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UNIVERSIDADE PAULISTA
2020
5º Semestre
Brasília – Distrito Federal
Resumo:
Os problemas sociais do Brasil são diversificados, dentre estes se
destaca o tema da desigualdade social que suscita vários debates em
diversos meios envolvendo posições intelectuais e políticas diversas. Na
nossa pesquisa, inicialmente, traremos as contribuições dos mais
diversos autores, grupos de pesquisa do meio acadêmico e
organizações, institutos e fundações públicas e privadas, que tem se
debruçado sobre este tema no Brasil. São, sobretudo, economistas,
sociólogos, geógrafos com base em pesquisas com métodos distintos
que tem levado em conta diferentes fontes e perspectivas de análises
também diversas. Porém, a especificidade da nossa pesquisa é o
enfoque no rural brasileiro e suas peculiaridades. Enfim, a apresentação
da realidade social do meio rural brasileiro através de uma análise da
sua desigualdade (econômica, social, política e cultural) e das lutas
sociais representadas pelos interesses antagônicos dos vários grupos
sociais representativos destes sujeitos em vários espaços, possibilitando
elucidar o que gera conflitos sociais no campo brasileiro, assim como
funciona os processos de exclusão ou e concentração com base na
posição social de cada um dos atores. Portanto, este trabalho vem
demonstrar que no rural brasileiro, assim como no meio urbano o país
convive com uma desigualdade social abissal. É o que constatamos
quando analisamos o aumento da concentração fundiária no país e a
exata correlação que encontramos quando cruzamos estes dados de
concentração fundiária nos municípios brasileiros e alguns indicadores
sociais.
Abstract:
The social problems of Brazil are diversified, among which the theme of
social inequality stands out, which raises several debates in different
media involving different intellectual and political positions. In our
research, initially, we will bring the contributions of the most diverse
authors, academic research groups and public and private organizations,
institutes and foundations, which have been working on this theme in
Brazil. They are, above all, economists, sociologists, geographers based
on research using different methods that have taken into account
different sources and perspectives of different analyzes. However, the
specificity of our research is the focus on the Brazilian countryside and
its peculiarities. Finally, the presentation of the social reality of the
Brazilian rural environment through an analysis of its inequality
(economic, social, political and cultural) and the social struggles
represented by the antagonistic interests of the various social groups
representing these subjects in various spaces, making it possible to
elucidate what it generates social conflicts in the Brazilian field, as well
as processes of exclusion or concentration based on the social position
of each of the actors. Therefore, this work demonstrates that in the
Brazilian countryside, as well as in the urban environment, the country
lives with abysmal social inequality. This is what we see when we
analyze the increase in land concentration in the country and the exact
correlation we find when we cross this data on land concentration in
Brazilian municipalities and some social indicators.
SUMÁRIO
· INTRODUÇÃO..................................................................................... 05
· MÉTODO............................................................................................. 08
· RESULTADOS.................................................................................... 10
· DISCUSSÃO........................................................................................ 21
· CONCLUSÕES.................................................................................... 24
· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 25
· ANEXOS.............................................................................................. 29
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INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Introdução
campo, luta por regularização fundiária, luta contra os agrotóxicos, e muitas outras,
estão na agenda do que podemos chamar de “pobres do campo”. Enquanto, por
outro lado, a luta pela manutenção das propriedades, luta contra a realização da
reforma agrária, luta por revisão de terras indígenas e quilombolas já demarcados,
luta pela desregulamentação do trabalho rural, luta por aprovação de uso de novos
agrotóxicos e transgênicos, lutas por representação política no legislativo e
executivo, tem ocupado os setores “mais elitizados do campo”.
Portanto esta pesquisa objetivou pensar a desigualdade no rural brasileiro
com base em ao menos três diferentes perspectivas: 1ª a questão dos dados
quantitativos de renda desta desigualdade expressos por amplas pesquisas de
órgãos como o IBGE e IPEA e nas várias análises que se partem destes dados; 2º a
questão dos dados da desigualdade fundiária expressa, sobretudo, também nos
dados dos censos agropecuários do IBGE e no acervo fundiário do INCRA e, por
último em 3º a questão dos sujeitos sociais em si, os conflitos, e suas várias formas
de organização na luta pela posse ou manutenção destes recursos, sobretudo a
terra, no rural brasileiro. Além destas três questões principais enfocaremos ainda
nas análises que buscam radicalizar mais estas análises com a conformação de
classes sociais não estritas apenas a renda em si, como o faz Jessé de Souza, bem
como autores que buscam na teoria marxista uma análise crítica das contradições
estruturais destas classes sociais no rural brasileiro através do seu sistema
produtivo.
Assim, com este trabalho, buscaram-se mais similaridades e permanência
neste rural brasileiro mesmo reconhecendo a diferença que marca as diversas
regiões, histórias e contextos deste país multicultural e diverso. Posto isso, as
hipóteses que animam este trabalho são desvelar questões como: Qual a situação
da desigualdade no interior do rural brasileiro? Quem são estes sujeitos e
organizações em luta pela posse e manutenção da terra? Como podemos pensar
uma classificação social que contemple a diversidade do rural sem perder de vista o
que é mais regular e permanente na nossa estrutura fundiária e social? São
perguntas que se justificam em importância de serem respondidas já que poderão
nos colocar a pensar também na desigualdade social do país a partir do rural dentro
das suas próprias contradições e conflitos históricos além de relacionar com a
desigualdade social que nos abate também no urbano, bem como nos dar luz sobre
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o que mobiliza tais sujeitos, sua interface com a terra na sua ação social e coletiva
enquanto lutam pela sua perpetuação no devir.
Método
uma balsa que partir de hora em hora. Ainda posso também, ainda hoje, puxar na
minha memória quando em certos períodos partiam-se inúmeros ônibus da minha
pequena cidade com trabalhadores, inclusive alguns primos meus, para trabalhos
temporários no corte de cana em São Paulo e na colheita do café também neste
estado e no sul de Minas Gerais.
Posteriormente ao fim das políticas sociais federais de assistência técnica e
extensão rural depois do impedimento da presidente Dilma Roussef em 2016, onde
fui demitido, iniciei uma trajetória de formação e atuação no indigenismo.
Atualmente, resido em Brasília, trabalho com povos indígenas do Mato Grosso de
recente contato através de ONG's indigenistas e associações dos próprios povos e,
simultaneamente, faço uma licenciatura em sociologia através da Universidade
Paulista. São muitas as vezes que, nas viagens que faço de ida e volta de Brasília a
Mato Grosso, quando essas são feitas de ônibus interurbano que, somente eu, não
sou um trabalhador maranhense que migrou para trabalhar na cultura do algodão no
leste do Mato Grosso.
Resultados
Índice GINI
0.8680
0.8660 0.867
0.865
0.8640
gini
0.8620
0.8600
0.8580 0.859
0.858
0.8560
0.8540
0.8520
Elaboração do autor com dados dos Censos
Agropecuários do IBGE (1985, 1995/96, 2006 e 2017).
Tamanho da
Nome da área Município/Estado Proprietário
Área
Gleba Santa Rosa do Aplub Agrofloresta Amazônia
903.530,7910 Carauari/AM
Tenquê S.A.
Fazenda Mata Mata 501.005,2647 Nova Aripuanã/AM Luiz Ernesto Pereira Taranto
Boa Fé 435.430,9306 AM Não identificado
Fazenda Serra Grande 306.303,6175 Pilão Arcado/BA Agroimóveis LTDA
Fazenda Luna III 281.343,4609 Manicoré/AM Mabral Indústria e Comércio Ltda
Mapel - Marochi Agricultura e
Fazenda São João 163.236,4219 Jacareacanga/PA
Pecuária Ltda
Fazenda Mata Mata II 153.989,4547 Nova Aripuanã/AM Transmaranata Transportes Ltda
Gleba Paranacre - Parte Radan Administração e
149.328,0008 Tarauacá/AC
A Participações Ltda
Fazenda Roncador 147.216,8899 Querência/MT Grupo Roncador
Porto Alegre do
Fazenda Rio Preto 141.813,4601 Romão Ribeiro Flor
Norte/MT
Fazenda Novo Macapá 137.190,2080 Pauini/AM Batisflor Florestal Ltda
Fazenda Nossa Senhora 133.107,4146 Lábrea/AM Dr. Ricardo Stoppe Júnior
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Como se vê na tabela acima todas estas propriedades tem acima de absurdos 100
mil hectares. Para termos uma ideia do tamanho dessas áreas, a cidade do Rio de
Janeiro tem 125,5 mil hectares. Isso demonstra como está aumentando não
somente a concentração fundiária, mas também os “superlatinfúndios”,
principalmente na região de fronteira, como afirmou o professor Acácio Zuniga Leite
comentando os resultados do Censo Agropecuário de 2017. Outro fato a observar
nestes dados são que quase a totalidade destas grandes propriedades listadas se
encontram nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, tendo como exceção apenas
uma fazenda na região Nordeste, especificamente no estado da Bahia. Quanto às
unidades da federação, Amazonas e Mato Grosso se destacam, sendo que 50%
(10) se encontram no primeiro e 25% (5) no segundo. Assim podemos observar um
processo de “pejotização” das propriedades, ou seja, a maioria destas grandes
propriedades está em nome de pessoas jurídicas. Na nossa pesquisa, descobrimos
também no acervo fundiário do INCRA empresas que detém por todo o Brasil várias
terras registradas como a Jari Celulose que contém aproximadamente 1,5 milhões
de hectares, ou ainda a Vale S.A. que, detém no Brasil, segundo documento oficial
da própria empresa um montante de mais de 4 milhões de hectares em concessões
de terras, licenças e pedidos de exploração. Existe ainda o relatório da organização
Grain que apontou que no Brasil, vinte grupos estrangeiros (grandes corporações e
fundos) detêm aproximadamente três milhões de hectares de terras. Ou seja, a
maioria das terras do Brasil não é ocupada produtivamente por quem nela vive e
trabalha de verdade, esta que é uma bandeira histórica dos movimentos de luta pela
terra no Brasil.
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Na primeira tabela acima, como foi informado, o próprio IPEA faz uma
classificação de vulnerabilidade social dos municípios. Esta classificação é feita com
base em 16 indicadores sociais com base em três dimensões: Infraestrutura urbana
(saneamento básico, coleta de lixo, mobilidade, etc), capital humano (mortalidade
infantil, escolaridade, trabalho, etc) e renda e trabalho (ocupação, trabalho infantil,
renda per capita, etc). Assim, o IPEA definiu uma escala de 0 a 1, onde os
municípios de 0 até 0,200 são considerados com uma vulnerabilidade social “muito
baixa”, de 0,200 até 0,300 “baixa”, de 0,300 até 0,400 “média”, de 0,400 até 0,500
“alta” e, por último de 0,500 até 1 são considerados com uma vulnerabilidade social
“muito alta”. No nosso cruzamento destas informações com o Gini Fundiários dos
municípios brasileiros encontramos uma clara relação entre maior GINI menor
vulnerabilidade social (46,6%). Portanto, quanto mais concentrado a terra maior é a
vulnerabilidade social encontrada. E o contrário pode ser observado quando vemos
que os municípios brasileiros com menor concentração fundiária, ou seja, menor
GINI são em sua maioria os que têm menor vulnerabilidade social. (52,4%)
municípios de acordo com a expectativa de vida em três (1/3 mais alta, 1/3
intermediária e 1/3 mais baixa), a correspondência encontrada foi que nos 1/3 com
maior concentração fundiária a expectativa de vida é menor (43,5%), e nos 1/3
menos concentrados a expectativa de vida sobe de forma vertiginosa (45,1%).
Tabela 3 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação
GINI renda (2010) dos municípios do Brasil
pobre. Nos 1/3 dos municípios com maior GINI fundiário, ou seja, onde a terra é
mais concentrada, estão os 42,3% dos municípios com o maior número de pessoas
extremamente pobres percentualmente. Já, nos municípios com menor
concentração fundiária, estão também os municípios que apresentam
percentualmente menor número de pessoas extremamente pobres. (42,6%).
E, por último, trazemos na tabela acima um dado que é muito utilizado para
medir a concentração de renda que é a porcentagem do total da renda das pessoas
apropriada pelos 10% mais ricos. Neste caso, como nos outros acima, o recorte
espacial são os municípios brasileiros. Nos 1/3 dos municípios com maior
porcentagem desta apropriação da renda pelos 10% mais ricos está também o maior
contingente de municípios com maior concentração fundiária (38,6%). Já, o contrário
também é verdade, ou seja, nos municípios onde a renda apropriada pelos 10%
mais ricos da população está os também os que têm menor concentração fundiária
(39,9 %).
Portanto, pode-se concluir que a desigualdade social no rural brasileiro é tão
grande ou até maior quando comparada com a desigualdade social encontrada nas
zonas urbanas. E ainda observa-se uma umbilical relação entre as desigualdades do
rural causando desigualdades no urbano nos municípios do país, sobretudo quando
se observa com o filtro da questão fundiária. Esta desigualdade social expressas na
renda e no acesso a terra são retrato de um país que se “modernizou” relegando
grande parte da sua população a situações precárias mesmo no acesso aos bens
mais básicos para sobrevivência, ficando assim quase impossível uma mudança
neste cenário de desigualdade em curto prazo, visto que esta é uma questão
histórica e que permanece ao longo dos tempos.
Discussão
neste campo sobre quais dados são mais reveladores desta desigualdade. No
Brasil, por exemplo, a tradição iniciada, sobretudo, por Marcelo Medeiros que
utilizava o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) foi de certa forma
superada por seu pupilo no IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Pedro
Herculano, que utilizou o imposto de renda para seu recorte de classes e análise da
desigualdade de renda.
Inicialmente, a expectativa de alcance do projeto foi superestimada em
relação às possibilidades práticas da pesquisa empírica. Há ainda possibilidades
múltiplas de interpretação sobre “classe social” do rural brasileiro que descobri, nos
vários artigos científicos que foram pesquisados. Na proposta inicial, pensava que o
que encontraria era somente esta interpretação de classe limitada, sobretudo a
renda e a colocação destas entre A e E, porém encontramos muitas análises
balizadas na teoria Webberiana que se aproxima mais do status destas classes com
base, sobretudo, nas ocupações das pessoas com base no CBO (Cadastro
Brasileiro de Ocupações) fazendo análises também partir do PNAD. Outra
contribuição neste sentido foi encontrada nas interpretações mais simplificadas de
pensar a situação em relação a terra, seja proprietário, despossuído e seu
intermediário, o arrendatário. Fato é que, cada vez mais, fomos na nossa pesquisa
nos afastando das interpretações muito fria dos dados, sobretudo de renda, pois
deixam uma lacuna muito grande entre os contextos histórico, geográfico e a
continuidade dos processos sociais excludentes. Entretanto, uma questão que nos
chamou muito a atenção é como a população da extrema pobreza do país esteja
concentrada, sobretudo na população rural, apesar desta ocupar apenas 15% da
população geral, o que, de certa forma, confirma a hipótese de maior desigualdade
no rural, apesar das críticas destes indicadores não considerarem a produção para o
próprio consumo. Há ainda críticas ao próprio conceito de classe social e sua
relevância e possibilidade de uso na atualidade permeada por lutas identitárias e
culturais.
Enfim, a pesquisa bibliográfica retomou muitas informações secundária e já
analisada sobre a questão da terra, os conflitos, a produção, enfim, uma série de
possibilidades de interpretação. Por isso, houve uma grande necessidade de definir
e seguir um rumo em relação a isso. Houve necessidade de se fazer adequações na
proposta inicial. Pensar o rural brasileiro com o recorte de classe social é realmente
desafiador tendo em vista a complexidade e a falta de objetividade deste rural. Um
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brasileiro foi Regina Bruno (2009), que busca resumir o discurso ideológico da
“burguesia agrária” brasileira. Chamando-a ao modo marxista de dominante, Bruno
(2009) aponta a expressão desta classe social no cenário econômico, político, social
e cultural do país, apontando as seguintes entidades patronais de abrangência
nacional e várias algumas regionais. Regina Bruno (2012) aprofunda sua
interpretação identificando e analisando o movimento “sou agro” iniciado em 2011
com propagandas incessantes na grande mídia onde tenta se vender um setor
agrícola de fartura, da tecnologia sofisticada, da felicidade, da preservação
ambiental. Bruno (2012) diz que este movimento visa institucionalizar os interesses
destes grandes proprietários de terra além de querer considerar o seus interesses
como correspondentes ao interesse de toda a sociedade. Porém, Bruno finaliza que
na verdade os interesses patronais:
...reproduzem um conjunto de práticas associadas à depredação do
meio ambiente, ao uso do trabalho degradante, à violência, à
intolerância, à dificuldade de negociação e à defesa intransigente da
concentração fundiária que, inevitavelmente, vão de encontro à
linguagem da preservação do meio ambiente, do diálogo e do
respeito à pessoa. (2012, p. 24).
(2011) também nos ajuda a entender a questão da ação política de uma classe
social baseada na sua posição na estrutura dizendo que:
Compreender o posicionamento de classe requer, pois, a análise das
condições materiais e da conjuntura política, do impacto da ideologia
dominante, da relação com as outras classes, para evitar afirmações
que relacionam automaticamente base social e posição política, e
também porque a situação objetiva de classe não leva
automaticamente à ação coletiva. (Galvão, 2011, p. 112).
Apresentar este cenário tem como objetivo fugir de uma simples aplicação de
um conceito na interpretação de uma realidade tão multifacetada. Porém, as
ciências sociais, devem generalizar para encontrar algumas regularidades,
sobretudo no aspecto onde um grupo se beneficia enquanto outro é restrito aos
recursos mínimos para sobrevivência. Neste caso, para se pensar nesta
classificação no Brasil, como demonstra os dados quantitativos, parece mais
prudente interpretar que a maior contradição dos sujeitos sociais do meio rural é o
acesso a terra. Analisar o uso da terra no Brasil, portanto também é definir classes
sociais do rural Brasileiro. Concentração fundiária é a porta do trabalho escravo, da
migração forçada e da desigualdade social no campo. Assim concluímos indo na
fonte principal sobre classe social sob a qual fizemos a nossa pesquisa que é em
Karl Marx o como ele a expõe na obra a Miséria da Filosofia:
“As condições econômicas, inicialmente, transformaram a massa do
país em trabalhadores. A dominação do capital criou para esta
massa uma situação comum, interesses comuns. Esta massa, pois,
é, já, face ao capital, uma classe, mais ainda não o é para si mesma.
Na luta, de que assinalamos algumas fases, esta mesma se reúne,
se constitui em classe para si mesma. Os interesses que defende se
tornam interesses de classe. Mas a luta entre as classes é uma luta
política. [...] Uma classe oprimida é a condição vital de toda a
sociedade fundada no antagonismo entre as classes”. (Marx,1985 p.
159)
Conclusões
Por fim, cabe constatar e concordar com alguns autores e pensadores mesmo
liberais que percebem que a desigualdade em certos níveis não se possibilita a
realização da atividade política de uma sociedade. (Dowbor, 2020). No Brasil, alguns
autores classificam os sujeitos aptos a participar da sociedade e outros à margem, já
outros preferem se referenciar na espaciacialização dos participantes da
democracia, ou seja, a democracia brasileira chega até certo lugar, não estando
presente nas periferias urbanas e, como vimos também rurais. Este processo
desigual trava a democratização dos recursos, da real participação política ou seja,
da socialização do poder, da nossa emancipação enquanto nação e é fruto da nossa
construção histórico-social sob a égide da instituição latifúndio-escravista-colonial.
Para fechar este trabalho cabe informar o quão o mesmo é infindável e aberto
a sempre continuar sendo atualizado. As condições socioeconômicas do nosso país
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são mutáveis, assim como o são as relações entre os grupos que a compõem,
sendo esta uma relação dialética. O Brasil como uma nação relativamente nova, é
tributário de uma permanência estrutural de desigualdade chocante. A mobilidade
social esperada em nações democráticas aqui se esbarra com certeza na
desigualdade. Nossa descolonização inconclusa que deixa a democracia chegar
apenas a alguns e em certos locais é desoladora. Nosso potencial enquanto nação é
refém de uma elite territorialista que teve forças para manter uma unidade de limites,
porém uma distância enorme entre um minúsculo grupo de privilegiados e um
pavilhão de deserdados, de miseráveis. O rural e suas relações desiguais, como
foram demonstrados neste trabalho, pode ser considerado um parteiro de toda
nossa sociabilidade nacional. E no Brasil, como demonstramos, um ínfimo grupo
escondidos atrás de CNPJ’s detém mais da metade das terras, enquanto milhões
sobrevivem à margem deste recurso básico para a produção da vida. Cabe,
portanto, apontar que nossa pesquisa pode contribuir para chegar no início, na raiz,
além de apontar que esta raiz ainda é um foco a se agir, porém considerando os
sujeitos destes lugares e suas propostas criadoras de uma sociedade mais justa.
Referências bibliográficas
MARX, Karl. As lutas de classes na França de 1848 a 1850. In: ___. Obras
escolhidas. São Paulo: Vitória, 1961a. v. 1. p. 93 198. 185 Revisão: Rose Castilho -
Diagramação: Lucas Mansini - data 22/08/2014.
__________. Miséria da Filosofia. Tradução João Paulo Netto. São Paulo: Global,
1985. Disponível em:
http://ciml.250x.com/archive/marx_engels/portuguese/marx_miseria-da-filosofia.pdf
SOUZA, Jesse. A classe média no espelho: sua história, seus sonhos e ilusões,
sua realidade. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2018.
____________. A ralé brasileira – quem é e como vive. Jessé Souza, André Grillo
et AL. (colaboradores), Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. (Humanitas)
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