Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Grupo: Carlos
Juliana
Pedro
Sara Menezes Ribeiro
Existe, entretanto, um ponto pouco discutido nas abordagens dessa área, referindo-
se à distinção entre a pobreza monetária e a multidimensional. No caso da primeira,
refere-se à privação de renda, na qual os indivíduos não tem o mínimo de recursos
econômicos para atender suas necessidades básicas; já a segunda deriva da
abordagem das capacitações desenvolvida por Sen (1990), apontando a pobreza
como a pior forma de privação, representando a ausência de oportunidades,
negando a possibilidade dos indivíduos de obterem recursos essenciais para sua
sobrevivência (como emprego, infraestrutura social, habitação, educação, direitos
políticos, acesso à cultura, etc). Nessa abordagem, a renda não necessariamente
garante a obtenção de todas essas dimensões, se apresentando como elemento
necessário, mas não suficiente para se obter o bem-estar pleno dos indivíduos.
No texto “O capital do século XXI”, Piketty também mostra essa relação pobreza-
criminalidade ao contar o romance de Balzac onde mostra o discurso de Vautrin, que
fala que “Levando em conta a estrutura da renda e da riqueza em vigor na França do
século XIX, os níveis de vida que se podia alcançar chegando ao topo da hierarquia
dos patrimônios herdados eram bem mais elevados do que os correspondentes aos
topos da hierarquia das rendas do trabalho. E diante tais condições, para que
trabalhar e se comportar de modo ético e moral? Afinal, se a desigualdade social é
sempre imoral, injustificada, por que não testar o limite da imoralidade e se apropriar
do capital por qualquer meio disponível? Não importam os detalhes das cifras, o fato
central é que na França do início do século XIX, o trabalho e os estudos não
permitiam que se chegasse ao mesmo nível de vida que a herança e as rendas do
patrimônio.” E ainda hoje, essa discussão se aplica. Pois diante de tal dificuldade
para se alcançar a riqueza (ou para muitos, somente a sobrevivência) e tendo como
alternativa maneiras mais rápidas e fáceis, mesmo que imoral e antiética, a
tendência será para esse lado da criminalidade. E diante de tal ideia, surgem
aqueles que vem em defesa ao conceito da meritocracia, o que, como visto segundo
os autores mencionados acima, na maioria das vezes, não se aplica a realidade de
quase toda a população. Pois como mostra Pikkety, existem grandes diferenças de
concentração de propriedade de capital e de renda na sociedade em toda a história,
e quando se trata da propriedade de capital isso se torna ainda mais evidente, uma
vez que os descendentes já nascem possuindo tais bens por meio da herança, além
de já estarem inseridos em um ambiente social com melhores condições, o que já
inviabiliza a aplicação da meritocracia a todos. E existem dados que comprovam
essa relação, como mostra o quadro abaixo:
Não se trata de justificar a violência com a pobreza, muito menos dizer que quem é
pobre comete crime. O objetivo é apenas demonstrar que há relação direta entre
elas e que é preciso diminuir o nível de pobreza, aumentando a presença do Estado,
para, consequentemente, diminuir a violência.
Disto isso, podemos concluir que a pobreza é um fenômeno com múltiplas faces,
entendida e percebida de diferentes formas, tendo, porém, a mesma essência, que é
a não satisfação das necessidades básicas de um indivíduo ou de um grupo de
indivíduos. Kageyama e Hoffmann (2006) definem-na como privações dos
indivíduos, pautando-se em restrições materiais como também em elementos de
ordem cultural e social.
Onde o Estado falta com o mínimo que a sociedade precisa e se desenvolva, apesar
de todas as dificuldades inerentes (educação, saúde, segurança, emprego,
assistência social), estará entreaberta a porta e as oportunidades para que o crime
possa suprir serviços que deveriam ser prestados pelo Estado.