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SALVADOR » BAHIA ' EDIÇÃO BIMENSAL • N.

° 5 * ANO 3 * ABRIL & MAIO DE 1979 - Cr$ ,10,00

ENFIM UM JORNAL ANTIMONARQUISTA.

VM O pacote
da UNE
PÁGINA 9

Ubaldo: a noção Caetano: direita ou Gil: o esquerdão


de esquerda esquerda, aqui, das mãos sujas.
perdeu o sentido. é meio ridículo. faz o jogo
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O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979
PAGINA 2

FEIJÃO MARAVILHA Opinião da Imprensa


Os trabalhadores brasileiros festejam, neste ano de
1979, a sua data universal, o Io de Maio, após uma das
maiores vitórias dos últimos tempos: a grande greve dos Trifonov, um poeta na Sibéria
metalúrgicos de São Paulo, o fracasso da intervenção
Gennady Trifonov, jovem poeta de Lenin- Entre outros, houve um artigo publicado na Sovt-
governamental no sindicato de Luís Inácio _o Lulaea grado, cumpre atualmente pena de quatro anos sky Sport denunciando o halterofilismo como
demonstração inequívoca de que o operariado pode an- num campo de trabalhos forçados da União uma prática que se supunha levar tanto ao ho-
dar com suas próprias pernas (os políticos oficiais só Soviética, na região norte dos Montes Urais. Sua mossexualismo quanto ao crime.
apareceram enquanto a polícia não chegou), livres do condenação ocorreu num julgamento não aberto Na Gazeta Literária, por sua vez, apareceu o
ao público, em novembro de 1976. Nessa época, relato do protesto público que um italiano,
dirigismo e do centralismo das pseudo-Uderanças das Ângelo Pezzano, realizou no dia 15 de novembro
nem sua mãe nem seus amigos conseguiram des-
catacumbas e subterrâneos. cobrir com exatidão as acusações que pesavam de 1977, em Moscou, a favor dos direitos dos
sobre ele. Afinal, qual teria sido seu crime? Este: homossexuais. O artigo referia-se a Pezzano como
Trifonov tinha divulgado, em lugares privados, um emissário da Bienal dos Dissidentes, que na
Não resta dúvida de que este foi o melhor presente época estava para ser inaugurada, em Veneza;
uma série de poemas magistrais cantando seu
que o Rei poderia receber, por ocasião de sua coroação. amor por um outro homem. além disso o artigo deixava implícito que essa
Daí suas preocupações com uma suposta abertura que Bienal era organizada por homossexuaus e por
herdou da dinastia gaúcha, hoje aparentemente, re- Depois que o caso foi noticiado por várias doidos.
colhida a cidade de Teresópoüs. Uma abertura publicações gueis do Ocidente, a revista soviética
Ogonlok, de grande circulação, acabou dando a Depois de ler essas matérias, Gennady Tri-
meramente verbal, que ocorre num momento em que o fonov mandou a seus amigos de Leningrado uma
versão oficial do que teria acontecido com o po-
sistema mais se solidifica, com a quadrilha Delfin- sta. Num cáustico artigo sobre Theodore Voort, veemente "Carta Aberta", para ser entregue à
Simonsen-Go/bery confirmada em palácio, com uma um estudante holandês expulso da União Gazeta Literária — onde, evidentemente, jamais
política econômica que sofre/arremedos, mas não muda Soviética por colher informações sobre o movi- foi publicada. Nessa carta, Trifonov protestava
mento dos dissidentes, mencionava-se pela contra a tendência da imprensa soviética em
em nada, no substancial. Assim é possível abrir, entre
primeira vez o nome de Gennady Trifonov. Ele difamar os homossexuais, e incluía informações
aspas. Afinal, tanto Arena quanto MDB, sabem se teria se encontrado com o holandês, sem no en- documentadas sobre o tratamento brutal e de-
comportar e saberão se comportar os novos partidos tanto participar de atividades de espionagem; e, sumano que tanto a administração quanto os
que os laboratórios palacianos estão a gestar. posteriormente, teria sido condenado por servir demais prisioneiros dispensavam aos homos-
bebida alcoólica a um menor, por roubar, por sexuais, nos vários campos de trabalhos forçados
provocar desordem e "por violar ainda um outro que ele conheceu no cumprimento da sentença.
E por causa desta abertura, o outro lado do sistema artigo do código penal, aquele que está direta- Dizia também que a atitude das autoridades
aspa trulhas ideológicas se assanham, põem as man- mente relacionado com seus miseráveis versos de locais e a alimentação tinham melhorado, depois
gas do lado de fora, vestem-se, de rubras TFPs e saem poetastro homossexual." (A. Kostrov, "A segun- que seu caso se tornara conhecido no Ocidente.
de lanças em punho à caça de todos os democratas que da face de Theodore Voort" Ogonlok, julho
1977). Os amigos de Trifonov temem que ele não
ousam pensar diferente. Enfim, perseguem seu obje- consiga sobreviver aos quatro anos de duro re-
tivo: a substituição da ditadura por outra ditadura, O próprio articulista admite que o poeta gime, nos campos de trabalhos forçados. Um
sobre o que consideram o proletariado. Daí a posição de Trifonov mal conhecia Theodore Voort e não teria deles enviou para fora do país uma carta em verr
independência dos intelectuais merecer os aplausos de lhe passado qualquer, informação. Entretanto, so, que Trifonov escreveu em fevereiro de 1978
quando se trata de uma pessoa considerada dis- (ver mata página). Sua mãe e seus amigos
todos os libertários, de todas as minorias, que devem acreditam que a única maneira de ajudá-lo é dan-
sidente, a imprensa soviética usa uma tática
esta rale nas para um fato: se hoje esta corja já censura e muito conhecida: atribui crimes por associação e do a maior publicidade possível ao caso. Em fun-
já difama sem estar no poder propriamente dito, acumula acusações forjadas, a partir de delitos ção disso, vários jornais homossexuais da Europa,
imagine o que farão se chegar até lá! insignificantes. A novidade no artigo da revista Estados Unidos e Canadá concordaram em
Ogonlok era a presença do tópico "homosse- publicar a presente matéria, além de sugerir que
xualidade", até então nunca mencionado. Entoe as pessoas enviem cartas de protesto às embai-
Igualmente é tempo de congresso estudantil. Er- xadas e consulados da União Soviética, à Anistia
1977 e 1978, o mesmo tema voltou a ser abordado
radamente organizado, segundo os moldes do passado, várias vezes pela imprensa soviética, sempre num Internacional e às organizações internacionais de
de cima, para baixo, sem consultas às bases, tudo ao contexto que euiparava a homossexualidade ao escritores, como o Pen Club. (traduzido da revista
gosto dos líderes de papel crepom. É o feijão maravilha. crime (ou loucura) e a atividades anti-soviéticas. Christopher Street", por João Sllvério Treviaan)

A abertura ê, assim, ao mesmo tempo, uma propos-


ta de fechamento. Um maquiavélico projeto de oferecer
a isca para ver quem come. Eas esquerdas oficiais, o tal
Carta da Prisão
esquerdão fadsta está caindo de bobeira neste alçapão.
Recebi as cartas onde vocês, tal como os galhos formam um jardim
Puseram nas ruas algumas centenas de pessoas no dia tal come Deus nos beijaria os lábios
15 de março, demonstrando que participavam e es- tão gentis, me dizem que sou um poeta,
razão pela qual minha altíssima estrela tal como a nevada beija o chão.
tavam integradas na festa imperial. E com isto futucam não vai se extinguir na escuridão.
o cão com a vara curta, jogam os jovens e o seu poten- Ah! por ele é que eu clamo de noite.
cial contra o inimigo ainda desproporcional. E querem Os bosques gelados, dizem vocês, Chamo seu nome, eu pássaro ferido,
repetir 1968/71. Emílio Garrastazu Mediei deveria ser o ficaram já embebidos da minha voz a esse que não mais povoa meus sonhos,
e, de tão obedientes a estas mãos, sobre quem não mais falam meus versos.
herói destes contestadores de araque, irmãos gêmeos seguem o ritmo dos versos meus.
da direita' Ou, para ser mais direto: "A esquerda
brasileira ê de direita", como bem o disse Glauber Vocês dizem também que me foi permitido Vocês me ajudam a responder.
cantar, como ninguém, esse amor sem resposta E insistem quemão, tíevoj desanimar:
Rocha. "Agüente a barra, busque sobreviver."
por aquele que resume nossas necessidades,
àquele que modela, inteiras, nossas vidas Tento viver. Mas vida aqui não há.
(Transcrito do jornal Lampião n? 11, abril de 79)

O INIMIGO DO REI
O INIMIGO DO REI é feito pela seguinte equipe, em ordem de Jornalistas
sorteio:
Ricardo Líper, Renato Almeida, José Onofre, Adir, Zézinho, Jorge
d'0 Inimigo do Rei AVISO
de Sá, Zeferino Marteleteiro, Sérgio Guerra, Antônio Carlos Pacheco,
José Liberatti, Aurélio Vellame, Vítor Mendonça, Alexandre Ferraz,
também são jornaleiros A PRAÇA
Átalo Augusto, Kátia Regina Borges, Antônio Fernandes Mendes, Aos Colaboradores. A quem quiser escrever para O INI-
Do atual presidente do Sindicato dos
Edgar Rodrigues, Cláudio Miranda, Júlio e Artur de Piero Gouveia. MIGO DO REI: jornalistas da Bahia: "0 INIMIGO DO REI é
Nós somos o único jornal autogestionário do Brasil.
um |ornal de viados, maconheiros e ma
Correspondente para a Europa: Sebastião Santa Rosa. Isso significa que todas as pessoas que aqui escrevem estão
lucos" Estas palavras eram utilizadas pelo
em pé de igualdade e não sofrem censuras de "conselhos edi-
presidente do Siniorba para hostilizar um ex-
N." 5. Publicação bimensal da Editora A Livros, Jornais e Revis- toriais" iluminados. componente deste tablóide bimensal, quan-
tas Ltda. Preço do exemplar avulso: CrS 10,00. Assinatura anual de Entretanto, o critério para escrever para este jornal é assumi- do o mesmo trabalhava na redação do Jornal
colaboração: CrS 100,00. Exterior: USi 7,00. Correspondência: Caixa lo e trabalhar braçalmente por ele. Vendê-lo de mão em mão,
da Bahia.
Postal2540. Salvador, Bahia-Brasil —CEP 40.000 suportar as exaustivas reuniões etc. Não estamos atrás de níveis Aviso aos companheiros jornalistas: se
nos artigos. Isso é censura da criatividade. qualquer profissional baiano se enquadrar
Por outro lado, não estamos dispostos a trabalhar para divul- nas três categorias apontadas pelo atual
AOS ASSINANTES: gar textos de pessoas {por mais "geniais" que sejam) sem que presidente do nosso Sindicato, CUIDADO!
elas dêem a sua quota de trabalho. Se assim não fosse, O Se ele sem ter poder algum já assume essa
1. Não chegando qualquer dos números do jornal, favor avisar-nos INIMIGO DO REI não seria um jornal autogestionário. Se- posição discriminatória e fascistóide,
para que possamos providenciar. ríamos um grupo que trabalha e, à sua volta, um grupo "vai- imaginem se ele um dia tiver o poder nas
2. Comunicar-nos qualquer mudança de endereço. doso" que gosta de ver suas "obras" literárias publicadas e, de mãos; por certo mandará todo mundo para
maneira burguesa, explora o pessoal autogestionário. campos de concentração: homossexuais,
Composto e impresso na Gráfica Editora Jornal do Commercio — Em resumo: não fazemos distinção entre o trabalho intelec- maconheiros e malucos.
Rua do Livramento, 189, — Tel. 243-7671, Rio de Janeiro. tual e braçal. Os jornalistas do INIMIGO DO REI são também
jornaleiros.

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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 3

CHINA X VIETNÃ

Videla e Pinochet devem


ter sentido inveja...
Quando no dia 77 de fevereiro, as tropas do tava o pupilo de Pequim, Pol Pot, responsável por
Antônio Carlos Pacheco

(HoangLien, LangSon, CaoBang etc). Com esta


Exército de Libertação Popular passaram a Unha várias matanças de milhares e milhares de cam- operação militar a China queria obrigar o Vietnã a
de demarcação sino-vietnamita e invadiram o ter- poneses que resistiram à "Volta ao Campo" for- retirar suas tropas do Camboja e assim facilitar a
ritório do Vietnã, estava mais uma vez aberta a çada pelo Khmer Rouge. Esta volta fez com que resistência do exército remanescente de Pol Pot
cicatriz da divisão no Mundo Comunista, recen- mais de 2/3 da população urbana do Camboja fos- que até hoje dá trabalho a Heng Samrin. Segun-
temente sangrada na invasão do Camboja (ex- se removida à força para as plantações de arroz do, queria mostrar que a URSS também não
Kampuchea Democrático) pelas tropas vietna- nas zonas rurais. poderia ajudar diretamente o Vietnã assim como
mitas. A violência do regime de Pol Pot seria outro
ela, China, não pode ajudarão Camboja. Terceiro,
O que se dá na invasão chinesa é apenas, e tão- dado que o Vietnã consideraria no seu intento mostrar ao mundo que a política soviética ê de
somente, uma resposta de Beijing (ex-Pequim) ao de dominar o vizinho país. Para a opinião pública isolar diplomaticamente a China, invadindo e
Urso Soviético. mundial ficaria o dado de que o Vietnã salvaria derrubando seus aliados.
Para se entender a invasão do Vietnã pela os cambojanos de um regime cruel. Independente
Nisto tudo os chineses venceram a guerrinha,
China é necessário ver o que ocorreu no Camboja. do fato de que para este salvamento ser neces- pois conseguiram mostrar que, efetivamente, a
Este país era um dos poucos aliados fiéis ao sário aos vietnamitas usarem crueldade ainda
URSS está cercando suas fronteiras com regimes
governo chinês e foi instalado aí quando em 7975 maior. pró-soviéticos que, eventualmente, poderão servir
o Khmer Rouge (os cambojanos vermelhos) ven- Havia no entanto duas finalidades: a primeira
de base para um ataque maciço à China. Basta ver
ceu as tropas do governo títere de Lon Nol, ven- que não se pode invadir outro país sem mais nem-
no mapa a situação das fronteiras chinesas atuais.
dido ao imperialismo americano. Os vizinhos do menos, a segunda que era necessário um ante-
A guerra também serviu para mostrar o porque
Camboja no entanto seguiam sua luta em direção paro diplomático e militar mais forte do que a
da China estar fazendo alianças com os mais
de um alinhamento com a URSS, o que ocorreu China. Para o primeiro se montou uma frente de
reacionários regimes de direita da Terra: como o
com o Vietnã e finalmente com o Laos, ocupado cambojanos exilados, chefiados je/o ex-Khmer
Chile de Pinochet, por exemplo. O que, em si, não
este último, por 40 mil soldados vietnamitas que Rouge, Heng Samrin, agora aliado do Vietnã.
é nada demais em se tratando de socialismo
se consideram "força auxiliar" do governo de Assim, o Vietnã daria "uma ajuda" a Samrin.
autoritário. Assim como a China se alia a Pino-
Vietname. Seriam cambojanos enfrentando cambojanos, os
chet, a União Soviética fez um Pacto de Não
Os dirigentes vietnamitas sempre alimentaram vietnamitas estariam "ajudando".
Agressão com Hitler pouco antes da II Guerra
o sonho de um dia unir toda a Indochina um único O segundo problema foi resolvido com o apoio Mundial, o famoso Pacto Nazi-soviético, que a
país sob a liderança do Vietnã. Tanto os cam- soviético, sempre disposto a servir onde fiquem URSS respeitou até o'último instante. Foi Hitler
bojanos quanto os laosianos, sempre viram este prejudicados os interesses do outro irmão socialis- quem quebrou a santa aliança.
desejo com certa reserva pois temiam ser transfor- ta: o Tigre de Papel chinês. O Balanço geral, ou os saldos do balanço, da
mados em colônia de Hanói. A invasão se dá no dia 25 de dezembro de 7978 guerra, mostram que, em verdade, não há socialismo
O Laos não teve escolha quado a equipe di- e no dia 7 de janeiro Phnom Penh cai nas mãos de nem na China nem no Vietnã nem na URSS tam-
rigente pró-soviêtica assumiu o controle da maior Samrin. Isto porque o Vietnã deu uma "ajuda" pouco no Camboja. Houvera socialismo em qual-
parte do país, destronando a monarquia e afastan- aos cambojanos exilados de, nada mais nada quer destes países e eles não mandariam seus
do os últimos títeres dos EUA. Imediatamente o menos, que 7 70 mil soldados. Onze divisões, fora operários e camponeses irem morrer contra
Vietnã manda uma grande força de soldados para os blindados e aviões. Mesmo para os mais cí- operários e camponeses de países irmãos.
ajudar o novo governo a sufocar a oposição pró- nicos, ficou claro que foi uma invasão militar e não O que existe ê uma burocracia socialista au-
chinesa. uma ajuda prestada pelos vietnamitas pois, en- toritária, violenta è repressiva, que para satisfazer
O governo cambojano encontrou uma maneira quanto as tropas de Samrin eram de quatro mil a seus intentos expansionistas, usa a ideologia
de evitar esta fusão forçada numa Federação (n- homens, no máximo, a "ajuda" era de 710 mil socialista apenas para camuflar os seus desígnios
dochinesa sob a égide dos vietnamitas: aumentou homens em armas. que são desígnios de c/asses dominantes como
ainda mais sua aliança com Pequim (atual Beijing), em qualquer país capitalista. E para corroborar es-
no que tanto russos quanto Hanói protestavam e AJUDA A POL POT
ta impressão, vimos que quem mais se esforçou
preparavam um revide. No dia 17 de fevereiro a China aproveita estes pela paz foi o imperialismo americano. Tio Sam
SEM FRONTEIRAS pequenos choques para dar, o que Beijing cha-
tentando fazer se beijarem o Urso de Moscou e o
Conforme se pode ver no mapa, o Camboja mou, "lição" ao Vietnã, num nacionalismo Dragão de Pequim. Triste fim para os jovens que
não tem fronteiras comuns com a China e foi con- territoria/ista de fazer inveja aos fascismos da acreditavam, no III Mundo, que seus ídolos eram
tando com este dado que o Vietnã passou a ar- Argentina e do Chile. Pouco menos de 100 mil socialistas; hoje já não há mais dialética que ex-
quitetar a derrubada do regime pró-chinês de soldados chineses começam uma pequena incur- plique tanto militarismo e tantos operários e cam-
Phnom Penh. A testa do governo do Camboja es- são através das províncias do norte-vietnamita poneses mortos em guerras "fraternais".

Perigo: a China comunista cercada de comunistas inimigos


MONGÓLIA: tem um governo so-
cialista autoritário instalado pela União com certa abertura para o Ocidente. Uma
Soviética depois de algumas disputas com minoria chinesa ao norte pretende a seces-
a China. A URSS dispõe de tropas ins- são e faz com que haja um distanciamento
taladas em seu território. entre a Birmânia e a China. A URSS tem
AFEGANISTÃO: governo socialista cortejado o governo local sem sucesso, por
enquanto.
autoritário instalado pela URSS através de
golpe de Estado em abril de 1978. Apesar LAOS: regime alinhado à URSS com
da pequena fronteira com a China, nem governo socialista autoritário imposto
por isto deixa de ser ameaça. Este país pelas armas vietnamitas: 40 mil soldados
acusa os chineses de fomentarem movi- do Vietnã estacionados dentro do terri-
mentos muçulmanos rebeldes contra o tório laosiano.
regime pró-soviético VIETNÃ: a "Cuba da Ásia"como diz
PAQUISTÃO: virtual aliado chinês Beijing. Principal aliado russo na Ásia e
quando do governo do ex-premier Zulfikar arqui-inimigo dos chineses, divididos his-
Ali Bhutto. Com o enfocamento deste e a toricamente por questões nacionalistas e
tomada do poder pelo líder muçulmano de fronteiras.
Mohammed Zia UI-Haq, depreende-se TAIWAN: a ex-China Nacionalista.
que a China ganhou mais inimigo em Decadente e anacrônico produto do im-
potencial. perialismo americano virado para as cos-
ÍNDIA: governo neutralista e apro- tas chinesas. Tende a uma reunificação
ximado do Ocidente mas que possui laços com a China pela força dos tratados feitos
estreitos com a URSS feitos à época do com os EUA ultimamente por parte do
governo da ex-primeira-ministra Indira vice-premier chinês, Teng Hsiao-ping
Ghandi. A índia tem territórios seus (Deng Xiaoping).
ocupados pela China em 1962, quando da CORÉIA DO NORTE: A partir de
guerra fronteiriça entre os dois países 1976, com a drástica redução da ajuda
(regiões pontilhadas na Cachemira e perto soviética a esse país, transformou-se em
do Bastão), o que tem impedido um es- virtual aliado chinês já que anteriormente
treitamento de relações. Os indianos con- mantinha boas relações tanto com a China
sideram a China como rival na Ásia. quanto com a URSS. Governo socialista
NEPAL e BUTÀO: monarquias con-
trolai! ns virtualmente pela índia.
Ocran.o\A InáLco% —/
—————— sfan
autoritário chefiado por um oligarca de
M nome Kim II Sung que por sua extra-
BIRMÂNIA: regime que se diz so- vagância é chamado de "O Idi Amin do
cialista não-alinhado. Nos últimos anos Mundo Comunista".

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VIVA A GREVE. NA "ABERTURA" OS tém esta "ordem" garantin-


do direta ou indiretamente a
uma realidade autoritária QUANTO A ORGANI- federações, as federações
que infiltrava-se nos me- ZAÇÃO SOCIAL reúnem-se numa confe-
realização dos investimen- nores detalhes da vida, in- deração, limitando-se pri-
tos. fluenciando gestos, pen- Mesmo levando em meiro a um País, para
PARA ENTENDER A samentos, idéias e ações conta que os sindicatos, mais tarde ligar-se com as
(que alguns chamaram de hoje, no Brasil, estão outras, internacionalmen-
CRISE
condições objetivas). O atrelados ao governo, o que te."
Basta imaginar quem se despotismo era a sua marca caracteriza um sindicalismo É um grande e sólido
favorece. registrada. corporativista, como pensar partido, com base firme,
Se separamos os capitalis- Despotismo que aprece na luta nos sindicatos formando-se de baixo para
tas por tipos de atividades no quotidiano, em todas as como o atrelamento a um cima, do simples para o
ou por poder de interven- suas manifestações, seja na novo Governo? composto. Não há comitês
ção ou partilha, fica claro cama, na rua, com os fi- Se os sindicatos devem diretivos, não há cabeças
que é mais favorecido quem lhos, com as minorias ser livres, porque s^o or- — facilmente decapitáveis.
Lula: destituído do põe menos na parada. Isto (raciais, sexuais), enfim, em ganismos importantes da A autonomia do indivíduo
Sindicato pelo governo significa menos gastos com qualquer parte. luta contra a exploração, dentro do sindicato, do sin-
e malhado pelo esquerdlo. capital fixo (equipamento, (Não se queira negar o como não pensar nos sin- dicato dentro da federação,
instalações, estoques...), historicamente realizado — dicatos como organiza- da federação dentro da
pois enquanto um industrial este já aconteceu. O que se dores da luta também con- confederação. A liberdade
"... de tudo isso um grupo depende do processo quer é utilizar seus ensi- tra o capitalismo? E como da unidade. É um organis-
de trabalhadores procurou produtivo para ver seus namentos e avançar daí). não pensar nos próprios mo vivo em todas as suas
a gente e disse: lucros e um comerciante sindicatos como organis- partes. Faz-se um apelo a
"a orientação que o Por aqui dá para enten-
depende dos fluxos de mer- mos reorganizadores da todas as energias: pela
Sindicato deu foi a de que der que o político e o
cado, o capital financeiro só vida social? propaganda e pela ação;
só há negociações quando econômico são facetas da
tem o trabalho de colher os "Tudo foi criado pelo faz- se a educação mútua no
as máquinas estiverem mesma realidade social. E
frutos. Pois não depende de trabalho, e aquilo que foi sentido de evitar que os in-
paradas. Pois bem, na Mer- aqui è que cabe perguntar o
um mercado localizado. usurpado à coletividade divíduos possam admitir
cedes elas estão paradas. E Seu dinheiro rende em que se entende por reali-
laboriosa devido à esper- chefes e depositar neles a
nós queremos negociar qualquer parte do mundo. dade social?
teza ou pela foiça para sua confiança, a sua ini-
agora." Se associarmos isto com o Cada indivíduo terá sua
chegar à atual situação ciativa, ficando desorien-
"... nós até brincamos com aumento do seu poder de realidade específica, cheia
catastrófica em que nos en- tados quando esses chefes
os caras. Nós estávamos barganha vamos entender a de contradições. A reali-
contramos, deve retornar são empolgados pelo ad-
brincando, vocês levaram crise política. Mas os ca- dade será tão complexa
aos trabalhadores, donos versário.
muito a sério..."' pitalistas investem diver- quantos indivíduos a com-
legítimos de tudo." Tal é o "partido do
(Lula, In "Cara a Cara") sificando o quanto mais os põem.
(Palavras de um velho trabalho" que se elabora
E as máquinas estavam investimentos forem diver- O que se pode ver militante operário). entre nós. (evidente anti-
parando e continuam sificados em termos da claramente dessa realidade É claro que não se fala partido).
parando e muitas outras multiplicidade de -merca- são os seus reflexos nas mais, aqui do sindicato que Essa posição histori-
ainda vão parar. dos. Podem melhor agüen- pessoas, onde existem in- conhecemos; fala-se de um camente foi bem definida e
As manchetes voltaram-se tar as crises e mesmo justiças gritantes. sindicato revolucionário. organizada pela Confe-
para as assembléias e beneficiarem-se delas, pelo Muita gente está numa Um sindicato revo- deração Nacional do
greves dos milhares de englobamento dos capitais boa, mas muitos mais nem lucionário que não separa o Trabalho, em 1936, na Es-
trabalhadores do ABC menores. E tudo isso sai do conseguem um mínimo econômico do político. panha, na experiência
paulista. bolso do trabalhador. aceitável de sobrevivência. Fala-se de uma organização autogestionária que acon-
A greve é uma arma que os
de tipo sindical, construída teceu no setor republicano
trabalhadores estão usando DEFININDO OBJETIVOS Podemos supor que o
por e a partir de nós, que durante a Guerra Civil. E
para a conquista das suas problema è de má estru-
reorganize toda vida social. que hoje è retomada por
reivindicações. As fábricas Antigamente era voz turação social, independen-
corrente em largos setores uma nova CNT que, com
vão sendo paralisadas; o te de imaginar como ai se
base no seu legado his-
movimento propaga-se aos a idéia de que aos traba- chegou. Sào obstáculos
ANTECEDENTES HIS- tórico, na sua autocrítica
demais Estados. É a difusão lhadores cabia apenas a luta que podem ser varridos;
TÓRICOS DESTA permanente, redefine suas
da experiência vitoriosa econômica (por melhorias como ríào discutir entre
IDÉIA/AÇÃO posições.
propagando-se. salariais, condições de em- todos o que ê problema de
Em um documento das
Mas os patrttes não foram pregos...). Funcionando todos?
Essa não è uma idéia es- suas muitas federações
pegos de surpresa. Fala-se estes como o eixo de tras- Ou o que será que estão tranha; ela já esteve aparece a polêmica com a
em estudos secretos co- missão de um Partido entendendo por socialismo? presente ao despertar da idéia próxima, conselhista,
nhecidos por parte das em- Operário, definidores das Bem, aqui a nova ques- consciência operária, ela já esboçada por Anton Pan-
presas, elaborados por ór- lutas maiores dentro da tão è a de como viabilizar esteve presente na Primeira nekoek, onde se afirma o
gãos oficiais, onde apon- sociedade. Sendo colocado esta proposta. Mas a ques- Assembléia Internacional seguinte, refutando a al-
tavam que o Governo do . como lutas maiores a tão não deveria ser esta. A dos Trabalhadores (AIT). guns conceitos:
General Figueiredo enfren- própria luta política pergunta deveria ser: quais "A emancipação dos
taria sérias dificuldades (ideológica). são as organizações so- trabalhadores há de ser SOBRE O CARÁTER DO
sociais devido a mais uma A quesfâo è o que è ciais, que existem ou que obra dos próprios traba- SINDICALISMO
crise econômica. Crise no político sem ser econômico poderão existir, que podem lhadores." (Ou não acon-
mercado internacional que e o que è econômico sem resolver o problema social, tecerá). "É claro que a maioria
obriga a um realinhamento ser político? que engloba todos os 0 que, no Brasil, dos sindicatos estão bu-
da economia interna. Como Este tipo de dualidade problemas da vida de forma aparecia bem claro no III rocratizados, mas esta
acontece nestes casos, os proposta não explicava satisfatória para todos? Congresso Operário da evolução só é reflexo da
grupos que estão mais per- nada, justificava apens uma Se esse è nosso ob- Primeira Central Operária própria evolução da classe
to dos centros de decisão diretriz imposta por uma jetivo, como è que se Brasileira, em 1920, quan- operária em si. Na sua
degladiam-se por posições vanguarda qualquer que, chegou a pensar que uma do, no boletim da comissão maior parte encontram-se
mais favoráveis. tomando por parâmetro a vanguarda, a frente de um executiva, Neno Vasco es- submetidos a uma forte
Está claro que nossa sua visão de mundo, com a Estado qualquer, do dia crevia: dominação ideológica in-
economia é delimitada pela "melhor das boas inten- para a noite, o conseguiria "A propósito da or- troduzida nela pela bur-
sua própria participação ções a impunha ao restante fazer? ganização de um partido guesia. Mas não ê intrín-
subalterna no cenário' da sociedade (vide o caso operário...":
Quem dos mais capazes seco ao modo sindical de
capitalista internacional. Os da degeneração dos par- "... esse partido ela-
se sente o mais capaz de organizar-se o fato da sua
interesses que aqui pre- tidos nos chamados Es- bora-se lenta mas segu-
todos para dizer a todos o burocratização nem o de,
valecem são os grandes in- tados Socialistas). ramente; os operários cons-
que deve ser feito? Ou seu papel atenuador dos
teresses das multinacionais, Esse modo de proceder tituem sindicatos profis-
como se deve viver? Capaz conflitos sociais: a expe-
as burguesias nacionais são e de pensar não trazia nada sionais ou de indústria; os
em que? Ou para quem? Ou riência da CNT è o melhor
meras associadas desse de novo ao socialismo; era sindicatos agrupam-se em
o quê? exemplo disso."
processo e o Governo man- apenas a conseqüência de

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O INIMIGO DO REI PAGINA 5
ABRIL& MAIO DE 1979

OPERÁRIOS FECHAM AS FÁBRICAS


CONSELHOS E SINDk reserva uma função de con- Bigode (Cândido Hilário), tórico da classe operária. A saíram em várias fábricas
CA TOS frontação ideológica e "es- pela chapa 2 Renovação e luta Sindical era vista da comissões reconhecidas
clarecimento das massas". Hélio Bombardo com três seguinte maneira: o sin- pela direção da empresa,
"Existe uma idéia de Afirmamos pelo contrário, representantes: Nazaré, dicato faz para nós que comissões legais com es-
que os conselhistas (mar- que as organizações que a Baixinho e Zé Pedro. Ainda estamos dentro da fábrica. tabilidade e até comissões
xistas, libertários ou sim- classe operária construam com ligeiras intervenções E é nesse ponto que eu que as empresas nâo co-
plesmente autogestio- para sua auto-emancipação de São Paulo da Chapa 2 acho que as coisas têm nhecem. Então, a experiên-
nários) podem ser anti- - sindicatos revolucionários Paulo Moura, Manoel mudado bastante. Dois cia que não se encerrou
sindicalistas e que os anar- e conselhos - devem ser in- Ferreira Lima e Valter fatos mostram isso. Pri- numa luta econômica de
co-sindicalistas ou ignoram tegrais na sua luta e abordar Schiavon. meiro, as leis que estão aí já um determinado momento.
os' primeiros ou opõem o por eles próprios todos os O seu roteiro para não conseguem barrar o Ela inclusive está avançan-
sindicalismo revolucionário aspectos da sociedade. debates pretendia esgotar movimento operário, ainda do em outras questões,
aos conselhos operários. os seguintes assuntos: que pequeno. Por outro com a questão da perse-
Este antagonismo é falso. 1) Movimento Operário lado, a herança populista é guição dentro da fábrica, a
Trata-se de duas formas CONTRA O ESTADO Hoje muito pequena nos com- questão do restaurante, de
distintas da mesma coisa. A 2) A Questão da Or- panheiros que hoje par- convênios médicos, quer
capacidade de autonomia . . . Que o poder ganização ticipam das lutas... dizer, a luta está procuran-
do proletariado e do povo operário anule o poder es- 3) Luta Sindical e Luta ...Através da luta pela do englobar tudo, ou pelo
para desenvolver suas lutas tatal nâo pode confundir-se Política reposição salarial, os menos grande parte daquilo
e organizar a sociedade com que passe a ocupá-lo, Bem como não caberia trabalhadores pressionaram que diz respeito à vida do
revolucionária sem dirigen- pois aquele è um poder que "chupar" aqui toda discus- os dirigentes sindicais, que operário, dentro da fábrica. .
tes nem hierarquias. deve ser decididamente arv são como seria desejável e desceram as portas das ... a luta da oposição é
ti-estatal. Se pelo Estado se como é prática corrente da fábricas, fizeram abaixo as- justamente para quebrar a
"Um sindicato revo-
está entendendo um corpo maioria dos intelectuais, sinados, convocaram as- estrutura sindical.
lucionário tem um papel
de funcionários permanen- vamos registrar apenas al- sembléias quase que se- ...Eu acho que as nos-
fundamental no período
prè-revolucionário: fus- tes que monopolizam uma gumas expressões que manalmente com a cate- sas lutas demonstraram,
série de funções (executi- goria. Isso foi criando um por alguns caminhos, como
tigando ao sistema, con- atestam a maturidade e o
vas, judiciárias, legislativas, alcance das nossas afir- clima que possibilitou um é que se vai quebrar a es-
seguindo melhorias qua-
militares, policiais, etc...); mações: énfrentamento, que foi um trutura sindical: por exem-
litativas imediatas, coor-
chegando a ter a sua Hélio — Eu acho muito enf rentamento de cruzar os plo, se è proibido fazer
denando as lutas revolu-
própria dinâmica, nâo pode sério o problema do mo- braços, de fazer greve e greve, o pessoal faz gre-
cionárias de empresas e
chamar-se Estado ao con- vimento operário atual. Se, conquistar alguma coisa. ve...
ramos de produção diferen-
junto de mecanismos pelo por um lado, é um movi- Em SP a coisa já muda um ...Esse trabalho, no en-
tes, exercitando os tra-
qual o povo trabalhador or- mento nascido após 64, que pouco. A diretoria sindical tanto, é um trabalho mais
balhadores na prática da
ganize diretamente seus nâo tem muita experiência pelega tentou brecar de longo, que requer que a
sua auto-organizaçâo e
próprios assuntos, anulan- de luta, por outro, tem todas as formas as lutas nas classe vá realmente as-
preparando-os . conti-
do as funções repressivas poucos vícios. É um mo- fábricas, encaminhou uma sumindo a luta política e
nuamente para assumir
do Estado (policia, decretos vimento de muitos com- ação contra a União, que econômica, para que esta
amanhã todo o processo
e leis descriminatórias, etc. panheiros combativos, um até o momento não deu em nâo fique na cabeça de 40
produtivo por si próprios.
.. ) e assumindo as funções operariado novo e que real- nada, e não convocou ou 50 companheiros. Eu
Nada disso pode ser feito
talvez úteis que hoje mente acredita nas lutas e nenhuma assembléia 'de acho que na medida em que
pelos conselhos, que só
monopoliza (economia, que não está tão com- categoria. Mas os com- a classe vai assumindo a
surgem no auge da luta.
povo armado, tribunais prometido como o pessoal panheiros que estão na necessidade de sua or-
Mas reciprocamente, a
populares) funções cujo de antigamente. Eu, par- fábrica, a partir das greves ganização independente em
teoria clássica do anar-
exercício nâo delegará a es- ticularmente, vejo o pessoal de S. Bernardo, passaram a relação ao Estado, ela vai
cosindicalismo sobre a
pecialistas, sim que as- como uma nova camada levar recortes de jornal e a assumindo a luta dentro das
reestruturação da economia
sumirão os trabalhadores que surge do operariado discutir nas fábricas, co- fábricas."
via unicamente os sindi-
coletivamente (assem- dentro do Brasil, após 64. meçaram a surgir boletins Como se viu o relato é
catos revolucionários é in-
bléias), deforma rotativa ou de oposição daquele pes- bastante profundo, existe
suficiente ( ): 1) os tra- A distinção que eu vejo
por qualquer outro pro- soal que de certa forma es- algumas dúvidas: a questão
balhadores sindicalizados entre ele e o de alguns anos
cedimento esporádico." tava preocupado em das comissões legalizadas
nem todos esfâo em um atrás é que desde a década
quebrar, ainda que parcial- (se estas nâo se transfor-
sindicato revolucionário, 2) de 40, quando Getúlio an-
mente, a lei do arrocho marão em nova burocracia
nem todo mundo è sin- ESSAS IDÉIAS AQUI E dou impondo o sindicalismo
salarial. As greves, por ou órgão de controle dos
dicalizado, 3) nem toda a AGORA vertical, os movimentos
exemplo, não são permi- próprios patrões?);
população ê trabalhadora. sindicais, quase todos eram
tidas, mas elas realmente Só um amplo debate
Os conselhos sao pois or- Como se pode ver, a feitos de cúpulas, quero
aconteceram. poderá precisar melhor o
ganismos mais adequados problemática è bastante dizer, existia um trabalho de
...Aqui em SP as que se está entendendo por
chegado um momento atual e nâo acontece base barrado por acordos
oposições foram para a luta política e econômica,
revolucionário. apenas na Europa como cupulistas. O que para mim,
porta da fábrica tTse or- mas é evidente que uma
Por isso, sindicatos muitos podem crer ou gos- destingue hoje, um mo-
ganizaram dentro das coisa nâo se separa da
revolucionários e conselhos tariam de ver. Esses assun- vimento do outro è que o de
fábricas com as condições outra.
são complementares uns- tos discutem-se aqui mes- hoje está começando de
dadas. As condições dadas A discussão como se
tem um papel fundamental mo e agora. São os tra- baixo para cima. Antiga-
são as seguintes: a classe pode ver è atual, ela se dá
na etapa pré-revolucionária, balhadores, os intelectuais, mente meia dúzia de di-
realmente estava a fim de hoje e è fundamental para a
os outros no decorrer da os estudantes... enfim, rigentes sindicais -- eu
parar, estavam todos dis- orientação da intervenção
revolução. As coletividades todos os setores de so- digo, antes de 64 — com
postos a lutar por um no processo em que vive-
espanholas (autogestão) ciedade se posicionando. raras exceções decidiam
aumento geral e já existia mos.
36/39, são um bom exem- A revista CARA A uma greve, levavam essa
um trabalho anterior. Em Tentar colocar hoje a
plo disso. CARA, do Centro de Es- greve e o saldo era muito
SP pode-se dizer que discussão de uma orga-
( ) isso já era o pro- tudos Everardo Dias no seu pouco ou quase nulo. Nor-
houve uma grande arti- nização sindical que amplia
grama da CNT, em 1936, n.° 2, dedicada quase que malmente não levavam em
culação e discussão de uma a luta dos trabalhadores,
verifique-se em o "Organis- exclusivamente à expressão conta os interesses reais
fábrica com outra, seja no nâo é um dever apenas, é
mo econômico da revo- dos próprios trabalhadores dos companheiros das
sindicato, seja nas reuniões uma obrigação que toca a
lução" de Diego Abad Sarv é um exemplo do que afir- fábricas. É lógico que há
da oposição, com um pas- todos os interessados na
tillan. mamos quando num debate exemplos que fogem disso,
sando a experiência para o emancipação dos traba-
que se prolongou por 5 mas de uma maneira geral,
outro e mostrando de que lhadores. Nos interessados
CONTRA OS PARTIDOS horas, reunindo Jacó Bit- desde que nós estamos
maneira a experiência numa numa sociedade mais justa
POLÍTICOS tar, presidente dos pe- submetidos a um estatuto
fábrica pode ser aprovei- e mais humana para todos,
troleiros de Campinas e padrão de 43 em termos
tada em outra. de Porto Alegre
Mesmo que Pannekoek, Paulínia e membros das sindicais que quase nada
É isso que dá a tônica Vitor Mendonça
denuncie os aspectos oposições sindicais dos produziram no sentido de
diferente em SP. Aqui JoséOnofre.
negativos dos partidos, lhes metalúrgicos de S.P. — uma retomada do fio his-

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PAGINA 6 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979

1 °. DE MAIO, DIA

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PARSONS - LING ENGEL SPIES


FISCHER

Pertence exclusivamente no pcnodo posterior à condo os assistentes. Nesse sas vozes, que hoje estran- market. Ali, o tema popular
ao proletariado, aos tra- Guerra Civil, provocou in- momento um petardo cruza gulam com a morte." foi a redução das horas de
balhadores, a comemoração tensa conturbação no seio o espaço explode entre os Fischer — "Hurrah pelo trabalho. Porém, "o Anar-
do 1? de Maio. Como das classes operárias. Sur- policiais matando um e anarquismo! quismo está em julgamen-
trabalhadores considera-se giram movimentos de ferindo mais de duzentos. Engel — 'Este é o to", espumou raivosamente
todos que vivem do produto protesto pelos baixos sa- momento mais feliz de o Sr. Grinnell. Se assim é eu
de seu trabalho, manual ou lários, desemprego e exces- O PROCESSO minha vida!" me sentencio: sou anarquis-
intelectual, em beneficio da sivo horário de trabalho. Parsons — "Deixai ta.
coletividade, que não ex- Fundaram-se pujantes as- Nos dias seguintes ou vir a voz do povo?" Creio com Buckle,
ploram o trabalho alheio e sociações como a "Liga Chicago ofereceu um exem- Em 1889, em Congresso Paine, Jefferson, Emerson,
que devem alugar seus es- Pelas Oito Horas", "Liga plo flagrante de irracio- Internacional, foi escolhido Spencer e muitos outros
forços aos detentores dos dos Cavaleiros do Traba- nalidade e histeria coletiva. o dia 1.° de Maio para uma grandes pensadores do
bens sociais. lho" e a secção americana Centenas de pessoas, lares manifestação universal e o século, que o Estado de cas-
O 1? de Maio é dia de da "Associação Interna- invadidos e depredados, es- proletariado aceitou-a com tas e classes — situação em
luto, luta e de protesto cons- cional dos Trabalhadores". _ tado de sítio, toque de entusiasmo, dando-lhe um que uns vivem às espensas
ciente. recolher, jornais fechados. caráter reivindicativo, do trabalho dos outros —
Não é dia de festa. Os A treze de janeiro de Uma verdadeira "caça às saudando a memória dos que chamamos ordem,
trabalhadores vivem es- 1872, após greve de 100.000 bruxas" pois a explosão da que morreram pela liber- creio, sim que esta bárbara
cravizados é escravos não operários, os desempre- bomba era indicação in- tação dos trabalhadores. forma de organização social
costumam festejar sua gados de New York fizeram falível de um complô de am- com seus roubos e assas-
PALAVRAS DOS CON-
opressão. importante manifestação. A plas proporções, segundo a sinatos legais está próxima a
DENADOS
Entretanto, políticos as- polícia interveio espancando polícia. Imediatamente fo- desaparecer e deixar desobs-
APÔS A LEITURA DA
tutos, classes empresariais, os trabalhadores. ram presos; Fielden, Spies, truída a passagem a uma
SENTENÇA
governantes inescrupulosos Em um Congresso Schwab, Engel, Fischer, sociedade livre, à associação
realizado em Chicago Ling, Neeb; Parsons ao 1. Augusto Spies — voluntária se preferires.
e grupos opressores, pro-
deliberou-se declarar greve saber da prisão dos com- (1855/1877), editor do jor- (...) Já expus minhas
curam deturpar o verda-
geral no dia J* de maio de panheiros, apresentou-se nal "Arbeiter-Zeitung",
deiro significado dessa data. idéias. Elas constituem par-
1886, para surpresa geral, voluntariamente às auto- condenado à forca è exe- te de mim mesmo. Não
Nos países pseudo-
tudo corre em calma, sem ridades. Todos eles militares cutado: quero prescindir delas e ain-
socialistas o 1? de Maio é
incidentes. Dois dias após, de organizações libertárias "Ao dirigir-me a este da que o quisesse não o
motivo para desfile de mor-
trabalhadores da empresa de trabalhadores. Tribunal, o faço como poderia. E se pensasses que
tíferas armas atômicas e de
madeireira MacCormick se representante de uma classe tereis aniquilado estas idéias
tropas cientificamente O processo foi carac-
reúnem para eleger uma frente aos de outra classe que ganham mais terreno
treinadas para a morte, en- terizado por um pré-
comissão de greve. Em inimiga e começarei com as cada dia, mandando-me à
quanto a camarilha dona do julgamento: Tratava-se an-
quanto fala Augusto Spies, mesmas palavras que um forca; se mais uma vez
poder a tudo assiste em tes de mais nada de punir
um grupo de operários sai personagem veneziana aplicais a pena de morte
palanque cuidadosamente exemplarmente um pu-
da reunião e ataca alguns pronunciou já cinco séculos pelo atrevimento de dizer a
separado do povo. nhado de inocentes para que
outros que estavam furando ante o Conselho dos Dez, verdade e vos desafiar —
Nos países capitalistas, o exemplo intimidasse o
a greve. A polícia privada da em ocasião semelhante:
quer onde impere o regime movimento operário. O ob- eu vos digo — se a morte é a
empresa ataca os traba- "minha defesa é a vossa pena que usai para a
de democracia liberal ou nos jetivo do Juiz Joseph E.
lhadores matando seis e acusação; meus pretensos proclamação da verdade,
de ostensiva ditadura, as Gary era condenar e não
ferindo cinqüenta. Spies, crimes são a vossa história!" então estou disposto a pagar
classes dominantes pro- fazer justiça e a ele estava
testemunha ocular da (...) Acusam-me de não
movem jogos de foot-ball, unida toda a imprensa tão custoso preço: chamai o
ocorrência, publica no dia ser cidadão deste país.
shows com artistas famosos, capitalista, as classes em- carrasco!
seguinte violento artigo no Resido aqui há tanto tempo
festanças e bebedeiras com presariais e a sociedade con-
«Arbeiter-Zeitung» con- Como Grinnell (procurador- A verdade crucificada
o objetivo de anestesiar a servadora de Chicago.
clamando os trabalhadores geral), sou tão bom cidadão em Sócrates, Cristo, Gior-
consciência dos produtores.
à luta. A Sentença foi proferida como ele pelo menos, ainda dano Bruno, João Huss e
Porém, ao contrário de
No dia quatro de maio é no dia 28 de agosto e a não quimera ser comparado Galileu ainda vive, estes e
uma festa, essa é data sím-
convocada pelo grupo liber- execução foi determinada com tal personagem. muitos outros nos prece-
bolo das aspirações da clas-
tário uma manifestação na para o dia 11 de novembro Grinnell apelou, sem deram no passado. Estamos
se trabalhadora, come-
praça Haymarket. O co- de 1887. Pisando a lei, a necessidade, ao patriotismo dispostos a segui-los. "
moração afirmativa da von-
mício foi permitido pelas razão, a dignidade, a ver- dos jurados e vou respon- 2. Michael Schwab —
tade de decisão do prole-
autoridades e assistido pelo dade, a justiça, as classes der-lhe com as palavras de nasceu na Baviera em 1853,
tariado reivindicar seus
prefeito de Chicago, Cart H. opressoras gritaram: "ao um diplomata inglês: "O profissão de encadernador e
direitos espezinhados.
Harrison. A reunião iniciou- patíbulo!" Porém, o tétrico patriotismo é o último repórter do "Arbeiter-
Ao operário consciente
se às 19:30 e decorreu sem patíbulo não perturbou a refúgio dos infames. " Zeitung", condenado à for-
cabe a tarefa de recuperar o
incidentes até às 22 horas. consciência dos condenados (...) Foi insinuado, que ca foi posteriormente sen-
significado dessa data
Quando todos se retiravam que assim se expressaram era o Anarquismo que es- tenciado à prisão perpétua.
universal e histórica.
pacificamente o inspetor da nos últimos momentos: tava em julgamento... Adquiriu a liberdade em
ORIGEM DO IP DE MAIO Polícia, John Bonfield, com Spies — "Tempo virá Nenhuma sílaba sobre 1890:
A rápida industriali- 180 policiais uniformizados, em que nosso silêncio será Anarquismo foi pronun- "Denominar justiça os
zação dá América do Norte intervém brutamente espan- mais poderoso que as nos- ciada no comício de Hay- procedimentos seguidos

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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 7

necessários para se chegar

DE PROTESTO
neste processo seria uma
burla. Não se faz justiça
"Tenho que protestar
contra a pena que me im-
tão vossos defensores do
direito de propriedade.
miséria. Pois bem, acusam-
me de excitar as paixões,
ao conhecimento da ver-
dade. Não podeis negar que
vossa sentença é o resultado
do ódio da imprensa ca-
pitalista, dos monopoli-
zadores do capital, dos ex-
ploradores do trabalho (...).
nem se poderia fazer, por- põem, porque não sou as- (...) Permita que vos as- acusam-me de incendiário, Es te. processo in iciou -se
que, quando uma classe está sassino e só se me provou segure que morro feliz por- porque tenho afirmado que e seguiu contra nós, ins-
em frente à outra, é uma que sou anarquista. que estou seguro de que a sociedade atual degrada o pirado pelos capitalistas,
hipocrisia tão só supô-lo. (...) Se credes que com centenas e milhares de homem até reduzi-lo à pelos que crêem que os
(...) Não há nenhum este bárbaro veredito operários, a quem tenho categoria de animal. trabalhadores não têm mais
segredo em nossa propagan- aniquilais os anarquistas, falado, recordarão minhas Arídai, ide às casas dos que um direito e um dever: o
da. Anunciamos por pa- laborais em erro, por que palavras. pobres, e os haveis de ver de obediência.
lavras e por escrito uma eles estão dispostos a morrer (...) Desprezo-vos, des- amontoados no menor es-
próxima revolução, uma sempre pelos seus princípios prezo vossa ordem, vossas Eles guiaram este
paço possível, respirando processo até o momento,
mudança no sistema de e estes são imortais. Este leis, vossa força, vossa uma atmosfera de enfer-
produção de todos os países veredito é um golpe de mor- autoridade. Enforcai-me!" como disse muito bem Fiel-
midade e de morte. den, de nos acusarem osten-
industriais do mundo, e essa te dado à liberdade de im- 6. George Engel — Credes que estes homens
mudança aproxima-se, não prensa, do pensamento e da membro da IInternacional, sivamente de assassinos e
têm verdadeira consciência nos condenarem como anar-
poderá deixar de chegar. palavra neste país. O povo condenado à forca e exe- do que fazem? De nenhum
(...) O anarquismo tomará nota. cutado: quistas (...).
modo. São produto de cer-
morreu, disse o procurador- 5. Louis Ling — nasceu "Em que consiste meu tas condições, de deter- (...) Pois bem sou anar-
geral. O Anarquismo até em Mannhein, Baden, crime? minados meios em que nas- quista! Que ê o socialismo e
hoje só existe como doutrina profissão de carpinteiro. Em que tenho traba- ceram, o que lhes obriga a o anarquismo? Brevemente
e o Sr. Grinnel não tem Tinha na época do processo lhado para o estabelecimen- ser o que são e nada mais do definido, o direito dos
poder para matar qualquer apenas vinte e dois anos, to de um sistema social em que são. produtores ao uso livre e
doutrina". condenado à forca suici- que seja impossível o fato de (...) Creio que chegará o igual dos instrumentos de
3. Oscar Neeb — nasceu dou-se ou "foi suicidado na que enquanto uns amon- tempo em que sobre as tranbalho. A história da
em New York em 1841, con- prisão", este aspecto nunca toam milhões, benefician- ruínas da corrupção se humanidade é progressiva, ê
denado à forca, foi pos- ficou esclarecido plenamen- do-se das máquinas, outros levantará a esplendorosa ao mesmo tempo evolu-
teriormente sentenciado a te: caiam na degradação e na manhã do mundo eman- cionista e revolucionária..
15 anos de prisão. Em "Corte de Justiça! miséria... cipado, livre de todas as A linha divisória entre a
1890, o governador do Com a mesma ironia Vossas leis estão em maldades, de todos os evolução e a revolução
lilinois, John P. Atlgold, as- com a qual olharam meus oposição com as da natu- monstruosos anacronismos jamais pode ser determi-
sinou sua libertação por esforços para obter nesta reza, e por intermédio delas, de nossa época e de todas nada. Evolução e revolução
considerá-lo inocente: "terra livre da América " um roubais as massas o direito vossas condenadas insti- são sinônimos. A evolução é
"Estes são os crimes que modo de viver, tal como um à vida e ao bem-estar. tuições. " o período de . incubação
cometi. Em minha casa ser humano é digno de Não combato indivi- 8. Albert R. Parsons revolucionária. O nasci-
foram encontrados um gozar; agora, após con- dualmente os capitalistas, lmpressor tipográfico, mento é uma revolução, seu
revólver e uma bandeira denar-me à morte, con- combato o sistema que lhes editor do jornal "Alarm"; processo de desenvolvimen-
vermelha. Organizei sin- cedei-me a liberdade de dá o privilégio. Meus mais seu discurso foi de oito to, a evolução.
dicatos operários. Sou pela pronunciar um último dis- ardentes desejos é que os horas. Seus ancestrais
redução das horas de (...) Já provei como fui
curso. trabalhadores saibam quem chegaram à América na
trabalho, pela educação dos ao comício de Haymarket,
Aceito a concessão, são seus inimigos e quem segunda viagem do May-
trabalhadores e pela.saída sem plano prévio de ne-
porém com o único pro- são seus amigos. flower, e em sua família
do "Arbeiter-Zeitung", o nhuma classe, solicitado à
pósito de expor as injus- Tudo o mais eu des- havia generais, majores,
jornal dos operários. Não há última hora pelos meus
tiças, as calúnias e os ul- prezo; desprezo o poder de juristas etc, porém, ele hão
evidência que eu estivesse amigos. Já sabeis que me
trajes que atiraram sobre um governo iníquo, seus se prevaleceu disso para a acompanharam minha es-
em conecção com arremes- mim. policiais e seus espiões. Não sua defesa. Foi condenado à
sadores de bomba ou que posa, a senhorita Holmes,
Acusam-me de des- tenho mais nada a dizer. " forca e executado.
estivesse perto deles. outras duas mais e meus
prezar a lei e a ordem. E que 7. Samuel Fielde n — "Vosso veredito é o da
Portanto, eu vos suplico, dois filhos. E agora pergun-
significa a lei e a ordem? nasceu em Lancashire em paixão, gerado pela paixão,
enforcai-me também. Pois é to, é possível que em tais
Seus representantes são os 1846, èocheiro, condenado à alimentado pela paixão eéa
mais honroso morrer ra- circunstâncias e condições,
policiais e entre estes exis- prisão perpétua, foi em 1890 soma total da paixão or- acudisse a um lugar onde
pidamente do que ser assas- tem muitos ladrões. Aqui se posto em liberdade após ganizada da cidade de tivese premeditado um com-
sinado numa prisão. " senta o capitão Schaack. revisão do processo: Chicago. plô para lançar bombas? is-
4. Adolf Fischer— nas- Ele me confessou que meu "Não há nenhum cri- E que é a paixão? É a so é incrível; está fora da
ceu em Bremen no ano de chapéu e meus livros ti- minalista que negue que supressão da razão, dos natureza humana crer na
1842, tipógrafo, condenado nham desaparecido, sub- todo crime na sua origem é elementos de discernimento, possibilidade de um ato tão
à forca, foi executado-' traídos por policiais. Aí es- produto necessário da de reflexão e de justiça mostruoso."

Oba! oba! O partido dos trabalhadores


Soprada daqui e dali, vai-se difundindo a idéia de que os viver em gabinetes atapetados, com ar refrigerado, dando Criar o Partido dos Trabalhadores é, implicitamente,
operários para defenderem seus reais interesses, teriam que entrevistas a jornais, TV e rádio. Entra em relações com in- aceitar a regra do jogo estabelecido pelas classes dominan-
criar um autêntico Partido dos Trabalhadores, que fosse do dustriais, políticos, gente endinheirada e bem cheirosa, tes. Ê caminhar pela ação indireta. Ê abandonar a luta de
trabalhador, pelo trabalhador e para o trabalhador. militares. Inicia vida parasitária com ordenados ganhos sem confronto direto entre produtores e o sistema. É entregar a
Os objetivos começaram a se delinear, quando nos dias esforços, carro a disposição, sem contar inúmeras mor- um grupo, a solução dos problemas que só os próprios
22 a 26 de janeiro do corrente ano, a cúpula - notem bem - domias. Toma conhecimento dos labirintos escusos do operários em conjunto poderão solucionar. É, em uma
dos dirigentes sindicais metalúrgicos estiveram reunidos em Ministério do Trabalho e de seus secretíssimos encantos. palavra, cair em total alienação. É tentar reforçar o sistema
congresso na cidade paulista de Lins. E natural que se apavorem ante a perspectiva, de uma parlamentarista desacreditado e desmoralizado em todo o
Nesse estranhíssimo conúbio do qual fazia parte "pe- vez terminado seu mandato sindical, ter que voltar ao mundo. É fossilizar o movimento de reivindicação dos
legos" tipo Joaquim dos Santos Andrade, famoso "dedo- trabalho massacrante de suas fábricas, seguir horários rí- operários, como fossilizado estão em todo o mundo os par-
duro" dos sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo; Henos gidos, obedecendo em vez de mandar, ter salário restrito, ser tidos ditos revolucionários, que intentaram uma transfor-
Amorina do sindicato de Osasco; Argeu Egídio dos Santos um simples elo na cadeia da produção, etc. mação social pela via parlamentar.
da Federação de Metalúrgicos de São Paulo; Cid Ferreira,
As tentativas de desviar os trabalhadores de suas lutas
do Sindicato Metalúrgico de Campinas, além dos sindicalis-
tas autênticos, firmou-se no final, a necessidade da criação concretas, diretas, dentro das fábricas, nos sindicatos, pela
abolição do imposto sindical, por salários dignos, contra a Para a cúpula de "sábios dirigentes metalúrgicos", é a
do Partido dos Trabalhadores. continuidade da vidinha fácil e bem regrada, o "dolce far
rotatividade da mão-de-obra, pela autonomia e liberdade
A maneira centralista, totalitária e cupulista da decisão, niente" bem remunerado. Ê ò carnaval eterno. Oba,
sindical, pelo direito de greve, pela desvinculação dos sin-
a nenhum trabalhador escapou. O grupo de "sábios dirigen- Oba, ziriguidun, sarava... que pode também terminar numa
tes", determinou e os operários ouviram sem tugir nem dicatos da tutela do Ministério do Trabalho, pelo direito de
nomeação de delegados sindicais nas empresas, pela au- triste quarta-feira de cinzas
mugir.
togestão de lutas, pela elevação do nível de consciência e cul-
A Consolidação das leis Trabalhistas,trágica herança do
tural dos operários, têm sido a obra de um grupo espúrio
fascismo de Vargas, criou a figura nefasta do burocrata sin- Aos autênticos operários caberá uma rotunda desa-
que já se sentindo desligado da classe operária pelo seu
dical e a repelente do "pelego". provação à ação desse bloco de almas penadas.
status atual quer, não obstante, continuar auferindo todas
O operário eleito para a direção de um sindicato, perde
as vantagens possíveis através da criação de um partido
inteiramente o contato com sua atividade profissional. Passa a político. Zefedno Marteletelro

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PAGINA 8 O INIMIGO DO REI ABRIL& MAIO DE 1979

Um problema capital
N'0 INIMIGO DO REI n? 4 falamos sobre a situação do
homem do campo, no que diz à exploração do seu trabalho.
Agora vamos mostrar com detalhes a diferença da propriedade
voltada para o homem comum para aquela que tem como único
objetivo o capital, mesmo agregando inúmeros indivíduos pas-
sivos, que apenas trabalham para a sobrevivência.
Sabemos que essa invenção do capital pelo homem, é um
erro grosseiro. Quem criou este imenso recurso foi a própria
natureza, da qual nós fazemos parte como pequena parcela;
seja como consumidores ou para preservá-la e assegurar a sua
permanência em função da própria existência do ser humano.
Hoje, em todas as partes do mundo, o ser humano debate-se
com o problema vda produção, seja de alimentos, como de
materiais duráveis. Mas, em tudo isso existe um exagero e uma
ganância partindo de indivíduos desequilibrados que, pelo
lucro, a inveja, a arrogância e a hipocrisia, se esquecem que são
uma efêmera criatura e não pode fugir às leis da natureza que o
tem até a hora em que desejar.

RAIZ DOS MALES

Pois bem. O que ocorre nas cidades, ocorre também com


nosso trabalhador rural, que vem sendo orientado por estas
veredas escabrosas da produção de mercado, voltada inteira-
mente para atender aos caprichos da tecnocracia, atrelando-se
ao carro apocalíptico de crescimento mundial. Tudo isso sem
levar em conta o ser humano como um todo. Eis aí as raízes de
todos os males que ora ocorrem por este imenso País, no que se
insere o problema da produção e sua distribuição, da qual ex-
clui milhões de seres humanos, fazendo com que os mesmos
emigrem para as cidades. Criando-se, assim, esses montros ur-
banos.
Como já demonstrei, a cidade é um saco sem fundo, com
relação à criação de riquezas, pois leva um desequilíbrio ao con-
junto da sociedade. Não há milagre que possa melhorar os
pobres dos países em desenvolvimento, a menos que se processe
um desenvolvimento regional integrado, fora das grandes ci-
dades.
Se não houver uma conscientização neste sentido, a única
escolha que o homem do campo pode fazer é permanecer na
atual situação de exploração e miséria — ou emigrar para as
grandes cidades, onde as suas condições ainda serão mais
degradantes. Quero esclarecer que isso só será possível, se o ser
humano dispuser de liberdade total para dispor de si mesmo.

LUCRO: ÚNICA META da economia ocidental e de países orientais, o seu povo vive com àqueles que contribuíram para sua aprendizagem. Pelo cpn-
um padrão de vida sem pressão e tensões, além do que se passa trário, só visam privilégios e a vaidade pessoal. Por que não om-
Esperar desta economia convencional é cair no abismo, pois no maior centralizador de tecnologia do mundo: os Estados brear-se a todos na busca de uma solução estável, abolindo o
sabemos que ela só tem uma meta — o lucro. Os economistas e Unidos da América, sem o concurso da vontade popular. egoísmo e a inveja, guiando-se pela racionalidade?
seus seguidores dão uma visão materialista ao desenvolvimento Então a economia voltaria para o ser e nào mais para o ter
. Por outro lado, os chamados estados operários — como a
industrial, dando preferência primordial às máquinas, eli-
Rússia, China, Alemanha Oriental e tantos outros opressores da
minando o fator humano, porque a máquina, no entender des- Lembramos ao leitor que a Suécia é um país onde se con-
liberdade individual — enveredaram-se por esse mesmo proces-
ses senhores, não comete enganos e nem dá prejuízos como as seguiu um padrão de vida bastante alto graças aos impulsos
so. Embora ali tenham havido reais movimentos populares, des-
pessoas humanas. Não escapando deste engano, até mesmo a econômicos unicamente voltados para os bens materiais. Este
truídos pelos novos tiranos que usurparam a vontade popular,
natureza, embora este desenvolvimento seja em função desses crescimento levou o povo a sérios desequilíbrios mentais: queda
impondo a ordem de cima para baixo. Ordem e progresso sig-
seres humanos. acentuada da criação artística, depressões, prestação, tensão e
Em razão desta situação é que ocorrem as sérias crises de nifica morte à liberdade.
alterações psíquicas, alcoolismo e tóxicomania. Um alto índice
mercado com graves pertubações sociais. Ora por falta de de suicídios.
produção, ora por abundância, principalmente no que concerne MONOCULTURA
aos produtos alimentares onde os açambarcadores de lucros —
para mantê-los — fazem o jogo sujo. Esses senhores — para Não existe crime maior do que a incrementação da monocul- Portanto, voltando à História, verificamos que várias ci-
manter uma grande produção — não excluem a destruição do tura, unicamente para atender apetites de ganância e lucro. vilizações desaparecidas encaminharam-se também por este ab-
ser humano e da natureza. Como é o caso das nossas lavouras de café, fumo, cana, cacau, surdo, apressando o seu fim.
Portanto, a economia do gigantismo e da automação é soja e algodão. Deixa-se que o pequeno produtor pereça diante Precisamos fazer uma revolução interna, em cada um de
remanescente das condições e do pensamento do século XIX e é da abusiva concorrência e descaso, trazendo sérios problemas às nós, voltada para uma educação permanente com um plane-
totalmeníe incapaz de resolver os graves problemas reais de lavouras diversificadas e de subsistência. Essas monoculturas de jamento que conte com a participação de todos. Acabar com es-
hoje. Precisamos do pensamento novo, assentado na atenção mercado destroem a natureza, deixa o homem à mercê de um ta visão cega de tecnicismo. O que se entende por educação? É
pelas pessoas e não primordialmente pelos bens materiais. Com tratamento desumano, além de desequilibrar a sua vida bio- um conhecimento profundo de toda a vida social, abrangendo
o potencial tecnológico e científico de que dispomos, basta uma lógica.
Filosofia, Artes, Cultura, Ciência, (coisas, aliás, que neste país
reconstrução consciente dos seres humanos para livrá-los da
Para mante: ssse processo empregam-se produtos químicos, não vemos).
miséria e da degradação. Precisamos contar com indivíduos,
famílias, pequenos grupos, associações, sindicatos e federações inseticidas venenosíssimos, afetando seriamente o nosso planeta
Esperamos que esta educação consciente não seja objeto de
em vez de Estados e outras abstrações sórdidas que aniquilam e o mais prejudicado será fatalmente o ser humano. Este irá
escárnio e desdém. É preciso que os nossos homens de ciências
com a pessoa humana. Não escapam nem àqueles que mani- pagar um tributo bem alto, com o ar poluído, as águas enve-
declinem de suas arrogâncias e vejam que somos passíveis de
pulam porque as pessoas só podem dispor de si mesmas livran- nenadas e os alimentos alvejados e polidos por produtos cor- falhas e erros. Quero referir-me à técnica imposta de cima para
do-se da canga do Estado e de instituições autoritárias. rossivos.
baixo, sem discussão, como é o caso do uso da energia nuclear.
Qual a finalidade da democracia? Será uma questão de mer- Quando sabemos que há elementos radioativos capazes de per-
cadoria ou de pessoas? Deixo a resposta ao leitor. Poder-se-ia ter uma lavoura que assegurasse a todos plena es-
manecer dando descargas por milhares de anos. Quem poderá
"As pessoas só podem ser elas próprias em pequenos grupos, tabilidade, procurando melhorar as terras com uma lavoura as-
sentada em processos biodinâmicos e naturais. Assim sendo, detê-los em caso de acidentes com as usinas nucleares? (Ter-
abrangentes. Portanto temos que aprender a pensar em termos remotos, falhas humanas, agressões sociais etc.) Onde jogar o
de uma estrutura capaz de fazer face às múltiplas unidades em ter-se-ia o equilíbrio ecológico ideal. Mas ocorre o inverso disso.
lixo atômico?
pequena escala. Se o pensamento econômico não puder apren- Cada vez mais procura-se levar ao campo uma tecnologia de-
der isto, então é inútil. Se ele não puder ultrapassar suas vastas sumana, copiada de sistemas sofisticados, que requer um know- Esta educação tem que ser feita anarquicamente por todos,
abstrações, renda nacional, a taxa de crescimento, a relação how ainda fora das nossas possibilidades. sem comando e sem escolha. A terra deve pertencer a quem nela
capital/produto, a análise/custo, renda, mobilidade de mão-de- trabalha, não importa que seja coletiva ou individual, conquan-
Os nossos tecnocratas procuram levar a qualquer custo uma to seja usada para o bem-estar de todos, isenta de dogmas
obra, acumulação de capital; se ele não puder ir além disso e produção não para o ser humano, mais sim para o crescimento
entrar em contato com as realidades humanas de pobreza, frus- econômicas e ideológicos. Urge fazer isso antes que seja tarde
de riquezas. Os nossos meios de comunicação são canalizados e demais, pois os perigos desta vasta engrenagem poe-nos sufoco,
trações, alienação, desespero, colapso nervoso, crime, escapis-
manipulados para propagar essa ideologia de mercado e as tornando-nos cada dia mais desumanizados.
mo, estafa, congestionamento, fealdade e morte espiritual, en- grandes massas do povo inconscientes acabam se influenciando
tão joguemos a economia no ferro-velho" (Economista E. F. com essas idéias.- Os estados e as burocracias crescentes: jogam todo o seu
Schumachef)
peso eficiente, esmagando o indivíduo e a sua liberdade. Pre-
SER E TER cisamos de uma comunicação e esta comunicação tem que ser
PRESSÃO E TENSÕES
de homem para homem, de pequenos grupos e associações.
Até os nossos pseudo-intelectuais, que confundem títulos
Voltemos ao que se passa com os nosso idealizadores da universitários com educação, fazem coro e batem palmas ao O ser humano não tolera receber ordens de terceiros, quanto
economia de mercado, onde não se leva em consideração os carrossel macabro. Por que olhar com vistas grossas o trabalho mais de um seu semelhante, que posa de superior. Ninguém
produtos renováveis e não renováveis, não escapando nem mes- edificante do homem comum? Leon Tolstoi lamentava-se de tolera as organizações grandes, misteriosas, mesmo que elas se •
mo as nossas florestas. Não quero aqui negar que possamos ter morrer e nunca pagar a dívida que contraiu por ter cursado uma proponham a fazer algo de humano. Ninguém gosta de ser
um padrão de vida razoável, mas que este não venha de encon- Universidade custeada pelo trabalho dos homens comuns. dirigido e nem guiado. Podemos criar pequenos núcleos com
tro ao homem, matando a sua liberdade e sua espiritualidade pessoas conscientes e ajudar individualmente àqueles que se
criativa. Mas os nossos profissionais liberais acham que os seus cur- propõem a criar uma alternativa fora desta anômala sociedade.
Vemos que países que se encaminharam por uma razoável sos deveram-se exclusivamente ao seu esforço. Se seus discer-
economia — como a Birmânia — aproveitando os ensinamentos nimentos melhorassem, e refletissem, procurariam auxiliar Antônio Fernandes Mendes

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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 9

O pacote da UNE
Está vindo aí o "pacote" retório Central dos Estu- nacional. E quem poderia Em resumo: o processo ê mais uma vez posta de
da UNE. A reorganização dantes falou muito sobre is- ser contra isso (à exceção de reorganização da UNE lado e somente lembrada
da União Nacional dos Es- so, é claro. Mas eles, do poder estabelecido)? está sendo exatamente ao quando esses doutores do
tudantes não pôde (nem apenas eles e ninguém Ninguém, é claro. Éeviden- contrário do que deveria movimento necessitam dela
poderia mesmo) escapar à mais. te que os estudantes ser. Está partindo da cúpula para exibirem sua "força".
tradicional e autoritária for- Assim sendo, nota-se querem unir-se para for- para as bases. 0 congresso, A massa serve para tomar
ma de movimento estudan- claramente os caminhos talecer suas lutas. Entretan- então, não passa de uma cassetetadas. Os líderes or-
til que tem sido impingida, que estão sendo trilhados to, o como foi esquecido. encenação digna dos denam e a ralé apanha.
anos a fio, pelas chamadas para a reorganização da en- Isto é, propositadamente Planaltos da vida quando
tidade. A forma é a mesma Assim, sendo, não é
"lideranças". Enquanto os esquecido em termos da "elegem" presidentes. Os
de sempre: ' centralista e preciso pensar muito para
'chefes dos diretórios es- massa estudantil. Quem estudantes não vão eleger
autoritária. Por que o as- deduzir-se que a UNE que
tudantis encontravam-se garante que — caso a reor- presidentes. Mas vão re-
sunto não foi amplamente vem aí não representa os
até com o ministro da ganização da UNE fosse ferendar um "pacote" de
anseios da maioria estudan-
Educação e pediam ao discutido nas bases? Por debatida exaustivamente cuja confecção eles não
que aqui/o que vai ser til (a mesnos que, no
Governador da Bahia um com a real maioria dos es- i participaram. De nada
processo de apreensão de
local para o Congresso — "unido" não sabia, até às tu dantes — optar-se-ia por adiantará que algumas vír-
métodos que esses líderes
vésperas do Congresso, esta forma autoritária? gulas sejam mudadas de
os poderes se entendem — sofreram de 64 para cá, es-
exatamente como a coisa ■Quem garante que o lugar; que alguns pontos
e, às escuras, a nível de teja incluída uma misteriosa
seria feita? Por certo que "pacote" arquitetado Deus sejam retirados aqui^ e ali;
cúpula, transa vam o capacidade de adivinhar os
essas perguntas encon- sabe como e onde interessa enfim, a problema básico é
"pacote", os estudantes, a desejos da massa, da
trariam amplas "justifi- realmente à maioria? que o núcleo, a forma da
massa estudantil pro- maioria). Ela vem de cima
cativas" se dirigidas aos Ora, ao que tudo indica, coisa já vem pronta. E aí,
priamente dita, chupava o para baixo, imposta, ditada.
"papas" que estão "cui- esses garotos que se ar- não se mexe. Quem quiser
dedo no dia a dia infernal da voram a lideras da massa mudar, quem gritar contra,
dando " da reorganização No fundo, tudo isso
Universidade, inteiramente corre o risco como já ê
da UNE. Entretanto, tam- estudantil ficaram impreg- reflete os caminhos pelos
por fora de tudo. hábito, por sipal — de ser
bém é certo que essas nados do autoritarismo quais anda o movimento
Pelo menos aqui na questões deixam a grande reinante no Brasil nos úl- taxado de reacionário, estudantil brasileiro. Uma
Bahia, praticamente às vés- maioria dos estudantes timos 15 anos. E apren- direitista ou, com muito boa réplica da ditadura imposta
peras do congresso para a confusa. deram direitínho, pois até vontade, de "ingênuo". pelo golpe de 1964. Como
reorganização da UNE, o "pacotes", no mais autên- diz o povo, filho de peixe...
assunto sequer foi ventilado Todos querem a união tico estilo Simonsen, já Bem, este é o quadro. A
nas universidades. O Di- dos estudantes a nível sabem editar. massa estudantil, alienada, ALEXANDRE FERRAZ

Dar corpo aos porretes


Pancadaria, engarra- questão de apanhar e nes- O rito implica, neces- questão óbvia, justamente de interesses, decididos em
famento, queima de um tas passeatas ficam sempre sariamente, numa demons- aí coloca-se a contradição: assembléias livres. Onde
caixão simbólico, em plena esperando pela repressão, tração de poder, para a sua até onde uma passeata, en- este processo de debate es-
Av. Osvaldo Aranha; jul- como se o oojetivo desta óbvia manutenção. Melhor quanto forma, ê' coerente teja vinculado aos objetivos
gamento público do Ge- fosse dar o corpo aos ainda quando e/e pode ser com seus conteúdos da assembléia: a passeata
neral Figueiredo e uma pas- porretes e aos cães de ostentado. E exerce função políticos e objetivos (p. ex. : não tem fim em si própria...
seata por toda a área do guarda do regime. primordial de respaldo a num ato público realizado As contradições dentro
Campus Universitário da E por tudo isto, ou apesar quem dirige este mesmo pela "Liberdade de Expres- de um regime de direita são
UFRGS. de tudo isto, que ê impor- ritual já que pela sua própria são", na UFfíS, um os alvos do ataque de
Tudo isto ocorreu no dia tante que se faça uma forma torna-se um ato não- ■colega foi mandado ca/ara movimentos de esquerda,
15 de março, em Porto crítica, que se analise numa racional, onde, portanto, boca, quando tentava ex- entretanto estes mesmos
Alegre, quando da posse do manifestação destas, a sua não há espaço para um pressar sua opinião...). movimentos enganam-se
novo monarca eqüino: forma, o seu conteúdo e, processo crítico de parti- Mas, no caso explícito quando' menosprezam a in-
aproximadamente 1.500 es- principalmente, o seu ob- cipação, muito menos para das passeatas estudantis, fluência que este mesmo
tudan tes participaram da jetivo... o deba te. às vemos serem organi- sistema com (com todas as
passeata, sendo apoiados Não fazer número ou A conclusão lógica ê a zadas de forma autoritária e suas contradições) tem
por alguns populares (al- alinhar-se nas colunas dos de que qualquer forma de com o mínimo de parti- sobre suas formas de or-
guns saíam de seus carros militantes das lutas par- manutenção de poder é es- cipação da grande massa ganização: o processo
em demonstrações de tidárias/parlamentares ■ sencialmente autoritária e estudantil. decisório, o autoritarismo, a
solidariedade) (reforçar as lutas parlamen- repressiva. Basicamente a questão hierarquia de poder, a
Polícias Militares, em tares, procurando a força A partir de uma assem- resume-se no desinteresse manipulação política etc...
demonstrações claras de dos votos, é legalizar o sis- bléia livre e aberta, a dis- na efetiva e intensa divul- A questão das pas-
como vai ser o "novo tema e a disputa pelo cussão crítica e o debate gação da necessidade da seatas e qualquer manifes-
governo", investiram con- poder, e este tem que ser espontâneo, e não repri- participação e valor do tação contestatória não se
tra os estudantes, armados destruído...) mido, levaria a formas processo de debate a nível dá- sobre seu caráter de
de cassetetes e distribuíram "A passeata não ê criativas de ação não pa- de assembléias livres e movimentação, mas sim
o pau de sempre, encur- novidade, eu sabia que ia
dronizadas. abertas. E por que isso? como crítica à sua forma
ralando os manifestantes sair. Já estava tudo com-
E dentro de um proces- Porque justamente a partir orgânica (como, na maioria
no Campus Universitário, binado..." (De uma ma-
so revolucionário, qual de uma organização po- dos casos, nos é dada pelo
quando a manifestação ss nifestante, quando foi lan-
seria o papel das passeatas? lítico-partidária o autori- M E ...) A validade de uma
dissolveu. Após o encer- çada a proposta de pas-
Ou manifestações públicas? tarismo ê. claro e não há es- passeata, como contes-
ramento da festividade, al- seata, pela mesa organi-
A passeata tem uma paço para uma crítica mais tação expressiva, vai darise
guns manifestantes reu- zadora, no ato público, em profunda.
função contestadora, no momento em que haja
niram-se para tirar o saldo Porto Alegre, dia 15 de
reivindicatória, e também E por que não há uma uma real participação dos
organizativo (...) da pas- março).
como expressão de propos- maior participação do gran- seus manifestantes, sendo
'seata. A primeira coisa que
tas políticas. Portanto, uma tirada de um consenso des-
Independente dos fatos chamou a atenção, a quem de número de estudantes?
passea ta, enquanto tes e não como proposta
noticiados, mostrando a tal participava apenas como Dirão todos que a resposta
movimentação e expressão imposta por um grupo re-
farsa da "abertura de- massa de manobra, ou ê muito complexa, que é
de propostas, pode ser tórico e autoritário.
mocrática", convém salien- platéia, foi a observância resultado da situação
utilizada tanto pela direita política do país, do proces- Que surjam propostas
tar algumas questões, que, criteriosa do "ritual": foi
como pela esquerda. A dis- so de alienação, da desin- alternativas de atuação,
no calor de uma manifes- lida uma carta-aberta a
tinção estaria nos seus con- inovadoras e não depen-
tação, às vezes são es- uma "população" inexis- formação, b/á, b/á, b/â,
teúdos e nos seus objeti- dentes as velhas fórmulas
quecidos: p.ex., a submis- tente (onde procurava-se b/á... '
vos, t dos mesmos a/quimistas...
são das pessoas ao sado- chamá-la à participação), a Uma passeata deve ser
masoquismo dos dirigen- velhas palavras de ordem, Embora tudo que foi resultado de um processo e
Júlio/Zezinho/Adir
tes, que parecem fazer berradas em coro, etc... dito acima pareça -uma do consenso e. comunhão

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PAGINA 10 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979

Gil: vestir o País todo de verde e


amarelo para sambar no mundo? Qualé...
Gil começa falando (ele fala da Zona Norte, que toca cava- você encontra os instrumentos de
fácil, sem parar): quinho, que é uma mulher que ao percussão no sentido tradicional,
— Nesta minha última viagem mesmo tempo é um símbolo de aquelas formas melódicas que se
aos Estados Unidos, {feverei- feminismo no Brasil (uma senhora) desenvolveram através de um sam-
ro/março), Marcuse deu uma en- forte, quarentona, quase cinquen- ba urbano, que vem sendo feito
trevista onde ele rejeitava violen- tona) mandando brasa, defenden- durante as últimas décadas e o
tamente qualquer tentativa de en- do seus direitos, uma feminista sem quê? Os baiões, as coisas com san-
quadramento do fato artístico den- nunca ter sabido o que é feminis- fona, a música nordestina toda e a
tro dos parâmetros do fato social. mo. Então você vê todos esses es- caipira.
Não que a arte — exatamente por paços culturais juntos numa faixa
ser gerada dentro de uma sociedade de um disco, explodindo com uma Uma Clementina de Jesus, uma
— não faça parte do fato social. força que rompe os ouvidos de Ivone Lara, um Martinho da Vila,
Mas ela não pode ser analisada da qualquer um transeunte e emo- um Paulinho da Viola... Tirando
mesma forma que o fato social, ciona o coração de qualquer velhe, essas facções que podem ser
porque ela transcende. Ou seja, por mais gagá que seja. A gente es- chamadas de folk )seria a brasilian
dentro da arte, há a inquietude dos tá muito na frente. A música toda, folk music), no resto é tudo híbrido
seus criadores, o não alinhamentc nossos sentimentos estão muito na mesmo. Todo ele almeja pelo
dos seus criadores, algumas vezes, frente. Pena que o nosso país seja menos um nível internacional. Um
à sociedade etc. E Marcuse é um atrasado pra gente. O país é muito padrão não só de qualidade, mas
pensador extremamente importan- atrasado pra gente. Politicamente de estética. O Brasil todo quer ser
te na — digamos — orientação de atrasado; institucionalmente um pouco internacional. Isso não é
certas áreas de pensamento mo- atrasadíssimo para todos nós. Nós de agora. Vem desde que a entrada
dernas. Então eu fiquei pensando, estamos muitos anos na frente. A dos Estados Unidos foi permitida
há cerca de um ano atrás, Jean forma de beber de Chico Buarque aqui com •Hollywodd, com Coca-
Paul Sartre tinha dito a mesma tender que é uma coisa' política GG — Sem dúvida, sem dú- num bar do Rio de Janeiro, por Cola etc. Essa querência brasileira
coisa. Foi na mesma época em que que ele tá investindo com armas... vida. O que mais passa pela cabeça exemplo, é dez milhões de anos do estrelato da galáxia universal é
Caetano, Gláuber e eu começamos Tá me dando um golpe pelas cos- do esquerdão brasileiro senão mais avançada do que qualquer uma querência antiga, não é de
a colocar as mesmas questões aqui. tas, mas, vá lá que seja, se é que ele tomar o poder e transformar isso reunião de gabinete a respeito disso hoje. Todos os jovens que apa-
Na verdade, esse esquadrão daqui e as hostes dele têm algum ideal aqui em uma coisa que a gente não ou daquilo que se possa fazer. Não receram nos últimos tempos
do Brasil faz nada mais nada maior. Que seja. sabe bem o que é? Mas, de qual- estou falando de Chico Buarque querem ter um pouco de rock na
menos do que um jogo do processo quer forma, segundo as minhas poeta. Estou falando dele como música deles. Todo mundo ama os
de mãos sujas natural que a política IR Você veria por trás disso perspectivas, os planos deles estaria homem. Beatles e os Rolling Stones. O Bel-
tem de querer, evidentemente, ad- tudo, um posicionamento já pre- muito longe do seu-meu Ideal (Ri). chior quer um pouco ser Dylan,
quirir prestígio para suas áreas de conceituoso na própria tentativa de Eu acho que nada mais é do que is- Mas tem a censura que fica aí
enchendo o saco, querendo que o quer um pouco ser John Lennon.
intenção política etc, através de domínio da cultura que está con- so, vendo o programa "Abertura" Todos eles! O Fagner quer ser o
nomes que possam mobilizar centrada no Centro-Sul ou que na TV Tupi, você nota claramente ouvido brasileiro não ouça isso, não
ouça aquilo, que o jovem não ouça Robert Plant, um pouco. Todo
camadas de uma população, prin- eles aficam que está concentrada ali isso. É um programa onde as fac-
aquilo do que ele já está sabendo, mundo quer ser alguém, todo mun-
cipalmente a população jovem, que no Centro-Sul , com relação às ções do centro para esquerda
que ele já está tentando exercitar do inveja um pouco o que se passa
é o que mais interessa a eles nesse periféricas e principalmente àquela brasileira estão representadas
há horas. fora do Brasil. As revistas todas: a
caso. visão dos baianos que já é comum através de alguns painéis e alguns Veja quer ser o Time; a ISTOÉ
INIMIGO DO REI — E o que eles terem? quadros que são dados Seles. En- IR Existe uma visão de quer ser não-sei-o-quê, a revista
você acha desta situação ? tão você vê claramente, você chega determinados artistas brasileiros de Pop quer ser aquilo. Você encontra
GILBERTO GIL — Num certo GG — Claro, isso é evidente. lá de repente e vê um representante que a arte, para ser brasileira e congêneres em Paris ou em Nova
aspecto fica até interessante, por- Isso funciona já a nível inconsciente, de uma dessas estações de metrô do para ser "coerente com a nossa Iorque para tudo isso. Para o seu
que na verdade é o único fenômeno já a nível de cultura mesmo. Quer percurso centro esquerda brasi- realidade" deveria abster-se de jornal, você vai ver que tem um un-
relativamente democrático e re- dizer, os caras mais jovens, jus- leira, ali, com a tabuleta dele determinados padrões estéticos, de derground lá em São Francisco, há
lativamente político no Brasil; isso tamente esses críticos, repórteres, dizendo: "olhe, aqui é que é a qualidade etc. O que você acha dis- mais de 20 anos.Quer dizer, o
porque, por exemplo, a política articulistas etc. etc. de vinte e tan- parada, salte aqui porque aqui é so?
tos e trinta anos de idade, são pes- que tem novidade, aqui é que tem INIMIGO DO REI já estava lá..:
oficial brasileira está muito aquém GG Eu pensei isso hoje Então é isso. A gente é atrasado
disso aí; o nível dela está bem mais soas que pelo simples fato de vi- isso". De Gláuber a Sérgio Cabral.
ouvindo uma música de Fagner no mesmo e só podemos nos adiantar
baixo porque não se aprofundam verem isoladas na zona Sul, con- Todo mundo ali. Um pouco dizen-
rádio. Eu fiquei pensando ora, um pouco no momento em que se
nem divergências, não se distan- sumindo: valores que foram her- do "olha, tem mais swing aqui no
veja só. Fagner, de repente, é iden- entender isso e ai,pernas praquê te
ciam nem esquerda e direita na dados daquela cultura de zona sul, meu barraco; a cachaça do meu é
tificado por uma grande parte da quero. Vamos correr, pô! Vamos
maneira de, por exemplo, nós, no construindo cada vez mais uma mais gostosa". Então é uma luta.
juventude universitária brasileira andar, não vamos ficar mais dis-
campo artístico, agirmos e estar- visão apologética desses valores etc Uma luta interna por espaço cul-
como o que representaria hoje o ar- cutindo se a gente devia estar ves-
mos agora aqui discutindo. Entãoi etc, acabam, inconscientemente, tural. Agora, até que ponto essa
tista brasileiro. Ocorre que aquelq tido de verde e amarelo. Vestir o
quer dizer que isso é até saudável. no momento necessário, tomando a luta interessa a intenções conser-
música, tocada num rádio da Fran- país todo de verde e amarelo pra
defesa dessa cultura da zona Sul do vadoras por parte do poder que está
IR 4 revista ISTO É pu- ça, da Bélgica, da Tchecoslová- poder ir sambar no mundo ? Qualé!
Rio de Janeiro como um grande aí, eu não sei... Até que ponto isso
blicou recentemente um auto-i quia, dos Estados Unidos, de IR — Você que esteve recen-
valor nacional contra outras cul- significa uma luta pelo poder, aí,
intitulado balanço da cultura qualquer lugar, seria como música temente na África, como está vendo
turas menores de periferia, de sem dúvida, é mais claro. E, sem
brasileira. Na-matéria, o Nirlando absolutamente internacional. a tradicional ligação África/Brasil,
província, que manifestam-se e dúvida, uma luta pelo poder. São
Beirão disse que em Refavela você Pareceria um desses progressismos dentro do contexto político que a
que por acaso ameaçam a hege- as esq... eu não chamo, nem gos-
teria cantado "as belezas dos con- do Yes. Para mim é uma dúvida própria África está vivendo agora ?
monia dessa cultura carioca. Isso é taria de chamar de esquerdas...
juntos do BNH". O que você diz tremenda: em que se baseia essa GG — Isso é muito complicado
evidente, eles às vezes ficam in- Essa coisa de esquerda e de direita
sobre isso? faixa da opinião para considerar o porque há pelos menos dois níveis.
juriados quando ouvem alguma num país como o Brasil é um
GG Eu não vi essa coisa, mas Fagner um artista brasileiro, en- Primeiro, o nível das necessidades e
coisa desse tipo porque não passa negócio totalmente absurdo, total-
acho que qualquer homem comum, quanto o Caetano, digamos assim, ambições reais das duas áreas,
pela cabeça deles a nível de cons- mente kafkiano, totalmente
qualquer trabalhador daquela obra para eles não o seria, ou seja, não reciprocamente. Das suas culturas,
ciência que isso ocorra, mas ocorre caótico. Quer dizer — a esquerda
(aponta) entende. Quer dizer "a estaria fazendo a música com um dos seus diversos povos, dos seus
porque é um problema cultural. está na direita, de repente; a direita
refavela revela o salto que o preto compromisso com o caráter na- sentimentos, da comunhão através
São meninos que nunca saíram, está na esquerda. Uma análise
pobre tenta dar, quando se arranca cional? Ou Gilberto Gil não es- do traço cultural, do traço religioso
nunca saem, foram criados ali no marxista seria terrivelmente penosa
do seu barraco prai um bloco do taria...(Estou colocando isso como etc. etc. Isso, na verdade, merece
Leblon, Ipanema, indo pra praia, nessas contradições menores e
BNH". É a visão trágica, o cçrater exercício didático. Não estou jul- algum cuidado. Eu acho que daqui
saindo dos bares, não sei o quê, en- maiores. E muito complicado.
crítico do fenômeno está aí. Ele vê gando o Fagner nem ninguém). De por diante cada vez mais tem que se
contrando as garotinhas, pa- Mas, de qualquer forma, eu ache
só a visão apologética? Ele é um repente, você pega, por exemplo, cuidar de nutir — digamos assim
querando isso e aquilo. Tudo muito que em alguns instantes essa crise
ignorante! (Ri) A colocação é uma faixa de um disco de Geraldo — esse corpo, esses irmãos sia-
bonito mais muito isolado, tudo (digamos assim) nas esquerdas in-
trágica. A frase "o salto que o preto Vandré e ouve, nitidamente, uma meses. O outro nível é o nível a real
muito aquilo ali mesmo e com uma teressa muito ao conservadorismo
pobre tenta dar... "O verbo tentar forma de cantar, uma construção politik e aí é desastroso como tudo
proibição quase taxativa de alçar as de direita, claro!.
na frase é muito claro, é muito de uma música, como se ele fosse da real politik. E a real industrie?
vistas para qualquer outro horizon-
nítido. Conota a setença toda com a IR — Nessas circunstâncias, um cantor chileno, como se fosse E como a Volkswagen, de repente,
te. Então é isso que ocorre, esse
sua dúvida, com o seu caráter como ficam a arte e a cultura um cantor peruano, como se fosse fazer aquele negócio de plástico no
processo evidentemente é incons-
trágico, com a incerteza, com a im- brasileiras?. um cantor argentino, com' a pára-choque do carro pra poder
ciente. Mas, isso existe e em alguns
possibilidade quase desse salto. GG — Eu vejo a música, acima dramaticidade do tango, aquela quebrar mesmo e ter que substi-
casos é político, é guerreiro, éarma
Então, o imbecil diz que eu estou de tudo, com um grau de indepen- coisa portenha. Então, de repente, tuir. Quer dizer, é essa safadeza
usada conscientemente contra nós
fazendo apologia de bloco do BNH! de Pernambuco, da Bahia, de onde dência, inquietude, incontido. Eu eu fico vendo e me perguntando: o natural do capitalismo. Taí há
Ele é ignorante... Aliás, tem mais quer que seja e em outros casos é vejo a música dominando o pa- que é que é brasileiros? Eu vejo muitos anos e todo mundo sabe. Ê
isso não é ignorância. Isso é •inconscientemente, é um processo norama como a coisa mais arro- Danilo Caymmi com uma música o negócio de fazer pra quebrar,
safadeza. Isso é hipocrisia. Porque cultural de herança, uma coisa da jada, atropelando esse páreo todo, totalmente impressionista, como se fazer ser pra ser ruim, fazer pra ser
ele sabe, ele não é ignorante a esse gênesis, da genética cultural do Rio por dentro, por fora, por todos os fosse Debussy, Ravel etc, mis- podre, pra não prestar que é pra
ponto de não entender português. de Janeiro, vai passando de geração lados, explodindo para níveis im- turadas com certas coisas progres- poder ser substituído. Para dar
Ele sabe que não é isso. Agora, a geração e o cara não se toca. previstos. Isso é o que ocorre com a sistas internacionais, um certo lucro. Então a real politik com a
como é uma coisa política e ele quer música no Brasil. Isso a gente vê. A tempero de Beatles. Então, é uma África é uma coisa que está nesse
fazer uma investida guerreira con- IR — Ate momento em que o gente ouve uma música como, por barra pesada ficar querendo esse nível, no nível da diplomacia, quer
tra as minhas hostes, então ele usa Esquerdão utiliza essa pressão cul- exemplo, "sonho meu, sonho meu " negócio... Se fossemos analisar a dizer, dessas coisas de barata que
essa arma para colocar-se contra tural do Centro-Sul, você não acha e vê ali, naquela faixa, músicos rigor mesmo, a única coisa que morde e sopra e ninguém sabe nun-
mim. que eles estariam de certa forma reunidos no estúdio. Músicos de es- poderia ser considerada especial- ca aonde é que está a verdade, nin-
A última conversa que eu tive estabelecendo um paralelo com o cola de samba, mais um guitarrista mente brasileira, nacional, seriam guém sabe nunca aonde é que estão
com o Nirlando foi uma conversa jogo do próprio poder ou a vontade baiano, mais duas cantoras as coisas quase a nível folclórico, as intenções profundas, tá de acor-
até interessante e pela impressão de ter o poder? Como você veria is- baianas, cantando um samba de quase o que épop chegando para o do agora, tá em desacordo amanhã
que também eu tive dele eu vou en- so? uma compositora carioca que vem folclore. Samba de morro onde ou depois.

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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 11

Caetano: "É tudo assim meio ridículo..."


IR — Baseado no ma- arte, para ser brasileira, Diabo na Terra do Sol" ou ■
terial que a gente tem sobre tem que ser mal feita, ar- quando ouço "No Woman,
você, constatamos a seguin- tesanal, quer dizer, "de No Cry", ou qualquer coisa
te declaração: "Eu quero acordo com o nosso atraso do Bob Marley, eu acho is-
encantar as pessoas, o resto tecnológico" etc. Inclusive o so: não é padrão, não tem
é papo furado, só acho Nelson Pereira dos Santos nada a ver com o que já es-
bonito fazer as coisas que as chegou a declarar isso... tabelecido, mas é uma coisa
pessoas digam: que bonito! que se impõe. Seria o mal
CV Não, quanto a is-
E fiquem extasiadas. Eu sei feito diante dos padrões que
so, eu sou contra. Bem, o
que todo artista quer isso " já estavam colocados, mas
Nelson é um grande artista
— Correio da Bahia ele é perfeito dentro do
brasileiro e eu não me sinto
27.01.79 —. Agora, a partir padrão que ele mesmo im-
nem capaz de deitar falação
dessa sua constatação de põe, a partir da sua própria
para julgar a obra dele, que
que o Artista quer agradar, realidade. Eu acho que isso
é uma obra imensa. Agora,
como você analisa a posição essa história de que, no se realiza no cinema de
dos intelectuais que querem Gláuber e também no de
"Tenda dos Milagres", a
forçar as pessoas a gostarem Nelson Pereira dos Santos.
dublagem é propositada-
dos filmes de Nelson Pereira Mas Gláuber é mais. E eu
mente mal feita para não
dos Santos, por exemplo? acho que isso tem na minha
parecer com a Rede Globo,
Arte que não atrai público, música também. E na de
eu não gosto disso não. Eu
que o público não diz: que Gil.
não gosto de padrão de
bonito!?
qualidade como prisão. Eu Entenderam minha res-
Caetano Veloso — E, sua
saiba que quer agradar, do odeio. Mas não gosto tam- posta? Pois, é porque esta
pergunta é muito complexa acho o seguinte: essa coisa
que você pense que quer bém da falência. Não gosto situação é muito compli-
porque inclui um julgamen- de esquerda, meia-
desagradar. de coisas que não dão certo. cada. Tem o momento em
to da obra de um cineasta. esquerda, grupos de esquer-
Do qual, por exemplo, eu IR — Você fez uma sín- Eu quero que seja jóia. Por que de tanto se querer uma
da, intelectualidade, aqui exemplo, "Xica da Silva"eu
pessoalmente poderia dizer tese da bossa-nova com o iê- no Brasil, é tudo assim meio coisa que não seja holly-
assim: se eu não gosto muito acho um filme maravilhoso. woodiana, Hollywood fica
iê-iê, na época dos festivais, ridículo. Não há uma ver-
de "Tenda dos Milagres" Pra mim ele tem o que in- como o mais feio. Ficou
quando despontou com dadeira representação na
por outro lado eu acho o teressa. E lindo. Agora, o muito tempo o cinema de
"Alegria, Alegria" etc. nata pensante brasileira das
"Amuleto de Ogum" uma "Amuleto de Ogum" tam- 'Hollywood sendo consi-
Bem, a partir daí surgiram forças que realmente vivem
obra prima, tenha o público, bém é um extraordinário derado feio, que não é. As
os grupos que o apoiavam e no Brasil. Das forças imen-
ido lá ou não pra curtir. En- filme. Ê mais do que "Xica pessoas simplesmente
os que lhe criticavam. E sas. Por isso que eu tenho
tendeu? E essa vontade de da Silva", até, assim como imitavam os filmes euro-.
houve aqueles que ficaram falado constantemente nas
agradar a que me refiro, é idéia, uma idéia maior, peus. Mas também, tem
esperando sempre que você minhas entrevistas que isso mais abrangente e mais
principalmente o que eu desse aquela palavra de or- aqui é a África do Sul. Con- uma outra coisa: no cinema,
considero no ser Artista de profunda. E é irregular- como tem necessariamente
dem. Você não deu esta siderando que essa nata,
uma pessoa, o desejo fun- mente realizado. Não tem na música, o mais impor-
palavra. E agora eles o com relação à realidade aquele acabamento unifor-
damental, que é um desejo criticam por isso. Como brasileira, é como se fosse tante é o artista que impõe,
de mostrar coisas bonitas me de "Xica da Silva". o ser que tem força e que
você vê este aspecto? os brancos na África do Sul. Aquilo do "Tenda dos
que eu sei fazer, ou porque CV Tenho percebido Aquela minoria comple- consegue acionar suas for-
saem de mim, isso é um Milagres" que falamos a ças.
isso. No que diz respeito à tamente não representativa pouco eu acho que deu
desejo fundamental que eu síntese do iê-iê-iê com a bos- do país. E dominando. Quer IR — Voltando ao es-
sinto em mim e vejo nos ar- ' foi errado, mas o filme tem querdão, você acha que a
sa-nova, isso inclui também dizer, direita ou esquerda coisas boas.
tistas, enquanto artistas. muitos problemas de dentro desse teatro é pra repressão que eles exercem
Agora, esse desejo se IR Mas há uma ten- tem muito a ver com a
preconceito social. O grande mim igualmente ridículo. tativa no Brasil de se fazer
manifesta até pelo seu opos- problema, naquela época, Eu me sinto ligado a coisas necessidade de palavras de
to, muitas vezes por uma os- uma estética mal feita e ordem por parte dos artis-
era o status intelectual de assombrosas para este am- depois dizer se que foi de
tensiva vontade de desa- quem gostava de música biente. Coisas que são em si tas?
gradar: não faço nada pra propósito para fugir a CV — Acho que sim.
popular brasileira e que não mesmo assombrosas; para padrões como o da Rede
agradar ninguém. Muitos queria se misturar com a este tipo de ambiente. En- Mas este não é o único
artistas fazem exatamente Globo ou de Hollywood. O motivo da repressão do es-
"ralé" que gostava de iê-iê- tão eu acho que essa é a seu trabalho se distancia
isso. E faz parte da tran- iê, mas como tínhamos razão de não haver acei- querdão.
sação do artista também bem disso, não?
pretensões poéticas mais tação por parte desse "es- CV Eu não sei...
uma posição de desagradar. IR — O eixo Rio/São
elevadas, mais ambiciosas, querdão" e da repressão, Acho essa questão muito
Que é o assunto de agradar, Paulo sempre colonizou o
percebíamos que "sigo in- com relação à minha cur- difícil de ser abordada.
né? O sentido do desagradar País inteiro e está sendo
cendiando bem contente e tição (ele ri da rima). Acho que o que Nelson,
do artista é sempre recu- difícil colonizar a Bahia.
feliz, nunca respeitando o IR — A partir de 64 falou e que muitas pessoas
perado por ele por uma Como você vê este fato?
aviso que diz "É PROI- começou a surgir na mente falam às vezes criar uma
idéia de que ele quer Existe um preconceito ?
BIDO FUMAR"era melhor da intelectualidade bra- estética assim nascida da
agradar tanto e tão bem que sileira esta tendência para o
poesia do que a maioria da precariedade, da carência — CV — Fu me
as pessoas não estão pre- patrulhamento... aliás, essa
música popular brasileira eu acho que isso o Gláuber identifico mais com isso. Eu
paradas para receber o expressão...
agrado. Esse negócio dos sofisticada da época. Então, Rocha faz. Realiza total- faço o eixo Bahia/São Paulo
isso causou muito pro- CV— Ela foi como que mente de uma maneira na minha cabeça. Moro no
filmes que vocês falaram, cunhada numa agência de
acho que ficar julgando blema. Essa é uma idéia grandiosa e faz uma grande Rio e acho o Rio um lugar
vaga do que motivo o publicidade que tem dentro arte. Eu, por exemplo, não maravilhoso. Mas cultural-
quem viu, quem gostou, es- da cabeça do Caca Diegues.
tá sempre fora do verda- choque. me sinto muito distanciado mente eu me sinto ligado
IR — Seu trabalho é Deu certo demais. Nunca vi dessa coisa. Sinto que o que por um eixo Bahia/São
deiro assunto de criar e uma expressão fazer tanto
apreciar. revolucionário a partir do eu faço é, digamos assim, Paulo. Eu gosto de mostrar
momento em que você sucesso. Aliás, o Caca era mal feito, subdesenvolvido, sempre, a cada momento, a
IR — Você se referiu aí à um sujeito sempre res-
quebrou os tabus da música pobre. Não é um produto minha independência
questão da liberdade do ar- peitado pelo "esquerdão" bem acabado, como uma
e do comportamento típico daquela visão, que se tem no
tista de poder ser desa- até que ele fez "Xica da Sil- coisa assim burguesa, que
da classe média e dominan- Rio, das coisas, porque eu
gradável, ostensivamente va". (Filme dele que eu mais você tenha aquele produto tenho outra visão. Eu co-
te. E revolucionário como
desagradável, quando o gostei). No que chegou a que não incomoda nada.
trabalho. A que você atribui lonizo o resto do País (in-
quiser. Pelo que se tem dito "Xica da Silva" quebrou al- Não é minha transa. E não clusive o Rio) a partir da
a não aceitação desse fato
sobre você, sobretudo guma coisa, um elo; entre tem nível internacional Corte São Paulo/Bahia. Eu,
pelo que se chama atual-
através da imprensa do Sul ele, Caca, e essa sociedade também. Com artistas como baiano, mulato, do interior,
mente de "esquerdão"
do País, estão querendo cer- anônima (Ri). Gláuber Rocha, Bob do Recôncavo, perto dos
brasileiro?
cear esta sua liberdade. O IR — Nós achamos que Marley, com pessoas assim, pretos, de origem mais pra
CV — (Rindo). Gostei
que você diz disso? Como o que ocorreu com Caca o que acontece é que o nível pobre, me sinto mais ligado
muito desta expressão "es-
você vê essepatrulhaniento? Diegues e seu "Xica da Sil- internacional muda. Por com aquelas cabeças de São
querdão": £ muito nova
CV Eu vejo assim mes- va" foi que ele, Caca, der- exemplo — o nível inter- Paulo, um lugar indus-
para mim. Ainda não co-
mo como vocês estão dizen- nhecia. Acho que ela é mais rubou o preconceito criado nacional chega até a mim, trializar'J, descaracteri-
do. Eu acho que eles têm abrangente. Sinceramente, por uma grande parte dos não sou eu que chego até lá. zado, realmente cosmo-
mais grilos de que você a esta altura da vida, eu artistas brasileiros, de que a Quando vejo> "Deus e o polita.

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PAGINA 12 O INIMIGO DO RFI ABRIL & MAIO DE 1979

João Ubaldo: "Estamos no mesmo barco"


que é que sai de lá em IR — E sobre o es- o cacete nesses caras. Eles se
INIMIGO DO REI —
matéria de arte no Brasil, o quadrão? voltam com tanta virulência
Queremos ouvir sua opinião
que é que sai do Rio de JU — Não sei se estarei contra quem? Mais nin-
sobre este preconceito, este
Janeiro, a não ser aqueles respondendo adequada- guém.
patrulhamento da crítica do
sul do País, a ponto do que se deslocaram para lá mente à sua pergunta. Mas, A linguagem brasileira,
Milôr Fernandes dizer que para ganhar uma grana como eu sou editorialista de hoje — claro que não é cul-
causa arrepios "essa praga como Carlos Drummond de jornal e tenho a respon- pa deles, é culpa da repres-
de baianos." Andrade, que é um grande sabilidade de maior, co- são, não é culpa de nin-
poeta brasileiro que vive nheço muito bem esse guém... Eu não estou
humilhado a ter que fazer problema. Eu conheço, por querendo aqui fazer acu-
João Ubaldo — Bem, ele sação. Isso é ridículo, eu
gracinhas para o Jornal do exemplo, durante todo o
disse isso há muito tempo. ficar falando de carioca. E
Eu acho que é uma prova de Brasil, para ganhar a grana tempo da repressão, o fato
dele, que está lá no Rio... o exatamente o jogo da di-
provincianismo, você dar de que aqueles que têm a
que é de arte que sobrou? responsabilidade de expres- reita. Ficamos nós a nos de esquerda. O liberal nun-
importância a isso, simples- xingarmos, enquanto os ca foi de esquerda. O que é
mente porque eles publicam sar pela comunidade, não
caras estão metendo na gen- o liberalismo? O liberalismo
coisas na imprensa do sul e terem podido falar mal de
Não produziu porque se es- te. Mas é necessário, numa é a ideologia do capitalismo,
nós publicamos na imprensa um militar, de um gover-
quecem que estamos no hora dessas debater — des- todo mundo sabe disso. Os
baiana. Uma coisa é você nante, exceto dos verea-
mesmo barco e que eles são de o tempo em que se co-
atribuir valores as pessoas, dores. "A Câmara de caras que querem o libe-
a cabeça de ponte, não por- meçou a proibir boa im-
porque elas tem valor, ou Vereadores da Bahia é ban- ralism. igual na América,
que sejam ruins, mas por- prensa no Brasil que os jor-
peso, ou qualquer outra do de imorais, escolhidos que gostariam que nós todos
que são a área economi- nalistas brasileiros são
palavra que se use pra por um diabo especiali- fôssemos como os ameri-
camente crucial do Brasil e obrigados a se informar
designar a importância que zado...". Porque por serem através de revistas estran- canos, tudo certinho, o Car-
são a cabeça de ponte de vereadores eles são diferen-
o intelecutal tem em deter- geiras. Como resultado dis- naval com liberdade de pen-
colonização a que o Brasil é tes de nós? Quem garante
minada circunstância. Eu so, você pode observar que samento e tal; só que nos
submetido. Então você vê: que nós não nos compar-
acho um sintoma de provin- ficou na moda, nas cha- Estados Unidos existem
lá, a arte carioca sai de on- taríamos com nossas di-
cianismo, não só de nossa madas revistas nacionais, outras condições. Então esse
de? Ou ela não é assimilada, ferenças individuais e de
parte. Por exemplo, agora estilos que não têm nada a povo se considera de esquer-
ou seja, o cara não publica,
mesmo a Globo está fazendo classe, como eles se compor- ver comalíngua portuguesa. da e é tido como esquerda.
não faz, não é ouvido, não tam? No entanto, eles
o maior fuzuê porque os Então você pega, assim, um Quanto liberal que não
existe nenhum esquema on-
americanos acham que a davam cacete nos verea- texto de uma moça que eu tinha nada de esquerda foi
de ele se meter ou então esta
Globo está fazendo exa- dores, ou no serviço de lim- não conheço, a não ser de torturado, preso, morto,
arte é assimilada como de
tamente o que eles querem peza pública, porque não nome, e que não tem culpa desaparecido pelo governo
samba, quer dizer, é ca-
que ela faça, discoteca, não podiam dar onde eles disto. Olha aqui (mostra brasileiro, porque era li-
nalizada para a classe que
sei o quê. Eu fico com uma queriam. Você veja que in- uma revista) ela está falando beral, de direita. Só que a
consome, que somos nós,
vergonha, você sabe, quan- telectual brasileiro, hoje em sobre um livro americano: direita sofisticada, não a ex-
todo um esquema de divul-
do vejo aquilo. Se bem que dia — claro, com as raras e "Prêmio Pultizer: onze trema-direita, mas é direita,
gação de massa. Então, você
eu não vou concordar com o honrosas exceções —, desce milhões de cópias nos Es- como Jimmy Carter é de
veja, a literatura carioca se
cara que diz: "Você é um o cacete no Governo com o tados Unidos..." Quem é direita. Mas até Jimmy Car-
reduz, claro com as exceções
imbecil porque dança dis- mesmo caráter olímpico quem diz uma cópia de um ter aqui já virou para da es-
de praxe, tem os caras bons,
coteca". Porque é a so- com que desce o cacete em livro no Brasil? Diz-se querda. Já recebeu a mulher
mas deveria ter muito mais
ciedade brasileira contem- Glauber Rocha? Como ele exemplar. Em inglês se diz dele reivindicações de es-
do que tem. Por quê? Por-
porânea, somos nós que não desce o cacete no gover- cópia (copy)... Quer dizer, tudantes "de esquerda"
que carioca da Zona Sul,
criamos estas condições no? Claro que dá os gozos. nós hoje somos uma cultura brasileiros. Me parece que a
que é quem consegue es-
para que p menino ache que Mas vê se ele chama o dominada pela língua, pela esquerda brasileira ainda,
crever, publicar, está es-
discoteca é que é a boa. E presidente de dedo-duro, de cabeça; quer dizer, os não abriu a boca para falar.
crevendo sobre problemas
interessante que a realidade de cocainômanos, pro- traidor da pátria? Não romanos sabiam disto; onde Mas não tem esquerda no
de geoeconômica brasileira blemas de virgindade, en- chama. E um pouco o fe- está a língua romana, está Brasil. A maior parte da im-
reflita uma situação de fim, problemas de Paris, de nômeno a que Jorge Amado Roma. prensa brasileira considera-
dominação econômica em Nova Iorque, porque vivem referiu-se numa entrevista se de esquerda. A Tribuna
que nós vivemos e que as numa cidade colonizada, a ao Folhetim e que atri- É por isso que há a luta da Bahia, que é um jornal
pessoas continuem atribuin- não ser na medida em que buíram também a mim, de afirmação de nacio- que eu edito, que é um jor-
do -características inelu- existem aquelas manifes- porque eu estava presente e nalidades como os Bascos, nal de atitudes liberais, é
táveis. Nós temos uma tações mais autênticas, ain- fiz umas perguntas. Então, Catalão, como todas as tido como um jornal de es-
economia que é basicamente da mais porque são cidades Jorge Amado atribui isso tribos européias — porque querda, o que é um absur-
centrada em São Paulo e no industrializadas, proces- aos mesmos fatores. E mais lá so tem tribo, é tudo sel- do. Já foi perseguido como
Rio de Janeiro e a perifieria sadas; até a arte do críoulão fácil esculhambar você ou vagem e fica querendo de esquerda. Um jornal à
somos Salvador e outras carioca já está encaminhada eu, do que esculhambar colonizar a gente — então, direita de Jimmy Carter é de
cidades brasileiras. A isso se para um negócio assim realmente o poder. Não só eles, as tribos lá, para man- esquerda no Brasil. Talvez
atribui uma condição in- padronizado, organizado, porque as pessoas estão terem sua identidade, como estejamos numa fase de
trínseca de superioridade a que já foi digerido, entrou acostumadas a um esquema reivindicação básica querem transição e ainda não nos
quem está lá, a quem está numa camisa de força. Os de repressão, como porue manter a língua, porque a acostumamos à liberdade de
publicando na Veja, em Isto caras ficam fazendo um ex- tem uma lei de segurança língua é quem distingue o expressão. Antigamente,
É, numa editora carioca, perimentalismo babaca, nacional que coíbe estas ser humano, mas nós es- antes de 1964, se falava:
enfim, como se tivesse al- dizendo besteiras, creti- coisas, como também somos tamos indo prás picas. Não fulano é do Partido Co-
guma coisa a ver com outra. nices. Aí olham para cá, frouxos porque não temos percebem que estão fazendo munista, sicrano é da AP,
Na realidade não tem. Pelo para o Nordeste — tam- ainda o nosso Ayatollah. o jogo dos outros... às vezes outro da Polop e assim por
contrário. Os caras que es- bém não é porque o Nordes- Então niguém diz nada. percebem. Como diz diante. Hoje em dia, o
tão lá, evidente que não te seja melhor do que São Ficam falando bobagem. Só Glauber, ninguém sabe máximo que se admite e es-
voluntariamente, contri- Paulo j— mas o Nordeste que não estão resolvendo quem é da CIA. tar na ala jovem do MDB. É
buem para este domínio pela sua condição de sub- nada enquanto falam contra evidente que isto não é es-
econômico, para esta dis- subcolonizado conseguiu, Glauber, contra Gil, contra IR — Como é que você querda. É direita. Não que
tribuição de renda iníqua, é teve como compensação a Caetano; estão apenas vê o esquerdão brasileiro eu esteja condenando a ala
esta a distância entre preservação de sua auten- apontando posições que são dentro deste contexto; pas- jovem do MDB, mas eles
privilegiados e não privi- ticidade nacional, de suas tão boas quanto as de sivo ou talvez colaborando? são de direita. Claro que es-
legiados, no Brasil. características mais fundas. Glauber e Gil, porque as JU — Para você res- tão à esquerda da direita. A
Então eles olham para aqui deles também não são. Por- peitar a noção de esquerda, posição de esquerda no
São Paulo gerou um e dizem: "mas que coisa que Glauber e Gil se arris- você precisa esquecer o fato Brasil é um tanto idealista.
Mário de Andrade. Se eu autêntica, não sei o quê" e cam, como Caetano, em ter- de que no Brasil recente A posição de esquerda é
não citar vão dizer: se es- parece que só o que tem de mos de alguma coisa, errada qualquer pessoa que não uma posição socialista. A
queceu de Mário de An- autêntico no Brasil é o que ou certa. Eles não, limitam- gosta do Presidente é de es- verdade é esta. Você ficar
drade, Oswald de An- sai do Nordeste, do interior se a dar pau em quem querda; o que é uma ab- pretendendo um regime
drade, Alcântara Machado, de Minas. Podia sair do Rio, profere palavras. Então, soluta imbelicidade. A parecido com o dos Estados
não sei o quê. Claro que não o Rio é uma grande cidade Glauber e Gil. Quem está noção de esquerda perde o Unidos, isto não é ser de es-
esqueci. Agora você olhe o brasileira, s na condição de opinar desce sentido. Qualquer liberal é querda.

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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PÁGINA 13

(Quase) um hino
GERALDO MAIA
Nós somos a geração de março
Trazemos vendas nos passos
E fechaduras solitárias nos olhos
SONHOSE
REALIDADE
Não desista de sua aspiração à presidência ameri-
JAZZ
Quando se fala em JAZZ, Conseqüentemente, o
Nós somos a geração de agora atualmente, as pessoas, mercado fecha-se para o
cana
Não sabemos o dia em que estamos como já têm seus valores músico instrumental que,
A mercê da nossa demora Não desista de sua viagem a Saturno
estabelecidos, imaginam quando consegue gravar
Nós somos a geração híbrida Pense na possibilidade de ser um cargueiro
logo um grupo de velhinhos um disco, é roubado até
De laboratório Pense na possibilidade de ser eleito secretário-geral
Vivemos nos corredores decadentes com seus ins- não poder mais; se apre-
do PCUS
Entre horários afiados trumentos acústicos ul- sentar também não po-
E o descanso das sepulturas
Considere aquele caso dos porões de lama do Con-
trapassados ou aquelas de, pois não existem ver-
Nós somos a geração estúpida gresso
grandes orquestras com os bas. Vemos que as lojas e
Ficamos sempre em dívida Considere aquele caso de subornos e chantagens;
Com a nossa dúvida mesmos decadentes ve- empresas patrocinam Sid-
topas?
Então contestamos lhinhos. Nem tampouco es- ney Magal, Nelson Gonçal-
Pensei num jeito e tu também de ir de disco voador a
Brigamos nas mesas dos bares ses velhinhos são decaden- ves, discotheque impor-
As boas notas tiradas Londres
tes e ultrapassados nem o tada, Rita Lee etc... Aí pin-
Nasaula&de; covardia Pensei num jeito e tu também de desiluminar o Quar-
Nós somos a geração sem voz
jazz de hoje limita-se a essa ta um Nelson Ayres
tier Latin
Sem olhos tradição. O jazz, hoje, 1 se (músico, regente, com-
Proclame um "estado anárquico" em Montreal, bem
E sem história tornou sinônimo de boa positor, orquestrador,
Somos a fundação da miséria na Terre des Hommes música, não tem idade,
Somos cordeiros dopados Proclame um anti-estado no seu solo natal arranjador, professor de
nacionalidade nem limites. música da escola de São
Somos o corte do grito Não se desespere por não ter sido ainda rei da In-
Somos o quadro-negro do não É tudo muito improviso, Caetano (SP), músico de
glaterra muito free, mas tudo a par-
Nós somos a geração da derrota renome internacional que já
Somos as peças dos tecnocratas Não se desespere por não ter sido eleito Papa em tir de muito estudo.
Roma gravou com músicos como:
Somos o som do arbítrio
Somos as cordas da repressão Que lhe ocorra um jeito de ir ao Vaticano a pé em Astrud Gilbert, The Plat-
Somos a cartilha das torturas
Mas hoje em dia são ters, Ron Carter, Airton
romaria raríssimas as pessoas que
Somos a cria da censura
Que lhe ocorra um jeito de ser premier em Katmandú Moreira e Flora Purin. Sen-
A gravidez prolongada conseguem enxergar isso, do até convidado para in-
Da exceção Não se esqueça de seus compromissos com Chris pois a juventude está quase
Nós somos uma geração de culpados Onassis tegrar a banda de Buddy
toda voltada para a dis- Rich), aí os caras viram a
E ainda seremos culpados Não se esqueça de seu jantar com Ibrahim no Beco
Pela próxima geração coteca e os embalos de cara pro músico, esquecen-
Por consentirmos sermos
da Fome sábado â noite, a verdadeira
Salve os americanos da fome mandando-lhes coisas do toda a estrada que ele
Enquanto trocam os termos importação da mediocri-,
Salve os indianos da abundância mandando-lhes traz nas costas por achar
Que a liberdade nunca ditou dade, todas as músicas (se
Por consentirmos de estarmos bombas que o nome da sua empresa
Ao lado do corpo abatido
é que se pode chamar as- não tem importância co-
Leve um conta-gotas e mate a sede no Sahel
Naturalmente sim) com três tons, duas mercial.
Leve uma marmita e mate a fome em Bangladesh
Como o corpo abatido notas e uma batidinha (que Como se fosse pouco, o
Somos culpados em máxima culpa Não se exaspere porque seu yatch está pra chegar
qualquer criança é capaz) músico tem a dificuldade do
Por maximizarmos a desculpa Acorde e continue mesmo acordado, senão morrerás
E minimizarmos
marcando o tempo todo. instrumento, pois o ins-
de tédio
Fazer! Se esquecendo de que trumental nacional é ter-
Sonhe e enlouqueça, desesperadamente sonhe.
Nós somos uma geração castrada quando os africanos che- rível, uma desgraça, a pior
Antônio Carlos Pacheco
Comemos pão com cocada garam à América o que qualidade possível. Então,
Nas reuniões marginais mais os ocidentais apro-
Nós somos a raiz do mal só resta ao músico comprar
O radical doente Zero veitaram para integrar a sua um instrumento importado;
Mas, a pesar em nós música foi justamente o aí ele vai pagar taxas exor-
Essa loucura Subtrai o intelectual de todos", a prostituta; pique dos tambores, aquele bitantes pra poder possuir
Somos, de repente, do leigo lagrego; o re- o sistema modelo al- ritmo alucinante que fazia
A cura1 A cura1 um s bom instrumento.
mejado por muitos do
L ligioso devoto, puro e
fraternal do herege, cruel
materialista, ambicioso;
despótico ditatorial;
Hitler, Aristóteles e Jimi
com que muitas pessoas
perdessem a consciência,
jogando-se contra o chão,
Digamos que seja um
pianista, que depois de
muito sacrifício consegue
o homem socialmente Hendrix de José; o bran- batendo-se e se arranhan- comprar um piano Fender.
normal do "louco", do co, sangue puro e lím- do.
Sonh ar "viciado"; a digníssima pido dó negro, suor nas
Qualquer viagem que o ins-
trumento faça, ele sofre
fulana Medeiros, dama veias e chicote na pela. Por outro lado, temos a
Como sonhar? uma desafinação, ou seja,
Se meus sonhos são da sociedade de Ger- Quociente:ZERO! velha guarda (com exceção todo o trabalho jogado pela
meus únicos mana da Silva, mais de uns poucos) só ouvem janela.
pesadelos conhecida como "mana Kátia Regina Borges clássicos. Apesar de res-
quando acordo, Como se vê, está cada
sonho . peitar muito, não se pode
vez mais difícil fazer um
Minta negar que é uma música
bom trabalho musical, es-
Os vazios em mim
aquela que seu professor burguesa por excelência
não são preenchidos: Minta para você mesmo, tudado, sem se corromper.
ensinou, (como no Brasil que é
eu os cerco, como para seus pais, Diante disso, propomos
e até aquela que você pouquíssimo difundido) o
lembrança e alerta, para seus amigos, uma luta pela cultura (para
daquilo que algum dia acreditou... sujeito se limita a comprar
para o professor, que esta não se degrade por
ali habitou ou sua coleção dos principais
para aquilo que
e pro resto? inteiro) pela música ins-
E daí por diante compositores, chega em
deveria estar ali, Maisaindal trumental para que não seja
minta cada vez mais: casa coloca o disco no seu
deveria.. Não faz diferença... trocada ' por nenhum
Adir viva sua própria aparelho último tipo, pega
produto de consumo. Pois,
mentira! um copo de wisky (scoth,
Afinal, você sempre como diz o próprio, HER-
Se você não acredita claro) e diz: "SOU SEN-
acreditou na verdade METO: "A MÚSICA È O
SÍVEL, APRECIO A AR-
r de uma grande men-
tira...
Aquela que sua família
nisto
Não tem importância,
minta...
TE." E não sabendo que se
Beethoven fosse vivo tiraria
QUE SUSTENTA
PLANETA TERRA."
0

Fedor pregou, Adir o chapéu pra HERMETO


SÉRGIO GUERRA
PASCOAL
QuefedorlJ!
Quando sento na patente Assineicolabore com "O INIMIGO DO REI". Basta que você mande um cheque
do banheiro, nominal ou vale postal em nome de AntOnio Carlos C. Pacheco, no valor de Cri 100,00.
para filosofar sobre Se você quiser receber sua assinatura grátis, tire três (3) xerox do cupom e passe a três
o mundo, amigos. Envie os cupons e cheques no mesmo envelope e sus assinatura será nosso
logo me vem à cabeça presente a você.
aquele rolo, Ao Jornal
"O INIMIGO DO REI"
pastosoe marrom
que ora repousa, Caixa Postal: 2540
submerso, 40.000 — Salvador - Bahia
abaixo do meu ânus... Desejo receber uma assinatura anual de O INIMIGO DO RÉ!, correspondente a seis
edições bimensais:

Adir NOME: i
ENDEREÇO:
CEP: CIDADE: ESTADO.

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PÁGINA 14 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979

Cláudio Miranda
Poder, disciplina e loucura
Existe um ditado po- nova ordem burguesa, foi- mente o corpo do mau constituíram no mesmo como na Idade Média e
pular que diz respeito à se rompendo todo um súdito. Por enquanto, as processo com que foram Renascimento, o louco
loucura, comum às várias diálogo precário que ainda técnicas disciplinares fi- constituídos e aplicados os possuia um saber e este
épocas e lugares. È aquele existia entre o louco e a cavam restritas a certas ins- poderes disciplinares. A saber era respeitado e
que diz que "de médico e sociedade. Os leprosários tituições, religiosas, como criação de um novo poder ouvido pois veiculava uma
de louco, todos nós temos vazios receberiam novos os mosteiros. disciplinar está intimamente determinada verdade crítica
um pouco". Estranho hóspedes. È O GRANDE ligada à criação de um novo sobre o jogo social. Mas, a
ditado. O médico, aquele ENCLAUSURAMENTO. O Mas o desenvolvimento objeto de estudo e con- sacralização da Razão e da
que "trata" o "doente", e o começo de uma série que da economia mercantil e o seqüentemente um novo Produção que vieram com a
"doente", são colocados ainda não acabou. Mas que posterior aparecimento das saber; a prisão, o criminoso ordem burguesa, faz com
no mesmo plano, igualados razão frágil é esta que primeiras formas de pro- e a criminologia; o Centro que o louco vá aos poucos
como perturbações pos- precisa marcar com o estig- dução capitalista fez com Social, o marginal e o assis- sendo despossuído, ex-
síveis em todos nós. Mas, ma da não-razão outras que surgisse, pela primeira tencialismo; o Asilo, o propriado, primeiramente
na verdade, não nos parece razões? O logos lumin não vez no imaginário social do doente mental e a psi- de seu saber, de sua fala e
gratuita esta comparação. suporta sua própria som- Ocidente, aquilo a que se quiatria etc. A partir da ins- depois de sua autonomia e
Pois, na realidade, a his- bra. A loucura é esse ex- chamou Questão Social. O tauração da ordem bur-
mesmo do seu corpo.
tória da loucura è uma his- cremento que precisa ser fundo no qual pode surgir guesa não sabemos mais ao
tória entre as diferentes afastado, ignorado da essa questão está no fato certo onde começa o saber O primeiro grande passo
"loucuras". Sendo que cabeça/razão. de que, pela primeira vez, a e acaba o poder e vice- desse processo que con-
umas acabaram por pre- Durante a Idade Média, riqueza passou a estar as- versa, pois saber para con- tinua até hoje foi o cha-
dominar sobre as outras. A a Igreja procurou associar sociada à produção, ao trolar é o outro lado de con- mado Grande Enclausu-
medicalização, ou seja, a loucura e tentação no ob- trabalho. O trabalho é trolar para saber. ramento mas o espaço des-
loucura de se achar no jetivo de nos salvar. Mas reconhecido como fonte de te enclausuramento — o
A expansão e.aplicação Hospital Geral — ainda não
direito de tratar/gerir os quem nos salvará da inten-
das técnicas disciplinares
outros, derrotou a muito ção da Razão? Com a todas as riquezas. Novos era um espaço disciplinar
foi gradual mas sempre
frágil loucura daqueles que palavra, nossas sombras. critérios passam a ser mas sim, repressivo. A
visam ser diferentes. E Se podemos dizer sem usados para classificar a crescente. Certos grupos preocupação era só de
diferente estamos enten- receios que existe uma população: os que tra- sociais mais vulneráveis e afastar do convívio social os
dendo aqui, em nossa evolução na história moder- balham e os que não tra- minoritários, acabaram ser- marginais (vagabundos,
sociedade disciplinar, a na do Ocidente, esta balham. Novas questões vindo de cobaias na ex- deliqüentes, libertinos,
recusa de uma identidade, a evolução é sem dúvida a surgem: como fazer tra-, perimentação das primeiras loucos etc). E, portanto, o
não assinatura do Pacto das tecnologias discipli- balhar essa massa de técnicas disciplinares louco ainda não era objeto
Social, a não disponibili- nares. Na ordem feudal es- desocupados? Como gerira modernas para uma pos- dum saber especial. Este só
dade à Produção. tes poderes ainda não se produção e os homens? E terior ofensiva geral das surge quando foi criado um
A ousadia deste tipo es- faziam necessários. Isto novas soluções: dar tra- disciplinas sobre o resto da espaço disciplinar especial
pecial de pensar era imper- porque a riqueza era prin- balho a todos, torná-los sociedade. Estes grupos para os loucos: o asilo.
doável para a nova ordem cipalmente extraída através produtivos. Está aberto o minoritários e marginais No momento em que
burguesa. Como indivíduos da conquista, da apro- campo para as técnicas dis- foram principalmente os Pinei liberta os loucos das
disciplinados, sérios e priação guerreira de terras e ciplinares entrarem ' em vagabundos, os deliqüentes correntes visíveis do Hos-
razoáveis, poderiam con- tributos, enquanto a cena. E com elas novos e os loucos. pital Geral, os loucos ga-
viver com o risco de sur- economia mercantil ainda saberes também apare- O caso da loucura é nham o estatuto de doentes
presa, do lúdico, da alte- tinha pouco peso. O con- cerão: a demografia; a exemplar na ilustração do mentais. E são presos às
ridade que o louco e o seu trole desta ordem feudal higiene; o assistencialismo; avanço dos poderes dis- correntes invisíveis da or-
discurso trazem à tona? E baseava-se, então, prin- a criminologia; a psiquiatria ciplinares. É verdade que a dem psiquiátrica nascente.
foi assim que, nesse pe- cipalmente na Repressão, etc. sociedade ocidental nunca (este artigo foi baseado nas
ríodo de transição entre a representada na figura do Ê importante observar aceitou totalmente os idéias de Robert Castel e
antiga ordem medieval e a Rei que pune exemplar- que todos esses saberes se loucos, mas certas épocas. Michel Foocaiút).

PAIHERODES:
"Filho bicha eu mato!"
Jufe, como ê conhecido por amigos, é muito que tive com ele, a primeira por sinal, tentando
R. Meus pais me deserdaram mesmo. Não
simpático demonstra uma total despreocupação amedrontar-me dizia: "se eu tiver um filho bicha
querem nem saber. 0 único contato que tenho
com tudo que o cerca. eu mato! "E isso me deixava pirado. Comecei a
com e/es é através de uma grana que minha mãe
Um único "problema": ele ê homossexual. E esconder meus a tos. E foi aí que começou a pin-
manda de vez em quando, que quase não dá prá
isso, por menos que seja observado em seu com- tar toda a repressão sobre mim. E o pior (ou
merendar. Até os estudos tive que largar.
portamento, ê motivo de grande repressão, prin- melhor?) ê que cada vez mais eu sentia que era
P. Tudo isso não lhe choca?
cipalmente por parte da família. essa a minha e que repressão nenhuma estava
R. Claro. Mas o que mais me aborrece é a
P. Quando e como você sentiu que tinha ten- conseguindo mudar meus pensamentos, desejos
atitude que ps meus irmãos tomam em relação a
dências homossexuais? etc. Só influenciava em meu comportamento,
mim quando estão com pessoas que não sejam da
R. Desde os 3 anos de idade (minha irmã sem- pois era totalmente castrado de agir como eu es-
família e eu chego. Eles tentam evitar de me
pre me dizia isso) eu jâ repudiava brincadeiras e, tava a fim, tanto por parte da minha família, como
apresentar como irmão ea té mesmo de que essas
até mesmo, roupas masculinas. Mas foi entre 5a7 pelas pessoas com quem convivia (colegas de pessoas me vejam.
anos que eu senti realmente minhas tendências e colégio, vizinhos etc).
tive a primeira experiência homossexual com dois P. E as repressões familiares, como eram?
P. Eo homossexualismo?
primos e mais um garoto de rua. R: De todo tipo. Desde surras até chegar ao
P. E qual foi a sua reação depois dessa ex- R. 0 homossexualismo, em primeiro lugar, é
ponto de mandarem que eu saísse da mesa e fos-
periência? uma barreira na vida de todo mundo. Pois nin-
se comer na cozinha. Isso meu pai gera/mente é
guém ou a maioria das pessoas, está ainda com a
R. Depois eu comecei a sentir remorso, achan- quem fazia. E meus irmãos ("os homens") quan-
cabeça aberta a ponto de aceitar o homosse-
do que tinha feito uma coisa horrível. E prometi do eu chegava em algum lugar que eles estavam,
xualismo. Pra você ver como isso é tão enrustido
nunca mais fazer aquilo. Mas com 14 anos eu tive iam saindo de fininho pré ninguém sacar e pro-
entre as pessoas, eu comecei a sacar o que real-
realmente um "caso". A gente transou até os 17 curando o caminho em que fosse possível nem ter
anos (meus, pois ele era mais velho). Enesse tem- que falar comigo. mente significativa a palavra homossexualismo ten-
tando ler em dicionários e a recortar toda repor-
po começou a explodir dentro de casa as fofocas
tagem sobre o assunto. Pois as dúvidas que eu
e repressão. P. E qual era o tipo de repressão dessas outras
tinha e as que eu estava a fim de tirar as pesoas
P. E como seus pais viam você? pessoas (vizinhos etc)? Como elas reagiam? não iriam me dizer, muito menos meus irmãos que
R. Meus pais sempre me trataram com muito R. Os colegas não queriam minha companhia.
nunca tiveram um papo realmente comigo e não
carinho e atenção. Mas quando começaram a Viviam soltando piadinhas a meu respeito. Os seria sobre este assunto que e/es iriam conversar,
perceber meu comportamento, diferente dos vizinhos, naquela fofoca toda que já ê de cos-
dialogar comigo. Mas eu vou à luta, porque acho
outros irmãos, meu pai, particularmente, co- tume. E ainda por cima com um prato desses. Mias
que as pessoas têm maisé que me aceitar e aceitar
meçou a me dar trabalho pesado, pegar na en- eu sempre tive alguém que me aceitava (amigos, é o homossexualismo.
xada, cortar meu cabe/o (tentando manter minha claro).
aparência física de homem) i te. E numa conversa P. Ea família, de novo, nisso tudo? Entrevista concedida à Kátia Regina Borges.

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ABRIL & MAIO DE 1979 O INIMIGO DO REI PAGINA 15

Por um socialismo sem "vanguardas"


MAS... ONDE AZEDOU O GUISADO? Agora, para assumir o controle do poder e
RICARDO LÍPER exercè-lo em cima do proletariado seria necessário
Embora seja importante a constatação da haver uma justificativa ideológica. Seria neces-
0 QUE OCORREU COM O SOCIALISMO? realidade socialista autoritária, da sua política de sário criar-se uma ideologia, no sentido marxista
direita, de seu fascismo disfarçado de socialismo, do termo, para justificar a necessidade de a van-
Em quase um século de experiência, o socialis- o mais importante è a superação dialética ou en- guarda dirigir a revolução e o Estado Socialista
mo onde se implantou vem desmentindo tudo contrarmos onde ocorreu a infiltração do fascismo Autoritário. Essa ideologia de classe pequeno-
no socialismo. Onde a ideologia do operariado burguesa è a teoria da necessidade do estágio
que se pensava ser o socialismo nos primeiros
abriu as pernas e recebeu o falo fascista que a es- preparatório do Socialismo para a estruturação do
congressos operários e na Primeira Internacional.
tuprou e reduziu à prostituição. Porque o co- comunismo. Isto è, em resumo, a mesma jus-
É impossível se ser socialista hoje com a mes-
munismo autoritário não passa de um socialismo tificativa que Maria Antonieta tinha para o exer-
ma tranqüilidade de ontem. Só os ignorantes,
estuprado, violentado pela ideologia burguesa, cício do poder "por direito divino". 0 povo é
adolescentes e privilegiados dentro de organi-
ou, sendo mais preciso, pela noção pequeno- imaturo para a democracia. E, se quiserem, o ar-
zações socialistas (Partidos Comunistas da Europa
burguesa de que o movimento socialista deveria gumento chave do colonialismo: os povos co-
e os próprios governos) conseguem a proeza de
ficarem tranqüilos diante do monte de mentiras, ser dirigido por "vanguardas intelectualizadas" lonizados precisam de nós para civilizá-los. 0
que organizariam o operariado, dando-lhe "cons- proletariado precisa da "vanguarda" para con-
retrocessos, alterações, negociatas, oportunismo
ciência de classe" num partido revolucionário (sic) duzir o socialismo, educá-lo, guiá-lo ou coisa que
e exploração dos operários nos países socialistas.
para vencer o capitalismo. o valha. /
É difícil para um socialista inteligente ficar de //
olhos fechados diante dos "hospitais psiquiá- Em matéria de ideologia, as classes dominan-
Após a derrubada do capitalismo, essa vanguar-
tricos" da URSS, do terrorismo cultural e policial tes, decididamente, não têm imaginação...
da assumiria o controle do poder, nacionalizaria os
desenfreado de todos os países socialistas e, o / ;
meios de produção e planif icaria a economia. Em
muitíssimo mais grave, de cada vez mais aber- QUEM ERROU?
resumo, a "vanguarda" dominaria os meios de
rantè diferença de salários entre intelectuais, téc-
produção e de comunicação para "educar o
f
nicos e políticos do partido (a "vanguarda" da Não adianta ficar procurando quem errou.
operariado" para a construção do comunismo. Foi
revolução) e os operários. Ninguém errou. De Marx a Mao Tsé-Tung está
aí precisamente que o socialismo foi estuprado
No iníeio> essas notícias eram pouco divul- implícita a noção de vanguarda e a organização
pela pequena burguesia e depois, quando essa
gadas. 0 marxista dormia tranqüilo acusando a monolítica do partido comunista. Stalin foi tão
vanguarda (sempre oriunda da pequena bur-
CIA de fabricar essas "mentiras" sobre os países necessário como Lenin e tão face da mesma
guesia) assumiu o controle do poder prostituiu-o a
socialistas e quando era mais inteligente justifi- moeda que é estéril ficar culpando-o quando a
ponto de colocar camponeses contra camponeses
cava isso de uma maneira mais marxista, descul- culpa é da estrutura do socialismo de vanguarda.
sob o mesmo rótulo de socialismo.
pando possíveis "pequenos" desvios dos obje- O que houve não foram Stalins, essa análise ê
tivos principais como sendo estratégias dialéticas simplista e oficialesca; o que há é um socialismo
Não há dialética que explique, não há mate-
necessárias à construção do socialismo. que comporta no seu seio o embrião de uma nova
rialismo histórico que agüente e precisa muita
cuca para inventar coisas que expliquem essas classe. A monstruosidade de um Stalin e o
Mas o socialismo implantado foi piorando dia a
contradições. Só mesmo, repito e insisto, o delírio grotesco de um Fidel Castro são conseqüências e
dia. Com o surgimento da revolução chinesa, não
total: Superman foi o responsável pela invasão, não causas.
quero nem citar o problema Trotsky, dois países
pela China, do Vietnam. Em resumo: o socialismo O socialismo autoritário é de direita. É a única
socialistas marxistas vão gradativamente se afas-
foi prostituído e virou brega. maneira de explicar sua história e seus porquês. A
tando e finalmente — o que poderíamos chamar
outra é apelar para Superman.
de o "gran finale" de uma ópera bufa — ,
GUERREIAM-SE MATANDO OPERÁRIOS E 0 importante percebermos a causa. 0 socialis- Outra coisa importante é perceber-se que um
CAMPONESES NA PRIMEIRA GUERRA SO- mo não é um bloco monolítico, muito pelo con- socialismo proletário não è a continuação do
CIALISTA e para completar a comédia é o im- trário; quem pretende que a esquerda seja uma desenvolvimento industrial capitalista, condição
perialismo americano que, cinicamente, pede coisa só, dirigida por Moscou, è a "vanguarda" objetiva, para Marx, da revolução socialista —
paz... falocrata (Fidel com um charutão na boca é sim- mas uma revisão do industrialismo numa eco-
Será que Superman infiltrou-se em Moscou? bólico...) porque está visando seus interesses de nomia autogestionária. f um parcial rompimento
classe oriunda da pequena burguesia. com o que existe de inchação capitalista no seu
É a única explicação viável e não faltarão mar- O socialismo é dinâmico e variado. desvairado sistema industrial. O que cria as con-
xistas boçais que acreditarão nisso, se assim o dições para a mudança è o desenvolvimento do
Existe uma corrente importante do socialismo
quiser a chefia do seu partido. Porque se deve capitalismo, que estoura suas próprias contra-
que diante dessa violação da ideologia proletária
notar que outra decadência acentuada è no dis- dições, mas cabe ao socialismo revisar o desen-
vê a solução num socialismo sem vanguardas. Um
curso do esquerdão. Parece que perderam a volvimento industrial para criar o equilíbrio
socialismo proletário, sem poder, sem intelectuais
serenidade indispensável ao político revolucio- ecológico.
autoritários que dirijam o movimento operário,
nário e passam a atacar todo mundo chamando, a Isto em termos de marxismo é heresia, porque
sem novas classes. A questão fundamental do
quem ousa criticá-la, de direita, reacionários, e está bastante claro no "Manifesto Comunista",
socialismo passa a ser a contestação do poder
queimam pessoas notoriamente de esquerda com para só citar uma fonte mais conhecida, que as
numa sociedade socialista, uma vez que poder só
trabalhos e passado revolucionário nitidamente a condições fundamentais para a passagem do
é necessário às classes dominantes.
favor das camadas oprimidas da sociedade. capitalismo para o socialismo è o superdesenvol-
Acreditam em coisas inventadas e fantásticas para Historicamente, o que ocorreu è que uma fac- vimento do capitalismo e que a passagem do
desculpar essa ou aquela aberração dos governos ção intelectualizada da pequena burguesia, socialismo para o comunismo é o superdesenvol-
marxistas. Passam assim a ser alvo do riso e sua aproveitando-se duma das crises do sistema vimento industrial socialista. Logo, o caminho da
maledicència gratuita com todos, que não são tão capitalista, apropriou-se do poder, oferecendo al- construção do comunismo é a poluição... Espan-
ingênuos ou boçais como eles, dá na criação da gumas soluções às crises econômicas do capitalis- toso é perceber-se, aí também, no seio do pla-
primeira esquerda de direita que já existiu na his- mo, dentro duma visão industrialista do próprio * nejamento econômico do socialismo autoritário,
tória. Essa atitude de falsear a informação, re- capitalismo (socialismo para Marx è uma etapa concepção pequeno-burguesa de desenvolvi-
cusar-se a analisar a realidade objetiva interpre- dialeticamente superior do próprio capitalismo) e mento.
tando-a e superando-a dialeticamente para es- obteve uma certa vigência histórica. Operou, Mas esse acidente histórico por que o socialis-
tágios mais avançados da percepção da verdade é como era de se esperar, certo desenvolvimento, mo passa é um desafio ao seu próprio desenvol-
de direita. É a direita que queima os adversários conseguindo equiparar sociedades feudais a sis- vimento.
políticos pelo simples fato de queimá-los, não in- temas modernos capitalistas de indústria, moder- 0 socialismo autoritário é uma etapa, um
teressando se eles representam uma contestação nizou alguns países, mas efetuou uma parada his- atraso, uma coisa reacionária que ocorreu dentro
necessária ao próprio desenvolvimento da civi- tórica reacionária na revolução proletária o dirigis- do movimento operário. Daí, inclusive, o seu
lização. mo pequeno-burguês, criou a "vanguarda" sucesso quase que imediato. Mas, com sua, já
proletária que constituiu-se numa nova classe. acelerada, decadência, começa a ser superado
A direita é mentirosa, pretensiosa e censura dialeticamente por formas mais à esquerda e a
tudo que lhe é inexplicável. Na ânsia de manter o Daí é perfeitamente compreensível que o ideologia proletária volta-se para uma nova forma
poder ou conquistá-lo, a direita não mede esfor- socialismo para Marx seja uma continuação — um de socialismo: um socialismo sem vanguardas
ços para liqüidar os adversários. Se não fecha com estágio dialético superior, economicamente falan- para a construção de uma sociedade sem poder.
ela e não segue de orelhas murchas suas ordens, do — do próprio capitalismo e que a vanguarda Enfim, uma sociedade verdadeiramente so-
passa a ser um herético e, portanto, alvo de todas surja para dirigir o processo. cialista porque o resto não passa de variações que
as manobras para a eliminação. o capitalismo, o industrialismo, a planificação
É perfeitamente coerente a teoria marxista e o econômica criaram e que chamam, às vezes, de
O esquerdão age assim e, portanto, é tempes- que ocorre nos países socialistas. Está tudo ex- socialismo, mas nós, que já estamos na idade de
tivo que se compreenda que o socialismo auto- presso no "Manifesto Comunista" e em "O perder a inocência, temos a obrigação de separar
ritário é de direita. Capital". o joio do trigo...

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PÁGINA 16 O INIMIGO DO REI ABRIL & MAIO DE 1979

BIBLIOTECA
"Os despossuídos"
Uma escola Ursula K. Le Guin parece ser a pioneira de um gênero
literário bastante insólito: a ficção cientifica anarquista. Tal-
Uma Alegoria da
para o povo vez pudéssemos considerar como seu precursor a "Uto-
pia", de Thomas Morus, se uma leitura mais atenta não nos
revelasse ser esta obra, na realidade, a apologia de uma
Sociedade Burguesa
"A escola, como instituição, não apenas não tem o poder para sociedade patriarcal e escravagista. O livro de Ursula co-
modificar a estrutura social como, mais do que isso, geralmente meça com a viagem do físico Shevek, de Anarres, planeta Poucas obras de Stig Dagerman foram traduzidas para a língua
confirma e sustenta essa estrutura." Maria Teresa Nidelcoff. anarquista, para Urras, mundo semelhante ao nosso, de portuguesa. Assinalamos apenas "O Vestido Vermelho", roman-
onde partiram outrora os povoadores de Anarres como ce, edições Portugá/ia, Porto, e um conto traduzido por Daniel B.
exilados. A autora aproveita o contraste entre as duas Brito publicado pelo suplemento do Jornal do Brasil em sua fase
Ninguém pode cobrar de Meria Teresa "coisas novas" em seu
sociedades para, á maneira de Robert Heinlein, colocar conçretista. Agora a Civiliza ção Brasileira vem de lançar a "Ilha dos
livro sobre o problema da escola institucional na Argentina e no
mundo. Ba não traz "coisas novas" e sim questionamentos re- seus personagens em discussões filosóficas {sobre a vida, o Condenados", em tradução direta de Birgitta Lagerbland de
volucionários sobre o papel da educação na sustentação e per- sofrimento e, é claro, o anarquismo) mas, felizmente, sem o Oliveira.
petua cão da sociedade de classes. moralismo beato do autor de "Um Estranho Numa Terra
Estranha". Dagerman nasceu em 1923, na Suécia. Seus pais foram
A autora condena os professores que vêem na escola apenas o Ê essa noção de contraste que vai marcar todo o nosso operários inteiramente voltados para a dura tarefa de sobrevivên-
lugar físico do aprendizado e que ignoramos que seus alunos itinerário político pelos dois mundos da novela: pois se a cia. Cedo dirigiu-se para Estoco/mo, onde tomou conhecimento do
procedam dos mais variados estamentos sociais. E que, ainda sociedade de Anarres é libertária, ela o é em relação à sua bem estruturado movimento anarco-sindicalista sueco, ao qual
mais, fingem ignorar que a escola não pode aplainar essas diferen- opositora em Urres, e se esta é autoritária, é devido ao seu permaneceu engajado até o fim de seus dias. Esse movimento é
ças de c/asse. Para o professor alienado (a que a autora chama de equivalente oposto em Anarres.
"professor-policial"), apesar das diferenças sociais, nas escolas representado pela central operária SAC (Sveriges Arbetares Cen-
Mas não se iludam com isso, achando que "Os Despos- tral organisation) e pelo seu porta-voz diário, o jornal "Arbeteren",
"todos têm as mesmas chances". Maria Teresa prova justamente
o contrário, prova que o aluno vindo das c/asses trabalhadoras es- suldos" ê a estória de um paraíso perfeito, uma apologia no qual Dagerman iniciou a publicação de seus trabalhos literários.
tará vivendo fora de seu habitat natural, lendo nos livros a realidade romântica do anarquismo enfeitado com naves espaciais.
e a história dos vencedores (a burguesia e outras c/asses dominan- Aplicando a dialética à literatura, ela nos mostra uma so-
tes da história) e não a sua realidade de miséria e a história da sua ciedade onde ainda subsistem traços da antiga ideologia; Desde a publicação de seu primeiro romance, Dagerman foi
classe. onde o coletivismo, tornando uma obsessão, sufoca a in- considerado pela crítica do país como um gênio. O melhor da sua
dividualidade dos cidadãos. Ironicamente, Shevek des- produção surgiu entre 1945 e 1949 e são quatro romances, contos,
cobre sob as formas espetaculares da sociedade urrasti, al- quatro dramas, artigos, críticas, crônicas, poemas etc. De uma
Diz a autora que o aluno-operário toma contato com uma cul-
tura que lhe é imposta, a cultura burguesa; a escola não procura guns aspectos que fazem falta em seu mundo. Nihilismo? fase de intensa.produção, segue-se a final em que quase nada
lhe dar oportunidade de mostrar a cultura da sua c/asse que é tão Não, apenas uma constatação:, mesmo o anarquismo, publicou. Aos 32anos, acometido de grave crise nervosa, pós fim à
rica quanto a de qualquer outra. Os livros escolares apresentam o vida de modo dramático e inesperado.
transformado em consenso majoritário, perder seu caráter
ideal de vida da segurança, do automóvel, da poupança, coisas revolucionário: torna-se Doxa, senso comum.
que não dizem respeito ao escravizados do dia 'a <dia.
Com impiedade e talento, Ursula K. Le Guin põe em
cheque alguns dos mais arraigados mitos da (s) esquerda A ' 'Ilha dos Condenados " é a alegoria de nossa sociedade com
O livro ainda estabelece uma dialética 'entre o "professor- {s): o apelo ao sacrifício, o culto das lideranças, os ideais todos os conflitos e contradições. Sete náufragos, cinco homens e
policial", aquele que perpetua a dominação de c/ase, e o "profes- ascéticos. Seu personagem representa o anarquista mais duas mulheres conseguem atingir uma ilha que é habitada por aves
sor-povo", o que mesmo reconhecendo as limitações da escola, marinhas e repugnantes lagartos. Um barril de água e escassos
radical; aquele que não hesita em desafiar até os princípios
tenta mostrar aos seus a/unos a irresistível solidariedade que deve alimentos pressupõem um fim inevitável: a morte das sete per-
libertários, quando estes se sedimentam em ideologia.
haver os oprimidos porque, afinal, o professor também é um sonagens. O autor faz uma terrível análise de nosso mundo afluen -
trabalhador. O "professor -povo" não impõe uma cultura, nem a Nota. outros aspectos desse obra mereceriam uma
análise mais atenta: as questões de física e da sexualidade, te e podre. Não há concessões possíveis, o militarismo, a explo-
sua nem a do sistema; ele procura, muito mais, aprender com seus ração, a dominação, a religião, a alienação, a moral sexual, o amor
alunos a cultura destes e com isto tentar ajudá-los nos caminhos por exemplo. Esta última cumpre uma função absoluta-
mercenário são postos a nu e irremediavelmente reduzidos a quase
possíveis de libertação. Libertação que não é só de uma c/asse, a mente asséptica, ela é necessidade e não desejo. 0prazer
operária, mas èada humanidade inteira. nada. Um romance brutal e chocante. Ê leitura mais do que re-
sexual é substituído pela noção de trabalho. "Otrabalhoéo
comendada.
prazer mais duradouro da vida, "diz Shevek. Isto parece
UMA ESCOLA PARA O POVO, de Maria Teresa Nidelcoff, confirmar a teoria de Freud sobre o aumento da repressão
Editora Brasiliense, São Paulo 1978; 104pp; Cr$80,QO. ' A Ilha dos Condenados, de Stig Dagerman. Editora Civilização
em relação ao progresso da civilização. Aliás, "0 Mal-Estar
Brasileira S.A., Rio 1979:242pp; CrS 120,00.
na Civilização", deveria ser leitura obrigatória para todos os
utopistas demasiado otimistas. Marcus do Rio
Antônio Carlos Pacheco José Liberar ti

Opinião sobre Nesta rápida passagem pela his- sequentemente, ganha forma a Para isso impõe-se a necessidade revisores calculistas, exercem fun-
tória de autogestão, não a situamos "mais-valia" {por meio do trabalho da socialização dos bens, (não nos ções puramente administrativas, e
autogestão em termos libertários, salvo a ex-
periência vivida durante a Revolução
assalariado) em razão direta de referimos a nacionalização, não é a não diretivas. São encargos dados e
Caros senhores: produção não paga pelo capitalista. mesma coisa) o domínio absoluto aceitos livremente, cumpridos es-
Um amigo ofereceu-me vosso Espanhola. Tais experiências tiveram Assim, a produção es tf es- dos processos de produção em todos crupulosamente, já que suas atri-
jornal "0 INIMIGO DO REI". Li, sempre como inimigos forças exter- quematizada dentro dos propósitos os campos de trabalho, com abolição buições não são de mando mas de
gostei e embora em trânsito no Rio nas poderosas ou o poder neutra- da exploração do trabalho operário.
do assalariado, o controle total da trabalho; não impõem idéias ou von-
de Janeiro, resolvi dar a minha lizador do Estado a limitar-lhes a ex- Por outro lado, a propriedade no distribuição, consumo e obtenção tades próprias, mas executam re-
opinião sobre Autogestão, um tema pansão, a reduzir-lhes os meios de seu processo jurídico — ainda que ,das matérias-primas. Ê aqui que en - soluções tomadas em reuniões den-
tanto em voga nos dias que correm. sobrevivência, a cavar-lhes as sepul- "legalmente" registrada — carac-
turas. tra, com toda a segurança, a au- tro de cada coletivo.
Gostaria de a ver publicada em teriza-se pelo domínio de quem a togestão, como elemento produtor
Autogestão, estudada aqui e As assembléias gerais, freqüen-
vos j jornal. Logo que me estabilize possui. E, convertida assim em dentro do novo sistema para subs-
agora, leva-nos a um exame em tes, promovem as substituições não
entrarei em contato para pedir o jor- propriedade privada dos meios de tituir triunfa/mente a máquina gover-
nal. Grato. profundidade. só porque as funções são encargos e
A base da sociedade é de pro- produção, ganha forma de poder na nativa do capitalismo. não privilégios, mas também porque
FRANCISCO RODRIGUES. classe possuidora, vale como ins-
dução de todos os bens necessários contribuem para a educação de
A autogestão — na prática — é à vida. Compõe-se de uma orga- trumento de domínio material e Autogestão atuará como órgão
todos ao mesmo tempo que quebra
muito anterior à teoria, tem sua his- social no processo da produção, importante na transformação do sis-
nização de forças vivas (trabalha- os desejos subjetivos de liderança
tória própria. Olhando para trás, cujos frutos alimentam seus deten- tema de produçâo-distribuição-
dores) que usando a técnica e a que irão fatalmente surgir nos pri-
vamos encontrar suas raízes no sis- tores e aqueles que diretamente não administração, mas não é, por si só,
máquina produzem em razão de um meiros tempos.
tema de "Pozo", na China; no ícaro extraem a "mais-valia" do trabalho a nova sociedade. Cada campo, cada
esquema de oferta e procura pre- Autogestão ou resulta da ação
andino, com o "Aullu"; no México assalariado, mas constituem a casta fábrica, cada oficina, cada mina,
viamente elaborado pelo sistema' direta ou fracassa. Por meio de con-
com o "Calpulli"; no Brasil, com o dos burocratas que cobram sua parte cada pólo de produção será um
capitalista, onde o dono do produto cessões governamentais nunca se
"Quilombo de Pa/mares", sob forma de impostos. reduto autogestionário, integrando
do trabalho assalariado é sempre o chegará à autogestão libertária!
(1600/1694) e na "Colônia Cecília"; patrão. Só a eclosão de um movimento de forma global, a nível local, mu-
em Moçambique, com "Os Marcon- Este possui as fábricas, as má- revolucionário, baseado nos prin- nicipal, regional e nacional, a nova
des"; em Portugal, "Vilarinho da sociedade, materializada pelo sis- Isto porque autogestão é uma
quinas e todos os bens de produção cípios da igualdade social, ao der-
Furna" e "Rio Onor"; na França, tema de trocas de produtos arma- obra experimental, inacabada, que
e, ipso facto, domina os centros de rubar e destruir o sistema capitalista
com a "Comuna de Paris"; na Rús- zenados e distribuídos pelas co- precisa evoluir constantemente,
trabalho, sua organização, e o sis- e suas estruturas, poderá a nível de
sia, em 1905, 1918 e 1922; na Grécia; munas. receber sempre e sempre impulsos
tema capitalista de produção domina base, pôr em franco funcionamento
na Itália; na Argélia; na Iugoslávia; na renovadores de aperfeiçoamento e
o sistema capitalista de organização. a produção, distribuição e controle,
índia; no Japão; e na Espanha, Sem funcionários pagos em vitalização. Sem isso acaba caindo
Desta ditadura comercial resulta paralisados com a derrocada do
durante a Revolução de 1936-1939. moeda, autogestão, na sua forma na rotina, entra em estado de es-
que uma parcela pequena da so- regime conservador, em condições,
Em Israel, os "kibutzim" datam mobilizando os instrumentos mais pura terá de ser administrada clerose, aburguesa-se e morre co-
ciedade detém a riqueza e a grande
de 1910, enquanto o Estado nasceu ideológicos catalisadores de forças pelo sistema de rodízio, onde um mo está acontecendo em Portugal
maioria fica com a pobreza, e, con-
em 1948. autogestionárias duradouras. secretário, conselheiro técnico e (1978 79).

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/ _ HETEROGESTÃO: EX- dadeiras e necessidades de consumo sem divisão e controle efetivos do


PLORAÇÃO, ALIENAÇÃO E impostas pela propaganda do rádio, poder de decisão, sem autogestão.
DOMINAÇÃO. TV, cinema e jornais.
II — AUTOGESTÃO E POSSE
O socialismo libertário carac- A Dominação SOCIAL
teriza-se pela aspiração à autogestão ESTÃO SEMPRE LIGADAS
das empresas e do conjunto da vida Estar dominado é ser uma
social. Somente ele poderá satisfazer marionete uma roda dentada numa 1. No sistema capitalista a pro-
às necessidades conjuntas dos estrutura de poder dirigida do ápice. priedade dos meios de produção e de
produtores. Os patrões, quer sejam os diretores troca gera todos os direitos:
Observando atentamente a possuidores ou os representantes do — direitos de usar os meios de
sociedade de heterogestão em que capital, detêm toda a autoridade e o produção. Os donos da propriedade
habitamos, podemos constatar três poder de mando. São sempre eles utilizam e gerem como querem as
aspectos interrelacionados: a) a ex- que decidem pelos-trabalhadores nos empresas. Ê a propriedade que for-
ploração; b) a alienação; c) a do- problemas das empresas que são nece o poder de decisão em todos os
minação. relativas aos trabalhadores. níveis.
Nos regimes ditos "socialistas", — Direitos de lucros. São os
A EXPLORAÇÃO isto é, de capitalismo estatal, o mes- capitalistas que recebem os lucros
mo fato ocorre. O patrão é o estado e decidem os investimentos etc. Os
Os trabalhadores vendem sua a classe burocrática, que detém o trabalhadores, verdadeiros criadores
força de trabalho. Eles são para as poder, decide pelos trabalhadores, das riquezas, não têm nenhum
empresas capitalistas "máquinas sem consultá-los. direito nesse sentido. Remunera-se
vivas", "robôs. <? produto de seu Quer num regime ou noutro, os apenas a força de trabalho, ao preço
próprio trabalho não lhes pertence. seres humanos são, na totalidade, mais baixo possível.
Ser explorado é, portanto, não considerados incapazes. A situação Direito de abusar da pro-
receber o fruto de seu trabalho, mas será sempre a mesma quer os priedade. Os proprietários podem
um simulacro a que se denomina operários estejam inseridos numa es- decidir a venda ou o fechamento de
salário. trutura paternalista e autoritária uma empresa, sem que os operários,
..>.:.. Sendo o trabalho, anual e in- clássica ou numa estrutura moder- que de fato constituem a empresa,
telectual, a única fonte de riqueza, o nizada. possam opinar e dicidir. Para os
capitalismo e o socialismo de Estado Traçar a perspectiva de uma proprietários, só contam o poder do
o consideram apenas como capital. sociedade libertária de autogestão é capital e a lógica do lucro.
Somente interessa a lógica do lucro. contestar essas três características do 2. Numa perspectiva de autoges-
Entretanto, a exploração não está capitalismo ao mesmo tempo. Épas- tão libertária, a situação é radical-
apenas ao nível dos salários. Ela se sar de uma situação a dependência, mente diferente; trata-se de subs-
manifesta em todos os aspectos onde onde os seres humanoss&oapenas ob- tituir o poder do capital pelo do
a dinâmica do capital domina a do jetos, a uma situação de liberdade, trabalho.
trabalho: no urbanismo, nas ha- na qual os seres humanos tornam-se • A autogestão libertária implica
bitações, nos transportes, na cul- autores responsáveis de suas vidas e numa expropriação do capital. Afir-
tura, no lazer, no consumo etc. atividades. ma a necessidade de que os tra-
O trabalhador é submetido a Construir a Autogestão Liber- balhadores tenham o poder de
uma exploração está sempre tária é, a um só tempo:
CO
decisão nas empresas, que obtenham
pre sente onde o lucro domina. 1. Suprimir a exploração definida os benefícios do fruto de seu tra-
pela lógica do capital e conseqüen- balho.
A Alienação temente do lucro. É, portanto, ex- A posse social não tem sentido
propriar o capital e instituir a posse sem a autogestão, que supõe efe-
A palavra alienação tem um sen- social dos meios de produção. tivamente uma socialização da
tido antigo, dentro do domínio da 2. Lutar contra a alienação do propriedade e dos direitos que lhes
psiquiatria, e serve para denominar reino da mercadoria. É, portanto, são ligados.
a pessoa totalmente desequilibrada, desenvolver uma planificação liber- Numa sociedade libertária, o
louca. No sentido a que nós que- tária que coloque a produção a ser- controle dos trabalhadores de cada
remos referir, é o modo de experiên- viço das reais necessidades hu- empresa, dos utilizadores de cada
cia em que a pessoa não se sente manas. equipamento coletivo, está neces-
como a criadora de seus atos e passa 3. Por fim à dominação de uma sariamente limitado pelos direitos
a projetar em objetos externos e ins- maioria por uma minoria nas es- dos trabalhadores de outras em-
tituições seu próprio poder. Nas em- truturas do poder hierárquico. E, presas e dos utilizadores de outros
presas, os trabalhadores estão portanto, romper as estruturas equipamentos coletivos.
alienados porque são obrigados a hierárquicas das relações sociais Contrariamente às propriedades
produzir coisas que estão separadas atuais, afim de atingir relações capitalistas de livre empresa ou es-
dos interesses e alcances de quem os sociais igualitárias. tatal, a posse social não fornece
produziu, para se transformarem em A autogestão é o denominador nenhum direito absoluto aos tra-
mercadorias. Os trabalhadores estão comum desses três eixos de cons- balhadores das empresas ou aos
alienados porque o produto do seu trução da sociedade libertária: membros da coletividade autoge-
trabalho não lhes pertence, lhes es- — Não há posse social dos meios rida. Os interesses parciais de um
capa. Há a separação entre o pro- de produção sem controle coletivo grupo não devem ir de encontro ao
duto e seu produtor. desses meios. Afirmamos, controle interesse geral. Isso porque, nesse
Na sociedade de regime capi- coletivo e não controle do Estado. A nível, o desenvolvimento da autoges-
talista de livre empresa ou na ca- posse social dos meios de produção tão ligada à posse social depende da
pitalista estatal (socialista), a pu- só tem vigência numa perspectiva de consciência social dos trabalhadores.
blicidade impõe um certo tipo de autogestão. É somente no quadro global da
consumo. O produto é um objeto a — Não há planificação libertária posse social inseparável da au-
ser vendido para se obter luepo, an- sem discussões em todos os níveis de togestão que terá fim a existência
tes de ser instrumento de satisfação decisão e sem autogestão. do Salariato como ruptura entre o
de necessidades reais. Há diferenças — Não poderá haver nascimento trabalhador e seu produto, o tra-
marcante entre necessidades ver- de relações sociais mais igualitárias balho e o fruto do trabalho, numa

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supressão das relações de dominação humanos, como não pode mais con- um professor não ê um instrumento
do capital sobre o trabalho. Su- tinuar sem conduzir o mundo a uma divulgador de "verdades" que
primida o salário, cada produtor catástrofe. devam ser digeridas. Conceber a for-
seria suprido segundo as suas neces- A organização mundial atual do mação dessa maneira é fabricar
sidades básicas de vida. desenvolvimento repousa sobre o manadas de carneiros. A autogestâo
III - AUTOGESTÃO E PLANI- crescimento considerado como um que implica um grau crescente de
FICAÇÃO fim em si. Imerso no movimento de responsabilidade, necessita também
LIBERTÁRIA SÃO COMPLE- concorrência internacional, o so- de uma verdadeira revolução pe-
MENTARES cialismo de autogestâo não pode dagógica.
aceitar o produzir por produzir, afim — A capacidade dos traba-
Em economia capitalista, falar de manter os critérios de progresso e lhadores autogestionarem as em-
de planejamento denota, às vezes, de bem-estar do mundo atual. Ele presas não implica que cada um se
um abuso de linguagem. Na so- coloca em questão as formas deste torne um especialista em todos os
ciedade capitalista, o planejamento progresso não somente em termos domínios. Ê entretanto claro que
não é de nenhum modo guia do con- qualitativos {o transporte coletivo em toda uma capacidade de criação, de
junto de atividades econômicas; é o relação ao transporte individual; o inovação que estão recalcadas pelos
lucro o único motor da economia. O hospital antes do canal de TV), mas esquemas de decisão hierárquica
planejamento tem por função prin- também quantitativos: que significa poderão se exprimir se as condições
cipal organizar as ações e as inter- produzir mais, se isso implica em favorecerem.
venções do Estado numa orientação trabalhar mais e ter menos tempo Se os engenheiros, os organi-
favorável aos interesses capitalistas. para lazer? Qual o interesse de uma zadores e todos os "especialistas"em
Trata-se de uma planificação da produção suplementar se, em vez de geral, têm um função indispensável
função econômica do Estado e não liberar, ela aliena mais o homem na sociedade atual, sua verdadeira
de uma planificação da atividade pelas novas taxas engendradas por eficiência não pode ser senão na
econômica em seu conjunto. esse tipo de produção? medida de sua capacidade em de-
Para o socialismo libertário, senvolver e coordenar essa criati-
V— A AUTOGESTÂOÉPOS-
autogestâo e planificação demo- vidade potencial.
SÍVEL E NECESSÁRIA.
crática são complementares. A 0 mito do especialista e o Mito 2- O Mito da Eficiência Capitalista:
autogestâo que instaura uma direção da eficiência capitalista O capitalismo que se satisfaz
coletiva da vida social e econômica, mascarando suas taras fundamen-
implica, a nível global, num plano 1 — O Mito do Especialista: tais por trás das necessidades de
que é a resultante da coordenação As sociedades capitalistas indus- toda a sociedade industrial desenvol-
das diversas unidades econômicas e triais procuram justificar de múl- vida, tenta justificar o que chamam
sociais descentralizadas. tiplas maneiras seu funcionamento "de defeitos inevitáveis" em face dos
A autogestâo qualifica um fundado na exploração e na do- imperativos de eficiência e de gestão.
processo coletivo de decisões, en- minação. Em nome dessas justifi- Após a Revolução Industrial e até o
quanto que o planejamento é relativo cações ideológicas, o mito do es- IP pós-guerra, a organização ca-
a um modo de organização da vida pecialista tem uma função muito pitalista das empresas foi em face do
econômica e social. importante. capital e de seu crescimento, um
Não é possível conceder um As estruturas hierárquicas de modo de organização relativamente
plano democrático em suas fina- decisão ocultam-se através de uma eficaz. Do ponto de vista dos tra-
lidades sem que ele o seja a nível dos pseudo-necessidade técnica. Sa- balhadores a realidade era eviden-
meios. A dinâmica da autogestâo, bemos que a hierarquia do poder es- temente bem diferente. A eficiência
nos quadros de uma planificação tá longe de coincidir com as de com- do capitalismo tornou-se um ver-
democrática, visa a fornecer um es- petência técnica. Podemos, por dadeiro mito. De um estrito ponto de
pectro onde os problemas essenciais outra parte, constatar que certas vista econômico Global ela se encon-
exprimem-se sem serem dissimu- técnicas adquiridas não são efe- tra cada vez mais contestada. A
lados ou artificialmente resolvidos. tivamente utilizadas pelos que as revolução científica trouxe impor-
Ela implica efetivamente em tensões, possuem; sua posse serve apenas tantes conseqüências a nível do
conflitos, que são necessários e cons- para justificação. Cita-se o exemplo processo de produção. Para se adap-
trutivos, 'porque exprimem a rea- de um contramestre que fazia de tar a essa nova realidade o patronato
lidade das relações sociais onde cada seu conhecimento do cálculo di- tem se valido de novas técnicas na vã
indivíduo e, conseqüentemente, ferencial a justificação fundamental esperança de integrar a contestação.
cada empresa, não se identificam de seu direito de dirigir os operários, Essas técnicas de gestão estão sem-
imediatamente com o conjunto da porque eles simplesmente ignoravam pre ligadas à glória do capital: trata-
sociedade. o que era o cálculo diferencial. Ora, se de descentralizar certas decisões à
É através deste confronto entre esse contramestre jamais utilizou altura de departamento de empresa.
produtores, consumidores e o ci- essa competência em cálculos. É Certos níveis de quadros são assim
dadão, os conflitos entre a empresa e evidente que numa perspectiva de impelidos a jogar um papel mais
a sociedade, que o socialismo au- autogestâo do socialismo, os pro- ativo.
togestionário pretende fazer evoluir blemas de formação tomam um Esses métodos são paliativos e
uma maior organização da socie- caráter determinante. A elevação zstão a serviço da lei do lucro visan-
dade. A supressão dos conflitos, não geral do nível de formação técnica e do a manter as estruturas de do-
se decreta, mas constrói-se numa política e a distribuição equilibrada minação e exploração.
dinâmica de confronto que pode se das tarefas, constituem, definiti- O socialismo de autogestâo, des-
resolver gradativamente. vamente, uma das principais defesas centralizando ao máximo os centros
O futuro da humanidade é in- contra a instituição de uma casta de de decisão, se torna o único capaz de
compatível com o modo de produção burocratas ou de tecnocratas po- controlar verdadeiramente a glo-
capitalista. O crescimento como derosos. balidade dos processos econômicos e
finalidade da economia de mercado, Mas falar de formação em tais sociais. Somente uma concepção
isto ê, o crescimento único dos bens termos supõem algumas explicações: autogestionária do socialismo cons-
de consumo rentáveis e a ideologia — A formação não é uma trans- titui alternativa real para o capitalis-
da obsessão do consumo, o consumo missão em sentido único daqueles mo atual.
como facilidade, não somente não que sabem para os que nada sabem.
responde às aspirações dos seres O formador, que ê, em certos casos Continua no próximo n úmero
L '■ ■-■- -i

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As multinacionais vermelhas ponde às crescentes necessidades da sociedade soviética. E As dezenas de multinacionais que têm sede na URSS e
apresentou a tarefa: aumentar até ao final do XI qüinqüênio trabalham neste domínio (seu financiamento por países ociden-
EDGAR RODRIGUES (estão no X) a produção de carne em 19,5 milhões de toneladas, taias é minoritário) conseguiram assegurar uma importante
a ordenha de leite deverá atingir, por vaca, 3 mil litros por ano, parte dos mercados de fretes".
A mágica bolchevista está intrigando os mais lúcidos inves- e nas zonas de gado leiteiro de 4 a 5 mil anuais." "Este esforço de venda no Ocidente, para obter divisas for-
tigadores em assuntos internacionais. "É necessário organizar (em 62 anos ainda não o fizeram? tes não foram senão um fraco socorro na redução do "déficit"
Diz-se que cerca de um terço dos habitantes da Terra "op- Quando irão fazê-lo?) a engorda intensiva do gado e o abas- da balança comercial que, em 1973, começou a tomar propor-
taram" pelo bolchevismo nestes sessenta e dois anos de sua exis- tecimento regular de carne às cidades e bairros operários" — ções alarmantes".
tência, e que seu poder de persuasão repousa exatamente em sentenciou Leonid Brejnev no referido Plenário de Julho. O milagre da conquista pelos "camaradas" das multina-
ter elegido a miséria como divisa, o pobre como bandeira de Para A. Tulupnikov — em que pese a ordem do chefe dos cionais vermelhas, dos pobres, no mundo dos negócios, em con-
luta. chefes vermelhos para aumentar a produção no prazo de CIN- corrência com o capitalismo do ocidente deve-se a seguinte fato:
Não existe, afirma-se, em toda história da humanidade um CO ANOS — não é possível e ele mesmo vai explicar porque. pasmem os trabalhadores que lutam por aumentos salariais nos
exemplo de tamanho avanço em tão curto período, de conquista "Nas rações para o gado verifica-se um déficit de albumina, o países burgueses, "aos salários das suas tripulações que são
tão fabulosa... que torna impossível o rápido aumento da produção da pe- muito inferiores aos pagos pelos armadores dos países da co-
impérios. Monarquias, Repúblicas, Socialismo, Anarquismo cuária. Produzimos, lamentavelmente — acrescenta Tulupnikov munidade. O salário médio de um marinheiro das multina-
e nem a Igreja Católica, garantindo o céu aos seus crentes, foi insuficientes rações balanceadas. As fábricas carecem constan- cionais burguesas está na proporção de 5 para 1 da marinha
capaz de se igualar ao "fenômeno bolchevista". Agitando a temente de matéria-prima para a produção de forragens com- soviética. Sem contar que não podem reclamar aumentos nem
bandeira da fome, prometendo a redenção, a fartura aos des- binadas." fazer greves" (André Carrigó).
validos e expoliados, a conquista da "terra prometida" aos "Mais de 60% do gado, na URSS, é alimentado com for- Não nos surpreende esta luta comercial (ainda preten-
trabalhadores, vão cultivando o poder miraculoso do Estado. ragens carentes de albumina e de vitaminas e com mesclas demos voltar ao assunto, tal é a abundância de curiosidades a
A exemplo dos católicos (que juram com a mão sobre a Bí- primárias não balanceadas. Foi calculado que devido à carência respeito), já que multinacionais vermelhas ou brancas emanam
blia, que nunca leram, que deles é o reino do céu), os bolchevis- de alimentos e à sua ma qualidade, perde 50% na engorda do do charco e pretendem a nível mundial (nem bolchevismo nem
tas levantam bem alto os três grossos volumes de "O Capital" e gado e o potencial genético do gado leiteiro perde quase dois capitalismo tem pátria) universalizar seus interesses respon-
prometem em solene juramento de pés juntos, na frente dos terços. Os pastos de baixa qualidade, por quintal, reduzem vez sáveis pela exploração do homem pelo homem.
trabalhadores, que deles é o reino da Terra! Que o proletariado e meia, as normas zootécnicas".
foi o escolhido, o eleito por Marx, e que em breve será libertado "Sem mecanizar este setor da agricultura é impossível ter Relacionamos a seguir as multinacionais soviéticas, dos pobres:
das garras do imperialismo capitalista, do látego dos carrascos uma pecuária baseada em processos industriais. È eStamos lon-
da opressão e da miséria imposta pela burguesia reacionária. ÃTUSRIA:
ge disso." i
E, mesmo sem ter dado um mínimo de provas de que irão "Apenas 33% da distribuição (menos da metade) da comida Asotra: transportes. Donau Bank: banco comercial (agento do
cumprir suas promessas nestes sessenta e dois anos, na Rússia, ao gado leiteiro está mecanizada. Só uma quarta parte das banco soviético). Garant Versicherung: seguros.
desde 1917/18, os bolchevistas juram coma mão esquerda sobre granjas está mecanizada. A necessidade de máquinas para os BÉLGICA:
"O CAPITAL", que as "fábricas são dos operários e a terras KOLKHZES aumenta cada ano que passa. A produção de Belso: produtos alimentícios etêxtis. Elorg-Belgique: tratamen-
dos camponeses". A "massa faminta, e marginalizada", máquinas programada para 1976-1980 será cumprida somente to de dados. Ewa: instrumentos de óptica. Ferchimex: química.
acredita que algum dia, não muito distante, serão livres em metade. Nafta-B: produtos petrolíferos. Russalmax: diamantes. Scaldia-
terra livre." E, tal como os católicos que acreditam que a Bíblia A Ukrânia recebe 30 vezes menos de máquinas de ordenha Volga: automóveis. Transworid Maritime Agency: transportes
contém tudo sobre a suas salvações, sem nunca a ter lido, os das que necessita". marítimos.
crentes bolchevistas também têm a "certeza" de que naqueles "Resta desejar melhor qualidade das máquinas e instalações. CANADJà:
três grossos volumes de "O Capital" — que nunca leram — está As máquinas distribuidoras de forragem que deveriam fun- Bélarus Equipmentldt: material agrícola. Emek Trading: tur-
escrito tudo sobre a libertação do proletariado, a "raça" eleita cionar quatro anos — afirmar TULUPNIKOV — resistem binas. Morflot Freigthliners: transportes marítimos. Soccan
pelo profeta judeu, o "camarada" Karl Marx. pouco mais de dois". Aircraft: transportes aéreos. Stan Canadá: máquinas.
Têm tanta fé na redenção prometida que não ousam pergun- É de se supor que os canhões, os aviões e as demais máquinas FINLÂNDIA:
tar a "Sua Eminência do Culto do Poder Vermelho "porque de matar gente, enviadas de graça para fazer a "revolução" na Elorgdata: computadores. Konela: equipamentos para auto-
para chegar à felicidade é à liberdade na Terra, precisa-se ab- África e defender Cuba dos imperialistas americanos, não móveis. Koneisto: máquinas. Saima Lines: transportes marí-
dicar do direito de pensar. Está diante de uma realidade e se tenham a mesma gragilidade e, que as bombas atômicas, e não timos. Teboli: produtos petrolíferos.
recusa a ver. a pensar, a raciocinar, é no dizer do Rudolf Roc- só, possuam melhores ingredientes do que a comida do gado dos FRANÇA:
ker, "uma massa de gente sem cabeça". vermelhos. Activ-Acto: material agrícola. Banco Comercial para a Europa
Senão vejamos o que vai pela Rússia e consegue furar a gros- Deixando para trás A. TULUPNIKOV, eminente membro da do Norte: banco comercial. Fransove: produtos marítimos.
sa cortina de ferro. Academia de Ciências Agrícolas "Lenine", e passando os olhos Promolease: equipamentos fabris. Rusbois: madeiras. Sagmar:
A URSS cultiva acima de qualquer outra coisa o absolutismo em "Literaturnaia Gazeta, encontra-se o grito dos que vivem transportes marítimos. Sogo: química. Stanko-France: má-
no Estado, o poder incontestável e a sua infalibilidade! Aumen- fora das grandes cidades (Moscou, Leningrado, Kiev e outras) e quinas.
ta e aparelha o seu Exército, instrui e forma especialistas em logo se percebe que as coisas são bem mais graves. "Nas áreas ITÁLIA:
matanças coletivas, nas academias militares e policiais. Sua rurais relativamente pobres, onde as sentinas fora de casa e as Dolpin Agenzia Marittima: transportes marítimos. Ruslegno:
KGB (polícia política) deixa bem para trás a Gestapo nazista, o estradas de terra batida constituem a regra, onde raramente se madeiras. Sovietpesca: produtos marítimos. Stalitalia: má-
seu chefe Yuri Andropov ganha de longe aos mais refinado ver- encontra carne nos açougues, os habitantes têm uma só von- quinas.
dugo da polícia Czarista.- tade: mudar-se para a cidade de prédios de apartamentos". LUXEMBURGO:
Pois bem. Apesar desta verdade incontestável, conseguem en- "Moscou, Leningrado entre outras cidades estão fechadas, Banco Unido Este/Oeste: banca comercial.
ganar milhões de pessoas que se deixam adormecer ao som da exceto para aqueles que conseguem obter a fugida propiska, a
flauta mágica para não ver e nem ouvir o que nos diz A. Tulup- autorização oficial exigida para se residir num lugar onde PAÍSES BAIXOS:
nikov, membro-correspondente da Academia de Ciências milhões de outros gostariam de morar. Sem essa permissão, é East/Oest Agencis: instrumentos de óptica. Elerg: computa-
Agrícolas "Lenin", ganhador da "Ordem de Lenin", neste al- ilegal a permanência em Moscou por mais de três dias, uma res- dores. Transword Marine Agency: transportes marítimos.
vorecer de 1979 ("TRUD", 10-1-1979), em torno do abaste- trição que elimina qualquer migração em massa para aquelas NORUEGA:
cimento de gêneros de primeira necessidade à população de seu cidades". Koneisté Norge: máquinas. Koneia Norge Bil: automóveis.
país, enquanto o Kremlin esbanja mais da metade do seu or- E caminhando um pouco mais pelo interior da imprensa dos ESPANHA:
çamento geral do Estado Soviético em projetos imperialistas no pobres: "A residência em Moscou é algo que pode ser herdado, Pesconsa: produtos marítimos. Sovispan: agência comercial.
Afeganistão, no Camboja, Vietnam, Etiópia, Angola, Moçam- ou adquirido pelo casamento, e é objeto de muito desejo, am- SUÉCIA:
bique e com os conflitos que provocará no Irã. Em Cuba, só bição, suborno e politicagem. Um dos resultados desta luta é Joint Trawler Ltda: produtos marítimos. Matreco Bil: auto
para sustentar uma base soviética nas Caraíbas, custa ao es- uma boa quantidade de casamentos com fins residenciais. móveis. Scansov Transport: transportes marítimos.
tômago do povo russo "UM MILHÃO DE DÓLARES DIÁ- Chega-se a pagar até dois mil rublos para se obter um casamen- SUÍÇA:
RIOS". Isto sem contar — dizemos nas — as verbas secretas to e ficar em Moscou, uniões que não demoram a terminar em Wozohod Handelsbank: banco comercial.
gastas com os "alunos que vão treinar nas escolas de Moscou" e divórcio."
o financiamento de propaganda e os salários pagos aos seus fun- A dar crédito à imprensa bolchevista, acaba-se de concluir INGLATERRA:
cionários dos PCs que não se bastam a si próprios. Dentro desta Russian Wood Agency: madeiras. Anglo-Soviétic Shipping:
que o bolchevismo além de sinônimo de fracasso administrativo
política de "muitos canhões e de pouca carne", os dirigentes é também o outro lado da Revolução Social, é um forte alimento transportes marítimos. Black Sea & Baltic General Insurance:
soviéticos deixam transparecer um pouco do quanto sofre a do vírus autoritário que convive de mãos dadas com o suborno e seguros. East-West Leasing: equipamentos fabris. Moscow
barriga do seu povo, enquanto nos prometem salvar das garras em boa harmonia com as Multinacionais, ou melhor dito, as Narodny Bank: banco comercial. Nafta-GB: produtos petro-
da fome imposta pelo capitalismo reacionário... e no entanto Multinacionais Vermelhas tomam seu lugar no Kremlim! líferos. Techical & Optical Equipament: equipamentos foto-
não conseguem resolver a miséria em sua própria casa, dentro Passou a época em que parecia haver sérias divergências en- gráficos. United Machinery Organization Plant Hire: materiais
de suas portas. tre bolchevismo e Multinacionais, "escrúpulos" que o dinheiro de construção.
Em termos de fartura vamos às páginas de "TRUD" de venceu sem resistência na Rússia. As Multinacionais chegam ao ALEMANHA FEDERAL:
2/9/1978: "Nos anos do qüinqüênio — o IX — (estão cumprin- poder, tomam-no pacificamente, sem um protesto surdo... E, Neotype Techmashexport: máquinas. Ost-West Handelsbank:
do o X), as parcelas individuais dos camponeses proporcio- para não serem ultrapassados por essa força indominável, ir- banco comercial. Plodimex Aussenhandel: produtos alimen-
naram (exceto trigo), ao país: 60% de batata, 66% de horta- resistível, os "camaradas" soviéticos cansados de combater o tares e madeiras. Russalmax: diamantes. Sobren Chemihandel:
liças, 43% de frutas, 31% de carne, e 30% de leite consumidos capitalismo, resolveram sair fora de suas fronteiras e formar um química. Sovag: seguros. Uebersees Chiffhart Sagentur Trans-
na União Soviética". Esta produção da iniciativa privada, conjunto de empresas mercantilistas e bélicas para se rivalizar nautic: transportes marítimos. Wesotra Spedition & Transport:
apesar de todos os entraves impostos pela reacionária KGB e com o tão odiado capitalismo dos países burgueses. exportação.
dos dedos-duros bolchevistas (a iniciativa privada é proibida na A notícia de que os "camaradas" vermelhos, do país dos ESTADOS UNIDOS:
Rússia, é clandestina para uns e tolerada para outros), produziu pobres, tinham em franco funcionamento 28 Multinacionais Morflot America: transportes marítimos. Solfracht USA: trans-
mais do que os Kolkhozes e os Sovkhozes juntos, em que pese a Vermelhas fora de suas fronteiras para explorar comercialmente portes marítimos.
denominação de coletividades agrícolas — modelo do Estado os trabalhadores, o povo dos outros países que "pretende" ARGENTINA:
bolchevique. emancipar, foi em 1970. Sete anos depois (1977) o número já Coram South America: equipamento elétrico.
Nesta mesma oportunidade, um importante órgão sindical tinha subido para 84, todas empresas a concorrer nos países CAMARÕES:
(na Rússia publicam-se jornais sindicais e não existem sindi- capitalistas usando o mesmo jogo sujo dos exploradores bur-
catos, embora se realizem Congressos no Palácio dos Sindicatos) Cateco: equipamento de automóveis.
gueses.
falando das hortas individuais dos camponeses soviéticos, Dir-se-ia que é uma guerra entre o capitalismo vermelho, ETIÓPIA:
declara que "as plantações de iniciativa privada abastecem im- dos pobres e o capitalismo branco dos ricos. E segundo se infor- Ethos Trading C?: equipamentos elétricos.
portantes zonas de mercado, também com hortaliças, verduras ma, os vermelhos levam de vencida os negociantes burgueses. MARROCOS:
de todas as espécies, ajudando substancialmente na redução das Ainda nãò se sabe como irão explicar este avanço no mundo Marinexport: máquinas.
imensas filas que se formam em busca de gêneros alimentícios, dos negócios, da exploração do homem pelo homem ao seu NIGÉRIA:
inclusive de carne." Isto por si só contestaria a felicidade que a rebanho de seguidores, aquele "terço dos habitantes da Terra", Waatego Lagos: equipamento para automóveis.
"Ditadura dos Pobres" exporta para consumo de uma maisa de mas já se conhece que suas multinacionais mais conhecidas
cegos e surdos dos países capitalistas. Mas vamos voltar às LÍBANO:
atuam com predominância na pesca e nos transportes marí-
páginas de TRUD e a A. Tulupnikov: "O plenário de julho de Moscow Narodny Bank: banco comercial.
timos.
1978 do Comitê Central do Partido reconheceu que o nível "A URSS tornou-se o mais importante transportador SINGAPURA:
global do incremento dos produtos da agricultura não corres- marítimo do Mundo e está presente em todas as rotas do Globo. Moscow Norodny Bank: banco comercial.

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