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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


COLEGIADO DO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

TAÍS DIAS SANTOS

O TEMA DA DESIGUALDADE A PARTIR DE ALGUNS AUTORES


CONTEMPORÂNEOS

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2023
TAÍS DIAS SANTOS

O TEMA DA DESIGUALDADE A PARTIR DE ALGUNS AUTORES


CONTEMPORÂNEOS

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de


Ciências Econômicas da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia, como requisito para
aprovação na disciplina Monografia II.

ORIENTADORA: ANDRÉA BRAZ DA COSTA

VITÓRIA DA CONQUISTA — BA
2023
S239t

Santos, Taís Dias.


O tema da desigualdade a partir de alguns autores contemporâneos. / Taís Dias Santos,
2023.
35f.
Orientador (a): Andréa Braz da Costa.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação), Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, Vitória da Conquista, 2022.
Inclui referências. F. 34 - 35
1.Desigualdade - Renda. 2. Estado. 3. Mundo globalizado. I. Costa, Andréa Braz da. II.
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. III.T.

CDD. 339.21
Catalogação na fonte: Juliana Teixeira de Assunção – CRB 5/1890
UESB – Campus Vitória da Conquista – BA
TAÍS DIAS SANTOS

O TEMA DA DESIGUALDADE A PARTIR DE ALGUNS AUTORES


CONTEMPORÂNEOS

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de


Ciências Econômicas da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia, como requisito para
aprovação na disciplina Monografia II.

Aprovada em 05/07/2023

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Andréa Braz da Costa
Orientadora

__________________________________________________
Sofia Padua Manzano
Examinadora

__________________________________________________
Marcos Tavares
Examinador
AGRADECIMENTOS

Esta monografia me ensinou muito mais do que poderia ter imaginado. Escrever sobre
um tema tão importante pra mim, me fez enxergar as diversas facetas dele e olha-las por
diversos ângulos, onde cada autor aqui citado, deixava um pedacinho de si em mim.
Desta forma, quero agradecer primeiramente a Deus, pois sem ele essas palavras não
estariam escritas aqui. E em segundo lugar a minha orientadora Andréa, que me ajudou nessa
jornada árdua deixando o caminhar mais leve.
Agradeço ao meu marido Gabriel, que sempre me apoiou e me motivou em momentos
de desânimo e aos meus pais Lió e Edilza, que mesmo não concluindo o ensino fundamental,
me ensinaram mais do que muitos intelectuais. A eles externo minha eterna gratidão.
Agradeço aos autores que contribuíram para essa monografia e também a minha banca
examinadora, Marcos e Sofia, que colaboraram para a finalização desse ciclo.
Agradeço aos meus colegas de classe, que tornaram meus dias mais leves e fizeram as
noites frias da universidade se tornarem mais calorosas e aconchegantes com a amizade. E por
fim, agradeço a UESB e o corpo docente do curso de Economia, vocês tornaram um sonho
possível e contribuíram para o meu crescimento acadêmico, profissional e pessoal.
As lágrimas que brotaram em meus olhos serviram
para regar as flores que hoje nascem aos meus pés.
Taís Dias
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o debate contemporâneo sobre
a(s) desigualdade(s), destacando os conceitos de autores como: Piketty, Sen e Fitoussi e
Rosanvallon que trazem diferentes perspectivas a respeito dessa temática e, logo após, as
autoras Manzano, Pastorini e Santos e Costa são trazidas para o debate no qual confrontam
esses estudos e trazem um olhar crítico para os diagnósticos apresentados. A metodologia
utilizada se baseia em uma pesquisa bibliográfica feita a partir do levantamento de referências
teóricas já exploradas anteriormente, publicadas em meios eletrônicos e/ou escritos. E os
resultados obtidos com os estudos acerca do debate internacional mostrou que as desigualdades
são ocasionadas por diversos fatores, em que cada autor destaca uma perspectiva em seu foco
de pesquisa sendo elas a renda, a liberdade de escolha, o bem estar social, a diversidade humana,
o desemprego, entre outros. E, a partir da introdução das autoras nessa temática, foram
apresentados os pontos fortes e fracos dessas teorias, dentre esses o comportamento dessas em
um mundo globalizado e neoliberal.

Palavras-chaves: Desigualdade. Renda. Estado.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
1 AS MÚLTIPLAS FACES DA DESIGUALDADE SOCIAL: ALGUMAS 11
PERSPECTIVAS DE ÁNALISE NO DEBATE INTERNACIONAL .........
1.1 A desigualdade presente na renda: uma análise por Piketty ........................ 11
1.2 Desigualdade multidimensional por Fitoussi e Rosanvallon ......................... 14
1.3 Liberdade e desigualdade segundo Sen ........................................................... 18
2 COMPREENSÕES E PERSPECTIVAS SOBRE O DEBATE 21
INTERNACIONAL A RESPEITO DA DESIGUALDADE .........................
2.1 O estudo da desigualdade deve ser apenas empírico? ................................... 21
2.2 Questão social, novo ou velho problema? ....................................................... 23
2.3 Liberdade gera igualdade?................................................................................ 26
2.4 Condensação sobre o debate contemporâneo acerca da(s) desigualdade(s). 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 33
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 34
8

INTRODUÇÃO

A desigualdade social está relacionada a convivência em sociedade impostos aos


indivíduos que nela residem, sendo assim, ela pode condicionar, limitar e até mesmo prejudicar
o status e a classe social de uma determinada pessoa ou grupo, interferindo em sua qualidade
de vida (OXFAM, 2021a). Observa-se que esse contraste social presente no país, se constrói
desde o período colonial, em que predominava a escravidão. Com isso, aspectos como racismo
estrutural, discriminação de gênero, desequilíbrio da estrutura social, entre outros, só
intensificam esse mal global herdado dos antepassados (OXFAM, 2021b).
O Brasil está entre os países com maior desigualdade e concentração de renda ao redor
do mundo. Dados apresentados pela Oxfam (2019a) no relatório “Bem público ou riqueza
privada?” mostra que se fosse cobrada uma taxa extra de apenas 0,5% sobre as riquezas dos
bilionários que fazem parte do 1% das pessoas mais ricas do planeta, esse valor seria o suficiente
para educar 262 milhões de crianças no mundo que estão fora da escola e providenciar serviços
de saúde que poderiam salvar a vida de mais de 3 milhões de pessoas. O relatório ainda aponta
que em 2018 a fortuna desses bilionários aumentou 12%, enquanto que a metade mais pobre do
planeta reduziu a sua “riqueza” em 11%. Apesar disso, em países como o Brasil, os 10% mais
pobres estão atualmente pagando uma proporção maior de impostos do que os 10% mais ricos.
A Oxfam (2019a) destaca que entre 1980 e 2016, a metade mais pobre do planeta ficou
com apenas 12 centavos em cada dólar de crescimento da renda, ao mesmo tempo em que o 1%
mais rico ficou com 27 centavos. Se forem levados em consideração somente os países com
dados recentes disponíveis, o Brasil fica apenas atrás do Qatar no que diz respeito à
concentração de renda do 1% mais rico, sendo 29% a concentração no país árabe e 28% a
concentração aqui (OXFAM, 2018a).
Ravallion (2019) declarou em entrevista concedida ao jornal El País, que há um alto
índice de desigualdade em toda a América Latina e que isso se torna um obstáculo tanto ao
crescimento econômico, quanto na batalha para erradicação da pobreza. O principal objetivo
que um país deve ter é pobreza zero, o que não necessariamente acaba com a desigualdade
como muitas vezes é concluído equivocadamente pela população. Ele ainda ressalta que, na sua
perspectiva, o sistema capitalista deve desempenhar o seu papel no qual funcione para todos,
se dedicando a reduzir as desvantagens das crianças que nascem em famílias pobres, mas não
é o que ocorre.
No Brasil a desigualdade de renda está se tornando mais evidente a cada dia, segundo
a Oxfam Brasil (2018b) o país ficou na 39º posição entre os países que promovem esforços para
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combater as desigualdades. Vale ressaltar que este estudo não considera os impactos do teto de
gastos e da reforma trabalhista, pois quando se utilizou a base de dados, essas medidas ainda
não tinham entrado em vigor. Esse índice baseia-se em três pilares: gastos sociais, políticas
tributárias progressivas e direitos trabalhistas, no qual a posição do Brasil individualmente é
38º, 64º e 49º respectivamente, o que provavelmente deve apresentar uma relevante mudança
ao serem acrescentadas medidas que congelam os gastos sociais por 20 anos e reduz alguns
direitos dos trabalhadores. Ainda conforme a pesquisa, as desigualdades reprimem o
crescimento econômico e enfraquecem a luta contra a pobreza, que se não for erradicada até
2030, trará quase meio bilhão de pessoas, em todo o mundo, para a extrema pobreza.
Em uma pesquisa realizada pela Oxfam Brasil (2019b), em parceria com o Instituto
Datafolha, 86% dos brasileiros entendem que o crescimento do Brasil está condicionado à
diminuição da desigualdade entre ricos e pobres e 84% concordam que reduzir essas diferenças
é obrigação dos governos. Isso expressa o quanto a população brasileira acredita que,
conseguindo uma redução na desigualdade, será benéfico tanto para população mais pobre,
quanto para o progresso do nosso país. Ainda de acordo essa pesquisa, 94% acreditam que os
impostos pagos devem favorecer os mais pobres e 77% aprovam que haja aumento nos impostos
dos mais ricos para financiar políticas sociais, um assunto que está se tornando recorrente na
atualidade.
Com base nos dados apresentados, esse estudo mostra as teorias de alguns autores
contemporâneos a respeito da desigualdade. O primeiro autor, Piketty, traz a questão da relação
existente entre capital-trabalho, a lei da oferta e demanda, apresenta a sua interpretação sobre
as teorias de Marx e Kuznets, e desenvolve a discussão a respeito da redistribuição de renda.
Os próximos autores, Fitoussi e Rosanvallon, apresentam a teoria sobre as novas e velhas
desigualdades, trazendo os conceitos de desigualdades estruturais e dinâmicas e destacam a
importância do combate ao desemprego. E, por fim, Sen embasa a sua teoria na liberdade de
cada indivíduo, no qual cada pessoa apresenta características individuais, e desta forma o seu
bem estar social não pode ser medido exclusivamente pela renda.
As autoras, Manzano, Pastorini e Santos e Costa apresentam as suas perspectivas a
respeito das teorias apresentadas por esses autores citados acima, trazendo uma análise crítica
e um debate mais atualizado sobre o tema. Destacando os pontos que não foram avaliados na
discussão e apresentando as falhas de pontos que foram explorados.
A partir dessas discussões, esse estudo tem como objetivo principal analisar o debate
contemporâneo sobre a(s) desigualdade(s), destacando os conceitos de autores como: Piketty
(2014, 2015), que baseia a sua discussão na desigualdade de renda; Sen (2001), que afirma
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como a liberdade e características individuais influenciam no estudo da desigualdade; e,


Fitoussi e Rosanvallon (1997) que observa a desigualdade de uma forma multidimensional.
Desta forma, esses autores trazem diferentes perspectivas a respeito dessa temática e, logo após,
outras autoras são trazidas para o debate no qual confrontam esses estudos e trazem um olhar
crítico afirmando que os diagnósticos apresentados por eles não vão a raiz do problema da
desigualdade, apenas a realocam. O que nos leva ao problema desse estudo: qual o debate
contemporâneo acerca da(s) desigualdade(s)?
Para melhor entendimento, essa monografia foi dividida em dois capítulos, sendo o
primeiro a respeito da desigualdade em que cada autor, acima citado, apresenta a sua teoria a
respeito do tema, conceituando e examinando o seu comportamento na sociedade. E o segundo
traz as autoras Manzano (2021), Santos e Costa (2018) e Pastorini (2004) que fazem uma análise
a interpretação desenvolvida pelos autores do primeiro capítulo.
A metodologia utilizada se baseia em uma pesquisa bibliográfica feita a partir do
levantamento de referências teóricas já exploradas anteriormente, publicadas em meios
eletrônicos e/ou escritos. Além dessa breve introdução, essa pesquisa se divide em mais três
seções, que são elas: o capítulo 1 que trata sobre a desigualdade sob a perspectiva de Piketty
(2014, 2015), Sen (2001), Fitoussi e Rosanvallon (1997); o capítulo 2 que faz uma análise
referente as teorias apresentadas no capítulo anterior pelas as autoras Manzano (2021), Santos
e Costa (2018) e Pastorini (2004) e, por último; as considerações finais.
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1 AS MÚLTIPLAS FACES DA DESIGUALDADE SOCIAL: ALGUMAS


PERSPECTIVAS DE ANÁLISE NO DEBATE INTERNACIONAL

1.1 A desigualdade presente na renda: uma análise por Piketty


Observa-se na Constituição Federal brasileira, art. 5º, que “todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...]” (BRASIL, 1988), porém, na construção dessa sociedade, nota-se que a lei
acima citada não é validada, e a desigualdade acaba por envolvê-la em diversas facetas,
trazendo as questões de gênero, raça, renda e acesso à educação, saúde e qualidade de vida.
Segundo Piketty (2015), as teorias modernas de justiça social se baseiam no princípio
de maximin que acredita que uma sociedade justa deve maximizar as oportunidades e oferecer
um padrão de vida melhor para todos, com condições mínimas disponibilizadas pelo sistema
social. Desta forma, era de se esperar que a condição de vida da população, bem como o seu
desenvolvimento, estivesse caminhando para uma melhora significativa. Mas, apesar da
propagação do conhecimento que se tem atualmente, esse fator não resultou na melhora desse
mal, como o próprio autor afirma:
[...] o crescimento moderno, fundado no crescimento da produtividade e na
difusão do conhecimento, permitiu evitar o apocalipse marxista e equilibrar o
processo de acumulação do capital. Mas ele não modificou as estruturas
profundas do capital — ou, ao menos, não reduziu de verdade sua importância
macroeconômica em relação ao trabalho. (PIKETTY, 2014, p. 304.)

O economista é atualmente o porta voz quando o assunto é desigualdade, e apresenta


duas vertentes políticas que trazem soluções opostas a esse mal. A posição liberal de direita
acredita que apenas as forças de mercado são capazes de melhorar a renda e consequentemente
as condições de vida da população mais pobre no longo prazo, através do aumento da
produtividade e da iniciativa individual, e que por isso, o Estado deve interferir o mínimo
possível em mecanismos de redistribuição. Já a posição tradicional de esquerda afirma que a
desigualdade produzida pelo sistema capitalista, só pode ser reduzida mediante lutas sociais e
políticas, e que, ao contrário do que a direita acredita, as forças de mercados estabelecem os
lucros que são apoderados por aqueles que detêm o capital, aumentando assim a desigualdade
de renda entre os trabalhadores. Diante disso, o Estado deve sim criar instrumentos para
redistribuição (PIKETTY, 2015).
Segundo o autor, existem dois tipos de redistribuição, sendo que cada uma delas
abrange um lado do conflito existente entre direita / esquerda, que podem ser usadas para
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diminuir as desigualdades. Na redistribuição pura o equilíbrio de mercado se assemelha a


eficiência no sentido de Pareto, pois sendo impossível realocar os recursos e organizar a
produção para que todos sejam beneficiados, é feita uma redistribuição mais justa no qual
reduza alguns privilégios de indivíduos mais ricos para beneficiar indivíduos mais pobres. Já
na redistribuição eficiente as imperfeições de mercados passam por intervenções diretas em seu
processo de produção para que assim consiga melhorar a eficiência no sentido de Pareto e ainda
obter a equidade de sua distribuição (PIKETTY, 2015).
Piketty (2015) destaca que Marx e demais teóricos socialistas do século XIX,
acreditavam que o fundamento do sistema capitalista nada mais faria do que expandir as
desigualdades já presentes entre as duas classes sociais existentes, o proletariado e os
capitalistas, e isso comprometeria tanto países desenvolvidos como os subdesenvolvidos. Desta
forma, de acordo com o autor, Marx buscou diferir-se dos demais economistas daquela época,
que viam o mercado como um sistema que se autorregulava, ou seja, um sistema capaz de
conseguir se equilibrar sem nenhuma interferência externa, cujo a produção criaria a sua própria
demanda.
Desta forma, Piketty (2014) destaca que na concepção de Marx, o mundo no qual o
capitalismo estava se alastrando, o capital havia deixado de ter o seu enfoque na terra e passado
a ser industrial, o que resultaria em um acúmulo de capital infinito, no qual, cada vez mais a
tendência em acumular capital, levaria a uma concentração de uma parcela restrita da
população. O autor acredita que, apesar das limitações de que Marx dispunha na época em que
fez sua análise, a sua teoria é relevante nos seguintes aspectos:
Em primeiro lugar, Marx partiu de uma questão essencial (o aumento inédito
da concentração de riqueza durante a Revolução Industrial) e tentou respondê-
la usando os meios de que dispunha [...]. Em segundo lugar, e mais importante,
o princípio de acumulação infinita proposto por ele contém uma noção
fundamental, tão válida para a análise do século XXI como foi para o século
XIX [...]. (PIKETTY, 2014, p. 19-20)

Piketty (2015) também traz a teoria de Kuznets (1955) de que a desigualdade tende a
se expressar em uma curva Ո (U ao contrário), ao longo de todo o seu processo. Tratando-se a
primeira fase, a parte em que a desigualdade se encontra em crescimento, sendo ocasionada
pela industrialização presente naquela época e por causa da urbanização; a segunda fase, que
seria o topo da curva, refere-se ao período de estabilização da mesma, e por fim viria a terceira
fase, que acarretaria na redução automática da desigualdade quanto mais avançado fosse o
desenvolvimento capitalista do país. O que de fato ocorreu no século XIX em todos os países
ocidentais. Porém, segundo Piketty (2015), a redução da desigualdade observada no século XX,
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não deve ser tratada como uma consequência natural do processo econômico como Kuznets
havia previsto, pois através de estudos e pesquisas, ficou constatado que essa diminuição em si
se deu por causa da desigualdade dos patrimônios. Após o aumento da desigualdade desses
países, que até então, vinham de um período de redução, a teoria de Kuznets acabou sendo
descartada. Desta forma, Piketty conclui que:
Quando a taxa de renumeração do capital ultrapassa a taxa de crescimento da
produção e da renda como ocorreu no século XIX e parece provável que volte
a ocorrer no século XXI, o capitalismo produz automaticamente
desigualdades insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de maneira radical os
valores da meritocracia sobre os quais se fundam nossas sociedades
democráticas. (PIKETTY, 2014, p. 9)

Para analisar melhor a teoria que se dispôs a compreender, Piketty (2015) trabalha, em
um primeiro momento, com os dois polos, que, segundo ele, são a parte fundamental da
desigualdade, que seria a relação existente entre capital-trabalho. Para o autor, o simples fato
de o detentor do capital receber uma parte considerável da renda produzida, abre as portas para
a questão de redistribuição, e que a desigualdade existente entre essa repartição, não só é injusta,
como também é ineficaz, já que essa manobra se repete ao longo dos anos, impossibilitando
que esses indivíduos mais pobres alcancem os mais afortunados. Sendo assim, ele acredita que:
[...] a repartição da renda entre capital e trabalho é de natureza puramente
distributiva: trata-se apenas de dividir a unidade produzida entre dois fatores
de produção – que são o capital e o trabalho –, isto é, entre o proprietário da
máquina e os n trabalhadores, a despeito do processo de produção em si.
(PIKETTY, 2015, p. 37)

Já em um outro momento, o autor pondera os diferentes níveis de capital humano que


é produzido através da divisão da população que almeja proporcionar uma oferta de trabalho
adequada a demanda existente, em que se tem distintos tipos de bens e serviços. Concluindo
que esse sistema de oferta e demanda estabelece os salários que estão associados aos níveis de
capital humano, gerando assim a desigualdade entre esses salários. Desta forma, a desigualdade
seria justamente a disparidade entre aqueles que detêm o capital (não humano, que seria a
riqueza) e os que não o detêm, e, portanto, vivem de acordo com a renda que recebem do seu
trabalho. O que torna a fonte primordial da desigualdade a distribuição desigual da propriedade
desse capital.
Desta forma, segundo o autor, são utilizados instrumentos para o combate dessa
desigualdade como o salário mínimo, sindicatos, grades salariais, políticas de educação,
tributação em salários altos e transferências fiscais para os salários mais baixos. Sendo esses
últimos, uma redistribuição fiscal cujo o mercado determina os valores dos salários de forma a
estabelecer um nível, porém o governo tributa os salários que são mais altos e transfere esse
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valor para quem recebe salários mais baixos através da diminuição de seus impostos. Isso
acarreta um aumento na renda desses assalariados com baixa qualificação, sem que esse custo
seja repassado para a empresa, e, com isso, evita-se que esses empregos sejam reduzidos
(PIKETTY, 2015).
Piketty (2015) destaca Goux e Maurin, mencionando que estes trazem uma afirmativa
bastante relevante a respeito da desigualdade, pois declaram que investimentos públicos na
educação de jovens de baixa renda não reduzem a desigualdade de oportunidades que eles
possam enfrentar, pois a influência de suas origens sociais no processo de profissionalização,
vai muito além da educação ou da disponibilidade de empregos, pois essas (origens), são
analisadas durante toda a sua carreira. À vista disso, Piketty afirma que:
Faz sentido que o efeito das despesas com educação seja fraco não porque
apenas o meio familiar de origem determina as chances de sucesso escolar, e
sim porque o feito da composição social dos alunos da escola e do bairro onde
moram é muito relevante do que o efeito das despesas com educação. (2015,
p. 94)

Em suma, para o autor, as chances de sucesso de um determinado indivíduo dependem


mais do convívio em que ele está inserido, do que a aptidão de seus professores. Sendo assim,
ele conclui que, um estudante de periferia teria mais possibilidades de se tornar uma pessoa
bem sucedida se estudasse em uma escola renomada, do que, caso os professores dessa escola
ministrassem aula em uma escola da periferia. (PIKETTY, 2015)
Em síntese, para Piketty (2015), a redistribuição eficiente é a melhor forma para se
combater a desigualdade, para isso ele frisa a importância de uma redistribuição de renda que
tenha uma influência direta no mercado de trabalho, além de políticas voltadas para a educação,
pois através deste conjunto é possível modificar a desigualdade de renda presente na classe
trabalhadora. Um outro ponto importante seria a redistribuição sob a forma de seguros sociais
no qual cada indivíduo escolheria a cobertura social desejada e pagaria o equivalente a essa
escolha e a redistribuição keynesiana que acredita que aumentando os salários trará um
fortalecimento para a economia do país.

1.2 Desigualdade multidimensional por Fitoussi e Rosanvallon


Na discussão sobre as desigualdades destaca-se agora Fitoussi e Rosanvallon (1997).
Os autores destacam em seu livro “A Nova Era das desigualdades” que para avaliar e
compreender uma determinada sociedade, é necessário analisar a quantidade e persistência
existente do desemprego naquele local, pois, o aumento da desocupação entre os membros
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daquela comunidade pode gerar perda de identidade e uma grande incerteza quanto ao seu
futuro, tornando esse fenômeno ainda mais complexo.
Porém, para analisar a desigualdade, precisa-se primeiro compreender o conceito de
igualdade. Sendo assim os autores apresentam os pensamentos de vários outros autores, dentre
eles o de Rawls, que acredita que a igualdade deve ser definida pelos bens sociais que cada
indivíduo dispõe e dos seus rendimentos. E o de Sen, que afirma que a igualdade está na
liberdade e capacidade que os indivíduos dispõem de realizar seus sonhos, enxergando que a
igualdade de rendimentos pode mascarar a desigualdade de bem estar, isso porque pessoas que
recebem o mesmo rendimento, não dispõem necessariamente da mesma capacidade de
liberdade, como por exemplo pessoas com deficiência. Desse modo, os autores concluem que
“a igualdade, sem dúvida, não é um estado, mas um projecto, um princípio de organização que
estrutura o devir de uma sociedade”. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997, p. 64)
Falar que uma sociedade está bem economicamente, não significa que todos os
habitantes que nela residem estejam sendo beneficiados com esse crescimento. De acordo com
os autores não adianta, por exemplo, ter todos os eixos ajustados e apenas o desemprego em
alta, pois justamente essa exceção constitui todo um problema. Do mesmo modo não adianta
fazer uma média dos rendimentos daquela comunidade, pois esses não levarão em conta o modo
como foram repartidos e nem aqueles que não receberam tal renda. Isso traz questões como,
precariedade, insegurança e fragilização da população mais pobre, que não são apresentadas
nos indicadores estatísticos. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997)
Fitoussi e Rosanvallon (1997), tratam o individualismo como um grande progresso,
porém destacam que ele está cercado de falhas. O mercado mundial gera crescimento na mesma
proporção que suprime os empregos, multiplica as riquezas e ao mesmo tempo aumenta o
abismo da desigualdade. Desta forma, a sociedade se torna vulnerável ao processo de
mundialização, pois apesar de lidar com as novas fragilidades que esse mercado apresenta,
novas formas de desigualdade também são inseridas nesse contexto.
Ainda, segundo os autores, a desigualdade é multidimensional, o que pode provocar
uma certa diferença entre sua própria vertente, pois há algumas desigualdades que se tornam
estáveis, enquanto outras se desenvolvem mais, e mesmo que não haja dados concretos, não
deixam de ser evidentes em nosso cotidiano, dessa forma “[...] o campo das desigualdades
alargou-se também, modificando em profundidade a percepção das diferenças na sociedade.
Entraram assim em cena desigualdades novas”. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997, p. 41,
grifo do autor)
16

Para melhor compreender a desigualdade, pode-se analisá-la da seguinte forma: as


desigualdades persistentes, que são as mais convencionais, são medidas e avaliadas através de
estatísticas e dados mais claros, sobre rendimento e moradia. E as desigualdades mais abstratas
se diz respeito a diferença entre salários, trabalhos, condição de vida, etc. Essas novas
desigualdades são muitas vezes silenciadas por não haver uma voz coletiva que dê força e
consistência a este ato. Sendo assim, a política e a sociedade cada vez mais seguem rumos
diferentes, criando uma onda de injustiça e insatisfação em seu povo. De acordo com os autores,
geralmente as revoluções que ocorrem no sistema estão voltadas primeiramente a questões
políticas e culturais e só depois é analisada a questão econômica, por isso muitas destas não
têm êxito em sua finalidade. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997).
Em seu livro, os autores dividem as desigualdades em dois tipos: estrutural e dinâmica.
Nas desigualdades estruturais (macroeconômicas), se tem uma interiorização da sociedade para
esse mal, que pode ter sido ocasionado por doutrinas políticas, ou herdadas pela história
passada, fazendo com que não se enxergue essas diferenças como uma desigualdade. Um
exemplo disso é a divisão dos salários referente ao lucro que é obtido pelo detentor do capital.
Por outro lado, nas desigualdades dinâmicas (microeconômicas), os indivíduos que estão
inseridos nela não estão nem brigando por um salário mais justo, pois muitos estão
desempregados, outros estão em empregos precários e outros em empregos subqualificados.
De certa forma, a percepção que a população tem a respeito da desigualdade, em que
se é “justificada” o crescimento de tal, pode ser dada em decorrência de três motivos: 1) um
enfraquecimento do princípio de igualdade desta sociedade, pois há uma acomodação em
relação as desigualdades existentes que já a muito permanecem no sistema; 2) um forte
crescimento das desigualdades estruturais, como por exemplo, diferença entre rendas, acesso à
educação e a saúde, etc; e, 3) a necessidade imediata de lidar com novos tipos de desigualdades
que surgem, sejam elas ocasionadas por evoluções técnicas, jurídicas ou econômicas. Sendo
esses motivos citados acima, dependentes uns dos outros. (FITOUSSI; ROSANVALLON,
1997)
Sobre como é viver em desigualdade, os autores trazem uma elucidação bastante
válida, que pode ser lida a seguir:
Cada um de nós tem consciência, ainda que muitos a recalquem, de que a sua
posição poderá ter a ver mais com um concurso de circunstâncias favoráveis
ou desfavoráveis do que com uma avaliação objectiva de méritos. É certo que
a sorte e o acaso desempenham sempre algum papel no destino dos indivíduos,
e é bom que assim seja. Mas quando, em média, se tornam o factor
determinante principal do seu futuro, passam a ser, para o conjunto da
17

sociedade, profundamente desmobilizadores. (FITOUSSI;


ROSANVALLON, 1997, p. 48-49)

Frequentemente, costuma-se atribuir, o azar ou a sorte, a fatores que acontecem na


vida dos indivíduos. Muitos, se forem questionados, irão dizer que por mérito mereceriam mais
do que já estão tendo. Mas, se for levado em conta que diversos membros da sociedade estão
em empregos subqualificados e/ou trabalhos informais, é de se esperar, como os autores bem
expressam acima, que haja uma desmotivação da população, seja ela sobre a perspectiva do
futuro, ou sobre conseguir algo pelo seu próprio esforço e qualificação. Como os próprios
autores ressaltam: “Descrever as desigualdades modernas é no fundo narrar a transformação
social” (1997, p. 51).
Fitoussi e Rosanvallon (1997) destacam que antes, as desigualdades existentes nos
rendimentos, eram referentes a qualificação profissional, pois muitos não tinham acesso à
educação justa e poucos podiam obter ensino superior. Com o passar dos anos, o acesso à
educação, ainda que falho e distante do almejado, passou a ser mais alcançável e diversas
famílias de diferentes classes sociais conseguiram conquistar o tão sonhado diploma. Com isso,
as desigualdades que antes eram “justificadas” por qualificação profissional, passaram a não ter
mais justificativas, porém nunca deixaram de existir. Como os autores afirmam, as
desigualdades dinâmicas que antes seriam transitórias, passaram a modificar, a cada instante,
as condições que lhes eram impostas de como enfrentar o futuro, gerando nos indivíduos um
sentimento de fracasso, injustiça e incapacidade.
Sendo assim, Fitoussi e Rosanvallon (1997), voltam novamente a questão do
desemprego como um fator primordial no crescimento da desigualdade, pois, para eles o
problema não está nos diversos tipos de desigualdades que existem e podem gerar
consequências grandes ou pequenas, e sim na multiplicação desse mal. Como exemplo, eles
retratam uma pessoa que perde o emprego e em decorrência dessa situação, ela terá várias
complicações como: mudar de casa, diminuir seus gastos, ir pra um lugar mais distante, mudar
seu meio de transporte, etc. E isso acaba criando obstáculos ainda maiores na sua busca por um
novo emprego, fazendo com que suas chances de conquistar uma ocupação equivalente ou
melhor ao que tinha antes, caia drasticamente.
Por fim, os autores acreditam que para se restabelecer a igualdade nas oportunidades
é necessário que haja um combate assíduo contra o desemprego, seguido de investimento
público na educação, cujo o Estado forneça a cada indivíduo um capital inicial para que consiga
se estabelecer e planejar melhor o seu futuro, aliado a um sistema de proteção social que zele
18

mais pela sua população, fazendo com que fatores econômicos, sociais ou afetivos não
interfiram na formação social e profissional destes.

1.3 Liberdade e desigualdade segundo Sen


Sen (2001), começa o seu livro “Desigualdade Reexaminada” falando sobre as teorias
igualitaristas de oportunidade, no qual a sociedade tem o dever de compensar as pessoas que
sofrem desigualdades e não dispõem de recursos suficientes para realizar sonhos e objetivos
futuros, desta forma, caso esses indivíduos não tenham responsabilidades por esse mal que lhes
é causado, a comunidade tem por obrigação compensar-lhes de alguma forma. Essa concepção
analisa a capacidade de liberdade que o indivíduo tem de realizar seus objetivos que está ligado,
entre outras coisas, ao bem estar.
O autor ainda destaca que, na economia tradicional geralmente é avaliado o poder de
compra das pessoas, trazendo como enfoque a variável renda, e com isso, mede-se o nível de
satisfação da população. Se analisar nesse mesmo contexto, a liberdade de um indivíduo poderia
ser medida através das oportunidades que lhe foram expostas, constatando que quanto maior
forem as oportunidades apresentadas, ou seja quanto maior seu poder de escolha, maior a sua
liberdade. No entanto, a tendência dessa economia é simplificar o seu modelo, fazendo com
que a liberdade, por exemplo, seja determinada apenas pelo valor da alternativa escolhida, e
não pelas opções de alternativas que foram dispensadas. Desse modo, se o indivíduo tivesse
apenas uma alternativa ótima, ficando assim sem outras opções de escolhas, seu grau de
liberdade seria igual aquele que teve o poder de realizar sua escolha e consequentemente mais
liberdade de decidir (SEN, 2001).
Segundo Sen (2001), exigir a igualdade em um determinado campo, acaba por
determinar a rejeição de igualdade em outro, sendo incompatível que haja igualdade em todos
os setores. Por isso ele destaca a importância de compreender em que focar a busca pela
igualdade. Sendo a diversidade humana o aspecto fundamental da busca pela equidade.
O autor argumenta em seu livro que para analisar a igualdade, deve-se levar em conta
dois tipos de diversidades que vai de encontro a esse conceito. O primeiro seria as diferenças
que existem entre os seres humanos e o segundo os diversos tipos de variáveis que podem haver
para determinar a igualdade. Para então examinar essas equidades, seria necessário generalizar
as diversidades que a humanidade tem (características externas e pessoais) e o mesmo acontece
com o segundo fator no qual se julga a igualdade de um determinado indivíduo comparando
algum aspecto específico com o de outrem. Em suma, Sen afirma que:
19

Algumas vezes, as diversidades humanas são desconsideradas não pela mal


interpretada razão “elevada” da “igualdade dos seres humanos”, mas pela
“inferior” razão pragmática da necessidade de simplificação. Porém, isso pode
em suma resultar também na desconsideração de aspectos centrais importantes
das exigências de igualdade. (SEN, 2001, p. 30, grifo do autor)

De acordo Sen (2001), a diversidade humana agrega tanto características externas e


circunstancias, quanto características pessoais. Ao analisar os aspectos externos, pode-se
constatar os diferentes meios que os indivíduos pertencem alguns mais estáveis, alguns com
bastante responsabilidade, alguns herdam riquezas, outros herdam extrema pobreza, etc. No
que diz respeito aos aspectos pessoais, depara-se com idade, gênero, aptidão, sonhos, etc. Com
isso, as vantagens e desvantagens que uma pessoa tem comparado a outra pessoa, pode se dar
a partir de diversos tipos de variáveis, sendo crucial que seja determinada uma perspectiva, para
que o foco sobre a desigualdade que está sendo estudada, não se perca.
O autor alega que se houvesse igualdade em uma determinada variável, como por
exemplo a renda, isso teria que acarretar na igualdade das outras variáveis. Porém, um resultado
que as diferenças existentes entre os humanos proporcionam é que, igualar uma variável tende
a provocar a desigualdade em outrem. Como exemplo disso se tem dois indivíduos que possuem
a mesma renda, todavia um deles apresenta um problema de saúde que o impede de ter um
condicionamento físico bom. Portanto, se for analisado a variável renda, haverá uma igualdade,
mas se for levado em conta o condicionamento físico ou o bem estar, essas variáveis
apresentarão desigualdades (SEN, 2001).
Tendo isso em vista, Sen (2001), resume esse paradigma ao seguinte questionamento:
Igualdade de quê? De acordo com ele, cada teoria, por ser divergente uma da outra, apresentará
uma resposta diferente a esse conceito. Porém, na prática, essas diferenças estão ligadas a
importância das diversidades humanas que são relevantes para que a igualdade analisada em
um determinado espaço, se diferencie da igualdade analisada em outro. Dessa forma, a resposta
dada a essa pergunta central do autor, não apenas garantirá o foco na variável sobre a igualdade
escolhida, como trará consequências nas outras variáveis deixadas de fora da análise.
Segundo Sen (2001) para pensadores que acreditam e almejam a liberdade, seus
pensamentos podem ser vislumbrados como anti-igualitários, já estudiosos que buscam a
igualdade, podem transparecer pouco interesse nas questões de liberdade, pois seu foco maior
é diminuir desigualdades. Porém, a importância pregada para que haja liberdade precisa ser
complementada pela igualdade, pois quando se exige a liberdade, seja ela em qual meio for,
exige que ela seja pra todos. Sendo assim aquela comunidade envolvida precisa garantir que
haja a distribuição do direito de liberdade a todos os envolvidos. Desta forma, não existe escolha
20

entra liberdade ou igualdade, pois ambas se complementam para realizar seus objetivos. De tal
forma que “a liberdade está entre os possíveis campos de aplicação da igualdade, e a igualdade
está entre os possíveis padrões de distribuição da liberdade”. (SEN, 2001, p. 54, grifo do autor)
As tantas variáveis que a igualdade dispõe, acabam colocando em dúvida se realmente
faz sentido cumprir o que é exigido por ela. Diante disso alguns autores sustentam a ideia de
que a igualdade esteja saturada, ou seja uma forma vazia, por ser interpretada de tantas maneiras
distintas. Como Douglas Rae (1981 apud SEN, 2001, p. 55) que considera “uma ideia que tem
mais força para resistir à igualdade do que as de ordem ou eficiência ou liberdade”. Enquanto
Westen (1982 apud SEN, 2001, p. 55) a declara “uma forma vazia que não tem qualquer
conteúdo substantivo por si mesma”.
Para Sen (2001), antes de se estudar a igualdade, é necessário escolher o espaço,
considerado importante, no qual ela será analisada, caindo assim o contexto de que ela seja uma
ideia vazia. Segundo, após ter sido fixado a variável que será estudada, a igualdade impõe um
ranking de padrões para que haja justiça em sua distribuição. Terceiro, a pluralidade observada
não é um problema único da igualdade, pois elas indicam ideias e visões diferentes que servem
de base informacional para qualquer noção social.
Desta forma, o autor acredita que as oportunidades reais ou substantivas de que o
indivíduo possui tem pouco a ver com a velha narração da desigualdade de renda que está tão
no auge, pois, como já foi exposto acima, o bem-estar de uma pessoa não pode ser medido por
valores, concluindo assim que para se analisar a desigualdade é necessário mudar a variável
focalizando o estudo para estados e ações que o indivíduo consegue realizar em vida. (SEN,
2001).
21

2 COMPREENSÕES E PERSPECTIVAS SOBRE O DEBATE INTERNACIONAL A


RESPEITO DA DESIGUALDADE

2.1 O estudo da desigualdade deve ser apenas empírico?


Manzano (2021), inicia sua análise crítica apresentando o fato do autor Piketty possuir
uma certa preferência por um estudo mais matemático, que seja apresentado com bastante dados
e estatísticas. Desta forma, a autora faz menção a uma citação dele, em que o mesmo revela que
há muitos estudos focados na parte mais teórica, e que isso acaba dando vasão a pensamentos
mais ideológicos, logo ele prefere focar mais o seu estudo na construção de dados. Porém, de
acordo a autora, ao se especular sobre os problemas apresentados por sua análise, a ausência de
fatos importantes e relevantes da história deixa de ser analisada.
Em oposição ao caminho percorrido por Galbraith que procurou demonstrar,
mesmo no interior dos pressupostos neoclássicos, os elementos que eram
desconsiderados pela fronteira do conhecimento econômico ortodoxo,
Thomas Piketty, não apresenta e nem se atem à questão teórica. (MANZANO,
2021, p. 219-220).

À vista disso, Manzano (2021) destaca que em diversas publicações anteriores e


posteriores ao livro contextualizado, “O Capital no Século XXI”, o foco dos seus trabalhos são
sempre os mesmos, um compilado de informações expostos através de dados empíricos, que
são denominados por alguns economistas de análise de elevador, pois, através desses dados são
elaborados pressupostos e teorias a respeito do assunto servindo muitas vezes de parâmetros
para outros países e outros períodos em que não se tem nexo com os dados analisados.
Desse modo, Manzano (2021) expressa que a teoria de Kuznets deixa claro que seu
estudo é validado apenas para aquela época, início do século XX, com as rendas analisadas que
estavam disponíveis no momento, o estudo demonstra que há uma melhora significativa na
desigualdade de renda. Porém por apresentar um método de análise mais teórico e
contextualizado, a teoria é criticada por não apresentar dados matemáticos, pois só através
desses, as teorias sustentam maior aprovação dos estudiosos. Todavia, a autora ressalta que os
dados empíricos são importantes para a ciência, mas essa construção sem a teoria, contexto e
hipóteses acaba tornando o pensamento unilateral.
Após a teoria de Kuznets se tornar a defesa do capitalismo, alegando que ele geraria
uma melhor condição de vida para todos, Piketty busca em seu livro, analisar os mecanismos
que podem diminuir a desigualdade levando a uma melhor distribuição da renda. Entretanto,
um problema que surge nesse meio é que muitos estudiosos acabam desqualificando o trabalho
de um outro autor apenas por não concordar com a sua teoria. Desta forma, acabam
22

manipulando essas teorias até que apresentem uma conclusão distorcida do que o autor se
propõe a passar (o foco do estudo), sendo esse o caso que acontece ao Piketty citar Marx.
Manzano (2021, p. 223), resume o livro de Piketty como “uma denúncia da
desigualdade social crescente verificada no mundo capitalista.” Argumentando que o autor
divulga a desigualdade como algo que corrói a meritocracia e a democracia, porém, o mesmo
não apresenta um estudo mais aprofundado acerca desse assunto, o que induz a conclusão de
que esta é apenas uma opinião do autor. Além disso, Piketty tenta, de todas as formas,
desqualificar o trabalho de Marx, indagando que a sua obra é muito ideológica e tem ausência
de dados, porém, vale ressaltar que na época em que a obra foi escrita, não existia
disponibilidade de dados e mesmo com essa carência, Marx procurou de todas as formas
apresentar um estudo que fosse validado. Deste modo, por questionar e desqualificar questões
tão básicas das teorias apresentadas por Marx, Manzano (2021) chega a duvidar sobre as demais
considerações que ele traz sobre diversos outros autores.
Piketty afirma que o seu livro busca fazer uma abordagem histórica sobre a
desigualdade, porém Manzano (2021, p. 226, grifo do autor) nega que isso tenha ocorrido pois,
de acordo com ela, ele “[..] não se dá ao trabalho sequer de buscar documentos que atestem os
‘fatos’ que pretende demonstrar.” Sobre estudos que se referem a cliometria, que se
caracterizam por apresentarem uma base mais empírica, Manzano recorre a Hobsbawm (1998),
que as descreve como modelos estatísticos generalizados, no qual o mesmo se apoia levantando
uma discussão sobre as suas consequências, que pode ser caracterizado como uma retrospectiva
econométrica da história econômica.
Porém, segundo a autora, o estudo apresentado por Piketty não pode ser considerado
uma cliometria, pois ele “[...] tenta mostrar o padrão de desigualdade a partir de medidas
próprias do modo de produção capitalista, o que não se aplica a toda história, ou ao período que
ele pretende demonstrar” (MANZANO, 2021, p. 227). Desta forma a autora constata que o livro
escrito por Piketty não é o que ele se propôs a passar:
Não é uma pesquisa histórica, também não é história econômica, não é
pensamento econômico do passado, e simplesmente a utilização de um
passado imaginado para justificar o presente, ou o que se pretende justificar
no presente. (MANZANO, 2021, p. 233)

A autora relata que nem o passado, nem o futuro pode se tornar algo que o pesquisador
quer transmitir, pois o passado é composto por várias complexidades só tornando possível ao
autor fazer jus a teoria quando mais profundo adentrar nesse complexo, e, enquanto ao futuro
não se pode deduzi-lo, apenas fazer ponderações e provisões baseados no que já foi visto e
estudado. Sendo assim, a autora conclui que:
23

Sem considerar nenhuma destas categorias que já foram apresentadas há


séculos, Piketty apenas reatualiza a velha ideologia dominante da necessidade
do crescimento econômico, saúde e educação, tributação progressiva e sobre
herança, ou seja, todas as medidas que já foram realizadas ou tentadas nas
economias capitalistas e que, obviamente, não desfaz a estrutura fundante da
desigualdade, qual seja, o sociometabolismo do capital. (MANZANO, 2021,
p. 234)

Para Manzano (2021), o presente não pode ser desconsiderado pois ele é uma
realidade, por mais que o autor tem as suas concepções, a desigualdade social deve ser
considerada sobre a estruturação de classes e o sociometabolismo do capital. E o futuro, por
mais que possa ser incerto, está sendo construído através do hoje. Logo, a história da sociedade
deve ser considerada como parâmetros para qualquer base de estudo.
Desta forma, a autora expõe em sua tese a fragilidade da teoria de Piketty, na qual não
se baseia em um estudo, trazendo apenas um compilado de informações empíricas para tornar
a sua teoria grandiosa, distorcendo o verdadeiro significado de capital, o que, para Manzano
mostra a sua inépcia em relação ao estudo de Marx.

2.2 Questão social, novo ou velho problema?


O tópico uma nova questão social, surge no final da década de 1970 e início da década
de 1980 por persistirem alguns problemas que até então haviam sido sanados nos anos
gloriosos, como desemprego, pobreza, vulnerabilidade, etc. Sendo assim, muitos autores
começam a se manifestar a respeito desse tema, trazendo-o como uma “nova questão social”
(PASTORINI, 2004).
Dentre esses autores, Pastorini (2004) analisa o estudo de Rosanvallon que traz como
foco as vertentes “novas e velhas” a respeito da questão social, concluindo que após o
capitalismo industrial perder suas forças deixando para traz problemas e desgastes decorrentes
desse modo de vida, entra então a nova era e com ela surgem (ou ressurgem) os novos
problemas na formação socioeconômica que é debatido como questão social.
Pastorini (2004), faz um adentro a respeito da temática utilizada, deixando claro que
não é contra o uso dos termos “novo e velho” que é empregado por esse autor e por tantos outros
para se debater a questão social, porém, ela acredita que os conceitos e definições que essas
palavras passam, acarretam em problemas políticos poucos discutidos.
A autora apresenta a visão de Rosanvallon que destaca o início da nova questão social
nos anos 1980, com o aparecimento de novas formas de pobreza, desemprego e questões de
desigualdades e exclusão, o que não poderia mais ser atribuído ao modo de exploração que
24

existia no sistema capitalista anteriormente utilizado antes daquela época. Sendo assim, essas
questões começaram a se tornar mais visíveis e permanentes e os métodos utilizados até então
para amenizar esse mal, não surtiam mais efeitos. Desta forma, por esses problemas se
mostrarem mais duráveis e permanentes, ele conclui que não se deve ser analisado o risco futuro
que esses indivíduos sofrerão e sim a precariedade e vulnerabilidade que eles se encontram no
presente (PASTORINI, 2004).
Santos e Costa (2018), destacam em seu artigo como o estudo sobre desigualdades de
Fitoussi e Rosanvallon mostra a permanência de algumas e o desenvolvimento de novos tipos
de desigualdades, e que ao contrário de outros autores que discutem essa temática, a sua base
não tem como viés a polarização entre ricos e pobres. Dessa forma as desigualdades
interiorizadas pela sociedade, mesmo apresentando estrutura semelhante, não deve enquadrar
os indivíduos em uma mesma categoria social.
Para as autoras, Fitoussi e Rosanvallon não consideram essas desigualdades existentes
novidades, pois os mesmos destacam sua presença em outros cenários anteriores da história,
porém apresentando uma intensidade maior ou menor de acordo a época. À vista disso o que
de fato é novo é a permanência com que as desigualdades vêm se consolidando. Para
exemplificar essa questão Santos e Costa (2018), trazem uma citação do autor Trovão (2015),
descrita a seguir:
[...] as dificuldades de mobilidade urbana e de tempo gasto no trajeto da casa
para o trabalho e, principalmente, a acentuação dos contrastes entre centro e
periferia das cidades. De modo geral, essas fontes de desigualdade afetam
sobremaneira a vida das pessoas pois, além de exacerbarem as dificuldades do
dia a dia, apresentam um caráter cumulativo (TROVÃO, 2015 apud SANTOS;
COSTA, 2018, p. 10).

As diferenças existentes entre as localidades, além de influenciar no rendimento do


trabalho; pois quanto mais distante e periférico for o bairro em que esse indivíduo está inserido,
maior o cansaço e disposição para trabalhar todos os dias, tem-se ainda a questão de conforto e
comodidades presentes em bairros mais ricos, como por exemplo, escolas mais próximas do
local de morada, opções de transportes, bancos, pavimentação, etc. (SANTOS; COSTA, 2018).
Fitoussi e Rosanvallon também destacam outra maneira pela qual pode surgir as
desigualdades, sendo essa com o fim do modelo fordista de produção por onde se vinculava o
salário dos trabalhadores, o que causou um grande índice de desemprego na década de 1970.
Desta forma, surge as novas desigualdades, que estão vinculadas aos trabalhos terceirizados,
precários, temporários e tantos outros que deixam de ter a responsabilidade da carteira assinada
(SANTOS; COSTA, 2018).
25

Santos e Costa (2018), acreditam que cabe ao Estado diminuir essas desigualdades
existentes, ajustando as políticas sociais para que se enquadrem na verdadeira realidade das
pessoas que mais precisam dessa ajuda, fazendo com que essas não sejam excluídas desse
benefício.
Nesse sentido, Rosanvallon acredita que para que haja equidade nas oportunidades
oferecidas pela sociedade, não se deve apenas pensar em um modo de compensar o ponto de
partida para que este seja igual para todos, deve-se melhorar toda a trajetória desse indivíduo
trazendo para este, meios que o impulsione a driblar as desigualdades que lhes são impostas.
Sendo assim, ele reforça a ideia de que o Estado-providência deve se tornar ativo e que as
políticas universais já não fazem mais sentido. Partindo dessa premissa, Pastorini, afirma que:
O que é preciso tirar de nossas cabeças é a ideia de que o serviço
coletivo=Estado=não=mercantil=igualdade, e que os serviços
privados=mercado=lucro=desigualdade. O futuro do Estado-providência
passa pela definição de uma nova combinatória desses diferentes elementos.
Trata-se de substituir a lógica unívoca da estatização por uma tríplice
dinâmica articulada da socialização, da descentralização e da autonomização
(PASTORINI, 2004, p.54, grifo do autor).

Seguindo essa via, pode-se obter uma maior abertura da socialização com a
desburocratização de alguns serviços, bem como descentralizar alguns desses do poder do
Estado, transferindo-os para associações, fundamentos, ongs, etc. Desta forma, além de tornar
o serviço público mais próximo dos seus usuários, ele os autonomiza (PASTORINI, 2004).
Porém, para Rosanvallon o Estado não deve apenas distribuir riquezas com subsídios,
ou outros tipos de auxilio, ele deve criar ferramentas que façam com que, os indivíduos que
necessitam de sua ajuda, consigam caminhar e prosperar sem precisar da ajuda do governo.
Trazendo assim uma nova perspectiva sobre equidade e igualdade, ponderando sobre a
perspectiva de que os direitos sociais individualizados conseguem alcançar mais pessoas que
os coletivos (PASTORINI, 2004). Em virtude disso, Pastorini alega que:
Essa alternativa pensada por Rosanvallon, centrada no Estado-providência
ativo, poderia chegar a constituir uma justificação e sistematização do
processo de individualização, entendido que o Estado-providência estaria cada
vez menos vinculado às classes sociais, às populações homogêneas, aos
grupos sociais e, ao contrário, cada vez mais relacionado aos indivíduos
particulares. Ele pensa que a equidade deve ser garantida pelo Estado-
providência ativo e que isso só será possível se essa instituição tiver um
tratamento diferenciado para com os distintos setores da sociedade
(PASTORINI, 2004, p.56).

Pastorini (2004), destaca que ao definir justiça (de acordo com Rosanvallon), deve-se
basear no bem comum que traz os princípios de: liberdade, igualdade e diferença. Desta forma,
em uma redistribuição, o Estado busca beneficiar aqueles que foram mais desfavorecidos pela
26

sociedade, ou seja, os que estão mais excluídos, melhorando a situação destes, sem que as
situações de outros indivíduos piorem, o que mostra a liberdade (sempre tratada como
negativa), como um princípio norteador dessa análise.
Sobre o bem comum que é trazido como âncora para a sociedade, Pastorini (2004,
p.58, grifo do autor) assegura que “[...] é o símbolo do impossível, da utopia. O “bem comum”
não é uma realidade em si, é uma ideia construída socialmente, em que cada sociedade
determina seu conteúdo com o objetivo de permitir o bom funcionamento social”. Pois, se fosse
analisado literalmente, o bem comum seria um grupo homogêneo, cujo não poderia haver
distinções de nenhum tipo.
Em síntese, Pastorini não acredita que o Estado-providência ativo seja capaz de exercer
a justiça necessária, pois, para ela:
O problema das desigualdades capitalistas não radica aí, senão na desigual
distribuição da riqueza acumulada pelo sistema produtivo, cuja origem é a
exploração dos trabalhadores e a concentração dos meios de produção nas
mãos da classe capitalista. Por isso, o problema não pode ser resolvido nas
suas margens: no momento da redistribuição (PASTORINI, 2004, p.59).

Santos e Costa (2018), concluem que a visão de Fitoussi e Rosanvallon (1997) expande
a análise da desigualdade que vem sempre sendo formulada através da renda, mostrando que
elas se encontram tanto em dimensões econômicas quanto sociais e que nesse fenômeno
multidimensional existem as “novas” e “velhas” desigualdades. Porém essas desigualdades
consideradas novas, são na verdade derivações de desigualdades já existentes que vem se
reproduzindo e perpetuando em nosso meio. Diante disso, a questão não são as diferenças
existentes entre ricos e pobres, ou seja, entre rendas e condições financeiras, as verdadeiras
desigualdades encontram-se interiorizadas na sociedade, tornando-se mais difícil identificá-las
e, com isso, diminui-las.
Já Pastorini (2004), finaliza questionando onde o Estado protetor, apresentado por
Rosanvallon, se encaixaria no capitalismo cada vez mais globalizado e neoliberal, e como
políticas de inserção seriam efetuadas nesse sistema, cujo, a lógica deste, é exatamente o oposto
disso.

2.3 Liberdade gera igualdade?


Como foi visto no capítulo anterior, o autor Sen apresenta uma abordagem sobre a
desigualdade voltada mais para a liberdade do indivíduo, reforçando as características
individuais que cada pessoa apresenta e como pode ser medido o bem estar de cada um.
27

Desta forma Manzano (2021), começa sua analise a partir do contexto histórico onde
o pós guerra se destaca com os anos gloriosos que apresentou crescimento econômico e
diminuição na desigualdade, o que levou a várias teorias de diversos pensadores economistas,
inclusive a de Kuznets outrora citada no capítulo um. Porém, a partir da década de 1970 os
índices de desigualdades começaram a aumentar novamente, até mesmo em países
desenvolvidos, o que levou a descrença de que o sistema capitalista pudesse retornar aquele
mesmo dinamismo dos gloriosos anos dourados. Diante do cenário apresentado, surge então a
teoria de Amartya Sen.
As autoras Santos e Costa (2018), abordam a perspectiva de que ao contrário do que
diversos autores apresentam quando falam sobre desigualdade, voltando o seu pensamento pra
um viés mais marxista, Sen, apesar de concordar que algumas análises podem ser feitas sobre
esse conceito, prefere basear o seu estudo no conhecimento das pessoas, como seus gostos,
características e a liberdade que cada indivíduo possui. Sendo assim, ele acredita que a liberdade
se expressa através de decisões que não estão ligadas a renda e a riqueza.
Já a autora Manzano (2021), retrata a universalização e inclusão, que estão cada vez
mais aparentes nas políticas públicas, que apesar de não ser tão relevante para a população mais
rica, acabam elevando o bem estar social como um todo, pois em tese ela atinge a sociedade em
geral e não indivíduos isolados. Como o exemplo citado por ela:
O Sistema Único de Saúde brasileiro é um exemplar típico de política pública
universal, pois eleva o nível geral de saúde da população como um todo,
mesmo que para os indivíduos de maior renda (que não utilizam, ou utilizam
seletivamente o SUS), a utilidade marginal do sistema seja decrescente, ou até
mesmo inexpressivo (MANZANO, 2021, p.235).

Diante disso, surge a pressão tanto da classe mais pobres em busca de avanços nos
serviços públicos, quanto da classe mais rica no qual existe a necessidade de acumular capital,
gerando a hegemonia do neoliberalismo. Desta forma, a teoria defendida por Sen abrange esse
período histórico de luta de classes (MANZANO, 2021).
Na visão de Sen, segundo Manzano (2021), a teoria utilitarista apresenta falhas, dentre
elas, ele destaca a falta de sensibilidade as diversidades humanas criando um caráter uniforme,
além disso essa teoria da mais prioridade a maximização das utilidades marginais
negligenciando os níveis de desvantagens. Com esse pensamento, só haverá justiça distributiva
quando o indivíduo que estiver em pior estado for assistido pelas políticas públicas
(MANZANO, 2021).
A autora revela que o foco da pesquisa de Sen sempre esteve atrelado a desigualdade,
fome e qualidade de vida com enfoque nos países menos desenvolvidos e por isso, o
28

desenvolvimento humano sempre serviu de base para as suas aspirações políticas. No entanto,
esse desenvolvimento que é medido através do PIB e do PIB per capita, deixa a desejar quando
se trata em medir a qualidade de vida da população. Segundo a autora, estudos divulgados nos
anos de 1980 e 1990 mostravam que, apesar de haver um crescimento do PIB e da renda per
capita, cada vez mais indivíduos eram levados a pobreza (MANZANO, 2021).
Santos e Costa (2018), trazem uma outra concepção de Sen, de que a desigualdade é
causada por diversos fatores que não podem ser justificados unicamente pela renda, porém ele
considera que um baixo nível de renda esteja sim, relacionado a desigualdade. Mas deve-se
primeiro analisar o que levou a esse nível, seria a falta de educação, a fome?! Sendo assim, ele
acredita que educação e saúde melhores, elevarão a renda e desta forma diminuirão a
desigualdade.
Além dessa visão, Sen está mais focado em mostrar que a desigualdade não está apenas
vinculada as classes econômicas, trazendo como exemplo disso as diferenças existentes entre
os gêneros feminino e masculino, ou seja, a desigualdade não está apenas na renda, mas também
nos espaços nos quais esses indivíduos estão inseridos, na expectativa de vida, na liberdade de
escolhas, etc. (SANTOS; COSTA, 2018).
Sobre esse aspecto, Manzano explana que:
A igualdade, portanto, diante da “nova” perspectiva ética proposta por Sen, é
constrangida ainda mais, em comparação com a abstrata igualdade formal dos
contratualistas e do pensamento iluminista tradicional. Mesmo que se julgue
importante ressaltar a diversidade dos seres humanos e a necessidade de assim
os considerar, focalizar o combate às desigualdades no atendimento dessas
diversidades sem, contudo, adentrar a realidade desigualitária estrutural da
relação social predominante, superpõe um outro nível de diferenciação que,
na economia, representa a perpetuação do estabelecido, apenas minimizando,
focalizadamente, as piores situações moralmente inaceitáveis (MANZANO,
2021, p.245, grifo do autor).

Manzano (2021), ainda discorre sobre os dois conceitos chaves de Sen, que segundo
ela seria os funcionamentos e as capacitações. Nos funcionamentos, na visão de Sen deve ser
avaliado no indivíduo o fazer ou ser, em comparação ao ter que é muito buscado. Desta forma,
reconhecer a diversidade que há na humanidade é uma das portas de entradas que dá ênfase a
esse conceito. Na parte de capacitações, seria uma junção em que o indivíduo ao desenvolver
suas habilidades, eles possuem a liberdade de escolher a ação que será executada pela mesma.
Seguindo esse mesmo raciocínio, Santos e Costa (2018), utilizam a autora Mauriel
(2008) que faz uma análise a respeito do pensamento de Sen concluindo que de acordo com ele,
não é necessário combater as desigualdades com políticas redistributivas, pois o aumento da
29

renda seria conquistado pelos próprios indivíduos, se lhes fossem dada uma liberdade maior
para fazer suas escolhas.
Manzano (2021), ainda relata como, de acordo com Sen, é complexo medir o nível de
satisfação de bem-estar de um indivíduo, pois pessoas que tem menores níveis de renda, e
consequentemente menores expectativas de qualidade de vida, acabam tendo um maior nível
de satisfação com pouca melhora no fator de bem-estar, fazendo com que permaneçam em nível
ainda baixo de qualidade de vida. Como a autora resume essa questão no trecho a seguir:
Essas críticas possibilitaram a construção de uma nova filosofia, que mantém
o foco nos indivíduos e ao mesmo tempo reconhece que esse indivíduo faz
parte de um contexto maior, que exerce e sofre influências do meio, com o
qual interage naturalmente. Com isso, avaliar o indivíduo, a sociedade e o
bem-estar, passa a ser algo mais complexo, na medida em que exige considerar
a vida que as pessoas realmente conseguem levar e inclui as diversas
dimensões que compõem a vida em sociedade, a proposta da abordagem das
capacitações de Amartya Sen (MANZANO, 2021, p.249, grifo do autor).

Desta forma, a autora conclui que ao se basear nessa filosofia, as adequações passam
do patamar de vivido para a vivência, o que é importante no estágio atual no qual se observa
crises nos mecanismos do próprio capital. Sobre o conjunto da obra, Manzano esclarece que
para Sen as políticas públicas com ações focalizadas trarão a liberdade e como consequência o
bem estar da população. Tendo isso em vista, a autora acredita que ao esperar que isso ocorra
deve-se esperar também uma transformação radical da sociedade. (MANZANO, 2021).
Santos e Costa (2018), também destacam esse entendimento de Sen. Para ele, as
políticas de Estado devem ser focadas em aumentar o desenvolvimento da capacidade desses
indivíduos e não realizar meramente transferências de renda.

2.4 Condensação sobre o debate contemporâneo acerca da(s) desigualdade(s)


Após os estudos analisados, de alguns autores contemporâneos internacionais a
respeito da desigualdade apresentados acima, e com a perspectiva desenvolvida por autoras em
relação a essa temática, essa monografia buscou responder o problema outrora desenvolvido na
introdução dessa pesquisa: “qual o debate contemporâneo acerca da(s) desigualdade(s)?”
Piketty traz no início do seu texto a discussão a respeito do Estado, se ele deve interferir
na redistribuição de renda ou deve deixar que o mercado se autorregule. Com isso, ele
desenvolve a análise da relação existente entre capital-trabalho, pois no processo de distribuição
o detentor do capital sempre receberá a maior parte da renda produzida, fazendo com que o
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trabalhador jamais alcance a classe mais rica. E dessa forma, para ele, é justificado a
redistribuição de renda.
Quanto a questão da desigualdade de renda, ele utiliza a lei da oferta e da demanda
para mostrar que o nível de capital humano gera as desigualdades nos salários dos
trabalhadores. Diante dessas razões, ele acredita que o Estado deve utilizar de instrumentos
que diminuam essas disparidades, para que a sociedade fique mais justa para todos os seus
habitantes. Levantando pontos de como a educação deve ser dosada para que alcance o objetivo
proposto, pois se ela for inserida em um meio periférico, terá pouco proveito de seus estudantes
de classes mais baixas, mas se esses mesmos estudantes forem inseridos em um meio social
mais elevado, suas chances de aprendizado e sucesso aumentarão.
Piketty destaca Marx em sua teoria e considera que ele fez um bom trabalho baseado
na época e recursos que tinha a sua disposição, dando ênfase ao princípio de acumulação infinita
como uma análise ainda válida para esse século. Já sobre a teoria de Kuznets, Piketty acredita
que o sistema capitalista produz desigualdades que são insustentáveis, desse modo, a
diminuição da desigualdade que vinha acontecendo na época que Kuznets escreveu sua teoria,
se deve a outros fatores que impactaram o processo econômico daquele lugar.
Manzano traz a sua perspectiva a respeito de Piketty, indicando que ele preza muito
por uma teoria construída a base de dados empíricos e pouco se aprofunda na parte teórica. E
desta forma acaba usando informações e dados de um determinado espaço de tempo e lugar, e
construindo uma análise para outro lugar que não se encaixa naquela realidade. Diante disso, a
autora acredita que a teoria de Kuznets foi descaracterizada por ele, por não apresentar dados
empíricos, o que ela acredita que aconteça com vários autores, que tem suas pesquisas
descredibilizadas por não produzirem textos matematizados. Como o caso de Marx, em que
Manzano mostra que Piketty questiona e desqualifica várias questões apontadas por ele.
Desta forma, a autora conclui que o livro escrito por Piketty não entrega o que ele se
propôs a passar, pois ela acredita que sejam necessárias mais bases teóricas em seus
argumentos, deixando claro que não é contra o uso de dados empíricos, apenas acredita que seja
necessário fazer um apunhado de teorias e discussões outrora analisadas, antes de basear a sua
pesquisa apenas nos números.
Os autores Fitoussi e Rosanvallon apresentam em seu livro a desigualdade como sendo
multidimensional, ou seja, ela se desdobra em várias facetas e fases, sendo que algumas delas
estão mais estáveis enquanto outras estão em desenvolvimento, desta forma eles caracterizam-
nas como “novas” e “velhas” desigualdades.
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Por se tratar de algo tão antigo, muitas desigualdades acabaram se tornando, o que eles
denominam de estrutural, tendo em vista que é algo corriqueiro e a muito penetrado no cotidiano
da sociedade, fazendo com que a sua população já não enxergue aquilo como algo ruim. E as
desigualdades mais “perceptivas” são denominadas de dinâmicas. Para “justificar” essa
cegueira em que a população se encontra a respeito das desigualdades estruturais, os autores
elucidam 3 motivos: o enfraquecimento sobre o valor da igualdade; o aumento das
desigualdades estruturais e a urgência em lidar com “novos” tipos de desigualdade.
Outro ponto importante que os autores destacam é sobre a qualificação profissional,
que antes, por ser algo de mais difícil acesso, acabava legitimando as desigualdades existentes,
porém, apesar do crescente avanço nessa qualificação, as desigualdades continuaram a persistir.
Por fim, Fitoussi e Rosanvallon destacam em seu estudo a importância de se combater o
desemprego, pois, de acordo com eles, através da diminuição desse indicador, as desigualdades
também passarão a diminuir.
Santos e Costa apontam que os estudos dos autores (Fitoussi e Rosanvallon), trazem
um debate importante a respeito dessa temática por não monopolizar a questão apenas entre
ricos e pobres, mostrando que apesar de haver desigualdades semelhantes os indivíduos não
devem ser caracterizados em uma mesma categoria social. Destacando como a localidade onde
o indivíduo mora interfere no seu bem estar social.
Desta forma, as autoras acreditam que o Estado tem o dever de ajustar/criar políticas
sociais que ajudem os indivíduos mais necessitados, com a perspectiva de que esse benefício
chegue nas mãos de quem realmente precisa, criando mecanismos para tal.
Por fim, elas avaliam que o estudo dos autores expande a análise sobre o tema
trabalhado, concluindo que a verdadeira desigualdade não é apenas a de renda, e sim as
estruturais, pois estas são interiorizadas nas sociedades, dificultando o seu reconhecimento
como tal, e, desta forma impossibilitando o seu combate.
Partindo da base de Rosanvallon de que o estado não deve apenas acompanhar o início
da trajetória, e sim toda a caminhada do indivíduo, proporcionando equidade, Pastorini acredita
que se o estado descentralizar o seu poder e tornar o seu serviço mais próximo dos seus usuários,
trará benefícios maiores do que o Estado-providência proposto pelo autor, trazendo um tríplice
mais dinâmico de socialização, descentralização e autonomização.
Sobre o bem comum a autora expressa a impossibilidade de existir, pois acredita que
seja uma ideia construída por cada sociedade, na qual a mesma determina o seu objeto. À vista
disso, Pastorini discorda que o estado consiga exercer a justiça necessária para diminuir as
desigualdades existentes utilizando-se de métodos de redistribuição. A autora finaliza
32

ponderando que o Estado mostrado por Rosanvallon não se encaixaria no capitalismo atual, já
que esse sistema busca cada vez mais o lucro e a sua ideia de Estado buscaria o oposto.
O estudo da desigualdade de Sen tem como base a liberdade de cada indivíduo,
mostrando que muitas vezes os indicadores, como por exemplo o da renda, podem mascarar a
desigualdade que existe, pois, esse parâmetro não garante que todos os indivíduos que nele se
encaixe tenha a mesma liberdade e consequentemente a mesma oportunidade de escolha. Isso
se dá principalmente as características individuais que cada pessoa possui.
Outro ponto importante discutido pelo autor é sobre não ser possível a existência da
igualdade em todos as suas variáveis, pois a partir do momento que se é garantido a igualdade
em um setor, o outro fica em desamparo. Desta forma, para se analisar a desigualdade o autor
afirma que deve ser levado em conta as diferenças que existem entre os indivíduos e os diversos
tipos de desigualdades que existem.
À vista disso, se faz necessário escolher o espaço onde será centralizado o estudo e
fixar a variável que será analisada. Ressaltando que para Sen, o bem-estar de um indivíduo não
deve ser medido em valores e sim na variedade de opções de que ele dispõe para conseguir se
autorrealizar, ou seja, quanto mais liberdade existir, melhor será o seu bem-estar social.
Santos e Costa destacam que a análise do autor tem um viés mais aprofundado nas
características pessoais dos indivíduos e na liberdade de escolha, ao contrário de outros autores
que sempre apresentam suas analises com base marxista. Sendo assim, essas desigualdades são
causadas por diversos fatores, e o que deve ser levado em consideração são os fatores que
ocasionaram um nível baixo da renda, e não a renda em si, pois através dessa concepção se
chegará à raiz do problema. Desta forma, para as autoras, o combate às desigualdades não será
solucionado apenas com políticas redistributivas, e sim com o desenvolvimento da capacidade
dessa população, proporcionando assim uma liberdade maior.
Para Manzano, ao tratar a igualdade sobre essa perspectiva proposta por Sen, situações
de desigualdades piores acabam sendo subestimadas, já que existe uma realidade totalmente
desigualitária. Desta forma, analisar toda essa estrutura se torna algo bem mais complexo do
que o imaginado, pois ao considerar um indivíduo, deve ser levado em conta suas características
individuais, sua liberdade de escolha e todas as dimensões que integra uma sociedade. Por fim,
a autora conclui que, para essa teoria de Sen se concretizar é necessário que haja uma
transformação radical em toda a sociedade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do problema desse estudo, “qual o debate contemporâneo acerca da(s)


desigualdade(s)?”, outrora desenvolvido na introdução, essa monografia buscou responde-lo
trazendo autores conceituados nesse assunto. O primeiro autor é o economista Piketty, que
apresenta a sua teoria com base na renda do indivíduo, mostrando que a lei da oferta e da
demanda gera as desigualdades presentes nos salários dos trabalhadores e que dessa forma o
Estado deve interferir para que haja uma redistribuição mais justa, pois, ao se levar em conta a
relação existente entre capital-trabalho, é de se esperar que o trabalhador jamais consiga se
igualar ao detentor do capital em relação a renda.
Já os autores Fitoussi e Rosanvallon, apresentam a sua teoria de que as desigualdades,
denominadas por eles como novas e velhas, encontram-se em estados mais estáveis e algumas
em desenvolvimento, sendo que algumas dessas já estão a tanto tempo inseridas na sociedade,
que torna difícil identifica-las como tal. Sendo assim, para eles é de grande importância que
haja políticas que diminuam o desemprego, pois através dessa diminuição as desigualdades
também decrescerão.
Para Sen, o estudo da desigualdade deve ter como base a liberdade de escolhas que
cada indivíduo possui, sendo contrário a indicadores como o da renda, pois, ele acredita que
esse tipo de estudo pode mascarar as desigualdades realmente existentes. Outro ponto
importante abordado pelo autor é sobre a igualdade, ele deixa claro que não pode existir
igualdade em todos os setores, sendo assim, a partir do momento que o foco do estudo é
escolhido, outro setor apresentará desigualdade.
Por fim, as autoras introduzidas no debate, analisa os conteúdos abordados trazendo
algumas concepções. Manzano considera o trabalho de Piketty muito empírico e sem base
teórica e acredita que para a teoria de Sen se realizar, a sociedade deve passar por uma total
transformação. Santos e Costa alegam que o estudo proposto por Fitoussi e Rosanvallon é
importante e concordam que o Estado deve interferir criando ou ajustando políticas sociais que
ajudem os mais necessitados, enquanto a Sen, as autoras acreditam que o desenvolvimento da
capacidade da população acarretará em uma liberdade maior dos indivíduos. E por último,
Pastorini afirma que o Estado mostrado por Rosanvallon não se encaixaria no capitalismo atual.
Após toda a discussão apresentada e analisada sobre a desigualdade, conclui-se que o
debate acerca desse tema está longe de chegar ao fim, pois a cada dia novas teorias, análises,
pesquisas e estudos são inseridas nesse contexto tão amplo e tão importante para o bom
funcionamento da sociedade.
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REFERÊNCIAS

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(Doutorado em História Econômica) – Programa de Pós-graduação em História Econômica.
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