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INDAIAL

CONHECENDO SUA HISTÓRIA

R$ 10,00 TOMO II - NÚMERO 03 SETEMBRO 2016


Lema da AMARHIN:

“Quem não conhece o passado, pouco pode esperar do futuro”

Erich Stange

Objetivos da AMARHIN:

- Acompanhar a atuação do Arquivo Histórico Municipal Theobaldo Costa


Jamundá, desenvolvendo ações complementares que contribuam para o seu
perfeito desempenho técnico e cultural;

- Atuar junto à comunidade indaialense, no sentido de conhecer e apoiar


os trabalhos de resgate, conservação, preservação e divulgação da memória
documental, histórica e cultural de Indaial;

- A AMARHIN é parceira do Museu Ferroviário Municipal Silvestre Ernesto da


Silva, em atividades que visam à preservação da história e do seu patrimônio,
bem como apoiar a instalação de outros museus e iniciativas de cunho
histórico.

AMARHIN—ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE INDAIAL

Rua Rio Grande do Sul, 150 — CENTRO — 89130-000 — INDAIAL / SC — BRASIL

E-mail: informativoamarhin@gmail.com
INDAIAL
CONHECENDO SUA HISTÓRIA

R$ 10,00 TOMO II - NÚMERO 03 SETEMBRO 2016


Todos os direitos desta edição reservados à AMARHIN — Associação dos Amigos do Arquivo Histórico Municipal de
Indaial.
 
O Arquivo Histórico Municipal Theobaldo Costa Jamundá e a AMARHIN não se responsabilizam pelo
conteúdo dos artigos assinados e por eventuais equívocos, sendo a acuidade e correção das informações
de responsabilidade de seus respectivos autores.
 
Presidente da AMARHIN: Werner Alexandre Tkotz
Secretária: Bettina Hardt
Tesoureira: Maria Salete Koser da Veiga
Diretor Sociocultural: Heinz Beyer
Secretária para Assuntos Especiais: Úrsula Maria Kretzer
Conselho Fiscal: Carmen Brandes Hardt — Ralf Cipriano — Luiz Carlos Henkels
 
Conselho Editorial: Marco Antônio Struve (Coordenador) – Maria Salete Koser da Veiga (secretária) –
Bettina Hardt - Heinz Beyer — Luiz Carlos Henkels
Marcelo da Silva— Úrsula Maria Kretzer  
 
Projeto Gráfico: Profa. Maria Salete Koser da Veiga / Marco Antônio Struve
Diagramação e Execução: Nós das artes — Agência de mobilidade cultural
Revisão: Marco Antônio Struve / Maria Salete Koser da Veiga

 
 
 Capa: Inauguração da Ponte do Arcos em 10 de outubro de 1926. A foto mostra a ponte vista a partir
da margem esquerda (Schroeder) — Imagens do acervo iconográfico do Arquivo Histórico Municipal
Theobaldo Costa Jamundá.

 
  
Indaial conhecendo sua história / Associação dos Amigos do Arquivo Histórico de
Indaial (AMARHIN).— t.1, n.1 (mar./maio) 2015- .— Indaial: AMARHIN,
2015-

t.2, n.3 set. 2016/nov. 2016



Trimestral.

ISSN 0000-0000

1. Indaial – História; 2. Indaial – Memória. 3. Entrevistas. I. Associação dos


Amigos do Arquivo Histórico de Indaial.

CDD 981.816
Ficha catalográfica: Daniele Rohr - CRB 14/1279

Impressão: Gráfica Gandrei


Tiragem: 1000 exemplares
PALAVRA DO PRESIDENTE
Em razão do afastamento temporário do presidente Werner Alexandre Tkotz,
para realizar uma longa viagem de bicicleta pela América do Sul, assumo pela segun-
da vez, agora interinamente, a presidência da AMARHIN. Certo estou de poder contar
novamente com a costumeira e importante colaboração dos colegas para conduzir os
trabalhos da melhor forma possível. Ao Alexandre e seu companheiro de viajem, Hermes
Braatz, a família AMARHIN almeja êxito e sucesso nessa ousada aventura. Certamente
terão, e já estamos na expectativa, muitas e belas histórias para contar.

Com a extrema dedicação dos associados, notadamente do Conselho Editorial,
do apoio de diversas entidades e patrocinadores, do prestígio dos leitores, chegamos ao
número 3 – Tomo II, do INDAIAL CONHECENDO SUA HISTÓRIA, seguindo avante na fasci-
nante tarefa de pesquisar e divulgar a história de Indaial.

Nesta edição iniciamos uma nova série com o título: EXPLORAÇÕES E APONTA-
MENTOS SOBRE A GEOGRAFIA DE INDAIAL. Serão narrativas de experiências vividas por
pessoas amantes da natureza que, sobretudo, se dispõe a desafiar condições adversas
em expedições que envolvem o desconhecido, para descobrir e registrar as belezas natu-
rais e consequentemente conhecer melhor a geografia do município. Nessas expedições
acontecem surpresas e imprevistos de toda ordem. Iniciamos com a primeira parte da
EXPEDIÇÃO AO RIBEIRÃO ENCANO realizada nos dias 16 e 17 de outubro de 2003, que
terá desdobramentos emocionantes nas partes subsequentes.

Na seção MEMÓRIAS E RAÍZES, iniciamos a publicação de uma série de artigos


que contará com a participação de arquitetos, engenheiros, historiadores e pesquisado- 5
res, para descrever a “técnica construtiva Enxaimel” e seu valor como patrimônio cultural
e histórico. No artigo inicial os autores Marco Antonio Struve e Marcelo da Silva traçam
um breve panorama histórico do Brasil retratando a presença de cidadãos de origem Ger-
mânica nos anos iniciais da formação do país até a chegada da Família Real Portuguesa no
Brasil em 1808.

A história da Ponte Emílio Baumgart, a nossa Ponte dos Arcos, que completará
90 anos em 26 de outubro de 2016, também será lembrada com a publicação, na íntegra,
da matéria de capa do Jornal REPÚBLICA da cidade de Florianópolis, que, numa quinta-
-feira, 14 de outubro de 1926, contava detalhes da história da construção da “Ponte do
Indayal”.

Nesta edição publicamos o quinto, e mais extenso, capitulo do livro “INDAIAL:


MUNICÍPIO DO VALE DO ITAJAÍ-AÇU”, de Theobaldo Costa Jamundá, intitulado: A Cidade,
O Vale, O Rio e o Homem.

Da série, VIDA E OBRA DOS PREFEITOS DO MUNICÍPIO DE INDAIAL, a escritora


Edltraud Zimmermann Fonseca narra a história do médico e prefeito, Dr. Nilo de Freitas.

Nas últimas páginas publicamos a 3ª parte da história dos 50 anos da Metalúr-


gica Fey, a nossa parceira maior, à qual somos muitíssimos gratos.

Até a próxima edição, abraço a todos e proveitosa leitura!

Heinz Beyer
Fale com a gente
A todos aqueles que se dedicam Dr. Heinz Schutz) e ao fundo a
para manter acesa a história de construção da antiga Igreja Cató-
nosso município, bem como con- lica do Município, esquina com a
tribuem para a circulação deste Rua Marechal Deodoro da Fon-
exemplar merecem reconhecido seca.
reconhecimento de toda a popu- Foto 2: Construção do Ginásio de
lação. esportes Sérgio Luiz Petters, na
década de 70 e ao fundo a Casa
Em relação a publicação dos de- da Cultura.
fafios na página 24:
Atenciosamente
Foto 1: Esta foto retrata a São
Francisco Rua do Posto de Saúde Walter Krieck Neto

Teste de peso da Ponte dos Arcos - Antes da ponte ser liberada para o
público foi realizado o teste de peso que se constituiu em colocar sacos
de areia sobre toda a extensão da ponte e depois passaram sobre
ela com uma carroça carregada de pedras e sacos de areia. Na foto
podemos observar que o arco número 4 ainda estava com as escoras.
Ele foi o último a ser concluído.
SUMÁRIO
PALAVRA DO PRESIDENTE ............................................... 5
Fale com a gente ............................................................. 6
Explorações e apontamentos sobre a geografia de Indaial
EXPEDIÇÃO AO RIBEIRÃO ENCANO – Parte 1
Heinz Beyer—Texto e fotos / Sérgio Feuser - imagem satélite
........................................................................................ 8
Indaial Antigo ................................................................ 14

MEMÓRIA E RAÍZES
Indaial - Memória - Origem - Raízes - História

ENXAIMEL: um jeito de construir o brasil - parte I


A presença dos alemães no brasil: do descobrimento à 7
chegada da família real portuguesa
Marco Antônio Struve - Marcelo da Silva ........................ 15
A PONTE DO INDAYAL ..................................................... 19

Indaial: Município do Vale do Itajaí-Açú


Theobaldo Costa Jamundá
“Anotações sôbre o Vale do Itajaí:
A Cidade, o Vale, o Rio e o Homem” ................................ 23
Vida e Obra dos prefeitos do Município de Indaial
Edltraud Zimmermann Fonseca
NILO DE FREITAS .......................................................... 40

POLÍTICA EDITORIAL ...................................................... 45


50 ANOS DA METALÚRGICA FEY – Parte III ...................... 46
Explorações e apontamentos sobre a geografia de Indaial
EXPEDIÇÃO AO RIBEIRÃO ENCANO – Parte 1
Heinz Beyer—Texto e fotos/ Sérgio Feuser - imagem satélite

A primeira ideia de fazer uma expedi- ou no googlemaps. Consistiria em fa-


ção ao longo do Ribeirão Encano foi, zer um levantamento da flora, fauna,
do igualmente, amante da natureza geologia, acidentes geográficos, paisa-
Luiz Carlos Henkels. Seria uma cami- gem, preservação e degradação. Nas
nhada, bem planejada, de sua foz em partes habitadas seria possível regis-
Encano Baixo até a nascente no extre- trar as condições sociais, atividades e
mo sul de Indaial, na região do Faxinal sua história.
do Beppe.
A expedição, além de satisfazer o es-
A ideia me fascinou de imediato, pois pírito de aventura dos voluntários
também sempre tive esse desejo de participantes, teria como objetivo
conhecer melhor nosso município, principal, fazer um trabalho sério para
principalmente aquela parte que só se melhor conhecer nosso território mu-
sabe que existe, olhando nos mapas, nicipal, o ecossistema, o potencial de

8
eco turismo, que a maioria ainda não apoio da diretoria de desenvolvimen-
conhece. O resultado desse trabalho to econômico da Prefeitura Municipal
poderia ficar a disposição para uso di- de Indaial e do setor de turismo, co- 9
dático. gitou-se em realizar uma parte da ex-
pedição. Entraram em ação, além de
Chegamos a fazer uma reunião em 02 mim (que não apareço na foto), a par-
de julho de 1999, na casa de Germa- tir da esquerda: Alidio Tamanini, Mai-
no Boos, outro interessado em par- con Mohr, Rogério Wilson Theiss, Luiz
ticipar, com a presença, também, de Otávio Giovanella, André Nascimento
Luiz Carlos Henkels, Charles Thurow e e Sérgio Feuser.
André Nascimento. Outros foram con-
vidados, mas não puderam participar: Várias reuniões. Datas marcadas e
Sergio Duarte, Eduardo Wanke, Wer- adiadas... finalmente nos dias 16 e17
ner Neuert, Edgar Cardoso e Edson de outubro de 2003 conseguimos pôr
Huebes. Nesse encontro planejamos em prática a primeira etapa da Expe-
de que forma iríamos concretizar a dição Encano, depois de planejamen-
expedição ficando estipulada uma pri- tos e preparativos.
meira data para agosto de 1999. No
entanto, imprevistos de toda ordem Saímos de Indaial lá pelas 3 horas da
impediram nossa empreitada. A ideia madrugada com dois carros, eu com
ficou latente e volta e meia fazia parte minha inseparável Parati ano 90, que
das conversas entre os amigos. não nega fogo, e o Maicon com seu
carro.
Novas pessoas começaram a se inte-
ressar pelo assunto e reacendeu-se a Durante a viagem lembrei que em
ideia da expedição. Em 2003, com o 1935 o agrimensor Gerald Konrad Ge-
bler, passou por esse lugar fazendo combinado. Ato contínuo, depois de
medições de terras para a Mineração ajustar nossas tralhas, rumamos a
Catarinense. Levei no carro o relato bordo da TOYOTA do Sr. Ângelo em
onde ele descrevia em detalhes as direção às nascentes. É um trajeto de
dificuldades que passara no Ribeirão aproximadamente 7 km, quase todo
Encano, e resumidamente, repassei as em área desmatada e com pastagem.
informações aos colegas, preparando- Por um pequeno mal-entendido, o Sr.
-os psicologicamente para a aventura, Ângelo nos deixou próximo ao Ribei-
o que se confirmaria depois. rão Encano, porém distante cerca de 1
km da nascente. Como nosso objetivo

10

Nossa primeira parada, na ida, foi no era começar pela nascente, tivemos
encontro do Ribeirão Encano com seu que caminhar um pouco, e fizemos
afluente principal, o Braço do Enca- assim um aquecimento forçado, o que
no, local que fica à beira da estrada foi muito bom.
e onde planejamos concluir a primei-
ra etapa da caminhada. Importante Antes de iniciarmos a jornada, con-
lembrar que desse ponto até perto da videi os colegas a subirem em uma
nascente, o trajeto é longe de tudo e elevação, lugar que considero extre-
em plena floresta. O Sérgio e o Mai- mamente interessante e rico em de-
con fizeram a marcação no GPS para talhes do ponto de vista geográfico.
o devido registro e orientação. Pros- Daquele ponto visualiza-se, além da
seguindo, chegamos à pousada do nascente do Ribeirão Encano, outra
Ângelo Molinari, no faxinal do Beppe, bem próxima cujas águas correm para
ao clarear do dia, para tomar um café um afluente do Rio Itajaí Mirim, cru-
reforçado, conforme previamente zando o município de Botuverá; a uns
800 metros, fica a nascente principal futuras gerações.
do Ribeirão Warnow, todas despro-
tegidas e localizadas em plena pas- Uma vez na nascente do Encano, pe-
tagem. Outra importante nascente, las 7 horas e 15 minutos, fizemos os
a do Ribeirão Garcia, também está primeiros registros em fotos e vídeo,
próxima, mas não pode ser visualiza- nos localizamos no GPS, registramos a
da desse ponto e, já que esta fica den- altitude (793m) e coletamos água em
tro de uma área de mata preservada. vasilhame esterilizado. Aliás, desco-
Merece destaque também mencio- brimos posteriormente que fomos in-
nar que esse ponto de observação, é gênuos ao imaginar que pudéssemos
o local onde se encontra o divisor de coletar a água e fazer a análise dias
águas entre as bacias do Encano, do depois. Foi o único trabalho perdido.
Warnow, do Garcia e, parcialmente,
do Itajaí Mirim. Neste mesmo local se As primeiras águas do Ribeirão En-
encontram os limites entre os municí- cano correm bem tímidas em plena
pios de Indaial, Blumenau e Botuverá. pastagem por um pequeno trecho,
Desse ponto também se tem uma óti- para logo em seguida adentrar em
ma visão do Morro do Gravatá, mais uma mata de porte médio e se alter-
alto de Indaial, com 1039 metros. Vis- nando, onde, a margem direita é sem-
lumbro um atrativo turístico para este pre coberta por aquela vegetação e a
local no futuro, um mirante e um mar- esquerda, pastagem. Num ponto es-
co com um painel explicativo poderia tratégico o Sérgio realizou a primeira
ser instalado para conhecimento das medição de vazão e o Luiz Otávio, fez
nova coleta de água. Em seguida loca- 11
lizamos o primeiro afluente na mar-
gem direita, conferindo com o mapa,
onde se coletou água e mediu-se a
vazão. Ressaltando que o primeiro
trecho, até o inicio da mata fechada,
cerca de 2 km., é bem encharcado,
pantanoso e até difícil de caminhar. O
Rogerinho, carregando uma despro-
porcional mochila, teve dificuldades
para se locomover.
Terminada a pastagem, começaria a
verdadeira aventura. Sabíamos que
daquele ponto até o Braço do Encano,
seria uma floresta só, longe de tudo
e sem comunicação com o mundo lá
fora. Tudo seria novidade dali para
frente e estávamos ansiosos para co-
nhecer cada detalhe. As águas crista-
linas corriam sem pressa no meio de
uma intocada vegetação exuberante
com uma infinidade de espécies: ta-
quaras, xaxins, trepadeiras, cipós, bro-
mélias...
em pedras escorregadias ao lado de
Pequenos afluentes viriam a aumen- perigosas águas revoltas. O Rogerinho
tar gradativamente o volume de água, tomou a dianteira e, inesperadamen-
sendo sempre feita a coleta de água, te, jogou-se numa piscina natural com
medições, fotos e filmagem, nos pon- roupa e tudo. Na verdade, não tinha
tos mais interessantes. Caminhamos outro jeito. Nós, mais precavidos, pelo
algumas horas – sempre no leito do menos tiramos grande parte da rou-
ribeirão – e o cenário não mudava pa, e a passamos, juntamente com as
muito. Até comentávamos que seria mochilas e outros equipamentos que
monótono, se todo o percurso fosse não podiam molhar, para o Rogerinho
assim. Mas estudando as curvas de que estava com a água até a barriga.
nível do mapa, certamente logo en- Mesmo assim, ninguém escapou de
frentaríamos desníveis importantes e, se jogar na água fria. Vale lembrar que
consequentemente, cachoeiras. Não o Luiz Otávio estava gripado e com fe-
deu outra; uma cascata com cerca de bre. Felizmente sobreviveu.
7 metros de altura foi a amostra do
que nos esperava adiante. Passamos Descemos mais um pouco e depois
algum trabalho para contorná-la atra- de uma belíssima cascata, eis que,
vés da vegetação fechada, cipós e bro- bem a nossa frente, uma cachoeira
mélias espinhentas. Mais algumas cas- de porte razoável nos desafiava. Cena
catas menores, para encher os olhos, lindíssima! Com aproximadamente 20
e um importante afluente na margem metros de altura, o que já teria vali-
do a pena nossa
12 caminhada. Cur-
timos extasiados
essa maravilha
por alguns mi-
nutos, quando
acordamos para
a realidade e
constatamos que
não seria possí-
vel descer a ca-
choeira sem o
auxílio de rapel e
que não teríamos
tempo suficiente
para descer um
por um através
direita. Estava ficando fascinante! de cordas. A outra opção era contor-
Por volta das 14:00 horas paramos nar a queda. Teoricamente fácil, se
para encher o estômago com sanduí- não existissem os paredões com apro-
ches e os olhos com a natureza. Prosse- ximadamente 100m de altura em am-
guindo, logo adiante, enfrentaríamos bos os lados.
um lindo cânion. Paredões de ambos
os lados, forçaram-nos a transpor o Nesse momento deu um frio na espi-
obstáculo onde foi preciso se agarrar nha, pois já estava quase anoitecendo
finalida-
de. Não
havíamos
levado
nada dis-
so na ca-
minhada
porque
ac háv a -
mos ex-
cesso de
peso e
volume e
por acre-
ditarmos
que os
desafios
não se-
e a probabilidade de pernoitar no mato riam tão radicais.
já era grande. Optamos por contornar
pela margem direita apesar de não Ao chegar no topo do perau, donde
se saber qual seria o caminho menos se tem, inclusive, visão lindíssima de
difícil, visto aqui de baixo do leito do parte do vale e sua topografia, alguém
ribeirão. O Alidio e o Luiz Otávio toma-
ram a dianteira subindo um grotão for-
sugeriu pernoitar ali mesmo, apesar 13
de se saber que nesse lugar tão alto,
mado por água da chuva, porém, logo o frio seria mais intenso do que lá em
desistiram e resolvemos subir o perau, baixo.
literalmente escalando, e se agarrando
em plantas, raízes grudadas nas rochas;
às vezes o chão sumia debaixo dos pés,
ficando-se pendurado em qualquer
coisa ao alcance das mãos. Assim fo-
mos subindo lentamente, o André e
o Alídio abrindo caminho e o Maicon,
por último, dando cobertura. A medida
que íamos subindo, sempre próximo
ao abismo para encontrar um caminho
para retornar ao ribeirão, o que parecia
cada vez mais difícil e distante, nos con-
vencemos de ter cometido uma atitu-
de muito impensada. Subestimamos as
dificuldades que uma empreitada no
desconhecido pode apresentar e não
estávamos preparados para dormir
no mato. Aliás, estávamos. Tínhamos
deixado nos carros, barracas, sacos
de dormir e roupas quentes para essa
Desafios?

14 Onde é este local?: ______________________________________________________________

Onde é este local?: ______________________________________________________________


MEMÓRIA E RAÍZES
Indaial - Memória - Origem - Raízes - História
MEMÓRIA E RAÍZES seguindo o espírito do livro “MEMORAÍZES: instantâneos
históricos de Indaial” lançado em 2000 por Erich Stange que reúne textos de
qualquer pessoa que queira contribuir com o registro, a construção e a pre-
servação da história de Indaial, através de relatos e imagens que poderão ser
enviados ao Arquivo Histórico Municipal Theobaldo Costa Jamundá.

No artigo inicial: “Enxaimel no Brasil - Parte I - A presença dos alemães no


Brasil: Do descobrimento à chegada da família Real Portuguesa.” Aqui, os
autores traçam um breve panorama histórico do Brasil retratando a pre-
sença de cidadãos de origens germânicas dos anos iniciais da formação do
país até a chegada da Família Real Portuguesa no Brasil em 1808, retratan-
do de forma resumida a importância destes indivíduos na construção da
nação. O objetivo final desta série de artigos, que contará com a participa-
ção de arquitetos, engenheiros, historiadores e pesquisadores, é descrever
a “técnica construtiva Enxaimel” como patrimônio cultural e histórico a
partir de seu desenvolvimento na Alemanha até a sua adaptação e utiliza-
ção pelos imigrantes germânicos, principalmente, do Rio Grande do Sul e
Santa Catarina e concluindo com o mapeamento dos remanescentes desta
técnica construtiva ainda existentes em Indaial e os processos de preserva-
ção deste patrimônio histórico edificado. 15
Em outubro de 1926 acontecia a inauguração da Ponte dos Arcos - Ponte
Emilío Baumgart. Para registrar a data, publicamos nesta edição a repor-
tagem publicada na capa do Jornal REPÚBLICA da cidade de Florianópolis,
na quinta-feira, 14 de outubro de 1926, que data a inauguração em 10 de
outubro daquela ano e conta detalhes da história da construção da “Ponte do
Indayal” e dos desafios para a construção desta maravilha de aço e concreto
que se transformou em um dos símbolos da cidade de Indaial. A reportagem
está publicada na Integra, apenas atualizamos a ortografia para os dias atuais.

enxaimel: um jeito de construir o brasil


parte i- a presença dos alemães no brasil:
: o descobrimento à chegada da
d
família real portuguesa
Marco Antônio Struve ¹
Marcelo da Silva ²
Em 22 de abril de 1500 os importante dentre eles, Mestre João
primeiros cidadãos de origem ger- (Johannes artium et medicine ba-
mânica chegaram ao Brasil. O mais chalarius – João Bacharel em artes e
medicina , físico e cirurgião de Vossa
Alteza) viajava como astrônomo na
esquadra de Cabral (1467 - 1520) a
serviço da Coroa Lusitana. Dele é um
dos primeiros documentos de regis-
tro do descobrimento do Brasil. Uma
carta endereçada ao rei Dom Manuel
I (1469 - 1521) em que descreve o céu
da nova terra. Datada de primeiro de
maio de 1500, e enviada no mesmo
em dia da de Pero Vaz de Caminha O céu do Brasil em 27 de abril de 1500
(1450 - 1500), atestava que as terras desenhado pelo Mestre João.
recém descobertas encontravam-
-se dentro dos limites definidos pelo nhol seguindo rumo ao Rio da Prata,
tratado de Tordesilhas (1496). Confe- quando naufragou nas proximidades
rindo assim a propriedade das terras da ilha de Santa Catarina. Depois de
descobertas ao Reino de Portugal. passar dois anos na região, o grupo
Além dele, alemães faziam parte de rumou para a cidade de São Vicente,
uma unidade militar portuguesa que onde tentaria fretar um navio capaz
acompanhava a esquadra. Assim, de chegar a Assunção. Contratado
constatamos que a participação ger- para defender a cidade, foi captura-
mânica na construção do Brasil se do pelos índios tupinambás e aprisio-
16 inicia três séculos antes da imigra- nado por quase um ano, escapando
ção oficial promovida pelo governo inúmeras vezes de ser devorado.
brasileiro a partir do século XIX. E
mais: um deles ainda assinou uma de Após várias tentativas de
nossas certidões de nascimento. São fuga, poupado como um troféu de
inclusive textos em língua alemã, os guerra, foi finalmente libertado com
primeiros a usar o termo Brasil-Land, auxílio de um corsário francês. De
Terra Brasil, já em 1514, para se refe- volta à Europa escreveu o livro, “His-
rirem as terras em que Cabral havia tória Verdadeira e Descrição de uma
desembarcado. Terra de Selvagens, Nus e Cruéis Co-
medores de Seres Humanos, Situada
No seu primeiro século de no Novo Mundo da América, Des-
existência, o alemão que se tornara conhecida antes e depois de Jesus
mais associado ao Brasil será Hans Cristo nas Terras de Hessen até os
Staden (1525 - 1576). Na sua primeira Dois Últimos Anos, Visto que Hans
viagem ao Brasil, em 1548, combateu Staden, de Homberg, em Hessen, a
navios franceses que contrabandea- Conheceu por Experiência Própria e
vam Pau-Brasil no nordeste brasilei- agora a Traz a Público com essa Im-
ro e lutou pelo governo da capitania pressão” , também conhecido pelo
de Pernambuco. Em sua segunda via- nome “Duas Viagens ao Brasil”, foi
gem, 1549, estava em um navio espa- publicado em Marburgo, na Alema-
nha, por Andres Colbenem em 1557. artes era arquiteto, escultor, pintor,
O livro, sucesso na época, teve mais além de ter se dedicado a geologia
de cem reedições e adaptações, tra- e à mineração. Além disso, também
duzido para o holandês, para o latim escreveu sobre a presença jesuíta no
e para o flamengo, assim como para Paraguai, Argentina e sul do Brasil.
o inglês e o francês, foi o primeiro li- Do ponto de vista militar, importan-
vro europeu publicado sobre o Brasil. te personagem da história brasileira,
por sua atuação na então Província
As primeiras cidades, já con- de Rio Grande de São Pedro, é o ge-
tinham cidadãos de origem alemã neral alemão Johann Heinrich Böhm
entre seus habitantes, tanto na la- (1708 - 1783), comandante do exérci-
voura quanto nos negócios de açúcar to que retomou Rio Grande dos espa-
e pau-brasil, operando como repre- nhóis em 1776. Böhm havia chegado
sentantes comerciais, tanto nos ca- ao Brasil no final da década de 1760,
naviais do Nordeste como em muitos junto com outro alemão, o Conde de
outros pontos da costa. Mas um Im- Lippe (Frederico Guilherme Ernesto
pacto ainda maior, na colonização do de Schaumburg-Lippe - 1724 - 1777).
Brasil no século XVII, teve o alemão Ambos seriam responsáveis pela re-
Johann Moritz von Nassau-Siegen organização do exército português.
(1604 - 1679), nascido em Dillenburg,
região de Hesse, próximo a Frankfurt, Até o início do século XIX o
a serviço da Companhia das Índias Brasil permanecia sendo um país qua- 17
Ocidentais. No período em que es- se desconhecido na Europa. Esta si-
teve aqui, de 1630 a 1654, Maurício tuação só se alteraria com a chegada
de Nassau, como ele passou a ser co- da família real portuguesa em 1808
nhecido, construiu a cidade de Reci- e a assinatura, em Salvador, do trata-
fe, combateu a exploração dos índios do de Abertura dos Portos às Nações
e estimulou a tolerância religiosa. Foi Amigas, que permitiu que um grande
o primeiro a trazer uma comitiva de número de cientistas se dirigissem ao
artistas e cientistas europeus para país, entre eles muitos exploradores
documentar nossa paisagem, nossa de língua alemã, entre os quais pode-
população, nossa fauna e nossa flora. mos destacar o naturalista Alexander
von Humboldt (1769-1859), o botâni-
No outro extremo do país, co Carl Friedrich Philipp von Martius
entre os jesuítas dos Sete Povos das (1794 - 1868), o zoólogo Johann Bap-
Missões, no sul, estima-se que um tist von Spix (1781 - 1826) , o pintor
em cada quatro dos padres proce- bávaro Johann Moritz Rugendas (1802
diam de regiões de língua alemã. En- - 1858), o paisagista austríaco Thomas
tre eles o padre Anton Sepp (Anton Ender (1793 - 1875), o músico Sigis-
Sepp von Rechegg - 1655 - 1733), mund von Neukomm (1778 - 1858) e
nascido no Tirol, região de influência uma infinidade de outros que contri-
e língua alemã, e educado em Viena, buíram significativamente com o re-
na Áustria. Intelectual e amante das gistro científico e cultural do Brasil.
Bibliografia ça alemã no Brasil = Mein kleines
Deutschland: 190 Jahre deutscher
BAIÃO, António; CIDADE, Hernâni Anwesenheit in Brasilien / fotografia
António; MURIAS, Manuel. História Valdemir Cunha; texto Xavier Barta-
da expansão portuguesa no mundo. buru; [tradução Joakim Wagner]. --
Lisboa : Editorial Ática, 1937-1940. São Paulo: Editora Origem, 2014. P. 6
Disponível em: <http://www2.se-
nado.leg.br/bdsf/item/id/220524>. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Frei-
Acesso em: 20 jul. 2016. tas. Um astrônomo alemão na es-
quadra de Cabral? Educação em
BOWN, Stephen R. 1494. São Paulo: Linha, Rio de Janeiro, v. 5, n. 15, p.29-
Globo, 2013. 31, 2011. Disponível em: <http://
www.goethebrasil.de/linha201115.
CUNHA, Valdemir. Minha peque- pdf>. Acesso em: 21 jul. 2016.
na Alemanha: 190 anos da presen-
TRESPACH, Rodrigo. O Lavrador e o
Sapateiro: memória, tradição oral
e literatura. Porto Alegre, Edipucrs,
2013.
RABUSKE, Arthur. Pe. Antônio Sepp,
SJ – O gênio das reduçoes guaranis.
São Leopoldo: Unisinos, 2003.
SEPP, Antônio. Viagem às Missões
Jesuíticas e Trabalhos apostólicos
18 [Introdução e notas de Wolfgang
Hoffmann Harnisch; tradução de
Reymundo Schneider e dos alunos
da Companhia de Jesus, em Pareci]
São Paulo: Martins, Edusp, 1972.

¹ Graduado em Odontologia – UFSC /


Especialista em Fotografia: processo
criativo, comunicação e linguagem vi-
sual - PÓS-GRADUAÇÃO UNIASSELVI /
Licenciando em História - FURB

² Licenciado em Ciências Sociais – FURB


/ Especialista em Gestão e Produção
Cultural – UTP-PR / Licenciando em Ar-
tes Visuais – PARFOR - FURB

Esquemas de montagem e tipologias


estruturais usados na técnica enxaimel
A PONTE DO INDAYAL
Uma Grande obra

19
O grande aumento do mo- Importava o custo da supe-
vimento do trafego do município de restrutura metálica em 297:300$000
Blumenau, desde a inauguração da (Duzentos e noventa e sete contos e
linha da estrade de ferro Blumenau- 300 mil réis)
-Hansa, no dia 9 de outubro de 1909,
trouxe a necessidade de lançar uma Tiraram proveitos desta uti-
ponte sobre o rio Itajaí-açu, para es- líssima obra os distritos de Itoupava,
pecialmente, deixar aos moradores Massaranduba, Rio do Testo, Mul-
da margem esquerda, as vantagens de, etc., na margem esquerda, Salto
deste novo meio de transporte. Weissbach, Passo Manso até Encano,
na margem direita do Itajaí. Estes fo-
A primeira ponte sobre o rio ram os mais velhos distritos coloniza-
Itajaí, debaixo do Salto, cujos pilares dos.
foram construídos no espaço de tem-
po que ocorreu de fevereiro de 1896 Data do fim do ano de 1850
ao fim de julho de 1898, teve sua e princípio de 1860, o início dessa co-
superestrutura metalica fornecida lonização, enquanto a colonização do
somente depois da enchente no mês Encano para cima, na margem direi-
de outubro de 1911 e entregue ao ta, e do Encano do Norte, para cima,
trafego público no dia 26 de junho de Benedito, etc., na margem esquerda,
1913. Tem um comprimento, de en- apenas começa nos anos de 1865
contro a encontro, de 175,20 metros - 1868. Então, sem dúvida a coloni-
e uma largura de 6 metros. zação se executou rapidamente, fa-
lando-se muitas vezes da “tulha” de rada a Exposição Agrícola de Indaial.
Blumenau. Este projeto, que foi feito por sua
conta própria, e cuja execução de-
Bem se compreende, como via ficar a cargo de uma sociedade
a população numerosa dos distritos anônima, não se realizou por causa
interessados, especialmente Indaial, do falecimento do benemérito enge-
Benedito, Timbó, encruzilhada, inclu- nheiro, ocorrido no dia 2 de outubro
sive Rodeio, almejavam a construção de 1918.
de uma ponte no Indaial.
Em seguida, entrou, reso-
O projeto da ponte do In- lutamente para a final execução da
daial foi pela primeira vez apresen- construção da ponte, o então pre-
tado e cuidadosamente trabalhado sidente da Câmara Municipal, e ao
pelo engenheiro Weilnauer, no mês mesmo tempo deputado ao Con-
de abril de 1916¹, depois de encer- gresso Representativo do Estado, dr.
1 De acordo com o Relatório da gestão dos trumentos para as indústrias agrícolas e de
negócios do Município de Blumenau durante produtos da lavoura e da pecuária, exposição
o exercício de 1916 apresentado ao Conselho está que deverá realizar-se no Indayal nos
Municipal pelo Superintendente Snr. Paulo dias 22 e 23 de abril de 1917”. No relatório de
Zimmermann, na página 6, encontramos: 1917, página 4, registra “21 de abril de 1917”
“Com o fim de corresponder à iniciativa dos como a data de início da exposição.
nossos agricultores e criadores de gado, foi Portanto registramos esse equívo-
resolvido em Dezembro de 1916 promover co na data da exposição que consta da notícia
uma exposição de gado, de máquinas e ins- publicada em 1926.
20
Victor Konder.

No mês de julho
de 1919, o dr. Victor Kon-
der, requereu no Con-
gresso do Estado a apro-
vação de uma subvenção
para se construir a ponte
no Indaial.

Por decreto n.
1254 de agosto de 1919,
o qual concedeu a meta-
de do custo da constru-
ção da obra, e o então
governador do Estado de
Santa Catarina, sempre
benévolo ao município
de Blumenau, sancionou
logo a lei.

A situação finan-
ceira do Estado e do mu-
nicípio, porém, retardou 21
o início da construção, e
somente começou a sua
realização depois de as-
sumir o cargo de superin-
tendente municipal, o sr.
Curt Hering, sucessor do
sr. Paulo Zimmermann.

Na sessão do
Conselho Municipal, de 10 de feve- três firmas construtoras, dando-se
reiro de 1924, sob a presidência do sr. preferência à firma Emilio Odebrecht
Victor Konder, o superintendente, sr. & Cia., sendo essa a oferta mais favo-
Curt Hering ficou autorizado a abrir rável e mais vantajosa.
concorrência pública para a constru-
ção de uma ponte sobre a rio Itajaí- Conforme isso, com contrato
-açú, no lugar Indaial e de conseguir a assinado em 18 de outubro de 1924,
subvenção, a efetuar-se por parte do a firma construtora mencionada,
Município por meio de uma tombola aceitou a construção de uma ponte,
ou empréstimo municipal. em cimento armado de 6 metros de
largura e 175 metros de comprimen-
Em consequência da con- to sobre o rio Itajaí-açu, no Indaial,
corrência pública, apresentaram pelo preço de 440:000$000. (quatro-
propostas para a execução da Obra centos contos de réis)
Pelo cálculo estatístico, su- pilares e encontros e a construção
22 pôs-se a possibilidade de uma carga dos barracões necessários. Foram na
uniformemente distribuída de 3.500 mesma época iniciados os alicerces
Kg. Por metro corrente da ponte, isto dos encontros, sendo assentada a
é, de 583 Kg por metro quadrado da primeira pedra no dia 13 de fevereiro
mesma. de 1925.

No projeto foram previstos Referências:


dois encontros de 7,50 metros de
comprimento, nas margens, e quatro REPÚBLICA: órgão do partido republicano
pilares no leito do rio, numa largura catarinense. Florianópolis, quinta-feira, 14
de outubro de 1926, número 13. capa.
de 1,60m em baixo e de 1,10m em
cima, num comprimento respecti- Relatório da gestão dos negócios do Municí-
vo de 6,40 m e 5,80 e de 9,30m de pio de Blumenau durante o exercício de 1916
altura. O perfil da enchente máxima apresentado ao Conselho Municipal pelo
Superintendente Snr. Paulo Zimmermann.
sofreu uma redução, estando, po- Blumenau: Typ. Baumgarten. s.d. - Arquivo
rém, dentro do limite admissível. O Histórico José Ferreira da Silva. - Blumenau.
estrado ficou 3 metros acima da linha
da enchente de 1911. Logo após ser Relatório da gestão dos negócios do Municí-
lavrado o respectivo contrato, foram pio de Blumenau durante o exercício de 1917
apresentado ao Conselho Municipal pelo
iniciadas as obras preliminares, como Superintendente Snr. Paulo Zimmermann.
a aquisição de materiais, contratação Blumenau: Typ. Baumgarten. s.d. - Arquivo
de uma ponte provisória, sondagens Histórico José Ferreira da Silva. - Blumenau.
minuciosas nos diversos lugares onde
seriam construídos os respectivos
Indaial: Município do Vale do Itajaí-Açú
Theobaldo Costa Jamundá
Em 1943 Theobaldo Costa Jamundá publica o livro “Indaial: Município do Vale
do Itajaí-Açú”, obra capital para o entendimento da identidade histórica do Mu-
nicípio. Primeiro livro que retrata a evolução política, administrativa, geográfica
e um esboço inicial da historiografia do Município de Indaial. Dada a sua impor-
tância histórica e sua raridade, a AMARHIN tomou a decisão de publicar, em par-
tes, a íntegra desta obra a partir deste número, para tanto usa como referência
o exemplar número 918 que pertenceu ao Prefeito Werner Pabst.

Neste número:

“Anotações sôbre o Vale do Itajaí


A Cidade,
o Vale,
o Rio e o
Homem”
Marco Antônio Struve – Conselho editorial
23
Vida e Obra dos prefeitos do Município de Indaial
Edltraud Zimmermann Fonseca

Nilo de Freitas ainda em São Paulo. No ano de


1951, termina o Científico (equi-
15º. Prefeito – 31 de janeiro de valente atual do ensino médio)
1973 a 31 de janeiro de 1977. no Colégio Estadual do Paraná.

Nascido na cidade de Ourinhos, Em 1952 iniciou o curso de Medi-


interior do Estado de São Paulo, cina na Universidade Federal do
em 1º de janeiro de 1933. Paraná, após ter sido classificado
Filho de José de Freitas em 18° lugar no vestibular,
Oliveira e Vicência que foi concluído em
Alves de Oliveira, 1957. Nos três últi-
falecida em 21 mos anos do seu
de janeiro de curso exerceu a
1990, dia em função de Aca-
que completava dêmico Residen-
94 anos. te no Hospital
e Maternida-
40 Principiou seus de Dr. Antônio
estudos na cida- Amarante, em
de natal, fazendo Curitiba.
o curso primário
(hoje de primeiro a Também em
quinto ano do ensi- 1957 concluiu
no fundamental) o curso de His-
no Grupo tória e Filosofia
Escolar Ja- na Faculdade Fe-
cinto Fer- deral de Fi-
reira de Sá, losofia de
comple- Curitiba,
tado em feito para-
1945. O Gi- lelamente
násio (que ao curso
correspon- de medi-
de atual- cina. Fez
mente do sexto ao nono ano do vários cursos de Extensão Uni-
ensino fundamental) foi iniciado versitária, enquanto estudante
no Colégio Estadual de Ourinhos, de Filosofia, entre eles: “O crime
São Paulo, e concluído, em 1948, e o criminoso sob a luz da psica-
no Colégio Interno de Agudos, nálise”; “A filosofia de Hegel” e
“Psicologia e Parapsicologia”. nas cidades de São Paulo, Curiti-
ba e Florianópolis. Participou de
Dr. Nilo de Freitas era médico inúmeros Congressos, jornadas
residente no Hospital e Mater- e cursos de especialização e atu-
nidade Dr. Antônio Amarante de alização em inúmeras áreas da
Curitiba ainda no segundo ano de medicina. Apresentou, como pa-
medicina, quando o pai da jovem lestrante, trabalho sobre hiperpa-
Jurandi Mansani se internou para ratireoidismo, na cidade de Join-
uma cirurgia. Conheceram-se ville, no ano de 1967.
nesta ocasião e após cinco anos
de namoro, casaram-se no dia 3 Dr. Nilo de Freitas foi eleito para
de setembro de 1960. a 5ª legislatura da Câmara de Ve-
readores de Rodeio entre 1963 a
Dr. Nilo de Freitas e Jurandi Man- 1967 como o vereador mais vo-
sani de Freitas tiveram três filhos: tado pela extinta UDN. Em 1970
primeiro, veio Enilson Erley, e de- recebeu o título de Cidadão Ro-
pois chegaram as meninas Anil- deense.
se Maria e Junilse. Antes disso,
já haviam amparado o afilhado, Fixou residência em Indaial, em
Nelson, que havia ficado órfão fevereiro de 1969, passando a in-
de mãe. Adotaram-no, criando-o tegrar o corpo clínico do Hospital
com muita ternura e amor. Beatriz Ramos, onde permaneceu 41
clinicando por aproximadamente
Iniciou sua carreira como médico, 21 anos, atuando nas áreas de
em 1958, na cidade de Lobato, Clínica Geral, Ginecologia e Obs-
norte do Paraná. Chega em Santa tetrícia.
Catarina no ano seguinte passan-
do a morar em Rodeio onde tra- Em Blumenau, como funcionário
balhou como clínico no Hospital do INPS (Instituto Nacional de
São Roque, de janeiro de 1959 Previdência Social, atualmente
até dezembro de 1968. Neste denominado SUS – Sistema Úni-
mesmo período foi, ainda, funcio- co de Saúde), atendia nos Cen-
nário público estadual estatutário tros Sociais de Itoupava Seca, do
exercendo as atividades de médi- Passo Manso e do Salto do Norte,
co no Posto de Saúde de Rodeio mantidos pela Prefeitura Munici-
e, posteriormente, da Unidade pal daquela cidade.
Sanitária de Timbó, onde acumu-
lava as funções de chefe. Além da medicina, atuou no ma-
gistério como professor de bio-
Na área médica, depois de forma- logia no Colégio Normal Madre
do, realizou cursos de especiali- Avosani da cidade de Rodeio em
zação em medicina do trabalho, 1963 e Sociologia no Colégio Nor-
cirurgia, ginecologia e obstetrícia mal Indaial, em 1972.
Dr. Nilo de Freitas projetou-se
também na política, sendo elei- GESTÃO 1973-1977
to prefeito de Indaial, no período
de 1973 a 1977, pelo MDB – Mo- Concessão de incentivo e estímu-
vimento Democrático Brasileiro lo fiscal à Indústria Mecânica Fey
(atualmente, PMDB). Foi presi- S.A. (hoje Metalúrgica Fey) atra-
dente da AMMVI – Associação vés de doação de uma área de
dos Municípios do Médio Vale do terras com 40.000 metros qua-
Itajaí, no biênio 1975-76. drados, serviços de terraplana-
gem e isenção de impostos.

Implantação da
central telefônica
Telesc em Apiúna

Doação à Liggett
e Mayers do Brasil
Cigarros Ltda. Para
a sua implantação
áreas de 33.463m2
42 Recebeu, em do-
ação, a área de
43.566,73m2 de
Frederico Hardt S.A.
Indústria e Comér-
cio para a constru-
ção de um Pavilhão
de Esportes e Expo-
sições e construção
suplementares e
Praça de Esportes
de Indaial. Neste lo-
cal seria construído
mais tarde o PAME.

Aprovação do Plano
Diretor.

Publicação do edi-
Werner Pabst prefeito que deixava o cargo tal, em 14 de março de 1975, e
e o Dr. Nilo de Freitas, o Novo prefeito assinatura do convênio, em 26 de
assumindo a prefeitura junho de 1975, para a construção
O prefeito Nilo de Freitas (ao centro) assina, em 19 de julho de 1974, a lei que concedia
incentivos à ,hoje, Metalúrgica Fey. A direita Adolfo e a esquerda Bertoldo Fey.

de uma nova ponte no município bro de 1978, e em 1986, segun- 43


de Indaial, que passaria a ser co- do o TSE.
nhecida como a “Ponte Nova”.
Recebeu, em 1985, o título de
Inicia a desapropriação de imó- Cidadão Honorário de Indaial
veis para a implantação desta por seus relevantes serviços
nova ponte em Indaial. prestados à essa comunidade
do Vale do Itajaí.
O Banco do Brasil se instala em
Indaial e tem sua primeira agên- Como cidadão participou ativa-
cia inaugurada em 20 de maio de mente em associações de cunho
1976. social: Foi Membro e Presidente
do Rotary Clube de Timbó.
Inicia-se a instalação da CASAN
no município. Foi fundador da REMOC – Re-
gional Médica Oswaldo Cruz
- Associação que congrega mé-
Concorre a deputado estadual dicos dos municípios de Indaial,
em várias ocasiões. Tornando- Ascurra, Rodeio, Timbó, Benedi-
-se suplente de deputado es- to Novo, Dr. Pedrinho, Pomero-
tadual em 1978, como atesta o de, Apiúna e Vila Itoupava, e seu
Jornal do Brasil de 20 de novem- presidente em 1968 e no Biênio
1975/76. de 1989, sendo homenagea-
do por toda a classe médica e
Foi sócio efetivo da Associação por toda a comunidade a quem
Catarinense de Medicina, da serviu como Médico, político e
Associação Médica Brasileira e acima de tudo, como um ser hu-
do SIMESC-Sindicato Médico de mano de enorme coração e ge-
Santa Catarina. nerosidade.

Registrado no Conselho Regio- Seu nome figura no Posto de


nal de Medicina, sob o n°315, só Saúde no bairro Asilo em Blu-
parou de exercer suas funções menau. Posto de Saúde na Ave-
de médico com a morte. nida Brasil, bairro Rio Morto e
em rua, próximo à Rodoviária,
Voltando, em 1989, de um pas- em Indaial.
seio que fizera ao Oeste Catari-
nense com a família, manifes-
taram-se as primeiras dores de
um câncer. Passou por interna- Nota da autora:
ções no Hospital Santa Isabel, Este texto foi escrito com o auxílio da
esposa D. Jurandi Mansani de Freitas,
em Blumenau e Hospital das pelo qual agradeço.
Clínicas em São Paulo, sem su-
44 cesso. Atualizado por Marco Antonio Struve,
Licenciando em História, FURB.
Faleceu no dia 26 de novembro
POLÍTICA EDITORIAL DA REVISTA
“INDAIAL CONHECENDO SUA HISTÓRIA”
“Indaial Conhecendo sua História” é tro de biografia de pessoas que fize-
uma revista editada, desde 2015, pela ram e fazem parte da construção da
Associação dos Amigos do Arquivo História local e regional.
Histórico de Indaial - AMARHIN. Entrevistas: Coluna dedicada a depoi-
Contempla a publicação de matérias mentos de História de vida e/ou temá-
da historiografia de Santa Catarina, ticos.
em especial da cidade de Indaial e da Memórias e Crônicas do cotidiano:
região do Vale do Itajaí. Aborda temas Coluna que contempla autores e/ou
relacionados a questões históricas, memorialistas que narram, sob a for-
sociais, ambientais, geográficas, eco- ma de crônicas, aspectos do cotidiano
nômicas e culturais. das vivências locais e regionais, opor-
Registrada com o ISSN 0000-0000, é tunizando a participação comunitária.
uma revista científico-cultural publi- Fragmentos da nossa História: Arti-
cada trimestralmente pela AMARHIN, gos de jornais antigos, revelando as-
com apoio técnico do “Arquivo His- pectos do passado de Indaial, sob a
tórico Municipal Theobaldo Costa ótica jornalística.
Jamundá”, e da Fundação Indaialense
de Cultura. Para todas as seções recomendamos/
Tem um Conselho Editorial - CE - cons- solicitamos/comunicamos aos auto-
tituído de historiadores, professores, res:
jornalistas, escritores e pesquisado- ­– Vínculo institucional do autor e da
res. sua titulação, se houver;
– Endereço eletrônico para corres-
É dividida em várias seções ou colu- pondência e telefone/fax para conta-
nas: to;
Artigos: Os textos devem obedecer – Os textos devem ser encaminhados 45
aos seguintes critérios: notas, cita- para o endereço eletrônico:
ções, referências e bibliografias. De-
vem estar de acordo com as normas informativoamarhin@gmail.com
da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). As notas de conte- digitados no programa Microsoft
údo precisam constar no rodapé e as Word for Windows, fonte Calibri, ta-
referências e bibliografias no final do manho 12, com espaço l,5cm;
texto. Os artigos poderão ter até 08 – As imagens e tabelas, além de virem
páginas (incluindo citações, referên- no corpo do texto, devem também
cias, imagens e tabelas), apresentan- ser enviadas em arquivo anexo com
do, preferencialmente, resumo de até suas respectivas legendas e fontes;
10 linhas em português e 03 palavras- – Os textos enviados à revista serão
-chave em português. apreciados em fluxo contínuo pelo CE.
Autores Catarinenses: Com comen- Este se reserva o direito de publicar,
tários, críticas de obras e resenhas de ou não, os textos encaminhados à sua
lançamentos de autores catarinenses, apreciação, bem como, de sugerir mu-
em especial, aos autores indaialenses. danças aos respectivos autores;
Burocracia e Governo: Para publica- – Cada autor receberá cinco exempla-
ção de documentos oficiais que sejam res da revista, referentes ao número
de interesse da História local e regio- que contiver seu texto;
nal. – Os textos publicados e a exatidão
Documentos Originais: Seção conten- das referências citadas são de respon-
do fac-símiles e/ou transcrição de do- sabilidade exclusiva do(s) autor(es).
cumentos originais de interesse histó-
rico, com a respectiva tradução para O Conselho Editorial não se respon-
o português quando escrito em língua sabiliza pela redação, pela veracida-
estrangeira. de das afirmações e nem pelos con-
Biografias: Seção dedicada ao regis- ceitos emitidos pelos autores.
50 ANOS DA METALÚRGICA FEY – Parte III
Ao longo dos últimos 50 anos, pode-se dizer que alguns fatores essen-
ciais fizeram a diferença e permitiram que a empresa chegasse onde
se encontra hoje. O reinvestimento constante dos lucros no negócio, a
harmonia entre os membros da família e com todos os colaboradores
e principalmente alguns valores sempre presentes desde a fundação.
Valores fortes são fundamentais para o sucesso de qualquer pessoa e
organização. Conheça agora quais são os valores da FEY:

• Simples na forma de agir – ou seja, abominamos a arrogância; bus-


camos soluções simples, mas eficazes.

• Hoje melhor do que ontem – ou seja, nunca nos acomodamos; faze-


mos certo da 1ª vez.

• Vá ver – ou, estamos presentes e questionamos nossos processos.

• Um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar – para nós, está
no sangue trabalhar num lugar limpo e organizado.
46 • Empreendedores por natureza – investimos porque acreditamos; fa-
zemos agora, pensamos a longo prazo.

• Líder pelo exemplo – assim,


palavra dada é palavra cumpri-
da; batemos metas e resolvemos
problemas através das pessoas.

• Pessoas como bem maior –


buscamos proporcionar aos nos-
sos colaboradores um bom am-
biente de trabalho.

• Ética nas relações e compro-


missos – buscamos parcerias
longevas; somos responsáveis
com nossos compromissos pe-
rante os diversos públicos.

A esses 8 valores, deu-se o nome de Valores Y8. São o JEITO DE SER


da FEY e traduzem exatamente o que os fundadores pensam e o que
procuraram disseminar ao longo das décadas. Eles hoje fazem parte do
dia a dia do trabalho de todos os colaboradores da empresa.

Um dos valores, “Empreendedores por Natureza”, é visivelmente no-


tado dentro da empresa: a veia do empreendedorismo comandou
também a procura por diversificação. Em 1981, Adolfo e Bertoldo ad-
quiriram uma empresa fabricante de pás, localizada em Blumenau, no
bairro Itoupava Norte. Após sofrer por duas vezes com as cheias de
1983 e 1984, decidiram por construir um novo parque fabril em In-
daial, onde a empresa operou até 1998, ano em que foi vendida para
um grupo espanhol e passou a chamar-se Bellota Brasil Ltda.

Mantendo a tradi-
cional paixão pela
produção, pela
transformação de
bens, em 1989 foi
adquirida em Blu-
menau, no bairro
Itoupavazinha, a
Pedreira Vale do
Selke.

Hoje, passados 27
anos, continua no ramo
da extração de pedras
britadas e tem agre-
gado desde 2007, a
produção de blocos de
concreto de alvenaria
estrutural e de veda-
ção para a construção
civil e ampla linha em
cores e formatos de pa-
vimentos intertravados
para ruas, calçadas e
passeios.

Apresentamos assim, mais um pouco desta trajetória, que se mantem


sólida, porque pessoas comprometidas e competentes vêm fazendo
parte dela.

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