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Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

UNIVERSIDADE PAULISTA

VICE-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

TÍTULO: UMA ANÁLISE DAS DESIGUALDADES


E CLASSES SOCIAIS NOS ESPAÇOS RURAIS
BRASILEIROS

Autor: Deyvisson Felipe Batista Rocha


Prof. Orientador: Adilson Camacho Rodrigues

2020
5º Semestre
Brasília – Distrito Federal

Pesquisa Financiada pela Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa


da UNIP, no Programa “Iniciação Científica”.
É proibida a reprodução total ou parcial.
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TÍTULO: UMA ANÁLISE DAS DESIGUALDADES E CLASSES SOCIAIS


NOS ESPAÇOS RURAIS BRASILEIROS

Deyvisson Felipe Batista Rocha

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

Resumo:
Os problemas sociais do Brasil são diversificados, dentre estes se
destaca o tema da desigualdade social que suscita vários debates em
diversos meios envolvendo posições intelectuais e políticas diversas. Na
nossa pesquisa, inicialmente, traremos as contribuições dos mais
diversos autores, grupos de pesquisa do meio acadêmico e
organizações, institutos e fundações públicas e privadas, que tem se
debruçado sobre este tema no Brasil. São, sobretudo, economistas,
sociólogos, geógrafos com base em pesquisas com métodos distintos
que tem levado em conta diferentes fontes e perspectivas de análises
também diversas. Porém, a especificidade da nossa pesquisa é o
enfoque no rural brasileiro e suas peculiaridades. Enfim, a apresentação
da realidade social do meio rural brasileiro através de uma análise da
sua desigualdade (econômica, social, política e cultural) e das lutas
sociais representadas pelos interesses antagônicos dos vários grupos
sociais representativos destes sujeitos em vários espaços, possibilitando
elucidar o que gera conflitos sociais no campo brasileiro, assim como
funciona os processos de exclusão ou e concentração com base na
posição social de cada um dos atores. Portanto, este trabalho vem
demonstrar que no rural brasileiro, assim como no meio urbano o país
convive com uma desigualdade social abissal. É o que constatamos
quando analisamos o aumento da concentração fundiária no país e a
exata correlação que encontramos quando cruzamos estes dados de
concentração fundiária nos municípios brasileiros e alguns indicadores
sociais.

Palavras-Chave: Desigualdade. Rural. Classes sociais.


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Abstract:
The social problems of Brazil are diversified, among which the theme of
social inequality stands out, which raises several debates in different
media involving different intellectual and political positions. In our
research, initially, we will bring the contributions of the most diverse
authors, academic research groups and public and private organizations,
institutes and foundations, which have been working on this theme in
Brazil. They are, above all, economists, sociologists, geographers based
on research using different methods that have taken into account
different sources and perspectives of different analyzes. However, the
specificity of our research is the focus on the Brazilian countryside and
its peculiarities. Finally, the presentation of the social reality of the
Brazilian rural environment through an analysis of its inequality
(economic, social, political and cultural) and the social struggles
represented by the antagonistic interests of the various social groups
representing these subjects in various spaces, making it possible to
elucidate what it generates social conflicts in the Brazilian field, as well
as processes of exclusion or concentration based on the social position
of each of the actors. Therefore, this work demonstrates that in the
Brazilian countryside, as well as in the urban environment, the country
lives with abysmal social inequality. This is what we see when we
analyze the increase in land concentration in the country and the exact
correlation we find when we cross this data on land concentration in
Brazilian municipalities and some social indicators.

Key-Words: Inequality. Rural. Stratum.


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SUMÁRIO

· INTRODUÇÃO..................................................................................... 05

· MÉTODO............................................................................................. 08

· RESULTADOS.................................................................................... 10

· DISCUSSÃO........................................................................................ 21

· CONCLUSÕES.................................................................................... 24

· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 25

· ANEXOS.............................................................................................. 29
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INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

Introdução

O tema da desigualdade social no país suscita vários debates em diversos


meios envolvendo posições intelectuais e políticas diversas. Dentre estes meios,
destacam-se os meios acadêmicos protagonizados, principalmente, pelos
economistas e sociólogos com bases em pesquisas que tem levado em conta
diferentes fontes e perspectivas de análises também distintas. Destaca-se o Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) como órgão que tem permeado
pesquisadores que se destacam nestes estudos, além da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) que também tem publicado muito neste campo, assim como a OXFAM.
Podemos citar ainda pesquisadores como: Jessé Souza, Marcelo Neri, Pedro
Herculano Guimarães Ferreira de Souza, Marcelo Medeiros, Marcio Pochmann,
dentre outros que tem se destacado em apontar várias possibilidades de se fazer
esta análise da desigualdade e das classes sociais no Brasil. Fato é que o país se
destaca negativamente entre a distância enorme dos mais ricos no topo da pirâmide
e o resto da população (10% mais ricos concentram mais de 50% da renda
nacional), independentemente em qual metodologia ou enfoque que se analise esta
questão, além de ser o segundo do mundo em termos de desigualdade (à frente
apenas do Qatar) se considerar os 1% mais ricos.
Fica-se evidente que as sociedades modernas se caracterizam pelas
desigualdades já que, no mundo, segundo a OXFAM (2020), em 2019, os bilionários
do mundo que são apenas 2.153 indivíduos, detinham mais riqueza do que 4,6
bilhões de pessoas. Thomas Piketty (2014) e sua equipe acabaram por demonstrar
e popularizar com dados a imensa desigualdade global que nos aflige neste século.
Porém, em conjunto com outros pesquisadores, consideramos o sociólogo Jessé
Souza, em que pese os questionamentos metodológicos que o mesmo tem recebido
o devido ao seu posicionamento político, como um dos estudiosos, críticos e
criativos neste tipo de análise, indo além das estatísticas como declaração de
imposto de renda (IR) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
para as pesquisas de campo com entrevistas e sistematizações destas, levando
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também em consideração as contribuições que o mesmo incorpora de autores como


Webber, Bourdieu e Habermas. Estas pesquisas de Jessé Souza e seus grupos de
pesquisa tem resultado em diversos livros dando ao autor uma imensa visibilidade e
autoridade quando se fala em desigualdade e classe social no Brasil. O destaque e
a inovação que o mesmo traz refere-se à crítica da classe social baseada de forma
estrita na renda como é feito por alguns autores. Assim o que se tem costumado
chamar classe de renda (em faixas que vão de A à E), além da tão proclamada
ascensão das classes, Jessé vai classifica-las como classes de excluídos e
marginalizados que formariam a “ralé”, a nova classe trabalhadora, a classe média
das mais diversas frações e, por último a elite ou endinheirados.
Por outro lado, a sociologia rural, dentre outras importantes contribuições,
sobretudo da geografia, tem se destacado em apontar as desigualdades no campo
brasileiro, principalmente em relação ao acesso a terra, já que, quando se fala em
desigualdade a tendência hegemônica é partir por um lado para a questão de renda
que dispõe de uma maior sistematização como também aos problemas urbanos
onde é quase automático imaginar a paisagem da periferia do lado das mansões nas
grandes capitais. Porém, partindo do estudo dos atores/sujeitos do meio rural e a
conformação destes em movimentos sociais diversos e suas ações, este campo de
estudo contribui para um entendimento mais aprofundado do campo brasileiro e o
seu desenvolvimento ao longo dos anos, principalmente a partir de meados do
século XX.
Dentre estes autores da sociologia rural, destacamos o sociólogo José de
Souza Martins que afasta o aspecto das análises que enfocavam apenas como
messiânicos os conflitos sociais e, principalmente os sujeitos sociais e seus
movimentos no rural brasileiro. Desde então, movimentos sociais dos sujeitos do
meio rural (cabe aqui uma interpretação que não leve em conta apenas os
movimentos populares, mas também os patronais) têm sido investigados dando
mais elementos para entender a dinâmica deste setor. Ligas camponesas, União
Democrática Ruralista (UDR) e, mais recentemente, o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR’s), os
movimentos indígenas, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
dentre outros, protagonizam lutas em vários âmbitos na representação de suas
“bases”. Portanto, as lutas por reforma agrária, lutas pela aposentadoria rural, lutas
por demarcação de terras indígenas e quilombolas, luta por uma educação do
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campo, luta por regularização fundiária, luta contra os agrotóxicos, e muitas outras,
estão na agenda do que podemos chamar de “pobres do campo”. Enquanto, por
outro lado, a luta pela manutenção das propriedades, luta contra a realização da
reforma agrária, luta por revisão de terras indígenas e quilombolas já demarcados,
luta pela desregulamentação do trabalho rural, luta por aprovação de uso de novos
agrotóxicos e transgênicos, lutas por representação política no legislativo e
executivo, tem ocupado os setores “mais elitizados do campo”.
Portanto esta pesquisa objetivou pensar a desigualdade no rural brasileiro
com base em ao menos três diferentes perspectivas: 1ª a questão dos dados
quantitativos de renda desta desigualdade expressos por amplas pesquisas de
órgãos como o IBGE e IPEA e nas várias análises que se partem destes dados; 2º a
questão dos dados da desigualdade fundiária expressa, sobretudo, também nos
dados dos censos agropecuários do IBGE e no acervo fundiário do INCRA e, por
último em 3º a questão dos sujeitos sociais em si, os conflitos, e suas várias formas
de organização na luta pela posse ou manutenção destes recursos, sobretudo a
terra, no rural brasileiro. Além destas três questões principais enfocaremos ainda
nas análises que buscam radicalizar mais estas análises com a conformação de
classes sociais não estritas apenas a renda em si, como o faz Jessé de Souza, bem
como autores que buscam na teoria marxista uma análise crítica das contradições
estruturais destas classes sociais no rural brasileiro através do seu sistema
produtivo.
Assim, com este trabalho, buscaram-se mais similaridades e permanência
neste rural brasileiro mesmo reconhecendo a diferença que marca as diversas
regiões, histórias e contextos deste país multicultural e diverso. Posto isso, as
hipóteses que animam este trabalho são desvelar questões como: Qual a situação
da desigualdade no interior do rural brasileiro? Quem são estes sujeitos e
organizações em luta pela posse e manutenção da terra? Como podemos pensar
uma classificação social que contemple a diversidade do rural sem perder de vista o
que é mais regular e permanente na nossa estrutura fundiária e social? São
perguntas que se justificam em importância de serem respondidas já que poderão
nos colocar a pensar também na desigualdade social do país a partir do rural dentro
das suas próprias contradições e conflitos históricos além de relacionar com a
desigualdade social que nos abate também no urbano, bem como nos dar luz sobre
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o que mobiliza tais sujeitos, sua interface com a terra na sua ação social e coletiva
enquanto lutam pela sua perpetuação no devir.

Método

A pesquisa utilizou-se de métodos diversos buscando uma maior


compreensão do tema que se propôs que foi uma análise da desigualdade social do
meio rural do país e em que medida estas desigualdades tem colocado em conflitos
grupos sociais. Os métodos envolveram, sobretudo, pesquisa em fontes secundárias
e foram articulados em duas dimensões: pesquisa bibliográfica e documental e
análise de estatísticas oficiais. O levantamento bibliográfico sobre o tema buscou
acessar com maior capacidade e aprofundamento a questão teórico-metodológica
sobre os alcances e limites dos objetivos elencados. Buscamos ainda trabalhos de
grupos de pesquisa, artigos científicos, bem como dissertações e teses que vem
analisando estas informações coletadas buscando entender como o fazem e quais
suas conclusões. Com isso, identificamos também o trabalho seminal, se
referenciando nestes dados, que fazem instituições como OXFAM Brasil e
IMAFLORA.
Foram feitas também coleta dos dados nas bases oficiais das instituições
como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) e sua análise através de ferramentas como o Excel, o Statistical Package
for the Social Sciences (SPSS) e o QGIS com o suporte de quem já vem fazendo
isso, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), OXFAM e IMAFLORA, permitiu
elucidar melhor através de tabelas e mapas as análises das desigualdades sociais
no rural Brasileiro.
A pesquisa coletou informações dos Censos Agropecuários, bem como de
municípios e estados brasileiros do IBGE, tanto planilhas para dados estatísticos
quanto arquivos do formato Shapefiles do INCRA para dados geográficos.
Coletaram-se ainda dados do IPEA, focando nos dados que nos ajudassem a
analisar o rural brasileiro a partir de indicadores sociais, como os do Índice de
Desenvolvimento Humano, bem como de Vulnerabilidade Social dos municípios do
país. Com base nos dados do IPEA e do IBGE fizemos alguns cruzamentos de
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informações de concentração fundiária com base no GINI com outros indicadores


sociais. Com os dados do acervo fundiário do INCRA acessamos ainda as
propriedades rurais do país buscando identificar as maiores e quanto da terra as
mesmas ocupam em relação às menores propriedades. Utilizamos, para fazer estas
análises destes dados coletados, o Excel, o SPSS e o QGIZ.
Inicialmente, a pesquisa teria dentre seus métodos, depois do levantamento
de dados oficiais de órgãos e de algumas organizações, a entrevista de sujeitos que
fazem parte das organizações da diferentes “classes” do rural brasileiro, bem como
a participação em eventos destas organizações. Porém, não houve tempo hábil de
definir melhor nem de entrar em contato com estes representantes, assim optou-se
por não mais fazer pesquisa diretamente com estes sujeitos, mas somente através
dos documentos, referências bibliográficas, além dos dados oficiais de organizações
que pesquisam neste campo.
Entretanto, metodologicamente, achamos importante localizar-me no espaço
e no tempo, enfim mostrar o lugar social que ocupo trazendo como minhas
experiências distintas podem explicitar minimamente minhas perspectivas. Faço
isso, mostro meu lugar de fala, por uma postura ética. Sou um jovem filho de
camponeses de uma pequena cidade da região Norte do estado de Minas Gerais,
Porteirinha. Meus pais continuam a sobreviver ali, a partir de um pequeno comércio
na comunidade onde vivem, além da produção em uma área de menos de dois
hectares de terra. Saio de lá no ano de 2008 para estudar e trabalhar na maior
cidade da região, Montes Claros. Simultaneamente e posteriormente aos estudos
me envolvo em trabalhos com uma grande diversidade de sujeitos sociais
articulados por movimentos sociais rurais, associações, pastorais, sindicatos e
ONG's de luta pela terra e por melhores condições de vida no campo a partir da
economia solidária e da agroecologia, principalmente.
Neste contexto de vida, da minha atuação profissional, fui bastante impactado
com situação dos trabalhadores quando morei e trabalhei em uma cidade à beira do
Rio São Francisco, Matias Cardoso. Nesta região, apesar de se encontrar o maior
projeto de irrigação da América Latina (Projeto Jaíba), existe uma grande população
a margem da terra e da água. Todo dia, observava, antes do início dos primeiros
raios de sol, inúmeros trabalhadores rumarem em direção a este projeto de irrigação
de frutíferas levando suas refeições e retornando somente no final do dia suas casas
na cidade que morava e outra depois do rio, Manga, que só se chegava através de
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uma balsa que partir de hora em hora. Ainda posso também, ainda hoje, puxar na
minha memória quando em certos períodos partiam-se inúmeros ônibus da minha
pequena cidade com trabalhadores, inclusive alguns primos meus, para trabalhos
temporários no corte de cana em São Paulo e na colheita do café também neste
estado e no sul de Minas Gerais.
Posteriormente ao fim das políticas sociais federais de assistência técnica e
extensão rural depois do impedimento da presidente Dilma Roussef em 2016, onde
fui demitido, iniciei uma trajetória de formação e atuação no indigenismo.
Atualmente, resido em Brasília, trabalho com povos indígenas do Mato Grosso de
recente contato através de ONG's indigenistas e associações dos próprios povos e,
simultaneamente, faço uma licenciatura em sociologia através da Universidade
Paulista. São muitas as vezes que, nas viagens que faço de ida e volta de Brasília a
Mato Grosso, quando essas são feitas de ônibus interurbano que, somente eu, não
sou um trabalhador maranhense que migrou para trabalhar na cultura do algodão no
leste do Mato Grosso.

Resultados

A apresentação da realidade social do meio rural brasileiro através de uma


análise da sua desigualdade (econômica, social, política, cultural e territorial) e das
lutas sociais representadas pelos interesses antagônicos dos vários grupos sociais
representativos destes sujeitos em vários espaços, possibilitando elucidar o que
gera conflitos sociais no campo brasileiro, assim como funciona os processos de
exclusão ou e concentração com base na posição social de cada um dos atores,
esta era a ideia da nossa pesquisa, porém, há de se convergir que retratar a
realidade dos sujeitos sociais do rural brasileiro é uma tarefa hercúlea. O Brasil não
é para principiantes! Já dizia Antônio Carlos Tom Jobim e levado à luz da
interpretação de análise sociológica e antropológica por Roberto da Matta (1979). Se
aventurar nesta tarefa, portanto, parte do pressuposto da necessidade de se fazer
recortes de temas, porém, incorreríamos ainda no risco extrapolar a escala de
análise tendo em vista a visível e flagrante complexidade das diferenças de um
canto a outro deste país continental.
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Antes de avançarmos para análises atuais da desigualdade no rural brasileiro,


cabe um pequeno adentro na história da nossa estrutura social. Para iniciar,
rememoraremos a estrutura social do Brasil colônia (antes de 1889). Jessé Souza
(2018) diz que neste período “além do latifundiário, que a tudo preside e a tudo
comanda, só existem escravos e agregados dependentes” (2018, p. 70). Portanto,
baseado na escravidão e, sobretudo em uma forte economia açucareira, não é muito
polêmico se fazermos o seguinte retrato de análise de classe social deste período:
senhores de engenho e de terras, homens livres (ferreiros, carpinteiros, capatazes) e
escravos. Portanto, a terra estava organizada em capitanias hereditárias e em
alguns poucos homens livres que se agregavam a estes grandes proprietários de
terra. Segundo Martins (1986, p. 3), no Brasil inventou-se “a fórmula simples da
coerção laboral do homem livre: se a terra fosse livre, o trabalho tinha que ser
escravo; se o trabalho fosse livre, a terra tinha que ser escrava”. A terra viraria
escrava quando da promulgação da lei de terras de onde o Estado brasileiro
abdicou da terra em nome de particulares que conseguissem comprovar sua
posse por título ou compra.
Esta estrutura social era mais ou menos fixa durante este período histórico,
sendo que os homens livres tendiam a se associar, pela sua condição de
dependência, aos senhores de engenho e de terras e estes se mantinham apenas
como “sócios menores da burguesia europeia”, portanto, sem nenhum “interesse
nacional” (Quijano, 1998, p. 135). Na obra, “Homens livres na ordem escravocrata”
(1997), Maria Sylvia de Carvalho Franco traz a situação dos brasileiros que não
eram escravos, nem senhores de terra no século XIX. Estes sujeitos sociais eram
livres formalmente, porém dependentes simbólica e materialmente, sobretudo dos
senhores de terra. Segundo a autora, este contingente de quase 70% do total da
população nesta época não encontrava espaço no sistema produtivo principal.
Assim, surge no Brasil, a figura do “agregado”, sendo intermediário entre os
proprietários e os despossuídos. Posteriormente ao fim formal da escravidão no
Brasil em 1989, Clóvis Moura (1983), informa que esta classe de senhores de
engenho, escravos e terra se conformou em latifundiários estabelecendo ainda
diversos mecanismos repressivos, ideológicos, econômicos e culturais para controlar
uma iminente luta de classes advindas dessas camadas de ex-escravos e acomodá-
los em grandes espaços marginais de uma economia de capitalismo dependente.
Depreende-se então que a partir deste momento, as estruturas sociais começam a
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se complexificar mais, visto o grande número de imigrantes advindos da Europa que


começam adentrar no país. Neste período, é criado o Partido Comunista Brasileiro
(1922) que, apesar de tardiamente, se volta para a questão agrária. Neste contexto
que a denominação, segundo Martins (1981), “importada” de “camponês”, passa a
ser usada sistematicamente para se tratar os sujeitos sociais mais pobres do campo
e é nominado o latifúndio como seu inimigo de classe. Martins (1981), Abramovay
(1992), Medeiros (1998), Novaes (1987), Palmeiras (1989). Neste processo, a
grande diversidade de situações no campo se unifica na luta pela reforma agrária.
(Medeiros, 1995).
Porém, esta luta por reforma agrária, que unificaria estes sujeitos sociais em
movimentos como as Ligas Camponesas, viria a ser totalmente desmobilizada com
o golpe militar de 1964 que enxergava em qualquer mobilização uma ameaça
comunista. (Starling, 1986). Ainda neste período da ditadura militar, Palmeiras
(1989) identifica o surgimento da genérica categoria “trabalhador rural” e “inculcá-lo
em suas bases, adotando-o como um termo "naturalmente" genérico para unir todos
os que vivem do trabalho da terra” (1989, p. 17). Graziano da Silva (1992) vai
chamar as transformações no rural brasileiro durante a ditadura militar de
“modernização desigual” ou a “modernização conservadora”, já que a mesma
mantém tutelados os processos de reforma agrária e representação dos
trabalhadores do campo, acentuando a concentração. Porém, o Estatuto da Terra,
ao menos vai nomear claramente como latifúndio as grandes propriedades. Neste
período a população urbana ultrapassa a população rural de forma, até então,
irreversível.
A antropóloga Margarida Maria Moura em “Os deserdados da terra” (1988) vai
à procura de práticas sociais e saberes produtivos singulares ao que ela chamava
modo de vida camponês, os registra e descreve mesmo diante relações capitalistas
de produção. Neste estudo detalhado, são estudadas as formas de desqualificação
por meio da incorporação das relações camponesas aos mercados de trabalho
capitalistas, que vão violentamente assalariá-los. Esta retrospectiva demonstra como
complexa é a questão das denominações e dos conflitos que permeava estes
processos sem contar com as denominações adotadas subsequentes como
“agricultor familiar” e “sem terra” todas permeadas por um processo de mediação de
diversas organizações que são criadas a partir de contradições estruturais.
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Feito esta introdução, seguindo os procedimentos descritos no método e indo


para análise da atualidade, a pesquisa retomou uma flagrante desigualdade social
entre a população rural do país, além de, em relação proporcional da totalidade da
população brasileira um imenso contingente de pessoas pobres, extremamente
pobres, bem como vulneráveis a entrar na pobreza entre esta população que vive no
campo. Esta desigualdade é expressa nos mais diversos indicadores sociais
analisados. No Brasil, segundo o último censo populacional realizado (2010), havia
30,7 milhões de pessoas no rural, destas aproximadamente 54%, ou seja, 16,5
milhões são pobres (renda familiar per capita mensal de até 0,5 salários) e 8,1
milhões de pessoas estão ainda na extrema pobreza (renda familiar per capita de
até 0,25 salários mínimos). (PNAD/IBGE, 2009). Portanto, mesmo com somente
15% (de acordo com o último censo demográfico realizado em 2010) de toda a
população brasileira, o rural concentra quase metade de toda a população nesta
situação de extrema pobreza. Isso inclusive vai em direção ao que acontece no resto
do mundo onde vive ¾ da população miserável de acordo com Henry Bernstein
(2011).
Para ampliar esta análise, utilizamos ainda os dados do estudo da FGV que
foram baseados, sobretudo nos critérios da renda da população rural, atualizando e
interpretando os dados do Censo Agropecuário de 2006 e na Pesquisa Nacional por
Amostras dos Domicílios (PNAD/2009). Neste retrato, identificaram 70,4% como
pertencentes a classe D/E, 15,4% das propriedades como pertencentes a classe C,
e, apenas 5,8% pertencentes a classe A/B. Portanto, a concentração de renda é
muito alta entre estes proprietários rurais segundo este critério.
Outros aspecto que percebemos com os dados levantados se refere a outra
concentração que é a fundiária, para isso, trazemos para o debate os dados do mais
novo Censo Agropecuário realizado entre os anos de 2016 e 2017. Em relação à
concentração fundiária, apesar de todas as críticas que recebe já que calcula
somente quem tem terra, o melhor índice para determina-la segue sendo o
coeficiente de GINI. Quanto mais perto de 1 maior é a concentração, estando o
Brasil em 0,867 neste último censo agropecuário realizado. A série histórica mostra
ainda um Brasil com um aumento gradual desta concentração.
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Índice GINI
0.8680
0.8660 0.867
0.865
0.8640
gini
0.8620
0.8600
0.8580 0.859
0.858
0.8560
0.8540
0.8520
Elaboração do autor com dados dos Censos
Agropecuários do IBGE (1985, 1995/96, 2006 e 2017).

De acordo com o último Censo Agropecuário de 2017, 1% das propriedades


agrícolas ocupa quase metade das áreas rurais do país. São 51.203 propriedades
com mais de mil hectares que representam 1% das 5.073.324 propriedades
existentes que ocupam 47,6% da área rural dos 333,6 milhões de hectares da área
total, sendo que no censo agropecuário de 2006 esta participação era de 45%. Por
outro lado, as pequenas propriedades rurais, igual ou abaixo de 10 hectares ocupam
somente 2,3% da área rural. Portanto, mesmo com o aumento da área utilizada,
houve uma redução no número de propriedades que indica o aumento da
concentração fundiária. Se pegarmos os dados do censo agropecuário 2017, o
mesmo informa que existem no Brasil 2.434 propriedades que ocupam 51.284.196
hectares.
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Ainda, de posse dos dados do acervo fundiário do INCRA (SIGEF/SNCI),


identificamos as maiores propriedades particulares fundiárias do país. No mapa 1
acima, para melhor visualização e comparação, colocamos os municípios com GINI
Fundiário maior que a média nacional. Fizemos ainda um filtro das propriedades
particulares acima de 10 mil hectares. Com este filtro, encontramos 1669
propriedades privadas destacadas no mapa acima. Percebe-se que, sobretudo, nas
regiões centro-oeste, norte e nordeste do país estão os municípios com maior
concentração de terras e as maiores propriedades. Destaque também para a
concentração de grandes propriedades na região nordeste do Mato Grosso do Sul e
sul e nordeste do Mato Grosso. O Mato Grosso é o estado que tem mais
propriedades acima de 10 mil hectares, com 868 fazendas. Em segundo lugar, o
estado vizinho, Mato Grosso do Sul, concentra 341. O Pará, em terceiro lugar, tem
188 estabelecimentos rurais com 10 mil hectares ou mais. Bahia, Minas Gerais e
São Paulo detêm mais de 100 propriedades com mais de 10 mil hectares. De posse
destas informações, calculamos que somente estas imensas propriedades ocupam
uma área de mais de 38 milhões de hectares. Portanto, este número significa que
cerca de apenas 0,03% proprietários rurais do país, possuem 10% do total das
terras particulares.
Dentre estas grandes propriedades, identificamos abaixo as 20 maiores, sua
área e o seu proprietário.

Tamanho da
Nome da área Município/Estado Proprietário
Área
Gleba Santa Rosa do Aplub Agrofloresta Amazônia
903.530,7910 Carauari/AM
Tenquê S.A.
Fazenda Mata Mata 501.005,2647 Nova Aripuanã/AM Luiz Ernesto Pereira Taranto
Boa Fé 435.430,9306 AM Não identificado
Fazenda Serra Grande 306.303,6175 Pilão Arcado/BA Agroimóveis LTDA
Fazenda Luna III 281.343,4609 Manicoré/AM Mabral Indústria e Comércio Ltda
Mapel - Marochi Agricultura e
Fazenda São João 163.236,4219 Jacareacanga/PA
Pecuária Ltda
Fazenda Mata Mata II 153.989,4547 Nova Aripuanã/AM Transmaranata Transportes Ltda
Gleba Paranacre - Parte Radan Administração e
149.328,0008 Tarauacá/AC
A Participações Ltda
Fazenda Roncador 147.216,8899 Querência/MT Grupo Roncador
Porto Alegre do
Fazenda Rio Preto 141.813,4601 Romão Ribeiro Flor
Norte/MT
Fazenda Novo Macapá 137.190,2080 Pauini/AM Batisflor Florestal Ltda
Fazenda Nossa Senhora 133.107,4146 Lábrea/AM Dr. Ricardo Stoppe Júnior
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das Cachoeiras do Ituxi


Santo Antônio da Jari Celulose Papel e
124.742,9407 Almeirim/PA
Cachoeira / Parte 1 Embalagens S.A.
Santo Antônio da Jari Celulose Papel e
122.186,4241 Laranjal do Jari/AP
Cachoeira / Parte 1 Embalagens S.A.
Fazenda Luna II /
115.368,8786 Beruri/AM Mabral Indústria E Comercio Ltda
Castanho
Imóvel Marary Parte I 109.345,0896 Tapauá/AM Mario Jorge Medeiros De Moraes

Fazenda Santa Sílvia 109.941,1736 Cocalinho/MT Agropecuária Santa Silvia S/A


Fazenda Canaã 108.239,1343 Manicoré/AM Gilce Nerli Luvison
Fazenda Santa Santa
108.443,0741 Daniel de Paiva Abreu
Terezinha Terezinha/MT
Santo Antônio do Paraiso 102.972,0274 Itiquira/MT Agropecuária Rio da Areia Ltda
Fonte: Acervo Fundiário do INCRA (SIGEF e SNCI), Maio de 2020.

Como se vê na tabela acima todas estas propriedades tem acima de absurdos 100
mil hectares. Para termos uma ideia do tamanho dessas áreas, a cidade do Rio de
Janeiro tem 125,5 mil hectares. Isso demonstra como está aumentando não
somente a concentração fundiária, mas também os “superlatinfúndios”,
principalmente na região de fronteira, como afirmou o professor Acácio Zuniga Leite
comentando os resultados do Censo Agropecuário de 2017. Outro fato a observar
nestes dados são que quase a totalidade destas grandes propriedades listadas se
encontram nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, tendo como exceção apenas
uma fazenda na região Nordeste, especificamente no estado da Bahia. Quanto às
unidades da federação, Amazonas e Mato Grosso se destacam, sendo que 50%
(10) se encontram no primeiro e 25% (5) no segundo. Assim podemos observar um
processo de “pejotização” das propriedades, ou seja, a maioria destas grandes
propriedades está em nome de pessoas jurídicas. Na nossa pesquisa, descobrimos
também no acervo fundiário do INCRA empresas que detém por todo o Brasil várias
terras registradas como a Jari Celulose que contém aproximadamente 1,5 milhões
de hectares, ou ainda a Vale S.A. que, detém no Brasil, segundo documento oficial
da própria empresa um montante de mais de 4 milhões de hectares em concessões
de terras, licenças e pedidos de exploração. Existe ainda o relatório da organização
Grain que apontou que no Brasil, vinte grupos estrangeiros (grandes corporações e
fundos) detêm aproximadamente três milhões de hectares de terras. Ou seja, a
maioria das terras do Brasil não é ocupada produtivamente por quem nela vive e
trabalha de verdade, esta que é uma bandeira histórica dos movimentos de luta pela
terra no Brasil.
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Estes dados apresentados são representativos da desigualdade do acesso a


terra no país, porém ainda estamos no escuro quanto a totalidade das terras do
país, seus usos e proprietários. O IMAFLORA, no Atlas da Agropecuária Brasileira,
trouxe esta conclusão já que não há dados de propriedade de um sexto do território
nacional. Há ainda imprecisão em dados de 354 milhões de hectares. Segundo o
IMAFLORA, existem ainda no país 176 milhões de hectares de propriedades
privadas dentro de áreas públicas.
Apresentando assim de forma separada não se vê de forma clara uma
relação entre desigualdade social e concentração fundiária, porém com este
cruzamento realizado encontramos uma assustadora correspondência entre piores
indicadores sociais entre os municípios com maior concentração fundiária. Como
apresentamos, o índice GINI fundiário mede a desigualdade entre os proprietários
de terra. O Brasil é um país considerado com índice de GINI alto, porém buscamos
observar os dados de GINI fundiários dos municípios do país e demais indicadores
sociais do Atlas do Desenvolvimento Humano sistematizado pelo IPEA. O que
encontramos é que são nos municípios com maior concentração fundiária que se
têm os piores indicadores sociais, sendo raras as exceções.
Para uma maior acuidade da nossa afirmação da relação entre maior
concentração fundiária com piores indicadores sociais dos municípios brasileiros,
apresentamos abaixo uma série de gráficos onde dividimos em três a totalidade dos
municípios brasileiros de acordo com o seu GINI fundiário. Assim, identificamos os
1/3 com GINI fundiário mais alto, os 1/3 com GINI fundiário intermediário e, por fim,
os 1/3 com menor GINI fundiário. Depois cruzamos estes dados com os seguintes
indicadores sociais condensados pelo Atlas do Desenvolvimento humano
organizado pelo IPEA: vulnerabilidade social, expectativa de vida, GINI da renda, %
de extremamente pobres, % de pobres, % da renda apropriada pelos 10% mais
ricos. Para classificar estes indicadores, utilizamos a mesma metodologia que
usamos em relação ao GINI Fundiário, excetuando a vulnerabilidade social que tem
uma própria classificação oficialmente adotada pelo IPEA.

Tabela 1 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação de


vulnerabilidade social (2010) dos Municípios do Brasil

GINI Fundiário Vulnerabilidade Social municipal (2010)


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municipal (2017) Muito Baixa Média Alta Muito


baixa alta
1/3 mais alto 20,5% 26,0% 34,7% 39,6% 46,6%
1/3 intermediário 26,8% 34,4% 35,1% 35,2% 30,3%
1/3 mais baixo 52,4% 39,2% 29,9% 25,2% 23,2%
Não têm dados 0,3% 0,4% 0,3% 0% 0%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Elaboração do autor, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017)
e do Atlas do Desenvolvimento Humano do IPEA (2010).

Na primeira tabela acima, como foi informado, o próprio IPEA faz uma
classificação de vulnerabilidade social dos municípios. Esta classificação é feita com
base em 16 indicadores sociais com base em três dimensões: Infraestrutura urbana
(saneamento básico, coleta de lixo, mobilidade, etc), capital humano (mortalidade
infantil, escolaridade, trabalho, etc) e renda e trabalho (ocupação, trabalho infantil,
renda per capita, etc). Assim, o IPEA definiu uma escala de 0 a 1, onde os
municípios de 0 até 0,200 são considerados com uma vulnerabilidade social “muito
baixa”, de 0,200 até 0,300 “baixa”, de 0,300 até 0,400 “média”, de 0,400 até 0,500
“alta” e, por último de 0,500 até 1 são considerados com uma vulnerabilidade social
“muito alta”. No nosso cruzamento destas informações com o Gini Fundiários dos
municípios brasileiros encontramos uma clara relação entre maior GINI menor
vulnerabilidade social (46,6%). Portanto, quanto mais concentrado a terra maior é a
vulnerabilidade social encontrada. E o contrário pode ser observado quando vemos
que os municípios brasileiros com menor concentração fundiária, ou seja, menor
GINI são em sua maioria os que têm menor vulnerabilidade social. (52,4%)

Tabela 2 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação


da Expectativa de vida (2010) dos municípios do Brasil

GINI Fundiário Classificação Expectativa de vida (2010)


municipal (2017) 1/3 mais alto 1/3 intermediário 1/3 mais baixo
1/3 mais alto 23,2% 33,0% 43,5%
1/3 intermediário 31,2% 36,0% 32,7%
1/3 mais baixo 45,1% 30,9% 23,8%
Não têm dados 0,5% 0,2% 0%
Total 100% 100% 100%
Elaboração do autor, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017)
e do Atlas do Desenvolvimento Humano do IPEA (2010).

Nesta segunda tabela, observamos agora a correspondência entre


concentração fundiária e a expectava de vida. Depois de classificarmos os
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municípios de acordo com a expectativa de vida em três (1/3 mais alta, 1/3
intermediária e 1/3 mais baixa), a correspondência encontrada foi que nos 1/3 com
maior concentração fundiária a expectativa de vida é menor (43,5%), e nos 1/3
menos concentrados a expectativa de vida sobe de forma vertiginosa (45,1%).
Tabela 3 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação
GINI renda (2010) dos municípios do Brasil

GINI Fundiário Classificação GINI renda (2010)


municipal 1/3 mais alto 1/3 intermediário 1/3 mais baixo
(2017)
1/3 mais alto 42,2% 31,2% 26,4%
1/3 intermediário 33,4% 36,3% 30,1%
1/3 mais baixo 24,3% 32,2% 43,3%
Não têm dados 0,2% 0,3% 0,2%
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Elaboração do autor, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017)
e do Atlas do Desenvolvimento Humano do IPEA (2010).

Na terceira tabela acima, observa-se a relação entre concentração fundiária e


a desigualdade de renda das pessoas nos municípios. Novamente, a desigualdade
expressa na questão fundiária corresponde à desigualdade quando se considerada
a renda das pessoas nos municípios. Nos 1/3 dos municípios com maior GINI
fundiário, ou seja, onde a terra é mais concentrada estão os 42,2% dos municípios
com maior GINI da renda, ou seja, onde a renda é mais concentrada. Já nos
municípios com menor concentração de terra, encontram-se também os 43,3% com
menor concentração de renda.
Tabela 4 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação
% extremamente pobres (2010) dos municípios do Brasil

GINI Fundiário Classificação % extremamente pobres (2010)


municipal (2017) 1/3 mais alto 1/3 intermediário 1/3 mais baixo
1/3 mais alto 42,3% 31,7% 25,7%
1/3 intermediário 33,4% 35,5% 31,0%
1/3 mais baixo 24,3% 32,8% 42,6%
Não têm dados 0,0% 0,1% 0,6%
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Elaboração do autor, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017)
e do Atlas do Desenvolvimento Humano do IPEA (2010).

Na quarta tabela fica exposta também a correlação entre concentração


fundiária e os municípios com maior porcentagem da população extremamente
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pobre. Nos 1/3 dos municípios com maior GINI fundiário, ou seja, onde a terra é
mais concentrada, estão os 42,3% dos municípios com o maior número de pessoas
extremamente pobres percentualmente. Já, nos municípios com menor
concentração fundiária, estão também os municípios que apresentam
percentualmente menor número de pessoas extremamente pobres. (42,6%).

Tabela 5 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação de


% pobres (2010) dos municípios do Brasil

GINI Fundiário Classificação de % pobres (2010)


municipal (2017) 1/3 mais alto 1/3 intermediário 1/3 mais baixo
1/3 mais alto 43,6% 30,1% 26,0%
1/3 intermediário 33,3% 35,5% 31,1%
1/3 mais baixo 23,1% 34,3% 42,3%
Não têm dados 0,0% 0,1% 0,6%
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Elaboração do autor, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017)
e do Atlas do Desenvolvimento Humano do IPEA (2010).

Continuando a nossa observação e análise dos dados levantados e


sistematizados, na quinta tabela apresentamos a relação entre a concentração
fundiária nos municípios do país e a porcentagem da população pobre destes
municípios. Nos municípios onde a terra é mais concentrada encontra-se também os
que têm maior porcentagem de população na pobreza (43,6%) Por outro lado, onde
a terra é menos concentrada, estão os municípios com menor percentual da
população nesta condição (42,3%).

Tabela 7 - Classificação GINI Fundiário (2017) x Classificação de % da renda


apropriada pelos 10% mais ricos (2010) dos municípios do Brasil

GINI Fundiário Classificação de % da renda apropriada pelos 10%


municipal (2017)
mais ricos
1/3 mais alto 1/3 intermediário 1/3 mais baixo
1/3 mais alto 38,6% 32,4% 28,7%
1/3 intermediário 34,7% 34,0% 31,2%
1/3 mais baixo 26,5% 33,3% 39,9%
Não têm dados 0,2% 0,3% 0,2%
Total 100,0% 100,0% 100,0%
Elaboração do autor, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE (2017)
e do Atlas do Desenvolvimento Humano do IPEA (2010).
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E, por último, trazemos na tabela acima um dado que é muito utilizado para
medir a concentração de renda que é a porcentagem do total da renda das pessoas
apropriada pelos 10% mais ricos. Neste caso, como nos outros acima, o recorte
espacial são os municípios brasileiros. Nos 1/3 dos municípios com maior
porcentagem desta apropriação da renda pelos 10% mais ricos está também o maior
contingente de municípios com maior concentração fundiária (38,6%). Já, o contrário
também é verdade, ou seja, nos municípios onde a renda apropriada pelos 10%
mais ricos da população está os também os que têm menor concentração fundiária
(39,9 %).
Portanto, pode-se concluir que a desigualdade social no rural brasileiro é tão
grande ou até maior quando comparada com a desigualdade social encontrada nas
zonas urbanas. E ainda observa-se uma umbilical relação entre as desigualdades do
rural causando desigualdades no urbano nos municípios do país, sobretudo quando
se observa com o filtro da questão fundiária. Esta desigualdade social expressas na
renda e no acesso a terra são retrato de um país que se “modernizou” relegando
grande parte da sua população a situações precárias mesmo no acesso aos bens
mais básicos para sobrevivência, ficando assim quase impossível uma mudança
neste cenário de desigualdade em curto prazo, visto que esta é uma questão
histórica e que permanece ao longo dos tempos.

Discussão

Objetivou-se neste trabalho, levando em conta estes riscos de simplificações


da realidade, buscar entender e relatar com base em algumas questões mais
objetivas as desigualdades sociais que assolam historicamente este país. O nosso
recorte se deu em observar o rural brasileiro. Mas novamente se faz necessário uma
teorização que adotaremos que pode deixar mais explícito o que estamos chamando
de rural brasileiro. Que o Brasil é ocupado por mais de 210 milhões de habitantes,
isso não se discute. Como também não é passível de discussão a extensão do
mesmo que tem cerca de 851.600.00 hectares. Porém, as afirmações mais objetivas
e sem divergências praticamente se encerram aí. Este foi o ponto de partida das
nossas análises.
José Eli da Veiga apontou diversos fatores que questionam a classificação
rural/urbano no Brasil (2002). Falta de critérios para as municipalizações, câmara
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dos municípios como responsável pela classificação do seu território em urbano ou


rural visando o aumento na arrecadação de Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU), uso de um decreto lei de 1938, ainda do Estado Novo em um contexto que
urbanização e modernização eram sinônimos, onde toda área de municípios e sedes
distritais como urbanas, dentre outras explicações são o mote da crítica do autor que
seria, segundo o mesmo, menos urbano do que se calcula se usarmos como base
alguns critérios usados em outros países. (VEIGA, 2002). Enfim, no ano 2000 com
estes critérios questionáveis, segundo Veiga, a população urbana atingiu 81,2%,
sendo que em 1991 a população rural era 24,5% da população. Segundo Veiga, se
usados os critérios da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) de densidade demográfica e pressão antrópica sobre os ecossistemas a
população rural seria 30% e não os 18,8% apontados pelo IBGE no ano de 2000.
Porém, hegemonicamente na geografia este debate não ecoou tanto, e quando o foi,
partiu da negação dos argumentos de Veiga, sobretudo pelo simplismo que
acometeria às críticas do mesmo. (CARLOS, 2003). Fato é que, oficialmente no
estado através do IBGE a população Brasileira estaria divida entre 84,4% urbana e
15,6% rural (IBGE, 2010). Ao que parece estes dados permanecerão assim no
próximo censo demográfico de 2020, estagnando assim grandes mudanças nestes
percentuais observados nas últimas décadas.
Inicialmente, na introdução deste projeto de pesquisa, a desigualdade social
estava sendo lida em aspectos econômicos e sociais em uma trajetória de debates
mais recentes desta temática. É nítido como, sobretudo a partir deste século este
debate se acentuou, sobretudo a partir de uma maior capacidade dos
pesquisadores, como Thomas Pikety (2014), em sistematizar e comparar dados dos
mais diversos países bem como dar maior visibilidade a estas pesquisas. A
disponibilidade de dados públicos, mais ou menos padronizados, permitiu que se
ampliassem sobre medida estas análises iniciando também uma discussão sobre
quais dentre estas inúmeras informações são mais adequadas para entender esta
desigualdade.
Imperativo é ver qual perspectiva de análise logrou se hegemonizar e,
consequentemente, juntar em torno de si mais pesquisadores. De um lado, há
decerto uma hegemonia da desigualdade como classicamente a mesma foi tratada
por Rousseau, ou seja, como uma desigualdade não natural entre os homens mais
sim tributária do início da propriedade privada. Porém, do outro lado, há divergências
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neste campo sobre quais dados são mais reveladores desta desigualdade. No
Brasil, por exemplo, a tradição iniciada, sobretudo, por Marcelo Medeiros que
utilizava o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) foi de certa forma
superada por seu pupilo no IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Pedro
Herculano, que utilizou o imposto de renda para seu recorte de classes e análise da
desigualdade de renda.
Inicialmente, a expectativa de alcance do projeto foi superestimada em
relação às possibilidades práticas da pesquisa empírica. Há ainda possibilidades
múltiplas de interpretação sobre “classe social” do rural brasileiro que descobri, nos
vários artigos científicos que foram pesquisados. Na proposta inicial, pensava que o
que encontraria era somente esta interpretação de classe limitada, sobretudo a
renda e a colocação destas entre A e E, porém encontramos muitas análises
balizadas na teoria Webberiana que se aproxima mais do status destas classes com
base, sobretudo, nas ocupações das pessoas com base no CBO (Cadastro
Brasileiro de Ocupações) fazendo análises também partir do PNAD. Outra
contribuição neste sentido foi encontrada nas interpretações mais simplificadas de
pensar a situação em relação a terra, seja proprietário, despossuído e seu
intermediário, o arrendatário. Fato é que, cada vez mais, fomos na nossa pesquisa
nos afastando das interpretações muito fria dos dados, sobretudo de renda, pois
deixam uma lacuna muito grande entre os contextos histórico, geográfico e a
continuidade dos processos sociais excludentes. Entretanto, uma questão que nos
chamou muito a atenção é como a população da extrema pobreza do país esteja
concentrada, sobretudo na população rural, apesar desta ocupar apenas 15% da
população geral, o que, de certa forma, confirma a hipótese de maior desigualdade
no rural, apesar das críticas destes indicadores não considerarem a produção para o
próprio consumo. Há ainda críticas ao próprio conceito de classe social e sua
relevância e possibilidade de uso na atualidade permeada por lutas identitárias e
culturais.
Enfim, a pesquisa bibliográfica retomou muitas informações secundária e já
analisada sobre a questão da terra, os conflitos, a produção, enfim, uma série de
possibilidades de interpretação. Por isso, houve uma grande necessidade de definir
e seguir um rumo em relação a isso. Houve necessidade de se fazer adequações na
proposta inicial. Pensar o rural brasileiro com o recorte de classe social é realmente
desafiador tendo em vista a complexidade e a falta de objetividade deste rural. Um
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exemplo é um empresário que empreenda suas atividades econômicas no campo e


na cidade. Há ainda as realidades dos que usam o campo apenas para o lazer nos
finais de semana, enfim o debate sobe a pluriatividade. Há ainda um grande debate
onde se critica a classificação do rural e urbano, sendo ponto principal de crítica à
subestimação da população rural.
Portanto, é uma realidade muito complexa para interpretação. Um debate que
vêm sendo feito há mais tempo, e com dados mais objetivos, e que tem relação com
o objeto da pesquisa, é a concentração de terra no país. Autores, como o geógrafo
Ariovaldo Umbelino Oliveira, trazem contribuições valorosas para estes estudos com
dados sistematizados em gráficos, tabelas e mapas. Oliveira traz também muitos
estudos dos conflitos por terra que também tem interface direta com o objetivo de
pesquisa que traçamos. Destacamos ainda os dados da Comissão Pastoral da Terra
(CPT) que tem anualmente lançado um relatório dos conflitos rurais. Desde 1985,
quando estes dados começaram a ser lançados, já foram registrados 50 massacres
no campo. No último relatório recentemente lançado com dados do ano passado
(2019), A CPT identificou uma média por 3,3 conflitos por dia, principalmente por
terra e água. Estes conflitos envolveram, somente no ano passado, mais de meio
milhão de pessoas e representou um aumento de 12% em relação ao ano de 2018
nos casos de ameaças de despejo judicial, tentativas de expulsão por entes privados
e novas ocupações, sendo o maior número de ocorrências desde 2016.
Quanto à parte de análise destes sujeitos em si, inicialmente tinha-se como
expectativa condensá-los em classe a partir da ideologia, mas isso demandaria um
esforço empírico e teórico muito grande para uma iniciação científica. Por isso,
talvez, uma possibilidade que vemos em avançar na pesquisa foi essa de continuar
levantando estas análises mesmo que de forma superficial na forma de síntese em
quadros, para depois buscando similaridades e diferenças apontar alguma
contribuição a estas análises para entender o rural brasileiro sob este conceito de
classe social.
Assim, quando falamos em analisar o rural sobre a perspectiva das classes
sociais, estamos também pensando nas contradições, divergências e conflitos
sociais explicitados através da ação dos movimentos sociais (com personagens,
organizações e instituições constituintes) que representam e agrupam os diferentes
sujeitos do rural brasileiro, buscando ainda qualificar estes sujeitos a partir do
levantamento das desigualdades sociais do rural brasileiro (renda, posse e
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propriedade da terra) utilizando estatísticas oficiais de forma crítica. O próprio Marx é


deturpado quando se fala em classe social, já que o mesmo é claro quando coloca
como basilar para reflexão que a “observação empírica mostre nos fato, e sem
qualquer especulação ou mistificação, o elo existente entre a estrutura social e
política e a produção” (MARX, 1961, v. 1, p. 24).
Porém, é flagrante a mobilização social de grupos sociais no interior destes
extratos para reversão ou manutenção desta condição desigual. Em um estudo da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicado no ano de 2011 intitulado: “Superação da
pobreza e a nova classe média no campo” com base no cruzamento dos dados do
Censo Agropecuário de 2006 e a Pesquisa Nacional por amostra de domicílios
(PNAD) de 2009 analisou a questão da distribuição da renda no rural brasileiro e
demonstrou que neste recorte a desigualdade entre os mais ricos e mais pobres é
ainda maior em comparação aos estudos que analisaram a população em geral.
Porém, este estudo, assim como os criticados por Jessé Souza consideram as
classes baseados na renda e também são otimistas quanto o crescimento de uma
suposta classe média dentre as populações do meio rural brasileiro. Porém, como
apresentado na introdução desta pesquisa, a sociologia tem avançado em não
restringir as análises de classe apenas a questão da renda em si. Portanto, para se
pensar em uma análise de classe mais robusta do rural brasileiro, se faz necessário
refletir e levar em conta estes novos apontamentos para classificar as classes
sociais deste mundo rural.
Avançamos, portanto, para análises que levem em conta as contribuições de
Jessé Souza quanto à classe social com o filtro do meio rural, além de apresentar
algumas “classificações” já feitas dos sujeitos do mundo rural em classes sociais
pelo mundo e sua efetividade de aplicação no Brasil já que inspiram alguns
movimentos sociais pelo país em suas lutas, suas expectativas de transformação
social. Levando ainda em conta comparações e cruzamentos entre os diferentes
índices para se analisar as desigualdades sociais no meio rural brasileiro, tais como
GINI, PNAD e o Censo Agropecuário, fazendo cumprir um dos objetivos clássicos da
sociologia que é desvelar o que está oculto na sociedade, neste caso as
contradições sociais no seio das populações rurais brasileiras.
Com as contribuições de Jessé Souza relembramos inicialmente que “somos
os herdeiros da maior sociedade escravocrata do planeta” (2018, p. 58), portanto
esta herança não pode ser descartada das análises de classe social que seria para
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Souza (2018), antes de tudo, reprodução de privilégios, sejam eles positivos ou


negativos. Portanto, segundo este autor, seria ignorância pensar somente na renda
para inferir a classe, tratando as pessoas “como páginas em branco, sem família,
nem passado”. Jessé Souza (2018) demonstra ainda que só se conhece uma classe
social quando a relacionamos com as outras, já que estas “não existem isoladas no
mundo social, mas sempre em relações de aliança e de disputa pelos recursos
escassos com outras classes sociais.” (p. 14 e 15). Portanto, se nos limitarmos
somente na ideia de classe com base na renda omitiriamos o fato de nascermos em
uma classe, em uma estrutura social, ou outra dando estas os atributos necessários
para permanecer no mesmo grupo já que estas estruturas sociais ganham corpo
nestes sujeitos, em outras palavras “o DNA simbólico que garante e legitima a
reprodução infinita dos privilégios sociais no capitalismo”. (2018, p. 159)
Inicialmente, cabe dizer, que assim como a categoria trabalho, e por causa
dela, a dimensão de classe desempenha um papel central na perspectiva marxista já
que é “ela que permite construir a unidade a despeito das diferentes aparências que
os movimentos possam assumir e das categorias distintas que eles mobilizam”.
(Galvão, 2011, p. 123). Porém, necessário incorporar os conceitos de classe para si
e classe em si deste mesmo autor para entender quando estas desigualdades não
geram conflitos tão explícitos entre estas classes sociais. Estes conflitos sociais,
segundo Galvão (2011, p.112 e 113), “... são a manifestação de contradições
estruturais, agravadas por problemas conjunturais”. Ou ainda,
“os conflitos sociais são a manifestação de contradições estruturais,
agravadas por problemas conjunturais a depender do perfil político-
ideológico das organizações que assumem o papel de mediação da
ação dos dominados”. (Galvão, 2011, p. 112 e 113).
Buscando dar um panorama de posicionamentos destes grupos
(organizações/instituições) que tem se manifestado por diversas formas (manifestos,
documentos, ações públicas, audiências, etc) representando seus interesses de
classe nestes diferentes espaços políticos de mediação a partir dos seus
movimentos representativos, tais como movimentos sociais, sindicais,
confederações, partidos políticos, etc. Por isso, é de suma importância os novos
referenciais que olham para estas desigualdades e como estas classes sociais têm
politizado os conflitos no rural brasileiro para conhecer mais esta realidade. Neste
sentido, que bastante nos ajudou em relação ao conceito de classe social no rural
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brasileiro foi Regina Bruno (2009), que busca resumir o discurso ideológico da
“burguesia agrária” brasileira. Chamando-a ao modo marxista de dominante, Bruno
(2009) aponta a expressão desta classe social no cenário econômico, político, social
e cultural do país, apontando as seguintes entidades patronais de abrangência
nacional e várias algumas regionais. Regina Bruno (2012) aprofunda sua
interpretação identificando e analisando o movimento “sou agro” iniciado em 2011
com propagandas incessantes na grande mídia onde tenta se vender um setor
agrícola de fartura, da tecnologia sofisticada, da felicidade, da preservação
ambiental. Bruno (2012) diz que este movimento visa institucionalizar os interesses
destes grandes proprietários de terra além de querer considerar o seus interesses
como correspondentes ao interesse de toda a sociedade. Porém, Bruno finaliza que
na verdade os interesses patronais:
...reproduzem um conjunto de práticas associadas à depredação do
meio ambiente, ao uso do trabalho degradante, à violência, à
intolerância, à dificuldade de negociação e à defesa intransigente da
concentração fundiária que, inevitavelmente, vão de encontro à
linguagem da preservação do meio ambiente, do diálogo e do
respeito à pessoa. (2012, p. 24).

Quadro com organizações sociais que atuam no rural brasileiro – em mais de


um estado da federação.
Classe “dominante” no rural - Classe “dominada” no rural -
representações representações
Associação Brasileira de Agronegócio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
(Abag) Terra (MST)
Movimento Nacional dos Produtores Movimento dos Atingidos por Barragens
(MNP) (MAB)
Organização das Cooperativas Movimento dos Pequenos Agricultores
Brasileiras (OCB) (MPA)
Sociedade Rural Brasileira (SRB) Movimento de Libertação dos Sem Terra
(MLST)
União Democrática Ruralista (UDR) Liga dos Camponeses Pobres (LCP)
Confederação Nacional da Agricultura e Confederação Nacional dos Trabalhadores
Pecuária do Brasil (CNA) na Agricultura (CONTAG)
Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Federação dos Trabalhadores da
Agricultura Familiar (FETRAF)
Fonte: autoria própria com base nos estudos do DATALUTA, 2013. Org.: DALPERIO, L. C.

Ainda sobre o conceito de classe social, concordamos com Galvão (2011)


que: “as classes como força social em ação não podem ser consideradas como
meros reflexos da posição na estrutura econômica”, (2011, p. 108), ou seja, não se
pode esperar que a posição estática por si só garantisse alguma ação. Galvão
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(2011) também nos ajuda a entender a questão da ação política de uma classe
social baseada na sua posição na estrutura dizendo que:
Compreender o posicionamento de classe requer, pois, a análise das
condições materiais e da conjuntura política, do impacto da ideologia
dominante, da relação com as outras classes, para evitar afirmações
que relacionam automaticamente base social e posição política, e
também porque a situação objetiva de classe não leva
automaticamente à ação coletiva. (Galvão, 2011, p. 112).

Com isso, foge-se de um determinismo econômico e de um essencialismo


que não é histórico-dialético. Ou seja, é mais inteligente falar de uma
“multideterminação simultânea econômica, política e ideológica”. (Poulantzas apud
Galvão, 1978). Assim, “não há classe senão na relação conflitual com outras
classes” (Bensaïd apud Galvão, 2001, p.110). Porém, fugir do economicismo, não
implica cair em uma indeterminação ou relativismo absoluto. (Galvão, 2011). Galvão
(2011) aponta o operariado, a pequena burguesia, o campesinato e as classes
médias - que se distinguem quanto ao tipo de trabalho realizado, às condições em
que a força de trabalho é vendida e, no caso do produtor familiar, ao tipo de vínculo
estabelecido com a pequena propriedade. Estas análises de Galvão contrariam a
bipolarização e adotam uma multipolarização, pois, segundo esta autora:
“... a recusa do conceito de classe média dificulta a apreensão das
diferentes formas de manifestação e dos interesses específicos
defendidos pelos movimentos concretamente existentes, bem como
dificulta a compreensão dos obstáculos que cercam a construção da
unidade entre diferentes movimentos”. (Galvão, 2011, p. 111).

Assim, classe social, é um conceito chave do marxismo, quanto como o


conceito de trabalho. Mas, sobretudo, com a ascensão dos chamados novos
movimentos sociais e um referencial diferente para analisá-los (Touraine, 1985),
assim como as teorias do reconhecimento (Honneth, 2003) passaram a negar a
relevância da classe social de viés marxista na luta política. Pensar pertencimento a
classe social para estes autores seria irrelevante, já que os objetivos culturais e pós-
materialistas, como identidade, que realmente mobilizariam os sujeitos sociais em
grupos. O filósofo e teórico social Vladimir Safatle (2016), inclusive, faz um
importante panorama desta influência da teoria do reconhecimento, a partir da
década de 1990, tendo como principais influências Axel Honneth e o canadense
Charles Taylor, onde a “luta de classes foi acusada de limitar os conflitos sociais (...)
ignorando com isso dimensões morais e culturais...” (p. 223). Safatle demonstra
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ainda como esta teoria do reconhecimento foi transformando paulatinamente “as


demandas por transformação social (...) em demandas por cuidado social”. Porém, o
aspecto que unifica estes conceitos é a busca por entender os conflitos, enfim as
contradições.
Portanto, as denominações como camponês e latifundiário, agricultura familiar
e agronegócio, trabalhador rural e fazendeiro, mais do que contradições são
permeados pelo tempo histórico e pelo espaço onde estas classificações
acontecem. Isso se faz necessário pensar nas escolhas políticas e ideológicas
destes sujeitos e como estas se institucionalizam nos movimentos, sindicatos,
associações, confederações e apontam uma direção que criará quase que
necessariamente um ou mais opositores. Levando em conta as contribuições de Karl
Marx que afirmava que a luta de classes é o seu motor (2010), e Weber, que
afirmava que esta luta era uma das manifestações para a manutenção de poder ou
prestígio em uma situação histórica específica (1979), ou como afirma Jessé Souza
(2018) definem e legitimam estruturas de poder.
Algumas denominações dos sujeitos que compõe o rural brasileiro
Elite rural Pobres do campo
Empresário Sindicalista / Ambientalista
Burguesia agrária Trabalhador rural
Latifundiário Camponeses
Grande proprietário de terra Pequeno proprietário
Grande produtor Pequeno produtor
Agronegócio Agricultura familiar
Fazendeiro Sitiante/ posseiro/ agregado / meeiro /
Ruralista Sem terra / colono / lavrador
Pecuarista Diarista / Peão / Vaqueiro
Ruralista Pescador / Ribeirinho
Fontes: Santos (1999), Martins (1981), Abramovay (1992), Medeiros (1998), Novaes (1987), Palmeiras (1989).

Todas estas denominações acima tem uma conotação política, apesar da


tentativa de despolitização de grandes setores da mídia que comumente costuma
usar homem do campo, ou outra denominação genérica como setores do agro.
Estas denominações aparentam uma falsa ausência de contradições entres estes
sujeitos. Dar nome é atribuir sentido, por isso é muito importante desmistificar toda e
qualquer tentativa que buscam apagar o conflito que se instaura com a desigualdade
de condições, percepções e pautas de cada grupo, ou sujeito social do rural
brasileiro.
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Apresentar este cenário tem como objetivo fugir de uma simples aplicação de
um conceito na interpretação de uma realidade tão multifacetada. Porém, as
ciências sociais, devem generalizar para encontrar algumas regularidades,
sobretudo no aspecto onde um grupo se beneficia enquanto outro é restrito aos
recursos mínimos para sobrevivência. Neste caso, para se pensar nesta
classificação no Brasil, como demonstra os dados quantitativos, parece mais
prudente interpretar que a maior contradição dos sujeitos sociais do meio rural é o
acesso a terra. Analisar o uso da terra no Brasil, portanto também é definir classes
sociais do rural Brasileiro. Concentração fundiária é a porta do trabalho escravo, da
migração forçada e da desigualdade social no campo. Assim concluímos indo na
fonte principal sobre classe social sob a qual fizemos a nossa pesquisa que é em
Karl Marx o como ele a expõe na obra a Miséria da Filosofia:
“As condições econômicas, inicialmente, transformaram a massa do
país em trabalhadores. A dominação do capital criou para esta
massa uma situação comum, interesses comuns. Esta massa, pois,
é, já, face ao capital, uma classe, mais ainda não o é para si mesma.
Na luta, de que assinalamos algumas fases, esta mesma se reúne,
se constitui em classe para si mesma. Os interesses que defende se
tornam interesses de classe. Mas a luta entre as classes é uma luta
política. [...] Uma classe oprimida é a condição vital de toda a
sociedade fundada no antagonismo entre as classes”. (Marx,1985 p.
159)

Conclusões

Por fim, cabe constatar e concordar com alguns autores e pensadores mesmo
liberais que percebem que a desigualdade em certos níveis não se possibilita a
realização da atividade política de uma sociedade. (Dowbor, 2020). No Brasil, alguns
autores classificam os sujeitos aptos a participar da sociedade e outros à margem, já
outros preferem se referenciar na espaciacialização dos participantes da
democracia, ou seja, a democracia brasileira chega até certo lugar, não estando
presente nas periferias urbanas e, como vimos também rurais. Este processo
desigual trava a democratização dos recursos, da real participação política ou seja,
da socialização do poder, da nossa emancipação enquanto nação e é fruto da nossa
construção histórico-social sob a égide da instituição latifúndio-escravista-colonial.
Para fechar este trabalho cabe informar o quão o mesmo é infindável e aberto
a sempre continuar sendo atualizado. As condições socioeconômicas do nosso país
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são mutáveis, assim como o são as relações entre os grupos que a compõem,
sendo esta uma relação dialética. O Brasil como uma nação relativamente nova, é
tributário de uma permanência estrutural de desigualdade chocante. A mobilidade
social esperada em nações democráticas aqui se esbarra com certeza na
desigualdade. Nossa descolonização inconclusa que deixa a democracia chegar
apenas a alguns e em certos locais é desoladora. Nosso potencial enquanto nação é
refém de uma elite territorialista que teve forças para manter uma unidade de limites,
porém uma distância enorme entre um minúsculo grupo de privilegiados e um
pavilhão de deserdados, de miseráveis. O rural e suas relações desiguais, como
foram demonstrados neste trabalho, pode ser considerado um parteiro de toda
nossa sociabilidade nacional. E no Brasil, como demonstramos, um ínfimo grupo
escondidos atrás de CNPJ’s detém mais da metade das terras, enquanto milhões
sobrevivem à margem deste recurso básico para a produção da vida. Cabe,
portanto, apontar que nossa pesquisa pode contribuir para chegar no início, na raiz,
além de apontar que esta raiz ainda é um foco a se agir, porém considerando os
sujeitos destes lugares e suas propostas criadoras de uma sociedade mais justa.

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