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03/01/2022 15:22 RITTER, KARL | CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil

RITTER, Karl
*diplomata alemão; emb. Alemanha no Brasil 1937-1938.
 
Karl Ritter nasceu na cidade alemã de Dörflas em 5 de junho de 1883.
Depois de concluir o curso de direito em outubro de 1905, trabalhou em Berlim como estagiário do Jornal de
Colônia, ingressando em novembro de 1907 no serviço civil do estado da Baviera. Em dezembro de 1910, habilitou-se a
prestar o segundo exame jurídico, podendo então iniciar suas atividades profissionais como advogado.
Em 1919, foi admitido no Instituto Econômico do Estado e, no ano seguinte, passou à condição de conselheiro do
Ministério da Fazenda de seu país. Em fevereiro de 1922, ingressou nos quadros do Ministério dos Negócios Estrangeiros,
sendo destacado para a seção especial de economia como ministro de segunda classe. Promovido a ministro de primeira
classe em 1924, assumiu a chefia do departamento de política econômica do ministério, tornando-se um dos principais
articuladores da ofensiva comercial empreendida pela Alemanha na década de 1930, já sob o regime nazista.
Em 1934, preparou a vinda ao Brasil de uma delegação especial para negociar a implementação do comércio de
compensação (realizado sem utilização de divisas) e, dois anos depois, participou ativamente das conversações efetuadas
em Berlim para a assinatura do ajuste de comércio compensado entre os dois países.
Em junho de 1937, chegou ao Rio de Janeiro, então Distrito Federal, para assumir as funções de embaixador de seu
país, substituindo Arthur Schmidt-Elskop. Em fins de novembro, após a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas,
declarou que “não existiam diferenças políticas entre o Brasil e a Alemanha e que não podia imaginar que viesse surgir
alguma no futuro”. No entanto, logo depois apareceu um ponto de atrito entre Ritter e o governo de Vargas em torno da
organização do Partido Nazista no Brasil, chefiado pelo adido cultural da embaixada alemã, Hans Menning von Cossel, e
especialmente ativo entre a colônia alemã radicada no Sul do país.
Após a  dissolução de todos os partidos políticos nacionais, decretada em dezembro de 1937, o governo
determinou medidas rigorosas contra as atividades dos agentes nazi-fascistas no Brasil, o que levou à prisão, em fevereiro
do ano seguinte, de Ernst Dorsch, provocando o primeiro incidente entre Ritter e o Itamarati. A ação do Partido Nazista
tornou-se, em seguida, cada vez mais ofensiva, acentuando as preocupações dos chefes militares brasileiros com a
segurança interna. Em 18 de abril, o funcionamento de partidos políticos estrangeiros em território nacional foi suspenso, e
o uso do alemão em escolas particulares — até então freqüente no Sul passou a sofrer restrições, como parte de uma
campanha de nacionalização do ensino.
Em 10 de maio de 1938, Ritter entregou ao chanceler Osvaldo Aranha uma nota de protesto contra as decisões
adotadas pelo governo brasileiro. Na madrugada seguinte, grupos ligados à Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração
fascista, tentaram tomar de assalto o palácio Guanabara, residência oficial de Vargas, com o objetivo de depor e aprisionar
o chefe do governo. Apesar da precária resistência legalista, os atacantes foram contidos em poucas horas. Convencidas de
que o levante contara com ajuda de agentes nazistas, as autoridades brasileiras prenderam seis cidadãos alemães, entre os
quais um alto funcionário do Ministério dos Transportes desse país, chamado Koenig. Ritter reagiu drasticamente a esses
fatos, chegando a solicitar permissão de Berlim para ameaçar com o rompimento das relações diplomáticas. A conduta do
embaixador acabou por incompatibilizá-lo com Osvaldo Aranha e mereceu posteriormente reparos do próprio chanceler
alemão, Joachim von Ribbentrop.
Em fins de junho, foi descoberto no Sul do país outro plano de revolta integralista, provocando novo agravamento
das relações com a Alemanha. No mês seguinte, Ritter promoveu no Rio de Janeiro uma reunião com representantes das
colônias alemãs radicadas no Chile, Argentina e Uruguai para tratar da “campanha antigermânica” na América Latina.
Em agosto de 1938, Karl Ritter viajou à Alemanha a fim de participar do congresso do Partido Nazista, realizado em
Nuremberg. Osvaldo Aranha aproveitou essa oportunidade para solicitar que o embaixador brasileiro em Berlim, José
Joaquim Muniz de Aragão, encaminhasse às autoridades alemãs um pedido de mudança do seu representante no Brasil. A
questão já estava praticamente resolvida quando Muniz de Aragão comunicou a volta de Ritter ao Rio de Janeiro, por
poucos dias, com o objetivo de levar a Vargas as propostas da empresa Krupp para a instalação de uma usina siderúrgica.
Osvaldo Aranha se opôs energicamente a essa viagem. Diante do impasse criado, Ritter foi declarado persona non grata
pelo governo brasileiro em 21 de setembro de 1938, levando a Alemanha a adotar posição semelhante em relação a Muniz

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de Aragão. A normalização das relações diplomáticas só se verificou em junho do ano seguinte, com as nomeações dos
embaixadores Ciro de Freitas Vale para Berlim e Kurt Prüfer para o Rio de Janeiro.
Em outubro de 1938, Ritter foi enviado à Tchecoslováquia, já sob ocupação alemã, como delegado às negociações
econômicas previstas pelos acordos de Munique, assinados nesse mesmo ano. A partir de maio de 1939, serviu até o final
da Segunda Guerra Mundial como oficial de ligação entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o estado-maior das
forças alemãs, exercendo, ainda, em 1940, a chefia da delegação de seu país que viajou à União Soviética para negociar
acordos econômicos.
Após a derrota da Alemanha na guerra, Ritter respondeu ao processo de Nuremberg, sendo condenado a quatro
anos de reclusão.
Faleceu no dia 31 de julho de 1968.
Paulo Brandi
 
 
FONTES: BANDEIRA, L. Presença; CORRESP. EMB. REP. FED. ALEMANHA; HILTON, S. Brasil e as grandes; LEVINE, R. Vargas;
SILVA, H. 1938; SILVA, H. 1939.
 

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