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O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979
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O INIMIGO DO REI
O INIMIGO DO REI é feito pela seguinte equipe, em ordem de Jornalistas
sorteio:
Ricardo Líper, Renato Almeida, José Onofre, Adir, Zézinho, Jorge
d'0 Inimigo do Rei AVISO
de Sá, Zeferino Marteleteiro, Sérgio Guerra, Antônio Carlos Pacheco,
José Liberatti, Aurélio Vellame, Vítor Mendonça, Alexandre Ferraz,
também são jornaleiros A PRAÇA
Átalo Augusto, Kátia Regina Borges, Antônio Fernandes Mendes, Aos Colaboradores. A quem quiser escrever para O INI-
Do atual presidente do Sindicato dos
Edgar Rodrigues, Cláudio Miranda, Júlio e Artur de Piero Gouveia. MIGO DO REI: jornalistas da Bahia: "0 INIMIGO DO REI é
Nós somos o único jornal autogestionário do Brasil.
um |ornal de viados, maconheiros e ma
Correspondente para a Europa: Sebastião Santa Rosa. Isso significa que todas as pessoas que aqui escrevem estão
lucos" Estas palavras eram utilizadas pelo
em pé de igualdade e não sofrem censuras de "conselhos edi-
presidente do Siniorba para hostilizar um ex-
N." 5. Publicação bimensal da Editora A Livros, Jornais e Revis- toriais" iluminados. componente deste tablóide bimensal, quan-
tas Ltda. Preço do exemplar avulso: CrS 10,00. Assinatura anual de Entretanto, o critério para escrever para este jornal é assumi- do o mesmo trabalhava na redação do Jornal
colaboração: CrS 100,00. Exterior: USi 7,00. Correspondência: Caixa lo e trabalhar braçalmente por ele. Vendê-lo de mão em mão,
da Bahia.
Postal2540. Salvador, Bahia-Brasil —CEP 40.000 suportar as exaustivas reuniões etc. Não estamos atrás de níveis Aviso aos companheiros jornalistas: se
nos artigos. Isso é censura da criatividade. qualquer profissional baiano se enquadrar
Por outro lado, não estamos dispostos a trabalhar para divul- nas três categorias apontadas pelo atual
AOS ASSINANTES: gar textos de pessoas {por mais "geniais" que sejam) sem que presidente do nosso Sindicato, CUIDADO!
elas dêem a sua quota de trabalho. Se assim não fosse, O Se ele sem ter poder algum já assume essa
1. Não chegando qualquer dos números do jornal, favor avisar-nos INIMIGO DO REI não seria um jornal autogestionário. Se- posição discriminatória e fascistóide,
para que possamos providenciar. ríamos um grupo que trabalha e, à sua volta, um grupo "vai- imaginem se ele um dia tiver o poder nas
2. Comunicar-nos qualquer mudança de endereço. doso" que gosta de ver suas "obras" literárias publicadas e, de mãos; por certo mandará todo mundo para
maneira burguesa, explora o pessoal autogestionário. campos de concentração: homossexuais,
Composto e impresso na Gráfica Editora Jornal do Commercio — Em resumo: não fazemos distinção entre o trabalho intelec- maconheiros e malucos.
Rua do Livramento, 189, — Tel. 243-7671, Rio de Janeiro. tual e braçal. Os jornalistas do INIMIGO DO REI são também
jornaleiros.
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CHINA X VIETNÃ
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1 °. DE MAIO, DIA
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Pertence exclusivamente no pcnodo posterior à condo os assistentes. Nesse sas vozes, que hoje estran- market. Ali, o tema popular
ao proletariado, aos tra- Guerra Civil, provocou in- momento um petardo cruza gulam com a morte." foi a redução das horas de
balhadores, a comemoração tensa conturbação no seio o espaço explode entre os Fischer — "Hurrah pelo trabalho. Porém, "o Anar-
do 1? de Maio. Como das classes operárias. Sur- policiais matando um e anarquismo! quismo está em julgamen-
trabalhadores considera-se giram movimentos de ferindo mais de duzentos. Engel — 'Este é o to", espumou raivosamente
todos que vivem do produto protesto pelos baixos sa- momento mais feliz de o Sr. Grinnell. Se assim é eu
de seu trabalho, manual ou lários, desemprego e exces- O PROCESSO minha vida!" me sentencio: sou anarquis-
intelectual, em beneficio da sivo horário de trabalho. Parsons — "Deixai ta.
coletividade, que não ex- Fundaram-se pujantes as- Nos dias seguintes ou vir a voz do povo?" Creio com Buckle,
ploram o trabalho alheio e sociações como a "Liga Chicago ofereceu um exem- Em 1889, em Congresso Paine, Jefferson, Emerson,
que devem alugar seus es- Pelas Oito Horas", "Liga plo flagrante de irracio- Internacional, foi escolhido Spencer e muitos outros
forços aos detentores dos dos Cavaleiros do Traba- nalidade e histeria coletiva. o dia 1.° de Maio para uma grandes pensadores do
bens sociais. lho" e a secção americana Centenas de pessoas, lares manifestação universal e o século, que o Estado de cas-
O 1? de Maio é dia de da "Associação Interna- invadidos e depredados, es- proletariado aceitou-a com tas e classes — situação em
luto, luta e de protesto cons- cional dos Trabalhadores". _ tado de sítio, toque de entusiasmo, dando-lhe um que uns vivem às espensas
ciente. recolher, jornais fechados. caráter reivindicativo, do trabalho dos outros —
Não é dia de festa. Os A treze de janeiro de Uma verdadeira "caça às saudando a memória dos que chamamos ordem,
trabalhadores vivem es- 1872, após greve de 100.000 bruxas" pois a explosão da que morreram pela liber- creio, sim que esta bárbara
cravizados é escravos não operários, os desempre- bomba era indicação in- tação dos trabalhadores. forma de organização social
costumam festejar sua gados de New York fizeram falível de um complô de am- com seus roubos e assas-
PALAVRAS DOS CON-
opressão. importante manifestação. A plas proporções, segundo a sinatos legais está próxima a
DENADOS
Entretanto, políticos as- polícia interveio espancando polícia. Imediatamente fo- desaparecer e deixar desobs-
APÔS A LEITURA DA
tutos, classes empresariais, os trabalhadores. ram presos; Fielden, Spies, truída a passagem a uma
SENTENÇA
governantes inescrupulosos Em um Congresso Schwab, Engel, Fischer, sociedade livre, à associação
realizado em Chicago Ling, Neeb; Parsons ao 1. Augusto Spies — voluntária se preferires.
e grupos opressores, pro-
deliberou-se declarar greve saber da prisão dos com- (1855/1877), editor do jor- (...) Já expus minhas
curam deturpar o verda-
geral no dia J* de maio de panheiros, apresentou-se nal "Arbeiter-Zeitung",
deiro significado dessa data. idéias. Elas constituem par-
1886, para surpresa geral, voluntariamente às auto- condenado à forca è exe- te de mim mesmo. Não
Nos países pseudo-
tudo corre em calma, sem ridades. Todos eles militares cutado: quero prescindir delas e ain-
socialistas o 1? de Maio é
incidentes. Dois dias após, de organizações libertárias "Ao dirigir-me a este da que o quisesse não o
motivo para desfile de mor-
trabalhadores da empresa de trabalhadores. Tribunal, o faço como poderia. E se pensasses que
tíferas armas atômicas e de
madeireira MacCormick se representante de uma classe tereis aniquilado estas idéias
tropas cientificamente O processo foi carac-
reúnem para eleger uma frente aos de outra classe que ganham mais terreno
treinadas para a morte, en- terizado por um pré-
comissão de greve. Em inimiga e começarei com as cada dia, mandando-me à
quanto a camarilha dona do julgamento: Tratava-se an-
quanto fala Augusto Spies, mesmas palavras que um forca; se mais uma vez
poder a tudo assiste em tes de mais nada de punir
um grupo de operários sai personagem veneziana aplicais a pena de morte
palanque cuidadosamente exemplarmente um pu-
da reunião e ataca alguns pronunciou já cinco séculos pelo atrevimento de dizer a
separado do povo. nhado de inocentes para que
outros que estavam furando ante o Conselho dos Dez, verdade e vos desafiar —
Nos países capitalistas, o exemplo intimidasse o
a greve. A polícia privada da em ocasião semelhante:
quer onde impere o regime movimento operário. O ob- eu vos digo — se a morte é a
empresa ataca os traba- "minha defesa é a vossa pena que usai para a
de democracia liberal ou nos jetivo do Juiz Joseph E.
lhadores matando seis e acusação; meus pretensos proclamação da verdade,
de ostensiva ditadura, as Gary era condenar e não
ferindo cinqüenta. Spies, crimes são a vossa história!" então estou disposto a pagar
classes dominantes pro- fazer justiça e a ele estava
testemunha ocular da (...) Acusam-me de não
movem jogos de foot-ball, unida toda a imprensa tão custoso preço: chamai o
ocorrência, publica no dia ser cidadão deste país.
shows com artistas famosos, capitalista, as classes em- carrasco!
seguinte violento artigo no Resido aqui há tanto tempo
festanças e bebedeiras com presariais e a sociedade con-
«Arbeiter-Zeitung» con- Como Grinnell (procurador- A verdade crucificada
o objetivo de anestesiar a servadora de Chicago.
clamando os trabalhadores geral), sou tão bom cidadão em Sócrates, Cristo, Gior-
consciência dos produtores.
à luta. A Sentença foi proferida como ele pelo menos, ainda dano Bruno, João Huss e
Porém, ao contrário de
No dia quatro de maio é no dia 28 de agosto e a não quimera ser comparado Galileu ainda vive, estes e
uma festa, essa é data sím-
convocada pelo grupo liber- execução foi determinada com tal personagem. muitos outros nos prece-
bolo das aspirações da clas-
tário uma manifestação na para o dia 11 de novembro Grinnell apelou, sem deram no passado. Estamos
se trabalhadora, come-
praça Haymarket. O co- de 1887. Pisando a lei, a necessidade, ao patriotismo dispostos a segui-los. "
moração afirmativa da von-
mício foi permitido pelas razão, a dignidade, a ver- dos jurados e vou respon- 2. Michael Schwab —
tade de decisão do prole-
autoridades e assistido pelo dade, a justiça, as classes der-lhe com as palavras de nasceu na Baviera em 1853,
tariado reivindicar seus
prefeito de Chicago, Cart H. opressoras gritaram: "ao um diplomata inglês: "O profissão de encadernador e
direitos espezinhados.
Harrison. A reunião iniciou- patíbulo!" Porém, o tétrico patriotismo é o último repórter do "Arbeiter-
Ao operário consciente
se às 19:30 e decorreu sem patíbulo não perturbou a refúgio dos infames. " Zeitung", condenado à for-
cabe a tarefa de recuperar o
incidentes até às 22 horas. consciência dos condenados (...) Foi insinuado, que ca foi posteriormente sen-
significado dessa data
Quando todos se retiravam que assim se expressaram era o Anarquismo que es- tenciado à prisão perpétua.
universal e histórica.
pacificamente o inspetor da nos últimos momentos: tava em julgamento... Adquiriu a liberdade em
ORIGEM DO IP DE MAIO Polícia, John Bonfield, com Spies — "Tempo virá Nenhuma sílaba sobre 1890:
A rápida industriali- 180 policiais uniformizados, em que nosso silêncio será Anarquismo foi pronun- "Denominar justiça os
zação dá América do Norte intervém brutamente espan- mais poderoso que as nos- ciada no comício de Hay- procedimentos seguidos
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DE PROTESTO
neste processo seria uma
burla. Não se faz justiça
"Tenho que protestar
contra a pena que me im-
tão vossos defensores do
direito de propriedade.
miséria. Pois bem, acusam-
me de excitar as paixões,
ao conhecimento da ver-
dade. Não podeis negar que
vossa sentença é o resultado
do ódio da imprensa ca-
pitalista, dos monopoli-
zadores do capital, dos ex-
ploradores do trabalho (...).
nem se poderia fazer, por- põem, porque não sou as- (...) Permita que vos as- acusam-me de incendiário, Es te. processo in iciou -se
que, quando uma classe está sassino e só se me provou segure que morro feliz por- porque tenho afirmado que e seguiu contra nós, ins-
em frente à outra, é uma que sou anarquista. que estou seguro de que a sociedade atual degrada o pirado pelos capitalistas,
hipocrisia tão só supô-lo. (...) Se credes que com centenas e milhares de homem até reduzi-lo à pelos que crêem que os
(...) Não há nenhum este bárbaro veredito operários, a quem tenho categoria de animal. trabalhadores não têm mais
segredo em nossa propagan- aniquilais os anarquistas, falado, recordarão minhas Arídai, ide às casas dos que um direito e um dever: o
da. Anunciamos por pa- laborais em erro, por que palavras. pobres, e os haveis de ver de obediência.
lavras e por escrito uma eles estão dispostos a morrer (...) Desprezo-vos, des- amontoados no menor es-
próxima revolução, uma sempre pelos seus princípios prezo vossa ordem, vossas Eles guiaram este
paço possível, respirando processo até o momento,
mudança no sistema de e estes são imortais. Este leis, vossa força, vossa uma atmosfera de enfer-
produção de todos os países veredito é um golpe de mor- autoridade. Enforcai-me!" como disse muito bem Fiel-
midade e de morte. den, de nos acusarem osten-
industriais do mundo, e essa te dado à liberdade de im- 6. George Engel — Credes que estes homens
mudança aproxima-se, não prensa, do pensamento e da membro da IInternacional, sivamente de assassinos e
têm verdadeira consciência nos condenarem como anar-
poderá deixar de chegar. palavra neste país. O povo condenado à forca e exe- do que fazem? De nenhum
(...) O anarquismo tomará nota. cutado: quistas (...).
modo. São produto de cer-
morreu, disse o procurador- 5. Louis Ling — nasceu "Em que consiste meu tas condições, de deter- (...) Pois bem sou anar-
geral. O Anarquismo até em Mannhein, Baden, crime? minados meios em que nas- quista! Que ê o socialismo e
hoje só existe como doutrina profissão de carpinteiro. Em que tenho traba- ceram, o que lhes obriga a o anarquismo? Brevemente
e o Sr. Grinnel não tem Tinha na época do processo lhado para o estabelecimen- ser o que são e nada mais do definido, o direito dos
poder para matar qualquer apenas vinte e dois anos, to de um sistema social em que são. produtores ao uso livre e
doutrina". condenado à forca suici- que seja impossível o fato de (...) Creio que chegará o igual dos instrumentos de
3. Oscar Neeb — nasceu dou-se ou "foi suicidado na que enquanto uns amon- tempo em que sobre as tranbalho. A história da
em New York em 1841, con- prisão", este aspecto nunca toam milhões, benefician- ruínas da corrupção se humanidade é progressiva, ê
denado à forca, foi pos- ficou esclarecido plenamen- do-se das máquinas, outros levantará a esplendorosa ao mesmo tempo evolu-
teriormente sentenciado a te: caiam na degradação e na manhã do mundo eman- cionista e revolucionária..
15 anos de prisão. Em "Corte de Justiça! miséria... cipado, livre de todas as A linha divisória entre a
1890, o governador do Com a mesma ironia Vossas leis estão em maldades, de todos os evolução e a revolução
lilinois, John P. Atlgold, as- com a qual olharam meus oposição com as da natu- monstruosos anacronismos jamais pode ser determi-
sinou sua libertação por esforços para obter nesta reza, e por intermédio delas, de nossa época e de todas nada. Evolução e revolução
considerá-lo inocente: "terra livre da América " um roubais as massas o direito vossas condenadas insti- são sinônimos. A evolução é
"Estes são os crimes que modo de viver, tal como um à vida e ao bem-estar. tuições. " o período de . incubação
cometi. Em minha casa ser humano é digno de Não combato indivi- 8. Albert R. Parsons revolucionária. O nasci-
foram encontrados um gozar; agora, após con- dualmente os capitalistas, lmpressor tipográfico, mento é uma revolução, seu
revólver e uma bandeira denar-me à morte, con- combato o sistema que lhes editor do jornal "Alarm"; processo de desenvolvimen-
vermelha. Organizei sin- cedei-me a liberdade de dá o privilégio. Meus mais seu discurso foi de oito to, a evolução.
dicatos operários. Sou pela pronunciar um último dis- ardentes desejos é que os horas. Seus ancestrais
redução das horas de (...) Já provei como fui
curso. trabalhadores saibam quem chegaram à América na
trabalho, pela educação dos ao comício de Haymarket,
Aceito a concessão, são seus inimigos e quem segunda viagem do May-
trabalhadores e pela.saída sem plano prévio de ne-
porém com o único pro- são seus amigos. flower, e em sua família
do "Arbeiter-Zeitung", o nhuma classe, solicitado à
pósito de expor as injus- Tudo o mais eu des- havia generais, majores,
jornal dos operários. Não há última hora pelos meus
tiças, as calúnias e os ul- prezo; desprezo o poder de juristas etc, porém, ele hão
evidência que eu estivesse amigos. Já sabeis que me
trajes que atiraram sobre um governo iníquo, seus se prevaleceu disso para a acompanharam minha es-
em conecção com arremes- mim. policiais e seus espiões. Não sua defesa. Foi condenado à
sadores de bomba ou que posa, a senhorita Holmes,
Acusam-me de des- tenho mais nada a dizer. " forca e executado.
estivesse perto deles. outras duas mais e meus
prezar a lei e a ordem. E que 7. Samuel Fielde n — "Vosso veredito é o da
Portanto, eu vos suplico, dois filhos. E agora pergun-
significa a lei e a ordem? nasceu em Lancashire em paixão, gerado pela paixão,
enforcai-me também. Pois é to, é possível que em tais
Seus representantes são os 1846, èocheiro, condenado à alimentado pela paixão eéa
mais honroso morrer ra- circunstâncias e condições,
policiais e entre estes exis- prisão perpétua, foi em 1890 soma total da paixão or- acudisse a um lugar onde
pidamente do que ser assas- tem muitos ladrões. Aqui se posto em liberdade após ganizada da cidade de tivese premeditado um com-
sinado numa prisão. " senta o capitão Schaack. revisão do processo: Chicago. plô para lançar bombas? is-
4. Adolf Fischer— nas- Ele me confessou que meu "Não há nenhum cri- E que é a paixão? É a so é incrível; está fora da
ceu em Bremen no ano de chapéu e meus livros ti- minalista que negue que supressão da razão, dos natureza humana crer na
1842, tipógrafo, condenado nham desaparecido, sub- todo crime na sua origem é elementos de discernimento, possibilidade de um ato tão
à forca, foi executado-' traídos por policiais. Aí es- produto necessário da de reflexão e de justiça mostruoso."
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PAGINA 8 O INIMIGO DO REI ABRIL& MAIO DE 1979
Um problema capital
N'0 INIMIGO DO REI n? 4 falamos sobre a situação do
homem do campo, no que diz à exploração do seu trabalho.
Agora vamos mostrar com detalhes a diferença da propriedade
voltada para o homem comum para aquela que tem como único
objetivo o capital, mesmo agregando inúmeros indivíduos pas-
sivos, que apenas trabalham para a sobrevivência.
Sabemos que essa invenção do capital pelo homem, é um
erro grosseiro. Quem criou este imenso recurso foi a própria
natureza, da qual nós fazemos parte como pequena parcela;
seja como consumidores ou para preservá-la e assegurar a sua
permanência em função da própria existência do ser humano.
Hoje, em todas as partes do mundo, o ser humano debate-se
com o problema vda produção, seja de alimentos, como de
materiais duráveis. Mas, em tudo isso existe um exagero e uma
ganância partindo de indivíduos desequilibrados que, pelo
lucro, a inveja, a arrogância e a hipocrisia, se esquecem que são
uma efêmera criatura e não pode fugir às leis da natureza que o
tem até a hora em que desejar.
LUCRO: ÚNICA META da economia ocidental e de países orientais, o seu povo vive com àqueles que contribuíram para sua aprendizagem. Pelo cpn-
um padrão de vida sem pressão e tensões, além do que se passa trário, só visam privilégios e a vaidade pessoal. Por que não om-
Esperar desta economia convencional é cair no abismo, pois no maior centralizador de tecnologia do mundo: os Estados brear-se a todos na busca de uma solução estável, abolindo o
sabemos que ela só tem uma meta — o lucro. Os economistas e Unidos da América, sem o concurso da vontade popular. egoísmo e a inveja, guiando-se pela racionalidade?
seus seguidores dão uma visão materialista ao desenvolvimento Então a economia voltaria para o ser e nào mais para o ter
. Por outro lado, os chamados estados operários — como a
industrial, dando preferência primordial às máquinas, eli-
Rússia, China, Alemanha Oriental e tantos outros opressores da
minando o fator humano, porque a máquina, no entender des- Lembramos ao leitor que a Suécia é um país onde se con-
liberdade individual — enveredaram-se por esse mesmo proces-
ses senhores, não comete enganos e nem dá prejuízos como as seguiu um padrão de vida bastante alto graças aos impulsos
so. Embora ali tenham havido reais movimentos populares, des-
pessoas humanas. Não escapando deste engano, até mesmo a econômicos unicamente voltados para os bens materiais. Este
truídos pelos novos tiranos que usurparam a vontade popular,
natureza, embora este desenvolvimento seja em função desses crescimento levou o povo a sérios desequilíbrios mentais: queda
impondo a ordem de cima para baixo. Ordem e progresso sig-
seres humanos. acentuada da criação artística, depressões, prestação, tensão e
Em razão desta situação é que ocorrem as sérias crises de nifica morte à liberdade.
alterações psíquicas, alcoolismo e tóxicomania. Um alto índice
mercado com graves pertubações sociais. Ora por falta de de suicídios.
produção, ora por abundância, principalmente no que concerne MONOCULTURA
aos produtos alimentares onde os açambarcadores de lucros —
para mantê-los — fazem o jogo sujo. Esses senhores — para Não existe crime maior do que a incrementação da monocul- Portanto, voltando à História, verificamos que várias ci-
manter uma grande produção — não excluem a destruição do tura, unicamente para atender apetites de ganância e lucro. vilizações desaparecidas encaminharam-se também por este ab-
ser humano e da natureza. Como é o caso das nossas lavouras de café, fumo, cana, cacau, surdo, apressando o seu fim.
Portanto, a economia do gigantismo e da automação é soja e algodão. Deixa-se que o pequeno produtor pereça diante Precisamos fazer uma revolução interna, em cada um de
remanescente das condições e do pensamento do século XIX e é da abusiva concorrência e descaso, trazendo sérios problemas às nós, voltada para uma educação permanente com um plane-
totalmeníe incapaz de resolver os graves problemas reais de lavouras diversificadas e de subsistência. Essas monoculturas de jamento que conte com a participação de todos. Acabar com es-
hoje. Precisamos do pensamento novo, assentado na atenção mercado destroem a natureza, deixa o homem à mercê de um ta visão cega de tecnicismo. O que se entende por educação? É
pelas pessoas e não primordialmente pelos bens materiais. Com tratamento desumano, além de desequilibrar a sua vida bio- um conhecimento profundo de toda a vida social, abrangendo
o potencial tecnológico e científico de que dispomos, basta uma lógica.
Filosofia, Artes, Cultura, Ciência, (coisas, aliás, que neste país
reconstrução consciente dos seres humanos para livrá-los da
Para mante: ssse processo empregam-se produtos químicos, não vemos).
miséria e da degradação. Precisamos contar com indivíduos,
famílias, pequenos grupos, associações, sindicatos e federações inseticidas venenosíssimos, afetando seriamente o nosso planeta
Esperamos que esta educação consciente não seja objeto de
em vez de Estados e outras abstrações sórdidas que aniquilam e o mais prejudicado será fatalmente o ser humano. Este irá
escárnio e desdém. É preciso que os nossos homens de ciências
com a pessoa humana. Não escapam nem àqueles que mani- pagar um tributo bem alto, com o ar poluído, as águas enve-
declinem de suas arrogâncias e vejam que somos passíveis de
pulam porque as pessoas só podem dispor de si mesmas livran- nenadas e os alimentos alvejados e polidos por produtos cor- falhas e erros. Quero referir-me à técnica imposta de cima para
do-se da canga do Estado e de instituições autoritárias. rossivos.
baixo, sem discussão, como é o caso do uso da energia nuclear.
Qual a finalidade da democracia? Será uma questão de mer- Quando sabemos que há elementos radioativos capazes de per-
cadoria ou de pessoas? Deixo a resposta ao leitor. Poder-se-ia ter uma lavoura que assegurasse a todos plena es-
manecer dando descargas por milhares de anos. Quem poderá
"As pessoas só podem ser elas próprias em pequenos grupos, tabilidade, procurando melhorar as terras com uma lavoura as-
sentada em processos biodinâmicos e naturais. Assim sendo, detê-los em caso de acidentes com as usinas nucleares? (Ter-
abrangentes. Portanto temos que aprender a pensar em termos remotos, falhas humanas, agressões sociais etc.) Onde jogar o
de uma estrutura capaz de fazer face às múltiplas unidades em ter-se-ia o equilíbrio ecológico ideal. Mas ocorre o inverso disso.
lixo atômico?
pequena escala. Se o pensamento econômico não puder apren- Cada vez mais procura-se levar ao campo uma tecnologia de-
der isto, então é inútil. Se ele não puder ultrapassar suas vastas sumana, copiada de sistemas sofisticados, que requer um know- Esta educação tem que ser feita anarquicamente por todos,
abstrações, renda nacional, a taxa de crescimento, a relação how ainda fora das nossas possibilidades. sem comando e sem escolha. A terra deve pertencer a quem nela
capital/produto, a análise/custo, renda, mobilidade de mão-de- trabalha, não importa que seja coletiva ou individual, conquan-
Os nossos tecnocratas procuram levar a qualquer custo uma to seja usada para o bem-estar de todos, isenta de dogmas
obra, acumulação de capital; se ele não puder ir além disso e produção não para o ser humano, mais sim para o crescimento
entrar em contato com as realidades humanas de pobreza, frus- econômicas e ideológicos. Urge fazer isso antes que seja tarde
de riquezas. Os nossos meios de comunicação são canalizados e demais, pois os perigos desta vasta engrenagem poe-nos sufoco,
trações, alienação, desespero, colapso nervoso, crime, escapis-
manipulados para propagar essa ideologia de mercado e as tornando-nos cada dia mais desumanizados.
mo, estafa, congestionamento, fealdade e morte espiritual, en- grandes massas do povo inconscientes acabam se influenciando
tão joguemos a economia no ferro-velho" (Economista E. F. com essas idéias.- Os estados e as burocracias crescentes: jogam todo o seu
Schumachef)
peso eficiente, esmagando o indivíduo e a sua liberdade. Pre-
SER E TER cisamos de uma comunicação e esta comunicação tem que ser
PRESSÃO E TENSÕES
de homem para homem, de pequenos grupos e associações.
Até os nossos pseudo-intelectuais, que confundem títulos
Voltemos ao que se passa com os nosso idealizadores da universitários com educação, fazem coro e batem palmas ao O ser humano não tolera receber ordens de terceiros, quanto
economia de mercado, onde não se leva em consideração os carrossel macabro. Por que olhar com vistas grossas o trabalho mais de um seu semelhante, que posa de superior. Ninguém
produtos renováveis e não renováveis, não escapando nem mes- edificante do homem comum? Leon Tolstoi lamentava-se de tolera as organizações grandes, misteriosas, mesmo que elas se •
mo as nossas florestas. Não quero aqui negar que possamos ter morrer e nunca pagar a dívida que contraiu por ter cursado uma proponham a fazer algo de humano. Ninguém gosta de ser
um padrão de vida razoável, mas que este não venha de encon- Universidade custeada pelo trabalho dos homens comuns. dirigido e nem guiado. Podemos criar pequenos núcleos com
tro ao homem, matando a sua liberdade e sua espiritualidade pessoas conscientes e ajudar individualmente àqueles que se
criativa. Mas os nossos profissionais liberais acham que os seus cur- propõem a criar uma alternativa fora desta anômala sociedade.
Vemos que países que se encaminharam por uma razoável sos deveram-se exclusivamente ao seu esforço. Se seus discer-
economia — como a Birmânia — aproveitando os ensinamentos nimentos melhorassem, e refletissem, procurariam auxiliar Antônio Fernandes Mendes
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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 9
O pacote da UNE
Está vindo aí o "pacote" retório Central dos Estu- nacional. E quem poderia Em resumo: o processo ê mais uma vez posta de
da UNE. A reorganização dantes falou muito sobre is- ser contra isso (à exceção de reorganização da UNE lado e somente lembrada
da União Nacional dos Es- so, é claro. Mas eles, do poder estabelecido)? está sendo exatamente ao quando esses doutores do
tudantes não pôde (nem apenas eles e ninguém Ninguém, é claro. Éeviden- contrário do que deveria movimento necessitam dela
poderia mesmo) escapar à mais. te que os estudantes ser. Está partindo da cúpula para exibirem sua "força".
tradicional e autoritária for- Assim sendo, nota-se querem unir-se para for- para as bases. 0 congresso, A massa serve para tomar
ma de movimento estudan- claramente os caminhos talecer suas lutas. Entretan- então, não passa de uma cassetetadas. Os líderes or-
til que tem sido impingida, que estão sendo trilhados to, o como foi esquecido. encenação digna dos denam e a ralé apanha.
anos a fio, pelas chamadas para a reorganização da en- Isto é, propositadamente Planaltos da vida quando
tidade. A forma é a mesma Assim, sendo, não é
"lideranças". Enquanto os esquecido em termos da "elegem" presidentes. Os
de sempre: ' centralista e preciso pensar muito para
'chefes dos diretórios es- massa estudantil. Quem estudantes não vão eleger
autoritária. Por que o as- deduzir-se que a UNE que
tudantis encontravam-se garante que — caso a reor- presidentes. Mas vão re-
sunto não foi amplamente vem aí não representa os
até com o ministro da ganização da UNE fosse ferendar um "pacote" de
anseios da maioria estudan-
Educação e pediam ao discutido nas bases? Por debatida exaustivamente cuja confecção eles não
que aqui/o que vai ser til (a mesnos que, no
Governador da Bahia um com a real maioria dos es- i participaram. De nada
processo de apreensão de
local para o Congresso — "unido" não sabia, até às tu dantes — optar-se-ia por adiantará que algumas vír-
métodos que esses líderes
vésperas do Congresso, esta forma autoritária? gulas sejam mudadas de
os poderes se entendem — sofreram de 64 para cá, es-
exatamente como a coisa ■Quem garante que o lugar; que alguns pontos
e, às escuras, a nível de teja incluída uma misteriosa
seria feita? Por certo que "pacote" arquitetado Deus sejam retirados aqui^ e ali;
cúpula, transa vam o capacidade de adivinhar os
essas perguntas encon- sabe como e onde interessa enfim, a problema básico é
"pacote", os estudantes, a desejos da massa, da
trariam amplas "justifi- realmente à maioria? que o núcleo, a forma da
massa estudantil pro- maioria). Ela vem de cima
cativas" se dirigidas aos Ora, ao que tudo indica, coisa já vem pronta. E aí,
priamente dita, chupava o para baixo, imposta, ditada.
"papas" que estão "cui- esses garotos que se ar- não se mexe. Quem quiser
dedo no dia a dia infernal da voram a lideras da massa mudar, quem gritar contra,
dando " da reorganização No fundo, tudo isso
Universidade, inteiramente corre o risco como já ê
da UNE. Entretanto, tam- estudantil ficaram impreg- reflete os caminhos pelos
por fora de tudo. hábito, por sipal — de ser
bém é certo que essas nados do autoritarismo quais anda o movimento
Pelo menos aqui na questões deixam a grande reinante no Brasil nos úl- taxado de reacionário, estudantil brasileiro. Uma
Bahia, praticamente às vés- maioria dos estudantes timos 15 anos. E apren- direitista ou, com muito boa réplica da ditadura imposta
peras do congresso para a confusa. deram direitínho, pois até vontade, de "ingênuo". pelo golpe de 1964. Como
reorganização da UNE, o "pacotes", no mais autên- diz o povo, filho de peixe...
assunto sequer foi ventilado Todos querem a união tico estilo Simonsen, já Bem, este é o quadro. A
nas universidades. O Di- dos estudantes a nível sabem editar. massa estudantil, alienada, ALEXANDRE FERRAZ
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PAGINA 10 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979
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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 11
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PAGINA 12 O INIMIGO DO RFI ABRIL & MAIO DE 1979
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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PÁGINA 13
(Quase) um hino
GERALDO MAIA
Nós somos a geração de março
Trazemos vendas nos passos
E fechaduras solitárias nos olhos
SONHOSE
REALIDADE
Não desista de sua aspiração à presidência ameri-
JAZZ
Quando se fala em JAZZ, Conseqüentemente, o
Nós somos a geração de agora atualmente, as pessoas, mercado fecha-se para o
cana
Não sabemos o dia em que estamos como já têm seus valores músico instrumental que,
A mercê da nossa demora Não desista de sua viagem a Saturno
estabelecidos, imaginam quando consegue gravar
Nós somos a geração híbrida Pense na possibilidade de ser um cargueiro
logo um grupo de velhinhos um disco, é roubado até
De laboratório Pense na possibilidade de ser eleito secretário-geral
Vivemos nos corredores decadentes com seus ins- não poder mais; se apre-
do PCUS
Entre horários afiados trumentos acústicos ul- sentar também não po-
E o descanso das sepulturas
Considere aquele caso dos porões de lama do Con-
trapassados ou aquelas de, pois não existem ver-
Nós somos a geração estúpida gresso
grandes orquestras com os bas. Vemos que as lojas e
Ficamos sempre em dívida Considere aquele caso de subornos e chantagens;
Com a nossa dúvida mesmos decadentes ve- empresas patrocinam Sid-
topas?
Então contestamos lhinhos. Nem tampouco es- ney Magal, Nelson Gonçal-
Pensei num jeito e tu também de ir de disco voador a
Brigamos nas mesas dos bares ses velhinhos são decaden- ves, discotheque impor-
As boas notas tiradas Londres
tes e ultrapassados nem o tada, Rita Lee etc... Aí pin-
Nasaula&de; covardia Pensei num jeito e tu também de desiluminar o Quar-
Nós somos a geração sem voz
jazz de hoje limita-se a essa ta um Nelson Ayres
tier Latin
Sem olhos tradição. O jazz, hoje, 1 se (músico, regente, com-
Proclame um "estado anárquico" em Montreal, bem
E sem história tornou sinônimo de boa positor, orquestrador,
Somos a fundação da miséria na Terre des Hommes música, não tem idade,
Somos cordeiros dopados Proclame um anti-estado no seu solo natal arranjador, professor de
nacionalidade nem limites. música da escola de São
Somos o corte do grito Não se desespere por não ter sido ainda rei da In-
Somos o quadro-negro do não É tudo muito improviso, Caetano (SP), músico de
glaterra muito free, mas tudo a par-
Nós somos a geração da derrota renome internacional que já
Somos as peças dos tecnocratas Não se desespere por não ter sido eleito Papa em tir de muito estudo.
Roma gravou com músicos como:
Somos o som do arbítrio
Somos as cordas da repressão Que lhe ocorra um jeito de ir ao Vaticano a pé em Astrud Gilbert, The Plat-
Somos a cartilha das torturas
Mas hoje em dia são ters, Ron Carter, Airton
romaria raríssimas as pessoas que
Somos a cria da censura
Que lhe ocorra um jeito de ser premier em Katmandú Moreira e Flora Purin. Sen-
A gravidez prolongada conseguem enxergar isso, do até convidado para in-
Da exceção Não se esqueça de seus compromissos com Chris pois a juventude está quase
Nós somos uma geração de culpados Onassis tegrar a banda de Buddy
toda voltada para a dis- Rich), aí os caras viram a
E ainda seremos culpados Não se esqueça de seu jantar com Ibrahim no Beco
Pela próxima geração coteca e os embalos de cara pro músico, esquecen-
Por consentirmos sermos
da Fome sábado â noite, a verdadeira
Salve os americanos da fome mandando-lhes coisas do toda a estrada que ele
Enquanto trocam os termos importação da mediocri-,
Salve os indianos da abundância mandando-lhes traz nas costas por achar
Que a liberdade nunca ditou dade, todas as músicas (se
Por consentirmos de estarmos bombas que o nome da sua empresa
Ao lado do corpo abatido
é que se pode chamar as- não tem importância co-
Leve um conta-gotas e mate a sede no Sahel
Naturalmente sim) com três tons, duas mercial.
Leve uma marmita e mate a fome em Bangladesh
Como o corpo abatido notas e uma batidinha (que Como se fosse pouco, o
Somos culpados em máxima culpa Não se exaspere porque seu yatch está pra chegar
qualquer criança é capaz) músico tem a dificuldade do
Por maximizarmos a desculpa Acorde e continue mesmo acordado, senão morrerás
E minimizarmos
marcando o tempo todo. instrumento, pois o ins-
de tédio
Fazer! Se esquecendo de que trumental nacional é ter-
Sonhe e enlouqueça, desesperadamente sonhe.
Nós somos uma geração castrada quando os africanos che- rível, uma desgraça, a pior
Antônio Carlos Pacheco
Comemos pão com cocada garam à América o que qualidade possível. Então,
Nas reuniões marginais mais os ocidentais apro-
Nós somos a raiz do mal só resta ao músico comprar
O radical doente Zero veitaram para integrar a sua um instrumento importado;
Mas, a pesar em nós música foi justamente o aí ele vai pagar taxas exor-
Essa loucura Subtrai o intelectual de todos", a prostituta; pique dos tambores, aquele bitantes pra poder possuir
Somos, de repente, do leigo lagrego; o re- o sistema modelo al- ritmo alucinante que fazia
A cura1 A cura1 um s bom instrumento.
mejado por muitos do
L ligioso devoto, puro e
fraternal do herege, cruel
materialista, ambicioso;
despótico ditatorial;
Hitler, Aristóteles e Jimi
com que muitas pessoas
perdessem a consciência,
jogando-se contra o chão,
Digamos que seja um
pianista, que depois de
muito sacrifício consegue
o homem socialmente Hendrix de José; o bran- batendo-se e se arranhan- comprar um piano Fender.
normal do "louco", do co, sangue puro e lím- do.
Sonh ar "viciado"; a digníssima pido dó negro, suor nas
Qualquer viagem que o ins-
trumento faça, ele sofre
fulana Medeiros, dama veias e chicote na pela. Por outro lado, temos a
Como sonhar? uma desafinação, ou seja,
Se meus sonhos são da sociedade de Ger- Quociente:ZERO! velha guarda (com exceção todo o trabalho jogado pela
meus únicos mana da Silva, mais de uns poucos) só ouvem janela.
pesadelos conhecida como "mana Kátia Regina Borges clássicos. Apesar de res-
quando acordo, Como se vê, está cada
sonho . peitar muito, não se pode
vez mais difícil fazer um
Minta negar que é uma música
bom trabalho musical, es-
Os vazios em mim
aquela que seu professor burguesa por excelência
não são preenchidos: Minta para você mesmo, tudado, sem se corromper.
ensinou, (como no Brasil que é
eu os cerco, como para seus pais, Diante disso, propomos
e até aquela que você pouquíssimo difundido) o
lembrança e alerta, para seus amigos, uma luta pela cultura (para
daquilo que algum dia acreditou... sujeito se limita a comprar
para o professor, que esta não se degrade por
ali habitou ou sua coleção dos principais
para aquilo que
e pro resto? inteiro) pela música ins-
E daí por diante compositores, chega em
deveria estar ali, Maisaindal trumental para que não seja
minta cada vez mais: casa coloca o disco no seu
deveria.. Não faz diferença... trocada ' por nenhum
Adir viva sua própria aparelho último tipo, pega
produto de consumo. Pois,
mentira! um copo de wisky (scoth,
Afinal, você sempre como diz o próprio, HER-
Se você não acredita claro) e diz: "SOU SEN-
acreditou na verdade METO: "A MÚSICA È O
SÍVEL, APRECIO A AR-
r de uma grande men-
tira...
Aquela que sua família
nisto
Não tem importância,
minta...
TE." E não sabendo que se
Beethoven fosse vivo tiraria
QUE SUSTENTA
PLANETA TERRA."
0
Adir NOME: i
ENDEREÇO:
CEP: CIDADE: ESTADO.
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PÁGINA 14 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979
Cláudio Miranda
Poder, disciplina e loucura
Existe um ditado po- nova ordem burguesa, foi- mente o corpo do mau constituíram no mesmo como na Idade Média e
pular que diz respeito à se rompendo todo um súdito. Por enquanto, as processo com que foram Renascimento, o louco
loucura, comum às várias diálogo precário que ainda técnicas disciplinares fi- constituídos e aplicados os possuia um saber e este
épocas e lugares. È aquele existia entre o louco e a cavam restritas a certas ins- poderes disciplinares. A saber era respeitado e
que diz que "de médico e sociedade. Os leprosários tituições, religiosas, como criação de um novo poder ouvido pois veiculava uma
de louco, todos nós temos vazios receberiam novos os mosteiros. disciplinar está intimamente determinada verdade crítica
um pouco". Estranho hóspedes. È O GRANDE ligada à criação de um novo sobre o jogo social. Mas, a
ditado. O médico, aquele ENCLAUSURAMENTO. O Mas o desenvolvimento objeto de estudo e con- sacralização da Razão e da
que "trata" o "doente", e o começo de uma série que da economia mercantil e o seqüentemente um novo Produção que vieram com a
"doente", são colocados ainda não acabou. Mas que posterior aparecimento das saber; a prisão, o criminoso ordem burguesa, faz com
no mesmo plano, igualados razão frágil é esta que primeiras formas de pro- e a criminologia; o Centro que o louco vá aos poucos
como perturbações pos- precisa marcar com o estig- dução capitalista fez com Social, o marginal e o assis- sendo despossuído, ex-
síveis em todos nós. Mas, ma da não-razão outras que surgisse, pela primeira tencialismo; o Asilo, o propriado, primeiramente
na verdade, não nos parece razões? O logos lumin não vez no imaginário social do doente mental e a psi- de seu saber, de sua fala e
gratuita esta comparação. suporta sua própria som- Ocidente, aquilo a que se quiatria etc. A partir da ins- depois de sua autonomia e
Pois, na realidade, a his- bra. A loucura é esse ex- chamou Questão Social. O tauração da ordem bur-
mesmo do seu corpo.
tória da loucura è uma his- cremento que precisa ser fundo no qual pode surgir guesa não sabemos mais ao
tória entre as diferentes afastado, ignorado da essa questão está no fato certo onde começa o saber O primeiro grande passo
"loucuras". Sendo que cabeça/razão. de que, pela primeira vez, a e acaba o poder e vice- desse processo que con-
umas acabaram por pre- Durante a Idade Média, riqueza passou a estar as- versa, pois saber para con- tinua até hoje foi o cha-
dominar sobre as outras. A a Igreja procurou associar sociada à produção, ao trolar é o outro lado de con- mado Grande Enclausu-
medicalização, ou seja, a loucura e tentação no ob- trabalho. O trabalho é trolar para saber. ramento mas o espaço des-
loucura de se achar no jetivo de nos salvar. Mas reconhecido como fonte de te enclausuramento — o
A expansão e.aplicação Hospital Geral — ainda não
direito de tratar/gerir os quem nos salvará da inten-
das técnicas disciplinares
outros, derrotou a muito ção da Razão? Com a todas as riquezas. Novos era um espaço disciplinar
foi gradual mas sempre
frágil loucura daqueles que palavra, nossas sombras. critérios passam a ser mas sim, repressivo. A
visam ser diferentes. E Se podemos dizer sem usados para classificar a crescente. Certos grupos preocupação era só de
diferente estamos enten- receios que existe uma população: os que tra- sociais mais vulneráveis e afastar do convívio social os
dendo aqui, em nossa evolução na história moder- balham e os que não tra- minoritários, acabaram ser- marginais (vagabundos,
sociedade disciplinar, a na do Ocidente, esta balham. Novas questões vindo de cobaias na ex- deliqüentes, libertinos,
recusa de uma identidade, a evolução é sem dúvida a surgem: como fazer tra-, perimentação das primeiras loucos etc). E, portanto, o
não assinatura do Pacto das tecnologias discipli- balhar essa massa de técnicas disciplinares louco ainda não era objeto
Social, a não disponibili- nares. Na ordem feudal es- desocupados? Como gerira modernas para uma pos- dum saber especial. Este só
dade à Produção. tes poderes ainda não se produção e os homens? E terior ofensiva geral das surge quando foi criado um
A ousadia deste tipo es- faziam necessários. Isto novas soluções: dar tra- disciplinas sobre o resto da espaço disciplinar especial
pecial de pensar era imper- porque a riqueza era prin- balho a todos, torná-los sociedade. Estes grupos para os loucos: o asilo.
doável para a nova ordem cipalmente extraída através produtivos. Está aberto o minoritários e marginais No momento em que
burguesa. Como indivíduos da conquista, da apro- campo para as técnicas dis- foram principalmente os Pinei liberta os loucos das
disciplinados, sérios e priação guerreira de terras e ciplinares entrarem ' em vagabundos, os deliqüentes correntes visíveis do Hos-
razoáveis, poderiam con- tributos, enquanto a cena. E com elas novos e os loucos. pital Geral, os loucos ga-
viver com o risco de sur- economia mercantil ainda saberes também apare- O caso da loucura é nham o estatuto de doentes
presa, do lúdico, da alte- tinha pouco peso. O con- cerão: a demografia; a exemplar na ilustração do mentais. E são presos às
ridade que o louco e o seu trole desta ordem feudal higiene; o assistencialismo; avanço dos poderes dis- correntes invisíveis da or-
discurso trazem à tona? E baseava-se, então, prin- a criminologia; a psiquiatria ciplinares. É verdade que a dem psiquiátrica nascente.
foi assim que, nesse pe- cipalmente na Repressão, etc. sociedade ocidental nunca (este artigo foi baseado nas
ríodo de transição entre a representada na figura do Ê importante observar aceitou totalmente os idéias de Robert Castel e
antiga ordem medieval e a Rei que pune exemplar- que todos esses saberes se loucos, mas certas épocas. Michel Foocaiút).
PAIHERODES:
"Filho bicha eu mato!"
Jufe, como ê conhecido por amigos, é muito que tive com ele, a primeira por sinal, tentando
R. Meus pais me deserdaram mesmo. Não
simpático demonstra uma total despreocupação amedrontar-me dizia: "se eu tiver um filho bicha
querem nem saber. 0 único contato que tenho
com tudo que o cerca. eu mato! "E isso me deixava pirado. Comecei a
com e/es é através de uma grana que minha mãe
Um único "problema": ele ê homossexual. E esconder meus a tos. E foi aí que começou a pin-
manda de vez em quando, que quase não dá prá
isso, por menos que seja observado em seu com- tar toda a repressão sobre mim. E o pior (ou
merendar. Até os estudos tive que largar.
portamento, ê motivo de grande repressão, prin- melhor?) ê que cada vez mais eu sentia que era
P. Tudo isso não lhe choca?
cipalmente por parte da família. essa a minha e que repressão nenhuma estava
R. Claro. Mas o que mais me aborrece é a
P. Quando e como você sentiu que tinha ten- conseguindo mudar meus pensamentos, desejos
atitude que ps meus irmãos tomam em relação a
dências homossexuais? etc. Só influenciava em meu comportamento,
mim quando estão com pessoas que não sejam da
R. Desde os 3 anos de idade (minha irmã sem- pois era totalmente castrado de agir como eu es-
família e eu chego. Eles tentam evitar de me
pre me dizia isso) eu jâ repudiava brincadeiras e, tava a fim, tanto por parte da minha família, como
apresentar como irmão ea té mesmo de que essas
até mesmo, roupas masculinas. Mas foi entre 5a7 pelas pessoas com quem convivia (colegas de pessoas me vejam.
anos que eu senti realmente minhas tendências e colégio, vizinhos etc).
tive a primeira experiência homossexual com dois P. E as repressões familiares, como eram?
P. Eo homossexualismo?
primos e mais um garoto de rua. R: De todo tipo. Desde surras até chegar ao
P. E qual foi a sua reação depois dessa ex- R. 0 homossexualismo, em primeiro lugar, é
ponto de mandarem que eu saísse da mesa e fos-
periência? uma barreira na vida de todo mundo. Pois nin-
se comer na cozinha. Isso meu pai gera/mente é
guém ou a maioria das pessoas, está ainda com a
R. Depois eu comecei a sentir remorso, achan- quem fazia. E meus irmãos ("os homens") quan-
cabeça aberta a ponto de aceitar o homosse-
do que tinha feito uma coisa horrível. E prometi do eu chegava em algum lugar que eles estavam,
xualismo. Pra você ver como isso é tão enrustido
nunca mais fazer aquilo. Mas com 14 anos eu tive iam saindo de fininho pré ninguém sacar e pro-
entre as pessoas, eu comecei a sacar o que real-
realmente um "caso". A gente transou até os 17 curando o caminho em que fosse possível nem ter
anos (meus, pois ele era mais velho). Enesse tem- que falar comigo. mente significativa a palavra homossexualismo ten-
tando ler em dicionários e a recortar toda repor-
po começou a explodir dentro de casa as fofocas
tagem sobre o assunto. Pois as dúvidas que eu
e repressão. P. E qual era o tipo de repressão dessas outras
tinha e as que eu estava a fim de tirar as pesoas
P. E como seus pais viam você? pessoas (vizinhos etc)? Como elas reagiam? não iriam me dizer, muito menos meus irmãos que
R. Meus pais sempre me trataram com muito R. Os colegas não queriam minha companhia.
nunca tiveram um papo realmente comigo e não
carinho e atenção. Mas quando começaram a Viviam soltando piadinhas a meu respeito. Os seria sobre este assunto que e/es iriam conversar,
perceber meu comportamento, diferente dos vizinhos, naquela fofoca toda que já ê de cos-
dialogar comigo. Mas eu vou à luta, porque acho
outros irmãos, meu pai, particularmente, co- tume. E ainda por cima com um prato desses. Mias
que as pessoas têm maisé que me aceitar e aceitar
meçou a me dar trabalho pesado, pegar na en- eu sempre tive alguém que me aceitava (amigos, é o homossexualismo.
xada, cortar meu cabe/o (tentando manter minha claro).
aparência física de homem) i te. E numa conversa P. Ea família, de novo, nisso tudo? Entrevista concedida à Kátia Regina Borges.
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PÁGINA 16 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979
BIBLIOTECA
"Os despossuídos"
Uma escola Ursula K. Le Guin parece ser a pioneira de um gênero
literário bastante insólito: a ficção cientifica anarquista. Tal-
Uma Alegoria da
para o povo vez pudéssemos considerar como seu precursor a "Uto-
pia", de Thomas Morus, se uma leitura mais atenta não nos
revelasse ser esta obra, na realidade, a apologia de uma
Sociedade Burguesa
"A escola, como instituição, não apenas não tem o poder para sociedade patriarcal e escravagista. O livro de Ursula co-
modificar a estrutura social como, mais do que isso, geralmente meça com a viagem do físico Shevek, de Anarres, planeta Poucas obras de Stig Dagerman foram traduzidas para a língua
confirma e sustenta essa estrutura." Maria Teresa Nidelcoff. anarquista, para Urras, mundo semelhante ao nosso, de portuguesa. Assinalamos apenas "O Vestido Vermelho", roman-
onde partiram outrora os povoadores de Anarres como ce, edições Portugá/ia, Porto, e um conto traduzido por Daniel B.
exilados. A autora aproveita o contraste entre as duas Brito publicado pelo suplemento do Jornal do Brasil em sua fase
Ninguém pode cobrar de Meria Teresa "coisas novas" em seu
sociedades para, á maneira de Robert Heinlein, colocar conçretista. Agora a Civiliza ção Brasileira vem de lançar a "Ilha dos
livro sobre o problema da escola institucional na Argentina e no
mundo. Ba não traz "coisas novas" e sim questionamentos re- seus personagens em discussões filosóficas {sobre a vida, o Condenados", em tradução direta de Birgitta Lagerbland de
volucionários sobre o papel da educação na sustentação e per- sofrimento e, é claro, o anarquismo) mas, felizmente, sem o Oliveira.
petua cão da sociedade de classes. moralismo beato do autor de "Um Estranho Numa Terra
Estranha". Dagerman nasceu em 1923, na Suécia. Seus pais foram
A autora condena os professores que vêem na escola apenas o Ê essa noção de contraste que vai marcar todo o nosso operários inteiramente voltados para a dura tarefa de sobrevivên-
lugar físico do aprendizado e que ignoramos que seus alunos itinerário político pelos dois mundos da novela: pois se a cia. Cedo dirigiu-se para Estoco/mo, onde tomou conhecimento do
procedam dos mais variados estamentos sociais. E que, ainda sociedade de Anarres é libertária, ela o é em relação à sua bem estruturado movimento anarco-sindicalista sueco, ao qual
mais, fingem ignorar que a escola não pode aplainar essas diferen- opositora em Urres, e se esta é autoritária, é devido ao seu permaneceu engajado até o fim de seus dias. Esse movimento é
ças de c/asse. Para o professor alienado (a que a autora chama de equivalente oposto em Anarres.
"professor-policial"), apesar das diferenças sociais, nas escolas representado pela central operária SAC (Sveriges Arbetares Cen-
Mas não se iludam com isso, achando que "Os Despos- tral organisation) e pelo seu porta-voz diário, o jornal "Arbeteren",
"todos têm as mesmas chances". Maria Teresa prova justamente
o contrário, prova que o aluno vindo das c/asses trabalhadoras es- suldos" ê a estória de um paraíso perfeito, uma apologia no qual Dagerman iniciou a publicação de seus trabalhos literários.
tará vivendo fora de seu habitat natural, lendo nos livros a realidade romântica do anarquismo enfeitado com naves espaciais.
e a história dos vencedores (a burguesia e outras c/asses dominan- Aplicando a dialética à literatura, ela nos mostra uma so-
tes da história) e não a sua realidade de miséria e a história da sua ciedade onde ainda subsistem traços da antiga ideologia; Desde a publicação de seu primeiro romance, Dagerman foi
classe. onde o coletivismo, tornando uma obsessão, sufoca a in- considerado pela crítica do país como um gênio. O melhor da sua
dividualidade dos cidadãos. Ironicamente, Shevek des- produção surgiu entre 1945 e 1949 e são quatro romances, contos,
cobre sob as formas espetaculares da sociedade urrasti, al- quatro dramas, artigos, críticas, crônicas, poemas etc. De uma
Diz a autora que o aluno-operário toma contato com uma cul-
tura que lhe é imposta, a cultura burguesa; a escola não procura guns aspectos que fazem falta em seu mundo. Nihilismo? fase de intensa.produção, segue-se a final em que quase nada
lhe dar oportunidade de mostrar a cultura da sua c/asse que é tão Não, apenas uma constatação:, mesmo o anarquismo, publicou. Aos 32anos, acometido de grave crise nervosa, pós fim à
rica quanto a de qualquer outra. Os livros escolares apresentam o vida de modo dramático e inesperado.
transformado em consenso majoritário, perder seu caráter
ideal de vida da segurança, do automóvel, da poupança, coisas revolucionário: torna-se Doxa, senso comum.
que não dizem respeito ao escravizados do dia 'a <dia.
Com impiedade e talento, Ursula K. Le Guin põe em
cheque alguns dos mais arraigados mitos da (s) esquerda A ' 'Ilha dos Condenados " é a alegoria de nossa sociedade com
O livro ainda estabelece uma dialética 'entre o "professor- {s): o apelo ao sacrifício, o culto das lideranças, os ideais todos os conflitos e contradições. Sete náufragos, cinco homens e
policial", aquele que perpetua a dominação de c/ase, e o "profes- ascéticos. Seu personagem representa o anarquista mais duas mulheres conseguem atingir uma ilha que é habitada por aves
sor-povo", o que mesmo reconhecendo as limitações da escola, marinhas e repugnantes lagartos. Um barril de água e escassos
radical; aquele que não hesita em desafiar até os princípios
tenta mostrar aos seus a/unos a irresistível solidariedade que deve alimentos pressupõem um fim inevitável: a morte das sete per-
libertários, quando estes se sedimentam em ideologia.
haver os oprimidos porque, afinal, o professor também é um sonagens. O autor faz uma terrível análise de nosso mundo afluen -
trabalhador. O "professor -povo" não impõe uma cultura, nem a Nota. outros aspectos desse obra mereceriam uma
análise mais atenta: as questões de física e da sexualidade, te e podre. Não há concessões possíveis, o militarismo, a explo-
sua nem a do sistema; ele procura, muito mais, aprender com seus ração, a dominação, a religião, a alienação, a moral sexual, o amor
alunos a cultura destes e com isto tentar ajudá-los nos caminhos por exemplo. Esta última cumpre uma função absoluta-
mercenário são postos a nu e irremediavelmente reduzidos a quase
possíveis de libertação. Libertação que não é só de uma c/asse, a mente asséptica, ela é necessidade e não desejo. 0prazer
operária, mas èada humanidade inteira. nada. Um romance brutal e chocante. Ê leitura mais do que re-
sexual é substituído pela noção de trabalho. "Otrabalhoéo
comendada.
prazer mais duradouro da vida, "diz Shevek. Isto parece
UMA ESCOLA PARA O POVO, de Maria Teresa Nidelcoff, confirmar a teoria de Freud sobre o aumento da repressão
Editora Brasiliense, São Paulo 1978; 104pp; Cr$80,QO. ' A Ilha dos Condenados, de Stig Dagerman. Editora Civilização
em relação ao progresso da civilização. Aliás, "0 Mal-Estar
Brasileira S.A., Rio 1979:242pp; CrS 120,00.
na Civilização", deveria ser leitura obrigatória para todos os
utopistas demasiado otimistas. Marcus do Rio
Antônio Carlos Pacheco José Liberar ti
Opinião sobre Nesta rápida passagem pela his- sequentemente, ganha forma a Para isso impõe-se a necessidade revisores calculistas, exercem fun-
tória de autogestão, não a situamos "mais-valia" {por meio do trabalho da socialização dos bens, (não nos ções puramente administrativas, e
autogestão em termos libertários, salvo a ex-
periência vivida durante a Revolução
assalariado) em razão direta de referimos a nacionalização, não é a não diretivas. São encargos dados e
Caros senhores: produção não paga pelo capitalista. mesma coisa) o domínio absoluto aceitos livremente, cumpridos es-
Um amigo ofereceu-me vosso Espanhola. Tais experiências tiveram Assim, a produção es tf es- dos processos de produção em todos crupulosamente, já que suas atri-
jornal "0 INIMIGO DO REI". Li, sempre como inimigos forças exter- quematizada dentro dos propósitos os campos de trabalho, com abolição buições não são de mando mas de
gostei e embora em trânsito no Rio nas poderosas ou o poder neutra- da exploração do trabalho operário.
do assalariado, o controle total da trabalho; não impõem idéias ou von-
de Janeiro, resolvi dar a minha lizador do Estado a limitar-lhes a ex- Por outro lado, a propriedade no distribuição, consumo e obtenção tades próprias, mas executam re-
opinião sobre Autogestão, um tema pansão, a reduzir-lhes os meios de seu processo jurídico — ainda que ,das matérias-primas. Ê aqui que en - soluções tomadas em reuniões den-
tanto em voga nos dias que correm. sobrevivência, a cavar-lhes as sepul- "legalmente" registrada — carac-
turas. tra, com toda a segurança, a au- tro de cada coletivo.
Gostaria de a ver publicada em teriza-se pelo domínio de quem a togestão, como elemento produtor
Autogestão, estudada aqui e As assembléias gerais, freqüen-
vos j jornal. Logo que me estabilize possui. E, convertida assim em dentro do novo sistema para subs-
agora, leva-nos a um exame em tes, promovem as substituições não
entrarei em contato para pedir o jor- propriedade privada dos meios de tituir triunfa/mente a máquina gover-
nal. Grato. profundidade. só porque as funções são encargos e
A base da sociedade é de pro- produção, ganha forma de poder na nativa do capitalismo. não privilégios, mas também porque
FRANCISCO RODRIGUES. classe possuidora, vale como ins-
dução de todos os bens necessários contribuem para a educação de
A autogestão — na prática — é à vida. Compõe-se de uma orga- trumento de domínio material e Autogestão atuará como órgão
todos ao mesmo tempo que quebra
muito anterior à teoria, tem sua his- social no processo da produção, importante na transformação do sis-
nização de forças vivas (trabalha- os desejos subjetivos de liderança
tória própria. Olhando para trás, cujos frutos alimentam seus deten- tema de produçâo-distribuição-
dores) que usando a técnica e a que irão fatalmente surgir nos pri-
vamos encontrar suas raízes no sis- tores e aqueles que diretamente não administração, mas não é, por si só,
máquina produzem em razão de um meiros tempos.
tema de "Pozo", na China; no ícaro extraem a "mais-valia" do trabalho a nova sociedade. Cada campo, cada
esquema de oferta e procura pre- Autogestão ou resulta da ação
andino, com o "Aullu"; no México assalariado, mas constituem a casta fábrica, cada oficina, cada mina,
viamente elaborado pelo sistema' direta ou fracassa. Por meio de con-
com o "Calpulli"; no Brasil, com o dos burocratas que cobram sua parte cada pólo de produção será um
capitalista, onde o dono do produto cessões governamentais nunca se
"Quilombo de Pa/mares", sob forma de impostos. reduto autogestionário, integrando
do trabalho assalariado é sempre o chegará à autogestão libertária!
(1600/1694) e na "Colônia Cecília"; patrão. Só a eclosão de um movimento de forma global, a nível local, mu-
em Moçambique, com "Os Marcon- Este possui as fábricas, as má- revolucionário, baseado nos prin- nicipal, regional e nacional, a nova
des"; em Portugal, "Vilarinho da sociedade, materializada pelo sis- Isto porque autogestão é uma
quinas e todos os bens de produção cípios da igualdade social, ao der-
Furna" e "Rio Onor"; na França, tema de trocas de produtos arma- obra experimental, inacabada, que
e, ipso facto, domina os centros de rubar e destruir o sistema capitalista
com a "Comuna de Paris"; na Rús- zenados e distribuídos pelas co- precisa evoluir constantemente,
trabalho, sua organização, e o sis- e suas estruturas, poderá a nível de
sia, em 1905, 1918 e 1922; na Grécia; munas. receber sempre e sempre impulsos
tema capitalista de produção domina base, pôr em franco funcionamento
na Itália; na Argélia; na Iugoslávia; na renovadores de aperfeiçoamento e
o sistema capitalista de organização. a produção, distribuição e controle,
índia; no Japão; e na Espanha, Sem funcionários pagos em vitalização. Sem isso acaba caindo
Desta ditadura comercial resulta paralisados com a derrocada do
durante a Revolução de 1936-1939. moeda, autogestão, na sua forma na rotina, entra em estado de es-
que uma parcela pequena da so- regime conservador, em condições,
Em Israel, os "kibutzim" datam mobilizando os instrumentos mais pura terá de ser administrada clerose, aburguesa-se e morre co-
ciedade detém a riqueza e a grande
de 1910, enquanto o Estado nasceu ideológicos catalisadores de forças pelo sistema de rodízio, onde um mo está acontecendo em Portugal
maioria fica com a pobreza, e, con-
em 1948. autogestionárias duradouras. secretário, conselheiro técnico e (1978 79).
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supressão das relações de dominação humanos, como não pode mais con- um professor não ê um instrumento
do capital sobre o trabalho. Su- tinuar sem conduzir o mundo a uma divulgador de "verdades" que
primida o salário, cada produtor catástrofe. devam ser digeridas. Conceber a for-
seria suprido segundo as suas neces- A organização mundial atual do mação dessa maneira é fabricar
sidades básicas de vida. desenvolvimento repousa sobre o manadas de carneiros. A autogestâo
III - AUTOGESTÃO E PLANI- crescimento considerado como um que implica um grau crescente de
FICAÇÃO fim em si. Imerso no movimento de responsabilidade, necessita também
LIBERTÁRIA SÃO COMPLE- concorrência internacional, o so- de uma verdadeira revolução pe-
MENTARES cialismo de autogestâo não pode dagógica.
aceitar o produzir por produzir, afim — A capacidade dos traba-
Em economia capitalista, falar de manter os critérios de progresso e lhadores autogestionarem as em-
de planejamento denota, às vezes, de bem-estar do mundo atual. Ele presas não implica que cada um se
um abuso de linguagem. Na so- coloca em questão as formas deste torne um especialista em todos os
ciedade capitalista, o planejamento progresso não somente em termos domínios. Ê entretanto claro que
não é de nenhum modo guia do con- qualitativos {o transporte coletivo em toda uma capacidade de criação, de
junto de atividades econômicas; é o relação ao transporte individual; o inovação que estão recalcadas pelos
lucro o único motor da economia. O hospital antes do canal de TV), mas esquemas de decisão hierárquica
planejamento tem por função prin- também quantitativos: que significa poderão se exprimir se as condições
cipal organizar as ações e as inter- produzir mais, se isso implica em favorecerem.
venções do Estado numa orientação trabalhar mais e ter menos tempo Se os engenheiros, os organi-
favorável aos interesses capitalistas. para lazer? Qual o interesse de uma zadores e todos os "especialistas"em
Trata-se de uma planificação da produção suplementar se, em vez de geral, têm um função indispensável
função econômica do Estado e não liberar, ela aliena mais o homem na sociedade atual, sua verdadeira
de uma planificação da atividade pelas novas taxas engendradas por eficiência não pode ser senão na
econômica em seu conjunto. esse tipo de produção? medida de sua capacidade em de-
Para o socialismo libertário, senvolver e coordenar essa criati-
V— A AUTOGESTÂOÉPOS-
autogestâo e planificação demo- vidade potencial.
SÍVEL E NECESSÁRIA.
crática são complementares. A 0 mito do especialista e o Mito 2- O Mito da Eficiência Capitalista:
autogestâo que instaura uma direção da eficiência capitalista O capitalismo que se satisfaz
coletiva da vida social e econômica, mascarando suas taras fundamen-
implica, a nível global, num plano 1 — O Mito do Especialista: tais por trás das necessidades de
que é a resultante da coordenação As sociedades capitalistas indus- toda a sociedade industrial desenvol-
das diversas unidades econômicas e triais procuram justificar de múl- vida, tenta justificar o que chamam
sociais descentralizadas. tiplas maneiras seu funcionamento "de defeitos inevitáveis" em face dos
A autogestâo qualifica um fundado na exploração e na do- imperativos de eficiência e de gestão.
processo coletivo de decisões, en- minação. Em nome dessas justifi- Após a Revolução Industrial e até o
quanto que o planejamento é relativo cações ideológicas, o mito do es- IP pós-guerra, a organização ca-
a um modo de organização da vida pecialista tem uma função muito pitalista das empresas foi em face do
econômica e social. importante. capital e de seu crescimento, um
Não é possível conceder um As estruturas hierárquicas de modo de organização relativamente
plano democrático em suas fina- decisão ocultam-se através de uma eficaz. Do ponto de vista dos tra-
lidades sem que ele o seja a nível dos pseudo-necessidade técnica. Sa- balhadores a realidade era eviden-
meios. A dinâmica da autogestâo, bemos que a hierarquia do poder es- temente bem diferente. A eficiência
nos quadros de uma planificação tá longe de coincidir com as de com- do capitalismo tornou-se um ver-
democrática, visa a fornecer um es- petência técnica. Podemos, por dadeiro mito. De um estrito ponto de
pectro onde os problemas essenciais outra parte, constatar que certas vista econômico Global ela se encon-
exprimem-se sem serem dissimu- técnicas adquiridas não são efe- tra cada vez mais contestada. A
lados ou artificialmente resolvidos. tivamente utilizadas pelos que as revolução científica trouxe impor-
Ela implica efetivamente em tensões, possuem; sua posse serve apenas tantes conseqüências a nível do
conflitos, que são necessários e cons- para justificação. Cita-se o exemplo processo de produção. Para se adap-
trutivos, 'porque exprimem a rea- de um contramestre que fazia de tar a essa nova realidade o patronato
lidade das relações sociais onde cada seu conhecimento do cálculo di- tem se valido de novas técnicas na vã
indivíduo e, conseqüentemente, ferencial a justificação fundamental esperança de integrar a contestação.
cada empresa, não se identificam de seu direito de dirigir os operários, Essas técnicas de gestão estão sem-
imediatamente com o conjunto da porque eles simplesmente ignoravam pre ligadas à glória do capital: trata-
sociedade. o que era o cálculo diferencial. Ora, se de descentralizar certas decisões à
É através deste confronto entre esse contramestre jamais utilizou altura de departamento de empresa.
produtores, consumidores e o ci- essa competência em cálculos. É Certos níveis de quadros são assim
dadão, os conflitos entre a empresa e evidente que numa perspectiva de impelidos a jogar um papel mais
a sociedade, que o socialismo au- autogestâo do socialismo, os pro- ativo.
togestionário pretende fazer evoluir blemas de formação tomam um Esses métodos são paliativos e
uma maior organização da socie- caráter determinante. A elevação zstão a serviço da lei do lucro visan-
dade. A supressão dos conflitos, não geral do nível de formação técnica e do a manter as estruturas de do-
se decreta, mas constrói-se numa política e a distribuição equilibrada minação e exploração.
dinâmica de confronto que pode se das tarefas, constituem, definiti- O socialismo de autogestâo, des-
resolver gradativamente. vamente, uma das principais defesas centralizando ao máximo os centros
O futuro da humanidade é in- contra a instituição de uma casta de de decisão, se torna o único capaz de
compatível com o modo de produção burocratas ou de tecnocratas po- controlar verdadeiramente a glo-
capitalista. O crescimento como derosos. balidade dos processos econômicos e
finalidade da economia de mercado, Mas falar de formação em tais sociais. Somente uma concepção
isto ê, o crescimento único dos bens termos supõem algumas explicações: autogestionária do socialismo cons-
de consumo rentáveis e a ideologia — A formação não é uma trans- titui alternativa real para o capitalis-
da obsessão do consumo, o consumo missão em sentido único daqueles mo atual.
como facilidade, não somente não que sabem para os que nada sabem.
responde às aspirações dos seres O formador, que ê, em certos casos Continua no próximo n úmero
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As multinacionais vermelhas ponde às crescentes necessidades da sociedade soviética. E As dezenas de multinacionais que têm sede na URSS e
apresentou a tarefa: aumentar até ao final do XI qüinqüênio trabalham neste domínio (seu financiamento por países ociden-
EDGAR RODRIGUES (estão no X) a produção de carne em 19,5 milhões de toneladas, taias é minoritário) conseguiram assegurar uma importante
a ordenha de leite deverá atingir, por vaca, 3 mil litros por ano, parte dos mercados de fretes".
A mágica bolchevista está intrigando os mais lúcidos inves- e nas zonas de gado leiteiro de 4 a 5 mil anuais." "Este esforço de venda no Ocidente, para obter divisas for-
tigadores em assuntos internacionais. "É necessário organizar (em 62 anos ainda não o fizeram? tes não foram senão um fraco socorro na redução do "déficit"
Diz-se que cerca de um terço dos habitantes da Terra "op- Quando irão fazê-lo?) a engorda intensiva do gado e o abas- da balança comercial que, em 1973, começou a tomar propor-
taram" pelo bolchevismo nestes sessenta e dois anos de sua exis- tecimento regular de carne às cidades e bairros operários" — ções alarmantes".
tência, e que seu poder de persuasão repousa exatamente em sentenciou Leonid Brejnev no referido Plenário de Julho. O milagre da conquista pelos "camaradas" das multina-
ter elegido a miséria como divisa, o pobre como bandeira de Para A. Tulupnikov — em que pese a ordem do chefe dos cionais vermelhas, dos pobres, no mundo dos negócios, em con-
luta. chefes vermelhos para aumentar a produção no prazo de CIN- corrência com o capitalismo do ocidente deve-se a seguinte fato:
Não existe, afirma-se, em toda história da humanidade um CO ANOS — não é possível e ele mesmo vai explicar porque. pasmem os trabalhadores que lutam por aumentos salariais nos
exemplo de tamanho avanço em tão curto período, de conquista "Nas rações para o gado verifica-se um déficit de albumina, o países burgueses, "aos salários das suas tripulações que são
tão fabulosa... que torna impossível o rápido aumento da produção da pe- muito inferiores aos pagos pelos armadores dos países da co-
impérios. Monarquias, Repúblicas, Socialismo, Anarquismo cuária. Produzimos, lamentavelmente — acrescenta Tulupnikov munidade. O salário médio de um marinheiro das multina-
e nem a Igreja Católica, garantindo o céu aos seus crentes, foi insuficientes rações balanceadas. As fábricas carecem constan- cionais burguesas está na proporção de 5 para 1 da marinha
capaz de se igualar ao "fenômeno bolchevista". Agitando a temente de matéria-prima para a produção de forragens com- soviética. Sem contar que não podem reclamar aumentos nem
bandeira da fome, prometendo a redenção, a fartura aos des- binadas." fazer greves" (André Carrigó).
validos e expoliados, a conquista da "terra prometida" aos "Mais de 60% do gado, na URSS, é alimentado com for- Não nos surpreende esta luta comercial (ainda preten-
trabalhadores, vão cultivando o poder miraculoso do Estado. ragens carentes de albumina e de vitaminas e com mesclas demos voltar ao assunto, tal é a abundância de curiosidades a
A exemplo dos católicos (que juram com a mão sobre a Bí- primárias não balanceadas. Foi calculado que devido à carência respeito), já que multinacionais vermelhas ou brancas emanam
blia, que nunca leram, que deles é o reino do céu), os bolchevis- de alimentos e à sua ma qualidade, perde 50% na engorda do do charco e pretendem a nível mundial (nem bolchevismo nem
tas levantam bem alto os três grossos volumes de "O Capital" e gado e o potencial genético do gado leiteiro perde quase dois capitalismo tem pátria) universalizar seus interesses respon-
prometem em solene juramento de pés juntos, na frente dos terços. Os pastos de baixa qualidade, por quintal, reduzem vez sáveis pela exploração do homem pelo homem.
trabalhadores, que deles é o reino da Terra! Que o proletariado e meia, as normas zootécnicas".
foi o escolhido, o eleito por Marx, e que em breve será libertado "Sem mecanizar este setor da agricultura é impossível ter Relacionamos a seguir as multinacionais soviéticas, dos pobres:
das garras do imperialismo capitalista, do látego dos carrascos uma pecuária baseada em processos industriais. È eStamos lon-
da opressão e da miséria imposta pela burguesia reacionária. ÃTUSRIA:
ge disso." i
E, mesmo sem ter dado um mínimo de provas de que irão "Apenas 33% da distribuição (menos da metade) da comida Asotra: transportes. Donau Bank: banco comercial (agento do
cumprir suas promessas nestes sessenta e dois anos, na Rússia, ao gado leiteiro está mecanizada. Só uma quarta parte das banco soviético). Garant Versicherung: seguros.
desde 1917/18, os bolchevistas juram coma mão esquerda sobre granjas está mecanizada. A necessidade de máquinas para os BÉLGICA:
"O CAPITAL", que as "fábricas são dos operários e a terras KOLKHZES aumenta cada ano que passa. A produção de Belso: produtos alimentícios etêxtis. Elorg-Belgique: tratamen-
dos camponeses". A "massa faminta, e marginalizada", máquinas programada para 1976-1980 será cumprida somente to de dados. Ewa: instrumentos de óptica. Ferchimex: química.
acredita que algum dia, não muito distante, serão livres em metade. Nafta-B: produtos petrolíferos. Russalmax: diamantes. Scaldia-
terra livre." E, tal como os católicos que acreditam que a Bíblia A Ukrânia recebe 30 vezes menos de máquinas de ordenha Volga: automóveis. Transworid Maritime Agency: transportes
contém tudo sobre a suas salvações, sem nunca a ter lido, os das que necessita". marítimos.
crentes bolchevistas também têm a "certeza" de que naqueles "Resta desejar melhor qualidade das máquinas e instalações. CANADJà:
três grossos volumes de "O Capital" — que nunca leram — está As máquinas distribuidoras de forragem que deveriam fun- Bélarus Equipmentldt: material agrícola. Emek Trading: tur-
escrito tudo sobre a libertação do proletariado, a "raça" eleita cionar quatro anos — afirmar TULUPNIKOV — resistem binas. Morflot Freigthliners: transportes marítimos. Soccan
pelo profeta judeu, o "camarada" Karl Marx. pouco mais de dois". Aircraft: transportes aéreos. Stan Canadá: máquinas.
Têm tanta fé na redenção prometida que não ousam pergun- É de se supor que os canhões, os aviões e as demais máquinas FINLÂNDIA:
tar a "Sua Eminência do Culto do Poder Vermelho "porque de matar gente, enviadas de graça para fazer a "revolução" na Elorgdata: computadores. Konela: equipamentos para auto-
para chegar à felicidade é à liberdade na Terra, precisa-se ab- África e defender Cuba dos imperialistas americanos, não móveis. Koneisto: máquinas. Saima Lines: transportes marí-
dicar do direito de pensar. Está diante de uma realidade e se tenham a mesma gragilidade e, que as bombas atômicas, e não timos. Teboli: produtos petrolíferos.
recusa a ver. a pensar, a raciocinar, é no dizer do Rudolf Roc- só, possuam melhores ingredientes do que a comida do gado dos FRANÇA:
ker, "uma massa de gente sem cabeça". vermelhos. Activ-Acto: material agrícola. Banco Comercial para a Europa
Senão vejamos o que vai pela Rússia e consegue furar a gros- Deixando para trás A. TULUPNIKOV, eminente membro da do Norte: banco comercial. Fransove: produtos marítimos.
sa cortina de ferro. Academia de Ciências Agrícolas "Lenine", e passando os olhos Promolease: equipamentos fabris. Rusbois: madeiras. Sagmar:
A URSS cultiva acima de qualquer outra coisa o absolutismo em "Literaturnaia Gazeta, encontra-se o grito dos que vivem transportes marítimos. Sogo: química. Stanko-France: má-
no Estado, o poder incontestável e a sua infalibilidade! Aumen- fora das grandes cidades (Moscou, Leningrado, Kiev e outras) e quinas.
ta e aparelha o seu Exército, instrui e forma especialistas em logo se percebe que as coisas são bem mais graves. "Nas áreas ITÁLIA:
matanças coletivas, nas academias militares e policiais. Sua rurais relativamente pobres, onde as sentinas fora de casa e as Dolpin Agenzia Marittima: transportes marítimos. Ruslegno:
KGB (polícia política) deixa bem para trás a Gestapo nazista, o estradas de terra batida constituem a regra, onde raramente se madeiras. Sovietpesca: produtos marítimos. Stalitalia: má-
seu chefe Yuri Andropov ganha de longe aos mais refinado ver- encontra carne nos açougues, os habitantes têm uma só von- quinas.
dugo da polícia Czarista.- tade: mudar-se para a cidade de prédios de apartamentos". LUXEMBURGO:
Pois bem. Apesar desta verdade incontestável, conseguem en- "Moscou, Leningrado entre outras cidades estão fechadas, Banco Unido Este/Oeste: banca comercial.
ganar milhões de pessoas que se deixam adormecer ao som da exceto para aqueles que conseguem obter a fugida propiska, a
flauta mágica para não ver e nem ouvir o que nos diz A. Tulup- autorização oficial exigida para se residir num lugar onde PAÍSES BAIXOS:
nikov, membro-correspondente da Academia de Ciências milhões de outros gostariam de morar. Sem essa permissão, é East/Oest Agencis: instrumentos de óptica. Elerg: computa-
Agrícolas "Lenin", ganhador da "Ordem de Lenin", neste al- ilegal a permanência em Moscou por mais de três dias, uma res- dores. Transword Marine Agency: transportes marítimos.
vorecer de 1979 ("TRUD", 10-1-1979), em torno do abaste- trição que elimina qualquer migração em massa para aquelas NORUEGA:
cimento de gêneros de primeira necessidade à população de seu cidades". Koneisté Norge: máquinas. Koneia Norge Bil: automóveis.
país, enquanto o Kremlin esbanja mais da metade do seu or- E caminhando um pouco mais pelo interior da imprensa dos ESPANHA:
çamento geral do Estado Soviético em projetos imperialistas no pobres: "A residência em Moscou é algo que pode ser herdado, Pesconsa: produtos marítimos. Sovispan: agência comercial.
Afeganistão, no Camboja, Vietnam, Etiópia, Angola, Moçam- ou adquirido pelo casamento, e é objeto de muito desejo, am- SUÉCIA:
bique e com os conflitos que provocará no Irã. Em Cuba, só bição, suborno e politicagem. Um dos resultados desta luta é Joint Trawler Ltda: produtos marítimos. Matreco Bil: auto
para sustentar uma base soviética nas Caraíbas, custa ao es- uma boa quantidade de casamentos com fins residenciais. móveis. Scansov Transport: transportes marítimos.
tômago do povo russo "UM MILHÃO DE DÓLARES DIÁ- Chega-se a pagar até dois mil rublos para se obter um casamen- SUÍÇA:
RIOS". Isto sem contar — dizemos nas — as verbas secretas to e ficar em Moscou, uniões que não demoram a terminar em Wozohod Handelsbank: banco comercial.
gastas com os "alunos que vão treinar nas escolas de Moscou" e divórcio."
o financiamento de propaganda e os salários pagos aos seus fun- A dar crédito à imprensa bolchevista, acaba-se de concluir INGLATERRA:
cionários dos PCs que não se bastam a si próprios. Dentro desta Russian Wood Agency: madeiras. Anglo-Soviétic Shipping:
que o bolchevismo além de sinônimo de fracasso administrativo
política de "muitos canhões e de pouca carne", os dirigentes é também o outro lado da Revolução Social, é um forte alimento transportes marítimos. Black Sea & Baltic General Insurance:
soviéticos deixam transparecer um pouco do quanto sofre a do vírus autoritário que convive de mãos dadas com o suborno e seguros. East-West Leasing: equipamentos fabris. Moscow
barriga do seu povo, enquanto nos prometem salvar das garras em boa harmonia com as Multinacionais, ou melhor dito, as Narodny Bank: banco comercial. Nafta-GB: produtos petro-
da fome imposta pelo capitalismo reacionário... e no entanto Multinacionais Vermelhas tomam seu lugar no Kremlim! líferos. Techical & Optical Equipament: equipamentos foto-
não conseguem resolver a miséria em sua própria casa, dentro Passou a época em que parecia haver sérias divergências en- gráficos. United Machinery Organization Plant Hire: materiais
de suas portas. tre bolchevismo e Multinacionais, "escrúpulos" que o dinheiro de construção.
Em termos de fartura vamos às páginas de "TRUD" de venceu sem resistência na Rússia. As Multinacionais chegam ao ALEMANHA FEDERAL:
2/9/1978: "Nos anos do qüinqüênio — o IX — (estão cumprin- poder, tomam-no pacificamente, sem um protesto surdo... E, Neotype Techmashexport: máquinas. Ost-West Handelsbank:
do o X), as parcelas individuais dos camponeses proporcio- para não serem ultrapassados por essa força indominável, ir- banco comercial. Plodimex Aussenhandel: produtos alimen-
naram (exceto trigo), ao país: 60% de batata, 66% de horta- resistível, os "camaradas" soviéticos cansados de combater o tares e madeiras. Russalmax: diamantes. Sobren Chemihandel:
liças, 43% de frutas, 31% de carne, e 30% de leite consumidos capitalismo, resolveram sair fora de suas fronteiras e formar um química. Sovag: seguros. Uebersees Chiffhart Sagentur Trans-
na União Soviética". Esta produção da iniciativa privada, conjunto de empresas mercantilistas e bélicas para se rivalizar nautic: transportes marítimos. Wesotra Spedition & Transport:
apesar de todos os entraves impostos pela reacionária KGB e com o tão odiado capitalismo dos países burgueses. exportação.
dos dedos-duros bolchevistas (a iniciativa privada é proibida na A notícia de que os "camaradas" vermelhos, do país dos ESTADOS UNIDOS:
Rússia, é clandestina para uns e tolerada para outros), produziu pobres, tinham em franco funcionamento 28 Multinacionais Morflot America: transportes marítimos. Solfracht USA: trans-
mais do que os Kolkhozes e os Sovkhozes juntos, em que pese a Vermelhas fora de suas fronteiras para explorar comercialmente portes marítimos.
denominação de coletividades agrícolas — modelo do Estado os trabalhadores, o povo dos outros países que "pretende" ARGENTINA:
bolchevique. emancipar, foi em 1970. Sete anos depois (1977) o número já Coram South America: equipamento elétrico.
Nesta mesma oportunidade, um importante órgão sindical tinha subido para 84, todas empresas a concorrer nos países CAMARÕES:
(na Rússia publicam-se jornais sindicais e não existem sindi- capitalistas usando o mesmo jogo sujo dos exploradores bur-
catos, embora se realizem Congressos no Palácio dos Sindicatos) Cateco: equipamento de automóveis.
gueses.
falando das hortas individuais dos camponeses soviéticos, Dir-se-ia que é uma guerra entre o capitalismo vermelho, ETIÓPIA:
declara que "as plantações de iniciativa privada abastecem im- dos pobres e o capitalismo branco dos ricos. E segundo se infor- Ethos Trading C?: equipamentos elétricos.
portantes zonas de mercado, também com hortaliças, verduras ma, os vermelhos levam de vencida os negociantes burgueses. MARROCOS:
de todas as espécies, ajudando substancialmente na redução das Ainda nãò se sabe como irão explicar este avanço no mundo Marinexport: máquinas.
imensas filas que se formam em busca de gêneros alimentícios, dos negócios, da exploração do homem pelo homem ao seu NIGÉRIA:
inclusive de carne." Isto por si só contestaria a felicidade que a rebanho de seguidores, aquele "terço dos habitantes da Terra", Waatego Lagos: equipamento para automóveis.
"Ditadura dos Pobres" exporta para consumo de uma maisa de mas já se conhece que suas multinacionais mais conhecidas
cegos e surdos dos países capitalistas. Mas vamos voltar às LÍBANO:
atuam com predominância na pesca e nos transportes marí-
páginas de TRUD e a A. Tulupnikov: "O plenário de julho de Moscow Narodny Bank: banco comercial.
timos.
1978 do Comitê Central do Partido reconheceu que o nível "A URSS tornou-se o mais importante transportador SINGAPURA:
global do incremento dos produtos da agricultura não corres- marítimo do Mundo e está presente em todas as rotas do Globo. Moscow Norodny Bank: banco comercial.
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