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E-BOOK

Primeiros
passos para
escolher as
melhores
ações
A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

SUMÁRIO
3 Por que você precisa saber escolher suas ações?

6 Como avaliar as empresas da Bolsa

6 Indicadores operacionais e financeiros

10 Além dos números

12 A metamorfose ambulante do mercado de ações

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

Por que você


precisa saber
escolher
suas ações?
Para os brasileiros, investir em ações nunca fez tanto sentido.
Com a taxa Selic caindo em 2020 para 2% ao ano, o menor nível
da história, o número de contas de pessoas físicas abertas em
corretoras para negociar na B3 (a Bolsa de valores oficial do
Brasil, em São Paulo) praticamente dobrou em um ano, atingin-
do 3,2 milhões.

A cifra indica que não se trata apenas de uma corrida para a


renda variável: vem subindo o número de investidores dispostos
a garimpar as melhores ações de empresas para construir seu
patrimônio, uma prática quase trivial em países com economia
mais desenvolvida, como os Estados Unidos.

Muitas vezes pela falta de disposição ou temor de mergulhar no


assunto, investidores acabam delegando a tarefa de escolher
ações para os gestores especializados. Certamente há excelen-
tes estrategistas dedicados diariamente a fazer a melhor aloca-
ção dos recursos.

Mesmo assim, é importante conhecer como a Bolsa e as com-


panhias funcionam para analisar a pertinência de recomenda-
ções recebidas, acompanhar de perto o destino do seu dinheiro
– os ativos precisam estar alinhados com o perfil e o objetivo de
cada um – e ter segurança na tomada de decisão.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

“ Ninguém está recomendando não investir


nos fundos. Mas é interessante separar
uma parte do montante também para
aproveitar as oportunidades que os grandes
gestores não conseguem aproveitar”
Thiago Salomão,
analista e apresentador do podcast Stock Pickers

Veja também: as vantagens de escolher suas próprias ações

Um fundo de investimento em renda variável costuma ter esco-


po definido: blue chips, small caps, determinados setores. Por
isso, mesmo gostando muito de determinada empresa e vendo
potencial para valorização da ação, o gestor não pode sair com-
prando qualquer papel.

Outra relevante restrição às compras é a liquidez da ação. Se a


companhia é de menor porte ou desconhecida de grande parte
do mercado, o volume de papeis negociados na Bolsa é pequeno.

Para um grande fundo, não faz sentido comprar uma participa-


ção tacanha em um negócio em que acredita. Assim, caso queira
colocar suas ações na carteira, vai agir com a sutileza de um ele-
fante em uma loja de cristais. Quando começa a comprar, acaba
fazendo o preço do papel disparar e, assim, distorce o mercado.

Ao terminar de construir a sua posição, o preço final pago pode


ser muito superior àquele nível que caracterizava uma boa
oportunidade. E, se precisar vender rapidamente os papeis em
algum momento, não vai conseguir.

O pequeno investidor que compra diretamente ações na Bolsa


não tem nenhum desses impedimentos.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

Oportunidade para os pequenos

No início de 2019, o Banco Inter (BIDI4), controlado pela família Menin,


que também é dona da construtora MRV, começou a chamar atenção
no mercado. Cada vez mais especialistas viam nas instituições finan-
ceiras digitais potencial para entrar com vantagens na briga com os
tradicionais bancões por correntistas.

Bem administrado e cheio de novos produtos para oferecer, o Inter


era apontado como escolha interessante para quem queria apostar no
setor. Diversos gestores de peso namoraram o papel, mas por causa
da baixa liquidez da ação naquele ponto, não conseguiram comprar.

Porém, o pequeno investidor que detectou a oportunidade e colocou a


ação do Inter na sua carteira naquela época viu o montante aplicado se
multiplicar por mais de 18 em dois anos.

Para conhecer bem uma empresa, entender seus rumos e con-


seguir antecipar suas grandes tacadas, as demonstrações fi-
nanceiras são uma ferramenta essencial.

Divulgadas pelas companhias abertas trimestralmente no Brasil,


os balanços trazem indicadores operacionais e financeiros que
permitem fazer um bom diagnóstico de sua situação e das pers-
pectivas, e formam a base da chamada análise fundamentalista.

Há também indicadores um tanto mais subjetivos que merecem


grande atenção, como a qualidade dos executivos responsáveis
pelo negócio e os seus padrões de governança.

Vamos falar sobre todos eles nas próximas páginas. Mas para
entendê-los de maneira mais dinâmica, nada melhor do que fa-
zer perguntas e ouvir o que os próprios executivos da empresa
têm a dizer a respeito.

É disso que se trata o Por Dentro dos Resultados

uma série de lives do InfoMoney com a presença dos CEOs,


CFOs e diretores de RI das principais empresas listadas na B3.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

Como avaliar
uma empresa
da Bolsa?
A maior parte dos gestores adeptos da análise fundamentalis-
ta costuma afirmar que dá mais atenção às informações par-
ticulares de cada empresa do que à situação da economia de
forma mais ampla.

Grandes tendências para o mercado de trabalho ou a inflação


naturalmente afetam as companhias em maior ou menor grau.
No entanto, mais importantes para o desempenho do negócio
são as suas características intrínsecas e as tendências para o
setor em que atua, as quais permitem identificar as oportunida-
des e os desafios que a empresa vai encontrar.

Depois de situar o negócio nesse contexto, começa a análise


do seu potencial.

Indicadores operacionais e financeiros

1 Ebitda
É a sigla em inglês para ganhos antes de juros, impostos, de-
preciação e amortização. Corresponde à geração de caixa
operacional da empresa, ou seja, quanto o negócio gera de re-
cursos apenas com a sua operação regular, sem contar efeitos
financeiros e de cobrança de impostos.

Leia também: o que é Ebtida, como calcular e de que forma


analisar ao investir em ações

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

2 Liquidez
As medidas de liquidez mostram qual é a margem de manobra
da empresa caso precise de dinheiro urgente. Nas demons-
trações financeiras, a linha caixa e equivalentes de caixa se
refere aos recursos que estão mais à mão.

A liquidez corrente, obtida pela divisão do ativo circulante


pelo passivo circulante, também aponta a capacidade de hon-
rar compromissos de curto prazo: se for maior do que 1, signifi-
ca uma situação saudável, enquanto índices abaixo de 1 devem
despertar preocupação.

3 Endividamento
Se elevado demais, pode levar a despesas financeiras que as-
fixiam a empresa. Além das medidas de dívida bruta e dívida
líquida, o mercado financeiro costuma considerar, na análise
da situação, a razão entre dívida líquida e Ebitda, que mostra
quanto tempo de geração de caixa a companhia precisa para
zerar sua alavancagem.

De forma geral, um índice até 2 é visto como razoável, enquan-


to leituras acima de 4 preocupam.

4 Margem líquida
É a relação entre o lucro líquido e a receita, expressa em por-
centagem. Quanto mais alta, melhor. Se está em crescimento
ao longo dos trimestres, indica ganho de eficiência do negócio,
ou seja, maior capacidade de extrair lucro da sua operação.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

5 Lucro por ação (LPA)


Obtido da divisão do lucro líquido do período pelo número to-
tal de ações da companhia. É uma maneira de avaliar o lucro
gerado pela empresa para o seu investidor. permitindo concluir
se a ação está cara ou barata em relação a seus pares; quanto
maior o P/L, mais cara está a ação

6 Múltiplo preço sobre lucro (P/L)


Este indicador não costuma constar dos balanços, mas está
entre os mais relevantes para a análise de ações. Para calcular,
divide-se o preço do papel em determinado período pelo LPA.
Relaciona o valor de mercado da companhia ao lucro gerado,
permitindo concluir se a ação está barata ou cara.

7 Múltiplo preço sobre valor patrimonial da ação (P/VPA)


O valor patrimonial da ação vem da divisão do patrimônio líqui-
do da companhia – todos os bens que possui, como fábricas,
lojas, terrenos – pelo número total de ações.

Quando o múltiplo P/VPA fica menor do que 1, significa que o


valor de mercado da empresa se encontra abaixo do seu pa-
trimônio – ou seja, o papel está barato. É importante notar que
o múltiplo não reflete bem a situação de organizações que te-
nham muitos ativos intangíveis, como as do setor de tecnologia.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

8 Dividend yield
Proporciona mais uma medida da rentabilidade para quem in-
veste na empresa, calculada pela razão entre a remuneração
total ao acionista (dividendos e juros sobre o capital próprio) e
o preço do papel. Para quem tem como horizonte o longo pra-
zo, é um dos indicadores mais importantes.

Leia também: o que dois indicadores explicam sobre as


maiores altas e maiores baixas da Bolsa na década

9 ROE
É a sigla em inglês para Retorno Sobre o Patrimônio. Mensura
a rentabilidade da empresa: a geração de riqueza a partir da
sua estrutura produtiva. É obtido pela divisão do lucro líquido
pelo patrimônio líquido e dá uma boa ideia de como o dinheiro
colocado pelo investidor na companhia volta na forma de lucro.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

Além dos números

Indicadores e múltiplos são extremamente úteis para entender


a situação atual de um negócio e suas perspectivas. Mas outros
fatores subjetivos e difíceis de traduzir em números são utiliza-
dos pelos investidores para encontrar boas empresas

1 Qualidade da gestão
Quanto vale um bom presidente para uma empresa? E um diretor
de marketing talentoso? O time certo no comando é apontado pe-
los especialistas como um dos maiores ativos de uma companhia.
Entre as qualidades dos executivos mais valorizadas estão a capa-
cidade de inspirar os colaboradores, a flexibilidade e a resiliência.

“ Esse perfil pode ir mudando ao longo do


tempo. Há uns seis ou sete anos, a disciplina
e a capacidade de execução eram muito
valorizadas. Hoje, outros atributos são mais
importantes. E é uma questão de cabeça, não
de idade. A crise da covid-19 aumentou mais a
relevância dessas características: a capacidade
de adaptação a um ambiente em mudança, de
inovação usando as ferramentas digitais.”
Mauricio Bttencourt,
sócio-fundador da gestora VELT Partners

Mas se essas habilidades não são listadas no balanço, como


avaliar se uma companhia é bem administrada? Acompanhan-
do, no noticiário, as movimentações das empresas e manifes-
tações dos executivos, aproveitando as oportunidades para
interagir com eles.

A série Por Dentro dos Resultados, do InfoMoney, se propõe


justamente a isso: é uma oportunidade para os investidores co-
nhecerem melhor quem conduz os negócios.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

2 Uso da tecnologia
Na pandemia, o bom uso da tecnologia marcou a diferença en-
tre as companhias que sobreviveram e as que morreram pelo
caminho.

A implantação de um serviço de entregas, o gerenciamento


competente dos dados dos clientes e a digitalização do aten-
dimento são algumas das medidas tomadas por quem conse-
guiu dar uma guinada no seu negócio e até saiu melhor da
crise do que entrou.

Conhecer bem a estratégia da companhia para administrar


seus recursos tecnológicos e inovar pode ajudar muito a iden-
tificar grandes oportunidades na Bolsa.

Evolução no varejo
A companhia aberta brasileira que realizou um processo exemplar de
digitalização do seu negócio nos últimos anos é o Magazine Luiza
(MGLU3) . Com a criação de um marketplace, a montagem de um sis-
tema de logística rápido e eficiente guiado pela tecnologia e a constru-
ção de um super app, o Magalu viu o seu valor de mercado se multipli-
car por um pouco mais de 12 entre o final de 2017 e o início de 2021.

3 Governança corporativa
Um dos efeitos mais positivos da sofisticação do mercado de
capitais brasileiro nos últimos anos é o aprimoramento da go-
vernança das empresas. As companhias familiares têm adotado
uma gestão mais profissionalizada e os acionistas minoritários
vêm ganhando mais voz e respeito por parte das corporações.

Na B3, as que obedecem aos padrões mais rigorosos podem


ser listadas em segmentos diferenciados de negociação. O
mais elevado é o Novo Mercado, lançado em 2000. Entre as
exigências está a de que a empresa tenha somente ações
ordinárias (ON) e que, em caso de venda do controle, todos os
acionistas tenham direito de vender seus papeis pelo mesmo
preço atribuído aos do controlador.

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

3 ESG
Sigla em inglês para Governança Social e Ambiental. Grandes
fundos de investimento têm deixado de colocar dinheiro em
companhias poluidoras e valorizado as que assumem a res-
ponsabilidade de cuidar das comunidades em que estão inse-
ridas e difundir valores construtivos na sociedade.

“ Daqui a alguns anos, acredito que a sigla ESG


vai sumir. Não porque o assunto morrerá, longe
disso, mas sim porque será uma coisa normal do
nosso dia-a-dia. Empresas com boas métricas
de ESG performam melhor do que empresas
sem métricas. Fizemos um “backtesting” de 5
anos atrás pra cá e as empresas ESG tiveram
14% a mais de retorno do que as não-ESG.”
Florian Bartunek,
fundador da gestora Constellation

A metamorfose ambulante
do mercado de ações

Não existe um indicador que, sozinho, sirva para chegar a con-


clusões sobre um negócio. Também não existe uma combina-
ção única de elementos que defina uma boa empresa.

Tanto as que atuam em setores tradicionais como minera-


ção e petróleo quanto as tecnológicas disruptivas podem dar
muitas alegrias para seus acionistas – de maneiras completa-
mente diferentes.

É o conjunto de informações que permite compreender bem


uma empresa e decidir se tornar sócio dela (ou não).

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

Os maiores gestores de fundos gostam de dizer que o esforço


de estudar as companhias, os ativos financeiros, a sociedade
e a economia trazem o bônus de abrir os horizontes, ajudando
qualquer pessoa a entender tudo o que ocorre no planeta sob
uma nova ótica, mais prática (os resultados) e ao mesmo tempo
mais profunda (as causas e consequências).

Conforme se aventura pelos conhecimentos, o investidor tam-


bém vai perceber que critérios e parâmetros são dinâmicos e
mudam. O que era uma boa aplicação uma década atrás pode
já não ser mais agora, daí a importância de fazer da escolha de
ações um exercício contínuo.

Com o crescimento das empresas de tecnologia, por exemplo,


os investidores precisaram se acostumar com um novo modelo
de negócio que demanda pesados aportes por um bom tempo
antes de dar lucro – se vier a dar lucro.

“ Ficou mais difícil prever o desempenho dos


negócios. Não mudamos a nossa cabeça
a ponto de acreditar que as empresas de
tecnologia vão dominar o mundo. Assim
como temos na carteira Mercado Livre, XP
e Enjoei, por exemplo, temos Vale, que está
num dos negócios mais antigos do planeta,
que é extrair minério do solo. O que não
muda é o fato de que é muito importante
analisar a qualidade do negócio e das
pessoas por trás dele. Isso é fundamental na
avaliação de qualquer companhia.”
Gestores da Dynamo em entrevista ao InfoMoney

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A ESCOLHA DAS MELHORES AÇÕES

Edição: Denyse Godoy


Arte: Leonardo Albertino

Primeiros
passos para
escolher as
melhores
ações

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