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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PROTEÇÃO DE PLANTAS

EUZANYR GOMES DA SILVA

MANEJO INTEGRADO DE PRAGA NO ARROZ

Rio Largo - AL
2020
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 2
2. PRAGAS DO ARROZ ................................................................................................................. 4
2.1 PRAGAS QUE DANIFICAM O SISTEMA RADICULAR E PARTE INFERIOR DO
COLMO ....................................................................................................................................... 4
2.1.1 CASCUDO PRETO (Euetheola humilis) ........................................................................ 4
2.1.2 CUPINS Procornitermes triafer E Syntermes molestrus (Isoptera: Termitidae)............. 6
2.1.3 LAGARTA-ELASMO (Elasmopalpus lignosellus) ......................................................... 7
2.1.4 PULGÃO-DA-RAIZ (Rhopalosiphum rufiabdominale) .................................................. 9
2.1.5 BICHEIRA DA RAIZ (Oryzophagus oryzae) .................................................................10
2.2 PRAGAS DA PARTE AÉREAS ...........................................................................................11
2.2.1. PERCEVEJO-DO-COLMO (Tibraca limbativentris) ...................................................11
2.2.2 BROCA-DO-COLMO (Diatraea saccharalis) ................................................................13
2.2.3 PERCEVEJO-DO-GRÃO (Oebalus poecilus)................................................................13
3 AMOSTRAGEM (TOMADA DECISÃO) ..................................................................................15
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................16
5 REFERÊNCIA .............................................................................................................................17
1. INTRODUÇÃO

O arroz (Oriza sativa L.) é uma gramínea anual, classificada no grupo de plantas C-3
(SOSBAI, 2005). É uma excelente fonte de carboidratos e proteínas e tem sido considerado
pela FAO uma cultura estratégica para a segurança alimentar da população mundial devido a
sua ampla adaptação aos climas e solos, e é um alimento básico importante para quase 50% da
população global (CHATTERJEE et al., 2020).
É bem conhecida a necessidade de aumentar a produção global de arroz para atender a
demanda alimentar principalmente de países altamente populosos como China e Índia
(ARAÚJO et al., 2013). Estima-se que a produção global de arroz deve atingir o equivalente a
430 milhões de toneladas até o ano de 2030 (TIMMER et al., 2010) e cerca de 455 milhões de
toneladas até o ano 2050 (MOHANTY; WAILES; CHAVEZ, 2010).
No Brasil, o arroz, por ser um dos principais alimentos da população, assume relevante
importância econômica e social, e é produzido do Norte ao Sul do País, basicamente por meio
de dois sistemas: arroz irrigado por inundação controlada, em solos de várzeas subtropicais e
tropicais e, arroz de terras altas, predominantemente, em solos de cerrado, com aproveitamento
das águas das chuvas (FERREIRA; MORAIS, 2017).
Ambos os sistemas e cultivo de arroz podem ser prejudicados por diversas pragas,
destacando-se doenças, insetos e plantas daninhas (CHATTERJEE et al., 2020). Os insetos, que
podem provocar perdas de 15% a 30% de produtividade, são enquadrados em dois grupos: a)
insetos-praga de solo, que danificam sementes, raízes e a parte basal de plantas arroz na fase de
pré-perfilhamento; b) insetos-praga da parte aérea, que danificam colmos, folhas (fase
vegetativa), panículas e grãos (fase reprodutiva).
A maioria das espécies de insetos que se alimentam de plantas de arroz, ocorrem tanto
em cultivos de arroz irrigado por inundação quanto de arroz de terras altas. Algumas, porém,
ocorrem restritamente em apenas um sistema de produção, como o gorgulho aquático
Oryzophagus oryzae (Coleoptera: Curculionidae) e o cupim Procornitermes triafer (Isoptera:
Termitidae) em arroz irrigado por inundação e arroz de terras altas, respectivamente
(MARTINS et al., 2009).
O gorgulho-aquático, na fase vegetativa, o percevejo-do-colmo (Tibraca
limbativentris, Hemiptera: Pentatomidae), no início da fase reprodutiva, e o percevejo-do-grão
(Oebalus poecilus, Hemiptera: Pentatomidae), no final da fase reprodutiva, continuam sendo
os insetos mais prejudiciais ao arroz irrigado por inundação, em abrangência nacional. Neste
sistema de produção, especificamente, no Rio Grande do Sul, mais frequentemente, passaram
a assumir a condição de praga, o pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum rufiabdominale, Hemiptera:
Aphididae), o cascudo-preto (Euetheola humilis, Coleoptera: Scarabaeidae), na fase de pré-
perfilhamento, e a lagarta-do-trigo (Pseudaletia adultera, Lepidoptera: Noctuidae), na fase
reprodutiva. A lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda, Lepidoptera: Noctuidae), nos últimos
anos, apenas manteve a importância como praga do arroz irrigado por inundação na região
tropical do País.
O cupim, a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosselus, Lepidoptera: Pyralidae) e a
cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta, Homoptera: Cercopidae), na fase de pré-
perfilhamento, a lagarta-dos-capinzais (Mocis latipes, Lepidoptera: Noctuidae), na fase
vegetativa, e a lagarta-do-trigo, na fase reprodutiva, mantêm-se como os insetos mais
prejudiciais em cultivos de arroz em terras altas. Outra espécie como a broca-do-colo (Diatraea
saccharalis, Lepidoptera: Pyralidae) é de importância secundária para a cultura, por ocasionar
danos de expressão econômica (FIGURA 1).

Figura 1 Relação entre espécie praga e fases de desenvolvimento no arroz. Fonte: Embrapa
2003.

Além das perdas de produtividades causados por insetos-pragas, ocorre uma


preocupação pelos riscos de contaminação ao meio ambiente e para saúde humana pelo uso
irracional dos inseticidas químicos, por isso há uma necessidade de uma agricultura mais
sustentável. Sendo assim, o conhecimento da fauna entomológica nas culturas agrícolas é
fundamental para o desenvolvimento de técnicas de controle mais seguras ao meio ambiente e
à saúde humana. O manejo integrado de pragas (MIP) é um sistema de controle de pragas a ser
utilizadas na agricultura, pois consiste em preservar e aumentar os fatores de mortalidades
natural das pragas pelo uso integrado dos métodos de controle selecionados com base em
parâmetros técnicos, econômicos, ecológicos e sociológicos.

2. PRAGAS DO ARROZ

Para exposição do tipo de dano e do sistema de manejo dos principais insetos-pragas


da cultura do arroz no Brasil, e indicações de linhas de ação prioritários, esses foram agrupados
em duas categorias, conforme a parte atacam as plantas na ocorrência nas lavouras,
independente do sistema de produção e da região do País.
2.1 PRAGAS QUE DANIFICAM O SISTEMA RADICULAR E PARTE INFERIOR
DO COLMO

Engloba insetos-praga de solo que danificam sementes, raízes e a parte basal de


plantas. No interior do solo (pragas subterrâneas) ou rente ao solo (pragas de superfície).

2.1.1 CASCUDO PRETO (Euetheola humilis)

A espécie Euetheola humilis os seus adultos atingem 10 a 14 mm de comprimentos


por 5 a 7 mm de largura (FIGURA 2A) e são mais ativos em outubro, locomovem-se ao
crepúsculo e à noite, com voos curtos, ao amanhecer abrigam-se sob restos de vegetais ou
torrões, mas principalmente enterrados no solo, têm longevidade de 90 anos (BILLEISEN;
BRANDENBURG, 2014).
Cada fêmea ovoposita cerca de 20 ovos no solo, preferencialmente em locais úmidos
e ricos em matéria orgânica (VALMORBIDA et al., 2018). As larvas são conhecidas por bicho
bolo, eclodem em nove a 15 dias e permanecem enterradas durante toda a sua vida, que é de 12
a 20 meses (FIGURA 2B). Ao completar o desenvolvimento, as larvas atingem 20 a 25 mm de
comprimento e transformam-se em pupas (FIGURA 2C), das quais, após 12 a 15 dias, saem
novos adultos, chamados de cascudo preto (BILLEISEN; BRANDENBURG, 2014).
Figura 2: A: Cascudo Preto (Euetheola humilis); B: Larva (bicho bolo) de Euetheola humilis; C: Pupas
de Euetheola humilis. Fonte: Agrolink
O cascudo preto é uma das pragas de solo (subterrânea), predominante em arrozais
irrigados por inundação, tanto na região tropical como subtropical do Brasil (HICKEL, 2020).
Pode destruir grande quantidade de plantas de arroz, na fase inicial de crescimento (antes da
inundação dos arrozais), em vastas áreas dos arrozais, quando adultos, em “enxames”, passam
a cortar suas raízes (HICKEL; DAL ZOTTO,2020).
Os adultos roem a base das plantas, causando murcha e posterior seca de perfilhos, ao
se puxar do solo, estes soltam-se facilmente das raízes e um eventual ataque na maturação pode
ocasionar o acamamento de plantas, dificultando a colheita (FIGURA 3) (HICKEL, 2020).
Antes era considerado que as larvas, conhecidas por bicho-bolo poderiam causar danos às
plantas de arroz). Essas, porém, ocorrem e causam danos apenas em pontos com maior
concentração de matéria orgânica.

Figura 3. Base de perfilhos roídas pelo cascudo preto. Fonte: Agrolink

O cascudo preto é um inseto de difícil controle depois de instalado no solo, os


tratamentos de sementes com o controle químico não são muito recomendados, pois não existe
inseticidas ainda registro para esse fim, mas podendo ser utilizado inseticidas registrados para
o controle larvas do gorgulho-aquático (bicheira-da-raiz) podendo ter efeitos positivos
(MARTINS et al., 2006). Como alternativas para controle do cascudo preto, depois de
estabelecido nos arrozais, foram apontadas a antecipação da inundação das áreas atacadas e a
instalação de armadilhas luminosas, ao entorno, dentro de cursos de água, açudes, lagos,
barragens, etc (FRITZ et al., 2008).
O cascudo preto também pode ocorrer em época próxima à colheita do arroz. Nessa
fase, ao cortar as raízes, induz ao tombamento das plantas, e, por conseguinte, dificulta a
colheita mecanizada (MARTINS et al., 2006). Torna-se importante, portanto, disponibilizar
alternativas de prevenção ao ataque do inseto, também na fase reprodutiva da cultura, quando
a possibilidade de recuperação das plantas danificadas é mínima (FRITZ et al., 2008).

2.1.2 CUPINS Procornitermes triafer E Syntermes molestrus (Isoptera: Termitidae)

São classificadas como pragas de solo subterrânea, de ocorrência de cultivos de terras


altas, principalmente, em condições de solo arenosos, de baixa umidade e profundo, causam
bastante prejuízo, principalmente na fase inicial da cultura (GODOY,2019). Essas espécies
ocorrem na maior parte das lavouras de arroz estabelecidas em solos de Cerrado, sendo uma
das principais causas do uso de inseticidas em tratamento de sementes destinadas ao plantio,
nesse ambiente de cultivo (FERREIRA et al., 2007).
São insetos sociais, que possuem hábito subterrâneo e ninhos de forma variada,
vivendo em colônias com formas sexuadas (casal real e alados com 2 pares de asas
membranosas) e assexuadas (operárias e soldados, ápteros, com 5 a 10 mm de comprimento e
sem olhos e ocelos, ao contrário de formas sexuadas) (ZANUNCIO et al., 2016). As operárias
são maior parte da população; brancas ou amarelo-pálidas e desempenham todas as funções da
colônia exceto procriação. Já os soldados possuem cabeça muito volumosa, de coloração
marrom-amarelados com mandíbulas bem desenvolvidas, possuem a função de defesa e
colaboram com as operárias (FIGURA 3).
Figura 3. Diferenças morfológicas entre o soldado e o operário. Fonte: Insectbye

Os cupins atacam as raízes das plantas do arroz que foi semeado, reduzindo o número de
plantas por hectare, ou seja, o campo fica apresentando falhas, reduzindo a produtividade
(FIGURA 4). Essas pragas atacam sistema radicular, destruindo-o total ou parcialmente, as
plantas ficam com aspecto seco e desprendem-se do solo facilmente quando puxadas e em horas
de sol quente, as folhas se enrolam rapidamente (HEINRICHS et al., 2017). Os ataques de
cupins são mais intensos em áreas ocupadas antes por gramíneas e em solo de cerrado.

Figura 4. A: Plantas de arroz mortas por cupins; B: Lavoura de arroz atacadas por cupins. C: Raízes de
arroz atacadas por cupins. Fontes: Embrapa Arroz e Feijão

2.1.3 LAGARTA-ELASMO (Elasmopalpus lignosellus)

São da ordem da Lepidoptera da subclasse Pyralidae, são conhecidas também como


Broca do colo, consideradas pragas da superfície do solo e a ocorrência em áreas de arroz de
terras altas principalmente, em anos de escassez de chuvas (HORGAN et al., 2020).
Os adultos são mariposas de 8 a 10 mm de comprimentos e 15 a 25 mm de
envergadura, com as asas dobradas ao longo do dorso, quando em repouso (FIGURA 5). As
fêmeas são maiores que os machos, têm antenas filiformes e asas anteriores marrom escuras ou
cinza escuras uniformes. Os machos possuem escamas grandes na base das antenas, palpos
maxilares maiores e mais grossos. As lagartas atingem 15 a 20 mm de comprimento e 1,7 a 2,0
mm de largura. A fase de lagarta dura de 13 a 39 dias e durante esse período podem perfurar a
base de cinco a dez colmos de arroz, provocando a morte de todo o colmo ou apenas da sua
parte central. As lagartas transformam-se em pupas no interior de casulos sob a superfície do
solo durante sete a 19 dias (MCDOWELL et al., 1990).

Figura 5. Mariposas Elasmopalpus lignosellus. Esquerda em repouso e na direita abertas.


Fontes: Agrolink

A lagarta-elasmo (FIGURA 6A), na condição de praga de superfície, ao perfurar a base


(colo) de plantas novas de arroz (FIGURA 6B), forma galerias em direção ao centro do verticilo
e secciona as folhas mais internas que secam (“coração-morto”), impedindo a formação do
colmo (SILVA, 2013).

Figura 6. A: Lagarta-elasmo; B: Colmos com perfurações causados pela lagarta-


elasmo. Fonte: Agrolink

Esse inseto, em área de cultivo de arroz irrigado, na fase de pré-inundação (plantas


com cinco a seis folhas), aproximadamente, durante duas semanas, reduziu em 15% a população
de plantas (SILVA, 2013). Em experimento com arroz de terras altas, a lagarta, num período
de 18 a 115 dias após a semeadura, atacou 24% dos colmos, reduzindo em 22% a produção de
grãos (ARF et al., 2012). A lagarta-elasmo, apesar da elevada agressividade às plantas de arroz,
é mais facilmente controlada por inseticidas do que o pulgão-da-raiz. Os inseticidas podem ser
aplicados por meio de tratamento de sementes (BARRIGOSSI; FERREIRA, 2001) ou
pulverização orientada à base das plantas (SILVA, 2013)
Alguns sistemas de cultivo de arroz, como o plantio direto e o consorciado,
demonstraram potencial para reduzir os danos causados pelo inseto (SILVA, 2013). Algumas
práticas culturais são indicadas como redutoras dos riscos de danos da lagarta-elasmo
(FERREIRA, 2006): a) manter o solo livre de vegetação por um período de 15 a 20 dias antes
da semeadura, eliminando plantas hospedeiras nativas; b) semear o arroz em época que coincida
com o início das chuvas e em solo úmido; c) até o início do perfilhamento das plantas de arroz,
irrigar o solo por aspersão, a cada cinco dias, em áreas de arroz de terras altas ou encharcar
antecipadamente o solo em áreas de arroz a ser irrigado por inundação; d) destruir restos
culturais imediatamente após a colheita.
Como linhas de pesquisa sobre a lagarta-elasmo sugere-se a complementação de
estudos sobre a contribuição de armadilhas luminosas e da interferência do sistema de plantio
direto na redução dos danos do inseto, e estratégias para potencializar a ação de agentes
biológicos de controle natural (ARF et al., 2012). Prioritariamente, sugere-se a retomada de
estudos sobre resistência de arroz ao inseto (SOUZA et al., 2009), valendo-se da característica
de maior capacidade e velocidade de perfilhamento já detectada em algumas cultivares
(FERREIRA et al., 1986)

2.1.4 PULGÃO-DA-RAIZ (Rhopalosiphum rufiabdominale)

Praga de solo (subterrânea), de ocorrência recente e crônica, que ao sugar as raízes de


arroz (FIGURA 7A) provoca uma toxemia nas plantas levando-as a um elevado grau de
definhamento ou à morte (FIGURA7C). É de ocorrência tradicional em arroz de terras altas,
principalmente em áreas onde o solo não foi devidamente preparado (destorroado). Tal
condição facilita o seu acesso às raízes, formando colônias. É um inseto de difícil controle.
O pulgão-da-raiz é de ocorrência recente em arroz irrigado por inundação (MARTINS
et al., 2004), principalmente, no Planalto da Campanha do Rio Grande do Sul, onde predomina
a implantação de arrozais em terrenos inclinados (“lavouras de coxilha”). Nessas lavouras,
devido a um acentuado desnível do solo, a base de muitas das plantas cultivadas sobre as taipas
não é suficientemente atingida pela lâmina da água de irrigação.

Figura 7 A e B: Pulgões na raiz da cultura do arroz, C: Sintomas do ataque no cultivo de arroz. Fonte:
EPRAGI

2.1.5 BICHEIRA DA RAIZ (Oryzophagus oryzae)

A bicheira da raiz, Oryzophagus oryzae (Coleoptera: Curculionidae), figura entre as


principais pragas do cultivo do arroz irrigado no Brasil (HICKEL, 2013). O inseto adulto é um
gorgulho-aquático com cerca de 3 mm de comprimento (FIGURA 8A), perfeitamente adaptado
a viver em várzeas que sofrem inundações prolongadas, contudo periódica (HICKEL, 2010).
As larvas também são de hábito aquático, porém vivem no solo lodoso, alimentando-se de raízes
do arroz. Portanto, é no estágio larval que o inseto é mais prejudicial, podendo ocasionar perdas
severas de produção do cereal (Martins; Prando, 2004) (FIGURA 8B).

Figura 8 A: Gorgulho-aquático; B: Larvas de Oryzophagus oryzae Fonte: EPRAGI


Os danos causados por O. oryzae são mais expressivos em determinadas condições.
Entre outros fatores, dependem do sistema de cultivo, do manejo da água de irrigação, da
adubação, principalmente da nitrogenada, do grau de resistência da cultivar ao inseto, do modo
como é tomada a decisão sobre o controle químico, bem como este é realizado (CARBONARI
et al. 2000). As larvas cortam e comem a raízes, assim diminuindo a absorção de nutrientes
deixando as plantas com sintomas de deficiência nutricional. As larvas danificam o sistema
radicular (FIGURA 9).

Figura 9 Sintomas do ataque. Fonte: EPRAGI

2.2 PRAGAS DA PARTE AÉREAS

Engloba espécies de insetos que atacam colmos completamente desenvolvidos,


panículas e grãos. As principais espécies que ocorrem na fase reprodutiva pertencem às Ordens
Hemiptera (predominantemente da Família Pentatomidae) e Lepidoptera (Famílias Noctuidae
e Pyralidae). Algumas, além de danos quantitativos, reduzem a qualidade de grãos e sementes.
Quando níveis populacionais que justificam o controle químico são atingidos ocorre a aplicação
de inseticidas em época muito próxima à da colheita, o que aumenta o risco de acúmulo de
resíduos nos grãos.

2.2.1. PERCEVEJO-DO-COLMO (Tibraca limbativentris)


É muito prejudicial às plantas de arroz e tem sido abundante em alguns anos nas
lavouras, em focos de até 200 percevejos/m2, provocando perdas de produção de 5% a 80% e
está distribuído na maioria dos Estados do Brasil (PAZINI et al., 2017).
O percevejo (FIGURA 10) danifica as plantas desde o inicio da fase vegetativa até a
fase reprodutiva da cultura. Porém, torna-se mais prejudicial quando ocorre na fase reprodutiva
das plantas, gerando o sintoma de “panícula-branca” (FIGURA 11A), induzindo perdas de
produtividade de até 80% (PASINI et al., 2018). O ataque, na fase reprodutiva, além de danos
diretos, pode provocar perdas qualitativas em decorrência de maior quantidade de grãos
quebrados e manchados (KRINSKI; FOERSTER, 2016).

Figura 10 Adulto velho (esquerda) e novo (direita) do percevejo-do-colmo. Fonte: EPRAGI

Figura 11 A: Panícula-branca; B: Necrose no ponto sucção; C; Coração morto


Os ataques dos percevejos e perfurando os colmos na parte intermediária, provocando
o sintoma conhecido por “coração morto”, em decorrência da injeção de substâncias tóxicas.
No ponto onde o inseto introduz o estilete no colmo forma-se uma pequena mancha marrom
que coincide internamente com um estrangulamento ou necrose (COSTA et al., 2019)
(FIGURA 10B)

2.2.2 BROCA-DO-COLMO (Diatraea saccharalis)

Broca-do-colmo (FIGURA 11A) geralmente é considerada uma praga secundária na


cultura do arroz irrigado no Brasil. Várias lagartas (FIGURA 11B) iniciam o ataque às plantas
de arroz, na fase de perfilhamento (± 25 dias pós-emergência), raspando os tecidos internos da
bainha foliar (FIGURA 11C). Posteriormente, uma ou poucas lagartas penetram na parte
intermediária dos colmos em formação, causando o sintoma de “coração morto”, em
decorrência do corte dos tecidos internos (verticilo). O inseto, porém, torna-se mais prejudicial,
quando perfura colmos na fase reprodutiva das plantas (FIGURA 11D), a partir da emissão das
panículas, gerando o sintoma de “panícula branca”, induzindo perdas de produtividade de até
35% (FERREIRA, 2006).

Figura 11 A: Broca-do colmo (Diatraea saccharalis: mariposa); B Lagarta; D: Bainha da folha


raspada; C: Colmo perfurado. Fontes: Agrolink
2.2.3 PERCEVEJO-DO-GRÃO (Oebalus poecilus)
O inseto adulto (FIGURA 12A) migra aos arrozais, quando aparecem os primeiros
grãos leitosos, sendo mais ativo em horários nublados do dia. O percevejo-do-grão afeta a
quantidade e qualidade do produto (grão). A natureza e extensão do dano dependem do estágio
de desenvolvimento dos grãos. Espiguetas com endosperma leitoso podem ficar totalmente
vazias ou então originam grãos atrofiados, com diminutas manchas escuras nas glumas, nos
pontos de introdução do estilete (FIGURA 12B).
A alimentação na fase pastosa gera grãos com manchas escuras na casca, gessados,
estruturalmente enfraquecidos nas regiões danificadas, os quais quebram mais facilmente
durante o beneficiamento, diminuindo ainda mais o rendimento de engenho (FERREIRA,
2006). Essas manchas estendem-se internamente ao endosperma, sendo visíveis em grãos
“descascados” (FIGURA 12C). Similarmente à situação do percevejo-do-colmo, o controle de
O. poecilus é feito por meio de inseticidas químicos, raramente considerando o princípio de
controle econômico

Figura 12 A: Percevejo-do-grão (Oebalus poecilus: inseto adulto); B: espiguetas vazias e grãos


defeituosos C: endosperma manchado. Fontes: Epragi
3 AMOSTRAGEM (TOMADA DECISÃO)

A) Amostragem em 5 pontos a cada 10 há, em plantas presentes em 1m2 em cada ponto.


Pragas Técnicas de amostragem
Lagarta elasmo Avaliação da % de plantas com sintoma de
ataque

Bicheira da raiz Avaliação do número de larvas presentes nas


raízes usando-se peneira

Percevejo do grão Contagem do número de insetos/m2 usando-se


rede de varredura

Percevejo do colmo Contagem do número de insetos/m2 usando-se


rede de varredura

B) Níveis de ação para fitófagos da cultura do arroz


Fitófagos Níveis de ação*
Cupins Quando o plantio anterior tiver apresentado
manchas de plantas atacadas, correspondentes a
10% da área
Percevejo do colmo Quando as plantas com 40 a 50 dias
apresentarem em média de 1 a 2 insetos/15
colmos
Percevejo do grão Quando for observado 8 a 10 insetos/100
panículas
Cigarrinhas Quando encontrar 1 ou mais cigarrinhas/15
colmos (ante do afilhamento) e 2 ou mais após
este período
Lagartas elasmo < 20colmos/m em arroz irrigado (antes da
irrigação e afilhamento) e a 40colmos/m em
arroz de terras altas
Broca-do-colmo Na fase vegetativa e reprodutiva forem
encontradas 4 e 2 posturas/100 colmos, e se o
nível de parasistismo ovos for inferior a 50%

Cascudo preto Infestações médias de 4 larvas ou 2 adultos/m2

Bicheira da raiz A partir de 15 dias de irrigação forem


encontradas, em média, 2 a 3 larvas por amostra
de solo e raízes
*Estimativa para custo de tratamento correspondentes a 1000 kg/ha em arroz de sequeiro e 6.000
kg/ha em arroz irrigado
C) Táticas integradas para reduzir a infestação ou danos causados por insetos em arroz
Táticas de manejo Principais fitófagos
1. Cultural 1 2 3 4 5 6 7
-Evitar plantios próximos de gramíneas X
hospedeiras de pragas do arroz
-Evitar plantio escalonado em de arroz na X X X
mesma área
-Adubação nitrogenada em cobertura X
Inundação dos quadros após a germinação X
(3 dias) e pós-colheita (15 dias)
Destruir os restos culturais ou X X X X X X X
incorporação profunda dos mesmos
2. Varietal
Utilizar variedades resistentes X X X X
Utilizar variedades de maior crescimento X
inicial
Utilizar variedades de ciclo curto X
Utlizar variedades de maior volume X X
radicular
3. Mecânico
Coleta e destruição de plantas com alta X
concentração de ovos
4. Biológico
Utilizar agentes microbiológicos de X
controle (Bacillus thurigiensis)
5. Químico
Uso racional de inseticidas X X X X X X X
01=Cupim, 02=Percevejo do colmo, 03=Percevejo das gãos, 04=Lagarta elasmo, 05=Broca do colmo,
06=Cascudo preto, 7=gorgulho aquático.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há evidência de que as bases e técnicas disponíveis para o manejo integrado de


insetos praga na cultura do arroz no Brasil, tanto no agroecossistema em várzeas quanto de
terras altas, não estão sendo devidamente utilizadas. É necessário intensificar esforços de
pesquisa e de transferência de tecnologia, buscando aumentar o conhecimento técnico-
científico sobre MIP e a sua maior adoção pelo setor produtivo. Contudo, para a evolução do
MIP na cultura, é fundamental, por parte dos orizicultores, maior nível de adoção dos
procedimentos recomendados.
5 REFERÊNCIA

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