Você está na página 1de 5

Maria Alberta Menéres

Dez Dedos Dez Segredos

Ilustração
Connie Fischer

3
Dez Dedos Dez Segredos

Até que um dia houve um temporal muito grande.

As velas do moinho rasgaram-se; as árvores em redor


ficaram sem os seus belos ramos; voaram algumas telhas
do telhado da casa do velho moleiro.
Pela primeira vez em muitos anos, era melhor ficar em
casa sem trabalhar – ia pensando ele de si para si.
E, sem querer, o seu olhar fixou-se no alto do armário
onde estava a caixa de cartão que tinha lá dentro os 3
anéis.
– Hoje é bom dia para os ir buscar lá em cima! – pen-
sou ele.

E se bem o pensou, melhor o fez.


Como ainda não tinha tido tempo para ir comprar um
banco alto, pôs um caixote em cima de uma mesa e subiu
para cima daquela geringonça até conseguir chegar ao
cimo do armário.
Ah, lá estava a caixa! Mas...

(agora aqui imaginem o barulho de um grande trambo-


lhão!)

– Esta agora!!! – lamentou-se o velhinho, caído no meio


do chão mas já com a caixa na mão. Quem me mandou a
mim andar a trepar a mesas e caixotes, na minha idade?!

10
Dez Dedos Dez Segredos

Depois de rir, fez uns versinhos à moda dela:

Isto de a gente ter medo


sem saber qual a razão,
é uma coisa esquisita
que não tem explicação.
O rapaz e o gigante
nem se chegaram a ver
e fugiram um do outro
assustados, a correr!
CONTA O INDICADOR DA MÃO ESQUERDA

Agora quero eu contar uma história.


Era uma vez uma aldeia muito bonita. Cheia de flores nas
ruas estreitinhas, de heras nos muros abandonados, de casas
brancas sem ninguém.
A verdade é que ninguém morava nesta aldeia muito muito
antiga, perdida entre montanhas.
E também a verdade é que ninguém sequer sabia que exis-
tia assim uma aldeia tão bonita, de casas brancas sem nin-
guém.
Só durante o verão chegavam umas ou outras famílias que
diziam que vinham a ares para a montanha.
E durante algum breve tempo a aldeia animava-se e apare-
cia cheia de vida.
Eram pessoas que conheciam a aldeia desde pequenina!
– era o que pensava uma galinha já velhota, a Pedrês, que
tinha acabado de chegar lá da França, num cesto tão velho
como ela.
– Aqui é tudo velho e relho! Aqui é tudo velho e relho! – res-
mungava ela, com as penas todas arrepiadas.

– Que disparate! – indignou-se um caracol, pondo os pauzi-


nhos ao sol. Nunca se viu aldeia mais bonita do que esta!

19

Você também pode gostar