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DOI:10.34117/bjdv6n11-529
Recebimento dos originais: 19/10/2020
Aceitação para publicação: 25/11/2020
RESUMO
Neste estudo discute-se como os problemas de iluminação presentes em edifícios de escritório são
capazes de afetar a saúde e o conforto dos usuários. Partiu-se de uma análise integrada de dados sobre
a arquitetura do edifício, o projeto do escritório, o projeto de iluminação, as condições ergonômicas e
as avaliações físicas de conforto ambiental. Esses dados foram integrados com os resultados das
avaliações das percepções dos usuários sobre suas condições de saúde e de conforto. Ao final do estudo,
foi possível concluir que os problemas de iluminação se associaram com frequência a vários sintomas
desagradáveis, especialmente irritação nos olhos, e a queixas de desconforto causadas por ofuscamento.
Conclui-se que, para se atingir uma compreensão mais aprofundada dos problemas de iluminação, foi
preciso integrar os dados sobre o ambiente físico com os dados da pesquisa da percepção dos usuários.
Neste último aspecto, a aplicação de questionários aos usuários da edificação mostrou-se fundamental
para identificar os reflexos dos problemas de iluminação.
ABSTRACT
The article discusses how lighting problems can affect users’ health and comfort in office buildings.
Beginning with data from building architecture, office project, lighting project, ergonomic conditions
and ambiental comfort assessment, it was possible to obtain a comprehensive overview of the physical
environment that was integrated with users’ information about their health and comfort conditions.. At
the end of the study, it was possible to conclude that lighting problems were frequently associated with
various unpleasant symptoms, especially eye irritation, and with discomfort complaints caused by
glare. We concluded that to achieve a better understanding of the lighting problems it was necessary to
integrate all the information about physical environment with the users’ opinion on health and comfort
conditions. On this last point, the application of questionnaires to the building users was essential to
identify the negative impacts of lighting problems.
Introdução
Ao rever a bibliografia sobre metodologia de avaliação de conforto lumínico percebe-se que
existe uma grande diversidade de abordagens, faltando, porém, desenvolver uma visão integrada capaz
de articular todos os dados, incluindo a arquitetura do edifício, o projeto arquitetônico do escritório , o
projeto de iluminação, a avaliação ergonômica, as avaliações físicas de conforto ambiental e as
pesquisas de opinião dos usuários sobre suas condições de saúde e de conforto. Falta, portanto, uma
visão mais abrangente e integrada da situação, interligando todas as dimensões das avaliações, de forma
a propiciar uma compreensão mais aprofundada das relações entre arquitetura, ambiente luminoso e
percepções dos usuários.
Diversos autores realizaram estudos sobre as repercussões do projeto de iluminação sobre a
saúde, o conforto, a produtividade e a segurança dos usuários das edificações. Segundo Boubekri (2008,
p. 53-62), a luz é capaz de afetar o organismo humano de diversas formas, influenciando o
funcionamento do sistema endócrino, o ritmo circadiano, a síntese de vitamina D e o estado emocional.
A falta de exposição à luz natural pode desencadear quadros de depressão e desordens afetivas. Estudos
de Smolders et al. (2013) também confirmaram que a exposição à luz natural durante o dia é importante
para a vitalidade das pessoas. A privação da luz natural está associada a sensação de fadiga, falta de
motivação e distúrbios afetivos.
Aries et al. (2013) salientam que, apesar da necessidade dos seres humanos de se expor
periodicamente à luz do sol, vem ocorrendo uma redução das oportunidades em função do tempo
prolongado que se passa nos ambientes fechados de escritórios. Para Bellia, Fragliasso e Stefanizzi
(2017), o aproveitamento da luz natural nos ambientes de trabalho pode trazer impactos positivos sobre
o desempenho visual e sobre as condições psicológicas dos funcionários, porém, é preciso evitar a
ocorrência de ofuscamento. Szokolay (2008) refere que a fadiga visual pode ser causada tanto pelo
excesso de luz (direta ou refletida), como também pela ocorrência de contrastes acentuados na área do
campo visual.
Segundo Vanderlei et al. (2019), a preocupação com a iluminação natural também ocorre nos
ambientes de salas de aula, sendo um fator capaz de afetar o desempenho dos alunos e a produtividade
dos professores. Para os autores, o bom desempenho da iluminação natural depende de um projeto
cuidadoso de fachada, que consiga equacionar a área e a orientação das aberturas com as proteções
externas mais indicadas. Estudos de simulação computacional realizados por Santana et al. (2020) em
salas de aula mostraram que o aproveitamento da luz natural também pode trazer aumento da eficiência
energética, agregando sustentabilidade ao projeto da edificação. Os autores concluem que o uso de
técnicas de arquitetura bioclimática para o aumento da eficiência energética de edificações é
perfeitamente viável e recomendável, sendo necessário, porém, controlar a distribuição da luz para
evitar ofuscamento.
Para Day et al. (2019), a introdução da luz natural nos ambientes de trabalho tem um grande
potencial de reduzir o consumo energético e trazer benefícios aos usuários, mas é necessário que o
projeto tenha qualidade técnica para que não ocorram repercussões negativas sobre o conforto e a
saúde. Segundo os autores, um projeto de iluminação que contemple a iluminação natural deve atender
aos seguintes fatores: 1) níveis adequados de luz para as tarefas; 2) boa distribuição da luz; 3)controle
de ofuscamento; 4) integração entre iluminação natural e artificial para promover economia energética;
5) estímulo adequado do ritmo circadiano dos ocupantes; 6) vistas de qualidade; 7) manter os limites
da área envidraçada; 8) controle adequado dos ganhos térmicos.
Segundo Ding (2018), diversos tipos de dispositivos de sombreamento, tanto internos ou
externos, podem ser usados para controlar a entrada de luz natural e evitar a entrada de luz solar direta.
O autor também cita os sistemas de redirecionamento e refletem da luz natural para garantir melhor
distribuição interna. Iwata et al. (2017) apontam o uso de cortinas automatizadas para prevenção de
ofuscamento e o emprego de sistemas de integração entre iluminação natural e artificial por meio de
dispositivos de dimerização e sensores de luz.
Estudos de Konstantzos et al. (2015) assinalam que o grande desafio do planejamento das
aberturas da fachada está em buscar um equilíbrio entre proporcionar vistas para o exterior, permitir a
entrada de luz natural e controlar o ofuscamento.
Ruffles (2005) destaca que os níveis de iluminância em um ambiente não dependem apenas
da potência das fontes luminosas. O layout das estações de trabalho, as refletâncias dos materiais de
revestimento, o tamanho e a disposição das luminárias também são importantes.
Para os trabalhos em computadores, Benedetto et al. (2014) tratam dos efeitos do aumento dos
níveis de luminância e de iluminância sobre a incidência de fadiga visual e sobre a produtividade em
trabalhos de leitura no computador.
Shikder et al. (2012) discutem que a população acima de 65 anos vem aumentando e os locais
de trabalho precisam se adaptar às suas necessidades específicas.
Por meio de estudos de luminância, Kwong (2020) aponta a necessidade de prevenir o
desconforto visual nas áreas situadas próximo à fachada. Em suas avaliações, o autor calculou o DGI
(Daylight Glare Index) a partir das medidas de luminância e comparou com as percepções dos usuários
obtidas por meio da aplicação de questionários. O autor concluiu que diversos fatores subjetivos podem
afetar as percepções dos usuários, mostrando a importância de confrontar todos os dados das
avaliações.
Os impactos dos contrastes de luminância também foram objeto de estudo de W. Kim e J. Kim
(2010) por meio dos cálculos do DGI a partir da fórmula de Hopkinson (1). Segundo os autores, o
desconforto torna-se mais intenso quando a luminância do entorno fica menor, exacerbando o contraste
com a luminância na área da fonte de luz.
Em relação aos parâmetros adotados pelas normas de avaliação de conforto lumínico, o mais
conhecido é o nível de iluminância. A NBR 8995-1:2013 - Iluminação de ambientes de trabalho – Parte
1: Interior estabelece níveis recomendados de iluminância para a área da tarefa e para a área do entorno
imediato. Com relação à uniformidade, a norma recomenda valores mínimos de 0,7 para a área da
tarefa e de 0,5 para o entorno imediato. A Norma Europeia EN 12464-1:2019 Light and lighting -
Lighting of workplaces Part 1: Indoor workplaces também estabelece níveis recomendados de
iluminância e de uniformidade para a área da tarefa e para a área do entorno imediato, propondo que a
área de fundo tenha níveis de iluminância correspondentes a 1/3 do valor do entorno imediato.
Segundo Cole et al. (2008), as questões de conforto precisam ser reavaliadas à luz das
necessidades de redução dos impactos sobre o meio ambiente, oferecendo mais oportunidades
adaptativas aos usuários das edificações. Os autores salientam que o desempenho de um edifício não
está predeterminado pelo processo de design, dependendo da forma de uso e do comportamento dos
usuários.
METODOLOGIA
Este artigo apresenta um estudo de avaliação das condições de conforto lumínico em sete
escritórios situados na Cidade de São Paulo. A metodologia empregada compreendeu sete etapas de
avaliação, sendo cinco referentes à avaliação do ambiente físico e duas referentes à avaliação das
percepções dos usuários da edificação. Ao final, todos os dados foram confrontados e analisados
conjuntamente (Figura 1).
ETAPAS DA METODOLOGIA
CEFALEIA
TONTURA
CANSAÇO
SINTOMAS GERAIS
SONOLÊNCIA
FALTA DE CONCENTRAÇÃO
ESTRESSE
IRRITAÇÃO
VERMELHIDÃO
Fonte: elaborado pelo autor
Apesar de haver brises horizontais nos Escritórios A e B, eles são de alumínio e de pequenas
proporções, mostrando-se insuficientes para controlar a entrada de luz natural. No Escritório D, a tela
metálica recobre apenas uma parte da fachada.
Com relação à orientação das fachadas iluminantes, elas estão voltadas para Noroeste nos
escritórios A, B e D. Nos Escritórios C, E, F e G, estão voltadas para Nordeste.
Divisão do Materiais de
Tipologia Iluminação natural
espaço revestimento
Piso: madeira clara
Dimerizaçã Manutençã
Controle Lâmpada Distribuição de luz
o o
Vidro simples
Fluorescen Alta próximo à
A Brise móvel: aberto Não Adequada
te tubular fachada
Persianas: abertas
Vidro simples
Áreas com:
Brise móvel: Fluorescen Lâmpadas
B Não iluminação
fechado te tubular queimadas
insuficiente
Persianas: fechadas
Alta próximo à
Vidro de controle
fachada
solar
C Não LED Adequada Áreas com:
Persiana
iluminação
automatizada
insuficiente
sobre a situação. Lembrando, sempre, que um dos focos principais da sustentabilidade está voltado
para a preservação da saúde, do conforto e do bem-estar dos usuários das edificações. Dentro desta
visão prevencionista, a realização de avaliações periódicas da qualidade dos ambientes internos e o
planejamento das medidas corretivas são fundamentais.
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