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CARTA DE ACHAMENTO

DO BRASIL (1500)
Pero Vaz de Caminha
• A Carta de achamento a el-rei D. Manuel é um documento escrito na costa brasileira e
datado do dia 1o de maio de 1500. Nessa carta, o escrivão Pero Vaz de Caminha relata ao
monarca os eventos ocorridos com a armada de Pedro Álvares Cabral desde Lisboa até a
costa da atual Bahia, destacando a chegada e a permanência por dez dias no litoral
daquela terra, habitada por uma população da qual não se tinha notícia e que, na visão de
Caminha, era estranha e fascinante.

• Certidão de nascimento do Brasil? Realmente, foi um descobrimento?

• Além de sua importância como registro histórico, ela é incrivelmente bem escrita, com
simplicidade e um saboroso apego às coisas concretas. Ela apresenta uma experiência
profunda de alteridade, de contato com o desconhecido e com o diferente.
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em
Porto Seguro, 1500, de Oscar Pereira da Silva
Aspectos históricos
• Expansionismo marítimo

• Todo esse movimento marítimo foi acompanhado da fundação de feitorias (entrepostos


comerciais fortificados) e de acordos entre os governantes locais e os portugueses. Com
isso, o Estado lusitano adquiriu feição imperial, que se manteria por mais de 500 anos, até
o processo de independência das colônias africanas e asiáticas, já em pleno século XX.

• As chamadas “Grandes Navegações” marcariam profundamente a alma nacional lusitana.


A bravura dos marinheiros, a expansão territorial, a difusão da Língua Portuguesa e do
Cristianismo são até hoje lembrados como provas da grandeza de Portugal.
A expedição de Pedro
Álvares Cabral
• Se, por um lado, a viagem de Cabral foi exitosa ao encontrar novos
territórios, por outro, foi duramente trágica, devido à grande
quantidade de naufrágios e de mortes.

• Além da carta de Pero Vaz de Caminha, restaram apenas mais dois


testemunhos diretos da expedição: a Relação do Piloto Anônimo,
publicada em italiano, em 1507, na cidade de Vicenza, numa coleção
organizada por Fracanzano Montalboddo e intitulada Paesi
Nuovamente Ritrovati.

• O outro testemunho direto da viagem de Cabral e do achamento do


Brasil é a breve Carta de Mestre João, que é interessante por ser um
dos primeiros textos a descrever a constelação do Cruzeiro do Sul.
Pero Vaz de Caminha
• Pero Vaz de Caminha nasceu na cidade do Porto, em Portugal,
por volta de 1450.

• Casou-se com Catarina Vaz, com quem teve ao menos uma


filha, Isabel de Caminha. O marido dela, Jorge de Ousório (ou
Osório), envolveu-se em alguns crimes e violências, sendo
degredado para a ilha de São Tomé. Na Carta de achamento, o
escrivão tentou interceder pelo genro junto ao rei, pedindo o
fim da pena.

• Caminha morreu no dia 16 de dezembro de 1500, quase sete


meses depois de ter escrito sua famosa carta.
Abertura
• Remetida diretamente ao rei, a Carta se inicia de maneira protocolar. Pero Vaz de
Caminha busca captar a benevolência do destinatário, apresentando-se, com falsa
modéstia.

• “Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo
que, para alindar nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.”

• É importante ter em conta que o registro feito por Caminha é mediado pela sua
formação cultural e pela intencionalidade colonial interposta na representação dos
fatos. Isso equivale dizer que toda a leitura da realidade feita pelo autor é
condicionada pelos valores culturais europeus, marcados pelo Cristianismo e pelo
contexto mercantilista de incorporação de novos territórios.
Terra à vista!
• Na manhã da quarta-feira, 22 de abril de 1500, os
marinheiros toparam com aves no céu, o que lhes acendeu a
esperança de se aproximarem de terra firme. Já no fim do
dia, as expectativas se concretizaram:

• “Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!


Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo, e
doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com
grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o
MONTE PASCOAL, e à terra – a TERRA DA VERA CRUZ.”
Dia 23 de abril
• Logo pela manhã, os marinheiros dirigiram-se à terra, ancorando, por volta das dez horas,
a cerca de três quilômetros da boca de um rio. Foi dali que os portugueses, pela primeira
vez, avistaram os habitantes originários daquela natureza suntuosa.

• “Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os
navios pequenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes – e vieram
logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor, onde falaram entre si. E o capitão-
mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou
de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que,
ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus,
sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas.
Vinham todos rijamente sobre o batel, e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos.
E eles os pousaram.”
• Por conta da violência das ondas e da confusão das
falas, não pôde haver entre os protagonistas do
encontro qualquer possibilidade de entendimento.
Ainda assim, portugueses e índios trocaram
amistosamente alguns objetos: Nicolau Coelho deu-
lhes um barrete (gorro) vermelho, uma carapuça de
linho e um chapéu, recebendo cocares de penas
multicoloridas e um colar de “continhas brancas”.
Sexta-feira, dia 24 de abril
• Na manhã de sexta, seguindo o conselho dos pilotos, o capitão-mor ordenou levantar
âncoras e fazer velas, seguindo a costa rumo ao norte, com o objetivo de encontrar algum
porto seguro onde as naus pudessem se reabastecer de lenha e de água fresca.

• Nesse trajeto, das amuradas das embarcações, os marinheiros viam as praias ocupadas por
indígenas.

• Cerca de sessenta quilômetros ao norte da posição onde tinham fundeado, os portugueses


encontraram “um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui
larga entrada”. Ali as naus descerraram as velas. Um piloto chamado Afonso Lopes foi
designado para sondar o porto. Tendo ele encontrado dois jovens índios em uma pequena
jangada, trouxe-os para bordo da nau Capitânia, onde viajava Pedro Álvares Cabral
• O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira,
bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos
pés uma alcatifa por estrado. [...] Acenderam-se tochas. Entraram.
Mas não fizeram sinal de cortesia, alcatifa: tapete nem de falar ao
Capitão nem a ninguém. Porém um deles, pôs olho no colar do
Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para
o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou
para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e
novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata.
• “Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhes dessem, folgou
muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e
acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como
dizendo que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por assim o
desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o
queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas
a quem lhas dera.”
Sábado, 25 de abril
• Depois que as embarcações estavam devidamente ancoradas, Bartolomeu Dias,
Nicolau Coelho e o próprio Pero Vaz de Caminha foram até a praia levando os dois
jovens índios que pernoitaram na nau Capitânia. Além deles, foi também chamado
Afonso Ribeiro, um jovem condenado ao degredo.
• A ideia era deixá-lo entre os índios “para lá andar com eles e saber de seu viver e
suas maneiras”.

• “Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos
muito pretos e compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão
cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não
tínhamos nenhuma vergonha.”
• Pormais que tivessem mantido uma relação amistosa com os
europeus, os índios relutaram em aceitar a permanência do
degredado entre eles. No momento em que os batéis se
afastavam em direção às naus, os nativos acenaram para que o
jovem criminoso fosse levado também, ao que foram
obedecidos.
Domingo, 26 de abril
• O dia 26 era domingo de Pascoela, o primeiro após a Páscoa. O capitão
determinou que fosse montado um esperável (espécie de tenda) no ilhéu diante
da praia, para que o padre frei Henrique rezasse a missa.
• Da praia, os índios observavam interessados todo aquele ritual. Acabada a missa,
os nativos fizeram música soprando chifres e conchas, dançando alegremente na
areia. Os portugueses voltaram às naus para o almoço: eles comeram um tipo de
camarão “tão grande e tão grosso, como em nenhum tempo vi tamanho”.
• Os capitães da frota discutiram e concordaram em mandar um dos navios à
Portugal, com a notícia da descoberta. Aventaram também a possibilidade de
sequestrar um par de índios para tentar tirar deles informações a respeito das
riquezas do lugar, mas preferiram deixar para isso dois degredados.
• Como era dia de folga, o capitão decidiu ir com seus homens à praia, para ver mais
de perto os nativos.

• Espantado com a beleza e o vigor dos nativos, Pero Vaz de Caminha os compara a
animais selvagens, que muitas vezes parecem mais saudáveis do que os
domesticados. A analogia é também aplicada ao comportamento dos indígenas,
que ora pareciam confiantes, ora tomavam atitudes desconfiadas, exigindo que os
portugueses fossem delicados e falassem com calma “para não se esquivarem
mais; e tudo se passa como eles querem, para os bem amansar”.
Segunda-feira, dia 27 de abril
• Na segunda-feira pela manhã, depois de comer, os portugueses foram novamente
à terra reabastecer de água os navios, ocasião em que puderam se misturar ainda
mais aos nativos e também às nativas, como se percebe na observação de que
vários marinheiros “estavam com moças e mulheres”.

• “Diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os
achavam; e que lhes davam de comer daquela vianda, que eles tinham, a saber,
muito inhame e outras sementes, que na terra há e eles comem”
Terça-feira, dia 28 de abril
• “[...] eles não têm coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas
como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, muito bem atadas e por tal maneira que
andam fortes, segundo diziam os homens, que ontem a suas casas foram, porque lhas viram
lá.”

• O trecho mostra os diferentes estágios tecnológicos envolvidos neste encontro de


civilizações. Ao descrever as flechas indígenas, o escrivão destacou que as pontas não
eram de ferro, mas de “canas aparadas”

• O capitão, mais uma vez, mandou Diogo Dias e dois degredados visitarem as povoações
indígenas, com a instrução de que pernoitassem lá, mesmo se os anfitriões se opusessem.
De fato, naquela noite eles não tornaram às embarcações.
• Caminha viu com fascínio uma grande
quantidade de pássaros que voavam pela
floresta. A Carta é um dos vários exemplos
de como a exuberância do cenário e a
saúde dos indígenas americanos
marcaram profundamente a mentalidade
europeia.
Quarta-feira, 29 de abril
• Neste dia, os marinheiros não foram à terra, pois estavam ocupados em
transferir a carga do navio de mantimentos para as outras embarcações. O
navio seria usado para levar a notícia do descobrimento a Lisboa. Ao fim da
tarde, os homens que pernoitaram com os índios retornaram à praia
trazendo papagaios e outros pássaros
Quinta-feira, 30 de abril
• Uma pequena multidão de cerca de 450 nativos estava na praia, ansiosa por ajudar
os portugueses a levar lenha para as embarcações. Ao verem os estrangeiros
ajoelharem-se diante da grande cruz que ainda estava encostada numa árvore,
vários índios ajoelharam-se também, dispostos a reverenciá-la. Essa atitude fez com
que o escrivão tivesse a certeza da boa índole daquela gente, pronta para receber
em seus corações o que ele considerava a religião verdadeira.
• “[...] não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão-de fazer
cristãos e crer em nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque,
certo, esta gente é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á ligeiramente neles
qualquer cunho, que lhes quiserem dar. E pois Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e
bons rostos, como a bons homens, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa.”
• O posicionamento ardiloso e cauteloso dos navegadores ficou registrado por
Caminha:
• “Neste dia, enquanto ali andaram, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao
som dum tamboril dos nossos, em maneira que são muito mais nossos amigos que nós
seus.”

• Os portugueses aproveitaram essa confiança e a boa disposição dos índios para usá-
los como força de trabalho, já que a ansiada notícia sobre metais preciosos não lhes
foi dada.
• Apesar da utilização da mão de obra indígena, Pero Vaz reitera ao rei que uma das
mais elevadas missões de Sua Alteza era cuidar da salvação daquela gente
Sexta-feira, 01 de maio
• Logo cedo, os marinheiros saíram para terra para fixar a enorme cruz que fora
construída pelos carpinteiros. Além da representação da fé católica, a cruz serviria
também como um marco a ser utilizado por outras expedições para localizar o
lugar onde os degredados seriam deixados.

• Junto a ela foi armado um altar no qual foi celebrada a segunda missa no
território. Como de costume, os índios acompanharam todo o ritual com muito
interesse, imitando os gestos devotos, levantando os braços ou pondo-se de
joelhos, o que causou “muita devoção”. Um índio mais velho, aparentando 55
anos, acenava com o dedo para o altar e para o céu, como se dissesse ao seu povo
“alguma coisa de bem”.
• Essa disposição em reverenciar os símbolos cristãos levou Pero Vaz a pensar que
os indígenas não professavam nenhum tipo de fé. Seus corações, portanto,
estariam perfeitamente aptos para receber a semente do cristianismo.
• Antes de encerrar a sua longa missiva, Pero Vaz de Caminha descaradamente
pediu um favorecimento pessoal: contando com o bom ânimo do monarca ao
receber todas aquelas notícias, o escrivão suplicou pela libertação de seu genro
Jorge de Osório, que estava preso na ilha de São Tomé. Depois disso termina
protocolarmente a sua carta:

Beijo as mãos de Vossa Alteza.


Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio
de 1500.
PERO VAZ DE CAMINHA
Estilo
• Pero Vaz de Caminha era um escritor de muito talento, que se valia de
simplicidade e vivacidade descritiva para criar um relato dinâmico, cheio de
movimento e de forte apego às coisas concretas, como se nota, por exemplo, na
menção ao número de índios que via na praia, ou à quantidade de pássaros.

• A apresentação da realidade se dá por um recorrente método comparativo, que


relaciona as novidades do continente americano ao universo de referências
conhecido pelos europeus.
•Esse [índio] que o agasalhou era já de idade, e andava por louçainha, todo cheio de
penas, pegadas pelo corpo, que parecia asseteado como S. Sebastião. Outros traziam
carapuças de penas amarelas, outros, de vermelhas; e outros, verdes. E uma
daquelas moças era louçainha: por vaidade, com a intenção de enfeitar-se asseteado:
ferido com setas toda tingida, de baixo a cima daquela tintura, e certo era tão bem
feita e tão redonda e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas
mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha por não terem a sua
como ela. Nenhum deles era fanado, mas, todos assim como nós. E com isto nos
tornamos e eles foram-se.
Indígena
• Um dos mais interessantes aspectos da Carta é a minúcia etnográfica com que o autor
observa o aspecto e o comportamento dos indígenas

• O escrivão assume um olhar de superioridade em relação aos indígenas, colocando-os


na condição de animais selvagens, por conta de seu comportamento desconfiado e
esquivo.
• Os outros dois [jovens índios], que o Capitão teve nas naus, a que deu o que já disse,
nunca mais aqui apareceram – do que tiro ser gente bestial, de pouco saber e por isso tão
esquiva. Porém e com tudo isto andam muito bem curados e muito limpos. E naquilo me
parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses, às quais faz o ar melhor
pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos, tão gordos e
formosos, que não pode mais ser.
A natureza
• Quando as embarcações se aproximaram do continente, Caminha pôde maravilhar-se com a
abundância da vegetação e a grandeza das árvores: “as árvores são muitas e grandes”; “esse
arvoredo que é tanto, tamanho e tão basto”. A variedade das espécies também chamou a atenção
do escrivão, pois, ainda tratando das árvores, afirma: “e de tantas plumagens que homem as não
pode contar”, afirmação que significa “e de tantas variedades que ninguém as pode contar ou
descrever”.

• O escrivão louva a abundância de águas e a fertilidade da terra, considerando, em frase clássica,


que “dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”.

• Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho,
porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infindas. E em tal
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.
Degredados e desertores
• Caminha menciona a presença de degredados entre os marinheiros. Os criminosos
condenados eram usados para o contato mais perigoso com as populações desconhecidas.

• Pero Vaz de Caminha menciona rapidamente a deserção de dois grumetes na noite de


sexta-feira, dia 1o de maio.

• Essas quatro pessoas, dois degredados e dois grumetes, foram os primeiros europeus a
permanecer por mais tempo no território que viria a ser o Brasil. Eduardo Bueno, na obra A
viagem do descobrimento, noticia que Afonso Ribeiro e seu companheiro de infortúnio
foram resgatados vinte meses depois por uma expedição de reconhecimento enviada por D.
Manuel e teriam prestado na Europa importantes depoimentos acerca do que viram em
território americano.
Fé cristã
• Além dos rituais, Caminha reiterou ao rei a necessidade de cristianizar aquela
população: “Portanto Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar a santa fé católica,
deve cuidar da sua salvação. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim”.
O escrivão considerava que os índios abraçariam com prontidão a semente
religiosa a ser lançada. Para tanto, era imperioso mandar àquele novo território
padres que se incumbissem de concretizar a ação catequética:

• E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que
todos serão tomados ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe
logo de vir clérigo, para os batizar, porque já então, terão mais conhecimento de nossa
fé, pelos dois degredados, que aqui entre eles ficam, os quais hoje também
comungaram ambos.

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