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No contexto criminal, nota-se que há uma forma de interpretar as normas de uma forma gravosa
para quem praticou o crime. Fazer uso deste tipo de interpretações é aplicar o direito como ele
existe
A ideia do art 29/4 admite a aplicação retroativa se for mais favorável
Ex: lei fiscal que vem diminuir as taxas de IRS. Lei introduzida hoje e atendendo aos
rendimentos de 2019 vai ser aplicada uma taxa mais reduzida e os contribuintes têm direito ao
reembolso. É uma solução nova que produz efeitos retroativos para os contribuintes. É uma
situação retroativa permitida? Tendencialmente a retroatividade também pode ser aplicada aos
contribuintes. No entanto, há quem entenda que qualquer efeito retroativo é favorável ou
desfavorável.
Casos práticos
1.
Em 1990, a Assembleia da República aprovou a lei x sobre as incompatibilidades de
cargos políticos e que vinha impedir os deputados ao Parlamento europeu de exercerem funções
enquanto presidentes das câmaras municipais e vereadores a tempo inteiro. Segundo a lei x, os
actuais Deputados ao Parlamento Europeu não eram abrangidos por aquela norma.
Entretanto, a lei y veio revogar esta disposição transitória e sujeitar os actuais
Deputados ao Parlamento Europeu àquele regime de incompatibilidades.
Aquando da promulgação da lei y, o Tribunal Constitucional foi chamado a apreciar
preventivamente a constitucionalidade daquela norma, tendo então decidido não se pronunciar
pela inconstitucionalidade da mesma.
Mais tarde, o Provedor de Justiça veio a requerer ao Tribunal Constitucional a
declaração de inconstitucionalidade, com força obrigatória geral da norma constante da lei y.
Na sequência do pedido do Provedor de Justiça, o Tribunal Constitucional veio a
declarar a inconstitucionalidade com força obrigatória geral da lei y.
Na fundamentação deste último Acórdão, pode ler-se que “toda a norma que estabelece
uma incompatibilidade tem natureza restritiva; independentemente da sua etiologia e, bem
assim, da sua dimensão legal, contém, por definição, um limite. O direito de participar na vida
pública, previsto no artigo 48°, da Constituição, o direito de sufrágio a que se reporta o artigo
49°, nomeadamente na sua dimensão de capacidade eleitoral passiva – e o direito de ser eleito
implica o da manutenção no cargo eleito -, o direito de acesso a cargos públicos e o direito a não
ser prejudicado em virtude do exercício de direitos políticos ou do desempenho de cargos
públicos, reconhecidos pelo artigo 50° n°s. 1 e 2, são direitos fundamentais de cuja restrição só
pode ocorrer nos precisos casos contemplados no n° 2 do artigo 18º da Lei Fundamental, sendo
certo que as leis que autorizadamente os restrinjam, além de revestirem carácter geral e abstrato,
não podem ter efeito retroativo nem diminuir a extensão e o conteúdo essencial daqueles
preceitos constitucionais(…)
E, mais adiante, “a imprevisibilidade da alteração de critérios contribui
reflexamente para afetar o princípio da confiança decorrente desse outro princípio estruturante
que é o do Estado de Direito (artigo 2°).’
Concluindo que se trata “de uma restrição que na sua imediata aplicação – não se
vislumbrando que súbita emergência de interesse público a justificaria –se releva
desproporcionada e onerosamente excessiva (…)”.
[Acórdão do TC n.º 473/92]