As velas do moinho rasgaram-se; as árvores em redor
ficaram sem os seus belos ramos; voaram algumas telhas do telhado da casa do velho moleiro. Pela primeira vez em muitos anos, era melhor ficar em casa sem trabalhar – ia pensando ele de si para si. E, sem querer, o seu olhar fixou-se no alto do armário onde estava a caixa de cartão que tinha lá dentro os 3 anéis. – Hoje é bom dia para os ir buscar lá em cima! – pen- sou ele.
E se bem o pensou, melhor o fez.
Como ainda não tinha tido tempo para ir comprar um banco alto, pôs um caixote em cima de uma mesa e subiu para cima daquela geringonça até conseguir chegar ao cimo do armário. Ah, lá estava a caixa! Mas...
(agora aqui imaginem o barulho de um grande trambo-
lhão!)
– Esta agora!!! – lamentou-se o velhinho, caído no meio
do chão mas já com a caixa na mão. Quem me mandou a mim andar a trepar a mesas e caixotes, na minha idade?!
10 Dez Dedos Dez Segredos
Depois de rir, fez uns versinhos à moda dela:
Isto de a gente ter medo
sem saber qual a razão, é uma coisa esquisita que não tem explicação. O rapaz e o gigante nem se chegaram a ver e fugiram um do outro assustados, a correr! CONTA O INDICADOR DA MÃO ESQUERDA
Agora quero eu contar uma história.
Era uma vez uma aldeia muito bonita. Cheia de flores nas ruas estreitinhas, de heras nos muros abandonados, de casas brancas sem ninguém. A verdade é que ninguém morava nesta aldeia muito muito antiga, perdida entre montanhas. E também a verdade é que ninguém sequer sabia que exis- tia assim uma aldeia tão bonita, de casas brancas sem nin- guém. Só durante o verão chegavam umas ou outras famílias que diziam que vinham a ares para a montanha. E durante algum breve tempo a aldeia animava-se e apare- cia cheia de vida. Eram pessoas que conheciam a aldeia desde pequenina! – era o que pensava uma galinha já velhota, a Pedrês, que tinha acabado de chegar lá da França, num cesto tão velho como ela. – Aqui é tudo velho e relho! Aqui é tudo velho e relho! – res- mungava ela, com as penas todas arrepiadas.
– Que disparate! – indignou-se um caracol, pondo os pauzi-
nhos ao sol. Nunca se viu aldeia mais bonita do que esta!