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Pobreza e Desigualdade Social

Grupo: Carlos
Juliana
Pedro
Sara Menezes Ribeiro

Experiências e políticas no combate à pobreza: Pobreza e a criminalidade

A insegurança pública sempre foi um dos principais problemas do Brasil. Atrelado a


isso, os debates acerca da segurança pública ganharam destaque, com discussões
sobre os fatores determinantes da criminalidade, bem como das ações que
potencialmente podem minimizar tal questão social. Foram desenvolvidos, trabalhos
importantes relacionando diferentes fatores à criminalidade, os quais podem ser
enquadrados em quatro grupos.

No primeiro, tem-se os modelos de alocação ótima do tempo, cujas hipóteses é de


que os indivíduos escolhem à atividade criminal em função dos ganhos esperados
(BECKER, 1968). O segundo grupo trata da escolha dos indivíduos em se inserir na
criminalidade via o dispêndio de parte de sua riqueza no mercado ilegal, chamados
de modelos de portfólio (CARRERA-FERNANDEZ, 1997). A terceira abordagem fixa
sua análise na decisão dos indivíduos em migrar de uma atividade legal versus a
ilegal por meio da avaliação das oportunidades disponíveis, cruzando os ganhos
esperados em relação aos custos dessa migração de atividade. Por fim, o quarto
grupo trabalha os modelos comportamentais, relacionando a atividade criminal às
interações sociais. E dentre os aspectos investigados nessa última abordagem, tem-
se a pobreza. Autores como Blau e Blau (1982), Land et al. (1990), Bailey (1984),
Krivo e Peterson (1996), dentre outros, identificaram uma relação positiva entre a
criminalidade e a condição de pobreza de uma região. O principal argumento é de
que as privações econômicas criam tensões e também uma desorganização social,
induzindo às práticas criminosas (principalmente o roubo). A hipótese é de que a
falta de recursos econômicos eleva a ocorrência crimes, e a fraca coesão social, ao
atenuar os laços locais e os mecanismos de controle social e de demanda por bens
coletivos, induz a uma alta proporção de infratores.

Existe, entretanto, um ponto pouco discutido nas abordagens dessa área, referindo-
se à distinção entre a pobreza monetária e a multidimensional. No caso da primeira,
refere-se à privação de renda, na qual os indivíduos não tem o mínimo de recursos
econômicos para atender suas necessidades básicas; já a segunda deriva da
abordagem das capacitações desenvolvida por Sen (1990), apontando a pobreza
como a pior forma de privação, representando a ausência de oportunidades,
negando a possibilidade dos indivíduos de obterem recursos essenciais para sua
sobrevivência (como emprego, infraestrutura social, habitação, educação, direitos
políticos, acesso à cultura, etc). Nessa abordagem, a renda não necessariamente
garante a obtenção de todas essas dimensões, se apresentando como elemento
necessário, mas não suficiente para se obter o bem-estar pleno dos indivíduos.

E esse ponto é afirmado também pelo autor trabalhado na disciplina no texto “O


Debate sobre a Pobreza” onde diz que: “Na busca de uma concepção de pobreza,
além da ampla relação com termos e expressões variadas, a abundante literatura,
desenvolvida nos anos 1960 na América do Norte e nos anos 1970 e 1980 na
Europa, evidencia tratar-se de um termo ambíguo, revestido de diferentes
significados. Todavia, a tendência é referenciá-la como um fenômeno relativo, que
depende do modo de vida dominante de cada país, como fenômeno dinâmico,
heterogêneo, multidimensional, pela interferência de aspectos quantitativos e
qualitativos representados por um acúmulo de deficiências socioeconômicas e
culturais. Além do problema de deficiência de renda, ao conceito de pobreza
agregam-se problemas de saúde, educação, moradia, desemprego e grande
dificuldade de fazer valer direitos no meio profissional e extraprofissional. Trata-se
de uma situação durável de “não ter”, “não saber” e de “não poder” (EUZEBEY,
1991. p. 9).”

No texto “O capital do século XXI”, Piketty também mostra essa relação pobreza-
criminalidade ao contar o romance de Balzac onde mostra o discurso de Vautrin, que
fala que “Levando em conta a estrutura da renda e da riqueza em vigor na França do
século XIX, os níveis de vida que se podia alcançar chegando ao topo da hierarquia
dos patrimônios herdados eram bem mais elevados do que os correspondentes aos
topos da hierarquia das rendas do trabalho. E diante tais condições, para que
trabalhar e se comportar de modo ético e moral? Afinal, se a desigualdade social é
sempre imoral, injustificada, por que não testar o limite da imoralidade e se apropriar
do capital por qualquer meio disponível? Não importam os detalhes das cifras, o fato
central é que na França do início do século XIX, o trabalho e os estudos não
permitiam que se chegasse ao mesmo nível de vida que a herança e as rendas do
patrimônio.” E ainda hoje, essa discussão se aplica. Pois diante de tal dificuldade
para se alcançar a riqueza (ou para muitos, somente a sobrevivência) e tendo como
alternativa maneiras mais rápidas e fáceis, mesmo que imoral e antiética, a
tendência será para esse lado da criminalidade. E diante de tal ideia, surgem
aqueles que vem em defesa ao conceito da meritocracia, o que, como visto segundo
os autores mencionados acima, na maioria das vezes, não se aplica a realidade de
quase toda a população. Pois como mostra Pikkety, existem grandes diferenças de
concentração de propriedade de capital e de renda na sociedade em toda a história,
e quando se trata da propriedade de capital isso se torna ainda mais evidente, uma
vez que os descendentes já nascem possuindo tais bens por meio da herança, além
de já estarem inseridos em um ambiente social com melhores condições, o que já
inviabiliza a aplicação da meritocracia a todos. E existem dados que comprovam
essa relação, como mostra o quadro abaixo:

É importante destacar que a existência dessas melhores condições independe


muitas vezes da renda que se tem, podendo ser o resultado direto da própria ação
conjunta da população, num ambiente de coesão social e também de programas
sociais. Portanto, algumas práticas criminosas poderiam ser o resultado da ausência
do Estado em não proporcionar condições adequadas de bem-estar para todos
(ZAFFARONI, 1989). Tem-se como hipótese de que não somente a falta de recursos
monetários induziria às práticas criminosas, mas também a precarização da
infraestrutura social, bem como a própria contenção das capacidades dos
indivíduos. Diante disso, podemos concluir que os indicadores mostram que é um
equívoco as políticas de enfrentamento da violência focadas apenas no policiamento
e em estratégias repressivas, e que o estado não é capaz de oferecer condições
básicas de vida e cidadania para parcelas significativas da população, e justamente
essas pessoas, vivem em condições de inserção precária no mercado de trabalho,
evadem da escola muito cedo, habitam em territórios sem infraestrutura são os que
mais ficam vulneráveis à violência.

Relacionar violência à pobreza é algo complicado, pois as pessoas, com seus


julgamentos apressados, dirão que está sendo afirmado que todo pobre é criminoso,
o que não é verdade.

Não se trata de justificar a violência com a pobreza, muito menos dizer que quem é
pobre comete crime. O objetivo é apenas demonstrar que há relação direta entre
elas e que é preciso diminuir o nível de pobreza, aumentando a presença do Estado,
para, consequentemente, diminuir a violência.

De acordo com os dados contidos no Atlas da Violência, as dez cidades com


maiores taxas de assassinatos no Brasil têm nove vezes mais pessoas na extrema
pobreza do que as cidades menos violentas".

Portanto, afirmar que a violência diz respeito única e exclusivamente à vontade do


agente, desconsiderando todos os fatores sociais, econômicos, familiares e etc. é
simplificar demais algo que é complexo.

Disto isso, podemos concluir que a pobreza é um fenômeno com múltiplas faces,
entendida e percebida de diferentes formas, tendo, porém, a mesma essência, que é
a não satisfação das necessidades básicas de um indivíduo ou de um grupo de
indivíduos. Kageyama e Hoffmann (2006) definem-na como privações dos
indivíduos, pautando-se em restrições materiais como também em elementos de
ordem cultural e social.

Onde o Estado falta com o mínimo que a sociedade precisa e se desenvolva, apesar
de todas as dificuldades inerentes (educação, saúde, segurança, emprego,
assistência social), estará entreaberta a porta e as oportunidades para que o crime
possa suprir serviços que deveriam ser prestados pelo Estado.

Assim, acredita-se que se aspectos locais de bem-estar coletivo forem efetivados,


pode-se induzir a uma retração na criminalidade, especialmente naquelas regiões
nas quais existem uma carência maior desses elementos.

Ressalta-se que este trabalho não encerra a discussão sobre privações e


criminalidade, pelo contrário, abre um leque de questões cruciais para o
entendimento dos determinantes dessa relação como: dentre as privações, quais
apresentam maior impacto sobre a criminalidade? O que determina as privações
municipais? Essas são algumas das questões que surgem a partir da discussão
proposta nesse trabalho.

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