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VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2023
TAÍS DIAS SANTOS
VITÓRIA DA CONQUISTA — BA
2023
S239t
CDD. 339.21
Catalogação na fonte: Juliana Teixeira de Assunção – CRB 5/1890
UESB – Campus Vitória da Conquista – BA
TAÍS DIAS SANTOS
Aprovada em 05/07/2023
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Andréa Braz da Costa
Orientadora
__________________________________________________
Sofia Padua Manzano
Examinadora
__________________________________________________
Marcos Tavares
Examinador
AGRADECIMENTOS
Esta monografia me ensinou muito mais do que poderia ter imaginado. Escrever sobre
um tema tão importante pra mim, me fez enxergar as diversas facetas dele e olha-las por
diversos ângulos, onde cada autor aqui citado, deixava um pedacinho de si em mim.
Desta forma, quero agradecer primeiramente a Deus, pois sem ele essas palavras não
estariam escritas aqui. E em segundo lugar a minha orientadora Andréa, que me ajudou nessa
jornada árdua deixando o caminhar mais leve.
Agradeço ao meu marido Gabriel, que sempre me apoiou e me motivou em momentos
de desânimo e aos meus pais Lió e Edilza, que mesmo não concluindo o ensino fundamental,
me ensinaram mais do que muitos intelectuais. A eles externo minha eterna gratidão.
Agradeço aos autores que contribuíram para essa monografia e também a minha banca
examinadora, Marcos e Sofia, que colaboraram para a finalização desse ciclo.
Agradeço aos meus colegas de classe, que tornaram meus dias mais leves e fizeram as
noites frias da universidade se tornarem mais calorosas e aconchegantes com a amizade. E por
fim, agradeço a UESB e o corpo docente do curso de Economia, vocês tornaram um sonho
possível e contribuíram para o meu crescimento acadêmico, profissional e pessoal.
As lágrimas que brotaram em meus olhos serviram
para regar as flores que hoje nascem aos meus pés.
Taís Dias
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o debate contemporâneo sobre
a(s) desigualdade(s), destacando os conceitos de autores como: Piketty, Sen e Fitoussi e
Rosanvallon que trazem diferentes perspectivas a respeito dessa temática e, logo após, as
autoras Manzano, Pastorini e Santos e Costa são trazidas para o debate no qual confrontam
esses estudos e trazem um olhar crítico para os diagnósticos apresentados. A metodologia
utilizada se baseia em uma pesquisa bibliográfica feita a partir do levantamento de referências
teóricas já exploradas anteriormente, publicadas em meios eletrônicos e/ou escritos. E os
resultados obtidos com os estudos acerca do debate internacional mostrou que as desigualdades
são ocasionadas por diversos fatores, em que cada autor destaca uma perspectiva em seu foco
de pesquisa sendo elas a renda, a liberdade de escolha, o bem estar social, a diversidade humana,
o desemprego, entre outros. E, a partir da introdução das autoras nessa temática, foram
apresentados os pontos fortes e fracos dessas teorias, dentre esses o comportamento dessas em
um mundo globalizado e neoliberal.
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
1 AS MÚLTIPLAS FACES DA DESIGUALDADE SOCIAL: ALGUMAS 11
PERSPECTIVAS DE ÁNALISE NO DEBATE INTERNACIONAL .........
1.1 A desigualdade presente na renda: uma análise por Piketty ........................ 11
1.2 Desigualdade multidimensional por Fitoussi e Rosanvallon ......................... 14
1.3 Liberdade e desigualdade segundo Sen ........................................................... 18
2 COMPREENSÕES E PERSPECTIVAS SOBRE O DEBATE 21
INTERNACIONAL A RESPEITO DA DESIGUALDADE .........................
2.1 O estudo da desigualdade deve ser apenas empírico? ................................... 21
2.2 Questão social, novo ou velho problema? ....................................................... 23
2.3 Liberdade gera igualdade?................................................................................ 26
2.4 Condensação sobre o debate contemporâneo acerca da(s) desigualdade(s). 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 33
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 34
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INTRODUÇÃO
combater as desigualdades. Vale ressaltar que este estudo não considera os impactos do teto de
gastos e da reforma trabalhista, pois quando se utilizou a base de dados, essas medidas ainda
não tinham entrado em vigor. Esse índice baseia-se em três pilares: gastos sociais, políticas
tributárias progressivas e direitos trabalhistas, no qual a posição do Brasil individualmente é
38º, 64º e 49º respectivamente, o que provavelmente deve apresentar uma relevante mudança
ao serem acrescentadas medidas que congelam os gastos sociais por 20 anos e reduz alguns
direitos dos trabalhadores. Ainda conforme a pesquisa, as desigualdades reprimem o
crescimento econômico e enfraquecem a luta contra a pobreza, que se não for erradicada até
2030, trará quase meio bilhão de pessoas, em todo o mundo, para a extrema pobreza.
Em uma pesquisa realizada pela Oxfam Brasil (2019b), em parceria com o Instituto
Datafolha, 86% dos brasileiros entendem que o crescimento do Brasil está condicionado à
diminuição da desigualdade entre ricos e pobres e 84% concordam que reduzir essas diferenças
é obrigação dos governos. Isso expressa o quanto a população brasileira acredita que,
conseguindo uma redução na desigualdade, será benéfico tanto para população mais pobre,
quanto para o progresso do nosso país. Ainda de acordo essa pesquisa, 94% acreditam que os
impostos pagos devem favorecer os mais pobres e 77% aprovam que haja aumento nos impostos
dos mais ricos para financiar políticas sociais, um assunto que está se tornando recorrente na
atualidade.
Com base nos dados apresentados, esse estudo mostra as teorias de alguns autores
contemporâneos a respeito da desigualdade. O primeiro autor, Piketty, traz a questão da relação
existente entre capital-trabalho, a lei da oferta e demanda, apresenta a sua interpretação sobre
as teorias de Marx e Kuznets, e desenvolve a discussão a respeito da redistribuição de renda.
Os próximos autores, Fitoussi e Rosanvallon, apresentam a teoria sobre as novas e velhas
desigualdades, trazendo os conceitos de desigualdades estruturais e dinâmicas e destacam a
importância do combate ao desemprego. E, por fim, Sen embasa a sua teoria na liberdade de
cada indivíduo, no qual cada pessoa apresenta características individuais, e desta forma o seu
bem estar social não pode ser medido exclusivamente pela renda.
As autoras, Manzano, Pastorini e Santos e Costa apresentam as suas perspectivas a
respeito das teorias apresentadas por esses autores citados acima, trazendo uma análise crítica
e um debate mais atualizado sobre o tema. Destacando os pontos que não foram avaliados na
discussão e apresentando as falhas de pontos que foram explorados.
A partir dessas discussões, esse estudo tem como objetivo principal analisar o debate
contemporâneo sobre a(s) desigualdade(s), destacando os conceitos de autores como: Piketty
(2014, 2015), que baseia a sua discussão na desigualdade de renda; Sen (2001), que afirma
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Piketty (2015) também traz a teoria de Kuznets (1955) de que a desigualdade tende a
se expressar em uma curva Ո (U ao contrário), ao longo de todo o seu processo. Tratando-se a
primeira fase, a parte em que a desigualdade se encontra em crescimento, sendo ocasionada
pela industrialização presente naquela época e por causa da urbanização; a segunda fase, que
seria o topo da curva, refere-se ao período de estabilização da mesma, e por fim viria a terceira
fase, que acarretaria na redução automática da desigualdade quanto mais avançado fosse o
desenvolvimento capitalista do país. O que de fato ocorreu no século XIX em todos os países
ocidentais. Porém, segundo Piketty (2015), a redução da desigualdade observada no século XX,
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não deve ser tratada como uma consequência natural do processo econômico como Kuznets
havia previsto, pois através de estudos e pesquisas, ficou constatado que essa diminuição em si
se deu por causa da desigualdade dos patrimônios. Após o aumento da desigualdade desses
países, que até então, vinham de um período de redução, a teoria de Kuznets acabou sendo
descartada. Desta forma, Piketty conclui que:
Quando a taxa de renumeração do capital ultrapassa a taxa de crescimento da
produção e da renda como ocorreu no século XIX e parece provável que volte
a ocorrer no século XXI, o capitalismo produz automaticamente
desigualdades insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de maneira radical os
valores da meritocracia sobre os quais se fundam nossas sociedades
democráticas. (PIKETTY, 2014, p. 9)
Para analisar melhor a teoria que se dispôs a compreender, Piketty (2015) trabalha, em
um primeiro momento, com os dois polos, que, segundo ele, são a parte fundamental da
desigualdade, que seria a relação existente entre capital-trabalho. Para o autor, o simples fato
de o detentor do capital receber uma parte considerável da renda produzida, abre as portas para
a questão de redistribuição, e que a desigualdade existente entre essa repartição, não só é injusta,
como também é ineficaz, já que essa manobra se repete ao longo dos anos, impossibilitando
que esses indivíduos mais pobres alcancem os mais afortunados. Sendo assim, ele acredita que:
[...] a repartição da renda entre capital e trabalho é de natureza puramente
distributiva: trata-se apenas de dividir a unidade produzida entre dois fatores
de produção – que são o capital e o trabalho –, isto é, entre o proprietário da
máquina e os n trabalhadores, a despeito do processo de produção em si.
(PIKETTY, 2015, p. 37)
valor para quem recebe salários mais baixos através da diminuição de seus impostos. Isso
acarreta um aumento na renda desses assalariados com baixa qualificação, sem que esse custo
seja repassado para a empresa, e, com isso, evita-se que esses empregos sejam reduzidos
(PIKETTY, 2015).
Piketty (2015) destaca Goux e Maurin, mencionando que estes trazem uma afirmativa
bastante relevante a respeito da desigualdade, pois declaram que investimentos públicos na
educação de jovens de baixa renda não reduzem a desigualdade de oportunidades que eles
possam enfrentar, pois a influência de suas origens sociais no processo de profissionalização,
vai muito além da educação ou da disponibilidade de empregos, pois essas (origens), são
analisadas durante toda a sua carreira. À vista disso, Piketty afirma que:
Faz sentido que o efeito das despesas com educação seja fraco não porque
apenas o meio familiar de origem determina as chances de sucesso escolar, e
sim porque o feito da composição social dos alunos da escola e do bairro onde
moram é muito relevante do que o efeito das despesas com educação. (2015,
p. 94)
daquela comunidade pode gerar perda de identidade e uma grande incerteza quanto ao seu
futuro, tornando esse fenômeno ainda mais complexo.
Porém, para analisar a desigualdade, precisa-se primeiro compreender o conceito de
igualdade. Sendo assim os autores apresentam os pensamentos de vários outros autores, dentre
eles o de Rawls, que acredita que a igualdade deve ser definida pelos bens sociais que cada
indivíduo dispõe e dos seus rendimentos. E o de Sen, que afirma que a igualdade está na
liberdade e capacidade que os indivíduos dispõem de realizar seus sonhos, enxergando que a
igualdade de rendimentos pode mascarar a desigualdade de bem estar, isso porque pessoas que
recebem o mesmo rendimento, não dispõem necessariamente da mesma capacidade de
liberdade, como por exemplo pessoas com deficiência. Desse modo, os autores concluem que
“a igualdade, sem dúvida, não é um estado, mas um projecto, um princípio de organização que
estrutura o devir de uma sociedade”. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997, p. 64)
Falar que uma sociedade está bem economicamente, não significa que todos os
habitantes que nela residem estejam sendo beneficiados com esse crescimento. De acordo com
os autores não adianta, por exemplo, ter todos os eixos ajustados e apenas o desemprego em
alta, pois justamente essa exceção constitui todo um problema. Do mesmo modo não adianta
fazer uma média dos rendimentos daquela comunidade, pois esses não levarão em conta o modo
como foram repartidos e nem aqueles que não receberam tal renda. Isso traz questões como,
precariedade, insegurança e fragilização da população mais pobre, que não são apresentadas
nos indicadores estatísticos. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997)
Fitoussi e Rosanvallon (1997), tratam o individualismo como um grande progresso,
porém destacam que ele está cercado de falhas. O mercado mundial gera crescimento na mesma
proporção que suprime os empregos, multiplica as riquezas e ao mesmo tempo aumenta o
abismo da desigualdade. Desta forma, a sociedade se torna vulnerável ao processo de
mundialização, pois apesar de lidar com as novas fragilidades que esse mercado apresenta,
novas formas de desigualdade também são inseridas nesse contexto.
Ainda, segundo os autores, a desigualdade é multidimensional, o que pode provocar
uma certa diferença entre sua própria vertente, pois há algumas desigualdades que se tornam
estáveis, enquanto outras se desenvolvem mais, e mesmo que não haja dados concretos, não
deixam de ser evidentes em nosso cotidiano, dessa forma “[...] o campo das desigualdades
alargou-se também, modificando em profundidade a percepção das diferenças na sociedade.
Entraram assim em cena desigualdades novas”. (FITOUSSI; ROSANVALLON, 1997, p. 41,
grifo do autor)
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mais pela sua população, fazendo com que fatores econômicos, sociais ou afetivos não
interfiram na formação social e profissional destes.
entra liberdade ou igualdade, pois ambas se complementam para realizar seus objetivos. De tal
forma que “a liberdade está entre os possíveis campos de aplicação da igualdade, e a igualdade
está entre os possíveis padrões de distribuição da liberdade”. (SEN, 2001, p. 54, grifo do autor)
As tantas variáveis que a igualdade dispõe, acabam colocando em dúvida se realmente
faz sentido cumprir o que é exigido por ela. Diante disso alguns autores sustentam a ideia de
que a igualdade esteja saturada, ou seja uma forma vazia, por ser interpretada de tantas maneiras
distintas. Como Douglas Rae (1981 apud SEN, 2001, p. 55) que considera “uma ideia que tem
mais força para resistir à igualdade do que as de ordem ou eficiência ou liberdade”. Enquanto
Westen (1982 apud SEN, 2001, p. 55) a declara “uma forma vazia que não tem qualquer
conteúdo substantivo por si mesma”.
Para Sen (2001), antes de se estudar a igualdade, é necessário escolher o espaço,
considerado importante, no qual ela será analisada, caindo assim o contexto de que ela seja uma
ideia vazia. Segundo, após ter sido fixado a variável que será estudada, a igualdade impõe um
ranking de padrões para que haja justiça em sua distribuição. Terceiro, a pluralidade observada
não é um problema único da igualdade, pois elas indicam ideias e visões diferentes que servem
de base informacional para qualquer noção social.
Desta forma, o autor acredita que as oportunidades reais ou substantivas de que o
indivíduo possui tem pouco a ver com a velha narração da desigualdade de renda que está tão
no auge, pois, como já foi exposto acima, o bem-estar de uma pessoa não pode ser medido por
valores, concluindo assim que para se analisar a desigualdade é necessário mudar a variável
focalizando o estudo para estados e ações que o indivíduo consegue realizar em vida. (SEN,
2001).
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manipulando essas teorias até que apresentem uma conclusão distorcida do que o autor se
propõe a passar (o foco do estudo), sendo esse o caso que acontece ao Piketty citar Marx.
Manzano (2021, p. 223), resume o livro de Piketty como “uma denúncia da
desigualdade social crescente verificada no mundo capitalista.” Argumentando que o autor
divulga a desigualdade como algo que corrói a meritocracia e a democracia, porém, o mesmo
não apresenta um estudo mais aprofundado acerca desse assunto, o que induz a conclusão de
que esta é apenas uma opinião do autor. Além disso, Piketty tenta, de todas as formas,
desqualificar o trabalho de Marx, indagando que a sua obra é muito ideológica e tem ausência
de dados, porém, vale ressaltar que na época em que a obra foi escrita, não existia
disponibilidade de dados e mesmo com essa carência, Marx procurou de todas as formas
apresentar um estudo que fosse validado. Deste modo, por questionar e desqualificar questões
tão básicas das teorias apresentadas por Marx, Manzano (2021) chega a duvidar sobre as demais
considerações que ele traz sobre diversos outros autores.
Piketty afirma que o seu livro busca fazer uma abordagem histórica sobre a
desigualdade, porém Manzano (2021, p. 226, grifo do autor) nega que isso tenha ocorrido pois,
de acordo com ela, ele “[..] não se dá ao trabalho sequer de buscar documentos que atestem os
‘fatos’ que pretende demonstrar.” Sobre estudos que se referem a cliometria, que se
caracterizam por apresentarem uma base mais empírica, Manzano recorre a Hobsbawm (1998),
que as descreve como modelos estatísticos generalizados, no qual o mesmo se apoia levantando
uma discussão sobre as suas consequências, que pode ser caracterizado como uma retrospectiva
econométrica da história econômica.
Porém, segundo a autora, o estudo apresentado por Piketty não pode ser considerado
uma cliometria, pois ele “[...] tenta mostrar o padrão de desigualdade a partir de medidas
próprias do modo de produção capitalista, o que não se aplica a toda história, ou ao período que
ele pretende demonstrar” (MANZANO, 2021, p. 227). Desta forma a autora constata que o livro
escrito por Piketty não é o que ele se propôs a passar:
Não é uma pesquisa histórica, também não é história econômica, não é
pensamento econômico do passado, e simplesmente a utilização de um
passado imaginado para justificar o presente, ou o que se pretende justificar
no presente. (MANZANO, 2021, p. 233)
A autora relata que nem o passado, nem o futuro pode se tornar algo que o pesquisador
quer transmitir, pois o passado é composto por várias complexidades só tornando possível ao
autor fazer jus a teoria quando mais profundo adentrar nesse complexo, e, enquanto ao futuro
não se pode deduzi-lo, apenas fazer ponderações e provisões baseados no que já foi visto e
estudado. Sendo assim, a autora conclui que:
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Para Manzano (2021), o presente não pode ser desconsiderado pois ele é uma
realidade, por mais que o autor tem as suas concepções, a desigualdade social deve ser
considerada sobre a estruturação de classes e o sociometabolismo do capital. E o futuro, por
mais que possa ser incerto, está sendo construído através do hoje. Logo, a história da sociedade
deve ser considerada como parâmetros para qualquer base de estudo.
Desta forma, a autora expõe em sua tese a fragilidade da teoria de Piketty, na qual não
se baseia em um estudo, trazendo apenas um compilado de informações empíricas para tornar
a sua teoria grandiosa, distorcendo o verdadeiro significado de capital, o que, para Manzano
mostra a sua inépcia em relação ao estudo de Marx.
existia no sistema capitalista anteriormente utilizado antes daquela época. Sendo assim, essas
questões começaram a se tornar mais visíveis e permanentes e os métodos utilizados até então
para amenizar esse mal, não surtiam mais efeitos. Desta forma, por esses problemas se
mostrarem mais duráveis e permanentes, ele conclui que não se deve ser analisado o risco futuro
que esses indivíduos sofrerão e sim a precariedade e vulnerabilidade que eles se encontram no
presente (PASTORINI, 2004).
Santos e Costa (2018), destacam em seu artigo como o estudo sobre desigualdades de
Fitoussi e Rosanvallon mostra a permanência de algumas e o desenvolvimento de novos tipos
de desigualdades, e que ao contrário de outros autores que discutem essa temática, a sua base
não tem como viés a polarização entre ricos e pobres. Dessa forma as desigualdades
interiorizadas pela sociedade, mesmo apresentando estrutura semelhante, não deve enquadrar
os indivíduos em uma mesma categoria social.
Para as autoras, Fitoussi e Rosanvallon não consideram essas desigualdades existentes
novidades, pois os mesmos destacam sua presença em outros cenários anteriores da história,
porém apresentando uma intensidade maior ou menor de acordo a época. À vista disso o que
de fato é novo é a permanência com que as desigualdades vêm se consolidando. Para
exemplificar essa questão Santos e Costa (2018), trazem uma citação do autor Trovão (2015),
descrita a seguir:
[...] as dificuldades de mobilidade urbana e de tempo gasto no trajeto da casa
para o trabalho e, principalmente, a acentuação dos contrastes entre centro e
periferia das cidades. De modo geral, essas fontes de desigualdade afetam
sobremaneira a vida das pessoas pois, além de exacerbarem as dificuldades do
dia a dia, apresentam um caráter cumulativo (TROVÃO, 2015 apud SANTOS;
COSTA, 2018, p. 10).
Santos e Costa (2018), acreditam que cabe ao Estado diminuir essas desigualdades
existentes, ajustando as políticas sociais para que se enquadrem na verdadeira realidade das
pessoas que mais precisam dessa ajuda, fazendo com que essas não sejam excluídas desse
benefício.
Nesse sentido, Rosanvallon acredita que para que haja equidade nas oportunidades
oferecidas pela sociedade, não se deve apenas pensar em um modo de compensar o ponto de
partida para que este seja igual para todos, deve-se melhorar toda a trajetória desse indivíduo
trazendo para este, meios que o impulsione a driblar as desigualdades que lhes são impostas.
Sendo assim, ele reforça a ideia de que o Estado-providência deve se tornar ativo e que as
políticas universais já não fazem mais sentido. Partindo dessa premissa, Pastorini, afirma que:
O que é preciso tirar de nossas cabeças é a ideia de que o serviço
coletivo=Estado=não=mercantil=igualdade, e que os serviços
privados=mercado=lucro=desigualdade. O futuro do Estado-providência
passa pela definição de uma nova combinatória desses diferentes elementos.
Trata-se de substituir a lógica unívoca da estatização por uma tríplice
dinâmica articulada da socialização, da descentralização e da autonomização
(PASTORINI, 2004, p.54, grifo do autor).
Seguindo essa via, pode-se obter uma maior abertura da socialização com a
desburocratização de alguns serviços, bem como descentralizar alguns desses do poder do
Estado, transferindo-os para associações, fundamentos, ongs, etc. Desta forma, além de tornar
o serviço público mais próximo dos seus usuários, ele os autonomiza (PASTORINI, 2004).
Porém, para Rosanvallon o Estado não deve apenas distribuir riquezas com subsídios,
ou outros tipos de auxilio, ele deve criar ferramentas que façam com que, os indivíduos que
necessitam de sua ajuda, consigam caminhar e prosperar sem precisar da ajuda do governo.
Trazendo assim uma nova perspectiva sobre equidade e igualdade, ponderando sobre a
perspectiva de que os direitos sociais individualizados conseguem alcançar mais pessoas que
os coletivos (PASTORINI, 2004). Em virtude disso, Pastorini alega que:
Essa alternativa pensada por Rosanvallon, centrada no Estado-providência
ativo, poderia chegar a constituir uma justificação e sistematização do
processo de individualização, entendido que o Estado-providência estaria cada
vez menos vinculado às classes sociais, às populações homogêneas, aos
grupos sociais e, ao contrário, cada vez mais relacionado aos indivíduos
particulares. Ele pensa que a equidade deve ser garantida pelo Estado-
providência ativo e que isso só será possível se essa instituição tiver um
tratamento diferenciado para com os distintos setores da sociedade
(PASTORINI, 2004, p.56).
Pastorini (2004), destaca que ao definir justiça (de acordo com Rosanvallon), deve-se
basear no bem comum que traz os princípios de: liberdade, igualdade e diferença. Desta forma,
em uma redistribuição, o Estado busca beneficiar aqueles que foram mais desfavorecidos pela
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sociedade, ou seja, os que estão mais excluídos, melhorando a situação destes, sem que as
situações de outros indivíduos piorem, o que mostra a liberdade (sempre tratada como
negativa), como um princípio norteador dessa análise.
Sobre o bem comum que é trazido como âncora para a sociedade, Pastorini (2004,
p.58, grifo do autor) assegura que “[...] é o símbolo do impossível, da utopia. O “bem comum”
não é uma realidade em si, é uma ideia construída socialmente, em que cada sociedade
determina seu conteúdo com o objetivo de permitir o bom funcionamento social”. Pois, se fosse
analisado literalmente, o bem comum seria um grupo homogêneo, cujo não poderia haver
distinções de nenhum tipo.
Em síntese, Pastorini não acredita que o Estado-providência ativo seja capaz de exercer
a justiça necessária, pois, para ela:
O problema das desigualdades capitalistas não radica aí, senão na desigual
distribuição da riqueza acumulada pelo sistema produtivo, cuja origem é a
exploração dos trabalhadores e a concentração dos meios de produção nas
mãos da classe capitalista. Por isso, o problema não pode ser resolvido nas
suas margens: no momento da redistribuição (PASTORINI, 2004, p.59).
Santos e Costa (2018), concluem que a visão de Fitoussi e Rosanvallon (1997) expande
a análise da desigualdade que vem sempre sendo formulada através da renda, mostrando que
elas se encontram tanto em dimensões econômicas quanto sociais e que nesse fenômeno
multidimensional existem as “novas” e “velhas” desigualdades. Porém essas desigualdades
consideradas novas, são na verdade derivações de desigualdades já existentes que vem se
reproduzindo e perpetuando em nosso meio. Diante disso, a questão não são as diferenças
existentes entre ricos e pobres, ou seja, entre rendas e condições financeiras, as verdadeiras
desigualdades encontram-se interiorizadas na sociedade, tornando-se mais difícil identificá-las
e, com isso, diminui-las.
Já Pastorini (2004), finaliza questionando onde o Estado protetor, apresentado por
Rosanvallon, se encaixaria no capitalismo cada vez mais globalizado e neoliberal, e como
políticas de inserção seriam efetuadas nesse sistema, cujo, a lógica deste, é exatamente o oposto
disso.
Desta forma Manzano (2021), começa sua analise a partir do contexto histórico onde
o pós guerra se destaca com os anos gloriosos que apresentou crescimento econômico e
diminuição na desigualdade, o que levou a várias teorias de diversos pensadores economistas,
inclusive a de Kuznets outrora citada no capítulo um. Porém, a partir da década de 1970 os
índices de desigualdades começaram a aumentar novamente, até mesmo em países
desenvolvidos, o que levou a descrença de que o sistema capitalista pudesse retornar aquele
mesmo dinamismo dos gloriosos anos dourados. Diante do cenário apresentado, surge então a
teoria de Amartya Sen.
As autoras Santos e Costa (2018), abordam a perspectiva de que ao contrário do que
diversos autores apresentam quando falam sobre desigualdade, voltando o seu pensamento pra
um viés mais marxista, Sen, apesar de concordar que algumas análises podem ser feitas sobre
esse conceito, prefere basear o seu estudo no conhecimento das pessoas, como seus gostos,
características e a liberdade que cada indivíduo possui. Sendo assim, ele acredita que a liberdade
se expressa através de decisões que não estão ligadas a renda e a riqueza.
Já a autora Manzano (2021), retrata a universalização e inclusão, que estão cada vez
mais aparentes nas políticas públicas, que apesar de não ser tão relevante para a população mais
rica, acabam elevando o bem estar social como um todo, pois em tese ela atinge a sociedade em
geral e não indivíduos isolados. Como o exemplo citado por ela:
O Sistema Único de Saúde brasileiro é um exemplar típico de política pública
universal, pois eleva o nível geral de saúde da população como um todo,
mesmo que para os indivíduos de maior renda (que não utilizam, ou utilizam
seletivamente o SUS), a utilidade marginal do sistema seja decrescente, ou até
mesmo inexpressivo (MANZANO, 2021, p.235).
Diante disso, surge a pressão tanto da classe mais pobres em busca de avanços nos
serviços públicos, quanto da classe mais rica no qual existe a necessidade de acumular capital,
gerando a hegemonia do neoliberalismo. Desta forma, a teoria defendida por Sen abrange esse
período histórico de luta de classes (MANZANO, 2021).
Na visão de Sen, segundo Manzano (2021), a teoria utilitarista apresenta falhas, dentre
elas, ele destaca a falta de sensibilidade as diversidades humanas criando um caráter uniforme,
além disso essa teoria da mais prioridade a maximização das utilidades marginais
negligenciando os níveis de desvantagens. Com esse pensamento, só haverá justiça distributiva
quando o indivíduo que estiver em pior estado for assistido pelas políticas públicas
(MANZANO, 2021).
A autora revela que o foco da pesquisa de Sen sempre esteve atrelado a desigualdade,
fome e qualidade de vida com enfoque nos países menos desenvolvidos e por isso, o
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desenvolvimento humano sempre serviu de base para as suas aspirações políticas. No entanto,
esse desenvolvimento que é medido através do PIB e do PIB per capita, deixa a desejar quando
se trata em medir a qualidade de vida da população. Segundo a autora, estudos divulgados nos
anos de 1980 e 1990 mostravam que, apesar de haver um crescimento do PIB e da renda per
capita, cada vez mais indivíduos eram levados a pobreza (MANZANO, 2021).
Santos e Costa (2018), trazem uma outra concepção de Sen, de que a desigualdade é
causada por diversos fatores que não podem ser justificados unicamente pela renda, porém ele
considera que um baixo nível de renda esteja sim, relacionado a desigualdade. Mas deve-se
primeiro analisar o que levou a esse nível, seria a falta de educação, a fome?! Sendo assim, ele
acredita que educação e saúde melhores, elevarão a renda e desta forma diminuirão a
desigualdade.
Além dessa visão, Sen está mais focado em mostrar que a desigualdade não está apenas
vinculada as classes econômicas, trazendo como exemplo disso as diferenças existentes entre
os gêneros feminino e masculino, ou seja, a desigualdade não está apenas na renda, mas também
nos espaços nos quais esses indivíduos estão inseridos, na expectativa de vida, na liberdade de
escolhas, etc. (SANTOS; COSTA, 2018).
Sobre esse aspecto, Manzano explana que:
A igualdade, portanto, diante da “nova” perspectiva ética proposta por Sen, é
constrangida ainda mais, em comparação com a abstrata igualdade formal dos
contratualistas e do pensamento iluminista tradicional. Mesmo que se julgue
importante ressaltar a diversidade dos seres humanos e a necessidade de assim
os considerar, focalizar o combate às desigualdades no atendimento dessas
diversidades sem, contudo, adentrar a realidade desigualitária estrutural da
relação social predominante, superpõe um outro nível de diferenciação que,
na economia, representa a perpetuação do estabelecido, apenas minimizando,
focalizadamente, as piores situações moralmente inaceitáveis (MANZANO,
2021, p.245, grifo do autor).
Manzano (2021), ainda discorre sobre os dois conceitos chaves de Sen, que segundo
ela seria os funcionamentos e as capacitações. Nos funcionamentos, na visão de Sen deve ser
avaliado no indivíduo o fazer ou ser, em comparação ao ter que é muito buscado. Desta forma,
reconhecer a diversidade que há na humanidade é uma das portas de entradas que dá ênfase a
esse conceito. Na parte de capacitações, seria uma junção em que o indivíduo ao desenvolver
suas habilidades, eles possuem a liberdade de escolher a ação que será executada pela mesma.
Seguindo esse mesmo raciocínio, Santos e Costa (2018), utilizam a autora Mauriel
(2008) que faz uma análise a respeito do pensamento de Sen concluindo que de acordo com ele,
não é necessário combater as desigualdades com políticas redistributivas, pois o aumento da
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renda seria conquistado pelos próprios indivíduos, se lhes fossem dada uma liberdade maior
para fazer suas escolhas.
Manzano (2021), ainda relata como, de acordo com Sen, é complexo medir o nível de
satisfação de bem-estar de um indivíduo, pois pessoas que tem menores níveis de renda, e
consequentemente menores expectativas de qualidade de vida, acabam tendo um maior nível
de satisfação com pouca melhora no fator de bem-estar, fazendo com que permaneçam em nível
ainda baixo de qualidade de vida. Como a autora resume essa questão no trecho a seguir:
Essas críticas possibilitaram a construção de uma nova filosofia, que mantém
o foco nos indivíduos e ao mesmo tempo reconhece que esse indivíduo faz
parte de um contexto maior, que exerce e sofre influências do meio, com o
qual interage naturalmente. Com isso, avaliar o indivíduo, a sociedade e o
bem-estar, passa a ser algo mais complexo, na medida em que exige considerar
a vida que as pessoas realmente conseguem levar e inclui as diversas
dimensões que compõem a vida em sociedade, a proposta da abordagem das
capacitações de Amartya Sen (MANZANO, 2021, p.249, grifo do autor).
Desta forma, a autora conclui que ao se basear nessa filosofia, as adequações passam
do patamar de vivido para a vivência, o que é importante no estágio atual no qual se observa
crises nos mecanismos do próprio capital. Sobre o conjunto da obra, Manzano esclarece que
para Sen as políticas públicas com ações focalizadas trarão a liberdade e como consequência o
bem estar da população. Tendo isso em vista, a autora acredita que ao esperar que isso ocorra
deve-se esperar também uma transformação radical da sociedade. (MANZANO, 2021).
Santos e Costa (2018), também destacam esse entendimento de Sen. Para ele, as
políticas de Estado devem ser focadas em aumentar o desenvolvimento da capacidade desses
indivíduos e não realizar meramente transferências de renda.
trabalhador jamais alcance a classe mais rica. E dessa forma, para ele, é justificado a
redistribuição de renda.
Quanto a questão da desigualdade de renda, ele utiliza a lei da oferta e da demanda
para mostrar que o nível de capital humano gera as desigualdades nos salários dos
trabalhadores. Diante dessas razões, ele acredita que o Estado deve utilizar de instrumentos
que diminuam essas disparidades, para que a sociedade fique mais justa para todos os seus
habitantes. Levantando pontos de como a educação deve ser dosada para que alcance o objetivo
proposto, pois se ela for inserida em um meio periférico, terá pouco proveito de seus estudantes
de classes mais baixas, mas se esses mesmos estudantes forem inseridos em um meio social
mais elevado, suas chances de aprendizado e sucesso aumentarão.
Piketty destaca Marx em sua teoria e considera que ele fez um bom trabalho baseado
na época e recursos que tinha a sua disposição, dando ênfase ao princípio de acumulação infinita
como uma análise ainda válida para esse século. Já sobre a teoria de Kuznets, Piketty acredita
que o sistema capitalista produz desigualdades que são insustentáveis, desse modo, a
diminuição da desigualdade que vinha acontecendo na época que Kuznets escreveu sua teoria,
se deve a outros fatores que impactaram o processo econômico daquele lugar.
Manzano traz a sua perspectiva a respeito de Piketty, indicando que ele preza muito
por uma teoria construída a base de dados empíricos e pouco se aprofunda na parte teórica. E
desta forma acaba usando informações e dados de um determinado espaço de tempo e lugar, e
construindo uma análise para outro lugar que não se encaixa naquela realidade. Diante disso, a
autora acredita que a teoria de Kuznets foi descaracterizada por ele, por não apresentar dados
empíricos, o que ela acredita que aconteça com vários autores, que tem suas pesquisas
descredibilizadas por não produzirem textos matematizados. Como o caso de Marx, em que
Manzano mostra que Piketty questiona e desqualifica várias questões apontadas por ele.
Desta forma, a autora conclui que o livro escrito por Piketty não entrega o que ele se
propôs a passar, pois ela acredita que sejam necessárias mais bases teóricas em seus
argumentos, deixando claro que não é contra o uso de dados empíricos, apenas acredita que seja
necessário fazer um apunhado de teorias e discussões outrora analisadas, antes de basear a sua
pesquisa apenas nos números.
Os autores Fitoussi e Rosanvallon apresentam em seu livro a desigualdade como sendo
multidimensional, ou seja, ela se desdobra em várias facetas e fases, sendo que algumas delas
estão mais estáveis enquanto outras estão em desenvolvimento, desta forma eles caracterizam-
nas como “novas” e “velhas” desigualdades.
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Por se tratar de algo tão antigo, muitas desigualdades acabaram se tornando, o que eles
denominam de estrutural, tendo em vista que é algo corriqueiro e a muito penetrado no cotidiano
da sociedade, fazendo com que a sua população já não enxergue aquilo como algo ruim. E as
desigualdades mais “perceptivas” são denominadas de dinâmicas. Para “justificar” essa
cegueira em que a população se encontra a respeito das desigualdades estruturais, os autores
elucidam 3 motivos: o enfraquecimento sobre o valor da igualdade; o aumento das
desigualdades estruturais e a urgência em lidar com “novos” tipos de desigualdade.
Outro ponto importante que os autores destacam é sobre a qualificação profissional,
que antes, por ser algo de mais difícil acesso, acabava legitimando as desigualdades existentes,
porém, apesar do crescente avanço nessa qualificação, as desigualdades continuaram a persistir.
Por fim, Fitoussi e Rosanvallon destacam em seu estudo a importância de se combater o
desemprego, pois, de acordo com eles, através da diminuição desse indicador, as desigualdades
também passarão a diminuir.
Santos e Costa apontam que os estudos dos autores (Fitoussi e Rosanvallon), trazem
um debate importante a respeito dessa temática por não monopolizar a questão apenas entre
ricos e pobres, mostrando que apesar de haver desigualdades semelhantes os indivíduos não
devem ser caracterizados em uma mesma categoria social. Destacando como a localidade onde
o indivíduo mora interfere no seu bem estar social.
Desta forma, as autoras acreditam que o Estado tem o dever de ajustar/criar políticas
sociais que ajudem os indivíduos mais necessitados, com a perspectiva de que esse benefício
chegue nas mãos de quem realmente precisa, criando mecanismos para tal.
Por fim, elas avaliam que o estudo dos autores expande a análise sobre o tema
trabalhado, concluindo que a verdadeira desigualdade não é apenas a de renda, e sim as
estruturais, pois estas são interiorizadas nas sociedades, dificultando o seu reconhecimento
como tal, e, desta forma impossibilitando o seu combate.
Partindo da base de Rosanvallon de que o estado não deve apenas acompanhar o início
da trajetória, e sim toda a caminhada do indivíduo, proporcionando equidade, Pastorini acredita
que se o estado descentralizar o seu poder e tornar o seu serviço mais próximo dos seus usuários,
trará benefícios maiores do que o Estado-providência proposto pelo autor, trazendo um tríplice
mais dinâmico de socialização, descentralização e autonomização.
Sobre o bem comum a autora expressa a impossibilidade de existir, pois acredita que
seja uma ideia construída por cada sociedade, na qual a mesma determina o seu objeto. À vista
disso, Pastorini discorda que o estado consiga exercer a justiça necessária para diminuir as
desigualdades existentes utilizando-se de métodos de redistribuição. A autora finaliza
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ponderando que o Estado mostrado por Rosanvallon não se encaixaria no capitalismo atual, já
que esse sistema busca cada vez mais o lucro e a sua ideia de Estado buscaria o oposto.
O estudo da desigualdade de Sen tem como base a liberdade de cada indivíduo,
mostrando que muitas vezes os indicadores, como por exemplo o da renda, podem mascarar a
desigualdade que existe, pois, esse parâmetro não garante que todos os indivíduos que nele se
encaixe tenha a mesma liberdade e consequentemente a mesma oportunidade de escolha. Isso
se dá principalmente as características individuais que cada pessoa possui.
Outro ponto importante discutido pelo autor é sobre não ser possível a existência da
igualdade em todos as suas variáveis, pois a partir do momento que se é garantido a igualdade
em um setor, o outro fica em desamparo. Desta forma, para se analisar a desigualdade o autor
afirma que deve ser levado em conta as diferenças que existem entre os indivíduos e os diversos
tipos de desigualdades que existem.
À vista disso, se faz necessário escolher o espaço onde será centralizado o estudo e
fixar a variável que será analisada. Ressaltando que para Sen, o bem-estar de um indivíduo não
deve ser medido em valores e sim na variedade de opções de que ele dispõe para conseguir se
autorrealizar, ou seja, quanto mais liberdade existir, melhor será o seu bem-estar social.
Santos e Costa destacam que a análise do autor tem um viés mais aprofundado nas
características pessoais dos indivíduos e na liberdade de escolha, ao contrário de outros autores
que sempre apresentam suas analises com base marxista. Sendo assim, essas desigualdades são
causadas por diversos fatores, e o que deve ser levado em consideração são os fatores que
ocasionaram um nível baixo da renda, e não a renda em si, pois através dessa concepção se
chegará à raiz do problema. Desta forma, para as autoras, o combate às desigualdades não será
solucionado apenas com políticas redistributivas, e sim com o desenvolvimento da capacidade
dessa população, proporcionando assim uma liberdade maior.
Para Manzano, ao tratar a igualdade sobre essa perspectiva proposta por Sen, situações
de desigualdades piores acabam sendo subestimadas, já que existe uma realidade totalmente
desigualitária. Desta forma, analisar toda essa estrutura se torna algo bem mais complexo do
que o imaginado, pois ao considerar um indivíduo, deve ser levado em conta suas características
individuais, sua liberdade de escolha e todas as dimensões que integra uma sociedade. Por fim,
a autora conclui que, para essa teoria de Sen se concretizar é necessário que haja uma
transformação radical em toda a sociedade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Oeiras: Celta Editora, 1997.
MANZANO, Sofia Padua. Desigualdade e Ideologia: A nova missa em latim. 2021. Tese
(Doutorado em História Econômica) – Programa de Pós-graduação em História Econômica.
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2021. cap. 3, p. 221-253.
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SANTOS, Bruna Maria Dias dos; COSTA, Andréa Braz da. “Novas e Velhas”
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Conquista: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Vitória da Conquista, 2018.
PIKETTY, Thomas. O Capital no Século XXI. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
PIKETTY, Thomas. A Economia da Desigualdade. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.