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ARTIGO ARTICLE 163

O Suicídio e suas relações com


a psicopatologia: análise qualitativa
de seis casos de suicídio racional

Suicide and its psychopathological relations:


a qualitative analysis of 6 rational suicidal
patients

Marcelo Feijó de Mello 1

1 Hospital do Servidor Abstract We studied the meaning given to the terms “death” and “suicide” among psychiatric
Público Estadual
inpatients. Forty-four patients who had been admitted in a psychiatric inpatient unit following
de São Paulo.
Rua Urussuí, 71 conj. 133m, a suicide attempt underwent a qualitative interview, using a “general guide interview” approach.
Itaim Bibi, São Paulo, SP The results were analysed systematically in an attempt to investigate the relationship between
04542-050, Brasil.
attempted suicide and mental disorder. In 6 cases there was no correlation between the attempt-
ed suicide and psychopathological symptoms. One of these patients had a psychiatric diagnosis,
but this did not seem to be related to the suicide attempt. All of them made a rational deliberate
suicidal act. Conclusion: even in a psychiatric inpatient setting, suicide attempts are not always
a behavioural expression of underlying psychopathological disturbances – individual and social
factors also play a decisive role.
Key words Suicide; Attempted Suicide; Psychopathology

Resumo Foram avaliados sistematicamente 44 pacientes, admitidos em enfermaria psiquiátri-


ca de hospital geral logo após tentativa de suicídio. Estes indivíduos foram submetidos a entre-
vista qualitativa, usando-se um guia geral de entrevista. Os resultados foram avaliados, procu-
rando-se referir a tentativa de suicídio a uma patologia psiquiátrica. Em seis casos, não se en-
controu relação entre tentativa de suicídio e doença mental. Um destes pacientes tinha história
de doença psiquiátrica prévia, porém não foi possível ligar o suicídio a esta. A análise de conteú-
do destes casos por meio de um enfoque fenomenológico-existencial procurou estabelecer os sig-
nificados da tentativa de suicídio para cada paciente. O autor concluiu que as tentativas de sui-
cídio nem sempre expressam doença mental subjacente e que fatores sociais e individuais podem
exercer papel decisivo. Assim, estudos clínicos e epidemiológicos concernentes ao suicídio dever-
se-iam basear em conceitos mais sólidos.
Palavras-chave Suicídio; Tentativa de Suicídio; Psicopatologia

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Introdução pelo suicídio, chegando alguns deles a afirmar


que suicídio é sinônimo de depressão (Barra-
O suicídio é ato humano complexo e, embora clough & Hughes, 1987; Murphy & Wetzel, 1990).
as tentativas sejam freqüentes, raros são os ca- Esta tendência, por parte da literatura psi-
sos que resultam em óbito. Contudo, os núme- quiátrica, de sempre associar o suicídio à do-
ros vêm aumentando de maneira considerável. ença mental, principalmente à depressão, é
Para alguns autores, o crescimento das taxas de questionável. A ideação suicida e a tentativa de
suicídio é de 200% a 400% nos últimos vinte suicídio são critérios diagnósticos desta doen-
anos, em particular, entre os adolescentes ça nos códigos vigentes. É difícil imaginar, en-
(Klerman & Weissman, 1989; Goodwin & Runk, tretanto, que a pessoa que sobrevive a uma
1992). A Organização Mundial da Saúde avalia tentativa de suicídio não esteja desanimada,
o suicídio como problema de saúde pública, frustrada. Assim, o diagnóstico de depressão,
pois configura uma entre as dez causas mais nestes casos, é delicado. Em trabalho anterior
freqüentes de morte em todas as idades, da (Mello, 1992) encontrou-se maior freqüência
mesma forma que é a segunda ou terceira cau- de diagnósticos de depressão entre suicidas
sa de morte entre 15 e 34 anos de idade (Ret- sem diagnóstico psiquiátrico prévio.
terstol, 1993). Estima-se que, para cada suicí- O pressuposto teórico de que este ato está
dio, existem pelo menos dez tentativas sufi- sempre relacionado à doença mental pode, por
cientemente sérias ao ponto de exigir atenção um lado influenciar a postura do médico dian-
médica; mais ainda: para cada tentativa de sui- te do suicídio e, por outro, na clínica, atitudes
cídio registrada, existem quatro não conheci- por vezes inadequadas podem ser impostas,
das (Diekstra, 1993). As relações entre idade e como a retirada da autonomia do paciente me-
sexo e suicídio, assim como a freqüência des- diante o uso de medicações antidepressivas em
tes, variam muito no que concerne ao país es- condições não tão claras. Tal questão é igual-
tudado. De maneira geral, é mais comum entre mente crucial para aqueles que elaboram es-
os homens com idade entre 25 e 35 anos, ao tratégias para a prevenção do suicídio. Estudos
passo que as tentativas de suicídio são mais mostram que certo número de suicidas passa
usuais em mulheres com idade entre 18 e 30 por consultas médicas pouco antes do mesmo,
anos. Há alguns indicadores de suicídio, embo- porém maior número ainda não o faz. A pre-
ra novamente não se obtenha consenso entre venção, dependendo do nível que se deseja a-
os autores: o suicídio estaria altamente relacio- tingir, não pode ser baseada exclusivamente em
nado aos desempregados, brancos, com pato- dados das doenças supostamente relacionadas.
logia psiquiátrica, uso de álcool e drogas, tal Na polêmica concernente ao suicídio ser
como com tentativa de suicídio anterior. Entre sempre motivado ou não pela doença mental,
as pessoas que tentam o suicídio é comum a vários autores de peso colocam-se em cada um
presença de problemas psicossociais, tais co- dos lados. Goodwin & Runk (1992) afirmam que
mo: separações, perdas de pessoas queridas e a maioria dos suicidas estão doentes mentais
perda de emprego ( Van Egmond & Diekstra, no momento do ato, mas têm conhecimento
1989). de que há diversidade conceitual entre os pes-
O suicídio está bastante relacionado a vá- quisadores. Por seu lado, Hawton & Catalan
rios tipos de doença. Já foi referido, entre ou- (1987) acham que não devem ser avaliados co-
tras, à AIDS, a pós acidente vascular cerebral, mo doentes mentais aqueles que tentam o sui-
ao infarto do miocárdio, à esclerose múltipla, à cídio. Henrikson et al. (1993) registraram o sui-
doença de Parkinson e à insuficiência respira- cídio não patológico em 2% dos casos, todavia
tória crônica de diversas etiologias. Dentre as citam trabalhos clássicos que colocam os valo-
doenças, as psiquiátricas são as mais relatadas. res dos suicídios racionais entre 0 e 12%. Aratò
Os resultados entre os vários pesquisadores, no et al. (1988), por sua vez, encontraram suicídio
entanto, são discrepantes, colocando-se como racional em 19% dos suicídios na Hungria. Car-
prevalentes: a depressão, a ansiedade, os delí- neiro & Figueiroa (1994) classificam o suicídio
rios, os transtornos de personalidade e o uso como sinônimo de depressão maior e recomen-
de substâncias psicoativas (incluindo o álcool). dam tratamento preventivo neste caso, haven-
Dependendo do autor, uma delas encabeça a do ou não risco de suicídio.
lista. Desse modo, as relações entre suicídio e
A freqüência do suicídio entre as patologias doença mental são confusas. Robins et al. (1959)
também é bastante variável; por exemplo, a de- e Barrraclough et al. (1974) mostram altas taxas
pressão pode ser responsável por 45% a 70 % de doença mental entre os suicidas (avaliação
dos suicídios. Esta é, sem dúvida, a causa pre- retrospectiva), 94% e 93% respectivamente.
ferida pelos autores como a maior responsável Black & Winokur (1990) encontraram 90% de

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pacientes psiquiátricos entre o suicidas. Cheng vas e/ou expressivas. Desta forma foram siste-
(1995) encontrou doença mental em 97% a maticamente incluídos 44 pacientes no estudo.
100% dos suicidas de Formosa.
King (1994) estudou o suicídio em pacien- Procedimentos
tes recém atendidos por psiquiatras, encon-
trando 90% dos casos com psicopatologia se- Assim que o paciente entrava no estudo, com-
vera. Dentre os 286 suicídios e mortes indeter- pletava-se um inventário sociodemográfico. Na
minadas (open-verdict) da área do Reino Unido admissão e na saída fazia-se, ou não, um diag-
pesquisada entre 1991 e 1994, a amostra estu- nóstico psiquiátrico por meio de entrevistas
dada correspondia a 108 destes casos. O autor psiquiátricas não estruturadas, conduzidas por
não se aprofundou nos 168 casos – não era este psiquiatra cego quanto aos resultados da en-
o seu objetivo – que nunca foram vistos, com trevista qualitativa. Um guia geral de entrevista
relação a estes problemas, por profissionais da (general guide interview) era então aplicado
área de saúde mental ou por seus clínicos. por psiquiatra pesquisador treinado. Após a co-
Os estudos retrospectivos, por si sós, fun- leta dos dados, os resultados eram analisados
damentados em dados colhidos entre familia- com relação ao conteúdo dos mesmos. As se-
res e médicos que acompanhavam os casos (au- guintes questões eram então pesquisadas:
tópsia psicológica) não deixam de ser suspei- • O paciente tinha algum sintoma psicopato-
tos no que diz respeito à avaliação de situação lógico durante a tentativa de suicídio?
tão contaminada do ponto de vista emocional. • Tinha o paciente algum diagnóstico psi-
Matthews et al. (1994), levantando todos os quiátrico prévio?
casos de morte por suicídio na Escócia durante • Era este relacionado à tentativa de suicídio?
1988 e 1989, procuraram anotações a respeito • Era a tentativa de suicídio um sintoma da
destes a partir de seus médicos (general practi- doença psiquiátrica?
cioners) na atenção primária. Constataram que A análise do conteúdo era sistematizada.
somente aqueles com passado psiquiátrico Destacava-se cada sentença do material obtido
procuraram tratamento, o que grande parte durante as entrevistas relacionadas às questões
dos suicidas não fizera. Concluíram que o tra- pesquisadas e tentava-se encontrar coerência
balho de prevenção do suicídio não deveria es- interna entre elas.
tar centrado na atenção primária e que apenas
pacientes com doença psiquiátrica podem ser Instrumento
atingidos neste nível de prevenção.
Apesar das discrepância entre os resultados Foi usado um enfoque chamado “guia geral de
encontrados e o aumento da freqüência do sui- entrevistas”, uma entrevista qualitativa inter-
cídio, os autores continuam a fazer pesquisas, mediária entre entrevista padronizada com co-
confirmando hipóteses que, logo em seguida, meço e fim e uma conversa informal. Esta ca-
são rejeitadas por outros. Em vista disso, resol- racteriza-se por tópicos previamente determi-
vemos examinar a questão mediante estudo nados a serem explorados por cada paciente
qualitativo que enfoca o significado da morte e (Patton, 1990). Não existem questões escritas
do suicídio para os pacientes (Mello, 1995). padronizadas nem disposição rígida de formu-
lação destas. As questões versam a respeito das
opiniões e valores dos pacientes quanto a sua
Material e métodos tentativa de suicídio. O entrevistador pode a-
daptar a seqüência e as questões formuladas,
Todos os pacientes internados na enfermaria dependendo do contexto da entrevista. O ins-
de psiquiatria do Hospital do Servidor Público trumento foi aplicado durante o seguimento
Estadual por uma tentativa de suicídio durante de quatro entrevistas com cerca de uma hora
o período de seis meses foram submetidos a cada.
entrevista qualitativa por psiquiatra treinado, A primeira entrevista começava com apre-
desde que os pacientes preenchessem os crité- sentação do entrevistador e das metas do estu-
rios de inclusão no estudo. Eram critérios de do. Assegurava-se que o conteúdo das entrevis-
inclusão: admissão em enfermaria psiquiátrica tas seria confidencial, enfatizando-se sempre a
após tentativa de suicídio e o consentimento neutralidade do entrevistador. No começo de
do paciente para a participação no estudo, se- cada entrevista eram apresentadas algumas
guido de assinatura em termo de consenti- questões gerais relativas a hospitalização, tra-
mento. Eram critérios de exclusão: presença de tamentos, atividades, medicação etc. Todas es-
confusão e de deficiências intelectuais ou neu- tas medidas tinham como finalidade propor-
rológicas que levassem a dificuldades cogniti- cionar melhores condições para a entrevista.

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Evitavam-se questões dicotômicas, preferindo- Resultados


se aquelas que buscassem as opiniões dos pa-
cientes. A análise das entrevistas qualitativas mostrou
Todas as entrevistas foram anotadas, gri- que, em seis casos, nenhum sintoma psicopa-
fando-se tópicos e frases significativas durante tológico foi encontrado durante a tentativa de
a mesma. Convencionou-se que o entrevista- suicídio e previamente a esta. A tentativa foi
dor colocaria entre aspas somente as frases di- considerada como escolha livre e premeditada,
tas pelo entrevistado, marcando as interpreta- não relacionada a doença mental, classifican-
ções, pensamentos e idéias que vinham duran- do-se então como suicídio racional. Um dos
te a entrevista. Logo que a entrevista termina- casos apresentava diagnóstico psiquiátrico an-
va, o entrevistador fazia extensa dissertação terior, porém a atual tentativa de suicídio não
acerca do material anotado. As dissertações foi a este referida. Tratava-se de uma professo-
eram então analisadas para responder as ques- ra de 2 o grau, em atividade, com quadro deli-
tões previamente estabelecidas. rante crônico (erotomania) sem prejuízos fun-
A análise do conteúdo das entrevistas foi cionais. Após receber diagnóstico de leucemia
feita a partir do método fenomenológico-exis- linfóide tentou o suicídio por imolação. Dois a-
tencial. O método fenomenológico aqui refe- nos antes, essa paciente havia cuidado de uma
renciado é baseado em Husserl (1931, apud Me- irmã com idêntico tipo de diagnóstico e optou
lo, 1981) e voltado para a captação e compre- por não sofrer da mesma maneira, apavorando-
ensão das estruturas e modos de organização lhe o fato de estar sozinha. Dez dias após a últi-
intencional da consciência, levando, por meio ma entrevista, morreu na UTI em conseqüência
da redução, à distinção entre o fato e a essên- de sua tentativa de suicídio.
cia. O fato é empírico, temporal, individual, Uma outra paciente realizou grave tentati-
contingente, localizável e variável com as cir- va de suicídio por ingestão de medicamentos.
cunstâncias. A essência é intemporal e univer- Disse ter feito tal tentativa porque nada mais
sal, sempre una e autêntica, idêntica e imutá- tinha a fazer na vida. Desde a morte de seu ma-
vel. Pressupõe-se que para todo fato há uma rido – há vinte anos – passara a sustentar a casa
essência. Na redução fenomenológica procura- e os dois filhos, tendo sido bem sucedida nesta
se, por intermédio da suspensão dos juízos, a- tarefa apesar das dificuldades. Nos últimos a-
preender o fenômeno, em sua estrutura essen- nos, o filho começara a trabalhar com a pacien-
cial, obtida mediante reflexão e intuição. te, que lhe ensinara a profissão, passando–lhe
O método fenomenológico de Husserl de- muitos clientes. Mais recentemente, o filho
semboca na análise existencial como estrutura passou a tomar conta do negócio sozinho, dan-
do ser-no-mundo, descrita por Heidegger (1935, do mesada à mãe, por não querer que a mesma
apud Melo, 1981), e em uma série de outras continuasse a trabalhar. A paciente acreditava
concepções narradas como fenomenológicas- que ele assim agia para controlar seu dinheiro.
existenciais. Interessa-nos compreender, na Reclamava do fato de não saber o montante da
análise dos conteúdos das entrevistas, as rela- conta bancária dele e, principalmente, por ter
ções entre a atitude suicida e a história do indi- que pedir-lhe dinheiro. Acrescentou que seu fi-
víduo. Procuramos saber quais os significados lho sempre lhe deu tudo, mas que isto a fazia
atribuídos por estes pacientes à morte e ao sui- sentir-se humilhada. Sempre tivera boa posi-
cídio, avaliando, neste contexto, se foram esco- ção social até a morte do marido, além de ter
lhas deliberadas, opções, ou se foram impostas sido mulher bonita, culta e inteligente, “por is-
por processo psicopatológico. to sempre consegui muita coisa na vida...”. A
A análise do conteúdo segundo método sua relação com o filho era conturbada por in-
qualitativo é tomado mais recentemente, pela trometer-se em suas relações amorosas. O fi-
Sociologia, como um conjunto de técnicas de lho, ao mesmo tempo em que permitia tal in-
análise das comunicações (Bardin, 1977). Com gerência, agredia a mãe verbalmente e, por ve-
base neste enfoque, a análise de conteúdo rea- zes, até fisicamente. Anteriormente, a paciente
lizada consistiu em uma descrição analítica, nunca se tratara do ponto de vista psíquico.
uma análise dos significados em comunicação Não se demonstrou deprimida durante o exa-
dual, utilizando-se a linguagem oral e a não me; sua tentativa de suicídio fora intencional,
verbal coletadas nas entrevistas acima descri- com o fim real de auto eliminação, apesar de
tas, para então passar às inferências acerca do mostrar forte conteúdo histriônico pelo senti-
material, como o que conduziu à determina- do de incutir culpa em seu filho. Inquirida a
ção de tal enunciado. Por fim, as interpreta- respeito do significado de seu ato, alegou que
ções/significações concedidas a estas caracte- queria morrer, pois não havia mais nada a fa-
rísticas tiveram lugar. zer; protestava assim contra a situação que lhe

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era imposta. “Sempre fiz o que quis! Este seria o de quatro anos de duração. Esse relacionamen-
meu último ato, mas deixaria muita gente com to era estável, mas algo monótono em seu mo-
remorsos”. Não parecia se preocupar com o que do de entender. Durante férias que desfrutou
aconteceria depois da morte, pois, apesar de com amigas, manteve relacionamento por qua-
ser judia, não era religiosa: “...acabamos a- se todo o período com outro rapaz, sentindo
qui...”. Falava de seu ato sem demonstrar en- forte atração física por ele, o que até então não
volvimento afetivo. Não foi possível detectar era conhecido pela paciente. Este caso fora pre-
patologia psiquiátrica envolvida no suicídio. senciado e até incentivado pelas amigas. Con-
Outro paciente avaliado, um adolescente tudo, ao regressar, desenvolvera intenso re-
de 16 anos, mostrou-se reticente, não queren- morso, e resolvera contar ao namorado, o qual
do falar no motivo que o levara a realizar tal imediatamente rompera o relacionamento. A
ato. Não apresentava déficit de consciência, al- partir de então, seus sentimentos foram de rai-
terações cognitivas ou, ainda, do humor. Pela va de si mesma, vergonha, culpa e falta de co-
história de vida colhida tanto com o paciente ragem para resolver a situação, uma vez que
quanto com a família, é provável que a tentati- várias pessoas em comum tinham sido envol-
va de suicídio – gravíssima, com arma de fogo – vidas. No clímax desta situação ingeriu medi-
tenha sido motivada por conflito. O projétil camentos com o intuito de matar-se. Via o sui-
alojou-se no crânio e foi retirado por neuroci- cídio como maneira de fugir da situação, tendo
rurgia, não ocasionando lesões nem mesmo optado pelo não enfrentamento como saída
déficits neurológicos no pós operatório. O ra- mais rápida para tudo.
paz, nas avaliações seguintes, expôs a causa Outra paciente, mulher casada de 38 anos,
como amor platônico, não correspondido, ten- tentou o suicídio mediante ingestão de psico-
do planejado uma solução romântica. Estava fármacos. Ao ser descoberta, foi levada pela fa-
consciente de sua atitude e da escolha que ha- mília ao pronto-socorro. Dizia não suportar,
via feito. Não sabia ainda o que iria fazer com em sua vida, uma série de dificuldades: conju-
tal insucesso. gais, econômicas e pessoais. Estas se arrasta-
Um homem, ao redor de seus 40 anos de vam há anos e sabia que não seriam soluciona-
idade, tentou o suicídio pela ingestão de psico- das tão brevemente. Não se sentia triste ou de-
fármacos. A motivação foi uma situação social primida, porém não tinha perspectivas de so-
e afetiva que se tornara insuportável, em virtu- lução, o que era realmente difícil pelas circuns-
de de problemas que se arrastavam há anos. Ao tâncias. Optou pelo suicídio, pois esta saída te-
chegar em São Paulo, há mais de dez anos, “in- ria desfecho conhecido: a morte.
ventara” uma história de sua vida pregressa,
omitindo a humilde origem familiar. Mantivera
esta mentira desde então; porém, desde algum Discussão
tempo, a história tornara-se complicada. Seu
companheiro suspeitara da veracidade dos fa- A partir desses achados confirmamos que o sui-
tos e, muitas vezes, o paciente entrara em con- cídio nem sempre é resultante de doença men-
tradições diante dele. Tinha medo de revelar a tal. Para nós, a doença mental acontece quando
verdade em razão de serem imprevisíveis as a pessoa perde a capacidade de escolher e agir
conseqüências, pela vergonha de ter mantido de acordo com a sua vontade. A doença limita a
uma farsa tão “tola”, segundo o próprio, mes- liberdade da pessoa para agir, tal como quando
mo para seu companheiro há seis anos. Optou se deixa de sair por medo de sofrer ataque de
pelo suicídio, pois contar lhe seria penoso. Em pânico, ou de realizar uma vontade por achar
processo psicoterápico posterior às entrevistas, que o mundo irá logo acabar, ou ter que agredir
conseguiu rever suas relações familiares, o por- uma pessoa por estar sendo comandado por
quê de tê-las abandonado, culminando com a vozes. Deste modo, a doença mental ocorre
procura bem sucedida da família. Paralelamen- quando se perde a liberdade de escolha (Sonen-
te, o fato foi exposto pelo paciente ao compa- reich & Bassit, 1979). No caso do suicídio pato-
nheiro, o qual, para sua surpresa, não se mos- lógico, a morte não configura uma escolha de-
trou abalado, uma vez que já sabia do fato, e o liberada, mas é ação norteada pela doença.
ajudou a procurar a família. Sem dúvida, a doença mental acarreta maior
Uma paciente jovem, de 20 anos de idade, possibilidade de suicídio, constituindo um dos
realizou tentativa de suicídio por ingestão de fatores preditivos mais poderosos ao lado de
psicofármacos. Contou inicialmente estar arre- prévia tentativa de suicídio; porém, nem todos
pendida e envergonhada de seu ato. Não con- os suicidas estão doentes mentais.
seguira suportar seus sentimentos nem tivera Em um dos trabalhos estudados (Horton-
coragem de enfrentá-los. Vinha de um namoro Deutsh et al., 1992), os autores explicitam a al-

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ta incidência de suicídio em pacientes com uma reflexão, a qual inibe um ser sadio a jogar-
dispnéia crônica. Um destes, homem idoso se no desconhecido. Se, por crença religiosa, os
que sempre fora ativo, trabalhara e praticara indivíduos acreditam que o suicídio conduz à
esportes até sobrevir infarto extenso. Era defi- glória de Deus, ou que leva ao inferno, é de su-
nido pelos autores como sério, equilibrado, por que diversa será a atitude diante da morte...
quieto e confiante. Na fase de recuperação, O suicídio pode ser heróico, sagrado ou ir-
mantivera grande parte de suas atividades en- relevante. Para uma pessoa sem objetivos e
quanto seguia o tratamento. Com o progredir sem expectativas futuras, o suicídio é conside-
da doença coronária, suas limitações foram rado como ato imediato, sem questionamentos
aumentando, manifestando-se intensa dis- quanto ao que virá depois, ou o que pensaria
pnéia. Nos últimos dois meses de vida sofrera amanhã caso não se matasse. Portanto, o suicí-
duas internações por fibrilação atrial, edema dio pode ter diversos significados, um para ca-
pulmonar e insuficiência renal. Até para a ali- da paciente, bem como estes podem variar
mentação ficava dispnéico. Pedira alta preco- consideravelmente no mesmo paciente.
ce, confidenciando à enfermeira que não acre- Alguns de nossos pacientes, após grave ten-
ditava em melhora. Uma semana antes do sui- tativa de suicídio, negavam-na, desqualifica-
cídio fora visto por seu médico, o qual lhe con- vam-na, tirando sua responsabilidade do ato.
firmara o prognóstico. No dia seguinte matou- Por sua vez, não foi possível detectar o menor
se com um tiro na cabeça. sinal de risco de suicídio em outros pacientes
Os autores afirmam o diagnóstico de de- examinados; contudo, logo em seguida, o ato
pressão com base na anedonia, diminuição do era realizado. Este foi o caso de um dos pacien-
apetite e isolamento. Contudo, que prazer, que tes que vieram espontaneamente à consulta,
apetite, que condições teria semelhante pessoa segundo ele, para manter-se bem. Não apre-
para conversar em seu estado atual? Principal- sentava sinal de que iria matar-se, mas suici-
mente por tratar-se de paciente que sempre fo- dou-se três dias após a consulta.
ra auto-suficiente física e emocionalmente. O A análise do conteúdo expresso por seis pa-
diagnóstico de depressão é, ao nosso ver, ques- cientes deste estudo, afora confirmar que o
tionável. suicídio também pode ser realizado por pes-
Alguns suicídios de pessoas famosas, como soas não doentes mentais, mostra que as moti-
o de Artur Koestler – que sofria do mal de Par- vações são as mais variadas. Eles diferem dos
kinson – também poderia ser atribuído à de- suicidas patológicos, nos quais os temas são de
pressão, mas o que teria levado a sua jovem e certa forma homogeneizados pela doença men-
saudável esposa a acompanhá-lo no ato? Mor- tal: perseguições, niilismos, desespero que im-
rer seria a recusa de uma vida inaceitável para pede o raciocínio e confusão mental.
os dois. Ou, ainda, do casal van Dussem que se Nos pacientes entrevistados que foram clas-
matou pelas limitações impostas pela idade, sificados como suicidas racionais, encontrou-
deixando escrito: “...pensamos que este é o me- se a resolução de acabar com a vida por diver-
lhor modo, o direito de partimos...”. sos motivos: fuga ao sofrimento causado por
O psiquiatra, uma vez feito o diagnóstico, doença sem prognóstico, significando escolha
tem uma preocupação: quer avaliar o risco de de como morrer; saída romântica de adoles-
suicídio para seu paciente. Para isto apóia-se cente incapaz de enunciar seu amor, planejan-
na literatura. do que o anúncio deste, como prova de amor,
Como foi visto, o suicídio já foi correlacio- se desse pela própria morte; opção por parte
nado a várias situações – sexo, idade, estado ci- de pessoas sem coragem de expor atitudes que
vil e diagnóstico –, bem como a certos traços e elas consideram impróprias às pessoas que
estados psicológicos, tais como agressividade, consideram. Nestes casos, a morte significa a
violência e desespero... Apesar da constante retomada da dignidade e decência, ao invés de
discordância entre os resultados das pesquisas perpetuar suas fraquezas diante daqueles que
quantitativas, os pesquisadores continuam a tinham em conta esses indivíduos. Além do
fazê-las e preocupam-se, com freqüência, com mais, há a incapacidade da mulher, ainda jo-
o significado do ato “suicida”. O caráter patoló- vem, que não via saída para sua insatisfatória
gico, ou não, do suicídio e o risco de suicídio situação de vida, vendo na morte a única pos-
podem ser avaliados em função do que repre- sibilidade. A morte e o suicídio significavam a
senta para a pessoa morrer ou viver. Quem en- saída.
cara a morte como um grande e total silêncio, A variabilidade de motivações e significa-
um repouso, não hesitará diante de um ato que dos atribuídos ao suicídio e à morte não pare-
coloca fim a seus sofrimentos. Mas se a morte cem ser exclusivas desses pacientes. Reflexões
é um sono com sonhos impõe-se pelo menos quanto aos significados da morte foram elabo-

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radas por pensadores desde tempos remotos. los Filisteus: “para que não venham estes incir-
Cícero (1991), em 45 a.C., em Tusculano, filo- cuncisos e escarneçam de mim” (Bíblia Sagrada,
sofava a respeito da morte, perguntando-se: a 1990:443). Sansão, para matar os Filisteus. Se-
alma morre com o corpo como postulavam os guem-se vários suicidas heróis e santos: rei
estóicos? Ou permanece após a morte corporal Zambí, Aquitoetel, Eleazar, Razis, Santa Apolo-
e permite ascender a uma vida sem sofrimen- nia e Santa Pelágia.
tos e inquietações? Se os mortos não são infe- Ao longo da história encontramos tanto
lizes, nós, os vivos, que sabemos que vamos propostas de condenação quanto de exaltação
morrer, podemos ter prazer em uma vida pre- do suicídio. A morte pode ser vista como silên-
cária, que pode acabar a qualquer momento? cio absoluto, como sono que não difere radi-
Sócrates declarara após a sua condenação: calmente da vida ou como caminho do inferno
“... uma esperança firme me anima, juízes, por- ou do paraíso. É também ambígua para a mes-
que ser mandado à morte é felicidade para ma pessoa: a morte leva para o lado de Deus ou
mim. De duas coisas, uma: ou a morte nos tira a joga no inferno? E, tantas vezes, a dúvida per-
consciência, ou ela é passagem daqui para ou- manece: o que me espera após a morte? Persis-
tro lugar. Portanto, se a morte é o apagamento tem as oscilações entre manifestações opostas.
de qualquer sentimento e parece um destes so- Diante do suicida que manifesta intenção
nos sem sonhos que nos trazem às vezes profun- de novas tentativas temos que estabelecer apro-
do descanso, grandes deuses, que vantagem pre- ximação com o que a pessoa, nosso paciente,
ferir o dia a tal noite...” (Platão, 1999:95). Platão está vivendo. As pesquisas fornecem instru-
(428-348 a. C.) considerou o suicídio moral- mentos para estudo do caso. É preciso aplicá-
mente aceitável. Para Panetius, aluno de Pla- los ao caso individual, único. A incapacidade
tão, tudo que é gerado destina-se à morte. Este de prever o suicídio está relacionada à variabi-
seria o caso das almas também. Nessa mesma lidade e à inconstância dos significados atri-
época, outros reagem: nada prova que as almas buídos à morte e ao suicídio. Esta angústia e a
“nascem”. Por sua vez, outro aluno de Platão, consciência de nossa impotência podem con-
Aristóteles (384-322 a. C.), qualificou o ato de fortar-nos e fazer com que não tomemos medi-
covardia. Zenon (séc. IV a. C) disse que o ho- das por vezes intempestivas e inefetivas.
mem sábio abandona o banquete da vida justa O suicídio é fenômeno paradoxal. De um
de maneira direita, em condições justas. lado aparece como a mais pessoal das ações
Em certas situações, o suicídio pode ser en- que um indivíduo pode cometer. De outro, é
tendido como ato de extrema nobreza, mas, ubíquo; ocorre ao longo da história humana.
em outras, como indigno. Ajax, na Ilíada, ma- Em todos os cantos do mundo e, amiúde, em
ta-se por vergonha. Antônio, vencido, e Cleó- determinadas circunstâncias demonstra tama-
patra, para fugirem à escravidão. Seriam covar- nha similaridade, que é possível concluir que
des, nobres ou loucos? os fatores sociais desempenham papel impor-
Dezessete séculos depois, Hamlet parece tante, senão decisivo (Diekstra et al., 1989).
repetir Sócrates e Cícero em suas dúvidas quan- O ato suicida é ou a aplicação de uma idéia
to à morte e ao suicídio. Para os budistas, a patológica, ou escolha deliberada de pessoa
morte é irrelevante. Para um samurai (Mishima, sem patologia mental. Participam desta decisão
1987), o suicídio é ato de nobreza e liberdade. elementos que não podem ser quantificados. É
Matam-se mesmo adeptos arraigados das preciso estudar, ao lado das pesquisas quanti-
religiões cristãs e mosaicas, apesar de nestas tativas, outros aspectos. A análise dos “signifi-
ser comum a condenação do suicídio. Nos tex- cados” é indispensável para o tratamento.
tos sagrados, ambas as conotações atribuídas Para a questão do “suicídio”, os estudos
ao suicídio são vacilantes. Abimelec pede para quantitativos são indispensáveis; para a pessoa
ser morto após ter tido seu crânio quebrado “suicida” impõe-se abordagem individual, histó-
por uma mulher. O rei Saul, após a derrota pe- rica e qualitativa, afora a abordagem do clínico.

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