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Organizado por CP Iuris

ISBN 978-85-5805-011-1

Direito Ambiental

2ª edição

Brasília
CP Iuris
2021
SOBRE A AUTORA

DANIELA ADAMEK. Bacharela em Direito pela Universidade de Brasília (2017).


Atualmente, é advogada e ocupa o cargo de Consultora Legislativa, área Meio
Ambiente, da Câmara Legislativa do Distrito Federal, no qual foi aprovada em 1º lugar.
Ocupou também, entre 2014 e 2019, o cargo de Técnico Judiciário, no Supremo
Tribunal Federal, onde atuou em Gabinete de Ministro e na Presidência da Corte.
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 — MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL ........................................................................ 8


1. DEFINIÇÃO DE MEIO AMBIENTE .................................................................................................................... 8
2. ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE....................................................................................................................... 9
3. EXERCÍCIOS .............................................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 2 — DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ........................................ 14
1. COMPETÊNCIA MATERIAIS ......................................................................................................................... 14
2. LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011 ........................................................................................................... 15
3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS .................................................................................................................... 16
4. ORDEM ECONÔMICA AMBIENTAL ............................................................................................................... 17
5. MEIO AMBIENTE CULTURAL....................................................................................................................... 18
6. MEIO AMBIENTE NATURAL ........................................................................................................................ 19
7. MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL ...................................................................................................................... 25
7.1. Estatuto da Cidade ..................................................................................................................... 26
7.2. Instrumentos para executar a política urbana ........................................................................... 26
7.3. Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança ................................................................................... 27
7.4. IPTU progressivo no tempo ........................................................................................................ 28
7.5. Usucapião coletiva ..................................................................................................................... 28
8. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ................................................................................................................. 29
9. JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................... 29
10. EXERCÍCIOS .......................................................................................................................................... 31
CAPÍTULO 3 — PRINCÍPIOS AMBIENTAIS.............................................................................................. 38
1. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO ........................................................................................................................ 38
2. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO ........................................................................................................................ 38
3. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................................................................................... 38
4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR OU DA RESPONSABILIDADE ........................................................................ 39
5. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR .............................................................................................................. 39
6. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR ......................................................................................................... 39
7. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU EQUIDADE INTERGERACIONAL ............................................. 40
8. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA ................................................................................................. 40
9. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE ............................................................................. 40
10. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO .................................................................................................................... 41
11. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA ..................................................................... 41
12. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICO/EFEITO CLIQUET ............................................................ 41
13. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 41
14. EXERCÍCIOS .......................................................................................................................................... 42
CAPÍTULO 4 — POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ................................ 46
1. PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE .............................................................. 46
2. INSTRUMENTOS DE EXECUÇÃO DA PNMA ................................................................................................... 47
2.1. Zoneamento ambiental .............................................................................................................. 48
2.2. Avaliação de impactos ambientais ............................................................................................ 48
2.3. Instrumentos econômicos .......................................................................................................... 48
3. COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (SISNAMA) .................................. 50
3.1. Conselho de Governo ................................................................................................................. 50
3.2. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) ..................................................................... 50
3.3. Ministério do Meio Ambiente .................................................................................................... 52
3.4. IBAMA e ICMBio ......................................................................................................................... 52
3.5. Órgãos Seccionais ...................................................................................................................... 52
3.6. Órgãos locais .............................................................................................................................. 52
4. EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................ 52
CAPÍTULO 5 — PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS .................................... 57
1. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL................................................................................................................... 57
2. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..................................................................................................................... 57
2.1. Natureza jurídica do licenciamento ........................................................................................... 58
3. JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................... 65
4. EXERCÍCIOS ........................................................................................................................................... 65
CAPÍTULO 6 — ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS ................................................ 69
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 69
1.1. Espaços ambientais especialmente protegidos.......................................................................... 69
1.2. Princípios que informam o Novo Código Florestal (1º-A) ........................................................... 70
1.3. Regimes jurídicos ....................................................................................................................... 70
1.4. Obrigações de natureza real ...................................................................................................... 71
1.5. Cadastro Ambiental Rural .......................................................................................................... 71
1.6. Programas de Regularização Ambiental .................................................................................... 71
2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)................................................................................................ 72
2.1. Definição legal ........................................................................................................................... 72
2.2. Rol exemplificativo de áreas de proteção permanente .............................................................. 73
2.3. APP declaradas de interesse social ............................................................................................ 76
2.4. Regime especial de proteção e exploração excepcional ............................................................ 76
2.5. Áreas consolidadas em APPs ...................................................................................................... 79
2.6. Formas de recomposição ........................................................................................................... 79
2.7. Desapropriação em APP e indenização ...................................................................................... 81
3. RESERVA LEGAL ...................................................................................................................................... 81
3.1. Percentuais mínimos das áreas de reserva legal ....................................................................... 82
3.2. Cota de Reserva Ambiental ........................................................................................................ 83
3.3. Definição da localização da reserva legal .................................................................................. 83
3.4. Apicuns e salgados ..................................................................................................................... 85
3.5. Áreas de uso restrito .................................................................................................................. 86
3.6. Áreas verdes urbanas ................................................................................................................. 87
4. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO .................................................................................................................... 87
4.1. Introdução .................................................................................................................................. 87
4.2. Estudos técnicos e consulta pública ........................................................................................... 88
4.3. Órgãos responsáveis pela gestão do SNUC ................................................................................ 88
4.4. Grupos de unidades de conservação .......................................................................................... 88
4.5. Zonas de amortecimento ........................................................................................................... 90
4.6. Corredores ecológicos ................................................................................................................ 90
4.7. Mosaico ...................................................................................................................................... 90
4.8. Plano de manejo ........................................................................................................................ 90
4.9. Limitações administrativas de caráter provisório ...................................................................... 91
4.10. Compensação ........................................................................................................................... 91
4.11. Reservas da biosfera ................................................................................................................ 91
5. MATA ATLÂNTICA ................................................................................................................................... 92
5.1. Florestas e ecossistemas associados ao Bioma Mata Atlântica................................................. 92
5.2. Objetivos da Lei do Bioma Mata Atlântica................................................................................. 93
5.3. Tutela legal do estágio da Mata Atlântica ................................................................................. 93
5.4. Corte e supressão de vegetação ................................................................................................ 93
5.5. Exploração eventual ................................................................................................................... 96
5.6. Medida de compensação ambiental .......................................................................................... 96
6. JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................... 97
7. EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................ 98
CAPÍTULO 7 — PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO ......................................................................... 104
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 104
2. PLANO NACIONAL DE CULTURA, SISTEMA NACIONAL DE CULTURA, POLÍTICA NACIONAL DE CULTURA VIVA E
INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO .................................................................................................................... 105
2.1. Plano Nacional de Cultura ........................................................................................................ 105
2.2. Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais....................................................... 106
2.3. Sistema Nacional de Cultura .................................................................................................... 106
2.4. Política Nacional de Cultura Viva ............................................................................................. 107
2.5. Instrumentos de proteção ........................................................................................................ 109
3. EXERCÍCIOS .......................................................................................................................................... 113
CAPÍTULO 8 — POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ............................................................ 116
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 116
1.1. Domínio dos recursos hídricos.................................................................................................. 116
1.2. Bacia hidrográfica .................................................................................................................... 117
2. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ......................................................................... 117
3. INSTRUMENTO DA PNRH ....................................................................................................................... 118
3.1. Planos de Recursos Hídricos ..................................................................................................... 118
3.2. Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água . 118
3.3. Outorga dos direitos de uso de Recursos Hídricos ................................................................... 119
3.4. Cobrança pelo uso de recursos hídricos ................................................................................... 121
3.5. Compensação a municípios ...................................................................................................... 122
3.6. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (SIRH).......................................................... 122
4. SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS (SNGRH)................................................... 122
4.1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos .................................................................................. 123
4.2. Agência Nacional de Águas (ANA) ........................................................................................... 124
4.3. Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal .......................................... 126
4.4. Comitês de Bacia Hidrográfica ................................................................................................. 126
4.5. Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do DF e municipais cujas competências se
relacionem com a gestão de recursos hídricos ............................................................................... 127
4.6. Agências de Água ..................................................................................................................... 127
4.7. Organizações Civis de Recursos Hídricos .................................................................................. 129
5. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA ........................................................................................................... 129
5.1. Corpos d’água superficiais ....................................................................................................... 129
5.2. Águas destinadas à balneabilidade ......................................................................................... 130
5.3. Águas subterrâneas ................................................................................................................. 130
6. EXERCÍCIOS .......................................................................................................................................... 130
CAPÍTULO 9 — RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS ................................................. 135
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 135
2. COMPETÊNCIA ...................................................................................................................................... 136
3. POLUIDOR ........................................................................................................................................... 137
4. NEXO CAUSAL ...................................................................................................................................... 138
5. RESPONSABILIDADE OBJETIVA AMBIENTAL .................................................................................................. 138
6. DANOS AMBIENTAIS .............................................................................................................................. 139
7. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 140
8. EXERCÍCIOS .......................................................................................................................................... 142
CAPÍTULO 10 — INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ........................................................... 147
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 147
2. INFRAÇÃO AMBIENTAL DO ART. 70 DA LEI Nº 9.605/98 .............................................................................. 147
3. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 151
4. EXERCÍCIOS .......................................................................................................................................... 152
CAPÍTULO 11 — CRIMES AMBIENTAIS ................................................................................................ 156
1. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA .......................................................................................... 156
1.1. Requisitos ................................................................................................................................. 156
1.2. Dupla imputação ...................................................................................................................... 156
1.3. Pessoa jurídica de direito público ............................................................................................. 156
1.4. Pessoa jurídica paciente em habeas corpus ............................................................................. 157
2. FIGURA DO GARANTIDOR ........................................................................................................................ 157
3. COMPETÊNCIA ...................................................................................................................................... 158
4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ....................................................................................... 158
5. DOSIMETRIA DAS SANÇÕES ..................................................................................................................... 159
6. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS ...................................................................... 159
7. PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS................................................................................................... 160
7.1. Restritivas de direitos ............................................................................................................... 160
7.2. Prestação de serviços à comunidade ....................................................................................... 161
7.3. Suspensão de atividades parcial ou total ................................................................................. 161
7.4. Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade ............................................... 161
7.5. Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou
doações ........................................................................................................................................... 161
7.6. Apreensão dos produtos e dos instrumentos do crime ambiental ........................................... 162
7.7. Liquidação forçada da pessoa jurídica ..................................................................................... 162
8. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES ........................................................................................... 162
9. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA .......................................................................................................... 163
10. INICIATIVA DA AÇÃO PENAL ................................................................................................................... 163
11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ................................................................................................. 163
12. PROPOSTA DE APLICAÇÃO DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS......................................................................... 164
13. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE...................................................................................... 165
14. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .......................................................................................... 165
15. JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................. 166
16. EXERCÍCIOS ........................................................................................................................................ 166
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 172
Daniela Adamek

CAPÍTULO 1 — MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL

1. DEFINIÇÃO DE MEIO AMBIENTE

O Direito Ambiental se trata de um ramo autônomo de direito público, por


meio do qual são sistematizadas regras (normas e princípios) voltadas à proteção do
meio ambiente, a fim de garantir uma sadia qualidade de vida para as presentes e para
as futuras gerações.
Vemos, atualmente, uma crescente conscientização da população no que tange
à necessidade de proteger o meio ambiente. A verdade é que dependemos dos
recursos naturais para sobrevivermos e nos desenvolvermos, porém, muitas vezes,
esquecemo-nos de que eles não são infinitos e, se não os preservarmos, teremos
sérios e irreversíveis problemas, muito em breve.
Assim, o Direito Ambiental tem como escopo a proteção do meio ambiente, de
forma a mantê-lo ecologicamente equilibrado, a fim de preservar uma vida sadia para
as presentes e para as futuras gerações. A propósito, destaca-se o caput do artigo 225
da Constituição Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.

Embora consagrada no Brasil, a expressão “meio ambiente”, para parcela da


doutrina ambientalista, é redundante, pois, de acordo com os autores, as palavras que
formam a expressão possuem o mesmo significado, cuja soma, portanto, totaliza um
pleonasmo.
A definição legal da expressão, por sua vez, encontra-se positivada na Lei nº
6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), cujo artigo 3º, inciso I, dispõe:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;

É interessante destacar, também, que o CONAMA (Conselho Nacional do Meio


Ambiente) trouxe um conceito de meio ambiente mais completo, no âmbito da
Resolução nº 306/2002:

Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem


física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas.

Verifica-se, por conseguinte, que o CONAMA adicionou os aspectos sociais,


culturais e urbanísticos à definição de meio ambiente. Isso porque é certo que o meio

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Daniela Adamek

ambiente abarca não apenas o aspecto natural, mas outros aspectos que serão
abordados na sequência.

2. ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE

São quatro as classificações de meio ambiente que são majoritariamente


aceitas pela doutrina e assim reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na
ADI nº 3.540/MC-DF: meio ambiente cultural, artificial, laboral e natural.
O meio ambiente cultural trata do conjunto de coisas tangíveis e de criações
intangíveis do homem sobre os elementos naturais. A título de exemplo, podemos
citar uma casa tombada (integra, também, o patrimônio cultural de uma determinada
cidade) e formas de expressão de um grupo formador da sociedade brasileira.
Por sua vez, o meio ambiente artificial é fruto da criação humana, não
integrando o ambiente cultural (portanto, tampouco integra o patrimônio cultural),
como o espaço urbano construído pelo homem, constituído por edifícios urbanos e por
espaços comunitários.
Já o meio ambiente laboral ou do trabalho é o ambiente em que o humano
trabalha. Materializa-se nas condições que buscam tutelar o exercício digno e seguro
das atividades laborais, como EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Há, no
entanto, doutrina que restringe o meio ambiente laboral, sustentando que ocorre
quando as empresas cumprem as condições a que deve ser submetido o trabalhador.
Por fim, o meio ambiente natural é aquele formado pelos elementos da
natureza, bióticos ou abióticos, como ar, água, solo, atmosfera, fauna, flora etc.
É importante consignar que, nos termos da Política Nacional do Meio
Ambiente, o meio ambiente é considerado patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo (art. 2º, I, Lei nº 6.938/81).

3. EXERCÍCIOS

1. CESPE/TJ-BA/Juiz Substituto/2019
De acordo com a jurisprudência do STF, o conceito de meio ambiente inclui as noções
de meio ambiente:
a) artificial, histórico, natural e do trabalho.
b) cultural, artificial, natural e do trabalho.
c) natural, histórico e biológico.
d) natural, histórico, artificial e do trabalho.
e) cultural, natural e biológico.

Comentários
A alternativa A está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente histórico. Os
bens materiais e imateriais ligados ao patrimônio histórico fazem parte do meio
ambiente cultural.

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Daniela Adamek

A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. O meio ambiente cultural é


aquele formado pelos bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio
artístico, paisagístico, arqueológico, histórico, científico e turístico. Já o meio ambiente
artificial compreende o espaço urbano construído pelo homem. Por sua vez, o meio
ambiente natural é aquele formado pelos recursos naturais bióticos (com vida) e
abióticos (sem vida), como o ar, a água, o solo, a fauna e a flora. Finalmente, o meio
ambiente do trabalho se relaciona com as condições de trabalho que tutelam o
exercício digno e seguro das atividades laborais.
A alternativa C está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente histórico,
tampouco em meio ambiente biológico. Os bens materiais e imateriais ligados ao
patrimônio histórico fazem parte do meio ambiente cultural. Os componentes
biológicos dos ecossistemas, por sua vez, estão compreendidos dentro do meio
ambiente natural.
A alternativa D está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente histórico,
tampouco em meio ambiente biológico. Os bens materiais e imateriais ligados ao
patrimônio histórico fazem parte do meio ambiente cultural.
A alternativa E está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente biológico. Os
componentes biológicos dos ecossistemas estão compreendidos dentro do meio
ambiente natural.

2. CESPE/Prefeitura de Fortaleza - CE/Procurador do Município/2017


De acordo com os princípios do direito ambiental, julgue o item que se segue:
O conceito de meio ambiente que vem embutido na norma jurídica não abrange o
conjunto de leis que rege a vida em todas as suas formas.

Comentários
A assertiva está errada, pois, de acordo com o art. 3º, inciso I, da Lei 6.938/81 (Política
Nacional do Meio Ambiente), o meio ambiente compreende “o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas”.
Importante lembrar que, até o advento da Lei nº 6.938/81, não existia, uma definição
legal do que seria meio ambiente.

3. CESPE/TRF-5ª Região/Juiz Federal/2013


O direito ao meio ambiente é um direito de interesse
a) individual homogêneo de grande relevância social.
b) coletivo.
c) difuso.
d) meramente individual.
e) exclusivo do poder público.

Comentários
A alternativa A está incorreta. Os direitos coletivos em sentido lato podem ser
classificados em i) direitos difusos, ii) direitos coletivos em sentido estrito, e iii) direitos
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Daniela Adamek

individuais homogêneos. Em síntese, os direitos difusos (art. 81, inciso I, do Código de


Defesa do Consumidor – CDC) são, nada menos, do que aqueles direitos cujos titulares
são indeterminados ou indetermináveis (ex.: interessados no meio ambiente
ecologicamente equilibrado) e que sejam ligados por uma circunstância de fato. Os
direitos coletivos em sentido estrito (art. 81, inciso II, CDC), por sua vez, são aqueles
cuja titularidade é determinada por sujeitos unidos por uma relação jurídica (ex.:
membros de um sindicato). Já os direitos individuais homogêneos (art. 81, inciso III,
CDC), também chamados de direitos acidentalmente coletivos por Barbosa Moreira,
são aqueles que decorrem, assim como nos direitos difusos, de uma circunstância de
fato, porém seus titulares são determináveis (ex.: compradores interessados na
reparação de carros de um mesmo lote, com o mesmo defeito de fabricação).
A alternativa B está incorreta. O meio ambiente se trata de um direito coletivo lato
sensu, e, dentro dessa classificação, é um direito difuso.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Vimos que o direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito difuso e de
terceira geração. Difuso porque sua titularidade abrange indeterminadas pessoas, as
quais estão ligadas por uma circunstância de fato.
A alternativa D está incorreta. O direito ao meio ambiente também é um direito
individual, mas não “meramente individual”, pois abarca interesse de toda a sociedade
de proteger a natureza para as presentes e futuras gerações.
A alternativa E está incorreta. Não é exclusivo do poder público. O direito ao meio
ambiente também é um interesse do poder público, na medida em que esse também
deve atuar na sua preservação.

4. CESPE/TJ-CE/Juiz Substituto/2012
Considerando os diversos aspectos que envolvem o conceito de meio ambiente,
particularmente o cultural e o do trabalho, assinale a opção correta.
a) Considera-se meio ambiente cultural o ambiente integrado pelos equipamentos
urbanos e edifícios comunitários, como as bibliotecas, pinacotecas, museus e
instalações científicas ou similares.
b) O meio ambiente é um bem público classificado pela CF como de uso comum do
povo, razão pela qual não se admite que o seu uso seja oneroso ou imponha a
necessidade de qualquer contraprestação de ordem pecuniária.
c) Ao estabelecer a tutela do meio ambiente, a CF dispõe que a proteção do meio
ambiente, nele compreendido o meio ambiente do trabalho, constitui um dos
objetivos do Sistema Único de Saúde.
d) A todos os entes federativos compete a proteção de documentos, obras e outros
bens de valor histórico, artístico, cultural e paisagístico, mas a competência para
legislar sobre esses temas pertence, privativamente, à União.
e) A definição legal de recursos ambientais compreende a fauna e a flora, as águas
superficiais e subterrâneas, o solo e o subsolo, mas não o mar territorial e os demais
elementos da biosfera.

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Comentários
A alternativa A está incorreta. Lembre-se: os equipamentos urbanos e edifícios
comunitários são componentes do meio ambiente artificial.
A alternativa B está incorreta. A alternativa está correta ao dizer que o meio ambiente
é classificado como bem de uso comum do povo, nos termos do que dispõe o caput do
art. 225 da Constituição Federal. Mas atenção: tome cuidado com essa classificação,
pois o meio ambiente não é exatamente aquele bem de uso comum que aprendemos
no Direito Administrativo. O erro da questão está no fato de consignar que não se
admite o uso oneroso ou que se exija contraprestação pecuniária em detrimento de
sua utilização. Isso porque é permitido que se cobre pela utilização dos recursos
naturais, até como forma de conscientização da população quanto ao real valor desses
bens, indispensáveis à sobrevivência humana. A título de exemplo, cito o art. 5º, inciso
IV, da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97) que prevê como
instrumento a “cobrança pelo uso dos recursos hídricos”. Já imaginou se não se
cobrasse pelo uso da água? Muito provavelmente, as pessoas não teriam a mesma
consciência de racionalizar sua utilização.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do artigo 200, inciso
VIII, da Constituição Federal: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras
atribuições, nos termos da lei: [...] VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho.”.
A alternativa D está incorreta. Nos termos do artigo 23, inciso III, da CF, “É
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos.”
Vamos estudar sobre competências constitucionais nas próximas aulas, mas já adianto
que a competência comum está relacionada às competências materiais dos entes
federados. Mas então a assertiva está certa, não? Veja o que dispõe o art. 24, da CF:
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre: [...] VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico.”. Ora, considerando que o patrimônio histórico, cultural, artístico,
turístico e paisagístico abrange “os documentos, obras e outros bens de valor
histórico, artístico, cultural e paisagístico” a que alude o enunciado, então outros entes
(Estados e Distrito Federal) podem legislar sobre essa matéria. Sobre competências
legislativas privativas da União, veja o art. 22 da CF.
A alternativa E está incorreta. De acordo com o art. 3º, inciso V, da Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) – que será objeto específico de capítulo futuro –
os recursos naturais compreendem “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora”.

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Daniela Adamek

5. CESPE/TRF-1ª Região/Juiz Federal/2011


A defesa do direito ao meio ambiente equilibrado nasceu a partir da Declaração de
Estocolmo, em 1972, cujas premissas são marcadamente biocêntricas.

Comentários
O item está errado, porquanto a Declaração de Estocolmo, de 1972, possui caráter
marcadamente antropocêntrico.

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Daniela Adamek

CAPÍTULO 2 — DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE

Inicialmente, cumpre destacar a existência de uma tendência mundial de tutela


constitucional do meio ambiente. São as chamadas pela doutrina de constituições
verdes, como, por exemplo, a Constituição Portuguesa de 1976 e a Constituição
Espanhola de 1978, que fortemente influenciaram o texto constitucional brasileiro,
notadamente o art. 225 da Constituição Federal de 1988.
Nesse sentido, vamos tratar das disposições constitucionais concernentes ao
Direito Ambiental.

1. COMPETÊNCIA MATERIAIS

Inicialmente, cumpre destacar que a competência material ambiental é


comum, ou seja, cabe a todas as entidades políticas a proteção do meio ambiente. A
propósito, merece destaque os indicados incisos do art. 23 da CF/88, que
especificadamente cuidam dessa temática:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
[...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de
outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
[...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII - preservaras florestas, a fauna e a flora;

O parágrafo único do art. 23 da CF/88 determina que normas de cooperação


entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios serão fixadas mediante a edição
de leis complementares. Na seara ambiental, restou editada a Lei Complementar nº
140/2011, que

fixa normas [...] para a cooperação entre [os entes federativos] nas ações
administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao
combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas,
da fauna e da flora.

Desse modo, verifica-se que os entes federativos, ou seja, União, Estados,


Distrito Federal e Municípios devem atuar de forma coordenada, mediante atos de
cooperação, no sentido de evitar desperdício de forças e recursos quando o assunto
for proteção e preservação ambiental.
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Daniela Adamek

2. LEI COMPLEMENTAR Nº 140/2011

Nos termos do art. 3º da LC 140/2011, União, Estados, DF e Municípios devem


observar os seguintes objetivos fundamentais:

I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente


equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção
do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação
da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição
de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de
atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas
as peculiaridades regionais e locais.

O art. 4º, por sua vez, elenca, para a proteção do meio ambiente, os
instrumentos de cooperação dos quais poderão se valer as entidades políticas, quais
sejam:

I - consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;


II - convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares
com órgãos e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da
Constituição Federal;
III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão
Bipartite do Distrito Federal;
IV - fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os
requisitos previstos nesta Lei Complementar;
VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente federativo a
outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar.

Por oportuno, destaca-se que consórcios públicos são contratos


administrativos celebrados entre entidades políticas com a finalidade de realização de
interesses comuns. É constituída uma associação pública ou uma pessoa jurídica de
direito privado que vai gerir o consórcio público.
Convênios são ajustes ou contratos firmados entre pessoas jurídicas de direito
público ou entre pessoas jurídicas de direito público e particulares. Os particulares e a
administração pública devem ter interesses convergentes. Os convênios, no entanto,
não criam pessoas jurídicas autônomas, diferentemente dos consórcios públicos.
Os acordos de cooperação poderão se dar por meio de fundos, públicos ou
privados. Por exemplo, podemos citar o Fundo Nacional do Meio Ambiente, que visa
auferir recursos para projetos de ações sustentáveis.
A lei complementar ainda dispõe que os convênios e os acordos de cooperação
poderão ser firmados com prazo indeterminado.

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Daniela Adamek

Ressalte-se que a delegação, mediante convênio, da execução de ações


administrativas entre entes federativos, possui dois requisitos a serem cumpridos: (i)
que o ente destinatário tenha órgão ambiental capacitado a executar as ações
administrativas delegadas e (ii) que ele também tenha conselho de meio ambiente.
Veja-se o teor do art. 5º:

Art. 5º O ente federativo poderá delegar, mediante convênio, a execução de


ações administrativas a ele atribuídas nesta Lei Complementar, desde que o
ente destinatário da delegação disponha de órgão ambiental capacitado a
executar as ações administrativas a serem delegadas e de conselho de meio
ambiente.

Por fim, merece destaque a criação, pela norma complementar, de comissões


cuja organização e funcionamento serão regulamentados pelos respectivos regimentos
internos, e que têm por objetivo o fomento e a gestão ambiental compartilhada e
descentralizada entre os entes federativos:

Comissão Tripartite Nacional: formada, paritariamente, por representantes


dos Poderes Executivos da União, dos Estados, do DF e dos Municípios.
Composição:
• 3 representantes da esfera federal
• 3 representantes da esfera estadual
• 3 representantes da esfera municipal

Comissões Tripartites Estaduais: formadas, paritariamente, por


representantes dos Poderes Executivos da União, dos Estados e dos
Municípios.
Composição:
• 2 representantes da esfera federal
• 2 representantes da esfera estadual
• 2 representantes da esfera municipal

Comissões Bipartite do DF: formada, paritariamente, por representantes dos


Poderes Executivos da União e do DF
Composição:
• 2 representantes da esfera federal
• 2 representantes da esfera distrital

Anote que a composição das comissões é sempre paritária.

3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

No âmbito do Direito Ambiental, a competência para legislar é concorrente, ou


seja, cabe tanto à União quanto aos Estados e ao Distrito Federal legislarem sobre
matérias de cunho ambiental. É o que dispõe o art. 24 da CF/88:

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Daniela Adamek

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
[...]
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
[...]
§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á
a estabelecer normas gerais.
§2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.

Atente-se para o fato de que as competências legislativas, diferentemente das


competências materiais, sobre matérias de cunho ambiental, não abrangem os
Municípios. Isso porque a competência legislativa municipal decorre do art. 30, I da
CF/88, competindo a esses entes federados legislar sobre assuntos de interesse local
ou suplementar a legislação federal ou estadual no que couber.
No caso da legislação sobre águas, energia, jazidas, minas e outros recursos
minerais, bem como no caso de atividades nucleares, a competência para legislar
sobre o assunto é privativa da União, conforme dispõe o art. 22 da CF.

4. ORDEM ECONÔMICA AMBIENTAL

Nos termos do art. 170, VI, da CF, que inaugura o capítulo constitucional que
trata da Ordem Econômica e Financeira, a defesa do meio ambiente é um dos
princípios da ordem econômica.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;

Na decisão de políticas públicas, é preciso levar em conta a necessidade de


proteção do meio ambiente, inclusive por meio do tratamento diferenciado, conforme
o impacto ambiental dos produtos, serviços, processos de elaboração do produto ou
do serviço. É o que a doutrina denomina de ordem econômica ambiental.

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5. MEIO AMBIENTE CULTURAL

O meio ambiente cultural, conforme anteriormente estudado, trata do


conjunto de coisas tangíveis e de criações intangíveis do homem sobre os elementos
naturais. A título de exemplo, citamos uma casa tombada (integra, também, o
patrimônio cultural de uma determinada cidade) e formas de expressão de um grupo
formador da sociedade brasileira.
A CF/88 destinou o art. 216 aos cuidados dessa importante classe de meio
ambiente:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a
quantos dela necessitem.
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e
valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de
fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida,
para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação
desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados.

É importante destacar que o grau de restrição estabelecido pelo §1º quanto à


promoção e à proteção do patrimônio cultural brasileiro (meio ambiente cultural) é
progressivo. Bens materiais podem ser tombados ou desapropriados e bens imateriais
devem ser registrados ou inventariados. Nesse sentido, emerge o Decreto-Lei nº

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Daniela Adamek

25/1937, que “organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional” e trata


especificadamente do instituto do tombamento.

6. MEIO AMBIENTE NATURAL

O meio ambiente natural, como visto, é aquele formado pelos elementos da


natureza, bióticos ou abióticos, como ar, água, solo, atmosfera, fauna, flora etc. Sua
proteção está consagrada na Constituição Federal pelo art. 225, artigo constitucional
da disciplina ambiental. Porquanto sobremaneira importante, destaca-se seu inteiro
teor:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.

Algumas observações sobre o caput do art. 225 merecem ser destacadas:


 A expressão “todos”, constante do caput do art. 225, refere-se não apenas
aos brasileiros, mas também aos estrangeiros, residentes ou não, no Brasil.
 Há uma corrente minoritária que defende que essa expressão (“todos”)
abrange também os animais, com fundamentado na tutela animal da CF.
 “Meio ambiente ecologicamente equilibrado” é o meio ambiente
sustentável, sem poluição, capaz de conferir uma vida digna e salubre.
Trata-se de um direito e um dever do Poder Público e da coletividade,
conforme afirmado pelo STF, constitui um direito fundamental de 3ª
geração, ou seja, trata-se de um direito difuso, cujos destinatários são
indeterminados, porém ligados por circunstâncias de fato. Cuida-se de
direito e interesse transindividual, de natureza indivisível, e prerrogativa
jurídica de titularidade coletiva.

Assim, cabe ao Poder Público e à coletividade a defesa do meio ambiente


ecologicamente equilibrado, preservando-o para as presentes e para as futuras
gerações. Nesse ponto, é importante ressaltar que o Direito Ambiental se preocupa
não apenas com a vida e os direitos das presentes gerações (solidariedade sincrônica
ou intrageracional), mas também tem como encargo garantir os direitos e preservar o
meio ambiente para as futuras gerações (solidariedade diacrônica ou intergeracional).
A mens legis da expressão “bem de uso comum do povo” se relaciona ao fato
de que se trata de um bem transindividual que merece especial atenção. Sua
titularidade, conforme visto, é difusa/coletiva.
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é reconhecido pelo STF
como direito fundamental e como intimamente ligado ao direito fundamental à vida e
à dignidade da pessoa humana.
O art. 225 cria um dever genérico para o Poder Público e para a coletividade no
sentido da defesa e da preservação do meio ambiente para as presentes e para as

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Daniela Adamek

futuras gerações (solidariedade sincrônica e diacrônica). Trata-se de obrigações de


fazer e não fazer.

“§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:”

Esse parágrafo enumera as obrigações para o Estado (Poder Público), no que


tange à concretização de um meio ambiente ecologicamente equilibrado:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.

Seguem informações adicionais sobre os incisos do §1º do art. 225:


Inciso I — Manejo ecológico é a “intervenção humana sobre o meio ambiente e
as espécies animais e vegetais capaz de assegurar-lhes a sobrevivência e uma utilização
capaz de assegurar bem-estar à sociedade” (Paulo de Bessa Antunes). Em outras
palavras, são técnicas utilizadas pelos homens na relação com o meio ambiente que
busquem minimizar a agressão/invasão, de forma a priorizar a manutenção da
integridade dos ecossistemas.
Atenção: preservar é diferente de restaurar, que têm significados distintos de
conservar. Nos termos da Lei nº 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de
Conservação), preservação está ligada a um conjunto de métodos, procedimentos e
políticas que visem à proteção, a longo prazo, das espécies, habitats, ecossistemas,
além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos
sistemas naturais.
Já a restauração é a restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada o mais próximo possível de sua condição original. Por fim, a
conservação relaciona-se ao manejo do uso humano da natureza, compreendendo a
preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e recuperação do
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Daniela Adamek

ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis,
às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações
das gerações futuras, garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.
Inciso II — Patrimônio genético é a “informação de origem genética de
espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo
substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos” (Lei nº 13.123/2015). Em
outras palavras, é a informação genética do conjunto de seres vivos que habitam o
planeta. Essas informações são essenciais para a manutenção de um ecossistema
equilibrado.
O termo “biopirataria” surgiu no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica
(CDB), criada durante a Eco-92. Cuida-se da exploração ou apropriação ilegal de
recursos da fauna, da flora e do conhecimento das comunidades tradicionais. Um caso
emblemático de biopirataria envolvendo o nosso país foi o patenteamento do açaí por
uma empresa japonesa. No entanto, devido à pressão de ONGs e da mídia, ele foi
caçado pelo governo japonês. Outro caso ocorreu com o veneno da jararaca, cujo
princípio ativo foi descoberto por um brasileiro, mas registrado por uma empresa
americana que, posteriormente, patenteou a produção de um medicamento contra
hipertensão.
Inciso III – Espaços territoriais especialmente protegidos podem ser criados
por decreto ou lei. Sua alteração ou supressão, no entanto, exigem a edição de lei
específica. Trata-se de uma exceção ao princípio da simetria (pelo qual a extinção de
um instituto se dá pelo mesmo instrumento que o criou). Essa determinação busca
facilitar a criação de espaços que visem à proteção do meio ambiente e, ao mesmo
tempo, dificultar sua extinção ou retração.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que uma
Medida Provisória, ainda que seja convertida em lei, não pode alterar (no sentido de
diminuir ou suprimir) espaços territoriais especialmente protegidos que, no caso, eram
unidades de conservação. Veja o importante julgado:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA N.


558/2012. CONVERSÃO NA LEI N. 12.678/2012. INÉPCIA DA INICIAL E PREJUÍZO
DA AÇÃO QUANTO AOS ARTS. 6º E 11 DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 558/2012 E
AO ART. 20 DA LEI N. 12.678/2012. POSSIBILIDADE DE EXAME DOS REQUISITOS
CONSTITUCIONAIS PARA O EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA EXTRAORDINÁRIA
NORMATIVA DO CHEFE DO EXECUTIVO. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DE
RELEVÂNCIA E URGÊNCIA. ALTERAÇÃO DA ÁREA DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO POR MEDIDA PROVISÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. CONFIGURADA
OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIOAMBIENTAL.
AÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA PARTE, JULGADA PROCEDENTE,
SEM PRONÚNCIA DE NULIDADE. 1. Este Supremo Tribunal manifestou-se pela
possibilidade e análise dos requisitos constitucionais para a edição de medida
provisória após a sua conversão em lei. 2. A jurisprudência deste Supremo
Tribunal admite, em caráter excepcional, a declaração de inconstitucionalidade
de medida provisória quando se comprove abuso da competência normativa
do Chefe do Executivo, pela ausência dos requisitos constitucionais de
relevância e urgência. Na espécie, na exposição de motivos da medida
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Daniela Adamek

provisória não se demonstrou, de forma suficiente, os requisitos


constitucionais de urgência do caso. 3. As medidas provisórias não podem
veicular norma que altere espaços territoriais especialmente protegidos, sob
pena de ofensa ao art. 225, inc. III, da Constituição da República. 4. As
alterações promovidas pela Lei n. 12.678/2012 importaram diminuição da
proteção dos ecossistemas abrangidos pelas unidades de conservação por ela
atingidas, acarretando ofensa ao princípio da proibição de retrocesso
socioambiental, pois atingiram o núcleo essencial do direito fundamental ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto no art. 225 da
Constituição da República. 5. Ação direta de inconstitucionalidade
parcialmente conhecida e, nessa parte, julgada procedente, sem pronúncia de
nulidade. [ADI nº 4.717/DF, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno,
DJe de 14/2/19]

Inciso IV – Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EPIA é uma forma de


Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), instrumento previsto na Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938/81). Trata-se de um estudo elaborado por uma
equipe multidisciplinar, ou seja, por profissionais técnicos de diversas áreas, com o
objetivo de avaliar os impactos que certas atividades ou obras causarão no meio
ambiente. A depender dos resultados, o Poder Público poderá autorizar ou não a
instalação da atividade/empreendimento.
É inconstitucional norma estadual ou municipal que dispensa a realização de
EIA em situações de relevante impacto ambiental – STF, ADI nº 1.086/SC
Em respeito ao princípio da informação, ao EPIA deverá ser conferida ampla
publicidade, ressalvado o sigilo industrial.
Atenção: a CF não menciona a elaboração de licenciamento ambiental, apenas
a elaboração de estudo prévio de impacto ambiental.
Inciso V – Trata-se do exercício do poder de polícia estatal, utilizado para
fiscalizar e orientar os particulares quanto aos limites da utilização do meio ambiente.
Inciso VI – A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99) cuida
dos processos por meio dos quais será efetivada a educação ambiental. Em regra, a
educação ambiental como disciplina nos currículos de ensino não é permitida como
disciplina apartada. No entanto, a norma permite que em cursos de pós-graduação,
extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental seja
elencada como disciplina específica e separada das demais.
Inciso VII – Demonstra a preocupação que o legislador tem com a preservação
de animais e plantas, na medida em que proíbe práticas que coloquem em risco a
perpetuação das espécies. Nesse sentido, vale destacar que existem várias normas
infraconstitucionais que cuidam dessa temática, como o Código Florestal – Lei nº
12.651/12, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC – Lei nº 9.985/00,
a Lei de Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98, Lei nº 11.794/08 – estabelece
procedimentos para o uso científico de animais, Lei nº 5.197/67 – proteção da fauna.
Com fundamento nesse inciso, o Supremo Tribunal Federal entendeu serem
inconstitucionais as práticas como “farra do boi”, “briga de galo” e “vaquejada”. A
Corte entendeu que diante da colisão entre o direito à manifestação cultural e o

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Daniela Adamek

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, este último prevaleceria. O


Tribunal entendeu que as práticas configuram violência e crueldade intrínsecas em
face dos animais, de forma que afrontam dispositivos constitucionais, em especial o
inciso VII do § 1º do art. 225 da CF. No entanto, em 2017, o Congresso Nacional
aprovou e promulgou a Emenda Constitucional nº 96/2017, que acrescentou o § 7º ao
artigo 225. Esse dispositivo determinou que práticas desportivas que utilizem animais
(como as que foram mencionadas) não são consideradas cruéis, desde que sejam
manifestações culturais registradas. Dessa forma, o rodeio e a vaquejada, que tinham
sido erigidos à condição de manifestações culturais por meio da edição da Lei nº
13.364/2016, não mais se configurariam como cruéis e, portanto, seriam consideradas
constitucionais.
Esse fenômeno é chamado de Efeito Backlash. Em inglês, backlash significa um
“sentimento forte entre um grupo de pessoas em reação a uma mudança ou a um
evento recente na sociedade ou na política”. Entendemos o termo como uma forma de
reação a uma decisão judicial marcada por forte teor político. No caso, o Poder
Legislativo reagiu à decisão do STF, que julgou inconstitucional a prática da vaquejada.

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio


ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não
se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que
sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição
Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio
cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure
o bem-estar dos animais envolvidos.

Por fim, salientamos informações relacionadas aos sobreditos parágrafos do


art. 225:
§ 2º — Concretização dos princípios do poluidor-pagador, da reparação e da
responsabilidade. O minerador assumirá todas as consequências derivadas de eventual
dano ambiental decorrente de suas atividades. Isso porque se trata de uma atividade
com alto potencial de impactos ao meio ambiente.

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Daniela Adamek

§ 3º — Trata da tríplice responsabilização do poluidor, em decorrência de


danos ambientais. Dessa forma, poderá ser responsabilizado nas esferas penal,
administrativa e civil.
§ 4º — Esse dispositivo busca conferir tutela especial aos biomas brasileiros, em
virtude de suas respectivas fragilidades (no entanto, o legislador se omitiu quanto ao
Cerrado, à Caatinga e aos Pampas Gaúchos).
O termo “patrimônio nacional” tem como escopo apenas conferir valor e
importância aos biomas elencados. O Supremo Tribunal Federal já assentou que essa
expressão não designa se tratar de bens da União. É importante destacar que há bens
particulares inseridos dentro dos referidos biomas. O dispositivo constitucional não
transformou esses bens particulares em bens públicos. O que ocorre é a submissão dos
proprietários a regras especiais de utilização, com a finalidade de preservação do meio
ambiente e de manutenção de sua integridade.
§ 5º — São consideradas terras devolutas todas aquelas existentes no território
brasileiro que não foram legitimamente incorporadas ao domínio particular. Também
são aquelas incorporadas ao patrimônio público, mas sem afetação. Integram os bens
dominicais.
Lembre-se das lições aprendidas em Direito Administrativo: os bens dominicais
que não estejam afetados a uma finalidade pública específica são alienáveis
(disponíveis). PORÉM, ESSA REGRA NÃO SE APLICA AO DIREITO AMBIENTAL!
O § 5º do art. 225 criou uma exceção à regra administrativista: as terras
devolutas necessárias à proteção do meio ambiente, em que pese serem bens
dominicais, são indisponíveis. Em outras palavras, essas terras devolutas (destinadas à
proteção da natureza) são consideradas bens de uso especial, pois a própria
Constituição lhes conferiu uma destinação específica: proteção do meio ambiente.
As terras arrecadadas pelos Estados são as terras que, um dia, já foram devolutas, mas
que posteriormente foram agregadas ao patrimônio público.
§ 6º — A definição, por lei federal, da localização de usinas nucleares não
desobriga o Poder Público Federal da realização de licenciamento ambiental
específico, bem como a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu
respectivo relatório (EPIA/RIMA).
Recursos minerais são bens da União. Competência legislativa sobre atividades
nucleares é privativa da União. A atividade nuclear, por sua vez, também é monopólio
da União. Desse modo, verifica-se que todas as atividades nucleares, em território
brasileiro, estão centralizadas nas mãos da União.
§ 7º — Falamos da inserção desse dispositivo anteriormente. Ele foi incluído ao
texto constitucional após a decisão do STF que considerou inconstitucional a prática da
vaquejada. Assim, o Congresso Nacional, por meio da edição da Emenda Constitucional
nº 96/2017, acrescentou o § 7º ao artigo 225, em clara reação à decisão judicial da
Corte Constitucional.
A EC teve como objetivo determinar que as práticas desportivas que utilizam
animais não sejam consideradas cruéis e, portanto, sejam consideradas
constitucionais. Para isso, o Congresso Nacional editou a Lei nº 13.364/16, por meio
da qual se elevou o rodeio e a vaquejada à condição de manifestação cultural nacional.
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Daniela Adamek

Esse fenômeno é chamado de Efeito Backlash. Em inglês, backlash significa um


“sentimento forte entre um grupo de pessoas em reação a uma mudança ou a um
evento recente na sociedade ou na política”. O Efeito Backlash nada mais é do que a
tentativa de superação legislativa da jurisprudência (reversão jurisprudencial). Cuida-
se de manifestação do ativismo congressual.
A EC 96/2017 pode ser considerada inconstitucional? Tudo irá depender da
interpretação que será conferida pelo STF. Existem várias Ações Diretas de
Inconstitucionalidade tramitando na Corte que impugnam o referido dispositivo. No
entanto, a Emenda Constitucional somente poderá ser considerada inconstitucional se
afrontar uma das hipóteses do artigo 60 e seus parágrafos (cláusulas pétreas e
processo legislativo). A grande questão está no seguinte questionamento: o inciso VII
do § 1º do artigo 225 pode ser considerado uma garantia individual (cláusula pétrea)?

7. MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL

É aquele constituído por obras do homem, fruto da ação humana. Tem caráter
residual, pois será meio ambiente artificial, desde que não componha o patrimônio
cultural.
O principal instrumento relacionado ao meio ambiente artificial é o Estatuto da
Cidade (Lei nº 10.257/01). Por sua vez, o instrumento básico para que se tenha um
adequado meio ambiente artificial é o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal,
obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes.

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público


municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar
o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar
de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política
de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa
indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área
incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do
solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de
até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real
da indenização e os juros legais.

25
Daniela Adamek

7.1. Estatuto da Cidade

Regulamentando os arts. 182 e 183 da CF, o Estatuto da Cidade (Lei


10.257/2001): estabelece normas de ordem pública e interesse social sobre o uso da
propriedade urbana em prol do bem coletivo, ou seja, para o cumprimento de sua
função social. Nos termos do art. 41 desse diploma normativo:

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:


I – com mais de vinte mil habitantes;
II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos
previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal;
IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;
V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.
VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à
ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou
processos geológicos ou hidrológicos correlatos.
§ 1º No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no
inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do
plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas.
§ 2º No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser
elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano
diretor ou nele inserido.
§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem elaborar plano de
rotas acessíveis, compatível com o plano diretor no qual está inserido, que
disponha sobre os passeios públicos a serem implantados ou reformados pelo
poder público, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com deficiência
ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias existentes, inclusive as que
concentrem os focos geradores de maior circulação de pedestres, como os
órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e privados de
saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, correios e telégrafos,
bancos, entre outros, sempre que possível de maneira integrada com os
sistemas de transporte coletivo de passageiros.

Destaca-se que o art. 40, § 3º do Estatuto dispõe que a lei que instituir o plano
diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos.

7.2. Instrumentos para executar a política urbana

O art. 4º do Estatuto da Cidade elenca diversos e importantes instrumentos


para a execução da Política Urbana firmada, dentre os quais se destacam:
• Plano diretor;
• Parcelamento, uso e ocupação do solo;
• Zoneamento ambiental;
• Plano plurianual;

26
Daniela Adamek

• IPTU;
• Contribuição de melhoria;
• Desapropriação;
• Servidão administrativa;
• Limitações administrativas;
• Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;
• Instituição de unidades de conservação;
• Referendo popular e plebiscito;
• Estudo prévio de impacto ambiental (EIA);
• Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

São também instrumentos de execução da política urbana previstos no


Estatuto da Cidade:
Direito de superfície: faculdade que o proprietário tem de conceder a outra
pessoa o direito de utilização do solo, subsolo ou espaço aéreo correspondente àquela
propriedade. Registrado por meio de escritura pública, trata-se de um direito real.
Direito de preempção (preferência legal ou prelação): é a concessão de
preferência ao poder público municipal, podendo este adquirir o imóvel urbano,
objeto de alienação onerosa entre particulares, se houver previsão legal.
Outorga onerosa do direito de construir: o Plano Diretor poderá fixar áreas nas
quais o direito de construir poderá ser exercido acima do coeficiente de
aproveitamento básico. Por exemplo: em tese o proprietário poderá construir até o 5º
andar, mas, se quiser construir até o 7º, deverá pagar contrapartida ao poder público
municipal.
Operações urbanas consorciadas: conjunto de intervenções coordenadas pelo
poder público municipal, em que há participação de proprietários, moradores,
usuários permanentes ou de investidores privados. Objetiva alcançar transformações
em áreas urbanísticas estruturais.
Transferência do direito de construir: autorização dada por lei específica para
que o proprietário de um imóvel urbano possa exercer o direito de construir em outro
local, ou aliená-lo mediante escritura pública.

7.3. Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança

Instrumento previsto no Estatuto da Cidade para a execução da política urbana,


o EPIV busca analisar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou
atividade, especialmente quanto à qualidade de vida da população residente na área e
em suas proximidades, para fins de obtenção de licenças ou autorizações de
construção, ampliação ou funcionamento.
O EPIV analisa também questões relativas a adensamento populacional,
equipamentos urbanos e comunitários, uso e ocupação do solo, valorização
imobiliária, geração de tráfego e demanda por transporte público, ventilação e
iluminação e, por fim, paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. A propósito,
veja o que dispõe o Estatuto da Cidade sobre esse importante instrumento:
27
Daniela Adamek

Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou


públicos em área urbana que dependerão de EIV para obter as licenças ou
autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder
Público municipal.

Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de


estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação
ambiental.

7.4. IPTU progressivo no tempo

Outro importante instrumento previsto na Constituição Federal, e no Estatuto


da Cidade, é o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU)
progressivo no tempo. A CF, por meio de seu art. 182, § 4º, II, previu a possibilidade de
exigência de IPTU progressivo no tempo como instrumento a coibir a não edificação,
subutilização ou não utilização do solo urbano. Anote-se o que dispõe o Estatuto da
Cidade sobre esse instrumento:

Art. 7º Em caso de descumprimento do parcelamento, edificação ou utilização


compulsórios, o Município procederá à aplicação do IPTU progressivo no
tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de 5 anos consecutivos.
§1º O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado na lei específica e
não excederá a 2 vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota
máxima de 15%.
§2º Caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em 5
anos, o Município manterá a cobrança pela alíquota máxima, até que se
cumpra a referida obrigação, garantida a prerrogativa de desapropriação
sanção.
§3º É vedada a concessão de isenções ou de anistia relativas à tributação
progressiva no tempo.

7.5. Usucapião coletiva

Prevista na Constituição Federal, por meio do art. 183, a usucapião especial


urbana exige, para a aquisição do domínio da propriedade, a posse ininterrupta e sem
oposição, de área urbana de até 250m², por cinco anos, utilizada para moradia, desde
que o interessado não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

O Estatuto da Cidade, por sua vez, criou a chamada usucapião especial coletiva
de imóvel urbano, mediante a qual se instala um condomínio especial e indivisível
entre os interessados:

28
Daniela Adamek

Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de


cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a
250 metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro
imóvel urbano ou rural.
§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo,
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam
contínuas.
§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz,
mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro
de imóveis.
§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada
possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe,
salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações
ideais diferenciadas.
§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de
extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos
condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do
condomínio.
§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão
tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também
os demais, discordantes ou ausentes.

8. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

Como visto, o meio ambiente laboral ou do trabalho é o ambiente em que o


humano trabalha. Materializa-se nas condições que buscam tutelar o exercício digno e
seguro das atividades laborais, como EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). É
importante salientar que essa espécie de meio ambiente possui previsão
constitucional explícita:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei:
[...]
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho.

9. JURISPRUDÊNCIA

É inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das


atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs) à regência da
legislação federal.
A competência para legislar sobre atividades que envolvam organismos geneticamente
modificados (OGMs) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, CF/88). Assim, cabe à União
estabelecer normas gerais e aos Estados-membros suplementá-las (art. 24, §§ 1º e 2º,
CF/88).
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Daniela Adamek

Portanto, não pode um Estado “renunciar” ao exercício da competência legislativa


concorrente, abrindo mão de sua competência suplementar, ao remeter o regramento
de atividades relacionadas a OGMs à legislação federal específica. (STF, ADI 2.303/RS –
Informativo 914)

Municípios são competentes para legislar sobre meio ambiente em assuntos de


interesse local.
O STF entendeu que Municípios têm competência para legislar sobre meio ambiente e
controle da poluição quando se tratar de interesse local. Assim, entendeu
constitucional norma municipal que previa a aplicação de multas para os proprietários
de veículos automotores que emitiam fumaça acima dos padrões considerados
aceitáveis. (STF, RE 194.704/MG – Informativo 870)

Inconstitucionalidade de lei estadual que regulamenta a prática da vaquejada.


Segundo o STF, lei estadual que regulamente a prática da vaquejada é inconstitucional,
porquanto os animais envolvidos sofrem tratamento cruel, contrariando o art. 225, §
1º, VII da CF/88. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos
culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da
observância do disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas
que submetam os animais à crueldade. (STF, ADI 4.983/CE – Informativo 842)

Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana-de-açúcar.


STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego
de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no município. Ponderou-se, de um lado,
a proteção do meio ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e,
de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuam nesse setor. No
caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos
trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso
tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição
imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Ressaltou-se, ainda, que a legislação federal aponta para a necessidade de se traçar
um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como
método despalhador e facilitar o corte de cana, conforme a Lei nº 12.651/2012 e o
Decreto 2.661/1998. (STF, RE 586.224/SP – Informativo 776)

Constitucionalidade de lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de


religiões de matriz africana.
O STF entendeu por resguardar a liberdade religiosa, permitindo o sacrifício ritual de
animais em cultos de religiões de matriz africana, sob o argumento de que os animais
ali sacrificados são abatidos de forma rápida, mediante degola, de sorte que sua
realização não viola o art. 225, § 1º, VII, que proíbe práticas cruéis com animais. (STF,
RE 494.601/RS – Informativo 935)

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Daniela Adamek

Constitucionalidade de lei estadual que proíbe a utilização de animais para


desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal,
perfumes e seus componentes.
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento,
experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus
componentes.
A proteção da fauna é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da
CF/88).
A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma natureza permissiva, autorizando, a utilização
de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam
observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a
evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais.
Mesmo o que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei estadual, isso
não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem
normas mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades
regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso. (STF, ADI 5.996/AM,
- Informativo 975)

Constitucionalidade de legislação estadual que dispõe sobre exposição de produtos


orgânicos nos estabelecimentos comerciais em espaços exclusivos de modo a
privilegiar o direito de informação do consumidor.
“Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei estadual que dispõe sobre a exposição de
produtos orgânicos em estabelecimentos comerciais. 2. Repartição de competências.
3. Competência privativa da União para legislar sobre direito comercial versus
competência concorrente para legislar sobre direito do consumidor. 4. Norma estadual
que determina exposição de produtos orgânicos de modo a privilegiar o direito de
informação do consumidor. Possibilidade. 5. Inexistência de violação à livre iniciativa.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.” (STF, ADI 5.166/SP, j.
04.11.2020)

10. EXERCÍCIOS

1. CESPE/MPE-CE/Promotor de Justiça Substituto/2020


Com relação ao tratamento constitucional dado à questão ambiental, é correto afirmar
que a Constituição Federal de 1988
a) prevê a preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado como dever
apenas de parte da coletividade e obrigação do poder público.
b) confere juridicidade ao valor ético da alteridade, objetivando uma pretensão
universal de solidariedade social, ao tratar das gerações futuras e dos animais como
sujeitos de direito.

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Daniela Adamek

c) estabelece que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é não só um direito,


mas também um dever de toda a coletividade e do poder público.
d) reconhece o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, um direito
fundamental de segunda geração, segundo a jurisprudência do STF.
e) estabelece que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado corresponde
ao princípio do desenvolvimento sustentável, com suas facetas cultural, social e
econômica.

Comentários
A letra A está incorreta, pois, nos termos do art. 225 da CF/88, “todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Ou seja, o dever não
é apenas da coletividade, mas também do Poder Público.
A letra B está incorreta, uma vez que a CF/88 infelizmente não reconhece os animais
como sujeitos de direito, embora sejam juridicamente protegidos, na medida em que é
vedada, na forma da lei específica (Lei de Crimes Ambientais), “as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade” (art. 225, § 1º, VII, CF/88).
A letra C está correta, nos exatos termos do que dispõe o caput do art. 225 da CF/88.
A letra D está incorreta, porque o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado é um direito fundamental da terceira geração ou dimensão.
A letra E está incorreta, porquanto o desenvolvimento sustentável compreende três
faces, entre as quais não se insere a cultural. São elas: econômica, social e ambiental.

2. CESPE/TRF-1ª Região/Juiz Federal/2011


Em razão do tratamento dispensado ao meio ambiente pelo texto constitucional,
depreende-se que é exigido dos cidadãos, predominantemente, um non facere em
relação ao meio ambiente.

Comentários
O item está errado, uma vez que não há prevalência de uma obrigação em detrimento
das demais. Todos têm o dever de proteger o meio ambiente, por meio de condutas
comissivas (obrigações de fazer) e omissivas (obrigações de não fazer).

3. CESPE/TJ-ES/Juiz Substituto/2011
Com relação ao conceito de meio ambiente e dano ambiental, assinale a opção
correta.
a) Conforme o Protocolo de Cartagena, dano ambiental é o prejuízo causado ao
ambiente, que é definido, segundo o referido acordo, como conjunto dinâmico e
interativo que compreende a cultura, a natureza e as construções humanas.

32
Daniela Adamek

b) Dano ambiental é todo impacto causado ao ambiente, que é caracterizado como o


conjunto de elementos bióticos e abióticos que interagem e mutuamente influenciam
a dinâmica dos sistemas autopoiéticos.
c) Meio ambiente é definido como o conjunto de interações, condições, leis e
influências físicas e bioquímicas que origina e mantém a vida em todas as suas formas,
e dano ambiental, como o prejuízo transgeracional, de acordo com a PNMA.
d) A definição legal de meio ambiente encontra-se no próprio texto constitucional, que
se refere ao ambiente cultural, natural, artificial e do trabalho; o conceito legal de
dano ambiental, fundado na teoria do risco, materializa-se no conceito de ecocídio:
sendo o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado direito fundamental do ser
humano, as condutas lesivas ao ambiente devem ser consideradas crimes contra a
humanidade.
e) Meio ambiente é definido como o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas; a definição de dano ambiental infere-se a partir dos conceitos
legais de poluição e degradação.

Comentários
A letra A está incorreta, pois, o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, da
Convenção sobre Diversidade Biológica, promulgado pelo Decreto nº 5.705/06, não
traz as definições de dano ambiental, tampouco de meio ambiente.
A letra B está incorreta, uma vez que a questão traz o conceito de ecossistema.
A letra C está incorreta, pois não há definição para dano ambiental na PNMA.
Ademais, o conceito de meio ambiente trazido pelo item também está incorreto, nos
termos do art. 3º, inciso I, da PNMA.
A letra D está incorreta, porque a definição de meio ambiente não encontra previsão
constitucional, mas apenas infraconstitucional, na Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei nº 6.938/81).
A letra E está correta, pois descreve o que foi previsto no art. 3º da PNMA. A
propósito:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características
do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;

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Daniela Adamek

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora.

4. FCC/TJ-MS/Juiz Substituto/2010
Os tratados internacionais sobre matéria ambiental
a) são fontes de direito ambiental interno e, se aprovados pelo Congresso Nacional,
sobrepõem-se às leis.
b) são fontes de direito ambiental interno, desde que aprovados pelo Congresso
Nacional em dois turnos, por 3/5 dos membros de cada uma de suas casas.
c) desde o momento em que assinados, são fontes de direito ambiental interno e
internacional.
d) apenas serão fonte de direito internacional ambiental se aprovados e ratificados por
todos os Estados que os assinaram.
e) são fontes escritas de direito internacional ambiental, ao lado de outras normas
oriundas de organizações internacionais.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois, de acordo com a jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal, os tratados internacionais que versam sobre direitos
humanos (e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma de suas
espécies), se aprovados pelo Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos, são equivalentes às emendas constitucionais. No entanto, os tratados
internacionais sobre direitos humanos incorporados ao ordenamento jurídico
anteriores à Emenda Constitucional nº 45/2004 (que incluiu o §3º do art. 5º da CF/88),
e que não foram submetidos à votação para aprovação por três quintos dos membros
do Poder Legislativo, possuem status de norma supralegal, ou seja, estão acima das
leis, mas abaixo da Constituição. Dessa forma, independentemente de aprovação pelo
Congresso Nacional, os tratados internacionais sobre matéria ambiental possuem
caráter supralegal.

Lembre-se que os demais tratados possuem natureza jurídica de lei ordinária!


A alternativa B está incorreta, uma vez que, ainda que não sejam aprovados pelo
Congresso Nacional, serão considerados fontes internas de direito ambiental, bem
como terão caráter supralegal.
A alternativa C está incorreta, pois os tratados internacionais passam a ser fontes de
direito ambiental interno somente após sua incorporação ao ordenamento jurídico.
Deverá ser submetido ao procedimento de incorporação de tratados internacionais,
que envolve o Poder Executivo e o Poder Legislativo.

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Daniela Adamek

A alternativa D está incorreta, porquanto não há necessidade de que todos os países


ratifiquem os tratados para que eles se tornem fontes de direito internacional
ambiental.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. São fontes escritas do direito
internacional ambiental ao lado de outros documentos como: Declaração do Rio,
Agenda 21, Convenção sobre Diversidade Biológica, Declaração de Joanesburgo etc.

5. VUNESP/PGE-SP/Procurador do Estado/2018
Sobre a evolução da legislação ambiental no Brasil e os seus marcos históricos, assinale
a alternativa correta.
a) A Constituição Federal de 1988 consolidou a proteção ao meio ambiente, porém o
regime jurídico de proteção ambiental foi primeiramente abordado e disciplinado de
forma sistemática na Constituição de 1967, mantido pela Emenda Constitucional n°
1/1969, o que deu espaço para edição da Lei n° 6.938/1981.
b) Embora a Lei n° 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública) seja um importante
instrumento na proteção de direitos difusos e coletivos, não foi originalmente editada
para tutelar o meio ambiente, tendo sido alterada somente na década de 1990 para
passar a prever, em diversas disposições, a responsabilização por danos causados ao
meio ambiente.
c) Embora a Lei n° 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente,
tenha inaugurado a proteção ambiental de forma sistemática e organizada no Brasil,
somente com a Constituição Federal de 1988 os Estados e Municípios foram inseridos
no sistema de proteção ambiental.
d) Dois marcos da Lei n° 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente, são a descentralização administrativa, a partir da noção de um sistema de
proteção ambiental, e a mudança no paradigma de proteção ambiental no Brasil.
e) Até a edição da Constituição Federal de 1988 as normas de proteção ao meio
ambiente eram fragmentadas e esparsas, sendo preocupação central a proteção de
recursos naturais sob o viés econômico.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a primeira Constituição brasileira a abordar a
proteção o meio ambiente de forma sistematizada foi de Carta Cidadã de 1988. Antes
disso, a temática ostentava apenas caráter infraconstitucional.
A alternativa B está incorreta, porque a Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) já
previu o meio ambiente como uma das hipóteses de cabimento da referida ação em
seu texto original (art. 1º, inciso I).
A alternativa C está incorreta. Os Estados e Municípios foram inseridos no sistema de
proteção ambiental muito antes da promulgação da Constituição Federal de 1988. Sua
inserção se deu com a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81).
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. A Política Nacional do Meio
Ambiente é a norma que inaugura a fase holística da proteção ao meio ambiente no
Brasil. No que tange à descentralização administrativa, por sua vez, a PNMA criou o

35
Daniela Adamek

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente, que será objeto da aula relacionada à
Lei nº 6.938/81.
A alternativa E está incorreta. Antes da promulgação da CF/1988 já existiam normas
voltadas à preocupação ambiental sob o viés inaugurado pela Conferência de
Estocolmo (1972), no sentido de reconhecer o meio ambiente ecologicamente
equilibrado como um direito fundamental, bem como de promover o desenvolvimento
aliado à proteção do meio ambiente (conceito de desenvolvimento sustentável).

6. CPCON/UEPB/Advogado/2017
Observe os ensinamentos abaixo e em seguida responda o que se pede.

“Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 as


normas de proteção ambiental são alçadas à categoria de normas
constitucionais com a elaboração de capítulo especialmente dedicado à
proteção do meio ambiente, tema que permeia todo o texto constitucional. A
constitucionalização do meio ambiente no Brasil proporcionou um verdadeiro
salto qualitativo em relação às normas de proteção ambiental. Os grandes
princípios ambientais são içados ao patamar constitucional, assumindo um
posto eminente, ao lado das grandes liberdades públicas e dos direitos
fundamentais. A Carta Magna de 1988 inova, portanto, em relação às
Constituições anteriores, que apenas abordavam os recursos naturais sob o
enfoque utilitarista, e nunca protecionista.” (SILVA, ROMEU FARIATHOMÉ.
Manual de Direito Ambiental. Salvador: JUSPODIVM, 2015).

Considerando-se os múltiplos aspectos que balizam o conceito de meio ambiente, nos


moldes preconizados na Constituição Federal de 1988, nas legislações de tutela
ambiental e nos apontamentos doutrinários que disciplinam o assunto, assinale a
alternativa CORRETA.
a) Ao fixar as diretrizes regentes da tutela ambiental, a Constituição Federal de 1988
dispõe que a proteção do meio ambiente, nele compreendido o meio ambiente do
trabalho, constitui uma das competências do Sistema Único de Saúde.
b) Em razão do tratamento dispensado ao meio ambiente pelo texto constitucional,
depreende-se que é exigido dos cidadãos, predominantemente, um non facere em
relação ao meio ambiente.
c) O meio ambiente é um bem público, classificado pela Constituição Federal de 1988
como bem de uso comum do povo. Em razão de tal ordem classificatória, torna-se
inadmissível que o seu uso seja oneroso ou mediante a imposição de qualquer
contraprestação pecuniária.
d) A definição normativa de recursos ambientais compreende a fauna e a flora, as
águas superficiais e subterrâneas, mas não se inclui o mar territorial e elementos que
constituem a biosfera.
e) Todos os entes federativos permanecem obrigados à proteção do patrimônio
artístico, cultural, documental, das obras e outros bens de valor histórico; no entanto,
a competência para legislar sobre estes temas pertence, privativamente, à União.

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Daniela Adamek

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do art. 200, inciso
VIII, da CF/1988, o meio ambiente do trabalho está incluído entre as competências do
Sistema Único de Saúde – SUS.
A alternativa B está incorreta, pois o direito ao meio ambiente possui caráter bifronte.
Assim pode-se afirmar que se reveste de características prestacionais (facere, non
facere e dare) e de defesa. Nesse sentido, não há que se falar em predominância de
nenhum deles.
A alternativa C está incorreta, pois não há qualquer impedimento de que se exija
contraprestação pecuniária pela utilização do meio ambiente. A cobrança pelo uso de
recursos naturais é utilizada até mesmo como forma de conscientização da população
quanto ao real valor desses bens, indispensáveis à sobrevivência humana. A título de
exemplo, cito o art. 5º, inciso IV, da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº
9.433/97) que prevê como instrumento a “cobrança pelo uso dos recursos hídricos”.
A alternativa D está incorreta. A exegese do inciso V, do art. 3º, da Política Nacional do
Meio Ambiente é clara: “V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora”. Portanto, estão incluídos tanto o mar
territorial quanto os elementos da biosfera.
A alternativa E está incorreta. Nos termos do artigo 23, inciso III, da CF, “É
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos.” A
competência comum está relacionada às competências materiais dos entes federados.
No entanto, veja o que dispõe o art. 24, da CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados
e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VII - proteção ao patrimônio
histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico.”. Ora, considerando que o
patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico abrange “os
documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico, cultural e paisagístico” a
que alude o enunciado, então outros entes (Estados e Distrito Federal) podem legislar
sobre essa matéria. Sobre competências legislativas privativas da União, veja o art. 22
da CF.

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Daniela Adamek

CAPÍTULO 3 — PRINCÍPIOS AMBIENTAIS

1. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

O princípio da prevenção pressupõe certeza científica quanto aos impactos


negativos causados por determinada atividade sobre o meio ambiente. Dessa forma,
torna-se necessária a adoção de medidas preventivas a impedir ou mitigar possíveis
danos ambientais já que o bem ambiental não permite o retorno ao status quo.
Portanto, o empreendedor deve observar condicionantes para a obtenção de
licenciamento ambiental.

2. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O princípio da precaução, segundo a Declaração do Rio (ECO 92 – princípio 15),


preceitua que:

Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de


absoluta certeza científica não poderá servir de razão para postergar medidas
eficazes e economicamente viáveis para precaver a degradação ambiental.

Verifica-se, pois, que o princípio da precaução se relaciona a circunstâncias em


que haja incerteza científica quanto aos possíveis efeitos das atividades sobre o meio
ambiente. Dessa forma, milita em favor do meio ambiente, revestindo-se da máxima in
dubio pro natura.
O princípio da precaução fundamenta a inversão do ônus da prova nas ações
ambientais: não é o Estado que deve provar que o empreendimento é causador
potencial de dano ambiental, mas o empreendedor/poluidor que deve provar que a
sua atividade não é perigosa nem poluidora, ou que não desrespeita as normas
ambientais.
Segundo enunciado editado pelo STJ:
O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório,
competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar
que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é
potencialmente lesiva.

3. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O conceito de desenvolvimento sustentável pode ser extraído do Relatório


Brundtland (Nosso Futuro Comum), elaborado pela Comissão Mundial para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento em 1987. Nesse sentido, podemos entender o
desenvolvimento sustentável como

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Daniela Adamek

[...] o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem


comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias
necessidades.

O princípio do desenvolvimento sustentável tem como pilar a harmonização de


três aspectos: crescimento econômico, preservação ambiental e equidade social.

4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR OU DA RESPONSABILIDADE

Esse princípio determina que o poluidor deve responder pelos custos sociais da
poluição ou da degradação que causa por meio de suas atividades.
O que se busca aqui é a internalização dos prejuízos ambientais. Quem
internaliza o lucro, deve internalizar os prejuízos que causa. Evita-se a privatização dos
lucros e socialização dos prejuízos.
O princípio do poluidor-pagador também tem natureza sancionatória. Assim, a
poluição, mesmo que amparada em licença, não desonera o poluidor de arcar com os
danos ambientais que causar.
Por oportuno, destaca-se o seguinte enunciado, retirado da publicação
“Jurisprudência em Teses” do STJ, que trata de matéria ambiental:
Não há direito adquirido a poluir ou degradar o meio ambiente, não existindo
permissão ao proprietário ou posseiro para a continuidade de práticas vedadas
pelo legislador.

5. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR

Diferentemente do princípio do poluidor-pagador, o princípio do usuário-


pagador não tem caráter sancionatório. Isso porque a utilização de recursos naturais
pelos seres humanos deve ser remunerada, ainda que não haja comercialização. Trata-
se, em última instância, de uma forma de conscientização sobre a forma como
utilizamos e enxergamos os recursos naturais, bens de uso comum do povo.

6. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR

O protetor, diferentemente do poluidor, deverá ser beneficiado pelos atos que


pratica em prol do meio ambiente. É a outra face da moeda do princípio do poluidor-
pagador. Criam-se benefícios àqueles que protegem o meio ambiente, a fim de
fomentar ou premiar iniciativas de proteção ambiental.
A título de exemplo, citamos a compensação financeira ao proprietário rural
que mantém, além da reserva florestal legal, outra área de proteção de reserva, acima
do mínimo fixado pelo Código Florestal. Também podemos apontar para os créditos
subsidiados, redução dos juros cobrados, redução das bases de cálculo das alíquotas
tributárias e isenções tributárias, tais como o IPTU verde.

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Daniela Adamek

7. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU EQUIDADE


INTERGERACIONAL

Esse princípio tem estreita relação com o princípio do desenvolvimento


sustentável, pois visa assegurar que as gerações futuras tenham à sua disposição os
recursos ambientais. Também é reconhecido como solidariedade diacrônica, visto que
as presentes gerações devem observar a preservação do meio ambiente, adotando
políticas ambientais que permitam às presentes e às futuras gerações a utilização do
meio ambiente, não podendo utilizar recursos ambientais de forma a privar seus
descendentes desses recursos.
O princípio do desenvolvimento sustentável, portanto, busca a realização do
princípio da equidade geracional e vice-versa.

8. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA

O princípio da participação comunitária visa estimular a participação social nos


processos decisórios ligados ao meio ambiente, na medida em que o meio ambiente
ecologicamente equilibrado é direito de todos. Assim, há uma imposição de que a
sociedade atue na defesa ambiental, com fundamento também no princípio
democrático.
A participação democrática tem lugar em três esferas, quais sejam: legislativa,
por meio de plebiscitos, referendos e iniciativa popular; administrativa, por meio do
direito de informação, direito de petição e estudo prévio de impacto ambiental (EPIA),
por meio de audiências públicas, e processual, por meio da ação popular e da ação civil
pública.

9. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

Um dos requisitos da propriedade para cumprir sua função social é o respeito à


legislação ambiental, como o Código Florestal, quando o imóvel for rural, ou o Plano
Diretor, quando for urbano. A propósito:

Art. 1.228, §1º, do CC. O direito de propriedade deve ser exercido em


consonância com as finalidades econômicas, sociais e de modo que sejam
preservados a fauna, flora, belezas naturais, equilíbrio ecológico, patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

Art. 183 da CF/88. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social


quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas
no plano diretor.

Art. 186 da CF/88. A função social é cumprida quando a propriedade rural


atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
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Daniela Adamek

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do


meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

10. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

O princípio da informação mantém íntima relação com o princípio da


participação comunitária, já que o direito à participação pressupõe o acesso às
informações ambientais. O conhecimento se torna imprescindível ao bom
funcionamento das instituições e à formação do convencimento da população, a fim
de participar ativamente das decisões políticas ambientais.

11. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA

Esse princípio tem feição internacional, fruto do Protocolo de Kyoto (acordo


internacional entre os países integrantes da ONU, firmado com o objetivo de se reduzir
a emissão de gases causadores do efeito estufa e o consequente aquecimento global).
Todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição, pela busca da
sustentabilidade, mas os países que são os maiores poluidores deverão adotar
medidas mais drásticas para fins de preservação ambiental, pois são os responsáveis
pelos maiores danos à biosfera (art. 4º, item I, do Protocolo).

12. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICO/EFEITO CLIQUET

Considerando o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado um


direito fundamental de 3ª geração, as garantias de proteção ambiental conquistadas
não podem retroagir. Torna-se, portanto, inadmissível que os níveis de proteção
ambiental alcançados sejam diminuídos, exceto em casos excepcionais nos quais haja
profunda alteração das circunstâncias de fato.

13. JURISPRUDÊNCIA

É possível a edição de medidas provisórias sobre matéria ambiental.


O STF entendeu pela possibilidade de edição de medidas provisórias tratando sobre
direito ambiental, desde que veicule normas favoráveis ao meio ambiente. Isso porque
a proteção do meio ambiente é um limite material implícito à edição de MP, ainda que
não conste expressamente das limitações previstas no art. 62, § 1º da CF/88. (STF, ADI
4.717/DF – Informativo 896)

Exposição da população a campos eletromagnéticos e princípio da precaução.


No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de
efeitos nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos,

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Daniela Adamek

magnéticos e eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica, não existem


impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009.
(STF, RE 627.189/SP – Informativo 829)

Status normativo das Resoluções do CONAMA e princípio da proibição de retrocesso


ecológico.
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito
fundamental da pessoa humana. A mera revogação de normas operacionais fixadoras
de parâmetros mensuráveis necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem
sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a observância da Constituição
Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. (STF, ADPF 747 MC-
Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF – Informativo 1000).

14. EXERCÍCIOS

1. IBEG/Prefeitura de Teixeira de Freiras-BA/Procurador do Município/2016


Acerca dos princípios do Direito Ambiental, analise as proposições e indique a
alternativa correta:
I – O Meio Ambiente, bem de uso comum do povo, consistente no equilíbrio ecológico
e na higidez do meio e dos recursos naturais, é bem comum, geral, difuso, indissociável
da qualidade dos seus constitutivos, e, por conseguinte, divisível, disponível e
impenhorável.
II – Pelo princípio da prevenção, procura-se evitar que o dano ambiental ocorra,
através de mecanismos extrajudiciais e judiciais. É, portanto, a atuação antecipada
para evitar danos, que, em regra, são irreversíveis.
III – O princípio da precaução vai ser aplicado toda vez que houver incerteza científica
se determinado ato possa prejudicar os bens ambientais ou o ser humano.
IV – O conceito normativo de meio ambiente abrange o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas suas formas, não incluindo o patrimônio edificado.
a) apenas as assertivas I e III são verdadeiras.
b) apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
c) apenas as assertivas II e III são verdadeiras.
d) apenas as assertivas III e IV são verdadeiras.
e) todas as assertivas são verdadeiras.

Comentários
A assertiva I é falsa, pois o meio ambiente é um bem indivisível e indisponível. Podem-
se citar, também, outras características do meio ambiente apontadas pela doutrina
majoritária:
• Bem de uso comum do povo;
• Transindividual;
• Difuso;
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Daniela Adamek

• Indivisível;
• Indisponível;
• Irrenunciável;
• Inalienável;
• Impenhorável;
• Essencial à qualidade de vida humana;
• Sem valor pecuniário.

A alternativa II é verdadeira. O princípio da prevenção está intrinsecamente ligado à


necessidade de proteção do meio ambiente. Dessa forma, busca-se o estabelecimento
de medidas para prevenir e evitar os danos ambientais, seja na esfera extrajudicial,
seja na judicial.
A alternativa III é verdadeira. O princípio da precaução está ligado à ideia de incerteza
científica. Aplica-se quando a insuficiência de informações possa causar algum dano
ambiental.
A alternativa IV é falsa. A noção de meio ambiente abrange quatro diferentes esferas:
natural, artificial, cultural e do trabalho. Dessa forma, temos que o patrimônio
edificado está abrangido pela noção de meio ambiente artificial ou cultural (quando
fizer parte do patrimônio cultural).
Portanto, a resposta correta é a alternativa C.

2. CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-CE/2020


Ao avaliar um pedido de autorização do uso de determinado agrotóxico, o órgão
ambiental competente, pautado em estudos científicos, autorizou o uso do produto.
Para decidir, considerou que, no atual estágio do conhecimento científico, inexiste
comprovação de efeitos nocivos à saúde humana decorrentes da exposição ao referido
agrotóxico, conforme parâmetros propostos pela Organização Mundial de Saúde.
Considerando-se que, nessa situação hipotética, o risco de exposição ao agrotóxico
possa ser mensurado, é correto afirmar, com base na jurisprudência do STF, que a
decisão do órgão ambiental está pautada no princípio
a) da precaução.
b) da prevenção.
c) do limite.
d) da equidade.
e) do usuário-pagador.

Comentários
Considerando que o risco de exposição pode ser mensurado, como consigna o
enunciado da questão, estamos diante do princípio da prevenção. O princípio da
precaução aplica-se ao risco desconhecido, o que, nos termos do exercício, não é o
caso. Portanto, a alternativa correta é a letra B.

3. IESES/Prefeitura de São José-SC/Procurador Municipal/2019


É correto afirmar:
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Daniela Adamek

a) No Direito Ambiental, é aplicável somente o princípio da precaução, não o da


prevenção.
b) O princípio da função social da propriedade somente se aplica aos imóveis rurais,
não aos imóveis situados nas cidades.
c) A responsabilidade ambiental é tríplice, ou seja, uma única conduta pode ser alvo de
ação de reparação na esfera cível e sancionamento nas esferas administrativa e
criminal.
d) O princípio do poluidor pagador significa que é possível a alguém pagar para poluir.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o princípio da prevenção, como visto neste
capítulo, trata-se de princípio aplicável ao Direito Ambiental.
A alternativa B está incorreta, pois a função social da propriedade, nos termos do art.
5º, XXIII, da CF, é aplicável tanto à propriedade rural, como a urbana. A propósito,
anote-se o conteúdo do art. 182, § 2º, da CF: § 2º A propriedade urbana cumpre sua
função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão, nos termos do que dispõe o §
3º do art. 225 da CF.
A alternativa D está incorreta, pois o princípio do poluidor-pagador não pode ser
interpretado como uma autorização à degradação do meio ambiente, mas sim que,
aquele que causar danos ao ambiente, deverá repará-lo, internalizando os custos de
sua conduta.

4. VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRO/2019


Determinada indústria química elimina seus rejeitos no rio que abastece uma cidade,
alterando as características do meio ambiente e prejudicando a segurança e o bem-
estar da população. Nesse caso, o princípio ambiental que visa à internalização das
externalidades ambientais negativas e busca impedir a socialização dos custos
ambientais é o princípio
a) do poluidor-pagador.
b) da participação social.
c) da ubiquidade.
d) da precaução.
e) do usuário-pagador.

Comentários
De acordo com princípio do poluidor-pagador, o poluidor deve responder pelos custos
sociais da poluição ou da degradação que causa através de suas atividades. O que se
busca é a internalização dos prejuízos ambientais. Portanto, a resposta correta está no
item A.

5. FCC/Promotor de Justiça Substituto/MPE-MT/2019

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Daniela Adamek

No Direito Ambiental, o dever de recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar


pelos danos causados refere-se ao princípio
a) do poluidor-pagador.
b) do desenvolvimento sustentável.
c) do equilíbrio.
d) do limite.
e) da prevenção.

Comentários
O princípio do poluidor-pagador não pode ser interpretado como uma autorização à
degradação do meio ambiente, mas sim que, aquele que causar danos ao ambiente,
deverá repará-lo, internalizando os custos de sua conduta. Portanto, a alternativa
correta é a letra A.

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Daniela Adamek

CAPÍTULO 4 — POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE

A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) foi instituída por meio da Lei nº
6.938/81 e é uma norma geral de direito ambiental recepcionada pela Constituição
Federal de 1988. Essa política estabelece princípios, objetivos e instrumentos para a
implementação da preservação ambiental do país, bem como institui o Sistema
Nacional do Meio Ambiente.

1. PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O objetivo geral da PNMA se cinge à recuperação, à preservação e à melhoria


da qualidade ambiental, conforme preceitua seu art. 2º, o qual também estabelece os
princípios da referida norma:

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,


melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio
ambiente.

A PNMA elenca, outrossim, objetivos específicos a serem perseguidos na


formulação das políticas ambientais brasileiras, vide art. 4º:

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à
qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

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Daniela Adamek

III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de


normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas
para o uso racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de
dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública
sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico;
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.

2. INSTRUMENTOS DE EXECUÇÃO DA PNMA

A PNMA também criou instrumentos hábeis a contribuir com a efetivação dos


princípios e objetivos por ela estabelecidos, bem como auxiliar na promoção da
proteção do meio ambiente. São eles:

Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:


I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras;
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e
as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e
Municipal;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa
Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado
anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA;
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou
utilizadoras dos recursos ambientais;

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Daniela Adamek

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental,


seguro ambiental e outros.

2.1. Zoneamento ambiental

Trata-se de um instrumento da PNMA e de exploração de determinado


território, também denominado “Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)”, por meio
do qual o Estado intervém no território, dividindo-o em zonas, de acordo com o
interesse de preservação ambiental.
O zoneamento ambiental tem por objetivo possibilitar o uso sustentável dos
recursos ambientais, mediante a harmonização entre o desenvolvimento econômico e
a manutenção da qualidade ambiental.
No zoneamento ambiental, que deve ser aprovado mediante lei, são
estabelecidos padrões de proteção ambiental, os quais variam em cada zona em que é
feita a divisão do território, segundo a necessidade de preservação.
A divisão deve se dar da seguinte forma:
• Zona de uso estritamente industrial: atividade industrial.
• Zona de uso predominantemente industrial: atividade industrial e outras
atividades não industriais, mas sem causar prejuízo à população no tocante ao
meio ambiente.
• Zona de uso diversificado: poderá haver indústrias, comércios, moradia,
dentre outras atividades.
• Zona de reserva ambiental: em razão de características culturais,
paisagísticas, de proteção de mananciais etc., ficará vedada a localização de
estabelecimentos industriais.

2.2. Avaliação de impactos ambientais

Para serem exercidas, as atividades que causem potencial impacto ambiental


devem se submeter à prévia avaliação de impactos ambientais (AIA). Cuida-se de uma
avaliação prévia, cujos resultados subsidiarão a tomada de decisões dos órgãos
responsáveis pela emissão de licenças e autorizações.
Lembre-se que “avaliação de impactos ambientais” é gênero do qual derivam
diversas espécies, como Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA), planos de manejo,
relatórios ambientais, plano de recuperação de área degradada (PRAD), etc.

2.3. Instrumentos econômicos

Ante a dificuldade de implementação e de execução de fiscalização e de


controle de atividades potencialmente poluidoras, torna-se necessária a criação de
instrumentos complementares que incentivem a adoção de atitudes e gestões
ecológicas. Surgem, então, os instrumentos econômicos voltados à proteção e à
preservação do meio ambiente.

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Daniela Adamek

Inicialmente, frisamos que o rol positivado pela PNMA é meramente


exemplificativo, podendo haver outros, como a instituição de tributos que favoreçam
a proteção ambiental, prazo prolongado para pagar créditos, concessão de créditos
com juros baixos, etc.

2.3.1. Concessão florestal

A ideia da concessão florestal é basicamente a mesma da concessão


administrativa. Trata-se de contrato oneroso de concessão, precedido de licitação na
modalidade concorrência, celebrado por entidade política com pessoa jurídica, que
poderá ser consorciada ou não. O concessionário vencedor do procedimento licitatório
terá direito à exploração sustentável dos recursos ambientais por prazo
determinado.
A Lei nº 11.284/2006 regulamentou esse instrumento como uma das
modalidades de gestão das florestas públicas, mediante o qual a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios podem, mediante licitação, conceder à pessoa jurídica
o direito de manejar, de forma sustentável e mediante pagamento, florestas de
domínio público com vistas à obtenção de produtos e serviços.
Nos termos dessa norma, o prazo para concessão será estabelecido de acordo
com o ciclo de colheita ou exploração, quando tiver como objeto a obtenção de
produtos. No entanto, é importante destacar que o prazo mínimo será de um ciclo, e o
máximo de 40 anos. Se a concessão tiver como objeto serviços ambientais, como
turismo florestal, o lapso temporal deverá estar compreendido entre 5 e 20 anos.

2.3.2. Servidão ambiental

A servidão ambiental é uma espécie de servidão administrativa. Trata-se de um


direito real sobre coisa alheia, instituído mediante contrato, firmado perante órgão do
SISNAMA, e deve ser registrado em Cartório de Registro de Imóveis.
O proprietário ou possuidor de um imóvel renuncia, de forma temporária ou
permanente, total ou parcialmente, o uso, a exploração, a supressão de recursos
naturais da sua propriedade, por, no mínimo, 15 anos. O regime de proteção da área
deverá ser, pelo menos, o mesmo regime de proteção da reserva legal.
É vedada a instituição de servidão ambiental nas Áreas de Proteção
Permanente (APP) e nas áreas de reserva legal, pois nessas áreas já existe a obrigação
de proteção.

2.3.3. Seguro ambiental

O seguro ambiental tem por objetivo facilitar a reparação de eventuais danos


ao meio ambiente que venham a ocorrer com determinado empreendimento ou
atividade. Nesse sentido, a Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei nº
12.305/10) trouxe importante previsão sobre o seguro ambiental. Veja:

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Daniela Adamek

Art. 40. No licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que


operem com resíduos perigosos, o órgão licenciador do SISNAMA pode exigir a
contratação de seguro de responsabilidade civil por danos causados ao meio
ambiente ou à saúde pública.

3. COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE


(SISNAMA)

A competência para implementação da PNMA foi atribuída aos órgãos e às


entidades que compõem o SISNAMA, conforme preconizado pela própria PNAM.
Assim, o SISNAMA é composto por:

• Órgão superior: Conselho de Governo;


• Órgão consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA);
• Órgão central: Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, nos
termos da norma. No entanto, esse órgão foi substituído pelo Ministério do
Meio Ambiente;
• Órgãos executores: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis — IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio;
• Órgãos Seccionais: órgãos ou entidades estaduais;
• Órgãos Locais: órgãos ou entidades municipais.

3.1. Conselho de Governo

O Conselho de Governo tem a função de assessorar o presidente da República


na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio
ambiente e os recursos ambientais.
Composto por todos os ministros de Estado e pelo titular do gabinete pessoal
do presidente da República.

3.2. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

O Conselho Nacional do Meio Ambiente é um órgão consultivo e deliberativo.


Por conta disso, o CONAMA tem poder normativo. Ademais, tem por objetivo
assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas
governamentais para o meio ambiente e recursos naturais e deliberar, no âmbito de
sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
As competências do órgão foram elencadas pela PNMA, em seu art. 8º:

Art. 8º Compete ao CONAMA:

50
Daniela Adamek

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o


licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser
concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA;
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das
alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou
privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim
a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos
estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas
consideradas patrimônio nacional;
III –(Revogado pela Lei nº 11.941/2009)
IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na
obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental;
(VETADO);
V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de
benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou
condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da
poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante
audiência dos Ministérios competentes;
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos
recursos ambientais, principalmente os hídricos.

Ressalte-se que a presidência do CONAMA é ocupada pelo Ministro do Meio


Ambiente.
Com efeito, o órgão, nos termos do Decreto nº 99.274/, é composto por:

Art. 4º O CONAMA compõe-se de:


I - Plenário;
II - (Revogado pelo Decreto nº 9.806, de 2019)
III - Comitê de Integração de Políticas Ambientais;
IV - Câmaras Técnicas;
V - Grupos de Trabalho; e
VI - Grupos Assessores.

A participação dos membros do CONAMA é considerada serviço de natureza


relevante e não é remunerada.
O Plenário do CONAMA reúne-se, ordinariamente, a cada 3 meses, no Distrito
Federal. Extraordinariamente, será reunido por convocação de seu presidente, por
iniciativa própria ou a requerimento de pelo menos 2/3 de seus membros.

51
Daniela Adamek

3.3. Ministério do Meio Ambiente

O Ministério do Meio Ambiente é órgão central do SISNAMA, que planeja,


coordena, supervisiona e controla, como órgão federal, a política nacional e as
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.

3.4. IBAMA e ICMBio

O IBAMA e o ICMBio são órgãos executores do meio ambiente, cuja finalidade é


executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio
ambiente, de acordo com as respectivas competências.
O IBAMA é uma autarquia federal em regime especial, tem poder de polícia
ambiental, atua na esfera federal e, supletivamente, nas esferas estadual e municipal.
Por sua vez, o ICMBio, que também é uma autarquia federal em regime
especial, tem por função atuar na conservação ambiental por meio da gestão de
unidades de conservação.

3.5. Órgãos Seccionais

Órgãos Seccionais são os órgãos estaduais responsáveis pela execução de


programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a
degradação ambiental.
Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição,
elaborarão normas supletivas e complementares e estabelecerão padrões
relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo
CONAMA.

3.6. Órgãos locais

Órgãos locais são os responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades,


nas suas respectivas jurisdições, dentre os quais se destacam as secretarias municipais
do meio ambiente.
Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais,
também poderão elaborar as normas na esfera de suas competências e nas respectivas
áreas de jurisdição.

4. EXERCÍCIOS

1. VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos-SP/Procurador do Município/2017


Para fins da Política Nacional do Meio Ambiente, considera-se:
a) Poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta
ou indiretamente lancem materiais ou energia em desacordo com os padrões
sanitários estabelecidos pela lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
52
Daniela Adamek

b) Poluidor, a pessoa física ou jurídica de direito privado, responsável diretamente por


ato causador de degradação ambiental que implique perda da biodiversidade.
c) Recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores e subterrâneas, os estuários, o
mar territorial, o solo, excluídos os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
d) Degradação do meio ambiente, a alteração propícia dos componentes do meio
ambiente.
e) Meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Comentários
Veja o que dispõe o artigo 3º da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente):
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características
do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora.

Dessa forma, a alternativa correta é a letra E.

2. TRF-4ª Região/Juiz Federal/2009


Na evolução do direito ambiental brasileiro, invoca-se, observada a ordem cronológica,
os seguintes marcos históricos: a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente; a
Declaração da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo; a Lei da Ação Civil
Pública; a Constituição Federal em vigor; a Declaração da Conferência das Nações
Unidas do Rio de Janeiro e a Lei dos Crimes e Infrações Administrativas Ambientais.

Comentários
O item está errado, pois a Declaração da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo,
de 1972, precede a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº

53
Daniela Adamek

6.938/81). A Lei da ACP, por sua vez, data de 1985. A CF, de 1988. A Declaração do Rio,
de 1992 e, por fim, a Lei de Crimes Ambientais, de 1998.

3. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020


O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) de determinado estado da federação foi
produzido pela área técnica da Secretaria do Meio Ambiente e por renomados
professores da respectiva universidade estadual, sendo, portanto,
a) inválido, diante da ausência de ampla participação democrática.
b) válido pela qualificada discussão presente na sua elaboração.
c) válido como fundamento para a elaboração de planos diretores municipais.
d) válido como fundamento para compensação de reserva legal.
e) inválido, diante da ausência de participação de uma universidade federal presente
no território do estado.

Comentários
O zoneamento ambiental, ou zoneamento ecológico-econômico, trata-se de um dos
instrumentos para a efetivação da PNMA, conforme prevê seu art. 9º, II, e é
regulamentado pelo Decreto nº 6.938/81. O referido Decreto, nos artigos 4º e 6º,
prevê a participação da sociedade civil na elaboração do referido instrumento.
Portanto, conforme colocado pelo enunciado, o ZEE revela-se inválido, porquanto
ausente a participação democrática. Gabarito é o item A.

4. CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019


O CONAMA faz parte do SISNAMA. Considerando-se a composição do SISNAMA e as
suas atribuições, é correto afirmar que o CONAMA:
a) tem como finalidade deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e
padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à
sadia qualidade de vida.
b) tem a função de assessorar o presidente da República na formulação da política
nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos
ambientais.
c) tem a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão
federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio
ambiente.
d) é órgão federal que detém a responsabilidade de fazer executar a política e as
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.
e) é órgão interestadual que detém a responsabilidade de executar programas e
projetos e controlar e fiscalizar atividades capazes de provocar degradação ambiental.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. A PNMA, em seu art. 6º,
estabelece que o CONAMA é um órgão consultivo e deliberativo, “com a finalidade de
assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas
governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de
54
Daniela Adamek

sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente


ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida”.
A alternativa B está incorreta. Nos termos do art. 6º, I, a referida competência é do
Conselho de Governo, órgão superior do SISNAMA.
A alternativa C está incorreta. A referida competência é do órgão central do SISNAMA
que, conforme art. 6º, III, da PNMA, é a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência
da República.
A alternativa D está incorreta. Trata-se de competências dos órgãos executores do
SISNAMA, quais sejam, IBAMA e Instituto Chico Mendes, conforme art. 6º, IV, da
PNMA.
A alternativa E está incorreta e faz alusão aos órgãos seccionais, nos termos do art. 6º,
V, da PNMA.

5. FCC/Promotor de Justiça Substituto/MPE-MT/2019


Segundo prevê o art. 225 da Constituição Federal “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Nesse caso,
a) degradação ambiental e poluição são expressões que se equivalem.
b) como cabe ao Poder Público o dever de defender o meio ambiente, jamais poderá
ser responsabilizado por sua degradação.
c) o poluidor será sempre a pessoa física ou jurídica de direito privado, responsável,
direta ou indiretamente, pela degradação ambiental.
d) o poluidor será a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental.
e) a poluição será sempre ilícita.

Comentários
O item D está correto nos termos do art. 3º da PNMA:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características
do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;

55
Daniela Adamek

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora.

6. CESPE/Procurador Municipal de Campo Grande - MS/2019


Considerando os aspectos constitucionais relacionados ao direito ambiental, a Lei n.º
6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei n.º
12.651/2012, que estabelece prescrições acerca do Código Florestal e as resoluções do
CONAMA, julgue o item a seguir.
São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente o licenciamento, o
zoneamento, a instituição de relatório de qualidade do meio ambiente e a concessão
florestal.

Comentários
O item está certo, conforme incisos II, IV, X e XIII do art. 9º da PNMA.

7. CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-RR/2017


O possuidor de um imóvel rural instituiu servidão ambiental perpétua, gratuitamente,
por instrumento particular, limitando o uso de parte da propriedade, com o objetivo
de conservar recursos ambientais existentes. Na situação apresentada, a servidão
instituída consiste em instrumento
a) técnico da PNAMA, mas deveria ter sido instituída pelo prazo determinado de, no
mínimo, quinze anos.
b) econômico da PNAMA e não se aplica à área de preservação permanente nem à
reserva legal mínima exigida.
c) técnico da PNAMA, mas deveria ter sido instituída pelo proprietário do imóvel.
d) econômico da PNAMA e não poderia ter sido instituída por instrumento particular.

Comentários
A alternativa A está incorreta. A servidão não é um instrumento técnico e pode ser
vitalícia.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do art. 9º, XIII, da
PNMA, a servidão ambiental é um instrumento econômico. Pode ser temporária (ao
menos 15 anos) ou vitalícia e não se aplica às áreas de preservação permanente e de
reserva legal.
A alternativa C está incorreta. Não é um instrumento técnico e pode ser instituída
sobre a posse.
A alternativa D está incorreta, pois a servidão pode ser instituída por instrumento
particular com registro em cartório de imóveis.

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Daniela Adamek

CAPÍTULO 5 — PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS

1. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

O poder de polícia ambiental trata de uma competência administrativa


(material), portanto, é comum entre os entes federativos. Nesse sentido, conforme
determinado pelo parágrafo único do art. 23 da CF/88, surgiu a Lei Complementar n.
140/2011, que regulamenta o exercício dessas competências pelos Municípios,
Estados, Distrito Federal e União.
Em regra, o poder de polícia tem caráter discricionário. Todavia, no âmbito
ambiental, a doutrina afirma que o poder de polícia tem natureza vinculada, visto
que o poder público tem o dever de preservar o meio ambiente.
Com efeito, o licenciamento ambiental é uma das expressões do exercício do
poder de polícia, porém o exercício dessa competência por um ente federativo não
impede que outro ente realize a fiscalização do empreendimento licenciado. Para
ilustrar essa situação, podemos citar um caso hipotético em que o licenciamento
ambiental fora concedido por órgão estadual. Nessa situação, poderá o IBAMA (órgão
federal) fiscalizar as atividades do empreendimento, sem que haja usurpação da
competência do ente estadual:

Lei Complementar nº 140/2011 – Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo


licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou
atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas
pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
[...]
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes
federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de
empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou
utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a
atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

2. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da PNMA e também uma


forma de manifestação do poder de polícia ambiental.

Art. 10 da Lei 6.938/81 (PNMA). A construção, instalação, ampliação e


funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental dependerão de PRÉVIO licenciamento
ambiental.

57
Daniela Adamek

2.1. Natureza jurídica do licenciamento

Nos termos da LC 140/2011, o licenciamento ambiental pode ser conceituado


da seguinte maneira:

Art. 2º, I, da LC 140: Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:


I - licenciamento ambiental: procedimento administrativo destinado a
licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental.

Trata-se, portanto, de um procedimento administrativo que, como tal, deve


cumprir um conjunto de formalidades e etapas definidas nas normas ambientais,
notadamente na Resolução nº 237/1997 do CONAMA. Ao fim do procedimento, a
Administração expedirá a licença ambiental, ato administrativo pelo qual se definem as
condições, as restrições e as medidas de controle ambiental a serem observadas pelo
interessado.

2.1.1. Competência (LC 140/11)

Existem dois principais critérios para definir a competência material para


promover o licenciamento:

a) Critério da extensão do dano/impacto ambiental

Segundo esse critério, a competência para a promoção do licenciamento será


municipal, nas hipóteses em que o impacto não ultrapasse as fronteiras municipais.
Caso ultrapasse, a competência será estadual, nos casos em que o impacto não se
estenda para além das fronteiras estaduais. Por fim, a competência será do IBAMA
quando o impacto for regional ou nacional.
Segundo a Resolução nº 001/1986 do CONAMA, impacto ambiental é:

Artigo 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental


qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.

b) Critério da dominialidade do bem público afetável

Além desses critérios, a LC 140/2011 também utiliza como critério residual o


critério da atuação supletiva: quando o órgão ambiental do ente federado de menor
58
Daniela Adamek

extensão territorial não puder licenciar, não tiver estrutura ou condições para
licenciar, o órgão de maior abrangência territorial promoverá o licenciamento:

Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:


[...]
II - atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente
federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas
nesta Lei Complementar;
III - atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no
desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando
solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições
definidas nesta Lei Complementar.
[...]

Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,


ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as
atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão
responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante,
respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental.
§ 2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é
autorizada pelo ente federativo licenciador.
§ 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços
afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a
complexidade do serviço prestado pelo ente federativo.

2.1.2. Licenças ambientais

No procedimento administrativo do licenciamento ambiental, caso o


empreendimento seja aprovado, será expedida uma licença ambiental (ato
administrativo). Nesse ato administrativo, o órgão competente irá estabelecer as
condições, as restrições, as medidas de controle ambiental que devem ser obedecidas
pelo empreendedor.
Diferentemente do Direito Administrativo, a licença ambiental é ato
discricionário e o ato é precário. O fundamento desse entendimento está na Res. 237
do CONAMA:

Resolução 237 do CONAMA, art. 19.:


O órgão ambiental poderá modificar os condicionantes e as medidas de
controle e adequação da licença ambiental, suspender ou cancelar uma
licença ambiental expedida, quando ocorrer:
I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.
II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a
expedição da licença.
III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde

Existem três espécies de licença ambiental, quais sejam:


59
Daniela Adamek

• Licença prévia (LP): aprova o projeto, atestando a sua viabilidade ambiental.


Estabelece os requisitos básicos para a próxima fase. Prazo de validade: até 5
anos.
• Licença de instalação (LI): autoriza a instalação do empreendimento. Prazo de
validade: até 6 anos.
• Licença de operação (LO): permite o início das atividades. Prazo de validade:
entre 4 e 10 anos.

Fique atento: a licença de operação pode ser renovada. A renovação deve ser
requerida com antecedência mínima de 120 dias do seu vencimento. Caso o órgão
licenciante não tenha se manifestado dentro do prazo de 120 dias, ficará
automaticamente renovada a licença de operação até que o órgão se manifeste.
Não confunda renovação da licença com concessão da licença. O decurso dos
prazos de licenciamento sem a emissão da licença ambiental não implica emissão
tácita.
O desenvolvimento de atividades poluidoras se sujeita ao licenciamento
ambiental (licença de operação).
O exercício de atividade sem que haja licença de operação implica crime
ambiental (art. 60 da Lei 9.605/98).
Destaque-se que se a atividade não traz impacto ambiental considerável, em
vez de se exigirem as 3 licenças, pode-se adotar o licenciamento unifásico.
Ainda, nos termos do art. 14 da Resolução 237 do CONAMA, o prazo máximo
para que o ente ambiental analise licença prévia, licença de instalação e licença de
operação é de até 6 meses. Esse prazo será majorado para 12 meses se forem exigidos
audiência pública ou estudo de impacto ambiental.
Se o Poder Executivo, por meio do órgão competente, entender que o projeto
não tem viabilidade ambiental, vedando determinado empreendimento pelo
poluidor, o Judiciário não poderá autorizar o licenciamento, por força do princípio da
separação dos poderes.
Somente poderá o Poder Judiciário analisar se houve observância da legalidade,
não podendo substituir a administração pública para autorizar procedimento não
autorizado por ela, haja vista se tratar de um ato discricionário.

2.1.3. Estudos ambientais (avaliação de impactos ambientais)

Segundo a Resolução nº 001/1986 do CONAMA, impacto ambiental é:

Artigo 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental


qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
60
Daniela Adamek

V - a qualidade dos recursos ambientais.

Assim, a avaliação de impactos ambientais é gênero do qual é espécie, por


exemplo, o Estudo de Impacto Ambiental (e consequente Relatório de Impacto
Ambiental – RIMA).
O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA) é a modalidade mais complexa.
Cabe ao poder público exigir, para as obras potencialmente causadoras de significativa
degradação do meio ambiente, o EPIA, ao qual se dará publicidade, nos termos que
define a CF/88.
O EPIA é um estudo ambiental, instrumento da PNMA, que materializa os
princípios da precaução e da prevenção.

a) Presunção de significativa degradação ambiental

Existem alguns casos em que a legislação presume a significativa degradação


ambiental, exigindo o EPIA, conforme lista exemplificativa do art. 2º da Resolução
1/86 do CONAMA:

Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e


respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à
aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o
licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II - Ferrovias;
III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso I, artigo 48, do Decreto-Lei nº
32, de 18.11.66;
V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;
VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:
barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de
irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação
de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,
diques;
VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
XI - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia
primária, acima de 10MW;
XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de
recursos hídricos);
XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

61
Daniela Adamek

XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100


hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e
estaduais competentes;
XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a
dez toneladas por dia.

b) Conteúdo mínimo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

O conteúdo mínimo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) está definido na


Resolução 1/86 do CONAMA:

Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as


seguintes atividades técnicas:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição
e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de
modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do
projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos
minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime
hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando
as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e
econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação
permanente;
c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a
sócio-economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos
e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade
local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através
de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e
negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e
longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas
propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios
sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a
eficiência de cada uma delas.
IV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos
impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem
considerados.

62
Daniela Adamek

c) Diretrizes do EIA

São diretrizes que devem ser observadas para o EIA, nos termos da Resolução
1/86:

Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em


especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:
I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto,
confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas
fases de implantação e operação da atividade;
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada
pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em
todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;
IV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em
implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.

d) Elaboração do EIA

O Estudo de Impacto Ambiental será realizado por equipe multidisciplinar


habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto e que
será responsável tecnicamente pelos resultados apresentados.
Essa equipe será custeada pelo empreendedor, que também deverá custear
todas as despesas do projeto e todos os custos referentes à realização do estudo de
impacto ambiental.
O órgão ambiental não está sujeito às decisões da equipe multidisciplinar,
podendo decidir de forma diversa, desde que justificadamente.

e) Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)

Após a elaboração do EIA, será elaborado o Relatório de Impacto Ambiental


(RIMA). Nesse relatório, devem constar as conclusões do estudo de impacto
ambiental, devendo este apresentar linguagem objetiva, adequada à compreensão da
população, permitindo o acesso à informação.
Além disso, o RIMA deve ser de acessibilidade pública, ressalvado o sigilo
industrial.
A Resolução 1/86 do CONAMA também elenca os elementos obrigatórios que
devem constar do RIMA:

Artigo 9º. O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do


estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:
I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as
políticas setoriais, planos e programas governamentais;
II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área
63
Daniela Adamek

de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os


processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de
energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de
influência do projeto;
IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação
da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de
tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios
adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas,
bem como com a hipótese de sua não realização;
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser
evitados, e o grau de alteração esperado;
VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada
a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem
acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de
comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e
desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de
sua implementação.

Com relação ao RIMA, o STF já se posicionou no sentido de que viola o princípio


da separação dos poderes a Constituição Estadual que determina que o RIMA seja
submetido à aprovação do Poder Legislativo estadual.

f) Audiência pública (princípio da participação comunitária)

Se o órgão licenciador entender necessário, poderá realizar, no bojo dos


estudos de impactos ambientais, audiências públicas. Trata-se, porém, de uma
faculdade do órgão licenciador.
A audiência pública torna-se obrigatória no caso de EIA, quando há:
• Solicitação de sua realização por entidade civil,
• Solicitação de sua realização pelo MP,
• Solicitação de sua realização por no mínimo 50 cidadãos.
Aquilo que for colhido na audiência pública não vincula o órgão licenciador,
mas deve ser por ele levado em consideração.

64
Daniela Adamek

3. JURISPRUDÊNCIA

Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê licença ambiental única, sem estudo
prévio de impacto ambiental.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INC. IV E § 7º DO ART. 12 DA LEI
COMPLEMENTAR N. 5/1994 DO AMAPÁ, ALTERADA PELA LEI COMPLEMENTAR
ESTADUAL N. 70/2012. LICENÇA AMBIENTAL ÚNICA. DISPENSA DE OBTENÇÃO DAS
LICENÇAS PRÉVIAS, DE INSTALAÇÃO E DE OPERAÇÃO, ESTABELECIDAS PELO CONAMA
(INC. I DO ART. 8º DA LEI N. 6.938/1981). OFENSA À COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA
EDITAR NORMAS GERAIS SOBRE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE. DESOBEDIÊNCIA AO
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO E DO DEVER DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO (ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA). AÇÃO
JULGADA PROCEDENTE PARA DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE DO INC. IV E DO
§ 7º DO ART. 12 DA LEI COMPLEMENTAR N. 5/1994 DO AMAPÁ, ALTERADA PELA LEI
COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 70/2012. (ADI 5.475/AP, Tribunal Pleno, DJe de
3/6/2020)

4. EXERCÍCIOS

1. CESPE/Analista Ministerial – Engenharia Civil/MPE-CE/2020


Durante o procedimento de licenciamento ambiental de uma atividade ou
empreendimento, é obrigatória a realização de audiência pública, de acordo com a
regulamentação pertinente.

Comentários
Nos termos do art. 10, V, da Resolução CONAMA 237/1997:

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes


etapas:
[...]
V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação
pertinente;
Portanto, o item está errado.

2. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020


A audiência pública no processo de licenciamento ambiental
a) é obrigatória, independentemente do grau de impacto do empreendimento ou da
atividade licenciada.
b) deve ser realizada no início do processo de licenciamento ambiental para colheita
de críticas e sugestões e, ao final do processo, para a respectiva devolutiva.

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Daniela Adamek

c) será realizada na sede do órgão ambiental responsável pelo licenciamento


ambiental.
d) não obriga o órgão responsável pelo licenciamento ambiental a acolher as
contribuições dela decorrentes, desde que apresente justificativa.
e) ocorre em momento anterior à elaboração do EIA-RIMA.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a realização de audiência pública não é obrigatória.
Depende de decisão do órgão licenciador ou, nos termos da Resolução CONAMA
9/1987, art. 2º, de solicitação de entidade civil, Ministério Público ou 50 (cinquenta) ou
mais cidadãos.
A alternativa B está incorreta, pois a audiência pública é realizada após o recebimento
do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), conforme art. 2º, § 1º da Resolução
CONAMA 9/1987.
A alternativa C está incorreta, na medida em que, nos termos do § 4º do art. 2º da
Resolução CONAMA 9/1987, ela deverá ocorrer “em local acessível aos interessados”.
A alternativa D, por sua vez, está correta e é o gabarito da questão.
Por fim, a alternativa E está incorreta, conforme art. 2º, § 1º da Resolução CONAMA
9/1987.

3. CESPE/Prefeitura de Campo Grande - MS/Procurador Municipal/2019


Considerando os aspectos constitucionais relacionados ao direito ambiental, a Lei n.º
6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei n.º
12.651/2012, que estabelece prescrições acerca do Código Florestal e as resoluções do
CONAMA, julgue o item a seguir.
O estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental são documentos
ambientais obrigatórios para a realização do procedimento administrativo de
licenciamento ambiental.

Comentários
O item está errado. A Constituição Federal bem como a Resolução CONAMA 237/97
determinam que a realização de prévio estudo de impacto ambiental e seu respectivo
relatório será obrigatória para licenciamento ambiental de empreendimentos e
atividades considerados efetiva ou potencialmente causadores de significativa
degradação ambiental, apenas nesses casos. Nos demais casos, a decisão será do
órgão licenciador.

4. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020


O Ministério Público ajuizou uma ação civil pública visando à declaração de nulidade
de licenciamento ambiental conduzido por estudo ambiental diverso do Estudo de
Impacto Ambiental e Respectivo Relatório (EIA-RIMA). O Magistrado deverá
a) julgar, de forma antecipada, a ação procedente, uma vez que o EIA-RIMA é
obrigatório no licenciamento ambiental.

66
Daniela Adamek

b) julgar, de forma antecipada, a ação improcedente, diante da presunção de


legalidade do ato administrativo.
c) determinar a produção de prova pericial para aferir a necessidade de elaboração do
EIA-RIMA no licenciamento ambiental.
d) determinar a produção de prova testemunhal para aferir a necessidade de
elaboração do EIA-RIMA.
e) extinguir o processo, sem resolução de mérito, por verificar a ausência de interesse
processual.

Comentários
Somente quando o empreendimento ou a atividade forem potencialmente causadores
de significativa degradação ambiental será imprescindível a realização de estudo
prévio de impacto ambiental, sob pena de nulidade da licença ambiental, nos termos
do art. 225, inciso IV, da Constituição Federal.
Para tanto, a necessidade de elaboração do EIA-RIMA no licenciamento ambiental será
aferida por intermédio da prova pericial.
A resposta, portanto, está no item C.

5. VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRO/2019


A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de
prévio licenciamento ambiental. Acerca do tema, pode-se afirmar que
a) as atividades que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local são
licenciadas pelo IBAMA.
b) compete ao Município licenciar atividades localizadas em Áreas de Proteção
Ambiental (APAS) instituídas pelo Município.
c) o decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, implica
sua emissão tácita e autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra.
d) a União é competente para promover o licenciamento ambiental de
empreendimentos e atividades localizados em terras indígenas.
e) a licença de localização caracteriza a fase preliminar do processo de licenciamento,
da qual se segue a licença de operação.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois as atividades que causam impacto local devem ser
licenciadas pelo órgão ambiental do Município. (art. 9º, XIV, a, da LC 140/2011).
A alternativa B está incorreta, pois, em que pese a LC 140/2011 prever a regra do ente
instituidor da unidade de conservação para licenciamento de atividades dentro desses
locais, a norma estabelece justamente como exceção as APAs (art. 9º, XIV, b, da LC
140/2011).
A alternativa C está incorreta, porquanto não há emissão tácita de licenciamento
ambiental, conforme art. 14, § 3º, da LC 140/2011:

67
Daniela Adamek

§ 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença


ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela
dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art. 15.

A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 7º, XIV, c, da LC


140/2011.
A alternativa E está incorreta. Conforme estabelece a Resolução CONAMA 237/1997,
as licenças expedidas pelo Poder Público são licença prévia (LP), licença de instalação
(LI) e licença de operação (LO).

6. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJSC/2017


Os apontamentos levantados em audiência pública
a) não vinculam o órgão licenciador, que tem o dever, por outro lado, de justificar
tecnicamente o não acolhimento das sugestões.
b) vinculam o órgão licenciador, que tem o dever, portanto, de acolher as sugestões.
c) são votados e vinculam o órgão licenciador os que obtiverem maioria simples.
d) são votados e vinculam o órgão licenciador os que obtiverem maioria absoluta.
e) são votados e vinculam o órgão licenciador os que obtiverem quórum de 2/3.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. Embora haja a obrigatoriedade
de realização de audiências públicas em determinadas hipóteses de licenciamento
ambiental (art. 2º da Res. CONAMA nº 9/1987 - Art. 2º - Sempre que julgar necessário,
ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50
(cinquenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização de
audiência pública.), ela não tem caráter vinculante, mas apenas persuasivo, sobre a
decisão do órgão ambiental.

68
Daniela Adamek

CAPÍTULO 6 — ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS

1. INTRODUÇÃO

O fundamento dos espaços territoriais especialmente protegidos (ETEP), que


será objeto do presente capítulo, encontra-se na Constituição Federal, notadamente
no art. 225, §1º, III. Anote-se:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

Com efeito, a instituição de ETEP pode se dar por meio de lei ou ato infralegal
(ex.: decreto). No entanto, a alteração ou supressão de ETEP só pode ocorrer por meio
de lei, conforme determina a Constituição Federal.
Trata-se de um procedimento formulado a fim de facilitar a criação desses
espaços, importantes na proteção e preservação do meio ambiente, e capaz, ao
mesmo tempo, de dificultar a sua alteração ou supressão.

1.1. Espaços ambientais especialmente protegidos

O Novo Código Florestal, Lei nº 12.651/2012, cria os seguintes ETEPs:


• Áreas de preservação permanente
• Apicuns e salgados
• Reserva legal
• Unidades de conservação
• Áreas verdes urbanas
• Áreas de uso restrito

Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012)


A norma estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, nas áreas de
preservação permanente e de reserva legal. Dispõe, outrossim, sobre a exploração
florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e a prevenção de
incêndios florestais, e a previsão de instrumentos financeiros para o alcance dos
objetivos do Código Florestal.

69
Daniela Adamek

1.2. Princípios que informam o Novo Código Florestal (1º-A)

O Código Florestal delimitou, em seus arts. 1º-A e 2º alguns princípios que


deverão ser obrigatoriamente observados:

Art. 1º-A [...]


Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei
atenderá aos seguintes princípios:
I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas
florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade,
do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o
bem estar das gerações presentes e futuras;
II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa na
sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida
da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e
internacional de alimentos e bioenergia;
III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,
consagrando o compromisso do País com a compatibilização e harmonização
entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da
vegetação;
IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a
preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e
sociais nas áreas urbanas e rurais;
V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o
uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das florestas
e demais formas de vegetação nativa;
VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a
preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o
desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.

Art. 2º As florestas existentes no território nacional e as demais formas de


vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens
de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de
propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta
Lei estabelecem.

1.3. Regimes jurídicos

O Código Florestal adota dois regimes jurídicos:


• Regime de tolerância de condutas lesivas ao meio ambiente e que ocorreram
até 22/07/2008.
• Regime de condutas lesivas após 22/07/2008.
Isso porque no dia 23/07/2008, foi publicado o Decreto 6.514, marco temporal
no que tange à imposição de infrações e sanções administrativas em relação ao meio
ambiente.
70
Daniela Adamek

1.4. Obrigações de natureza real

As obrigações previstas no Código Florestal têm natureza real e propter rem


(transmitidas ao sucessor da propriedade).

1.5. Cadastro Ambiental Rural

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) se trata de inovação do Código Florestal.


Cuida-se de um registro público eletrônico, de âmbito nacional, obrigatório para todos
os imóveis rurais e que tem por finalidade integrar as informações ambientais das
propriedades rurais brasileiras.
Com os dados oferecidos pelos proprietários rurais, no âmbito do CAR, é
possível:
a) realizar o controle das propriedades rurais;
b) desenvolver planejamento ambiental e econômico;
c) combater o desmatamento.
O CAR deve ser feito preferencialmente por órgão ambiental municipal ou
estadual, pois os órgãos locais ou regionais têm maior possibilidade de controle e
conhecimento das áreas da região.
Uma forma de obrigar e coagir, legalmente, o proprietário a promover o
registro de sua propriedade rural definida pelo Código Florestal pode ser verificada no
bojo do art. 78-A:
Art. 78-A. Após 31 de dezembro de 2017, as instituições financeiras só
concederão crédito agrícola, em qualquer de suas modalidades, para
proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR.

1.6. Programas de Regularização Ambiental

O Código Florestal previu a instituição pelas entidades públicas, com exceção


dos municípios, dos chamados Programas de Regularização Ambiental ( PRA) de
posses e propriedades rurais:

Art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão implantar Programas


de Regularização Ambiental (PRAs) de posses e propriedades rurais, com o
objetivo de adequá-las aos termos deste Capítulo.
§ 1º Na regulamentação dos PRAs, a União estabelecerá normas de caráter
geral, e os Estados e o Distrito Federal ficarão incumbidos do seu
detalhamento por meio da edição de normas de caráter específico, em razão
de suas peculiaridades territoriais, climáticas, históricas, culturais, econômicas
e sociais, conforme preceitua o art. 24 da Constituição Federal.
§ 2º A inscrição do imóvel rural no CAR é condição obrigatória para a adesão
ao PRA, que deve ser requerida em até 2 (dois) anos, observado o disposto no
§ 4º do art. 29 desta Lei.

71
Daniela Adamek

§ 3º Com base no requerimento de adesão ao PRA, o órgão competente


integrante do Sisnama convocará o proprietário ou possuidor para assinar o
termo de compromisso, que constituirá título executivo extrajudicial.
§ 4º No período entre a publicação desta Lei e a implantação do PRA em cada
Estado e no Distrito Federal, bem como após a adesão do interessado ao PRA e
enquanto estiver sendo cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou
possuidor não poderá ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de
julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de
Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.
§ 5º A partir da assinatura do termo de compromisso, serão suspensas as
sanções decorrentes das infrações mencionadas no § 4º deste artigo e,
cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no termo de compromisso
para a regularização ambiental das exigências desta Lei, nos prazos e condições
neles estabelecidos, as multas referidas neste artigo serão consideradas como
convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade
do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais consolidadas conforme
definido no PRA.
§ 6º (VETADO)
§ 7º Caso os Estados e o Distrito Federal não implantem o PRA até 31 de
dezembro de 2020, o proprietário ou possuidor de imóvel rural poderá aderir
ao PRA implantado pela União, observado o disposto no § 2º deste artigo.

Verifica-se, portanto, que o programa é concretizado por meio de um termo de


compromisso (TC) e, a partir de sua assinatura, suspende-se as sanções decorrentes
das infrações mencionadas no §4º. Tem-se, pois, que o programa repercute nas
esferas administrativa, penal e civil (§5º).
Cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no TC para a regularização
ambiental das exigências desta Lei, nos prazos e condições neles estabelecidos, as
multas serão consideradas como convertidas em serviços de preservação, melhoria e
recuperação da qualidade do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais
consolidadas conforme definido no PRA.

Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para regularização de imóvel


ou posse rural perante o órgão ambiental competente, mencionado no art. 59,
suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei nº
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo estiver sendo cumprido.
§ 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da
pretensão punitiva.
§ 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista nesta Lei.

2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)

2.1. Definição legal

Áreas de preservação permanente visam à garantia de bens ambientais


essenciais, como os recursos hídricos, o solo e a biodiversidade. A propósito, veja a
conceituação trazida pelo Código Florestal:
72
Daniela Adamek

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não
por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas;

2.2. Rol exemplificativo de áreas de proteção permanente

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos)
a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura
mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20
(vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta)
metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de
barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na
licença ambiental do empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer
que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45º, equivalente a
100% (cem por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 (cem) metros e inclinação média maior que 25º, as áreas delimitadas a
partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da
elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal
determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos
ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

73
Daniela Adamek

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer


que seja a vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima
de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e
encharcado.
§ 1º Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de
reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou
represamento de cursos d’água naturais.

Mata ciliar são as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e
intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em
largura mínima de:
a) 30m, para os cursos d’água de menos de 10 m de largura;
b) 50m, para os cursos d’água que tenham de 10 a 50m de largura;
c) 100 m, para os cursos d’água que tenham de 50 a 200 m de largura;
d) 200 m, para os cursos d’água que tenham de 200 a 600 m de largura;
e) 500 m, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 m;

A mata ciliar tem por objetivos: evitar o assoreamento (acúmulo de sedimentos


pelo depósito de terra, areia, detritos etc.) dos cursos d’águas e resguardar a
segurança das pessoas contra enchentes. A distância delimitada pelo Código Florestal
permite a absorção da água pela terra.
Ressalte-se que a lei não exige matas ciliares para cursos d’água efêmeros.
Com efeito, rio efêmero é um curso d’água que possui escoamento artificial e
apenas durante, ou imediatamente após, períodos de precipitação.
Nos termos do entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça, a
proteção legal das APPs não se resume às margens de rios, referindo-se também aos
cursos d’água, o que abrange riachos, lagos, córregos, brejos.
No que tange às APPs nos entornos de lagos e lagoas naturais, tem-se que a
largura mínima da faixa tida como de preservação permanente:
a) 100 metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 metros;
b) 30 metros, em zonas urbanas;
Nas áreas de entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de
barramento ou represamento de cursos d’água naturais, a APP deverá estar
localizada na faixa definida na licença ambiental do empreendimento. Por fim, nos
entornos das nascentes e dos olhos d’água perenes, a APP deverá ter raio mínimo de
50 metros;

Art. 4º [...]
§ 4º Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1
(um) hectare, fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos
incisos II e III do caput, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa,
salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do
Meio Ambiente - Sisnama.

74
Daniela Adamek

Ressalte-se que nascentes são afloramentos naturais do lençol freático,


apresentando perenidade e que dão início aos cursos d’água.
Por sua vez, olho d’água é o afloramento natural do lençol freático, mas pode
ser intermitente e não necessariamente dá início ao curso d’água.
Merece destaque que o STF decidiu por dar interpretação conforme à
Constituição, nas ADIs que tratam da constitucionalidade de dispositivos do Código
Florestal, para fixar a interpretação de que os entornos e nascentes e olhos d’água
intermitentes também são consideradas áreas de preservação permanente.
Com efeito, em encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, as
APPs serão equivalentes a 100% na linha de maior declive.
Por sua vez, consideram-se APPs as restingas, como fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangues. São áreas paralelas à linha costeira, produzidas por
processo de sedimentação e constituem depósitos arenosos.
São também consideradas APPs os manguezais, em toda a sua extensão, que
são ecossistemas litorâneos que ocorrem em terrenos baixos, sujeito às ações das
marés. Formado por “vazas lodosas”, cuja vegetação é denominada de mangues.
Bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais, nos termos do Código
Florestal, também são áreas de preservação permanente. São paisagens de topografia
planava, cuja declividade, se existir, é inferior a 10%. No entanto, essa superfície plana
termina de forma abrupta em escarpa. Desse modo, as bordas dos tabuleiros ou
chapadas, até a linha da ruptura, numa faixa nunca inferior a 100 metros, são
consideradas APPs.
Ainda, são APPs, os topos de morros, montes, montanhas e serras, com altura
mínima de 100 metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a
partir da curva de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação sempre
em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície
ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela
mais próximo da elevação. Trata-se de uma forma de atenuar a erosão do solo, que
também servirá como corredor ecológico dos ecossistemas elevados. Essa proteção
também facilita a dispersão de sementes e recarrega os aquíferos, pois a água deságua
sem provocar erosão.
Áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação,
também são consideradas de preservação permanente pelo Código Florestal e, por
fim, nas veredas, espécie de formação vegetal típica do Cerrado, a faixa marginal, em
projeção horizontal, com largura mínima de 50 metros, a partir do espaço
permanentemente brejoso e encharcado;
Destaca-se o §1º do art. 4º, cujo teor desobriga entornos de reservatórios
artificiais de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos
d’água naturais (represas) de constituição de APPs.

75
Daniela Adamek

2.3. APP declaradas de interesse social

É possível que o poder público institua outras APPs (as áreas elencadas no art.
4º têm caráter meramente exemplificativo). É o que dispõe o art. 6º do Código:

Art. 6º Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas


de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com
florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das
seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de
terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou
histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades
militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.

Nesses casos, exige-se a edição de decreto assinado pelo Chefe do Poder


Executivo (Prefeito, Governador ou Presidente da República). A extinção, todavia,
exige a edição de lei específica.

2.4. Regime especial de proteção e exploração excepcional

Em regra, não é possível a supressão de vegetação em APP. Contudo,


excepcionalmente, o Código Florestal autoriza a supressão de vegetação, em área de
preservação permanente, nas hipóteses de utilidade pública, interesse social e baixo
impacto ambiental.

2.4.1. Utilidade pública

São hipóteses de utilidade pública:

Art. 3º [...]
VIII - utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos
de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos
de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos,
energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização
de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como
mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e
cascalho;
76
Daniela Adamek

c) atividades e obras de defesa civil;


d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das
funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder
Executivo federal;

O STF entendeu, no bojo da ADC nº 2 e da ADI nº 4.903, pela


inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “competições esportivas
estaduais, nacionais ou internacionais”. Entendeu a Corte que não se pode aceitar que
um Estado,

ao qual é imposta constitucionalmente a defesa e preservação do meio


ambiente, conceba a gestão de resíduos (construção de aterros sanitários) e o
lazer como hipóteses de intervenção e supressão de vegetação em áreas de
preservação permanente e em áreas de uso restrito.

Não se mostra compatível com o art. 225 da CF/88 a autorização da


relativização da proteção da vegetação nativa protetora de nascentes, por exemplo,
para a “gestão de resíduos” ou para a realização de competições esportivas.

2.4.2. Interesse social

São hipóteses de interesse social, para fins de supressão de APP, nos termos do
Código Florestal:

Art. 3º [...]
IX - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação
nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão,
erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade
ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que
não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função
ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e
atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais
consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas
consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977, de 7 de
julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de
efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes
e essenciais da atividade;

77
Daniela Adamek

f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,


outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo
federal;

O STF também consolidou entendimento no sentido de conferir interpretação


conforme a Constituição aos incisos VIII e IX, do art. 3º, que cuidam das hipóteses de
utilidade pública e interesse social para fins de supressão de vegetação nativa.
Entendeu a Corte que os dispositivos devem ser interpretados de modo a se
condicionar a intervenção excepcional na APP, por interesse social ou utilidade
pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta.

2.4.3. Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental

São hipóteses de atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:

Art. 3º [...]
X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões,
quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e
animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das
atividades de manejo agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e
efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da
água, quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de
comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em
áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos
moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros
requisitos previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção
de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação
específica de acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e
outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação
existente nem prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e
familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde
que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem
prejudiquem a função ambiental da área;

78
Daniela Adamek

k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de


baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

Ressalte-se que o Código Florestal dispensou a autorização do órgão ambiental


competente para execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança
nacional e obras de interesse da defesa civil, destinadas à prevenção ou mitigação de
acidentes em áreas urbanas.
Isto é, via de regra, para explorar APP, ainda que se trate de interesse público,
social ou baixo impacto ambiental, será necessária autorização do órgão competente.

2.5. Áreas consolidadas em APPs

Nos termos do próprio Código Florestal, área rural consolidada é “área de


imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com
edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a
adoção de regime de pousio” (art. 3º, IV).

Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada,


exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de
ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de
2008.

Desse modo, as áreas rurais consolidadas serão monitoradas pelo CAR (


Cadastro Ambiental Rural) e nelas devem ser adotadas medidas de mitigação dos
impactos ambientais, com o objetivo de conservação do solo e das águas, pelo
proprietário ou possuidor do imóvel rural.
O Código Florestal veda, nesses locais, a conversão de novas áreas para uso
alternativo do solo, ou seja, vedam-se novos desmatamentos.
No caso de uma intervenção consolidada em mata ciliar, na hipótese de
residência e de infraestrutura relacionada às atividades agrossilvipastoris, será
admitida a manutenção, independentemente da recomposição da área desflorestada
(desmatada), desde que não haja agravamento dos processos erosivos e de
inundações, e que não haja risco para as pessoas.

2.6. Formas de recomposição

Formas de recomposição parcial das áreas desmatadas devem ser adotadas


pelo proprietário ou possuidor do imóvel rural que tenha sua situação consolidada até
dia 22 de julho de 2008. No entanto, a tolerância não isenta o proprietário ou
possuidor de adotar medidas para recompor os danos ambientais causados.
Em matas ciliares, se houver áreas consolidadas, sem riscos de erosão ou de
danos às pessoas, é possível que não haja essa recomposição, nos termos do § 12 do
art. 61-A.

79
Daniela Adamek

Nas demais áreas de matas ciliares, exige-se a recomposição. Os possuidores ou


proprietários rurais deverão recompor as faixas marginais, desde a borda do leito
regular, variando a dimensão dessa recomposição de acordo com o tamanho do
imóvel:

Art. 61-A. [...]


§ 1º Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam
áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos
d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas
marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do leito regular,
independentemente da largura do curso d´água.
§ 2º Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até
2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de
Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a
recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados
da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso
d´água.
§ 3º Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de
até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de
Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a
recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros,
contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do
curso d’água.
§ 4º Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que
possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo
de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas
faixas marginais:
I - (VETADO);
II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de
20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do
leito regular.
§ 5º Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação
Permanente no entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a
manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo
rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze)
metros.
§ 6º Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de
Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida
a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo
rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal com largura mínima
de:
I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal;
II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo
fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais;
III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois)
módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais; e
IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro)
módulos fiscais.
80
Daniela Adamek

§ 7º Nos casos de áreas rurais consolidadas em veredas, será obrigatória a


recomposição das faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a
partir do espaço brejoso e encharcado, de largura mínima de:
I - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área de até 4 (quatro) módulos
fiscais; e
II - 50 (cinquenta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro)
módulos fiscais.

Em todos os casos, a recomposição consistirá na adoção de métodos, que


poderão ser adotados isolada ou cumulativamente:
• Condução de regeneração natural de espécies nativas;
• Plantio de espécies nativas;
• Plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regeneração
natural de espécies nativas;
• Plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas
com nativas de ocorrência regional, em até 50% da área total a ser recomposta,
no caso dos imóveis de pequenas propriedades rurais ou pequenas posses
rurais.

Nos casos de regularização fundiária, sejam eles de interesse específico ou de


interesse social, havendo hipótese de regularização fundiária em área urbana
consolidada e que ocupa APP não identificada como área de risco, a regularização
ambiental será admitida por meio de um simples projeto de regularização fundiária.

2.7. Desapropriação em APP e indenização

Em caso de desapropriação de imóvel, por utilidade pública ou por interesse


social, há discussão se a APP deve ser contabilizada para fins de indenização. Nesses
casos, o STF entende que a área de APP deverá ser computada e o sujeito deve ser
indenizado por sua perda:

A área de cobertura vegetal sujeita à limitação legal e, consequentemente à


vedação de atividade extrativista não elimina o valor econômico das matas
protegidas. Agravo regimental a que se nega provimento. (AI 677647 AgR /
AP - 2008 – Min. Eros Grau)

3. RESERVA LEGAL

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


[...]
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar
a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a
conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa;
81
Daniela Adamek

Anote-se, que a reserva legal é parte de imóvel rural que está sendo protegida.
Com efeito, mesmo que posteriormente a propriedade venha a ocupar perímetro
urbano, o proprietário continuará obrigado a manter a área de reserva legal:

Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei
municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de
Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do
parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação
específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do art.
182 da Constituição Federal.

O sujeito só ficará desobrigado da área de reserva legal quando houver registro


do parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica
e consoante as diretrizes do plano diretor.
Por ser genérica e decorrer diretamente da lei, a reserva legal consiste em uma
limitação ao direito de propriedade, não sendo cabível indenização ao particular.

3.1. Percentuais mínimos das áreas de reserva legal

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação
nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68
desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Art. 68. Os proprietários de imóveis rurais que realizaram supressão de


vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela
legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são dispensados de
promover a recomposição para os percentuais exigidos nesta Lei.

Verifica-se, portanto, que a regra de manutenção de área de reserva legal das


propriedades rurais está relacionada à localização do imóvel: dentro ou fora da
Amazônia Legal. Nesse sentido, convém salientar que a Amazônia Legal se trata de
uma área legalmente instituída que engloba nove Estados brasileiros. Atenção: a
Amazônia Legal não necessariamente corresponde à área da Floresta Amazônica!
A legislação informa que compõem a Amazônia Legal os seguintes entes
federativos: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Mato Grosso e as
regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao
oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão.

82
Daniela Adamek

3.2. Cota de Reserva Ambiental

A Cota de Reserva Ambiental (CRA), instituto que consagra o princípio do


protetor-recebedor, trata-se de um título nominativo que representa área com
vegetação nativa, existente ou em recuperação. Desse modo, o proprietário ou
possuidor do imóvel com reserva legal conservada e inscrita no Cadastro Ambiental
Rural (CAR), cuja área ultrapasse o mínimo estabelecido no Código Florestal, poderá se
valer do excedente para instituir servidão ambiental e para instituir a cota de reserva
ambiental.
Assim, a titularidade da CRA poderá ser adquirida mediante transmissão
gratuita ou onerosa e seu titular poderá utilizá-la para compensar a reserva legal de
imóvel situado no mesmo bioma da área ao qual o título está vinculado, desde que
haja identidade ecológica. Esse foi o entendimento do STF na ADI ajuizada em face de
dispositivos do Código Florestal.
Cada título representativo de CRA corresponde a 1 hectare.

3.3. Definição da localização da reserva legal

A localização da reserva legal dentro de uma propriedade rural será definida


casuisticamente pelo órgão estadual ambiental, integrante do SISNAMA, ou por
instituição por ele habilitada, após sua inclusão no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A
propósito:

Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em
consideração os seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico;
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área
de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área
legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
§ 1º O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada
deverá aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no
CAR, conforme o art. 29 desta Lei.
§ 2º Protocolada a documentação exigida para a análise da localização da área
de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada
sanção administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão
ambiental competente integrante do Sisnama, em razão da não formalização
da área de Reserva Legal.

O Código Florestal permite, ainda, que as APPs existentes na propriedade rural


sejam levadas em consideração quando do cálculo da área a ser legalmente protegida
a título de reserva legal, desde que cumpridos certos requisitos:

83
Daniela Adamek

Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no


cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas
para o uso alternativo do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação,
conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do
Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei.

Assim, se 5% do imóvel seja área de preservação permanente, o proprietário


deverá preservar mais 15%, para alcançar os 20% exigidos para as áreas que se
localizam fora da Amazônia Legal.
Vale ressaltar, ainda, que o Código Florestal exonera determinados
empreendimentos da manutenção de área destinada à reserva legal.

Art. 12. [...]


§ 6º Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de
esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
§ 7º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para
exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem
empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam
instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.
§ 8º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou
desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de
rodovias e ferrovias.

A legislação também obriga que os proprietários registrem a área de reserva


legal no CAR, exonerando-os, nesses casos, da promovê-lo no registro de imóveis. No
que tange às pequenas propriedades ou posses rurais, a inscrição da reserva legal é
obrigatória, porém gratuita.
Na área de reserva legal será proibido o corte raso da vegetação, todavia é
possível o manejo sustentável:

Art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação
nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer
título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
§ 1º Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo
sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de
acordo com as modalidades previstas no art. 20.
§ 2º Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse
rural familiar, os órgãos integrantes do Sisnama deverão estabelecer
procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação de tais planos
de manejo.
§ 3º É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área de Reserva
Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.

84
Daniela Adamek

§ 4º Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá


ser iniciado, nas áreas de que trata o § 3º deste artigo, o processo de
recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data
da publicação desta Lei, devendo tal processo ser concluído nos prazos
estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental - PRA, de que trata o
art. 59.

Para a pequena propriedade ou posse rural familiar admite-se o manejo


sustentável da reserva legal para a exploração de atividades de caráter eventual, sem
propósito comercial, direto ou indireto, e voltadas ao consumo próprio,
independentemente de autorização de órgão competente.
Importante destacar que a legislação tributária, notadamente a Lei nº
9.393/1996, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural
(ITR)excluiu as APPs e áreas de reserva legal da área tributável pelo ITR.
Por fim, o Código Florestal dispõe que os proprietários e os possuidores rurais
que detinham até 22 de julho de 2008 área de reserva legal em extensão inferior ao
disposto naquela norma poderão regularizar a sua situação, independentemente do
Programa de Regularização Ambiental.
Nesse caso, para recomposição e adequação, poderão adotar as seguintes
alternativas, cumulativamente ou alternativamente:
• Recomposição da Reserva Legal, que deverá ser concluída em até 20 anos. A
cada 2 anos, pelo menos 10% dessa recomposição deve ter sido concluída.
• Regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal. Caso a perícia
conclua que, diante da paralisação da exploração a vegetação naturalmente se
regenerará, então bastará essa obrigação de não fazer.
• Compensação da Reserva Legal, que pode ser efetuada através da aquisição
de cota da reserva ambiental, arrendamento de área sobre servidão ambiental
ou de reserva legal etc.
No caso das propriedades rurais, com no máximo 4 módulos ficais, que até
22/07/08 possuíam um remanescente de vegetação nativa, não há obrigatoriedade
de recomposição. Todavia, ficará vedada nova conversão para uso alternativo do solo.

3.4. Apicuns e salgados

Apicuns são áreas de solo hipersalinos, situadas em regiões de marés


superiores, que são inundadas pelas marés e apresentam uma salinidade superior a
150 partes por 1.000. Há aqui uma espécie de brejo de água salgada próximo ao mar.
Salgados, por sua vez, são áreas situadas em regiões que sofrem inundações
intermediárias entre as marés. Nesses locais, o solo terá uma salinidade variável entre
100 a 150 partes por 1.000.
Tanto apicuns quanto salgados podem ser utilizados para atividades de
carcinicultura e salinas. Carcinicultura se trata de técnica de criação de camarões em
cativeiros. Já salinas são áreas de produção de sal marinho pela evaporação da água
do mar ou de lagos de água salgada.

85
Daniela Adamek

Permite-se a utilização de apicuns e salgados para carcinicultura e salinas,


desde que observados os seguintes requisitos:

Art. 11-A. [...]


§ 1º Os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de
carcinicultura e salinas, desde que observados os seguintes requisitos:
I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento)
dessa modalidade de fitofisionomia no bioma amazônico e a 35% (trinta e
cinco por cento) no restante do País, excluídas as ocupações consolidadas que
atendam ao disposto no § 6º deste artigo;
II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos
processos ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua
produtividade biológica e condição de berçário de recursos pesqueiros;
III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental
estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou
outros bens da União, realizada regularização prévia da titulação perante a
União;
IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e
resíduos;
V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as
Áreas de Preservação Permanente; e
VI - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades
locais.

3.5. Áreas de uso restrito

As áreas de uso restrito são uma das inovações do Código Florestal. Elas têm
como objetivo proteger o desenvolvimento do Pantanal e das planícies pantaneiras
do Brasil.
Lembre-se que o Pantanal, que se estende pelos territórios do Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, é considerado patrimônio nacional pela CF/88.
Assim, o Código Florestal permitiu, nos pantanais e nas planícies pantaneiras, a
exploração desde que ecologicamente sustentável:

Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a exploração


ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as recomendações
técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de
vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do
órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações mencionadas
neste artigo.

Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25 º e 45 º, serão permitidos o manejo


florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a
manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das
atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão

86
Daniela Adamek

de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse


social.

3.6. Áreas verdes urbanas

Nos termos da legislação florestal, são consideradas áreas verdes urbanas:

Art. 3º [...]
XX - área verde urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio de
vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no
Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município,
indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de
recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos
recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e
manifestações culturais;

A gestão das áreas verdes urbanas fica a cargo dos Municípios, que, de acordo
com o Código Florestal, contarão com instrumentos para o seu estabelecimento:

Art. 25. O poder público municipal contará, para o estabelecimento de áreas


verdes urbanas, com os seguintes instrumentos:
I - o exercício do direito de preempção para aquisição de remanescentes
florestais relevantes, conforme dispõe a Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001;
II - a transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas expansões
urbanas;
III - o estabelecimento de exigência de áreas verdes nos loteamentos,
empreendimentos comerciais e na implantação de infraestrutura; e
IV - aplicação em áreas verdes de recursos oriundos da compensação
ambiental.

4. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

4.1. Introdução

Unidades de conservação são espaços territoriais e seus recursos ambientais,


incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção. Foram regulamentados pela Lei Federal nº 9.985/2000, a qual instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Essa norma previu 12 modalidades de unidades de conservação, que são
divididas em Unidades de Conservação de Proteção Integral e Unidades de
Conservação de Uso Sustentável.
Podem ser criadas por lei ou por outro ato infralegal, no entanto, supressão ou
alteração desses espaços devem necessariamente ser precedidos por lei.

87
Daniela Adamek

4.2. Estudos técnicos e consulta pública

A Lei nº 9.985/00 determina que a criação de uma Unidade de Conservação


(UC) demanda a elaboração de estudos técnicos e consulta pública. Excetua, contudo,
as estações ecológicas e reservas biológicas da realização de consultas públicas.
A realização de estudos técnicos e consultas públicas visa verificar o interesse
de estabelecimento de maiores níveis de proteção às áreas, bem como verificar a
existência de interesse público na instituição da unidade de conservação. A instituição
de estações ecológicas e reservas biológicas, todavia, tem interesse público presumido,
por isso torna-se dispensável apenas a realização de consulta pública.
O STF já decidiu que a consulta pública não tem caráter vinculante, mas é de
realização obrigatória, sob pena de macular o ato de criação da unidade de
conservação.

4.3. Órgãos responsáveis pela gestão do SNUC

O SNUC é constituído pelo conjunto das UC, que poderão ser federais,
estaduais, distritais e municipais (lembre-se que a proteção do meio ambiente é
competência comum).
Assim, são órgãos responsáveis pela gestão do SNUC:
• Órgão consultivo e deliberativo: CONAMA.
• Órgão central: Ministério do Meio Ambiente;
• Órgãos executores: ICMBio, IBAMA, em caráter supletivo, e os órgãos
estaduais, distritais e municipais.

4.4. Grupos de unidades de conservação

As unidades de conservação se dividem em dois grandes grupos:


• Unidades de conservação de proteção integral;
• Unidades de conservação de uso sustentável.

a) Unidades de conservação de proteção integral

Nessas unidades, admite-se apenas o uso indireto dos atributos naturais. Ou seja, os
usos que não envolvam consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais,
como turismo ecológico e visitação, por exemplo.
Integram as unidades de conservação de proteção integral:
• Estação Ecológica: destina-se a realização de pesquisas científicas, sendo de
posse de domínio públicos.
• Reserva Biológica: tem por objetivo a preservação e proteção integral da
biota. É de posse e domínio públicos.
• Parque Nacional: objetiva a preservação de ecossistemas naturais e de
grande relevância ecológica ou beleza cênica. Admite a realização de pesquisas

88
Daniela Adamek

científicas, o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação


ambiental, recreação e turismo ecológico. É de posse e domínio públicos.
• Monumento Natural: visa a preservação de sítios naturais raros ou de grande
beleza cênica. Pode ser público ou particular.
• Refúgio da Vida Silvestre: busca proteger ambientes naturais, típicos de
reprodução de espécies ou comunidades da flora local ou da fauna, seja essa
fauna residente ou migratória. Pode ser público ou particular.

b) Unidades de conservação de uso sustentável

Essa modalidade de espaço territorial especialmente protegido permite o uso


direto, o qual envolve a coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais. Trata-se,
portanto, de exploração sustentável da área.
Tem por finalidade compatibilizar a exploração da natureza com a necessidade
de assegurar a perenidade dos recursos naturais.
São consideradas unidades de uso sustentável:
• Área de Proteção Ambiental (APA): é uma área em geral extensa, com certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos importantes para a qualidade
de vida e bem-estar das populações humanas, visando a proteção do meio
ambiente. Pode ser instituída em áreas públicas ou particulares.
• Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE): cuida-se de área em geral de
pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com
características naturais extraordinárias ou que abriga espécies raras. Visa a
manutenção de ecossistemas naturais de importância regional ou local. Pode
ocorrer em áreas públicas ou particulares.
• Floresta Nacional (FLONA): área pública com cobertura florestal
predominantemente ocupada por vegetação nativa, cujo objetivo básico
relaciona-se ao uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e à pesquisa
científica.
• Reserva Extrativista (RESEX): propriedade pública, utilizada por populações
extrativistas tradicionais que se valem dela para sua sobrevivência. Nesse local,
é proibida a exploração de recursos minerais e a caça, amadorista ou
profissional. Tem por objetivos básicos a proteção dos meios de vida e da
cultura dessas populações, bem como assegurar o uso sustentável dos recursos
naturais.
• Reserva de Fauna: propriedade pública. Área com populações animais de
espécies nativas, onde se permite a exploração de recursos faunísticos (como,
por exemplo, a extração de leite animal), mas é proibida a caça, amadora ou
profissional.
• Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS): propriedade pública, que se
baseia em sistemas sustentáveis de exploração, herdados de gerações
anteriores. As populações que ocupam a RDS têm direito à posse e ao uso da
reserva, nos termos dispostos em contrato firmado com o poder público.

89
Daniela Adamek

• Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN): propriedade particular,


gravada com perpetuidade. Objetiva conservar a diversidade biológica apenas
sendo permitida a pesquisa e visitação.

4.5. Zonas de amortecimento

Zona de amortecimento é o entorno de uma UC, onde as atividades humanas


estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os
impactos negativos sobre a unidade. A zona de amortecimento, uma vez definida
formalmente, não pode ser transformada em zona urbana.
Todas as unidades de conservação terão zonas de amortecimento, exceto áreas
de proteção ambiental e reservas particulares do patrimônio nacional.

4.6. Corredores ecológicos

São porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de


conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como
a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com
extensão maior do que aquela das unidades individuais.
Ficam dispensadas da criação de corredores ecológicos as áreas de proteção
ambiental e as reservas naturais do patrimônio natural. Nas demais unidades de
conservação, haverá corredores ecológicos quando se mostrar conveniente.

4.7. Mosaico

Dá-se quando existir um conjunto de UC de categorias diferentes ou não,


próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou
privadas.
No caso do mosaico, a gestão deverá ser feita de forma integrada e
participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a
compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o
desenvolvimento sustentável no contexto regional.

4.8. Plano de manejo

Plano de manejo pode ser conceituado como um documento técnico,


mediante o qual se estabelece o zoneamento da UC e as normas que devem presidir
o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das
estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.
O SNUC determina que todas as unidades de conservação devem dispor de um
plano de manejo, que abrangerá toda a área da UC, sua zona de amortecimento e os
corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à
vida econômica e social das comunidades vizinhas.

90
Daniela Adamek

O Plano de Manejo de uma UC deve ser elaborado no prazo de 5 anos a partir


da data de sua criação.

4.9. Limitações administrativas de caráter provisório

Antes da criação da UC é preciso que haja limitações administrativas de


caráter provisório, vigorando durante o trâmite de estudos técnicos.
As limitações administrativas têm caráter temporário, com prazo máximo
improrrogável de 7 meses.

4.10. Compensação

No caso de atividade em UC que gere significativo impacto ambiental, é


necessário que o poluidor tenha licenciamento, devendo apoiar a manutenção de uma
unidade de proteção integral, por meio de indenização ou compensação pelo impacto
ambiental. Cuida-se de materialização do princípio do usuário-pagador.
Anteriormente, a lei consignava que o percentual a ser investido pelo
empreendedor seria calculado a partir do investimento realizado. No entanto, o STF
decidiu ser inconstitucional a fixação de percentual sobre os custos, uma vez que não
se pode afirmar que o custo do investimento necessariamente tem relação com
impacto gerado.
Assim, a Corte fixou o entendimento de que o valor da indenização deve ser
proporcional ao dano que se dará pela exploração da UC, cabendo ao órgão
ambiental licenciador da atividade definir quais serão as UC beneficiadas com a
compensação.
Quando o empreendimento afetar uma UC específica ou zona de
amortecimento de uma UC específica, o licenciamento só poderá ser concedido com
autorização do órgão responsável por esta UC.
Nesse caso, a UC afetada, deverá ser uma das beneficiadas pela compensação,
mesmo que não pertencente ao grupo de unidades de conservação de proteção
integral. Lembrando que a Lei determina que as unidades de proteção integral serão as
destinatárias do instituto da compensação.

4.11. Reservas da biosfera

A Reserva da Biosfera é um modelo internacional da UNESCO de gestão


integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, sendo reconhecida pelo
Programa Intergovernamental "O Homem e a Biosfera – MAB".
São constituídas por áreas de domínio público ou privado e têm como objetivos
básicos a preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de
pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento
sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações.
No Brasil, a UNESCO já reconheceu como reserva da biosfera:
• Mata Atlântica;
91
Daniela Adamek

• Cerrado;
• Cinturão Verde da Cidade de São Paulo;
• Pantanal Mato-Grossense;
• Caatinga;
• Amazônia Central;
• Serra do Espinhaço.

Art. 41. [...]


§ 1º A Reserva da Biosfera é constituída por:
I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;
II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades
que não resultem em dano para as áreas-núcleo; e
III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de
ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de
modo participativo e em bases sustentáveis.
§ 2º A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou
privado.
§ 3º A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação já
criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o
manejo de cada categoria específica.
§ 4º A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado
por representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil
e da população residente, conforme se dispuser em regulamento e no ato de
constituição da unidade.
§ 5º A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental
"O Homem e a Biosfera – MAB", estabelecido pela Unesco, organização da
qual o Brasil é membro.

5. MATA ATLÂNTICA

A Constituição Federal reconhece o bioma Mata Atlântica como patrimônio


nacional, nos termos de seu art. 225, § 4º. Assim, foi editada a Lei Federal nº
11.428/2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa desse
bioma.

5.1. Florestas e ecossistemas associados ao Bioma Mata Atlântica

A Lei nº 11.428/2006 elenca as formações florestais que integram a Mata


Atlântica:

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes do Bioma Mata


Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados,
com as respectivas delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila
Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de
Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e
Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de
92
Daniela Adamek

restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do


Nordeste.
Parágrafo único. Somente os remanescentes de vegetação nativa no estágio
primário e nos estágios secundário inicial, médio e avançado de regeneração
na área de abrangência definida no caput deste artigo terão seu uso e
conservação regulados por esta Lei.

5.2. Objetivos da Lei do Bioma Mata Atlântica

Conforme preconiza o art. 6º da norma, a proteção e a utilização do Bioma


Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento sustentável e, por objetivos
específicos, a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores
paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.
Tem-se, portanto, que a mens legis da norma é conservar o que ainda existe de
Mata Atlântica: pouco mais de 8% da sua formação original.

5.3. Tutela legal do estágio da Mata Atlântica

A tutela legal do bioma variará de acordo com o estágio da vegetação da Mata


Atlântica, que é classificada pelo CONAMA como:
• Vegetação primária;
• Vegetação secundária em estágio avançado de regeneração;
• Vegetação secundária em estágio médio de regeneração;
• Vegetação secundária em estágio inicial de regeneração.

Ressalte-se que a classificação será mantida se houver incêndio, desmatamento


ou qualquer tipo de intervenção não autorizada ou não licenciada. Assim, realizada a
classificação da área, não é possível que um indivíduo a queime para desclassificá-la.

5.4. Corte e supressão de vegetação

Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado


e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados quando:
I - a vegetação:
a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em
território nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou
pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a
sobrevivência dessas espécies;
b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de
erosão;
c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou
secundária em estágio avançado de regeneração;
d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou
e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos
competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA;

93
Daniela Adamek

II - o proprietário ou posseiro não cumprir os dispositivos da legislação


ambiental, em especial as exigências da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de
1965, no que respeita às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal.
Parágrafo único. Verificada a ocorrência do previsto na alínea a do inciso I
deste artigo, os órgãos competentes do Poder Executivo adotarão as medidas
necessárias para proteger as espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas
de extinção caso existam fatores que o exijam, ou fomentarão e apoiarão as
ações e os proprietários de áreas que estejam mantendo ou sustentando a
sobrevivência dessas espécies.

Art. 14. A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado


de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública,
sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá
ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os
casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao
empreendimento proposto, ressalvado o disposto no inciso I do art. 30 e nos
§§ 1º e 2º do art. 31 desta Lei.
§ 1º A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autorização
do órgão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando
couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o
disposto no § 2º deste artigo.
§ 2º A supressão de vegetação no estágio médio de regeneração situada em
área urbana dependerá de autorização do órgão ambiental municipal
competente, desde que o município possua conselho de meio ambiente, com
caráter deliberativo e plano diretor, mediante anuência prévia do órgão
ambiental estadual competente fundamentada em parecer técnico.
§ 3º Na proposta de declaração de utilidade pública disposta na alínea b do
inciso VII do art. 3º desta Lei, caberá ao proponente indicar de forma
detalhada a alta relevância e o interesse nacional.
Art. 23. O corte, a supressão e a exploração da vegetação secundária em
estágio médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica somente serão
autorizados:
I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de obras, atividades
ou projetos de utilidade pública ou de interesse social, pesquisa científica e
práticas preservacionistas;
II - (VETADO)
III - quando necessários ao pequeno produtor rural e populações tradicionais
para o exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais
imprescindíveis à sua subsistência e de sua família, ressalvadas as áreas de
preservação permanente e, quando for o caso, após averbação da reserva
legal, nos termos da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 ;
IV - nos casos previstos nos §§ 1º e 2º do art. 31 desta Lei.

Art. 30. É vedada a supressão de vegetação primária do Bioma Mata


Atlântica, para fins de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e
áreas urbanas consideradas como tal em lei específica, aplicando-se à

94
Daniela Adamek

supressão da vegetação secundária em estágio avançado de regeneração as


seguintes restrições:
I - nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei,
a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração
dependerá de prévia autorização do órgão estadual competente e somente
será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de
empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em
estágio avançado de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da
área total coberta por esta vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e
17 desta Lei e atendido o disposto no Plano Diretor do Município e demais
normas urbanísticas e ambientais aplicáveis;
II - nos perímetros urbanos aprovados após a data de início de vigência desta
Lei, é vedada a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de
regeneração do Bioma Mata Atlântica para fins de loteamento ou edificação.

Art. 31. Nas regiões metropolitanas e áreas urbanas, assim consideradas em


lei, o parcelamento do solo para fins de loteamento ou qualquer edificação em
área de vegetação secundária, em estágio médio de regeneração, do Bioma
Mata Atlântica, devem obedecer ao disposto no Plano Diretor do Município e
demais normas aplicáveis, e dependerão de prévia autorização do órgão
estadual competente, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei.
§ 1º Nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta
Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração
somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de
empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em
estágio médio de regeneração em no mínimo 30% (trinta por cento) da área
total coberta por esta vegetação.
§ 2º Nos perímetros urbanos delimitados após a data de início de vigência
desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de
regeneração fica condicionada à manutenção de vegetação em estágio médio
de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total
coberta por esta vegetação.

Portanto, a supressão de vegetação primária para fins de loteamento ou


edificação, em áreas urbanas ou regiões metropolitanas, fica proibida.
Em síntese:
a) Área de vegetação primária: proibida a supressão para loteamento e
edificação;
b) Área de vegetação secundária:
I. Estágio médio:
i. Perímetro urbano aprovado antes da Lei: pode suprimir,
deixando 30%;
ii. Perímetro urbano delimitado após a Lei: pode suprimir,
deixando 50%;

95
Daniela Adamek

II. Estágio avançado:


i. Perímetro urbano aprovado antes da Lei: pode suprimir,
deixando 50% (art. 30, I);
ii. Perímetro urbano delimitado após a Lei: proibida a supressão.

5.5. Exploração eventual

Exploração eventual, ou seja, consumo sem finalidade comercial, de recursos


naturais provenientes do bioma Mata Atlântica, por populações tradicionais ou
pequenos produtores rurais, independe de autorização dos órgãos ambientais:

Art. 9º A exploração eventual, sem propósito comercial direto ou indireto, de espécies


da flora nativa, para consumo nas propriedades ou posses das populações
tradicionais ou de pequenos produtores rurais, independe de autorização dos órgãos
competentes, conforme regulamento.
Contudo, frise-se que, mesmo nesses casos, a exploração eventual não será
admitida se estivermos diante de espécies ameaçadas de extinção.

5.6. Medida de compensação ambiental

A compensação ambiental consiste na destinação de área equivalente à


extensão da área desmatada, que tenha as mesmas características ecológicas, que
esteja na mesma bacia hidrográfica e, sempre que possível, na mesma microbacia
hidrográfica, e, nos casos previstos nos arts. 30 e 31, ambos da Lei, em áreas
localizadas no mesmo Município ou região metropolitana.

Art. 17. O corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos


estágios médio ou avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica,
autorizados por esta Lei, ficam condicionados à compensação ambiental, na
forma da destinação de área equivalente à extensão da área desmatada, com
as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica, sempre
que possível na mesma microbacia hidrográfica, e, nos casos previstos nos arts.
30 e 31, ambos desta Lei, em áreas localizadas no mesmo Município ou região
metropolitana.

A compensação ambiental prevista para o corte ou supressão de vegetação


será indispensável para concessão do licenciamento.

Assim, é necessário que o empreendedor:


• Destine uma área equivalente à área que será desmatada;
• A área deverá ter características ecológicas semelhantes à área desmatada;
• A área deve estar na mesma bacia hidrográfica;
• Se possível, localizar-se na mesma microbacia hidrográfica.

96
Daniela Adamek

Se não for possível a compensação ambiental, o empreendedor deve promover


a reposição florestal com espécies nativas, em área equivalente à desmatada, na
mesma bacia hidrográfica e, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica.

6. JURISPRUDÊNCIA

É inconstitucional a redução ou supressão de unidade de conservação por meio de


medida provisória.
O STF entendeu ser inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais
especialmente protegidos, como as unidades de conservação, por meio de medida
provisória, por violar o art. 225, § 1º, III, da CF/88. Desse modo, tem-se que a redução
ou a supressão desses espaços somente é permitida mediante lei em sentido estrito.
(STF, ADI 4.717/DF – Informativo 896)

Constitucionalidade do Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012).


O STF decidiu:
1) declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações
necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou
internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b, do novo Código Florestal;
2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, de modo a se
condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade
pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta;
3) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar
a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes
configuram área de preservação permanente;
4) declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”,
contidas no art. 3º, parágrafo único;
5) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir
compensação apenas entre áreas com identidade ecológica;
6) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar,
no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de
regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos
ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes,
aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012,
segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da
pretensão punitiva”;
7) que todos os demais dispositivos do novo Código Florestal são constitucionais.
(STF, ADC 42/DF, ADI 4.901/DF. ADI 4.902/DF, ADI 4.903/DF e ADI 4.937/DF –
Informativo 892)

A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos
cursos d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal.

97
Daniela Adamek

A norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal


apenas intensificar o grau de proteção às margens dos cursos d'água, ou quando
muito, manter o patamar de proteção (jamais reduzir a proteção ambiental).
(STJ. 2ª Turma. AREsp 1312435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/02/2019 -
Informativo 643).

O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação


permanente no cálculo do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não
retroage para alcançar situações consolidadas antes de sua vigência.
Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não
se admitir a aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob
pena de retrocesso ambiental.
(STJ. 1ª Turma. REsp 1646193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 - Informativo 673).

7. EXERCÍCIOS

1. CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-CE/2020


Considerando que haja interesse do poder público em permitir uma atividade de
recuperação de áreas contaminadas dentro da Estação Ecológica do Pecém, unidade
de conservação do estado do Ceará localizada nos municípios de São Gonçalo do
Amarante e Caucaia, assinale a opção correta.
a) Eventual licenciamento ambiental deverá ser solicitado ao IBAMA, por se tratar de
uma estação ecológica.
b) A atividade de recuperação de áreas contaminadas está dispensada de
licenciamento ambiental, segundo resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
c) A estação ecológica é uma unidade de conservação com o objetivo de preservação
da natureza e de visitação pública, de modo que a descontaminação da área
possibilitará a cobrança de tarifa dos visitantes.
d) A estação ecológica é uma espécie de unidade de conservação de proteção integral,
sendo exigido licenciamento ambiental para a atividade de recuperação.
e) A estação ecológica é uma área de preservação permanente, de uso restrito, por
isso a atividade de recuperação dispensa licenciamento ambiental.

Comentários
A alternativa A está errada. A competência para licenciamento ambiental de unidade
de conservação, em regra, cabe ao órgão ambiental do ente federativo que a instituiu.
A exceção, nos termos da LC nº 140/2011, está apenas nas APAs.
A alternativa B está incorreta, pois a Resolução CONAMA 237/97 elenca, em seu
Anexo I, que a recuperação de áreas contaminadas ou degradadas tem o
licenciamento ambiental como obrigatório, como serviço de utilidade.
A alternativa C está errada, porquanto a estação ecológica não tem como objetivo a
visitação pública, mas a realização de pesquisas científicas, conforme art. 9º do SNUC.
98
Daniela Adamek

A alternativa D está correta e é o gabarito da questão.


A alternativa E está errada, pois a estação ecológica não é, necessariamente, uma APP
(conforme conceituado no Código Florestal). A APP é definida conforme sua
localização, nos termos da Lei nº 12.651/2012.

2. IESES/Prefeitura de São José-SC/Procurador Municipal/2019


Assinale a alternativa correta:
a) Unidades de Conservação da Natureza são sempre de proteção integral.
b) Áreas de preservação permanente independem de sua função ecológica para serem
caracterizadas como tais e admitem intervenção em qualquer caso.
c) A reserva legal só se aplica aos imóveis urbanos.
d) O Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV é um instrumento da política urbana
previsto na Lei n. 10.257/01.

Comentários
A alternativa A está incorreta. As unidades de conservação podem ser de proteção
integral ou de uso sustentável.
A alternativa B está incorreta, pois as áreas de preservação permanente, conforme
art. 3º, II, do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), são áreas que possuem função
ambiental e a intervenção nesses locais está sujeita à observância das limitações
impostas pela legislação.
A alternativa C está incorreta, uma vez que a reserva legal se aplica somente aos
imóveis rurais, conforme art. 3º, III, do Código Florestal.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 4º da Lei nº
10.257/2001 (Estatuto das Cidades).

3. CESPE/Prefeitura de Campo Grande - MS/Procurador Municipal/2019


Acerca de tutela processual do meio ambiente, de crimes ambientais e de espaços
territoriais especialmente protegidos, julgue o item que se segue:
As populações tradicionais residentes em unidades de conservação deverão ser,
obrigatoriamente, realocadas pelo poder público e, por conseguinte, indenizadas ou
compensadas pelas benfeitorias existentes no local onde habitavam.

Comentários
O item está errado. Veja o teor do art. 42 do SNUC:

Art. 42. As populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas


quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas ou compensadas
pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em
local e condições acordados entre as partes.

99
Daniela Adamek

A lei determina que as populações tradicionais só serão realocadas caso sua presença
não seja possível no local. Ou seja, não se trata de realocação obrigatória, como faz
crer o enunciado.

4. FUNDEP/Promotor de Justiça Substituto/MPE-MG/2019


Assinale a alternativa incorreta:
a) É condição de validade dos contratos que tenham por objeto a prestação de serviços
públicos de saneamento básico a existência de plano de saneamento básico.
b) A área de uma unidade de conservação é considerada zona rural, para os efeitos
legais, e sua zona de amortecimento, uma vez definida formalmente, não pode ser
transformada em zona urbana.
c) Os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro urbano deverão elaborar
projeto específico que contenha, entre outras exigências, a definição de mecanismos
para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de
urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da
valorização imobiliária resultante da ação do poder público.
d) A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal
não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal,
que só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins
urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano
diretor.

Comentários
A alternativa A está correta, conforme art. 11 da Lei 11.445/2007:

Art. 11. São condições de validade dos contratos que tenham por objeto a
prestação de serviços públicos de saneamento básico:
I - a existência de plano de saneamento básico;

A alternativa B está incorreta e é o gabarito da questão, conforme art. 49 da Lei nº


9.985/2000:

Art. 49. A área de uma unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral


é considerada zona rural, para os efeitos legais.
Parágrafo único. A zona de amortecimento das unidades de conservação de
que trata este artigo, uma vez definida formalmente, não pode ser
transformada em zona urbana.

A alternativa C está correta, conforme art. 42-B, VII, da Lei nº 10.257/2001:

Art. 42-B. Os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro urbano após
a data de publicação desta Lei deverão elaborar projeto específico que
contenha, no mínimo:
[...]
100
Daniela Adamek

VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e


benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão
urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária
resultante da ação do poder público.

A alternativa D está correta, conforme art. 19 da Lei nº 12.651/2012:

Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei
municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de
Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do
parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação
específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do art.
182 da Constituição Federal.

5. FCC/SANASA/Procurador Jurídico/2019
Segundo a legislação federal vigente, as unidades de conservação integrantes do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza dividem-se em dois grupos
com características específicas. Um desses grupos é composto por Unidades de
a) Regeneração de Ecossistema, na qual se incluem o Refúgio de Vida Silvestre, a
Reserva Particular do Patrimônio Natural e o Parque Nacional.
b) Proteção da Biodiversidade, no qual se incluem o Monumento Natural, o Refúgio de
Vida Silvestre e a Reserva de Fauna.
c) Proteção Integral, no qual se incluem a Estação Ecológica, a Reserva Particular do
Patrimônio Natural e o Santuário Ecológico.
d) Uso Sustentável, no qual se incluem a Floresta Nacional, a Reserva de Fauna e a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável.
e) Manejo Restrito, no qual se incluem a Área de Proteção Ambiental, a Área de
Relevante Interesse Ecológico e a Reserva Extrativista.

Comentários
O SNUC determina que as unidades de conservação são divididas em unidades de
proteção integral (monumento natural, refúgio da vida silvestre, estação ecológica,
parque nacional e reserva biológica) e unidades de uso sustentável (área de proteção
ambiental, floresta nacional, área de relevante interesse ecológico, reserva
extrativista, reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável e reserva
particular do patrimônio natural). Assim, a alternativa correta é a letra D.

6. VUNESP/Prefeitura de São Roque - SP/Advogado/2020


Segundo a Lei n° 12.651/2012, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural
perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular,
em largura mínima de 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez)
metros de largura, em zonas rurais ou urbanas, são consideradas áreas de

101
Daniela Adamek

a) reserva biológica.
b) preservação permanente.
c) manejo sustentável.
d) reserva legal.
e) conservação ambiental.

Comentários
Definição trazida pelo art. 4º do Código Florestal, o qual conceitua as áreas de
preservação permanente. Portanto, o gabarito da questão está na letra B.

7. CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019


Rafael é proprietário de um imóvel rural com vegetação de floresta no estado do Pará.
Esse imóvel deixou de ter área de reserva legal porque o proprietário anterior a
suprimiu.
Nessa situação, Rafael
a) não tem obrigação de reflorestar a referida área, porque não foi ele quem causou a
degradação.
b) deve reflorestar 50% de sua propriedade.
c) deve reflorestar 30% de sua propriedade.
d) deve reflorestar 80% de sua propriedade.
e) deve reflorestar 20% de sua propriedade.

Comentários
Inicialmente, tem-se que o Estado do Pará está localizado na Amazônia Legal,
conforme art. 3º, I, do Código Florestal. Portanto, a área de reserva legal obrigatória
deverá observar o teor do art. 12, I, da norma, que determina que, nos imóveis
localizados na Amazônia Legal, a reserva legal deverá compreender:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
Logo, considerando que o enunciado estabelece que a propriedade está em situada
em área de floresta, a resposta está na alternativa D.

8. VUNESP/Câmara de Mauá/Procurador Legislativo/2019


Nos termos da Lei no 12.651/2012, assinale a alternativa correta.
a) As restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues, são
consideradas Área de Preservação Permanente.
b) É vedada a intervenção ou a supressão de vegetação em Área de Preservação
Permanente, ainda que nas hipóteses de interesse social ou de baixo impacto
ambiental.
c) É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução regular
de atividade de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil.
d) A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal
desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal.
102
Daniela Adamek

e) O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito


comercial independe de autorização do órgão competente.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 4º, VII, do Código
Florestal:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

A alternativa B está incorreta, já que o Código Florestal, em seu art. 8º, permite a
intervenção em APP nas hipóteses de interesse social, baixo impacto ambiental e
utilidade pública.
A alternativa C está errada, pois o § 3º do art. 7º, do Código Florestal, determina que a
dispensa ocorre apenas em casos de urgência e não para a execução regular:

§ 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a


execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras
de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes
em áreas urbanas.

A alternativa D está errada, pois não há essa desobrigação, conforme art. 19 do


Código Florestal:

Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei
municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de
Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do
parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação
específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do art.
182 da Constituição Federal.

A alternativa E está incorreta, pois o manejo florestal depende de autorização do


órgão competente. A propósito, veja o teor do art. 22 do Código Florestal:

Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com


propósito comercial depende de autorização do órgão competente e deverá
atender as seguintes diretrizes e orientações: [...]

103
Daniela Adamek

CAPÍTULO 7 — PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

1. INTRODUÇÃO

O art. 216 da CF/88 consigna que constituem patrimônio cultural brasileiro os


bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira.
Os incisos do art. 216 trazem alguns exemplos daquilo que é considerado
patrimônio cultural brasileiro:

I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Tratando-se do gênero meio ambiente, a competência para a proteção do


patrimônio cultural é comum dos entes federados, nos termos do art. 23 da CF/88:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
[...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico
e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de
outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
[...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;

Aos Estados e ao DF é facultado vincular um fundo estadual ao fomento da


cultura até 0,5% da receita tributária líquida, conforme §6º do art. 216, incluído pela
EC 42/03, para o financiamento de programas e projetos culturais. Nesse caso, fica
vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:
• despesas com pessoal e encargos sociais;
• serviço da dívida;
• qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados.

104
Daniela Adamek

2. PLANO NACIONAL DE CULTURA, SISTEMA NACIONAL DE CULTURA, POLÍTICA


NACIONAL DE CULTURA VIVA E INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO

2.1. Plano Nacional de Cultura

A EC 48/05 inseriu o §3º ao art. 215 da CF, instituindo o chamado Plano


Nacional de Cultura. Esse plano deve ser estabelecido por lei, tendo como objetivos a
defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; a produção, promoção e difusão
de bens culturais; a formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas
múltiplas dimensões; a democratização do acesso aos bens de cultura, e a valorização
da diversidade étnica e regional.
Nesse sentido, a Lei nº 12.343/2010 foi editada para instituir o referido Plano
Nacional de Cultura. Essa lei também criou o Sistema Nacional de Informações e
Indicadores Culturais.
Alteração promovida pela Medida Provisória nº 1.012, de 2020, determinou
que o Plano Nacional de Cultura, que, pela redação anterior tinha validade decenal (10
anos), passasse a ter validade de 12 anos. Ele tem como princípios e objetivos:

Art. 1º Fica aprovado o Plano Nacional de Cultura, em conformidade com o §


3º do art. 215 da Constituição, constante do Anexo, com duração de doze anos
e regido pelos seguintes princípios: (Redação dada pela Medida Provisória nº
1.012, de 2020)
I - liberdade de expressão, criação e fruição;
II - diversidade cultural;
III - respeito aos direitos humanos;
IV - direito de todos à arte e à cultura;
V - direito à informação, à comunicação e à crítica cultural;
VI - direito à memória e às tradições;
VII - responsabilidade socioambiental;
VIII - valorização da cultura como vetor do desenvolvimento sustentável;
IX - democratização das instâncias de formulação das políticas culturais;
X - responsabilidade dos agentes públicos pela implementação das políticas
culturais;
XI - colaboração entre agentes públicos e privados para o desenvolvimento da
economia da cultura;
XII - participação e controle social na formulação e acompanhamento das
políticas culturais.

Art. 2º São objetivos do Plano Nacional de Cultura:


I - reconhecer e valorizar a diversidade cultural, étnica e regional brasileira;
II - proteger e promover o patrimônio histórico e artístico, material e imaterial;
III - valorizar e difundir as criações artísticas e os bens culturais;
IV - promover o direito à memória por meio dos museus, arquivos e coleções;
V - universalizar o acesso à arte e à cultura;
VI - estimular a presença da arte e da cultura no ambiente educacional;

105
Daniela Adamek

VII - estimular o pensamento crítico e reflexivo em torno dos valores


simbólicos;
VIII - estimular a sustentabilidade socioambiental;
IX - desenvolver a economia da cultura, o mercado interno, o consumo cultural
e a exportação de bens, serviços e conteúdos culturais;
X - reconhecer os saberes, conhecimentos e expressões tradicionais e os
direitos de seus detentores;
XI - qualificar a gestão na área cultural nos setores público e privado;
XII - profissionalizar e especializar os agentes e gestores culturais;
XIII - descentralizar a implementação das políticas públicas de cultura;
XIV - consolidar processos de consulta e participação da sociedade na
formulação das políticas culturais;
XV - ampliar a presença e o intercâmbio da cultura brasileira no mundo
contemporâneo;
XVI - articular e integrar sistemas de gestão cultural.

2.2. Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais

A Lei nº 12.343/10, em seu art. 9º, criou o Sistema Nacional de Informações e


Indicadores Culturais – SNIIC.
Os objetivos desse sistema são:

I - coletar, sistematizar e interpretar dados, fornecer metodologias e


estabelecer parâmetros à mensuração da atividade do campo cultural e das
necessidades sociais por cultura, que permitam a formulação, monitoramento,
gestão e avaliação das políticas públicas de cultura e das políticas culturais em
geral, verificando e racionalizando a implementação do PNC e sua revisão nos
prazos previstos;
II - disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para
a caracterização da demanda e oferta de bens culturais, para a construção de
modelos de economia e sustentabilidade da cultura, para a adoção de
mecanismos de indução e regulação da atividade econômica no campo
cultural, dando apoio aos gestores culturais públicos e privados;
III - exercer e facilitar o monitoramento e avaliação das políticas públicas de
cultura e das políticas culturais em geral, assegurando ao poder público e à
sociedade civil o acompanhamento do desempenho do PNC.

2.3. Sistema Nacional de Cultura

A EC 71/12 inseriu o art. 216-A na Constituição Federal, que prevê o Sistema


Nacional de Cultura, o qual deve ser disciplinada por lei federal.
De acordo com o art. 216-A, o Sistema Nacional de Cultura deve ser
organizado em regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa,
instituindo um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de
cultura, democráticas e permanentes, mediante pacto entre os entes da Federação e
a sociedade.

106
Daniela Adamek

O objetivo do Sistema Nacional de Cultura é promover o desenvolvimento


humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais.
O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na Política Nacional de Cultura,
devendo observar os seguintes princípios:

§ 1º [...]
I - diversidade das expressões culturais;
II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais;
III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens
culturais;
IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados
atuantes na área cultural;
V - integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e
ações desenvolvidas;
VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais;
VII - transversalidade das políticas culturais;
VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil;
IX - transparência e compartilhamento das informações;
X - democratização dos processos decisórios com participação e controle
social;
XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das
ações;
XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos
para a cultura.

2.4. Política Nacional de Cultura Viva

Posteriormente, foi editada a Lei nº 13.018/2014 que aprovou a Política


Nacional de Cultura Viva. Trata-se de uma parceria entre União, Estados, Distrito
Federal e Municípios com a sociedade civil, no campo da cultura, e tem como objetivo
a ampliação do acesso da população brasileira às condições de exercício dos direitos
culturais.
Os objetivos trazidos pela lei para a Política Nacional de Cultura Viva são:

Art. 2º: [...]


I - garantir o pleno exercício dos direitos culturais aos cidadãos brasileiros,
dispondo-lhes os meios e insumos necessários para produzir, registrar, gerir e
difundir iniciativas culturais;
II - estimular o protagonismo social na elaboração e na gestão das políticas
públicas da cultura;
III - promover uma gestão pública compartilhada e participativa, amparada em
mecanismos democráticos de diálogo com a sociedade civil;
IV - consolidar os princípios da participação social nas políticas culturais;
V - garantir o respeito à cultura como direito de cidadania e à diversidade
cultural como expressão simbólica e como atividade econômica;

107
Daniela Adamek

VI - estimular iniciativas culturais já existentes, por meio de apoio e fomento


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
VII - promover o acesso aos meios de fruição, produção e difusão cultural;
VIII - potencializar iniciativas culturais, visando à construção de novos valores
de cooperação e solidariedade, e ampliar instrumentos de educação com
educação;
IX - estimular a exploração, o uso e a apropriação dos códigos, linguagens
artísticas e espaços públicos e privados disponibilizados para a ação cultural.

A Política Nacional de Cultura Viva tem como beneficiária a sociedade e,


prioritariamente, os povos, grupos, comunidades e populações em situação de
vulnerabilidade social. Esses grupos são aqueles com reduzido acesso aos meios de
produção, registro, fruição e difusão cultural, que requeiram maior reconhecimento de
seus direitos humanos, sociais e culturais ou quando estiver caracterizada ameaça a
sua identidade cultural.
São instrumentos da Política Nacional de Cultura Viva:

Art. 4º [...]:
I - pontos de cultura: entidades jurídicas de direito privado sem fins lucrativos,
grupos ou coletivos sem constituição jurídica, de natureza ou finalidade
cultural, que desenvolvam e articulem atividades culturais em suas
comunidades;
II - pontões de cultura: entidades com constituição jurídica, de
natureza/finalidade cultural e/ou educativa, que desenvolvam, acompanhem e
articulem atividades culturais, em parceria com as redes regionais, identitárias
e temáticas de pontos de cultura e outras redes temáticas, que se destinam à
mobilização, à troca de experiências, ao desenvolvimento de ações conjuntas
com governos locais e à articulação entre os diferentes pontos de cultura que
poderão se agrupar em nível estadual e/ou regional ou por áreas temáticas de
interesse comum, visando à capacitação, ao mapeamento e a ações conjuntas;
III - Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura: integrado pelos
grupos, coletivos e pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que
desenvolvam ações culturais e que possuam certificação simplificada
concedida pelo Ministério da Cultura.

Os pontos e pontões de cultura constituem elos entre a sociedade e o Estado,


com o objetivo de desenvolver ações culturais sustentadas pelos princípios da
autonomia, do protagonismo e da capacitação social das comunidades
locais. Poderão estabelecer parceria e intercâmbio com as escolas e instituições da
rede de educação básica, do ensino fundamental, médio e superior, do ensino
técnico e com entidades de pesquisa e extensão. Para recebimento de recursos
públicos, os pontos e pontões de cultura serão selecionados por edital público. A ideia
é estimular as manifestações culturais de cada sociedade.

108
Daniela Adamek

2.5. Instrumentos de proteção

Na esfera federal foi criado o IPHAN, que é o Instituto do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional. Trata-se de autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura,
que tem como competência a proteção, fiscalização, promoção e estudo do
patrimônio cultural brasileiro.
A CF, em seu art. 216, §1º, traz um rol exemplificativo de defesa do patrimônio
cultural brasileiro, que se dará por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação.
Basicamente, inventariar é listar, sendo o inventário uma espécie de listas dos
bens culturais que temos.
Vigilância, por sua vez, cuida-se do ato de vigiar, mediante a contratação de
pessoas para prevenir a pichação em prédios tombados.
A desapropriação, a seu turno, é uma modalidade supressiva de intervenção do
Estado na propriedade. É uma medida extrema de proteção do bem cultural. Nesses
casos, o fundamento é a utilidade pública, devendo o sujeito receber a indenização
em dinheiro.
Por fim, o registro e o tombamento são os mais utilizados, motivo pelo qual
serão tratados individualmente.

2.5.1. Registro

Registro é instrumento de proteção de bens culturais imateriais, ao contrário


do tombamento, que é de bens culturais materiais.
Na esfera federal, conforme Decreto 3.551/00, foram criados quatro livros de
registro, sendo este rol exemplificativo:
• Livro de Registro dos Saberes: onde serão inscritos conhecimentos e modos
de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;
• Livro de Registro das Celebrações: onde serão inscritos rituais e festas que
marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e
de outras práticas da vida social;
• Livro de Registro das Formas de Expressão: onde serão inscritas
manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
• Livro de Registro dos Lugares: onde serão inscritos mercados, feiras,
santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem
práticas culturais coletivas.
O processo de registro será levado à apreciação do IPHAN, que emitirá parecer
acerca da proposta e posteriormente submetido à decisão do Conselho Consultivo do
Patrimônio Cultural. Em caso de decisão favorável do Conselho Consultivo do
Patrimônio Cultural, o bem será inscrito no livro correspondente e receberá o título de
"Patrimônio Cultural do Brasil".
Ressalte-se, ainda, que o IPHAN fará a reavaliação dos bens culturais
registrados, pelo menos a cada 10 anos, e a encaminhará ao Conselho Consultivo do

109
Daniela Adamek

Patrimônio Cultural para decidir sobre a revalidação do título de "Patrimônio Cultural


do Brasil".

2.5.2. Tombamento

O tombamento é um instrumento de proteção de bens culturais materiais e


encontra disciplina no Decreto-Lei nº 25/1937, que organiza a proteção do patrimônio
histórico e artístico nacional e foi recepcionado pela ordem constitucional vigente. O
tombamento pode ser definido em duas acepções:
• Tombamento em sentido amplo:
Nesse sentido, o tombamento é um procedimento administrativo que veicula
uma modalidade não supressiva de intervenção concreta do Estado na propriedade.
Esta propriedade poderá ser pública ou privada.
O tombamento tem índole declaratória, pois reconhece o bem como
patrimônio cultural. Além disso, tem o condão de limitar o uso, o gozo e a disposição
do bem.
Em regra, o tombamento é gratuito, pois o proprietário de um bem
tombamento não tem direito à indenização. No entanto, é possível que o proprietário
do bem tombado comprove que experimentou prejuízos efetivos. Neste caso, caberá
a indenização, conforme entendeu o STJ.
Ainda, o tombamento tem caráter permanente e é indelegável, destinado à
preservação do patrimônio cultural material.
O tombamento pode se dar sobre bens móveis ou imóveis, e poderá recair
sobre monumentos naturais, sítios e paisagens de feição notável.
• Tombamento em sentido estrito:
Nessa acepção, o tombamento é ato administrativo, sendo o ato de inscrição
de um bem material em um dos Livros do Tombo.
Com efeito, existe divergência sobre a natureza jurídica do tombamento,
havendo três correntes doutrinárias:
1. É uma limitação administrativa ao direito de propriedade.
2. É uma servidão administrativa.
3. É uma modalidade autônoma de intervenção.
Prevalece o entendimento de que se trata de uma limitação administrativa ao
direito de propriedade.
A competência para proteger o bem tombado é uma competência comum, de
forma que o tombamento pode ser realizado por qualquer dos entes federativos. É
possível ainda que haja o tombamento de um determinado bem por mais de uma
entidade política. Assim, um mesmo bem poderá ser tombado pela União e
posteriormente por um Município.
Cabe ressaltar, ainda, que o tombamento poderá ser voluntário ou
compulsório:
• Tombamento voluntário ocorre quando é consentido pelo proprietário.
• Tombamento compulsório, a seu turno, ocorre quando não é consentido pelo
proprietário.
110
Daniela Adamek

O tombamento também poderá se dar em relação a bens públicos. Nesse caso,


o tombamento é denominado de tombamento de ofício. Inclusive, é possível que haja
o tombamento de um bem da União por um Município.
O STJ admitiu o tombamento de um bem federal por Município, ainda que a
União não tenha concordado. Para tanto, fundamentou-se no fato de que a União
continuou sendo a proprietária do bem, sendo certo que a competência para a
promoção do tombamento é comum entre os entes federados.
No mesmo sentido, singra a recente jurisprudência do STF firmada nos autos da
ACO 1.208, em que o Ministro Gilmar Mendes ressaltou que

a legislação federal veda a desapropriação dos bens da União pelos Estados,


segundo o Decreto-Lei 3.365/1941, mas não há referência a tal restrição
quanto ao tombamento, disciplinado no Decreto-Lei 25/1937. A lei do
tombamento apenas indica ser aplicável a bens pertencentes a pessoas física e
pessoa jurídicas de direito privado e de direito público interno.

Ainda, é prevista uma cautelar denominada tombamento provisório. Trata-se


de uma medida cautelar que tem por objetivo proteger o bem até que haja o
tombamento definitivo. O tombamento provisório surte efeitos desde o momento em
que o proprietário é notificado até o momento em que haja o tombamento definitivo.
Na esfera federal, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possui
4 Livros do Tombo, conforme Decreto 25/37:
 Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: as coisas
pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e
popular.
 Livro do Tombo Histórico: as coisas de interesse histórico e as obras de arte
histórica;
 Livro do Tombo das Belas Artes: as coisas de arte erudita, nacional ou
estrangeira;
 Livro do Tombo das Artes Aplicadas: as obras que se incluírem na categoria
das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.
É importante mencionar que o registro em cartório apenas dá a publicidade ao
tombamento. Isso significa dizer que o registro cartorário não constitui o
tombamento. O tombamento tem eficácia desde a notificação do proprietário,
quando se tratar de tombamento provisório, ou desde a inscrição do bem no Livro do
Tombo, quando se tratar de tombamento definitivo.
Se o bem for imóvel, deve-se fazer o registro do tombamento no Cartório de
Registro de Imóveis. Se o bem for móvel, o registro será no Cartório de Registro de
Títulos e Documentos.
As coisas tombadas não podem ser destruídas ou demolidas, ou mutiladas de
forma alguma. No caso de necessidade de restauração ou pintura do bem, o
proprietário deverá pedir autorização prévia do órgão ambiental.
Os bens que estão próximos ao bem tombado, sem prévia autorização,
também não poderão fazer uma construção que impeça ou que afete a visibilidade
do bem tombado. Além disso, os bens da vizinhança não poderão colocar cartazes ou
111
Daniela Adamek

anúncios sem a autorização do órgão competente, no tocante ao bem tombado. Caso


o façam, estarão sujeitos a pena de multa.
Cabe ao proprietário arcar com a manutenção do bem tombado ou com a
reparação do bem tombado. Caso não tenha recursos para custear a restauração ou
manutenção do bem, deverá requerer ao Poder Público para que arque com essas
despesas.
É ainda previsto o direito de preferência (preempção) na aquisição de bens
privados que foram tombados pelo Poder Público. Isto significa dizer que, se o
proprietário quiser vender o bem pelo mesmo preço, o Poder Público tem a
preferência em adquiri-lo.
Os bens públicos tombados passam a ser inalienáveis aos particulares,
deixando de ser considerados bens dominiais, pois passam a estar afetados à
preservação ambiental.
Prevalece na doutrina que a instituição do tombamento pode se dar por meio
de lei, mas também é possível a instituição de tombamento pela via judicial, mediante
a propositura de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985), que busca tutelar, dentre
outros, “bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.
Todavia, existe precedente do STF no sentido de que o tombamento por lei é
inadmissível, pois violaria o princípio da separação dos poderes. Isso porque, o ato de
tombar seria um ato próprio do Poder Executivo, não cabendo ao Poder Legislativo
fazê-lo, sob pena de violação à separação dos poderes. Mais recentemente, no
entanto, a Corte, nos autos da ACO 1.208, o Plenário entendeu pela possibilidade de
lei do Estado do Mato Grosso do Sul tombar bem público da União. Ressalte-se,
contudo, que a edição da lei tem efeito meramente declaratório, sendo certo que a
implementação do tombamento deverá se dar por atos praticados pelo Poder
Executivo. Veja-se a ementa do acórdão, publicado em 2017:

Agravo em ação cível originária. 2. Administrativo e Constitucional. 3.


Tombamento de bem público da União por Estado. Conflito Federativo.
Competência desta Corte. 4. Hierarquia verticalizada, prevista na Lei de
Desapropriação (Decreto-Lei 3.365/41). Inaplicabilidade no tombamento.
Regramento específico. Decreto-Lei 25/1937 (arts. 2º, 5º e 11). Interpretação
histórica, teleológica, sistemática e/ou literal. Possibilidade de o Estado
tombar bem da União. Doutrina. 5. Lei do Estado de Mato Grosso do Sul
1.526/1994. Devido processo legal observado. 6. Competências concorrentes
material (art. 23, III e IV, c/c art. 216, § 1º, da CF) e legislativa (art. 24, VII, da
CF). Ausência de previsão expressa na Constituição Estadual quanto à
competência legislativa. Desnecessidade. Rol exemplificativo do art. 62 da
CE. Proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico regional. Interesse estadual. 7. Ilegalidade. Vício de
procedimento por ser implementado apenas por ato administrativo.
Rejeição. Possibilidade de lei realizar tombamento de bem. Fase provisória.
Efeito meramente declaratório. Necessidade de implementação de
procedimentos ulteriores pelo Poder Executivo. 8. Notificação prévia.
Tombamento de ofício (art. 5º do Decreto-Lei 25/1937). Cientificação do
proprietário postergada para a fase definitiva. Condição de eficácia e não de
112
Daniela Adamek

validade. Doutrina. 9. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão


agravada. 10. Agravo desprovido. 11. Honorários advocatícios majorados para
20% do valor atualizado da causa à época de decisão recorrida (§ 11 do art. 85
do CPC).
Destaque-se que há tombamento feito diretamente pela Constituição
Federal, o qual incide sobre documentos e sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos.

Por fim, é possível que haja o destombamento, nas seguintes hipóteses:


• Quando houver equívoco na valoração cultural do bem: o bem não deveria
ser tombado;
• Quando houver um vício que anule o processo administrativo de
tombamento;
• Quando houver omissão do Poder público com relação à restauração das
obras do bem tomado, diante da falta de recursos do proprietário para arcar
com as obras: o art. 19, §2º, do Decreto-Lei nº 25/37 admite expressamente o
destombamento, estabelecendo que o cancelamento do tombamento é
possível quando o poder público não arcar com as obras da restauração na
hipótese de o proprietário não ter recursos para arcar com essas obras.

3. EXERCÍCIOS

1. FGV/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2008 (Adaptado)


Julgue o item seguinte:
A proteção do meio ambiente, o combate à poluição e a preservação das florestas, da
fauna e da flora são de competência comum da União, dos Estados, dos Municípios e
do Distrito Federal.

Comentários
O item está correto, nos moldes do que dispõe o art. 23, III e IV, da CF/88.

2. PGR/Procurador da República/2015
Lei estadual conferia a proteção, guarda e responsabilidade pelos sítios arqueológicos
e seus acervos aos municípios em que se localizassem.
a) Essa lei foi declarada inconstitucional porque a competência comum para proteger
os sítios arqueológicos não pode ser afastada do Estado e da União.
b) Essa lei foi declarada inconstitucional porque a competência legislativa sobre
responsabilidade por dano a bens de valor histórico e paisagístico é privativa da União.
c) Essa lei foi considerada constitucional porque o Estado possui competência
legislativa suplementar exclusiva para cuidar da proteção ao patrimônio histórico-
cultural.
d) Essa lei foi considerada constitucional porque se trata de competência dos
municípios para legislar sobre assuntos de interesse local.

113
Daniela Adamek

Comentários
A alternativa correta está na letra A, na medida em que a CF/88, em seu art. 23, III e
IV, determina ser competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios.
Referido encargo, nos termos da jurisprudência do STF (vide ADI 2.544), não comporta
demissão unilateral.

3. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJCE/2014


O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de determinado Município estudou uma
dança folclórica típica do local, pretendendo preservá-la. Para tanto,
a) não poderá proteger a dança, por se tratar de patrimônio imaterial.
b) encaminhará o estudo à Secretaria de Cultura do Estado, diante da incompetência
municipal para a preservação do patrimônio cultural.
c) poderá registrar tal dança folclórica por se tratar de patrimônio imaterial.
d) encaminhará o estudo ao IPHAN, uma vez que os Municípios não possuem
competência para a tutela do patrimônio cultural.
e) efetivará o tombamento da citada dança folclórica.

Comentários
Conforme art. 216 da CF, o registro é previsto como forma de tutela de bens culturais
imateriais, já que o tombamento não é compatível com a proteção de bens intangíveis.
Dessa forma, uma dança folclórica, como bem intangível, deverá ser objeto de
registro. Portanto, o item correto está na letra C.

4. CESPE/Juiz Federal Substituto/TRF da 5ª Região/2007 (Adaptado)


Com relação ao meio ambiente cultural, julgue o item que se segue:
Os modos de criar e de fazer enraizados no cotidiano de comunidades, tais como
técnicas tradicionais de construção naval, integram o patrimônio cultural brasileiro,
sendo meio idôneo para a sua proteção o registro.

Comentários
O item está correto. Veja o que dispõe o art. 1º do Decreto nº 3.551/2000, que
instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem patrimônio
cultural brasileiro:

Art. 1º Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que


constituem patrimônio cultural brasileiro.
§ 1º Esse registro se fará em um dos seguintes livros:
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos
de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;

Verifica-se, pois, que o registro é a forma adequada para a tutela de patrimônio


imaterial, como técnicas tradicionais de construção naval.

114
Daniela Adamek

5. CESPE/Juiz Federal Substituto/TRF da 5ª Região/2007 (Adaptado)


Julgue o item que se segue:
Por ser comum a competência material para proteção do patrimônio cultural, a União,
o estado e o município podem, simultaneamente, instituir tombamento sobre um
mesmo bem, desde que haja relevância histórico-cultural de âmbito local, regional ou
nacional.

Comentários
O item está correto. Lembre-se que a referida competência está elencada no art. 23, III
e IV, da CF/88. Nesse sentido, a jurisprudência do STF admite o tombamento de um
mesmo bem por mais de uma entidade política, bem como tombamento de bem da
União por meio de lei estadual (vide ACO 1208).

115
Daniela Adamek

CAPÍTULO 8 — POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

1. INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi instituída pela Lei Federal nº
9.433/1997, regulamentando, também, o inciso XIX do art. 21 da CF/88, que trata da
competência privativa da União para instituir o sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos e definir critérios de outorgar de direitos de seu uso.
O art. 1º da PNRH estabelece seus fundamentos:

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes


fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

1.1. Domínio dos recursos hídricos

Nos termos dos arts. 20 e 26 da CF/88, os corpos hídricos jamais serão de


propriedade particular, sendo, portanto, bem da União ou do Estado, em caráter
residual:

Art. 20. São bens da União:


[...]
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio,
ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se
estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos
marginais e as praias fluviais;
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que
contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço
público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
[...]
VI - o mar territorial;
[...]
VIII - os potenciais de energia hidráulica;

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

116
Daniela Adamek

I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,


ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;

1.2. Bacia hidrográfica

A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da PNRH e


atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Trata-se da
área que em que corre a drenagem das águas destinadas a um curso de água.
No Brasil, as principais bacias hidrográficas são:
• Bacia do Amazonas;
• Bacia Tocantins-Araguaia;
• Bacia do Rio Paraíba;
• Bacia do Rio São Francisco;
• Bacia do Rio Paraná;
• Bacia do Rio Paraguai;
• Bacia do Rio Paraíba do Sul;
• Bacia do Rio Uruguai.

Com a finalidade de orientar e implementar o PNRH, o Conselho Nacional de


Recursos Hídricos (CNRH) editou a Resolução 32/03, que instituiu 12 regiões
hidrográficas. Região hidrográfica, portanto, é um espaço territorial compreendido por
uma bacia hidrográfica, conjunto de bacias ou mesmo por microbacias hidrográficas
contíguas, que tenham características naturais, sociais, econômicas homogêneas, ou
características similares. Tem por escopo orientar o planejamento e o gerenciamento
dos recursos hídricos nessas regiões hidrográficas.
Nos termos da PNRH, a gestão dos recursos hídricos será descentralizada e
tripartite:
1. poder público;
2. usuários; e
3. as comunidades abrangidas pelas bacias hidrográficas.

2. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,
em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o
transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem
natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de
águas pluviais.

117
Daniela Adamek

3. INSTRUMENTO DA PNRH

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

3.1. Planos de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a fundamentar


e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o
gerenciamento dos recursos hídricos.
Importante destacar que esses planos serão elaborados por bacia hidrográfica,
por Estado e para o País.
A norma estabelece como conteúdo mínimo dos planos o seguinte:

Art. 7º Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com


horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus
programas e projetos e terão o seguinte conteúdo mínimo:
I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;
II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de
atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;
III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos
em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da
qualidade dos recursos hídricos disponíveis;
V - medidas a serem tomadas para o atendimento das metas previstas;
VI - (VETADO)
VII - (VETADO)
VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;
IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à
proteção dos recursos hídricos.

3.2. Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos


preponderantes da água

Art. 9º O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos


preponderantes da água, visa a:
I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que
forem destinadas;

118
Daniela Adamek

II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações


preventivas permanentes.

3.3. Outorga dos direitos de uso de Recursos Hídricos

O fundamento para exigência de outorga dos direitos de uso de recursos


hídricos está em assegurar o controle quantitativo e qualitativo do uso da água. Desse
modo, a outorga é efetivada por ato da autoridade competente do Poder Executivo
Federal, Estadual ou Distrital.
O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao DF a competência
para conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio da União. No
entanto, Municípios não outorgam uso de águas.

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes
usos de recursos hídricos:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água
para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo
produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou
gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição
final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água
existente em um corpo de água.
§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em
regulamento:
I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos
núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;
II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Tem-se, portanto, que, em regra a utilização da água irá exigir a outorga.


Todavia, ela não implicará alienação parcial das águas (que são inalienáveis), mas
apenas direito de uso.
Não poderá ter prazo superior a 35 anos, sendo, no entanto, renovável. É
onerosa, materializando o princípio do usuário-pagador.
A outorga do direito de uso de recursos hídricos para concessionária e para
autorizadas dos serviços públicos, bem como de geradora de energia elétrica, terá um
prazo de duração que coincidirá com o prazo de concessão firmado com a
Administração Pública, ou com o prazo da autorização concedida.
Poderá sofrer suspensão, total ou parcialmente, temporária ou
definitivamente, nas seguintes situações:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;

119
Daniela Adamek

II - ausência de uso por três anos consecutivos;


III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade,
inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;
IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os
quais não se disponha de fontes alternativas;
VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do
corpo de água.

A outorga é ato precário, tendo natureza de autorização administrativa, já que


a qualquer momento pode ser suspensa.
A Resolução nº 16/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos
estabeleceu critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos.
Sobre sua extinção, sem direito à indenização, dispôs que:

Art. 25. A outorga de direito de uso de recursos hídricos extingue-se, sem


qualquer direito de indenização ao usuário, nas seguintes circunstâncias:
I - morte do usuário - pessoa física;
II - liquidação judicial ou extrajudicial do usuário - pessoa jurídica; e
III - término do prazo de validade de outorga sem que tenha havido tempestivo
pedido de renovação.
Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, os herdeiros ou
inventariantes do usuário outorgado, se interessados em prosseguir com a
utilização da outorga, deverão solicitar em até cento e oitenta dias da data do
óbito, a retificação do ato administrativo da portaria, que manterá seu prazo e
condições originais, quando da definição do(s) legítimo(s) herdeiro(s), sendo
emitida nova portaria, em nome deste(s).

A Agência Nacional de Águas (ANA), a seu turno, poderá emitir outorgas


preventivas, ou seja, antes da exploração, conforme preconizado na Lei nº 9.984/2000
que dispõe sobre a criação da ANA, entidade federal de implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. A propósito:

Art. 6º A ANA poderá emitir outorgas preventivas de uso de recursos hídricos,


com a finalidade de declarar a disponibilidade de água para os usos
requeridos, observado o disposto no art. 13 da Lei no 9.433, de 1997.
§ 1º A outorga preventiva não confere direito de uso de recursos hídricos e se
destina a reservar a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores,
o planejamento de empreendimentos que necessitem desses recursos.
§ 2º O prazo de validade da outorga preventiva será fixado levando-se em
conta a complexidade do planejamento do empreendimento, limitando-se ao
máximo de três anos, findo o qual será considerado o disposto nos incisos I e II
do art. 5º.

Vale lembrar, ainda, que a concessão de outorga não dispensa o licenciamento


ambiental prévio e é pressuposto para a concessão de instalação e de operação

120
Daniela Adamek

daquele empreendimento que exerça atividade com recursos hídricos acima dos
limites.
Desse modo, o órgão do SISNAMA responsável pelo licenciamento ambiental,
deverá exigir a outorga da água antes de conceder as licenças de instalação e de
operação.

3.3.1. Exploração de recursos hídricos em terras indígenas

CF/88:
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;

3.4. Cobrança pelo uso de recursos hídricos

A cobrança pelo uso de recursos hídricos é mais um instrumento da Política


Nacional de Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/1997).

Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:


I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de
seu real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e
intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos
termos do art. 12 desta Lei.

Art. 21. Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos
hídricos devem ser observados, dentre outros:
I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu
regime de variação;
II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o
volume lançado e seu regime de variação e as características físico-químicas,
biológicas e de toxidade do afluente.

Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos
serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e
serão utilizados:
I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos
Planos de Recursos Hídricos;
II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos
órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos.
§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é limitada a
sete e meio por cento do total arrecadado.

121
Daniela Adamek

§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a fundo


perdido em projetos e obras que alterem, de modo considerado benéfico à
coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um corpo de
água.

Saliente-se, por fim, que o STJ firmou entendimento no sentido de que o


faturamento de serviço de fornecimento de água com base na tarifa progressiva é
legítimo, atendendo ao interesse público, pois estimula o uso racional da água.

3.5. Compensação a municípios

Esse instrumento ainda não foi regulamentado, uma vez que o artigo da PNRH
que tratava do assunto foi vetado pelo Presidente da República.

3.6. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (SIRH)

SIRH tem como objetivo a coleta, tratamento, armazenamento e recuperação


de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão.
Os dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos serão incorporados ao Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos.
São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Informações sobre
Recursos Hídricos:

Art. 26. [...]


I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações;
II – coordenação unificada do sistema;
III - acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.

Por sua vez, são objetivos do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
Hídricos:

Art. 27 [...]
I - reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação
qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;
II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e
demanda de recursos hídricos em todo o território nacional;
III - fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

4. SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS (SNGRH)

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é composto por:

Art. 33 [...]
I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
I-A. – a Agência Nacional de Águas;
122
Daniela Adamek

II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;


III – os Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e
municipais cujas competências se relacionem coma gestão de recursos
hídricos;
V – as Agências de Água.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem os seguintes


objetivos:

Art. 32. [...]


I - coordenar a gestão integrada das águas;
II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos
hídricos;
III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos
recursos hídricos;
V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

4.1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o


Conselho Nacional de Recursos Hídricos tem como Presidente o Ministro de Estado do
Desenvolvimento Regional e um Secretário-Executivo, que será o titular do órgão
integrante do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:


I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República
com atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;
II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;
IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.

O órgão tem competência para:

Art. 35. [...]


I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os
planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;
II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas
repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;
IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia
Hidrográfica;
V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos
hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos;

123
Daniela Adamek

VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política


Nacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e
estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
VIII - (VETADO)
IX - acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos
e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos
hídricos e para a cobrança por seu uso.
XI - zelar pela implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens
(PNSB);
XII - estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus
instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança
de Barragens (SNISB);
XIII - apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo, se necessário,
recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como encaminhá-
lo ao Congresso Nacional.

Ressalte-se, por fim, que também cabe ao Conselho Nacional de Recursos


Hídricos estabelecer os valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos de
domínio da União.

4.2. Agência Nacional de Águas (ANA)

É uma autarquia federal em regime especial, responsável pela normatização


regulatória do setor, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e responsável pela
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos.
A Lei nº 9.984/2000, que dispõe sobre a criação dessa autarquia, estabelece
como suas competências específicas:

Art. 4º A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos, diretrizes e


instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e será desenvolvida em
articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cabendo-lhe:
I – supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do
cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos;
II – disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o
controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos
Hídricos;
III – (VETADO)
IV – outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos
hídricos em corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos
arts. 5º, 6º, 7º e 8º;
V – fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da
União;

124
Daniela Adamek

VI – elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho


Nacional de Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de
recursos hídricos de domínio da União, com base nos mecanismos e
quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia Hidrográfica, na forma do
inciso VI do art. 38 da Lei nº 9.433, de 1997;
VII – estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de
Bacia Hidrográfica;
VIII – implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a
cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;
IX – arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da
cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, na forma do
disposto no art. 22 da Lei nº 9.433, de 1997;
X – planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos
de secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de
Defesa Civil, em apoio aos Estados e Municípios;
XI – promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos
financeiros da União em obras e serviços de regularização de cursos de água,
de alocação e distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em
consonância com o estabelecido nos planos de recursos hídricos;
XII – definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por
agentes públicos e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos
hídricos, conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos das
respectivas bacias hidrográficas;
XIII – promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da
rede hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades
públicas ou privadas que a integram, ou que dela sejam usuárias;
XIV – organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre
Recursos Hídricos;
XV – estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão
de recursos hídricos;
XVI – prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos
hídricos;
XVII – propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de
incentivos, inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de
recursos hídricos.
XVIII – participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e
supervisionar a sua implementação.
XIX – regular e fiscalizar, quando envolverem corpos d'água de domínio da
União, a prestação dos serviços públicos de irrigação, se em regime de
concessão, e adução de água bruta, cabendo-lhe, inclusive, a disciplina, em
caráter normativo, da prestação desses serviços, bem como a fixação de
padrões de eficiência e o estabelecimento de tarifa, quando cabíveis, e a
gestão e auditagem de todos os aspectos dos respectivos contratos de
concessão, quando existentes.
XX – organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre
Segurança de Barragens (SNISB);
XXI – promover a articulação entre os órgãos fiscalizadores de barragens;
125
Daniela Adamek

XXII – coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens e


encaminhá-lo, anualmente, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),
de forma consolidada;
XXIII – declarar a situação crítica de escassez quantitativa ou qualitativa de
recursos hídricos nos corpos hídricos que impacte o atendimento aos usos
múltiplos localizados em rios de domínio da União, por prazo determinado,
com base em estudos e dados de monitoramento, observados os critérios
estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, quando houver; e
XXIV – estabelecer e fiscalizar o cumprimento de regras de uso da água, a fim
de assegurar os usos múltiplos durante a vigência da declaração de situação
crítica de escassez de recursos hídricos a que se refere o inciso XXIII do caput
deste artigo.

4.3. Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal

Terão competências simétricas.

4.4. Comitês de Bacia Hidrográfica

São órgãos colegiados, que têm atribuições deliberativa, normativa e


consultiva. Essas atribuições são exercidas na bacia hidrográfica de sua jurisdição.
Os Comitês de Bacia Hidrográfica são vinculados ao Conselho Nacional de Recursos
Hídricos ou ao Conselho Estadual ou Distrital, a depender da entidade pública titular
da bacia hidrográfica. Lei 9.433/97:

Art. 37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:


I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;
II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou
de tributário desse tributário; ou
III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.
Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de
domínio da União será efetivada por ato do Presidente da República.

Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação:

I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular


a atuação das entidades intervenientes;
II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos
recursos hídricos;
III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;
IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir
as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca
expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de
uso de recursos hídricos, de acordo com os domínios destes;

126
Daniela Adamek

VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e


sugerir os valores a serem cobrados;
VII - (VETADO)
VIII - (VETADO)
IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso
múltiplo, de interesse comum ou coletivo.
Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá
recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos, de acordo com sua esfera de competência.

A composição dos Comitês se dará mediante representantes:

I - da União;
II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que
parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação;
III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação;
IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;
V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.
§ 1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo, bem
como os critérios para sua indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos
comitês, limitada a representação dos poderes executivos da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios à metade do total de membros.
§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços e
transfronteiriços de gestão compartilhada, a representação da União deverá
incluir um representante do Ministério das Relações Exteriores.
§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam
terras indígenas devem ser incluídos representantes:
I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da
União;
II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

4.5. Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do DF e municipais cujas


competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos

A lei não tratou expressamente sobre o tema.

4.6. Agências de Água

Exercem a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos


Comitês de Bacia Hidrográfica, conforme determinam os arts. 41 e seguintes da PNRH.
Dessa forma a existência de uma agência de água pressupõe a existência de um comitê
de bacia hidrográfica, que será assessorado por ela, e, por consequência, a sua área de
atuação será a mesma do Comitê ou dos Comitês aos quais estiver vinculada.

Art. 42. As Agências de Água terão a mesma área de atuação de um ou mais


Comitês de Bacia Hidrográfica.

127
Daniela Adamek

Parágrafo único. A criação das Agências de Água será autorizada pelo Conselho
Nacional de Recursos Hídricos ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos mediante solicitação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica.

Art. 43. A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimento dos


seguintes requisitos:
I - prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia
Hidrográfica;
II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos
hídricos em sua área de atuação.

Art. 44. Compete às Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação:


I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua
área de atuação;
II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;
III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de
recursos hídricos;
IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados
com recursos gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e
encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses
recursos;
V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a
cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;
VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de
atuação;
VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução
de suas competências;
VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do
respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;
IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em
sua área de atuação;
X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê
de Bacia Hidrográfica;
XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:
a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para
encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de
Recursos Hídricos, de acordo com o domínio destes;
b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;
c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de
recursos hídricos;
d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou
coletivo.

128
Daniela Adamek

4.7. Organizações Civis de Recursos Hídricos

A PNRH determina que determinadas organizações civis de recursos hídricos


legalmente constituídas também poderão integrar o Sistema Nacional de Recursos
Hídricos. São elas:

Art. 47. [...]


I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;
II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;
III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de
recursos hídricos;
IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses
difusos e coletivos da sociedade;
V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.

5. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA

O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental é um dos instrumentos


da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9º da PNMA). A Lei nº 6.938/81 determina
que cabe ao CONAMA instituir normas e padrões relativos ao controle e qualidade do
meio ambiente:

Art. 8º Compete ao CONAMA:


[...]
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos
recursos ambientais, principalmente os hídricos.

Esse instrumento tem por escopo permitir o uso racional dos recursos
ambientais, com destaque para os recursos hídricos, na medida em que no processo
de estabelecimento de padrões de qualidade ambiental busca-se enquadrar os
recursos hídricos de acordo com níveis ou graus de qualidade, expressos,
normalmente, em termos numéricos que atendam a determinadas funções.

5.1. Corpos d’água superficiais

O CONAMA, por meio da Resolução 357/2005, classificou as águas em doces,


salobras ou salinas.
Assim, o enquadramento dos corpos d’água superficiais se dá seguinte forma:
• Águas doces: com salinidade de até 0,5%;
• Águas salobras: com salinidade de 0,5% a 30%;
• Águas salinas: com salinidade superior a 30%;
I.
Essa classificação tem por objetivo estabelecer o uso preponderante do corpo
hídrico. Com base nela, os órgãos ambientais conferirão destino ao uso dessa água.
129
Daniela Adamek

Ressalte-se que o lançamento de efluentes provenientes de fontes poluidoras


nesses corpos d’água somente poderá se dar após tratamento.

5.2. Águas destinadas à balneabilidade

A Resolução 274/2000 do CONAMA define os padrões de qualidade das águas


destinadas ao banho.
Desse modo, elas se classificarão em:
• Águas próprias: são águas excelentes, muito boas ou satisfatórias para o
contato primário.
• Águas impróprias: neste caso, não poderá a água ser utilizada para o contato
primário. Se água for imprópria será necessário interditar o local, ainda que se
trate de praia.

5.3. Águas subterrâneas

Por sua vez, a Resolução 396/2008 do CONAMA disciplina as águas


subterrâneas, ou seja, cujos cursos ocorrem no subsolo, seja natural ou
artificialmente.
Essas águas são bens dos Estados-membros e do DF e são classificadas de
acordo com seus padrões de qualidade.

6. EXERCÍCIOS

1. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJAL/2019


A política nacional de recursos hídricos instituída pela Lei n° 9.433/1997, estabelece,
como um de seus instrumentos,
a) a possibilidade de cobrança pelo uso de recursos hídricos sujeitos a outorga, o que
não se confunde com taxa ou tarifa cobrada pelo fornecimento domiciliar de água
tratada e coleta de esgoto.
b) a outorga onerosa dos direitos de uso dos recursos hídricos, conferida
exclusivamente para geração de energia por pequenas centrais hidrelétricas, com
potencial de geração de até 30 MW.
c) os planos de recursos hídricos, elaborados de forma centralizada pela Agência
Nacional de Águas (ANA) e de aplicação compulsória pelos Estados e Municípios que
integrem a correspondente Bacia Hidrográfica.
d) o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, órgão do Ministério de
Minas e Energia responsável pelo licenciamento ambiental de hidrelétricas e outros
empreendimentos que impactem de forma relevante as reservas hídricas disponíveis.
e) a classificação indicativa de cursos de água, com o enquadramento dos rios e
afluentes de todo o território nacional nas categorias “A”, “B” ou “C”, conforme a
prioridade, respectivamente, para consumo humano, dessedentação de animais ou
geração de energia elétrica.
130
Daniela Adamek

Comentários
Nos termos do art. 5º da Lei nº 9.433/1997, Política Nacional de Recursos Hídricos, são
seus instrumentos:

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Por sua vez, quanto aos objetivos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, dispõe o
art. 19 da norma:

Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:


I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de
seu real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e
intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Por fim, o art. 20 determina que:

Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos
termos do art. 12 desta Lei.

Assim, há previsão da cobrança pelo uso da água pela PNRS, cujos objetivos estão
elencados no art. 19. Ressalte-se que a cobrança pela utilização não se confunde com
impostos ou tarifas cobradas pelas distribuidoras de água pela cidade, mas sim uma
remuneração pelo uso de um bem público. Portanto, a resposta correta está na letra
A.

2. VUNESP/SAAE de Barretos-SP/Engenheiro Civil/2018


Conforme a Lei Federal de Recursos Hídricos, Lei n° 9.433/1997, o regime de outorga
de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso
à água. Contudo, independe de outorga pelo Poder Público
a) o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos no meio rural.
b) a captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final,
inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo.

131
Daniela Adamek

c) extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de


processo produtivo.
d) lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final.
e) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos.

Comentários
O art. 12, § 1º estabelece as atividades que independem de outorga para utilização da
água:

§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em


regulamento:
I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos
núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;
II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Dessa forma, a resposta está contida no item A.

3. VUNESP/AresPCJ-SP/Procurador Jurídico/2018
Tendo em vista os fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, conforme
disciplinado na Lei n° 9.433/1997, é correto afirmar que
a) a água é um bem de domínio público ou privado.
b) a água é um recurso natural limitado, sem valor econômico.
c) em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos se destina
exclusivamente ao consumo humano.
d) a gestão dos recursos hídricos deve ser centralizada e contar com a participação do
Poder Público, dos usuários e das comunidades.
e) a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas.

Comentários
Veja o que dispõe o artigo inicial da PNRS:
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;

132
Daniela Adamek

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a


participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Portanto, a resposta da questão está no item E.

4. VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRS/2018


No tocante às águas, nos termos da Constituição Federal e da Lei das Águas, assinale a
alternativa correta.
a) Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não inferior
a vinte e cinco anos, renovável.
b) Os planos de Recursos Hídricos são elaborados por bacia hidrográfica, por Município
e por Estado.
c) São bens da União todas as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
e em depósito.
d) Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão
aplicados exclusivamente na bacia hidrográfica em que foram gerados.
e) A União tem competência privativa para legislar sobre águas.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a PNRS determina que o prazo máximo de outorga
de direitos de uso de recursos hídricos não será superior a 35 (trinta e cinco) anos (art.
16).
A alternativa B está incorreta, porquanto os planos de recursos hídricos são
elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o país. Não há previsão de
elaboração por Município (art. 8º).
A alternativa C está incorreta, pois as águas superficiais, subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, nos termos do art. 26, I, da CF/88, são bens estaduais.
A alternativa D está incorreta, na medida em que o art. 22 da PNRS prevê a aplicação
prioritária, e não exclusiva, desses recursos na bacia hidrográfica em que foram
gerados.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 22, IV, da CF/88.

5. CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJAM/2016


Com relação aos recursos hídricos, assinale a opção correta.
a) Compete ao Comitê Nacional de Recursos Hídricos organizar, implantar e gerir o
Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens.
b) Além do representante da FUNAI, os comitês de bacias hidrográficas de rios que
abranjam terras indígenas incluirão representante das comunidades indígenas.
c) Conforme a localização dos corpos d’água, seu domínio divide-se entre a União, os
estados (e, por analogia, o DF) e os municípios.
d) As competências dos comitês de bacias hidrográficas incluem o exercício do poder
de polícia.

133
Daniela Adamek

e) Cabe à Agência Nacional de Águas, outorgar, mediante permissão, o direito de uso


de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, dos estados e do DF.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois, a referida competência encontra-se no rol do art.
4º da Lei nº 9.984/2000, que elenca as atribuições da Agência Nacional de Águas.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 39, § 3º, I e II, da
PNRS:

§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam


terras indígenas devem ser incluídos representantes:
I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da
União;
II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

A alternativa C está incorreta, pois não há corpos hídricos cujo domínio seja municipal,
conforme estabelece a Constituição Federal.
A alternativa D está incorreta, na medida em que não há inclusão do poder de política
entre as competências dos comitês de bacias hidrográficas.
A alternativa E está incorreta, porquanto a competência da ANA resume-se à outorga
em corpos de água de domínio da União.

134
Daniela Adamek

CAPÍTULO 9 — RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS

1. INTRODUÇÃO

Existem três facetas da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente:


• Preventiva: adoção de medidas preventivas, como a exigência de
licenciamentos ambientais e publicação de EIA/RIMA. Cuida-se da essência do
direito ambiental.
• Repressiva: administrativa e penal. Trata-se da sanção aplicada após o dano
ter se efetivado.
• Reparadora: responsabilidade civil, na modalidade objetiva.
O art. 14, § 1º, da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), dispõe
que:

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o


poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente.

Assim, no âmbito do direito ambiental, existem duas teorias que explicam a


responsabilidade civil objetiva preconizada pela PNMA e recepcionada pela CF/88,
pois, segundo o art. 225, §3º, da CF, as condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Este dispositivo consagra as três responsabilidades a respeito da violação ao
meio ambiente: responsabilização nas esferas penal, administrativa e civil.
São teorias que explicam a responsabilização na esfera civil:
1. Teoria do Risco Integral (adotada no Brasil): para essa teoria, há dever de
indenizar inclusive nos casos de culpa exclusiva da vítima, caso fortuito (evento
causado pela ação humana de terceiros) ou força maior (evento causado pela
natureza). A doutrina majoritária entende que o art. 225, § 3º, da CF,
recepcionou o art. 14, § 1º, da PNMA. Isso porque o dispositivo da PNMA não
admite a interpretação de que hipóteses de caso fortuito ou força maior sejam
capazes de excluir a responsabilização civil.
2. Teoria do Risco Criado ou Risco Proveito: para essa teoria, há possibilidade
de exclusão ou diminuição do dever de indenizar nos casos de culpa exclusiva
da vítima, caso fortuito ou força maior.
Já no que tange à responsabilização do Estado quanto à ocorrência de danos
ambientais, em regra, nos termos do art. 37, § 6º, da CF, ela será OBJETIVA. No
entanto, nos casos em que o dano tenha sido causado em decorrência da omissão do
poder público no exercício do poder de política, a responsabilização será SUBJETIVA.
A propósito, veja o enunciado aprovado pelo STJ, em edição do “Jurisprudência em
Teses” sobre direito ambiental:
135
Daniela Adamek

Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando


a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for
determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado.

Em alguns casos, a legislação ambiental determina que não é preciso


demonstrar o nexo de causalidade entre a ação/omissão e o dano. São os casos em
que a responsabilidade pelo dano ambiental é propter rem, ou seja, segue a coisa. A
título de exemplo, pode-se citar a hipótese da alienação de uma propriedade cuja área
de reserva legal esteja em desacordo com a legislação florestal. Nesse caso, o novo
proprietário deverá restaurar a área independentemente de ser sido ou não o
responsável pelo dano causado.
Já com relação à reparação nos casos de condenação por responsabilidade civil,
tem-se que os danos ambientais poderão ser reparados mediante restauração natural
(recuperação do local degradado), compensação ecológica (quando não for possível a
restauração natural, mediante a recuperação de outra área semelhante) ou, em último
caso, por meio de indenização pecuniária (quando não for possível nem a restauração
natural, nem a compensação ecológica).
Assim, podemos resumir a responsabilização ambiental da seguinte forma:

RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS


Responsabilidade Responsabilidade Responsabilidade
CIVIL ADMINISTRATIVA PENAL
Objetiva Subjetiva Subjetiva
Art. 14, § 1º, da Lei nº Art. 14, caput, da Lei nº É vedada a
6.938/81. 6.938/81. responsabilização penal
objetiva.

Destaque-se que o entendimento de que a responsabilidade administrativa é


subjetiva foi pacificado recentemente pelo STJ. A responsabilidade administrativa
ambiental será de natureza subjetiva, porquanto a aplicação de penalidades
administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível para
a reparação de danos causados, mas, sim, à sistemática da teoria da culpabilidade.
Assim, a conduta do transgressor deve ser demonstrada a partir de seu elemento
subjetivo, com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano.

2. COMPETÊNCIA

A competência para legislar sobre responsabilidade por dano ao meio


ambiente é concorrente entre a União, Estados e Distrito Federal.
Os Municípios, a seu turno, poderão legislar de acordo com o interesse local,
além de poderem suplementar a legislação federal e estadual, no que couber.

136
Daniela Adamek

3. POLUIDOR

O poluidor é o responsável pela reparação dos danos ambientais. Segundo a


lei, é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, pela atividade de degradação ambiental.
Degradação ambiental, por sua vez, é qualquer alteração adversa das
características do meio ambiente. Já poluição se relaciona à degradação da qualidade
ambiental causada pelo homem que prejudique a saúde, segurança, bem-estar da
população, que criem condições adversas das atividades sociais e atividades
econômicas, que afetem desfavoravelmente a biota, que afetem as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente e que lancem matérias ou energias em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
Veja, então, que é possível uma poluição lícita, tolerável, feita inclusive com
base em licença. É importante ressaltar que mesmo a poluição licenciada não exclui a
responsabilidade civil por dano ambiental. Não tem caráter sancionatório, sendo
fruto do princípio do usuário-pagador.
Além disso, a concessão de uma licença ambiental não dá alvará para o sujeito
destruir o meio ambiente.
Atente-se que, se a licença ambiental foi concedida de modo irregular e
culminar na degradação ambiental, o sujeito irá responder pela degradação, assim
como também responderá o Poder Público na qualidade de poluidor indireto. Isto é,
o Poder Público, em situação irregular, concedeu licença para o sujeito que não teria a
mínima condição de obtê-la, motivo pelo qual será considerado o poluidor indireto.
O STJ entendeu que, neste caso, há uma responsabilidade objetiva do Estado
por danos ambientais, mesmo em se tratando de omissão na fiscalização ambiental.
Sabe-se que, em matéria de omissão, a responsabilidade do Estado é subjetiva. E em
matéria de ação, a responsabilidade é objetiva. Todavia, em matéria ambiental, o STJ
entende que a responsabilidade é objetiva, ainda que se trate de hipótese omissiva.
Segundo o STJ, sem prejuízo da responsabilidade solidária, deve o Estado, que
não provocou diretamente o dano, buscar o ressarcimento dos valores despendidos do
responsável direto. Ou seja, se o Estado concedeu uma licença irregular, deverá pagar.
No entanto, tendo o Estado efetuado o pagamento, caberá a ele exercer o direito de
regresso contra o poluidor direto.
Por conta disso, o STJ também passou a admitir a inversão do ônus da prova
nas ações de reparações de danos ambientais. Primeiro, porque há interesse público
na questão. Segundo, porque o princípio da precaução autoriza. Na incerteza científica,
deve-se proteger o meio ambiente, recaindo o ônus para o poluidor.
Outro instrumento utilizado é a desconsideração da personalidade jurídica
para fins ambientais. Segundo o art. 4º da Lei de Crimes Ambientais, Lei nº
9.605/1998, aplica-se a teoria menor, nesses casos. Ou seja, não se exige o abuso da
personalidade jurídica para que ela seja desconsiderada. Basta que, para a reparação
do dano, o patrimônio da pessoa jurídica não seja suficiente, podendo o sócio pagar a
indenização.

137
Daniela Adamek

Ainda de acordo com o art. 4º da Lei 9.605/98, poderá ser desconsiderada a


pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

4. NEXO CAUSAL

Para se falar em responsabilidade, é necessário que entre a conduta e o


resultado haja um nexo de causalidade.
Nexo causal é o vínculo entre a conduta ambiental e o resultado da degradação
ambiental. É pressuposto para que se possa falar em responsabilização civil.
Há precedentes do STJ que excepcionalmente admitiram responsabilidade
civil ambiental sem nexo de causalidade. Isso porque, nesses casos, o STJ reputou que
a obrigação seria propter rem, que é a responsabilização do adquirente do imóvel já
danificado pelo antigo proprietário. Veja-se que nesse caso não há nexo causal, pois o
adquirente não foi o causador do dano.
No entanto, por se tratar de uma obrigação da própria coisa, o sujeito que
adquiriu deverá arcar com a restauração ou reparação do dano.
É o que dispõe o seguinte enunciado, aprovado na edição “Jurisprudência em
Teses” do STJ sobre direito ambiental:

A obrigação de recuperar a degradação ambiental é do titular da propriedade


do imóvel, mesmo que não tenha contribuído para a deflagração do dano,
tendo em conta sua natureza propter rem.

5. RESPONSABILIDADE OBJETIVA AMBIENTAL

Lembrando que a responsabilidade civil ambiental é objetiva. Isso é pacífico e


está expresso na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
Segundo o art. 14, §1º, da Lei 6.938, sem obstar a aplicação das penalidades previstas
neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade.
Os Tribunais Superiores e a doutrina entendem que se adota a Teoria do Risco
Integral. Portanto, não se admite excludentes da responsabilidade, devendo o sujeito
responder a despeito de fato de terceiro, caso fortuito ou força maior.
A pretensão reparatória ambiental e material será, conforme o STJ, perpétua.
Ou seja, a pretensão de reparação ambiental é imprescritível. O fundamento é de que
o direito ao pedido de reparação de danos ambientais está protegido pelo manto da
imprescritibilidade, pois se trata de um direito à vida, um direito fundamental à
essencial afirmação dos povos, além de ser um direito à existência. Dessa forma, se
não cuidarmos do meio ambiente, não haverá vida, saúde, trabalho, lazer etc. O STJ diz
que o dano ambiental se inclui dentre os direitos fundamentais e, portanto, a ação que
visa reparar o dano ambiental é imprescritível.

138
Daniela Adamek

Lembre-se que o direito ao meio ambiente é um direito fundamental de 3ª


dimensão.

6. DANOS AMBIENTAIS

O dano ambiental é normalmente irreparável in natura, não tendo como


retornar ao status quo anterior. Dessa forma, busca-se plantar algo semelhante, de
forma a permitir a regeneração local.
Uma vez impossibilitada a reparação ou restauração em espécie, que é a
prioridade, evidentemente, deve-se partir para uma compensação ambiental.
Caso não seja possível a compensação ambiental, passa-se a falar em
indenização em pecúnia. A última hipótese é a indenização, sendo certo que a
preferência é a reparação ou restauração.
Segundo o STJ, é plenamente possível a obrigação de reparar o dano
ambiental com a indenização pecuniária, cumulativamente. Isso porque a cumulação
de obrigação de fazer, não fazer e de pagar não configura bis in idem, pois a
indenização não é para o dano especificamente já reparado, eis que efetivamente ele
já foi reparado.
A indenização refere-se aos efeitos remanescentes, reflexos e transitórios,
como é o dano que a comunidade experimentou em razão da privação, ainda que
temporária da fruição do bem de uso comum. A indenização se justifica para que haja
o retorno ao patrimônio público de benefícios ilegalmente auferidos.
Nesse sentido, foram aprovados os seguintes enunciados, pelo STJ, na
publicação “Jurisprudência em Teses”:

Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de


não fazer e de indenizar na reparação integral do meio ambiente.

O pescador profissional é parte legítima para postular indenização por dano


ambiental que acarretou a redução da pesca na área atingida, podendo
utilizar-se do registro profissional, ainda que concedido posteriormente ao
sinistro, e de outros meios de prova que sejam suficientes ao convencimento
do juiz acerca do exercício dessa atividade.

É devida a indenização por dano moral patente o sofrimento intenso do


pescador profissional artesanal, causado pela privação das condições de
trabalho, em consequência do dano ambiental.

Além disso, o STJ vem admitindo a chamada condenação por dano moral
coletivo do poluidor. Presume-se que haverá dano moral coletivo sempre que
estivermos diante de uma presunção de danos às presentes gerações como às futuras
gerações.
Conforme o STJ, o dano moral coletivo ambiental atinge direitos da
personalidade do grupo massificado. Então, torna-se possível a condenação por
danos morais coletivos.

139
Daniela Adamek

7. JURISPRUDÊNCIA

Atente-se para os seguintes enunciados aprovados pelo STJ e que foram


publicados no “Jurisprudência em Teses”, disponível no sítio eletrônico da Corte:

Inaplicabilidade do fato consumado.


Súmula 613/STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de
Direito Ambiental.

Aplicação da inversão do ônus da prova em ações de degradação ambiental.


Súmula 618/STJ: A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação
ambiental.

Obrigações ambientais possuem caráter propter rem.


Súmula 623/STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo
admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha
do credor.

Possibilidade de cumulação de obrigação de fazer ou obrigação de não fazer com


obrigação de indenizar.
Súmula 629/STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à
obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.

É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental.


(STF. Plenário. RE 654833, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 -
Repercussão Geral – Tema 999)

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a
atividade econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo
sempre considerado responsável pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se
pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro ou força
maior.
No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área
ambiental protegida. Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se
mostrou equivocada – isso não é causa excludente da responsabilidade do proprietário
do estabelecimento.
Mesmo que se considere que a instalação do posto de combustível somente tenha
ocorrido em razão de erro na concessão da licença ambiental, é o exercício dessa
atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco concretizado no
dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de
reparar a lesão verificada. (STJ, REsp 1612887/PR, j. 28/04/2020 - Informativo 671).

140
Daniela Adamek

Danos aos pescadores profissionais por vazamento de amônia em rio.


Considerando que a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela
teoria do risco integral, não se admitem excludentes de responsabilidade, como caso
fortuito, força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima.
Assim, tendo a empresa causado dano ambiental que privou pescadores profissionais
da pesca por determinado período, há configuração de dano moral. No entanto, o
valor a ser arbitrado não deverá incluir um caráter punitivo, pois é inadequado
pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, já
que a punição é função do direito penal e administrativo. Portanto, não há que se falar
em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais.
Desse modo, tem-se que o STJ entende pelo cabimento de indenização por danos
morais a pescadores que tiveram sua atividade impedida ou gravemente prejudicada
em decorrência de poluição causada por acidente ambiental. (STJ, REsp 1.354.536/SE
– Informativo 538)

Construção de hidrelétrica e prejuízo aos pescadores artesanais locais.


O STJ entendeu que não há que se falar em danos morais devidos a pescadores
artesanais locais que foram prejudicados pela construção de uma hidrelétrica, devido à
redução ou desaparecimento de peixes de espécies comercialmente lucrativas. Isso
porque a indenização por danos morais decorrentes de dano ambiental tem por
escopo evitar ou eliminar fatores que possam causar riscos intoleráveis. No entanto,
no caso concreto o risco era permitido porque a atividade desenvolvida pela
concessionária (construção de hidrelétrica) foi lícita e de interesse público.
No que tange aos danos materiais, a Corte entende por sua configuração, na medida
em que houve dano patrimonial, ainda que a atividade praticada seja lícita. Isso
porque se deve indenizar o sacrifício que uma ou algumas pessoas suportaram a fim de
que o Estado pudesse realizar atividade legítima de interesse público. Assim, o
pescador artesanal terá o direito de ser indenizado, pela concessionária de serviço
público responsável, em razão dos prejuízos materiais experimentados. (STJ, REsp
1.371.834/PR – Informativo 574)

Responsabilidade do particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno.


Responde objetivamente o particular que deposita resíduos tóxicos, a céu aberto, em
local de fácil acesso, ainda que existam cercas e placas de sinalização informando a
presença de material orgânico, no caso de danos sofridos por pessoa que, ao entrar na
propriedade, por conduta não dolosa, tenha sofrido graves queimaduras decorrentes
de contato com os resíduos. (STJ, REsp 1.373.788/SP – Informativo 544)

Cabimento de dano moral coletivo no direito ambiental.


É possível a condenação cumulativa de obrigação de fazer (recomposição do meio
ambiente degradado) com obrigação de pagar quantia certa a título de compensação
por dano moral ambiental, em ação civil pública proposta em razão de dano
ambiental. (STJ, REsp 1.328.753/MG – Informativo 526)

141
Daniela Adamek

Jurisprudência em Teses (STJ)


 Os responsáveis pela degradação ambiental são co-obrigados solidários,
formando-se, em regra, nas ações civis públicas ou coletivas litisconsórcio
facultativo.
 A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do
risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite
que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela
empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar.
 Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a
regeneração de Área de Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a
obrigação propter rem de restaurar plenamente e de indenizar o meio
ambiente degradado e terceiros afetados, sob o regime de responsabilidade
civil objetiva.
 O reconhecimento da responsabilidade objetiva por dano ambiental não
dispensa a demonstração do nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado.
 A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como
excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante a incidência da teoria
do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art.
225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o
degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador.
 É imprescritível a pretensão reparatória de danos ao meio ambiente.
 O termo inicial da incidência dos juros moratórios é a data do evento danoso
nas hipóteses de reparação de danos morais e materiais decorrentes de
acidente ambiental.
 A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
 Não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio
ambiente.

8. EXERCÍCIOS

1. CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019


Com base na jurisprudência do STJ, é correto afirmar que, em matéria de proteção
ambiental em que se verifiquem omissão no cumprimento de fiscalizar, por falta de
recursos, e, em consequência, o agravamento do dano causado, o Estado
a) poderá ser civilmente responsabilizado, em razão da sua omissão no dever de
fiscalizar.
b) não poderá ser responsabilizado, pois quem deve ser responsabilizado pelo dano é
quem o causou.

142
Daniela Adamek

c) poderá ser criminalmente responsabilizado, em razão da sua omissão no dever de


fiscalizar.
d) poderá ser administrativamente responsabilizado, em razão da sua omissão.
e) não poderá ser responsabilizado, pois ao caso se aplica o princípio da reserva do
possível.

Comentários
Conforme entendimento sedimentado pelo STJ:

14. No caso de omissão de dever de controle de fiscalização, a


responsabilidade ambiental solidária da administração é de execução
subsidiária (ou com ordem de preferência). 15. A responsabilidade solidária e
de execução subsidiária significa que o Estado integra o título executivo sob a
condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o
degradador original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja
por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por
impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da
prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso,
com a desconsideração da personalidade jurídica. (REsp nº 1.071.741-SP)

No mesmo sentido, veja a tese positivada na 30ª Edição do Jurisprudência em Teses do


STJ:

8) Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado


quando a omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for
determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado.
(Informativo nº 427)

Portanto, a resposta está no item A.

2. CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019


A respeito da responsabilização por danos ambientais, assinale a opção correta.
a) O IBAMA tem competência para propor denúncia criminal na justiça federal para a
responsabilização ambiental criminal.
b) Órgão estadual de meio ambiente tem competência para propor ação civil pública
na justiça federal para a responsabilização ambiental administrativa.
c) O Ministério Público Federal tem competência para lavrar auto de infração, com
vistas à responsabilização ambiental administrativa, e para apreender produtos e
instrumentos usados em infração ambiental.
d) Órgão estadual de meio ambiente tem competência para lavrar auto de infração,
com vistas à responsabilização ambiental administrativa, e para apreender produtos e
instrumentos usados em infração ambiental.
e) O Ministério Público estadual tem competência para propor denúncia criminal na
justiça federal para a responsabilização ambiental administrativa.
143
Daniela Adamek

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a competência para propor denúncia criminal é do
Ministério Público, titular da ação penal, conforme art. 26 da Lei nº 9.605/98.
A alternativa B está incorreta, porquanto a responsabilidade administrativa ambiental
se dá mediante lavratura de auto de infração e respectivo procedimento
administrativo, prescindindo de procedimento judicial.
A alternativa C está incorreta, na medida em que, conforme ensina o art. 15 da LC
140/2011, a competência para lavratura de auto de infração é do órgão ambiental
responsável pelo licenciamento ou autorização do empreendimento ou atividade.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 15 da LC
140/2011.
A alternativa E está incorreta, porque a competência para a proposição de denúncia
criminal na esfera federal é do Ministério Público Federal, bem como a
responsabilização não seria administrativa, mas criminal.

3. VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRO/2019


Segundo o artigo 225, § 3°, da Constituição Federal, as condutas e atividades
consideradas lesivas ao Meio Ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados. Acerca da tríplice responsabilidade ambiental, assinale a
alternativa correta.
a) A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou o entendimento de
que a responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva.
b) A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou o entendimento
de que a responsabilidade administrativa ambiental é objetiva.
c) A responsabilidade civil não admite a condenação simultânea e cumulativa das
obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar na reparação integral do meio
ambiente.
d) Segundo o entendimento atualizado do STF, a responsabilidade penal da pessoa
jurídica por crimes ambientais é condicionada à simultânea persecução penal da
pessoa física, em tese, responsável no âmbito da empresa.
e) Os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários, formando-
se, em regra, nas ações civis públicas ou coletivas, litisconsórcio necessário.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme entendimento mais
recente do STJ, sedimentado e consignado no Informativo nº 650/STJ.
A alternativa B está incorreta, conforme Informativo nº 650/STJ, em que se consignou
que a responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva.
A alternativa C está incorreta, na medida em que a condenação simultânea e
cumulativa é permitida no âmbito da responsabilidade civil ambiental, conforme
Súmula 629 do STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à
obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar
144
Daniela Adamek

A alternativa D está incorreta, pois não mais se adota a teoria da “dupla imputação”,
que exigia a responsabilização concomitante da pessoa física para a condenação da
pessoa jurídica por crimes ambientais.
A alternativa E está incorreta. Veja o teor do enunciado 7 da Jurisprudência em Teses
do STJ: “7) Os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários,
formando-se, em regra, nas ações civis públicas ou coletivas litisconsórcio
facultativo.”.

4. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJAL/2019


Considerando a natureza e as peculiaridades do dano ambiental, seu regime jurídico e
o entendimento jurisprudencial e doutrinário acerca da sua apuração, reparabilidade e
responsabilização, considere as assertivas abaixo:
I. A responsabilidade civil em caso de dano ambiental causado em decorrência do
exercício de atividade com potencial de degradação ambiental é de natureza objetiva e
independe, portanto, de comprovação de dolo ou culpa.
II. A reparação do dano ambiental deve ocorrer, preferencialmente, de forma indireta,
com o pagamento de indenização e aplicação de sanções pecuniárias de cunho
inibitório.
III. O dano ambiental é de caráter coletivo ou difuso, podendo, contudo, impactar
também direitos individuais, materializando-se assim o denominado efeito ricochete
na forma de dano reflexo.
IV. Inexiste a figura do dano moral ambiental, havendo a obrigação de reparar apenas
danos patrimoniais, ainda que causados a bens imateriais (ou incorpóreos), como o
equilíbrio ambiental e a qualidade de vida da população.
Está correto o que se afirma APENAS em
a) I e IV.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I e II.
e) II e IV.

Comentários
O item I está correto, conforme teor do art. 14, § 1º da Lei 6.938/81: Sem obstar a
aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados
ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da
União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e
criminal, por danos causados ao meio ambiente. Trata-se da responsabilidade civil
objetiva por danos ao meio ambiente.
O item II está incorreto, pois a preferência será sempre pela recuperação do meio
ambiente de forma direta. Somente quando não for possível, haverá a reparação de
forma indireta.
O item III está correto. O meio ambiente sadio pertence à categoria de direito
fundamental de terceira geração, possuindo natureza transindividual e difusa.
145
Daniela Adamek

Entretanto, os danos ao meio ambiente podem também impactar na esfera individual


(ex.: pescadores impossibilitados de exercer sua atividade).
O item IV está incorreto. É entendimento consolidado da doutrina e jurisprudência
que é cabível condenação por danos morais em razão de danos causados ao meio
ambiental, inclusive danos morais coletivos.

[...] 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do


grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade
sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. [...]
(REsp 1269494/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em
24/09/2013)

5. VUNESP/Prefeitura de Valinhos-SP/Procurador/2019
Assinale a alternativa que traz o conteúdo correto de uma das Súmulas do STJ que
tratam sobre Direitos Metaindividuais.
a) É admitida a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
b) A inversão do ônus da prova não se aplica às ações de degradação ambiental.
c) As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las
do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
d) Quanto ao dano ambiental, não é admitida a condenação do réu à obrigação de
fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar, devendo ser requerida em ações
separadas.
e) O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos
e coletivos, exceto aos individuais homogêneos dos consumidores, ainda que
decorrentes da prestação de serviço público.

Comentários
A alternativa A está incorreta, conforme dispõe a Súmula 613 do STJ: Não se admite a
aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
A alternativa B está incorreta, conforme dispõe a Súmula 618 do STJ: A inversão do
ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Veja o teor da Súmula 623 do
STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-
las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
A alternativa D está incorreta, conforme dispõe a Súmula 629 do STJ: Quanto ao dano
ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer
cumulada com a de indenizar.
A alternativa E está incorreta, na medida em que o MP possui legitimidade para a
defesa de direito individual indisponível mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa
individualmente considerada.

146
Daniela Adamek

CAPÍTULO 10 — INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS

1. INTRODUÇÃO

Em regra, a competência material ambiental relacionada à proteção do meio


ambiente é comum. Isso quer dizer que cada entidade política terá atribuição para
instituir suas próprias infrações administrativas ambientais, inclusive por meio de lei,
pois, nesse caso, exercerão o poder de polícia, o qual todas as entidades políticas
possuem.
Dessa forma, é possível que os órgãos ambientais que não licenciaram
determinado empreendimento exerçam o poder de polícia e inclusive autuem o
empreendimento.
Assim, o empreendimento que foi licenciado por um órgão federal poderá ser
autuado por órgão municipal. Todavia, a LC 140/11, em seu art. 17, §3º, estabelece
que prevalece o auto de infração lavrado pelo órgão que tenha atribuição para o
licenciamento. Confira:

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização,


conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de
infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de
infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade
licenciada ou autorizada.
[...]
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes
federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de
empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou
utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor,
prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a
atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

Se o empreendimento ou a atividade infringiram norma ambiental e o órgão


que licenciou está omisso, outro órgão, de outra entidade política, poderá lavrar auto
de infração, que será plenamente cabível. Por outro lado, se os dois autuam o
empreendimento em razão da mesma infração, prevalecerá o auto de infração do
órgão competente para licenciar.

2. INFRAÇÃO AMBIENTAL DO ART. 70 DA LEI Nº 9.605/98

No âmbito federal, as infrações administrativas são tratadas de maneira


genérica pela Lei nº 9.605/98, também conhecida por “Lei de Crimes Ambientais”.
Segundo o art. 70, considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou
omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente. Veja que o art. 70 não determina que deva ocorrer
dano ambiental para que haja infração administrativa ambiental. Portanto, há a
consagração do princípio da prevenção.

147
Daniela Adamek

Em outras palavras, basta que haja a desobediência da regra ambiental para


que o sujeito responda pela infração administrativa ambiental.
Polêmica é a questão sobre a definição da natureza jurídica da responsabilidade
administrativa ambiental: é possível que haja a responsabilização administrativa
ambiental objetiva, ou seria necessária a demonstração de culpa para que houvesse
incidência da responsabilidade ambiental administrativa?
No STJ, apesar de certa oscilação e de a doutrina não entender dessa forma,
prevalece o entendimento de que a responsabilização administrativa ambiental é
subjetiva. Isso porque, em matéria de responsabilidade administrativa, há aplicação de
sanção ao infrator. Nesse caso, é preciso observar a teoria da culpabilidade, de forma
que a responsabilidade administrativa ambiental não poderia ser objetiva, e sim
subjetiva.
Nos termos do § 1º do art. 70 da Lei nº 9.605/98, as autoridades competentes
para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo são:
• Funcionários de órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, designados
para as atividades de fiscalização;
• Agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação
a essas autoridades, para efeito do exercício do seu poder de polícia.
A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é
obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo
próprio, sob pena de a omissão gerar corresponsabilidade.
O STJ entende que a Lei nº 9.605/98 confere a todos os funcionários de órgãos
ambientais do SISNAMA o poder para lavrar auto de infração, desde que esses
funcionários tenham sido designados previamente para atividades de fiscalização.
Isso significa dizer que se o integrante do órgão do SISNAMA lavra auto de
infração sem estar designado para a fiscalização ambiental, este ato praticado deve ser
anulado, por falta de atribuição para a prática do ato.
Com relação à imputação administrativa pelo IBAMA, merecem destaque os
seguintes enunciados, editados pelo STJ, constante da publicação “Jurisprudência em
Teses”:

É vedado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis – IBAMA – impor sanções administrativas sem expressa previsão
legal.

É defeso ao IBAMA impor penalidade decorrente de ato tipificado como crime


ou contravenção, cabendo ao Poder Judiciário referida medida.

O art. 72 elenca as sanções administrativas:


1. Advertência:
A advertência será aplicada pela inobservância das disposições da Lei nº
9.605/98 ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções.
2. Multa simples:
148
Daniela Adamek

A multa simples, que poderá ser convertida em serviços de preservação,


melhoria e recuperação do meio ambiente, será aplicada sempre que o agente, por
negligência ou dolo:
a) Não sanar irregularidade praticada, após ser advertido, ou deixar de sanar
essas irregularidades no prazo assinalado por órgão ambiental do SINAMA ou
pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;
b) Embaraçar fiscalização do órgão ambiental do SINAMA ou da Capitania dos
Portos, do Ministério da Marinha.
Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão
revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, Fundo Naval, fundos estaduais ou
municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador.
O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou
Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. Atente-se que
a interpretação deve ser dada no sentido de que a substituição deve se dar na medida
em que compensa. A título de exemplo, se o município impôs multa de 10 mil reais e a
União impôs multa de 15 mil reais. Nesse caso, o sujeito deverá pagar 10 mil reais ao
município, mas a diferença de 5 mil reais poderá ser cobrada pela União.
3. Multa diária:
A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se
prolongar no tempo.
4. Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração;
Segundo a norma, verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e
instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
Nesse caso, os animais serão prioritariamente libertados em seu habitat ou,
sendo inviável ou não recomendável, serão entregues a jardins zoológicos,
fundações ou entidades assemelhadas.
Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a
sua descaracterização por meio da reciclagem.
5. Destruição ou inutilização do produto;
Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e
doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.
6. Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou
doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. Suspensão de
venda e fabricação do produto;
7. Embargo de obra ou atividade;
8. Demolição de obra;
9. Suspensão parcial ou total de atividades;
As sanções de suspensão de venda e fabricação do produto, embargo de obra
ou atividade, demolição de obra e suspensão parcial ou total de atividades serão
aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento não estiverem
obedecendo às prescrições legais ou regulamentares.
10. Restritiva de direitos:
149
Daniela Adamek

As sanções restritivas de direito são:


a) Suspensão de registro, licença ou autorização;
b) Cancelamento de registro, licença ou autorização;
c) Perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
d) Perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito;
e) Proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até 3
anos.

Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, deverão ser


aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas.
A pena deverá ser fixada com base no art. 6º da Lei nº 9.605/98. Em outras
palavras, para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente
observará:
I. Gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas
consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II. Antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental;
III. Situação econômica do infrator, no caso de multa.

Com relação à prescrição para a imposição de penalidades administrativas


impostas pelo Poder Público federal, deve-se observar a Lei 9.873/99, que determina
que prescreve em 5 anos a ação punitiva da Administração Pública Federal no
exercício do poder de polícia.
No entanto, quando o fato constituir crime, a prescrição administrativa não
será de 5 anos, mas sim o mesmo prazo prescricional previsto na legislação penal.
Ainda, é possível a chamada prescrição intercorrente, quando o processo
administrativo ficar paralisado por mais de 3 anos, pendente de julgamento ou de
despacho.
A Lei 9.873/99 consigna, em seu art. 1º-A, que, uma vez constituído
definitivamente o crédito não tributário e encerrado o regular do processo
administrativo, prescreve em 5 anos a ação de execução da administração pública
federal relativa a crédito decorrente da aplicação de multa por infração à legislação
em vigor.
Por conta disso, foi editada a Súmula 467 do STJ, estabelecendo que prescreve
em 5 anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da
administração pública de promover a execução da multa por infração ambiental.
As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio,
assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório. Esse processo administrativo
deve observar os seguintes prazos máximos, conforme determina o art. 71 da Lei nº
9.605/98:
• 20 dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de
infração, contados da data da ciência da autuação;

150
Daniela Adamek

• 30 dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da


data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação;
• 20 dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior
do SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de
acordo com o tipo de autuação;
• 5 dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da
notificação.
Lembre-se que essas regras são válidas apenas na esfera federal. Assim, cada
ente federativo poderá estabelecer suas regras e procedimentos próprios, no que
tange aos processos administrativos locais.

3. JURISPRUDÊNCIA

Responsabilidade administrativa ambiental possui natureza subjetiva.


Fixado o entendimento, pelo STJ, de que a aplicação de penalidades administrativas
obedece à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida
pelo sujeito, com demonstração do elemento subjetivo e nexo causal entre a conduta
e o dano. (STJ, EREsp 1.318.051/RJ – Informativo 650)

Posse irregular de animais silvestre por longo período de tempo.


Pode permanecer na posse dos animais (duas aves silvestres) o particular que, por
mais de vinte anos, manteve-o adequadamente, sem indício de maus-tratos. (STJ, REsp
1.425.943/RN – Informativo 550)

Apreensão de instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer


natureza utilizados na infração ambiental.
Não há necessidade de comprovação de que o bem era utilizado de forma reiterada ou
rotineiramente na prática de ilícitos ambientais, porquanto referida exigência por
parte da autoridade ambiental caracterizaria verdadeira prova diabólica, tornando
letra morta a legislação que ampara a atividade fiscalizatória. (STJ, AREsp
1.084.396/RO – Informativo 659)

Possibilidade de apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental


mesmo que seja alugado.
Ainda que se trate de bem local ao real infrator, a apreensão do bem é possível. Não se
pode dizer que houve injusta restrição ao proprietário (que não deu casa à infração
ambiental), já que, ao local o veículo, o locador assume o risco decorrente da
exploração da atividade econômica por ele exercida. Contudo, a autoridade
administrativa deverá notificar o locador para oportunizar que comprove a sua boa-fé
antes de decidir sobre a destinação do bem apreendido pela prática de infração
ambiental. (STJ, AREsp 1.084.396/RO – Informativo 659)

151
Daniela Adamek

Transporte irregular de madeira legitima a apreensão de toda a mercadoria, ainda


que parte dela seja regular.
A gravidade da conduta do transportador de madeira em descompasso com a guia de
autorização compromete a eficácia de todo o sistema de proteção ambiental. Logo,
ainda que parte da carga seja regular, a medida de apreensão deverá compreender sua
totalidade. (STJ, REsp 1.784.755/MT – Informativo 658)

4. EXERCÍCIOS

1. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020


Em mandado de segurança impetrado contra ato de fiscal ambiental que apreendeu
animal silvestre (papagaio-verdadeiro) adquirido irregularmente, o impetrante
confessa a origem ilícita da ave, mas alega que a adquiriu para sua filha pequena há 01
(um) ano, sendo a ave um verdadeiro membro da família. Alega, por fim, que a menina
sente muita falta do papagaio. A ordem deverá ser
a) negada, diante da origem ilícita do animal silvestre.
b) concedida, tendo em vista a adaptabilidade do animal ao convívio humano.
c) concedida em parte para permitir visitas da família ao cativeiro do animal.
d) concedida em parte para permitir a permanência do animal com a família por mais
02 (dois) anos.
e) negada com fundamento no princípio da pessoalidade da sanção.

Comentários
A jurisprudência do STJ consigna que o tempo de convívio com o animal no ambiente
doméstico deve ser considerado como circunstância para o órgão ambiental não
apreender o animal. Veja:
Não é razoável a conduta do órgão ambiental que apreende uma ave (ex:
papagaio) que já estava sendo criada por longo período de tempo em
ambiente doméstico, sem qualquer indício de maus-tratos ou risco de
extinção. Em casos como esse, não se mostra plausível que a apreensão do
animal ocorra exclusivamente sobre a ótica da estrita legalidade. É preciso se
examinar as peculiaridades do caso sob a luz da finalidade da Lei Ambiental
que, sabidamente, é voltada à melhor proteção do animal. Desse modo, com
base nas peculiaridades do caso concreto, e em atenção ao princípio da
razoabilidade, é possível autorizar que a ave permaneça no ambiente
doméstico do qual jamais se afastou por longos anos.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1457447/CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
16/12/2014. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1389418/PB, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 21/09/2017.

A banca considerou correto o item A, ou seja, entendeu que o período de 1 ano não é
um “longo período de tempo” a dispensar a apreensão da ave.

152
Daniela Adamek

2. VUNESP/FITO/Advogado/2020
A produtora de petróleo X contratou a empresa de transportes marítimos Y para
transportar barris de petróleo do Ceará até o Porto de Santos, no Estado de São Paulo.
Durante o transporte, o navio da transportadora Y teve o casco quebrado, que
resultou no derramamento de óleo por toda a costa litorânea do país. Diante da
situação hipotética, e considerando o previsto na legislação, bem como o atual
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta no que diz
respeito à responsabilização civil, administrativa e penal ambiental, da produtora X,
respectivamente.
a) Subjetiva, objetiva e objetiva.
b) Subjetiva, subjetiva e subjetiva.
c) Objetiva, objetiva e objetiva.
d) Objetiva, subjetiva e subjetiva.
e) Objetiva, objetiva e subjetiva.

Comentários
Conforme vimos nos capítulos anteriores, a responsabilidade civil é sempre objetiva. A
administrativa, por sua vez, conforme entendimento do STJ, é subjetiva. Por fim, a
responsabilidade penal é sempre subjetiva, dependendo da demonstração do nexo
causal. A alternativa certa, portanto, é o item D.

3. CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-CE/2020


Roberto cometeu infração ambiental ao construir sua casa em área de mangue e, por
isso, foi autuado, em janeiro de 2011, por fiscal ambiental estadual. Roberto deixou
transcorrer todos os prazos, pois se negava a receber a notificação, mas, em 2015, foi
surpreendido com uma ação de cobrança da infração, na qual constava a sua citação
por edital em 2013.
Nessa situação hipotética, de acordo com a jurisprudência do STJ, Roberto está
a) desobrigado do pagamento da multa, pois o crédito está prescrito, visto que não se
admite no âmbito administrativo a citação por edital.
b) desobrigado do pagamento da multa, pois, em se tratando de multa administrativa,
a prescrição da ação de cobrança somente tem início com a notificação, quando se
torna inadimplente o administrado infrator.
c) obrigado ao pagamento da multa, pois é de dez anos o prazo decadencial para se
constituir o crédito decorrente de infração à legislação administrativa.
d) obrigado ao pagamento da multa, pois o prazo decadencial para a constituição do
crédito decorrente de infração à legislação administrativa foi suspenso com a citação
de Roberto por meio de edital.
e) obrigado ao pagamento da multa, pois o prazo decadencial para a constituição do
crédito decorrente de infração à legislação administrativa foi interrompido com a
citação de Roberto por meio de edital.

Comentários

153
Daniela Adamek

A resposta encontra-se na conjugação dos entendimentos sufragados em duas teses


firmadas em sede de recursos repetitivos, pelo STJ. Anote-se:
Tema 324: É de cinco anos o prazo decadencial para se constituir o crédito decorrente
de infração à legislação administrativa. (REsp nº 1.115.078/RS)
Tema 327: Interrompe-se o prazo decadencial para a constituição do crédito
decorrente de infração à legislação administrativa: a) pela notificação ou citação do
indiciado ou executado, inclusive por meio de edital; b) por qualquer ato inequívoco,
que importe apuração do fato; pela decisão condenatória recorrível; por qualquer ato
inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de solução
conciliatória no âmbito interno da administração pública federal. (REsp nº
1.115.078/RS)
Portanto, o item correto é a letra E.

4. VUNESP/Prefeitura de Ribeirão Preto - SP/Procurador do Município


Em relação às Súmulas dos Tribunais Superiores, em matéria ambiental, afirma-se que
a) as obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las
do proprietário ou detentor, à escolha do IBAMA.
b) quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou
à de não fazer cumulada com a de indenizar.
c) admite-se a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
d) a inversão do ônus da prova não se aplica às ações de degradação ambiental.
e) prescreve em 2 anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão
da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.

Comentários
A alternativa A está incorreta, conforme dispõe a Súmula 623 do STJ: As obrigações
ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário
ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, conforme a Súmula 629 do STJ:
Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à
de não fazer cumulada com a de indenizar.
A alternativa C está incorreta, conforme estabelece a Súmula nº 613 STJ: Não se
admite a Teoria do Fato consumado em tema de direito ambiental.
A alternativa D está incorreta, nos termos do que consigna a Súmula n º 618 do STJ: A
inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
A alternativa E está incorreta. A propósito, veja o teor da Súmula nº 467 do STJ:
Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a
pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração
ambiental.

5. VUNESP/Prefeitura de Ribeirão Preto - SP/Procurador do Município


Para atender ao princípio da responsabilização integral na seara ambiental, a
imposição de responsabilidade pelo dano ao meio ambiente abrange, de forma

154
Daniela Adamek

concomitante, tanto a área civil quanto a administrativa e a penal. Acerca do tema, é


correto afirmar que
a) o empreendedor que licenciou a obra e observa os padrões de qualidade ambiental
não poderá ser responsabilizado civilmente por dano ambiental.
b) as pessoas jurídicas serão responsabilizadas penalmente, nos casos em que a
infração seja cometida por ato exclusivo de seu representante contratual ou comum,
em benefício próprio e da entidade.
c) a natureza da responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva, segundo atual
entendimento consolidado no STJ.
d) atualmente, tanto o STF como o STJ consideram a necessidade de dupla imputação,
tanto da pessoa física, que praticou o ato, como da pessoa jurídica, em crimes
ambientais praticados por pessoas jurídicas.
e) a responsabilidade civil ambiental é subjetiva, integral e solidária, pois todos aqueles
que concorrem para o dano, de forma direta ou indireta, são responsáveis pela
reparação.

Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a responsabilização civil na esfera ambiental é
objetiva. Portanto, se houver dano ao meio ambiente, mesmo que o empreendedor
esteja observando os padrões de qualidade ambiental, haverá responsabilidade civil.
A alternativa B está incorreta, na medida em que o art. 3º da Lei de Crimes Ambientais
determina que a responsabilidade das pessoas jurídicas ocorrerá quando a infração for
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da entidade, não em benefício próprio.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão, conforme entendimento
esposado no Informativo nº 650 do STJ.
A alternativa D está incorreta, porquanto não mais se exige a dupla imputação para a
responsabilização da pessoa jurídica.
A alternativa E está incorreta, porque, conforme estudamos, a responsabilidade civil é
objetiva.

155
Daniela Adamek

CAPÍTULO 11 — CRIMES AMBIENTAIS

Inicialmente, registre-se que a grande maioria dos crimes ambientais é de


menor potencial ofensivo, ou seja, admite a aplicação da Lei nº 9.099/95, porquanto a
pena máxima não é superior a 2 anos.
Ademais, o sujeito passivo dessa espécie criminal será sempre a coletividade,
considerada sua característica difusa, ainda que secundariamente tenha sido atingido
um terceiro.

1. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

O art. 3º da Lei nº 9.605/98 dispõe que as pessoas jurídicas serão


responsabilizadas administrativa, civil e penalmente, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou por decisão de
seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
O parágrafo único, por sua vez, determina que a responsabilidade das pessoas
jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo
fato.
Veja, portanto, que há previsão expressa sobre a possibilidade de
responsabilidade penal da pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais.

1.1. Requisitos

Perceba que a lei elenca basicamente dois requisitos para que se caracterize a
responsabilidade penal da pessoa jurídica:
• Crime praticado por decisão do representante legal, representante contratual
ou por decisão do órgão colegiado da pessoa jurídica;
• Decisão deve ter sido tomada em benefício ou no interesse da pessoa jurídica.

1.2. Dupla imputação

O parágrafo único dispõe que o fato de a pessoa jurídica responder pela


infração penal, não torna não punível a pessoa física. Dessa forma, a pessoa física
também responderá pelo crime.
Assim, não é mais adotada a teoria da dupla imputação, que determinava a
necessidade de denúncia simultânea da pessoa física com a pessoa jurídica. Portanto,
atualmente o STJ entende que a pessoa jurídica poderá ser responsabilizada
penalmente independentemente da pessoa física.

1.3. Pessoa jurídica de direito público

Há polêmica quanto à possibilidade de responsabilização penal da pessoa


jurídica de direito público. Duas são as correntes existentes acerca do tema:
156
Daniela Adamek

• Paulo Affonso Leme Machado entende que é possível a responsabilização


penal da pessoa jurídica de direito público, pois a CF/88 não impôs restrição;
• Já Frederico Amado não admite que a pessoa jurídica de direito público
cometa crime ambiental. Isso porque, para que a pessoa jurídica cometa crime,
é necessário que ela cometa por meio de seu representante e no interesse da
pessoa jurídica. No entanto, o interesse de uma pessoa jurídica de direito
público deve ser o interesse público, pautado pela legalidade. Dessa forma, se o
representante da pessoa jurídica de direito público decidir cometer um crime,
estaria indo contra o interesse da própria pessoa jurídica, motivo pelo qual não
estaria preenchido o outro requisito para responsabilização da pessoa jurídica
(decisão tomada em benefício ou no interesse da pessoa jurídica).

Nesse sentido, torna-se irrazoável imaginar que a pessoa jurídica de direito


público cometa um crime, situação em que o povo será afetado pela pena. Isso
porque, em última instância, quem pagará a sanção será o povo.

1.4. Pessoa jurídica paciente em habeas corpus

Da mesma forma, há duas correntes sobre a possibilidade de pessoa jurídica


figurar como paciente em habeas corpus.
O STF entende pela impossibilidade, considerando o instrumento constitucional
tutelar a liberdade de locomoção, característica incompatível com pessoas jurídicas.
Com efeito, a Corte Suprema entende que, mesmo nos casos em que a pessoa jurídica
seja acusada da prática de crime ambiental, não poderá figurar como beneficiária de
habeas corpus. Isso porque o writ constitucional tutela a liberdade de ir e vir.
Por sua vez, o STJ vem entendendo pela possibilidade de que a pessoa jurídica
seja paciente em habeas corpus nos casos em que ela seja acusada de crime ambiental
e se o writ tiver sido proposto também em favor das pessoas físicas, corrés na ação
penal.

2. FIGURA DO GARANTIDOR

Segundo o art. 2º da Lei de Crimes Ambientais:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos
nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade,
bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica,
que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua
prática, quando podia agir para evitá-la.

Trata-se da figura do garantidor, ou também garante, figura do Direito Penal


que é obrigada, pela ordem jurídica, a impedir um resultado danoso. Esse grupo tem o
dever de agir, impedindo a ocorrência de um dano. Cuida-se de um crime omissivo
impróprio.
157
Daniela Adamek

3. COMPETÊNCIA

Via de regra, a competência para julgar crimes ambientais é da Justiça Estadual,


salvo se houver aplicabilidade uma das situações do art. 109 da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


[...]
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça
Militar e da Justiça Eleitoral;

Verifica-se, portanto, que nos casos de prática de contravenções penais,


independentemente de elas serem praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União, serão sempre julgadas pela Justiça Estadual. A única hipótese de
contravenção penal ser julgada e processada pela Justiça Federal ocorre quando a
conduta for praticada por autoridade com foro por prerrogativa de função perante
essa justiça especializada.
Há, ainda, algumas situações específicas, reconhecidas pelos Tribunais
Superiores, em que a competência para processar e julgar crimes ambientais será da
Justiça Federal, anote-se:
• Crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres,
ameaçados de extinção e espécies exóticas ou protegidas por Tratados e
Convenções internacionais (STF, RE 835.558/SP).
• Pesca predatória no mar territorial ou no entorno de unidades de conservação
da natureza (STJ, CC 115.282/RS);
• Crime contra a fauna praticado em parques nacionais, reservas ecológicas ou
áreas sujeitas ao domínio eminente da Nação;
• Conduta que ultrapasse os limites de um único estado ou as fronteiras do país
(STJ, CC 34.689/SP);
• Crime de liberação ilegal de organismos geneticamente modificados (OGM)
no meio ambiente (STJ, CC 41.301/RS).

4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A superação episódica do véu da personalidade jurídica encontra previsão no


art. 4º da Lei nº 9.605/98, não valendo para as figuras criminosas. Isso porque em
matéria de crime fala-se em responsabilidade subjetiva, e não objetiva, conforme
anteriormente relatado.
Segundo o STJ, é desnecessária a citação do sócio para compor a lide na qual o
autor pediu a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. É
suficiente a intimação do sócio.

158
Daniela Adamek

5. DOSIMETRIA DAS SANÇÕES

No tocante às sanções por crimes ambientais, aplica-se subsidiariamente o


Código de Processo Penal e o Código Penal. Isso porque existem regras especiais na Lei
nº 9.605/98 que estão somadas ao art. 59, que trata das circunstâncias judiciais.
De acordo com o art. 6º da Lei de Crimes Ambientais, para imposição e gradação da
penalidade, a autoridade competente observará:

I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas


conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

6. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS

A Lei de Crimes Ambientais inova em duas penas restritivas de direito,


inexistentes no Código Penal, quais sejam: suspensão total ou parcial das atividades e
recolhimento domiciliar.
Por outro lado, a Lei Ambiental não prevê a limitação de final de semana nem
a perda de bens e valores.
Segundo o art. 8º da Lei nº 9.605/98, são penas restritivas de direito aplicáveis
às pessoas físicas:
I.Prestação de serviços à comunidade:
A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado
de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de conservação.
No caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, a prestação de
serviços à comunidade consistirá em sua restauração, se possível.
Como se vê, a prestação de serviços à comunidade tem por escopo a
conscientização do infrator com relação ao meio ambiente.
II.Interdição temporária de direitos:
O art. 10 consigna as penas de interdição temporária de direito, que são: a
proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais
ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações pelo prazo de 5
anos no caso de crimes dolosos, e de três anos no caso de crimes culposos.
III.Suspensão parcial ou total de atividades:
O art. 11 dispõe que a suspensão de atividades será aplicada quando estas
não estiverem obedecendo às prescrições legais. Portanto, se o indivíduo cometeu
um crime ambiental, mas está cumprindo as prescrições legais, não haverá a
suspensão de suas atividades.
IV. Prestação pecuniária:
Por sua vez, o art. 12 determina que a prestação pecuniária consiste no
pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social.

159
Daniela Adamek

Essa prestação pecuniária não poderá ser inferior a um salário mínimo nem
superior a 360 salários mínimos.
O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for
condenado o infrator.
V. Recolhimento domiciliar:
É muito semelhante ao regime aberto domiciliar. Segundo o art. 13, o
recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer
atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em
residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme
estabelecido na sentença condenatória.
Assim, anote-se que o sujeito não estará sob vigilância, porém nos momentos
de folga do trabalho, curso ou atividade autorizada, deverá permanecer recolhido em
casa.

7. PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS

De acordo com a Lei de Crimes Ambientais são penas aplicáveis às pessoas


jurídicas, isolada, cumulativa ou alternadamente:

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às


pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:
I - multa;
II - restritivas de direitos;
III - prestação de serviços à comunidade.

Perceba que não se está falando de penas com caráter substitutivo, mas da
pena principal.

7.1. Restritivas de direitos

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:


I - suspensão parcial ou total de atividades;
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações.
§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do
meio ambiente.
§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade
estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a
concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,
subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

160
Daniela Adamek

Cumpre destacar que, com relação às penas restritivas de direito e à pena de


prestação de serviços à comunidade, não há previsão temporal expressa na norma.
No entanto, tem-se que nenhuma dessas duas penas poderá ser considerada
perpétua.
Como não há um prazo legal máximo positivado na lei, a doutrina entende que
o máximo de período que poderá ser cumprido como pena restritiva de direito e
pena de prestação de serviços à comunidade é equivalente à maior pena privativa de
liberdade aplicada à pessoa física nas mesmas circunstâncias.

7.2. Prestação de serviços à comunidade

As prestações de serviços à comunidade pela pessoa jurídica, nos casos de


infrações ambientais, estão relacionadas ao meio ambiente.

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá


em:
I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Anote-se que, em verdade, os incisos I e IV não contemplam propriamente a


prestação de serviços à comunidade, visto que o custeio e contribuições são
simplesmente pagamentos em pecúnia para programas, projetos ou entidades
ambientais.

7.3. Suspensão de atividades parcial ou total

Será aplicada quando essas atividades não estiverem obedecendo às


disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. Se o
sujeito cometeu um crime ambiental, mas, a despeito disso, as atividades observam as
normas ambientais, não se poderá aplicar as penas de suspensão de atividades.

7.4. Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade

Será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando


sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de
disposição legal ou regulamentar. Se está funcionando ou se está sendo realizada a
atividade irregularmente, haverá interdição.

7.5. Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações

A aplicação da penalidade não poderá exceder o prazo de 10 anos.


161
Daniela Adamek

7.6. Apreensão dos produtos e dos instrumentos do crime ambiental

Todos os instrumentos utilizados para a prática de crime contra o meio


ambiente serão alvo de perdimento.
Ressalte-se que, para o Código Penal, haverá perdimento dos instrumentos cujo
fabrico, alienação, uso, porte, detenção constituam fato ilícito. Já na seara ambiental,
não; todos os produtos utilizados para a consecução do crime, mesmo que lícitos,
serão objeto de perdimento.

7.7. Liquidação forçada da pessoa jurídica

Nos termos do que dispõe o art. 24 da Lei de Crimes Ambientais, a pessoa


jurídica utilizada ou constituída para a prática criminal terá sua liquidação forçada:

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o


fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá
decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado
instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário
Nacional.

Parcela da doutrina estabelece, no entanto, que se trata de previsão de “pena


de morte”, motivo pelo qual, para parcela da doutrina, tal liquidação seria
inconstitucional. A despeito disso, hoje é o dispositivo é considerado constitucional
pela doutrina majoritária.

8. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES

São circunstâncias que atenuam a pena, nos termos do art. 14 da Lei


Ambiental:

I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;


II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do
dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação
ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle
ambiental.

Em relação às agravantes:

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;

162
Daniela Adamek

c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio


ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do
Poder Público, a regime especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas
públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das
autoridades competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Saliente-se que, embora o inciso I preveja como circunstância agravante a


reincidência em crimes de natureza ambiental, também haverá agravante nos casos de
reincidência em crimes que não sejam de natureza ambiental, porquanto incidirá,
nesse caso, o Código Penal.

9. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA

Conforme determina o Código Penal, a suspensão condicional da pena se dá


quando o sujeito é condenado a pena não superior a 2 anos de privação de liberdade,
em regra. Por outro lado, o art. 16 da Lei de Crimes Ambientais consigna que, nos
crimes ali previstos, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de
condenação a pena privativa de liberdade não superior a 3 anos.

10. INICIATIVA DA AÇÃO PENAL

Todos os crimes previstos na Lei nº 9.605/98 são de ação penal pública


incondicionada, conforme expressa seu art. 26.

11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Segundo o art. 28 da norma criminal ambiental, as disposições relativas à


suspensão condicional do processo, constantes do art. 89 da Lei nº 9.099/95, aplicam-
se aos crimes de menor potencial ofensivo ali definidos, com algumas modificações.
A doutrina lê o art. 28, caput, ignorando a expressão “crimes de menor potencial
ofensivo”. Assim, para a doutrina, cabe suspensão condicional do processo para todos
os crimes ambientais com pena mínima não superior a um ano. Ou seja, na Lei
163
Daniela Adamek

Ambiental, a suspensão condicional do processo segue a regra geral do art. 89 da Lei


9.099/1995.
Na suspensão condicional do processo da Lei nº 9.099/1995, cumprido o prazo
sem que tenha havido revogação, o juiz declara extinta a punibilidade. Na Lei
Ambiental, por sua vez, a extinção da punibilidade só pode ser declarada se houver
prova pericial de que o infrator reparou os danos ambientais ou adotou todas as
providências possíveis para fazê-lo. A comprovação dessa reparação ou dessa
tentativa de reparação, como visto, é feita mediante “laudo de reparação de dano
ambiental”.
Encerrado o prazo da suspensão condicional do processo, o juiz determina a
realização do primeiro laudo de reparação de dano ambiental. Se a perícia concluir
que não houve reparação integral, o juiz fará a primeira prorrogação da suspensão
por mais 5 anos (4 anos, acrescidos de mais 1 ano) e suspende-se a prescrição.
Findo o prazo de 5 anos, o juiz determina a realização do segundo laudo de
reparação de dano ambiental. Se o laudo indicar que ainda não houve reparação
integral do dano ambiental, o juiz poderá fazer a segunda prorrogação da suspensão
por mais 5 anos (4 anos, acrescidos de mais 1 ano). Nesse caso, a suspensão da
prescrição não ocorrerá, por falta de previsão legal.
Durante a primeira e segunda prorrogações, o acusado não fica mais sujeito às
condições da suspensão condicional do processo previstas no art. 89 da Lei nº
9.099/1995. Ou seja, o prazo somente é exasperado para que o indivíduo possa
cumprir as exigências de reparação ambiental.
Encerrada a segunda prorrogação, o juiz determina a realização de um terceiro
laudo de reparação de dano ambiental. Se o laudo indicar que não foi reparado o
dano e não foram tomadas as providências para reparar, o juiz revoga a suspensão
condicional do processo e o processo segue.
Por outro lado, se o laudo indicar que foi reparado o dano ou foram tomadas as
providências para reparar, embora não tenha sido possível a reparação, o juiz declara
extinta a punibilidade.

12. PROPOSTA DE APLICAÇÃO DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS

A Lei Criminal Ambiental prevê a possibilidade de transação penal para os


crimes ambientais de menor potencial ofensivo, ou seja, para aqueles cuja pena
máxima não ultrapasse os 2 anos:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de


aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada
desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata
o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Dessa forma, a proposta de transação, que é a aplicação imediata de pena


restritiva de direitos ou multa, somente poderá ser formulada desde que preenchido

164
Daniela Adamek

o requisito de comprovação de prévia composição do dano ambiental, salvo nos


casos em que for constatada a impossibilidade de reparar o dano.
A transação penal depende da celebração do acordo de como será reparado o
dano.

13. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Segundo o art. 7º, as penas restritivas de direitos são autônomas e substituem


as privativas de liberdade quando:

I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade


inferior a quatro anos;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que
a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo
terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.

Verifica-se, portanto, que nos casos de crimes dolosos com pena privativa de
liberdade inferior a 4 anos também será cabível a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos.
Diferentemente do Código Penal, em que se converte a pena privativa de
liberdade em restritiva de direitos quando a pena não é superior a 4 anos (art. 44, I, do
CP), aqui a pena deve ser inferior a quatro anos. Ou seja, o condenado à pena de
exatos 4 anos não fará jus à substituição, quando se tratar de crime ambiental.
Observe que as penas restritivas de direitos são aplicáveis apenas às pessoas
físicas, pois substituem penas privativas de liberdade, inaplicáveis às pessoas jurídicas.
Atente-se que, diferentemente do Código Penal, a Lei nº 9.605/98 não exige que o
crime tenha sido cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa para autorizar a
substituição. Outro ponto é que a Lei nº 9.605/98 não coloca como pressuposto
negativo que o sujeito não seja reincidente.

14. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Apesar de certa controvérsia, o STF e o STJ têm aplicado o princípio da


insignificância aos crimes ambientais, ainda que com toda a cautela possível.
Não obstante possível aplicação do princípio da insignificância, o STJ entende
que a aplicação deve se dar com extrema cautela, por conta da fundamentalidade do
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é inerente às futuras e
presentes gerações.
Cumpre destacar que o próprio STF já aplicou o princípio da insignificância em
crimes ambientais, sempre observando os seguintes requisitos:
1. mínima ofensividade da conduta do agente;
2. nenhuma periculosidade social da ação;
165
Daniela Adamek

3. reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;


4. inexpressividade de lesão jurídica provocada.

15. JURISPRUDÊNCIA

Assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) não impede a instauração de


ação penal.
A Corte Especial do STJ fixou entendimento de que a assinatura de TAC com órgão
ambiental não impede a instauração de ação penal, porquanto vigora, em nosso
ordenamento jurídico, o princípio da independência das instâncias penal e
administrativa. (STJ, APn 888/DF – Informativo 625)

Competência da Justiça Federal para julgar crimes ambientais envolvendo animais


silvestres, em extinção, exóticos ou protegidos por compromissos internacionais.
O Plenário do STF entendeu que compete à Justiça Federal processar e julgar crimes
ambientais de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de
extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil. (STF, RE 835.558/SP – Informativo 853)

16. EXERCÍCIOS

1. VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRJ/2019


Acerca da responsabilidade em matéria ambiental, é correto afirmar que
a) é inexistente a responsabilidade solidária entre o atual proprietário do imóvel e o
antigo proprietário pelos danos ambientais causados na propriedade,
independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o causador dos danos.
b) o dano não pode decorrer de atividade lícita, pois o empreendedor, ainda que em
situação regular quanto ao licenciamento, por exemplo, não tem responsabilidade em
caso de dano provocado por sua atividade.
c) as sanções penais aplicáveis às pessoas jurídicas serão multa e prestação de serviços
à comunidade.
d) o STF reconhece a possibilidade de se processar penalmente a pessoa jurídica,
mesmo não havendo ação penal em curso contra pessoa física com relação ao crime
ambiental praticado.
e) a ação penal para o caso de crimes contra o meio ambiente é pública
incondicionada, não cabendo a aplicação das disposições do juizado especial criminal
para os crimes ambientais caracterizados como de menor potencial ofensivo.

Comentários
A alternativa A está incorreta, conforme dispõe a Súmula nº 623 do STJ: As obrigações
ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário
ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

166
Daniela Adamek

A alternativa B está incorreta, pois não há óbice ao fato de que o dano ambiental pode
advir de atividades lícitas.
A alternativa C está incorreta, na medida em que também se pode aplicar penas
restritivas de direitos às pessoas jurídicas, conforme determina o art. 22 da Lei de
Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98).
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme a mais recente
jurisprudência do STF que deixou de adotar a teoria da dupla imputação.
A alternativa E está incorreta, pois a Lei de Crimes Ambientais, no art. 28, permite a
aplicação das disposições aplicáveis aos Juizados Especiais Criminais, nos crimes de
menor potencial ofensivo, com as modificações que estabelece.

2. CESPE/CGE-CE/Auditor de Controle Interno/2019


Segundo a Constituição Federal de 1988, condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente sujeitam os infratores a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Acerca da
responsabilidade dos infratores em situações de condutas ou atividades lesivas ao
meio ambiente, assinale a opção correta.
a) A responsabilidade das pessoas jurídicas é unicamente administrativa, uma vez que
a esfera penal ocupa-se de ações estritamente humanas.
b) A responsabilidade administrativa, por se consubstanciar também em uma sanção,
afasta a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
c) A responsabilidade penal da pessoa jurídica exclui a das pessoas físicas, coautoras
ou partícipes de um mesmo fato.
d) A responsabilidade penal da pessoa jurídica está condicionada à persecução penal
do administrador ou do representante legal quando agem em concurso de pessoas.
e) A responsabilidade penal da pessoa jurídica possibilita a aplicação da pena restritiva
de direitos cumulada com a pena de prestação de serviços à comunidade.

Comentários
A alternativa A está incorreta. A Lei de Crimes Ambientais, em seu art. 3º, permite a
responsabilização administrativa, civil e penal das pessoas jurídicas.
A alternativa B está incorreta, pois a responsabilização, nas três esferas (civil,
administrativa e penal), é independente e podem ser aplicadas de forma
concomitante.
A alternativa C está incorreta, conforme preconiza o parágrafo único do art. 3º da Lei
de Crimes Ambientais.
A alternativa D está incorreta, na medida em que não mais se adota a teoria da dupla
imputação.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão, conforme estabelece o art. 21
da Lei de Crimes Ambientais.

3. CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-PI/2019


Por ordem exclusiva do representante legal de uma empresa madeireira, foram
extraídas e vendidas pela empresa diversas toras de madeira de uma estação ecológica
167
Daniela Adamek

que havia sido criada por decreto federal. Em razão disso, foi proposta ação penal
contra a pessoa jurídica e a pessoa física. Durante o curso da ação, a segunda foi
excluída da lide.
Nessa situação hipotética, a ação penal
a) não poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça federal a
competência para o julgamento.
b) poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça federal a
competência para o julgamento.
c) prosseguirá, desde que a pessoa física seja novamente incluída no polo passivo,
independentemente do foro.
d) poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça comum a
competência para o julgamento.
e) não poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça comum a
competência para o julgamento.

Comentários
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, pois conforme amplamente
consignado, não mais se aplica a teoria da dupla imputação. Dessa forma, é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por danos ambientais independentemente
da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Ademais,
conforme entendimento pacificado pelo STJ (CC nº 142.016/SP), a Justiça Federal é
competente para julgar crime cometido em unidade de conservação federal, pois há
interesse federal na manutenção e preservação da região.

4. FCC/SEMAR-PI/Auditor Fiscal Ambiental/2018


No tocante à responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental,
a) poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
b) a proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou
doações não poderá exceder o prazo de vinte anos.
c) a responsabilidade das pessoas jurídicas exclui a das pessoas físicas, autoras,
coautoras ou partícipes do mesmo fato.
d) não obstante a sua previsão no art. 225 da Constituição Federal de 1988, a
responsabilidade penal da pessoa jurídica não foi regulamentada pela Lei n°
9.605/1998 (Lei dos Crimes e Infrações Administrativas Ambientais).
e) a prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em suspensão
parcial ou total de atividades e interdição temporária de estabelecimento, obra ou
atividade.

Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 4º da Lei de
Crimes Ambientais prevê.
A alternativa B está incorreta, pois a o prazo estabelecido pela Lei de Crimes
Ambientais, no art. 22, § 3º, é de dez anos.
168
Daniela Adamek

A alternativa C está incorreta, vide parágrafo único do art. 3º da Lei de Crimes


Ambientais.
A alternativa D está incorreta, pois a Lei de Crimes Ambientais regulamenta a
responsabilidade penal da pessoa jurídica.
A alternativa E está incorreta. A propósito, veja o teor do art. 9º da Lei de Crimes
Ambientais:

Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao


condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades
de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na
restauração desta, se possível.

5. CESPE/Delegado de Polícia/PC-SE/2018
Renato e Gabriel fundaram, em 2015, a empresa Camarões do Mangue Ltda., que
visava à exploração da carcinicultura — criação de crustáceos — exclusivamente em
área rural de manguezais de um estado federado. No referido ano, eles instalaram
viveiros de grande porte e passaram a exercer atividade econômica muito lucrativa.
Após três anos de atividade, os sócios perceberam que não detinham licença
ambiental para o exercício da atividade.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue:
A empresa Camarões do Mangue Ltda. não será responsabilizada penalmente pela
atividade ilegal de carcinicultura em manguezais caso os sócios tenham desviado todos
os lucros da empresa, não gerando, com isso, nenhum benefício à entidade.

Comentários
O item está certo. Veja o que dispõe o art. 3º da Lei de Crimes Ambientais:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e


penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das


pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Verifica-se que a responsabilidade da pessoa jurídica exige que a infração seja


cometida no interesse ou em benefício da entidade. No caso do enunciado, a infração,
porque não gerou nenhum benefício à entidade, foi cometida no interesse dos sócios.
Assim, não há que se falar em responsabilidade da pessoa jurídica, mas das pessoas
físicas que agiram em contrariedade às normas legais.

169
Daniela Adamek

6. CESPE/Juiz Substituto/TJSC/2019
Joana, moradora de uma comunidade quilombola, tem baixo grau de instrução e
trabalha na principal atividade de subsistência da sua comunidade, que é a pesca.
Durante uma pescaria, feita sempre aos domingos, no período noturno, ela capturou
dois filhotes de baleia-franca, espécie inserida na lista local de espécies ameaçadas de
extinção. Depois desse dia, Joana passou a fazer da pesca dessa espécie animal uma
atividade econômica, com a venda para o comércio da região. Somente após ter
praticado reiteradamente a atividade criminosa, ela descobriu que essa espécie de
baleia era ameaçada de extinção. Arrependida, Joana dirigiu-se a uma delegacia de
polícia e informou, com antecedência, à autoridade policial todos os locais em que
havia instalado armadilhas de pesca. Além disso, passou a trabalhar em um projeto
social para reparar o dano causado e a colaborar com os agentes encarregados da
vigilância e do controle ambiental.
Conforme as disposições da Lei n.º 9.605/1998, assinale a opção que indica
circunstâncias atenuantes de eventual pena criminal que possa ser imputada a Joana.
a) o baixo grau de instrução de Joana e o seu pertencimento a uma comunidade
quilombola
b) o arrependimento de Joana, sua pretensão de reparar o dano e a periodicidade das
pescas (sempre aos domingos)
c) a comunicação prévia de Joana do perigo iminente de degradação ambiental, em
razão das armadilhas de pesca instaladas, e a periodicidade das pescas (sempre aos
domingos)
d) o baixo grau de instrução de Joana e sua colaboração com os agentes encarregados
da vigilância e do controle ambiental
e) o pertencimento de Joana a uma comunidade quilombola e a sua desistência
voluntária.

Comentários
Nos termos do artigo 14 da Lei nº 9.605/98:

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:


I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do
dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação
ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle
ambiental.

Desse modo, a alternativa A está incorreta, pois não há previsão de “pertencimento a


comunidades quilombolas” como circunstância que atenue a pena. No mesmo sentido,
a alternativas B e C estão erradas, pois a “periodicidade das pescas aos domingos” é
uma circunstância agravante da pena, e não atenuante, conforme dispõe o art. 15 da

170
Daniela Adamek

Lei de Crimes Ambientais. A alternativa D está correta e é o gabarito da questão,


conforme consigna o referido artigo 14. Por fim, a alternativa E está incorreta,
porquanto, conforme colocado, o “pertencimento a comunidades quilombolas” e
“desistência voluntária” não estão previstos como circunstâncias atenuantes no artigo
14.

171
Daniela Adamek

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMADO, Frederico. Curso de Direito e Prática Ambiental. Salvador: Ed. JusPodivm,


2018.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros,
2018.
SILVA, Romeu Faria Thomé da. Manual de Direito Ambiental. Salvador: Ed. JusPodivm,
2018.

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