incompatibilidade do EIA/RIMA não impediu que o Projeto Porto
Maravilha ficasse sem a devida atenção de estudos que viabilizassem a observância obrigatória
da variável ambiental pelo Poder Público, cumprindo, inclusive, o que orienta o princípio que
leva o mesmo nome.
Além disso, por ser incompatível com o projeto, evidenciam-se as diferenças manifestas
entre o EIA e o EIV, razão pela qual entende-se muito despretensiosa a redação do artigo 38 do
Estatuto da Cidade ao dispor que “a elaboração do EIV não substitui a elaboração e aprovação
do estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental”.
O entendimento aqui defendido é referendado, inclusive, pelo próprio Parquet na Informação
Técnica nº 156/08 da 4ª CCR – Câmara de Coordenação e Revisão – Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural, facilmente encontrada na rede mundial de computadores.
A despeito da lei não possuir uma redação muito clara e expressamente permitir que o
órgão ambiental competente dispense a elaboração dos estudos, a interpretação mais compatível
com o instrumento ora em análise (EIA/RIMA) consiste na ideia de que as hipóteses elencadas
em cada um dos incisos do artigo 1º possuem certa semelhança entre si. No caso do inciso XIV,
acima transcrito, não é diferente.
Os licenciamentos dos projetos de desenvolvimento urbano, independentemente da sua
extensão, dependerão de EIA/RIMA quando avançarem sobre Zonas de Transição, sejam estas
de qual natureza forem.
Nos casos exploração econômica de madeira ou lenha em áreas acima de 50 (cinquenta)
hectares ou menores quando confrontantes com unidades de conservação da natureza ou em
áreas de interesse especial ou ambiental, também, por estarem nas denominadas Zonas de
18
Amortecimento (Lei nº 9.985/2000, Art. 2º, inc. XVIII). Por Zonas de Amortecimento entende-
se, segundo o legislador, como “o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades
humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os
impactos negativos sobre a unidade”.
No inciso XVIII, a intenção do legislador ao criar a norma foi clara. Nestas regiões em
que haverá ampliação ou implantação de uma nova atividade humana impactante ao meio
ambiente original, os estudos deverão ser elaborados visando permitir o manejo dos recursos
ecológicos auxiliando, assim, na preservação/conservação daquela biosfera. Trata-se de opção
de política legislativa em que se visa permitir o respeito aos Princípios da Prevenção e da
Precaução, sem, todavia, impedir o desenvolvimento natural dos centros urbanos.
Mutatis mutandis, o mesmo se diga da Resolução Conama nº 001/86. Nesta, os projetos
urbanísticos que excedam a extensão de 100 (cem) hectares deverão ser objeto de EIA/RIMA,
pois, na grande maioria das cidades brasileiras, provavelmente avançarão sobre uma espécie de
zona de amortecimento cujos impactos sejam potencialmente causadores de significativa
degradação ambiental. Além disso, no mesmo inciso em que o tema é tratado, encontra-se
também a menção a áreas não urbanizadas, ensejando a mesma interpretação fornecida pela
legislação estadual.
A expressão “projetos urbanísticos” de que trata a Resolução, além de não abranger o
conjunto das intervenções das OUC, foi editada para exigir os estudos nos casos de ampliação
dos perímetros urbanos sobre áreas ainda não urbanizadas. As operações urbanas, como visto,
envolvem “transformações urbanísticas estruturais” sem impacto significativo ao meio
ambiente natural, como no caso de intervenções em áreas de proteção ambiental.
Ora, a redação do inciso XV do art. 2º da Resolução Conama nº 01/86 foi elaborada da
mesma forma que as demais reunindo matérias afins no mesmo inciso. As áreas consideradas
de relevante interesse ambiental se tivessem que possuir tratamento diferente dos projetos
urbanísticos acima de 100 hectares estariam em outro inciso do mesmo dispositivo:
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986.
Artigo 2º - Dependerá de elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão
estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de
atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
(...)
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante
interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais
competentes.
Ressalta-se ainda que, no Brasil, além das unidades usuais referentes a m² e a km²,
utilizam-se algumas medidas denominadas agrárias. Entre os proprietários de terras e
corretores, as medidas utilizadas cotidianamente são as seguintes: are(a), hectare(ha) e o
alqueire. Entre as medidas agrárias, o are é considerado a unidade de medida fundamental,
correspondendo a uma superfície de 100 m², mas atualmente ele é pouco utilizado.
O hectare é atualmente a medida mais empregada em área de fazendas, chácaras, sítios,
regiões de plantações e loteamentos rurais, equivalendo a uma região de 10.000 m². O alqueire
foi uma das medidas agrárias mais utilizadas pelos fazendeiros, mas atualmente ele é
considerado uma medição imprópria, em virtude das diferentes quantidades de m² utilizados
pelos estados brasileiros.
Ao olharmos para ambas as normas objeto de análise verificamos a utilização da unidade
de medida hectare (ha) se referindo às atividades de implantação e ampliação de projetos
urbanísticos (caput, do art. 1º, da Lei nº 1.356/86).
19
Isso significa que o emprego da unidade de medida pelo legislador não é em vão. A
própria Constituição Federal da República de 1988 evidencia o sobredito entendimento ao
utilizar a unidade de medida metro quadrado (m²) ao tratar de temas atinentes às cidades e a
unidade de medida hectare ao tratar de temas afetos a regiões agrárias. No que toca às regiões
agrárias podemos citar como exemplo os artigos 49, 188 e 191 onde se utiliza a medida do
hectare.
Já no que tange às regiões urbanas, o Constituinte Originário optou expressamente por
utilizar a unidade de medida metro quadrado:
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-
á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
Não obstante o aqui defendido, o fato é que o órgão ambiental competente, CECA,
dentro da legalidade, delegou às autoridades ambientais municipais a decisão de analisar e
dispensar ou não a elaboração de EIA/RIMA para a OUCPRJ, Área Urbana Consolidada.
5. CONCLUSÃO
Diante do exposto, podemos inferir que a preservação do meio ambiente não se resume
apenas à existência ou não de um estudo técnico prévio. A questão vai muito além e não são
raras as vezes em que a exigência de sua elaboração poderá impactar muito mais negativamente
que na hipótese de sua dispensa.
Dito isso, deve-se ter em mente que a cidade é o local em que convivem harmonicamente
seres humanos, animais e a flora. São nos centros urbanos onde, segundo a ONU 1, cerca de 4
bilhões de pessoas interagem e vivem, com muito mais intensidade do que no campo, com
edifícios, veículos, sistemas de drenagem, esgoto, animais vetores de doenças, sistemas
elétricos, substâncias poluentes etc. No Brasil, em 2010, cerca de 160 milhões de pessoas
viviam nas cidades, o que corresponde a 84% de todos os habitantes, segundo dados do IBGE
2
.
A tendência natural é que estes números só venham a aumentar, considerando o
prolongamento da expectativa de vida, o aumento do poder aquisitivo e, como consequência, o
consumismo das famílias. Toda essa expectativa apenas contribui para que desde já a dinâmica
das cidades seja repensada e seu urbanismo planejado com mais antecedência, pois,
identificando e evitando os erros cometidos no passado, já estaremos no caminho certo para
começarmos a trilhar um futuro com uma melhor qualidade de vida.
Além disso, não se pode deixar de repetir que o Desenvolvimento Econômico jamais
poderá se sobrepor à necessidade de garantirmos, com uma confortável margem de segurança,
a nossa saudável sobrevivência. A Dignidade da Pessoa Humana encontra-se hoje no epicentro
dos nossos Direitos e Garantias Fundamentais, consagrada na Constituição Federal de 1988.
Dessa forma, as necessidades de promover o desenvolvimento econômico e de preservação do
meio ambiente deverão coexistir harmonicamente, sem uma excluir por completo a outra, e
serem consideradas concomitantemente na execução de políticas públicas urbanas.
Cientes disso, a Razoabilidade e a Proporcionalidade são princípios que deverão estar
presentes no espírito, tanto do Administrador Público, quanto do Órgão Ambiental competente,
quando na fase de licenciamento ambiental de projetos urbanísticos. A Ponderação de
1
https://www.un.org/development/desa/en/news/population/world-urbanization-prospects.html
2
http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=8
20
Princípios, tão mencionada pelo Poder Judiciário, deverá também encontrar espaço no
Executivo, que, ao executar seus projetos, não poderá esquecer da observância obrigatória da
variável ambiental, contribuindo com a atividade dos órgãos ambientais.
Com base nisso defende-se que, independentemente de uma solução meramente
interpretativa de leis e normas ambientais, a razoabilidade aponta na direção da
incompatibilidade da exigência do Estudo de Impacto Ambiental para Operações Urbanas
Consorciadas.
Exemplo disso é exatamente o caso concreto que se dispõe a analisar. A Ação Civil
Pública movido pelo MP/RJ contra o Município do Rio de Janeiro em relação à OUCPRJ nos
permite exaurir o tema de forma ampla e a solucionar as dúvidas existentes. Questionando
principalmente a demolição do Elevado da Perimetral, o Parquet, privilegiando uma
interpretação literal de normas ambientais, simplesmente não percebeu que a demolição do
elevado permitirá ao Município carioca eliminar os impactos ambientais negativos (e que não
são poucos3) causados pelo próprio elevado.
Por derradeiro, pode-se concluir que não é obrigatória a elaboração de EIA/RIMA para
as Operações Urbanas previstas no Estatuto das Cidades, sendo até mesmo desaconselhável. As
renovações urbanas são uma necessidade atual e para isso há outro estudo adequado aos
aglomerados urbanos, o Estudo de Impacto de Vizinhança, o qual apenas merece maior atenção
das autoridades públicas, necessitando de regulamento pelos municípios brasileiros.
Assim, pode-se resumir pelo menos cinco fundamentos para consolidar o entendimento
de que o EIA não era de fato o estudo adequado à OUCPRJ, sendo que os três primeiros aplicar-
se-iam a qualquer operação urbana para dispensá-lo:
▪ A incompatibilidade da Operação Urbana com o EIA/RIMA, uma vez que este estudo
define, inclusive, o local onde será implantado o futuro projeto. Não sendo cabível
quando se encontrar em fase avançada de detalhamento;
▪ A Lei Estadual nº 1.356, de 1988, que estabelece hipóteses para o EIA/RIMA, apenas
os exige para implantação e ampliação de projetos em áreas não-urbanizadas (Art. 1º,
3
Durante as obras de demolição foi constatado que o Elevado da Perimetral servia de abrigo para inúmeras espécies
de animais considerados vetores de doenças, como mosquitos e ratos. Era utilizado por muitos moradores de rua
como banheiro. Suas estruturas absorviam fuligem de poluição produzindo excessiva poeira; produziam sombra
excessiva, inviabilizando o crescimento de árvores e de qualquer vegetação; e excesso de trânsito, devido ao fato
de na superfície, os motoristas naturalmente reduzirem a velocidade ao trafegar. Sem mencionar os grandes
investimentos em sua manutenção e o favorecimento da criminalidade no período noturno. Ao longo dos anos,
especialistas declararam que a Perimetral “assassinou” a Zona Portuária do Rio de Janeiro, transformando seus
três bairros em mero local de passagem, completamente esquecidos pelo resto da cidade e, consequentemente,
pelos governos anteriores.
21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição Federal (1988). Vade Mecum Saraiva. Ed. Saraiva, 2014.
BRASIL. Lei Federal no 10.257, de 10 de julho de 2001. Vade Mecum Saraiva. Ed. Saraiva,
2014.
[2] Reportagem de PUC-Rio Digital, 2012: Zona Portuária aguarda prometida revitalização.
Disponível em: http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/Texto/Cidade/Zona-Portuaria-aguarda-
prometida-revitalizacao-7875.html#.Vi-xF4He-wE. Data de acesso: 20.11.2015
[3] São Paulo tem recorde de congestionamento - Chuva ajudou a criar 838 km de filas na capital
paulista nesta sexta-feira (6) – Disponível em: http://noticias.band.uol.com.br/transito-
sp/noticia/100000739993/sao-paulo-tem-recorde-de-congestionamento.html. Data de acesso:
21.11.2015;
[4] CARVALHO FILHO. José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 3ª Ed. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009, p. 219-220);
[5] CARVALHO FILHO. José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 3ª Ed. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009, p. 246;
[6] SÉGUIN, Elida. Estatuto da Cidade. 2ª Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 93;
[7] TOSHIO ...
[8] FIORILLO, CELSO ANTÔNIO PACHECO Curso de direito ambiental brasileiro. Editora
Saraiva: São Paulo. 2006, p. 90.
[9] Segundo BARROSO, citando HANS KELSEN, SANTI ROMANO e MIGUEL REALE, o
Princípio da Unidade da Constituição “é decorrência natural da soberania do Estado a
impossibilidade de coexistência de mais de uma ordem jurídica válida e vinculante no âmbito
de seu território. Para que possa subsistir como unidade, o ordenamento estatal, considerado na
sua globalidade, constitui um sistema cujos diversos elementos são entre si coordenados,
apoiando-se um ao outro e pressupondo-se reciprocamente. O elo de ligação entre esses
elementos é a Constituição, origem comum de todas as normas. É ela, como forma fundamental,
que confere unidade e caráter sistemático ao ordenamento jurídico. (BARROSO, Luís Roberto.
Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional
transformadora. 7. Ed. ver. – São Paulo: Saraiva, 2009).
[10] DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, ed. 1992.
[11] RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986: Artigo 2º - Dependerá de
elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA,
a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter
supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: (BRASIL.
Resolução Conama nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Data de acesso: 21.11.2015)
[12] O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das atribuições
e competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
regulamentadas pelo Decreto nº 99.274, de 06 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto em
seu Regimento Interno, e (...) (BRASIL. Resolução Conama 237, de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html. Data de acesso:
21.11.2015)
[13] “Conceitos jurídicos indeterminados são expressões de sentido fluido, destinadas a lidar
com situações nas quais o legislador não pôde ou não quis, no relato abstrato do enunciado
normativo, especificar de forma detalhada suas hipóteses de incidência ou exaurir o comando a
ser dele extraído. Por essa razão, socorre-se ele de locuções como as que constam da
Constituição brasileira de 1988, a saber: pluralismo político, desenvolvimento nacional,
segurança pública, interesse público, interesse social, relevância e urgência, propriedade
23
produtiva, em maio a muitas outras. Como natural, o emprego dessa técnica abre para o
intérprete um espaço considerável – mas não limitado ou arbitrário – de valoração subjetiva.”
(BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. – 2 ed. – São Paulo: Saraiva, 2010).
[14] CARVALHO FILHO. José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 3ª Ed. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009, p. 26;
[15] http://4ccr.pgr.mpf.gov.br/institucional/grupos-de-trabalho/gt-zona-costeira/docs-
zonacosteira/
IT_156-08_EIV.pdf
[16] De.sen.vol.vi.men.to sm. (...) 2. Crescimento, progresso; De.sen.vol.ver v.t.d. 1. Fazer
crescer, (...) 5. Crescer. 6. Aumentar, progredir. (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Miniaurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa 7. Ed. – Curitiba: Ed. Positivo, 2008. P. 302).
[17] Art. 1° Esta Lei Complementar institui a Operação Urbana Consorciada - OUC da região
do Porto do Rio de Janeiro, na Área de Especial Interesse Urbanístico – AEIU criada nesta Lei
Complementar, que compreende um conjunto de intervenções coordenadas pelo Município e
demais entidades da Administração Pública Municipal, com a participação de proprietários,
moradores, usuários e investidores, com o objetivo de alcançar transformações urbanísticas
estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental de parte das Regiões Administrativas I, II,
III e VII, em consonância com os princípios e diretrizes da Lei Federal n° 10.257, de 1 0 de julho
de 2001 - Estatuto da Cidade e do Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro. Parágrafo
único. O término da Operação Urbana Consorciada. (Lei Complementar Municipal nº 101, de
23 de novembro de 2009).
[18] D’OLIVEIRA, Rafael Lima Daudt. Nota Sobre Alguns Aspectos Polêmicos do
Licenciamento Ambiental In Revista de Direito da Procuradoria-Geral. 2006. P. 281-284;
[19] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 36. Ed. São Paulo:
Malheiros, 2010, p. 162;
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 36. Ed. São Paulo: Malheiros,
2010.