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Cefaléia cervicogênica e tratamento fisioterapêutico: uma revisão de


literatura
Gabriela Amorim Barreto1
barretog_a@yahoo.com.br
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Fisioterapia Traumato–Ortopédica com ênfase em terapia manual – Faculdade Ávila

RESUMO
Cefaléia cervicogênica (CC) é a que tem origem na região cervical e pode se irradiar pra
cabeça. É caracterizada por episódios de dor em peso, aperto, queimação, às vezes latejante
ou em pontada na região occipital e irradiada na região temporal, frontal, ocular, pré ou
retro-auricular. Pode ser acompanhada ou não de fenômenos neurovegetativos craniofaciais
como lacrimejamento, eritema ocular, edema palpebral, rinorréia e tontura. Os pacientes
com síndrome da cefaleia cervicogênica trazem um desafio, tanto para o estabelecimento de
um diagnóstico preciso como para orientar os possíveis tratamentos. Este estudo fez uma
revisão de literatura sobre a CC e as técnicas fisioterapêuticas mais utilizadas no seu
tratamento. Foram encontradas poucas abordagens sobre a cefaléia cervicogênica.
Identificou-se, porém, que uma minuciosa avaliação sobre postura e biomecânica da coluna
cervical leva ao preciso diagnóstico e correta intervenção fisioterapêutica. Além disso, a
análise dos sinais e sintomas e sua diferenciação de outras patologias como enxaqueca e
cefaléia do tipo tensional também corroboram para o sucesso do tratamento. Muitos estudos,
principalmente práticos, precisam ser feitos para o esclarecimento e divulgação da cefaléia
cervicogênica.
Palavras-chave: Cefaléia cervicogênica; Tratamento; Fisioterapia.

1. INTRODUÇÃO
A cefaléia do tipo cervicogênica é caracterizada por episódios de dor em peso, aperto,
queimação, às vezes latejante ou em pontada na região occipital e irradiada na região
temporal, frontal, ocular, pré ou retro-auricular. Pode ser acompanhada ou não de fenômenos
neurovegetativos craniofaciais como lacrimejamento, eritema ocular, edema palpebral,
rinorréia e tontura.(CARVALHO, 2001).
O estabelecimento de posturas errôneas e a sua manutenção combinada ao ritmo intenso
diário, a ansiedade, a depressão ou até mesmo a outras patologias que geram contração
excessiva da musculatura cervical que provocam dor, são considerados fatores etiológicos
para a determinação deste tipo de cefaléia (HOFFMAN e TEODOROSKI, 2009). Uma
frequente causa de alteração na postura da cabeça e do pescoço é a falha nos músculos
posteriores, sendo assim, a curvatura normal é perdida ou invertida.
O mau alinhamento dos ombros também é uma alteração frequente. Alterações da curvatura
das vértebras superpõem-se a má postura do ombros. A constante mudança da atividade e o
estiramento muscular, bem como da orientação corporal, levam a sobrecarga e ao
aparecimento de pontos dolorosos e sensação de aperto (CARVALHO, 2001).
Por se tratar de uma síndrome de classificação recente, a cefaléia do tipo cervicogênica,
dispõe de poucos recursos de tratamento (CARVALHO, 2001) e ainda poucos estudos. A
fisioterapia compreende uma imensa área de condutas terapêuticas para a promoção da

1
Pós-graduando em Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual.
2
Professora orientadora Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Mestranda em Aspectos Bioéticos e
Jurídicos da Saúde
2

reabilitação, sendo que ela atua dentre outros sistemas, no sistema músculo-esquelético
(HOFFMAN e TEODOROSKI, 2009).
Este estudo fez um levantamento bibliográfico sobre a cefaléia cervicogênica e o seu
tratamento através de algumas técnicas fisioterapêuticas.

2. METODOLOGIA
Foi realizado um levantamento bibliográfico a partir das seguintes palavras chaves: Cefaléia
cervicogênica, tratamento e fisioterapia. As principais fontes foram artigos científicos já
publicados em sites fidedignos, do qual foram retirados os conceitos básicos e quadro clínico,
bem como as formas de tratamento empregadas. Também foram consultadas obras de
anatomia, traumato-ortopedia e cinesiologia, que complementaram o trabalho no que
concerne a anatomia e cinesiologia da coluna cervical e crânio, bem como, figuras
ilustrativas.
Após consulta e fichamento dos pontos mais relevantes este artigo foi construído de forma a
esclarecer o conceito e tratamentos mais ultilizados na Cefaléia Cervicogênica.

3. ANATOMIA
A coluna vertebral consiste em uma pilha de 33 vértebras divididas estruturalmente em cinco
regiões. De cima para baixo, existem 7 vértebras cervicais, 12 vértebras torácicas, 5 vértebras
lombares e 5 vértebras sacras fundidas e 4 pequenas vértebras coccígeas fundidas (HALL,
2005 P. 273). As sete vértebras cervicais formam um arcabouço flexível para o pescoço e
suporte para a cabeça. As vértebras cervicais se distinguem pela presença de um forame
transversário ou intervertebral em cada processo transverso (fig. 1) (GRAAFF, 2003).

Figura 1: Vértebra cervical


Fonte: http://www.sogab.com.br/anatomia/colunavertebraljonas.htm

As faces articulares das vértebras são conectadas pelos discos intervertebrais, que localizam-
se entre os corpos vertebrais. Os discos atuam como absorventes de choque. O disco é
formado por um anel fibroso (uma parte fibrosa externa) composto de lamelas concentricas de
fibrocartilagem e uma massa central gelatinosa denominada núcleo pulposo. Entre uma
vértebra e outra, bilateralmente, encontramos o forame de conjugação ou intervertebral, por
onde passam os nervos do canal vertebral (sistema nervoso central) para a periferia (sistema
nervoso periférico) (Fig. 2) (WERCKER, 2005).
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Figura 2: Articulação vertebral da região cervical


Fonte: http://rescueteam.yolasite.com/medicina/protese-cervical-pdf-

Segundo Castro (1985,p.20), o crânio é constituído por oito ossos. As suturas do crânio são
exemplos de articulações fibrosas. Os ossos são unidos entre si por meio de uma lâmina de
tecido fibroso, um ligamento ou uma membrana fibrosa formando uma articulação fibrosa do
tipo sindesmose. Consequentemente este tipo de articulação é parcialmente móvel. A
quantidade de movimento que ocorre em uma articulação fibrosa depende, na maioria dos
casos, do comprimento das fibras que unem os ossos articulares. (MOORE, 2001 P. 20).
O crânio consiste no músculo epicrânio que é formado pelos músculos occipito-frontal e
temporoparietal (Fig. 3) e uma aponeurose superficial no couro cabeludo denominada gálea
aponeurótica (WILLIAMS, 1995 p. 530).

Figura 3: músculos da cabeça-1. Occipitofrontal, 2. Temporoparietal, 3. Esternocleidomaistóideo, 4. Masseter


Fonte:http://www.juntadeandalucia.es/averroes/~29701428/salud/tests/testana19.htm
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O músculo occipito-frontal cobre a abóboda craniana das linhas mucais supremas até os
supercílios. É considerado um músculo superficial, pois não possui inserções em estruturas
ósseas sua ação é retrair o couro cabeludo. O ventre frontal eleva os supercílios e a pele do
nariz. A parte temporoparietal é uma lâmina muscular variavelmente desenvolvida entre a
parte frontal e os músculos auriculares anterior e superior (WERCKER, 2005).
A parte occipital do músculo occipito-frontal é suprida pelo ramo auricular posterior; a parte
frontal, pelos ramos temporais do nervo facial (VII par craniano). (WILLIAMS, 1995, p.530).
Rocabado (1998), afirma que a ATM é a articulação mais complexa do corpo. É uma
articulação sinovial eu consiste de côndilo mandibular, fossa glenóide, tuberosidade articular,
disco articular e a cápsula com ligamentos de reforço. (MONGINI, 1998, p. 29).
Segundo Williams (1995, p. 449), a mandíbula pode ser abaixada ou elevada, protraída ou
retraída e lateralizada para ambos os lados.
Os músculos que realizam os movimentos da mandíbula são:
- Masseter: realiza a oclusão dos dentes mastigação;
- Temporal: oclusão, retração e estabilização da mandíbula;
- Pterigoideo medial: oclusão, protração e lateralização contra-lateral da mandíbula
- Pterigoideo lateral: abertura da boca e protração
Os músculos do pescoço sustentam e movimentam a cabeça e estão fixos às estruturas da
região do pescoço, como o osso hióide e a laringe (GRAAFF, 2003). .
Williams (1995) descreve os músculos da coluna cervical como descrito na tabela 1.

REGIÃO ANTERIOR

MÚSCULOS AÇÃO

esternocleidomastóideo Inclina a cabeça ipsilateralmente e roda a face para o lado


oposto, flexão cervical e ação inspiratória.

Escaleno anterior Flexão da cervical e inclinação ipsilateral e rotação


contralateral da cabeça e ação inspiratória (eleva a
primeira costela)

Escaleno médio Inclina a cervical ipsilateralmente e ação inspiratória


(eleva a primeira costela)

Pré-vertebrais Flexão da cabeça e do pescoço

Suprahióideos Elevam o osso hióide e baixa a mandíbula (abertura da


boca)

Infrahióideos Baixam o osso hióde

REGIÃO POSTERIOR
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MÚSCULOS AÇÃO

Trapézio Eleva a escápula, retrai a escápula

Elevador da escápula Eleva a escápula e inclina a cabeça ipsilateralmente

Esplênio da cabeça Retrai a cabeça, inclinação e rotação ipsilateral

Reto posterior maior da Extensão e rotação


cabeça ipsilateral da cabeç

Reto posterior menor da Extensão da cabeça


cabeça
Triângulo suboccipital Oblíquo superior da cabeça Flexão póstero-lateral da
cabeça

Obliquo inferior da cabeça Rotação ipsilateral da


cabeça
Tabela 1: músculos da coluna cervical
Fonte: Moore, 2001

4. COLUNA CERVICAL
A amplitude do movimento da coluna vertebral varia de acordo com a região e o indivíduo. A
mobilidade da coluna vertebral resulta principalmente da compressibilidade e elasticidade dos
discos intervertebrais. Os seguintes movimentos da coluna vertebral são possíveis: flexão,
extensão, inclinação (flexão) lateral e rotação. (MOORE, 2001, p. 406).
A maior amplitude de movimento para a flexão lateral ocorre na região cervical, com
aproximadamente 2° a 10° de movimento permitido em C4-C5. A rotação vertebral no plano
transversal também é mais livre na região cervical, com deslocamento de até 12° em C1-C2.
A amplitude de movimento para flexão/extensão dos segmentos móveis é considerável nas
regiões cervical, atingindo valores representativos de até 17° na articulação vertebral C5-C6
(HALL, 2005 P. 273).
As vértebras cervicais formam o esqueleto ósseo do pescoço e estão localizadas entre o crânio
e o tórax. A característica mais evidente de cada vértebra cervical é o forame do processo
transverso. Numa vista lateral da região cervical, observamos uma curvatura em forma de “C”
com a convexidade anterior denominada lordose cervical (MOORE, 2001, p. 385).
Nas condições normais, a coluna cervical é orientada verticalmente no plano frontal e mostra
uma discreta convexidade anterior. O crânio é conectado a coluna pelas superfícies articulares
dos côndilos do occipital e das superfícies articulares do atlas. A posição da cabeça é mantida
por numerosos músculos localizados anterior e posteriormente em relação à coluna. Músculos
anteriores podem conectar indiretamente a mandíbula com o esterno e a clavícula por inserção
no osso hióide. O baricentro do crânio é localizado aproximadamente na sela túrcica, sendo,
com isso, anterior aos côndilos do occipital. A força de gravidade é contrabalançada
posteriormente pelos músculos da nuca que são mais potentes. Falha nos músculos posteriores
da cabeça podem levar a perda ou inversão da curvatura normal cervical. Com o tempo ocorre
degeneração artrótica. O estresse pode levar a contratura muscular e a alteração funcional. A
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relativa distorção do hióide pode resultar em alteração da postura da mandíbula


(ROCABADO, 1998).
Segundo estudos de Williams (1995, p. 1062), o plexo cervical é formado pelos ramos
ventrais dos quatro nervos cervicais superiores (Figura 4).

Figura 4: Inervação da cabeça


Fonte: http://pontoacupuntura.blogspot.com/2011_07_01archive.html

No plexo cervical, serão citados apenas dois nervos: nervo occipital maior e occipital menor.
Moore (2001, p. 421) descreve estes nervos da seguinte forma (Tabela 1):

Nervo Origem Trajeto Distribuição

Ramo posterior do Emerge inferior ao Pele sobre o


Occipital maior nervo C2 M. oblíquo inferior e pescoço e o
sobe para trás do occipital
escalpo

Occipital menor Ramos anteriores dos Passa diretamente Pele do pescoço e


nervos C2 e C3 para pele escalpo

Tabela 1: Principais nervos do plexo cervical com seus trajetos e distribuição.


Fonte: Moore, 2001

Outra alteração frequente é o mau alinhamento dos ombros. Pode ser por diferença no
comprimento das pernas e consequente desalinhamento da coluna. Eventualmente, os
causadores são os maus hábitos posturais. A necessidade de manter a linha bipupilar leva ao
desvio do pescoço e dos ombros. Tal situação provoca maior esforço dos músculos cervicais,
particularmente de esternocleidomastóideo e do trapézio (CARVALHO, 2001).
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5. CEFALÉIA CERVICOGÊNICA
Atualmente, as cefaléias estão divididas em dois grandes grupos. O primeiro compreende as
cefaléias primárias, que constituem em si mesmas a doença, cujoexemplo clássico é a
migrânea sem aura, anteriormente denominada de enxaqueca comum, e que atinge
aproximadamente 16% das mulheres. O segundo grupo é formado pelas cefaléias secundárias,
que fazem parte do cortejo sintomatológico de uma doença qualquer, seja esta primária do
sistema nervoso central ou sistêmica (HCCIHS, 1988).
Encontram-se descritos na literatura quatro tipos de cefaléias de origem cervical: as
neuralgias, as algias de origem muscular, as algias vasculares de origem simpática e as algias
de origem meníngea.
O termo cefaléia cervicogênica foi introduzido pela primeira vez por Sjaastad et al. (1983)
para descrever uma dor de cabeça unilateral, que tinha origem no pescoço. Em 1997, a North
American Cervicogenic Headache Society de Ontário (Canadá), caracterizou a cefaléia
cervicogênica como uma dor de cabeça causada por uma fonte nociceptiva preliminar dos
tecidos musculo-esqueléticos inervados pelos nervos cervicais (O’CONNOR, 2002).
Conforme a liga de cefaléias de Marília (1998), a cefaléia cervicogênica é a que tem origem
na região cervical e pode se irradiar pra cabeça (WERCKER, 2005).
De acordo com Kansaon (2001), a cefaléia cervicogênica acomete principalmente mulheres,
que se queixam de dores unilaterais da cabeça. A intensidade é moderada a intensa, o caráter
pode ser pulsátil. Caracteristicamente, os ataques são provocados por movimentação do
pescoço ou digitopressão (WERCKER, 2005).
A expressão sintomatológica dessa controversa síndrome, ainda não permite ser estabelecida
como quadro primário ou secundário. Ainda faltam investigações mais precisas que permitam
verificar os supostos aspectos centrais da síndrome (CARVALHO, 2001).
A redução do grau de movimento no pescoço é típica, mas não específica da síndrome da
cefaléia cervicogênica(CARVALHO, 2001).

6. QUADRO CLÍNICO
Estima-se que 5% a 10% dos casos, a Cefaléia Cervicogênica é confundida com a enxaqueca
comum. Portanto, para que haja um correto diagnóstico, são utilizados critérios diagnósticos
estabelecidos em 1990 e revisados em 1998. Os critérios diagnósticos da síndrome de cefaléia
cervicogênica são apresentados a seguir (CARVALHO, 2001):
I- Sintomas e sinais de envolvimento cervical:
a. Precipitação da dor cervical semelhante à espontânea por:
1. Movimento do pescoço ou sustentação desajeitada da cabeça;
2. Pressão externa da região cervical posterior e superior ipsilateral ou da região
occipital.
b. Redução da movimentação cervical habitual;
c. Dor na mão, ombro e pescoço ipsilateral, de natureza vaga e não radicular, ou
ocasionalmente dor no braço de natureza radicular.
d. Dor com origem na parte posterior do pescoço e que pode se irradiar para toda a
cabeça;
e. Resistência ou limitação à movimentação passiva do pescoço;
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II- Alívio completo ou quase completo (> 90%) da dor após o bloqueio anestésico do
nervo grande occipital e/ou da raiz C2 no lado sintomático.
III- Unilateralidade da dor sem mudança de lado, podendo ocorrer o quadro em qualquer
um dos lados.
IV- Características da dor:
a. Moderada, não-excruciante, geralmente de natureza não-pulsátil, começando no
pescoço e espalhando-se para áreas oculofrontotemporal, onde, em geral, é máxima;
b. Duração variável (horas) ou dor contínua flutuante;
V- Outras características de alguma importância:
a. Melhora eventual com tratamento preventivo com indometacina;
b. Melhora eventual da crise com uso de ergotamina ou de sumatriptano;
c. Preponderância no sexo feminino;
d. Historia de trauma craniano ou cervical.
VI- Características de pouca importância:
a. Náusea;
b. Fonofobia e fotofobia;
c. Vertigens;
d. Alteração visual ipsilateral;
e. Dificuldades de deglutição,
f. Edema e hiperemia na área periocular ipsilateral.
g. Alterações da musculatura do pescoço no relevo, textura, tônus ou nas respostas ao
estiramento e contração ativos e passivos;
h. Dolorimento anormal da musculatura cervical;
i. O bloqueio anestésico de C2 ou nervo occipital maior suprime a dor;
j. Os pacientes geralmente têm história de trauma cervical;
k. Sinais e sintomas associados menos frequentes; fono e fotofobia, náuseas e vômito.
Segundo Maigne (1996), a crise de cefaléia cervical pode ser desencadeada por:
- Má posição da cabeça (travesseiro, dormir de bruços), sendo então frequentemente matinal;
- Más posições constantes do pescoço no trabalho;
- Um fator psíquico, ou por um estado de fadiga ou uma espasmofilia descompensada que
baixa também a tolerância do paciente.
A dor unilateral ipsilateral da cabeça e do braço sem desvio ao repouso indica uma doença
orgânica
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Vicent (1991) afirma que a dor geralmente se inicia na região cervical irradiando-se para as
áreas órbito-fronto-temporal e/ou frontal.
De acordo com O’Connor (2002), as dores podem ser originadas do nervo occipital maior e
menor (C2), causando assim uma neuralgia occipital, que ocorre na parte posterior da cabeça
sendo geralmente menos intensa, porém mais duradoura (WERCKER, 2005).
Vernon apud Boake(1989), refere que a cefaléia cervicogênica tem duração crônica, com dor
em região fronto-orbital, com dor na região cervical associada a rigidez do pescoço, triggers e
espasmos sobre as facetas de C2 e C3. Representa 70% das cefaléias vistas por doutores.
Há várias evidências de que anormalidades nas estruturas somáticas e viscerais da região
cervical podem ser sede de dor referida ao crânio e a face (JANSEN, 1989).

7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
A cefaleia cervicogênica deve ser distinguida de outras afecções que acometem o sistema
nervoso central e periférico, ou seus envoltórios, e que são sedes de algias regionais.
A neuralgia occipital de Arnold caracteriza-se pela ocorrência de dor occipital em pontada ou
em choque, paroxística, unilateral e irradiada para o vértex (TEIXEIRA et. al, 2001)
A cefaleia do tipo tensional (CTT) não é referida a face e não apresenta o caráter episódico
como a cefaleia cervicogênica como também não tem relação com a cervicalgia. Além disso,
a CTT não está associada com náuseas e vômitos e também não há interferência considerável
nas atividades rotineiras do cotidiano, mas sendo persistente incapacitante leva o portador a
procurar ajuda (HOFFMAN e TEODOROSKI, 2009).
O diagnóstico diferencial com a enxaqueca á mais difícil. Segundo Teixeira et. al, 2001,
ambas as condições são episódicas, frequentemente são unilaterais, podem associar-se a
náuseas, vômitos, fono e fotofobia, por ser latejante e ter intensidade moderada e elevada.
Enquanto que na cefaleia cervicogênica a dor é predominantemente unilateral e não alterna a
lateralidade, na enxaqueca a alternância é comum. Em casos de cefaleia cervicogênica, a dor
se inicia na região occipital, já na enxaqueca, geralmente, na região fronto-temporal.

Muitos doentes com cefaleia pulsional ou enxaqueca, podem sofres agravamento da dor pela
presença de cefaléia cervicogênica.

A neuralgia aurículo-temporal caracteriza-se por dor occipital unilateral, mastoide e no ângulo


da mandíbula. Lesões radiculares podem decorrer de hérnias dicais, traumatismos,
subluxações, herniações de amígdalas do cerebelo, malformação de Arnold-Chiari, tumores
da fossa posterior, processos infecciosos ou por anormalidades metabólicas.

Oclusão ou dissecção por arteriosclerose da artéria vertebral pode gerar dor occipital. Em
casos de hidrocefalia, as alterações do transito do líquido cefalorraquidiano ou a compressão e
estiramento de C1 e C2 pelas amígdalas cerebelares podem causar dor. Mal formações ósseas
isoladas, como ocorre em casos da Síndrome de Kippel Feil, não causam cefaléia, mas,
podem gerar sobrecarga músculo-esquelética regional.
A multiplicidade de possibilidades etiológicas de dor crânio-facial de etiologia cervical é a
razão pela qual os exames complementares devem ser realizados, rotineiramente, nos
pacientes que apresentarem cefaléia com características da cervicogênica.
A artrose é comum em pacientes adultos, idosos e assintomáticos. Porém este achado não
deve ser hipervalorizado, a não ser que muito aberrantes ou associadas a evidentes
instabilidades articulares regionais ou a síndromes neuropáticas evidentes.

8. TRATAMENTO
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De acordo com Carvalho, 2001, os pacientes com síndrome da cefaleia cervicogênica trazem
um desafio, tanto para o estabelecimento de um diagnóstico preciso como para orientar os
possíveis tratamentos. Muitas vezes há dificuldade em diferenciá-la da enxaqueca sem aura e
da cefaleia tipo tensão, as quais são tratadas com esquemas que não beneficiam a cefaleia
cervicogênica.
Ocorre um predomínio de intervenções invasivas, tais como estimulação transcutânea,
anestesia local repetida, descompressão, secção e/ou avulsão do nervo grande occipital e do
nervo occipital menor, bem como de raízes e gânglios cervicais, estabilização e/ou fusões
vertebrais, radiofrequência de discos intervertebrais e de nervos cervicais e estimulação
epidural. Esses tratamentos invasivos tentam diminuir a aferência periférica dos impulsos
dolorosos. A aplicação da toxina boltulínica pode trazer alívio ao paciente por tempo limitado,
porém pode agravar os distúrbios posturais.
Como propostas não-invasivas têm-se a fisioterapia, buscando principalmente a condição que
gera a dor. Em condições sintomáticas, a estabilização da coluna cervical, a remoção das
lesões expansivas, e das deformidades congênitas. Nas formas essenciais, consiste do
esclarecimento da razão da ocorrência da dor e da remoção dos fatores que perpetuam a
existência dos pontos gatilhos, tais como, sobrecargas mecânicas locais devido a posturas
inadequadas durante as atividades da vida diária, no trabalho e durante o sono. Nestes casos, a
fisioterapia ode melhorar os hábitos posturais, amplificar e adequar os movimentos.

9. TÉCNICAS FISIOTERAPÊUTICAS
Pompagem
Segundo Bienfaitt (1999), as técnicas de Pompagem têm por objetivos: favorecer a circulação
dos fluídos, liberando os bloqueios e estases, o relaxamento muscular que pode ser eficaz para
o tratamento das contraturas, encurtamentos e das retrações dos tecidos moles. Pode ser
também utilizados nas articulações para combater as degenerações.

Inibição dos pontos gatilhos


Ponto-gatilho é definido com um local hiperirritável no músculo esquelético, associado a um
nódulo hipersensível palpável e uma faixa tensa. Sua inibição pode ocorrer através de
palpação plana ou em pinça (KOSTOPOULOS, 2007). Objetivos: aliviar os espasmos e a dor.

Técnica de energia muscular ou miotensiva


Utiliza a contração muscular voluntária para restituir a mobilidade articular, alongando
músculos encurtados, contraturados ou hipertônicos e reduzindo quadros álgicos decorrentes
de espasmos muscular.. o indivíduo participa aplicando sua força para contrair determinado
músculo a partir de uma posição inicial escolhida, no limite do tensionamento, em
determinada direção, opondo-lhe contra-resistência moderada (SALVADOR et.al, 2005).
Objetivos: promover o alívio da dor e o relaxamento dos respectivos grupos musculares.

Massoterapia:
Através do deslizamento nas fibras musculares ou fricção transversa profunda, aplicando um
movimento concentrado em uma área específica a ser tratada da Região Cervical (GRAZIA e
FORTI, 2007). Objetivos: aumentar a circulação local, promover relaxamento e diminuir a
dor.

Osteopatia - Manipulação da cervical (Thrust)


Intervenção manual com o objetivo de normalizar o conjunto ósteo-articular, recuperando o
movimento fisiológico em áreas nas quais existe restrição ou disfunção. Dentre as principais
técnicas utilizadas nos meios osteopáticos tradicionais, destacam-se cujo aquelas cujo objetivo
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é agir sobre as partes moles, como pele, músculos, ligamentos e fáscias, e as de abordagem
vertebral ou articulatória (MEGRE, 2009).

Acupuntura
Técnica de tratamento que consiste no estímulo de pontos determinados na superfície da pele
através de agulhas. Tem por objetivo promover a circulação livre de qi e do sangue
estimulando os pontos e meridianos. A acupuntura trata o paciente através de seu equilíbrio
energético, propiciando o retorno da normalidade em todo o organismo, não apenas
energeticamente, mas também químico-biológico, pois esta energia do corpo que
manipulamos, através dos estímulos de pontos específicos, comanda toda a fisiologia do
nosso organismo (WERCKER, 2005).

10. DISCUSSÃO
Sjaastad et al. (1983) descreve a cefaléia cervicogênica como uma dor de cabeça unilateral,
que tem origem no pescoço. O’Connor (2002) caracterizou a cefaléia cervicogênica como
uma dor de cabeça causada por uma fonte nociceptiva preliminar dos tecidos musculo-
esqueléticos inervados pelos nervos cervicais.
Vicent (1991) afirma que a dor geralmente se inicia na região cervical irradiando-se para as
áreas órbito-fronto-temporal e/ou frontal. O’Connor (2002), afirma que as dores podem ser
originadas do nervo occipital maior e menor (C2), causando assim uma neuralgia occipital na
parte posterior da cabeça intensa e duradoura. Vernon apud Boake (1989), refere que a
cefaléia cervicogênica tem duração crônica, com dor em região fronto-orbital, com dor na
região cervical associada a rigidez do pescoço, triggers e espasmos sobre as facetas de C2 e
C3. Kansaon (2001), afirma que cefaléia cervicogênica acomete principalmente mulheres. A
intensidade é moderada a intensa, o caráter pode ser pulsátil. Wercker, 2005, relata que os
ataques são provocados por movimentação do pescoço ou digitopressão.
A cefaleia cervicogênica é por muitas vezes confundida com outras afecções que acometem o
sistema nervoso central e periférico, ou seus envoltórios como a neuralgia occipital de Arnold,
Cefaléia do tipo tensional, Cefaléia pulsional e Enxaqueca.
Os pacientes com síndrome da cefaleia cervicogênica trazem um desafio, tanto para o
estabelecimento de um diagnóstico preciso como para orientar os possíveis tratamentos. Há
um predomínio das intervenções invasivas, porém, como proposta não invasiva temos a
fisioterapia que age no controle sintomático e na correção da condição geradora da dor como
desalinhamento postural.

11. RESULTADOS
As principais técnicas fisioterapêuticas utilizadas para o tratamento da Cefaléia
Cervicogênica, segundo as obras consultadas, foram aquelas associadas ao uso da terapia
manual.
Pompagem, inibição de pontos gatilhos, técnicas de energia muscular ou miotensiva,
massoterapia, osteopatia e acupuntura, são técnicas que segundo os estudos, tem-se mostrado
como grandes aliadas no tratamento da CC, tanto no quadro sintomático, como também, na
correção estrutural que origina a dor.
12. CONCLUSÃO
A cefaléia cervicogênica é uma síndrome complexa e que apresenta um quadro clínico muito
parecido com outras afecções como enxaqueca e cefaléia tensional, muitas das vezes
apresentando mesmos sintomas. Não há um sinal patognomônico da CC e seu diagnóstico é
clínico. Por conta disso há a necessidade de estudos científicos mais aprofundados e de um
maior esclarecimento quanto aos seus sinais e sintomas para um diagnóstico preciso.
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Um correto entendimento biomecânico da coluna cervical em pacientes portadores da


síndrome é o primeiro passo para a escolha da melhor intervenção fisioterapêutica, resultando
em um tratamento direcionado e consequentemente bem-sucedido.
Por se tratar de uma síndrome de classificação recente, a cefaléia, do tipo cervicogênica,
dispõe de poucos recursos de tratamento.
Embora seja comum a aparição nos consultórios fisioterapêuticos de pacientes com dores de
cabeça e da região cervical concomitantemente, poucos estudos foram encontrados durante a
construção deste trabalho acerca da CC e do tratamento a ser utilizado. Sugerem-se estudos
mais precisos inclusive práticos com pacientes portadores da cefaléia cervicogênica que
permitam o esclarecimento sobre sua etiologia, diagnóstico e recursos terapêuticos utilizados
no tratamento, bem como, a divulgação desta patologia não só no ambiente fisioterapêutico,
mas, em toda a equipe multiprofissional de saúde e para os pacientes portadores.

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