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Fichamento JASMIN

- A nova ciência proposta por Tocqueville


(Obra: ALEXIS DE TOCQUEVILLE) queria apontar as condições pelas quais a
ação política ia se tornar eficaz no alcance
2 TOCQUEVILLE HOMEM de seus fins liberais.
POLÍTICO p. 29-30

- Tocqueville nasceu em 1805, na - "Daí o combate à vocação fatalista que


Normandia. encontrava e denunciava nas modernas
- Ele sempre quis ser um homem da filosofias da história e, especialmente, à
política. p. 25 ocultação das capacidades individuais e
coletivas da autodeterminação. A nova
- Escreveu um livro com Gustave de ciência política queria, de um só golpe,
Beaumont, estreando no mundo literário. persuadir os indivíduos da viabilidade de
p. 26 uma sociedade igualitária liberal e
determinar suas condições de
- Ganhou as campanhas eleitorais de 1839, possibilidade". p. 30
1842, 1846, 1848 e 1849, tornando-se
deputado. p. 27 3 O SISTEMA CONCEITUAL DE
TOCQUEVILLE
- Ele se recolheu aos estudos em 1851 ou
1852. - O sistema conceitual de Tocqueville
opera pela justaposição de dois níveis
- Voltou à cena pública em 1856, agora distintos, sendo que cada um é formado
como historiador do Antigo Regime. por pares de conceitos opostos.

- Ele pode ser reconhecido como sociólogo - No primeiro nível, opõem -se democracia
e historiador, mas deve-se ter em mente e aristocracia.
seu interesse maior na política. - No segundo nível, opõem-se liberdade e
servidão. p. 34
- Ele escreveu só quando não podia estar
envolvido na política, e mesmo assim, - "O ponto de partida de toda a
quando escrevia, mantinha um ponto de argumentação tocquevilleana acerca da
vista pragmático. p. 28 natureza das sociedades modernas é uma
proposição histórica: a de que a governo e significar governo do povo.
modernidade é resultado de um processo Mas a empregou com sentido não tão usual
de longo termo que destrói as bases de para referir-se a uma forma de sociedade".
sustentação das sociedades hierárquicas, p. 37
substituindo-as progressivamente pela
igualdade de condições sociais. Este - Nesse sentido, democracia foi usada tanto
processo, a 'revolução irresistível' da no nível histórico-empírico quanto no nível
democracia, o 'desenvolvimento gradual da teórico: tanto serviu para nomear as
igualdade de condições', é definido como sociedades históricas que ultrapassavam as
um 'fato providencial', em função de suas estruturas sociais herdadas do feudalismo,
características: 'é universal, durável, quanto serviu para denominar a "ponta
escapa cada dia ao poder humano; todos os presente da história ocidental, mesclando-a
acontecimentos, como todos os homens, à noção de modernidade".
servem ao seu desenvolvimento".
p. 35-36 - "O processo secular que opera a transição
das sociedades aristocráticas para a
- Era comum aos jovens aristocratas da modernidade igualitária foi então
geração de Tocqueville, que viveram denominado 'revolução democrática'".
justamente no meio que a Revolução quis
derrubar, a sensação de estarem passando "Por outro lado, o conceito ganhou o
por um processo de transição histórica, estatuto teórico de totalidade abstrata para
espécie de suspensão entre dois tempos, na significar um modelo de ordem social
qual o desaparecimento do mundo de seus fundada sobre a premissa da igualdade.
pais já era visível sem que a futura Enquanto categoria abstrata, democracia
sociedade estivesse conformada em seus representa a sociedade onde prevalece a
traços fundamentais. p. 36-37 igualdade social de condições, isto é, onde
'todas as ocupações, todas as profissões,
- A aristocracia estava sendo substituída dignidades e honrarias são acessíveis a
por uma sociedade burguesa. todos'".

- "Quando Tocqueville tentou formalizar - Aristocracia e democracia: "estados


conceitualmente esta intuição, recorreu à extremos" empiricamente inexistentes.
palavra democracia, corrente na tradição p. 38
política para referir-se a uma forma de
- No sistema conceitual tocquevilleano, a - Na Idade Média, guerreiros, camponeses
oposição entre aristocracia e democracia e eclesiásticos formavam ordens
serve como base. heterogêneas entre si, cada uma delas
destinada ao cumprimento de um conjunto
- "Ainda que as leis e as instituições da de atividades concebidas como 'serviços'
sociedade democrática possam reduzir os complementares aos dos demais. p. 41
efeitos do nascimento, do saber ou riqueza,
fontes de eterna desigualdade, jamais - "No mundo moderno de Tocqueville, um
conseguirão anulá-los completamente" (era único corpo social formado por indivíduos
essa a forma como Tocqueville pensava). iguais e independentes entre si suplantou e
substituiu a antiga hierarquia de corpos
- "Por isso mesmo a simples presença de heterogêneos. Se isto não significou a
desigualdades sociais não pode ser critério eliminação das desigualdades, seu dúvida
para diferenciar uma sociedade da outra, viabilizou sua percepção a partir de outra
mas a natureza das desigualdades ótica [...]".
admissíveis em uma e outra sociedade lhe
será exclusiva". p. 39 - "Além disso, a incidência de
desigualdade num ponto qualquer da vida
- "[...] a noção de desigualdade hierárquica social não implica necessariamente sua
é construída com base na experiência difusão aos demais setores da existência".
medieval europeia".
- "Na síntese proposta por Michael
- Para Tocqueville, a montagem da Burrage, [...] as desigualdades (no plural)
hierarquia teve suas origens históricas nas democráticas não podem ser articuladas de
conquistas militares que marcaram a modo a formar uma desigualdade (no
transição da Alta para a Baixa Idade singular) fundadora como no caso
Média. Os vencedores tornaram-se aristocrático". p. 42
senhores; os vencidos, servos. "Mas se a
força fora sua fundadora, para durar ao - "O que era natural e permanente na
longo dos séculos precisou legitimar-se aristocracia torna-se artificial e temporário
através dos costumes e das mentalidades". na democracia": o argumento do
p. 40 Tocqueville é que, ainda que na
democracia exista desigualdade, esta se dá
em um contexto de mobilidade social, de
modo que o acordo entre patrões e - "Na mesma perspectiva, a certeza da
empregados é sempre resultado do pacto continuidade histórica de certos fenômenos
entre duas vontades livres. p. 43-44 num futuro próximo é função da
regularidade dos comportamentos sociais
- Tocqueville chegou a afirmar que a assentados sobre a força prescritiva dos
finalidade principal de sua obra estaria costumes". p. 46
frustrada caso o leitor não percebesse a
importância atribuída 'à experiência prática - "Continuidades históricas como a
dos americanos, aos seus hábitos, às suas revolução democrática ou a centralização
opiniões, numa palavra, aos seus costumes, administrativa francesa podem vir a ser
na manutenção de suas leis'. infletidas no futuro, mas dificilmente o
seriam no curto prazo dados os obstáculos
- Ele disse que os costumes são o conjunto espirituais que as acompanham. A
das disposições intelectuais e morais que naturalidade com que fenômenos como
os homens introduzem no estado de estes se apresentam às consciências
sociedade. contemporâneas torna teoricamente
assegurável sua permanência no futuro
"É este conjunto de disposições que dá próximo".
coesão à existência social e faz com que os
comportamentos tornem-se socialmente - "Por outro lado, quando uma inovação se
inteligíveis. Define os padrões de introduz nas instituições e se consolida, o
normalidade e as fronteiras do socialmente que demonstra sua adequação à fórmula de
admissível, mantendo os comportamentos legitimação da ordem, pode-se esperar a
sociais sob certo controle". p. 45 continuidade da mudança na mesma
direção".
- "Se cada aspecto permanece numa p. 47
relação dinâmica e interdependente com
todos os demais, alterar um aspecto é - "Quando a desigualdade é a lei comum
alterar a configuração inteira[...]": essa foi de uma sociedade, as desigualdades mais
a interpretação de Roger Boesche do fortes nunca atraem o olhar; quando tudo é
sistema tocquevilleano da sociedade mais ou menos nivelado, as menores o
democrática. ferem. É por isso que o desejo da
igualdade torna-se cada vez mais
insaciável à medida que a igualdade é mesmo os governos que excluem a
maior". liberdade política são democráticos.
p.50-51
- "Como o canto da sereia que atrai o
marujo para dele se afastar, a igualdade - "[...] [É] a participação na esfera pública
excita o homem democrático numa busca o que define a natureza política do governo
incessante". democrático e não o conteúdo popular de
suas medidas ou as 'formas exteriores' de
- "A democracia assim concebida é um suas instituições". p. 51-52
estado social que comporta um movimento
permanente em busca de mais igualdade 4 O PROBLEMA DO DESPOTISMO
[...]. p. 49
- A escrita de Tocqueville revela seu
LIBERDADE E SERVIDÃO desprezo pelo caráter burguês: "De fato, o
mundo burguês dos negócios privados, da
- Eis o segundo nível do sistema conceitual lógica mercantil e do apego aos bens
de Tocqueville: concebendo-se como materiais foi objeto permanente da crítica
iguais, os homens têm duas opções: ou ética de Tocqueville". p. 54
todos compõem igualmente o soberano
(liberdade) ou este não conta com a INDIVIDUALISMO, INDIFERENÇA
participação de ninguém (servidão). CÍVICA E CENTRALIZAÇÃO

- "[N]a verdade, as formas de governo não - A crítica política tocquevilleana parte da


constituem objeto de estudo relevante para noção de que a sociedade democrática está
a ciência política de Tocqueville. Esta quer fundada no "individualismo", um
demonstrar que tanto a liberdade quanto a fenômeno particular ao contexto da
servidão, sob várias formas, são modernidade e distinto do tradicional
possibilidades de ordenamento político "egoísmo". p. 55
igualmente compatíveis com a igualdade e,
por isso mesmo, recebem o qualificativo - O individualismo está intrínseco à
'democrático'". p. 50 existência social democrática.

- Tocqueville nunca conseguiu reverter a


contradição existente em declarar que
- A homogeneidade trazida pela funcionalmente adequados entre si nas
democracia é o que levaria o indivíduo a condições da democracia. [...] Decorrem
centrar-se em si (=individualismo). daí a mediocridade cultural da democracia
p. 56 e a progressiva alienação cívica".
p. 58
- Para Tocqueville, o desejo insaciável de
bens materiais não é traço generalizado das - "O individualismo é de origem
sociedades aristocráticas. Contudo, ele democrática e ameaça desenvolver-se à
parece diferenciar esse fenômeno nas duas medida em que se igualam as condições".
sociedades:
na sociedade aristocrática, a massa - A democracia é que configura o
dos servis nem tenta enriquecer, individualismo, e esse só aumenta à
devido à fixidez das posições medida em que as condições se igualam;
sociais;
- Aumentando o individualismo, há cada
na sociedade democrática, a vez menos participação cívica.
posição dos indivíduos depende de p. 59
seu esforço, uma vez que a
mobilidade social é bem maior. - Os costumes privados que vão se
Assim, os ricos não têm garantias instaurando acabam provocando um vazio
de permanecer sempre nessa político, que será ocupado pela burocracia
condição, visto que existe a administrativa do Estado nacional - isso
tendência, na democracia, de aumenta as tendências à centralização.
igualar as condições de todos. O processo de superação das
p. 57 estruturas hierárquicas é composto pela
destruição dos tradicionais corpos
- Para Tocqueville, "a extrema intermediários de poder.
instabilidade impede a satisfação com a Isto porque, sendo todos os
posição já atingida", de modo que o indivíduos iguais, lhes parece 'natural' uma
homem sempre vai querer mais do que autoridade única que trate de maneira
possui. uniforme todos ao mesmo tempo.

- "Assim, individualismo, privatização e - "Daí derivam dois movimentos":


indiferença cívica são termos
1) a concentração de toda a autoridade nas uma identidade equivalente à dos súditos
mãos de um só poder; do Leviathan, o que, para Tocqueville,
constitui a alternativa da servidão".
2) a produção de uma legislação uniforme,
que se torna cada vez mais abstrata e - "O mais provável é a delegação
universal. consentida da soberania aos dirigentes do
Estado".
- "Só há duas maneiras de fazer reinar a
igualdade no mundo político: deve-se dar - Tocqueville reconhece que seria difícil,
os direitos a cada cidadão (à moda de dado o tamanho das nações modernas, o
Rousseau), ou não dá-los a ninguém (à povo participar da política.
moda de Hobbes)”.
p. 60 - Só que, mesmo em nível local, onde as
questões a resolver são menores e é
- Para Tocqueville, o nobre tem uma possível que todos participem, ele crê que
posição de dominação que é inerente a sua a indiferença cívica tende a prevalecer
condição na hierarquia. Todavia, caso as dado o enclausuramento dos indivíduos na
classes ricas ocupem os cargos políticos, privacidade.
elas o fazem enquanto mandatários do
povo, isto é, como instrumentos nas mãos - Como resultado desse processo, a
do povo, que é igual à eles. administração torna-se cada vez mais
centralizada: ou seja, o Estado obtém
- "Os mandatários devem representar o poder e controle sobre todas as questões,
conjunto do povo. [...] Neste sentido, os mesmo as menores e locais.
atos e vontades dos representantes
democrático devem coincidir com aqueles - "Neste mundo burguês, a única paixão
desejados pelos que lhes conferiram o política que ainda sobrevive é a da
mandato". tranquilidade pública que exige segurança
p. 61 para o livre gozo dos prazeres privados".
p. 62
- "Se os cidadãos não participam e
delegam aos representantes a coisa - Logo, o povo vai aceitar qualquer forma
pública, voltando-se com exclusividade de governo e qualquer representante, desde
para seus interesses privados, assumem que seus bens fiquem seguros e ele não
precise se aborrecer com os negócios então, que essa definição fora escrita antes
comuns: e a conclusão é que o modelo de de presenciar o despotismo de uma
Hobbes vence. assembleia, sob a República.

IGUALDADE E SERVIDÃO - Tocqueville também escreveu a respeito


do risco de tirania mesmo no "império
- Tocqueville acaba concluindo que os pacífico da maioria", posto que os
costumes que dominam o estado social interesses da maioria podem acabar se
igualitário prejudicam as ações voltadas sobrepondo à liberdade de indivíduos e de
para a realização da liberdade. grupos minoritários que, por consequência,
são socialmente exilados.
- "[...] [A] servidão tende a ser, dada a p. 64
prática democrática, funcionalmente mais
adequada aos costumes e à 'natureza' da - Já em 1835, o estudo da democracia
sociedade igualitária". americana revelava que a opinião pública
p. 63 nas sociedades igualitárias tende a ser tão
homogênea que juízos divergentes acabam
TIRANIA DA MAIORIA sendo desconsiderados. Assim, existe uma
"Censura invisível" da maioria.
- Ao longo dos anos, a oposição entre
liberdade e servidão, elaborada por - "A censura invisível da maioria esmaga
Tocqueville, sofreu alterações conceituais. as individualidades e impede a
independência intelectual, consolidando a
- "império pacífico da maioria": termo mediocridade cultural da democracia e a
elaborado com base na democracia impotência do indivíduo frente às massas".
americana; p.65-66
- "poder ilimitado de um só": termo
elaborado com base no sistema político - "[...] [A] sociedade democrática torna os
vigente na França. indivíduos extremamente frágeis frente às
OBSERVAÇÃO: o autor ressalta que o opiniões da maioria, obrigando-os a
termo "um só" pode significar mais do que sucumbirem à mesmice cultural e à
um único homem, isso porque Tocqueville mediocridade intelectual".
considerou a definição de despotismo da
Encyclopédie incompleta. Ele declarou,
- Tocqueville conclui que há mais "As analogias foram substituídas
liberdade de discussão nas monarquias pelo contraste, e o novo objeto das
absolutas da Europa do que na democracia preocupações de Tocqueville seria
da América, pois nessa a tirania o próprio Império pacífico da
sofistica-se, tornando-se espiritual (p. 66): maioria agora apreendido como
uma possibilidade da servidão
"Sob a forma da democracia organizada democrática".
teríamos a novidade de um poder que
oprime sem violentar materialmente os DESPOTISMO DEMOCRÁTICO
indivíduos. O exílio da alma é a técnica
apurada da nova censura cuja eficácia é - Tocqueville passou a considerar
superior à de toda tirania passada". p. 67 os antigos conceitos de despotismo
e tirania inadequados para
- Diferenças entre as publicações de 1835 e representar o novo fenômeno
1840: opressivo da modernidade.
Com o passar do tempo, p. 70
Tocqueville passou a diminuir as
referências diretas à democracia - "Nossos contemporâneos são
americana, começando a usar incessantemente trabalhados por
termos mais gerais, que abrangem a duas paixões inimigas; sentem a
experiência democrática em sua necessidade de serem conduzidos e
totalidade. o desejo de permanecerem livres.
[...] [E]esforçam-se por satisfazer
Ele mudou sua estratégia de no mesmo tempo a ambos.
exposição, por ter se Imaginam um poder único, tutelar,
conscientizado da radicalidade da todo-poderoso, mas eleito pelos
ruptura que a igualdade cidadãos. Combinam a
democrática promovera em relação centralização e a soberania do
ao seu passado. povo. Isso lhes dá algum descanso.
Consolam-se de estar sob tutela,

Tocqueville passou a questionar a pensando que eles mesmo

validade das analogias feitas escolheram seus tutores. Cada

anteriormente. pp. 68 e 69 indivíduo suporta ser acorrentado,


porque vê que não é um homem
nem uma classe, mas o próprio que são donos de seu próprio
povo, que segura a ponta da destino". p. 72-73
corrente". p. 71-72
- Tocqueville considerava o
- "Sobre a base social despotismo 'menos degradante'
individualista, um poder imenso, graças às eleições, uma vez que
absoluto e brando, cuida de todos elas dão ao povo o sentimento de
os detalhes da vida social dos que se governam. p. 73
súditos que mantêm-se ocupados
na busca dos 'pequenos e vulgares - "[...] [N]nada fará acreditar que
prazeres'". um governo liberal, enérgico e
sábio, possa sair dos sufrágios de
- "O poder não é tirânico, é tutelar; um povo de servos". p. 73-74
a nova opressão é regulada e
pacífica [...]". LIBERDADE MODERNA E
SERVIDÃO
- Os indivíduos tornam-se
dependentes do poder estatal e - Benjamin Constant, assim como
ignorantes da coisa pública, em Tocqueville, defendeu a liberdade
razão do isolamento e da individual do homem moderno. Ele
privatização. observou que "o indivíduo
moderno exerce uma soberania
- "O despotismo democrático restrita". Nesse sentido, ele só
apresenta-se para resolver a luta exerce sua soberania para dela
entre as paixões inimigas do abdicar, desde o momento em que
homem moderno: o desejo de elege alguém para governar em seu
independência e a necessidade de lugar. pp. 74-75
ser conduzido". p. 72
- O sistema representativo [...] não
- "[...] [A]as eleições mantêm é outra coisa senão uma
alguma capacidade de intervenção organização que permite ao povo
real dos indivíduos nos destinos da descarregar sobre certos indivíduos
coisa pública. Os indivíduos aquilo que ele não pode ou não
democráticos acreditam, por isso,
quer fazer por si mesmo". relação entre governantes e
pp. 75-76 governados, o princípio da ordem".
pp. 78-79
- Benjamin Constant era mais
otimista que Tocqueville a respeito UM DESPOTISMO OCIDENTAL
da liberdade moderna. "O amor
moderno pela independência _ Não existia, na tradição do pensamento
individual parece-lhe suficiente político ocidental, uma expressão
para mobilizar os homens numa adequada à construção teórica do
luta política caso estejam Tocqueville, pois ele descobrira um tipo
ameaçados por um governo inédito de dominação.
despótico".
- Os conceitos de tirania e despotismo
- "O comércio e a circulação das eram usados para designar formas
propriedades, ao dificultarem a degeneradas do poder político.
sistematização de uma ação
despótica, aparecem como os meios - "Tirania servira para representar a
modernos de defesa contra um corrupção da monarquia".
soberano ameaçador". p. 79
p. 76
- "Nenhuma das acepções de tirania serviu
- Tocqueville considera o para denominar a nova espécie de
comparecimento sazonal às urnas opressão", porque "[O] o poder tutelar não
insuficiente e enganador quando é violento nem arbitrário, nem ilegal nem
ocorre num contexto em que não há ilegítimo. Ao contrário, age pelo
experiência política informando de consentimento dos súditos e, em sua forma
fato a escolha dos que governam". mais avançada, pelo consentimento
p. 78 publicamente expresso nas urnas".

- "O problema não está, portanto, - Para Tocqueville, "a natureza do senhor
na engenharia institucional do importa menos que o espírito servil da
governo, mas sim no espírito de obediência [...]". p. 80
obediência e nos costumes sociais
que definem a substância da
- "Enquanto um tipo de dominação civilizações, que eram vulneráveis diante
legítimo e duradouro, o despotismo fora das civilizações europeias.
impensável no contexto ocidental [...]". p. 82
Isso porque a natureza livre do homem
ocidental era dada como indubitável [p. - Nesse contexto, "[O]os costumes
80-81]. democráticos que acompanhavam a
consolidação da sociedade burguesa
- "Se a tirania é transitória por opor-se ao europeia durante a primeira metade do
consentimento, o despotismo é aí inviável século XIX ameaçavam orientalizar a
pois supõe um conjunto de homens democracia e lançar os homens 'abaixo do
incapazes até mesmo da atividade de nível da humanidade'". p. 83
consentir, isto é, seres não-políticos".
- A restauração da liberdade não
- "A imagem tocquevilleana do despotismo necessariamente resolveria a problemática
democrático, ao mesmo tempo que proposta por Tocqueville.
mantém os pressupostos de uma natureza
servil, rompe com a tradição ao assumir a - "Mesmo que houvesse uma revolução
viabilidade de um despotismo ocidental contra o novo senhor, [...] os súditos mal
[...], uma degeneração do político em saberiam adequar suas ações aos seus fins,
não-político, considerada legal e legítima dada a perda da experiência política e,
porque apoiada no consentimento". com ela, a capacidade de julgar as
p. 81 consequências de seus próprios gestos".
p. 84
- "O princípio do despotismo democrático
é a obediência consentida, espécie de
equivalente ocidental do caráter escravo
que dominaria o que se supunha ser o
espírito dos súditos orientais".

- Montesquieu considerava que o


desinteresse pela política no oriente
advinha do medo, mas Tocqueville achava
que as religiões orientais eram a origem do
'espírito de conformidade' daquelas

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