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Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

UNIVERSIDADE PAULISTA
VICE-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO SEMESTRAL DE PESQUISA

TÍTULO: Uma análise das desigualdades sociais e a


possibilidade de se pensar classes sociais no rural
Brasileiro

AUTOR: Deyvisson Felipe Batista Rocha

CURSO: Sociologia

CAMPUS: Asa Norte – Brasília/DF

ORIENTADOR: Adilson Rodrigues Camacho

Pesquisa Financiada pela Vice-Reitoria de Pós-Graduação e


Pesquisa da Universidade Paulista – UNIP
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TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA: UMA ANÁLISE DAS


DESIGUALDADES SOCIAIS E A POSSIBILIDADE DE SE PENSAR
CLASSES SOCIAIS NO RURAL BRASILEIRO

AUTOR: Deyvisson Felipe Batista Rocha

RESUMO: (NO MÁXIMO 250 PALAVRAS)


Os problemas sociais do Brasil são diversificados, dentre
estes, destaca-se a crescente desindustrialização e a consequente
dependência na exportação de matérias primas e commodities, as
desigualdades sociais e regionais, problemas de inchaço urbano o
que causa insuficiente infraestrutura básica para atender a
população, dentre outros. Dentre as várias explicações das causas
destes problemas, aparece uma que é recorrente e causa muita
polêmica e conflito há vários séculos que é a concentração
fundiária. Porém, com o chamado agronegócio destacando-se
dentre as atividades que mais fizeram crescer o PIB Brasileiro
(2017 - crescimento de 11,9%), além do debate da pluriatividade do
rural brasileiro, esta questão entrou em certa decadência. A grande
mídia tem inclusive feito uma campanha incessante deste setor,
colocando todos os atores do meio rural no mesmo “bolo” do agro.
Porém, os conflitos no campo continuam causando mortes e
atrocidades recorrentes. Uma hipótese muito aceita entre alguns
pesquisadores mais críticos é que no rural brasileiro, assim como
no meio urbano o país convive com uma desigualdade social ainda
muito grande. E, se nos últimos governos se propagandeou uma
redução nestes problemas, as pesquisas e a prática social logo veio
demonstrar que as estruturas da desigualdade continuam intactas o
que causa ainda muitos conflitos sociais. Por isso, é de suma
importância os novos referenciais que olham para estas
desigualdades e como estas classes sociais tem politizado os
conflitos no rural brasileiro para conhecer mais esta realidade e
para quem sabe prever os próximos capítulos desta história.
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SUMÁRIO

· INTRODUÇÃO 04

· MÉTODO 06

· RESULTADOS 07

· DISCUSSÃO 09

· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13

· ANEXOS 14

INTRODUÇÃO
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O tema da desigualdade social no país suscita vários debates em


diversos meios envolvendo posições intelectuais e políticas diversas. Dentre
estes meios, destacam-se os meios acadêmicos protagonizados,
principalmente, pelos economistas e sociólogos com bases em pesquisas que
tem levado em conta diferentes fontes e perspectivas de análises também
distintas. Destaca-se o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA)
como órgão que tem permeado pesquisadores que se destacam nestes
estudos, além da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que também tem publicado
muito neste campo, assim como a OXFAM. Pesquisadores como: Jessé
Souza, Marcelo Neri, Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, Marcelo
Medeiros, Marcio Pochmann, dentre outros tem se destacado em apontar
várias possibilidades de se fazer esta análise no Brasil das classes no Brasil.
Fato é que o país se destaca negativamente entre a distância enorme dos mais
ricos no topo da pirâmide e o resto da população (10% mais ricos concentram
mais de 50% da renda nacional), independentemente em qual metodologia ou
enfoque que se analisar esta questão. Porém, em conjunto com outros
pesquisadores o sociólogo Jessé Souza, em que pese os questionamentos
metodológicos que o mesmo tem recebido devido ao seu posicionamento
político, tem sido um estudioso mais crítico e criativo neste tipo de análise, indo
além das estatísticas como declaração de imposto de renda (IR) e da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para as pesquisas de campo com
entrevistas e sistematizações destas, levando também em consideração as
contribuições que o mesmo incorpora de autores como Webber, Bourdieu e
Habermas. Estas pesquisas de Jessé Souza e seus grupos de pesquisa tem
resultado em diversos livros dando ao autor uma imensa visibilidade e
autoridade quando se fala em desigualdade e classe social no Brasil. O
destaque e a inovação que o mesmo traz refere-se à crítica da classe social
apenas baseado na renda feita por alguns autores, ou que ele chama de classe
de renda (de A à E), além da tão proclamada ascensão das classes,
classificando estas como ralé, nova classe trabalhadora, classe média das
mais diversas frações e elite.
Por outro lado, a sociologia rural, dentre outras importantes
contribuições sobretudo da geografia, tem se destacado em apontar as
desigualdades no campo brasileiro, principalmente em relação ao acesso a
terra. Partindo do estudo dos atores/sujeitos do meio rural e a conformação
destes em movimentos sociais diversos e suas ações, este campo de estudo
contribui para um entendimento mais aprofundado do campo brasileiro e o seu
desenvolvimento ao longo dos anos, principalmente a partir de meados do
século XX. José de Souza Martins é destes sociólogos que se tornaram
clássicos na sociologia rural brasileira ao afastar o aspecto das análises que
enfocavam apenas como messiânicos os conflitos sociais do rural brasileiro.
Desde então, movimentos sociais dos sujeitos do meio rural (cabe aqui uma
interpretação que não leve em conta apenas os movimentos populares, mas
também os patronais) têm sido investigados dando mais elementos para
entender a dinâmica deste setor. Ligas camponesas, União Democrática
Ruralista (UDR) e, mais recentemente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR’s), os
movimentos indígenas, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), dentre outros, protagonizam lutas em vários âmbitos na representação
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de suas “bases”. Portanto, as lutas por reforma agrária, lutas pela


aposentadoria rural, lutas por demarcação de terras indígenas e quilombolas,
luta por uma educação do campo, luta por regularização fundiária, luta contra
os agrotóxicos, e muitas outras, estão na agenda do que podemos chamar de
“pobres do campo”. Enquanto, por outro lado, a luta pela manutenção das
propriedades, luta pela paralização da reforma agrária, luta por revisão de
terras indígenas e quilombolas já demarcados, luta pela desregulamentação do
trabalho rural, luta por aprovação de uso de novos agrotóxicos e transgênicos,
lutas por representação política no legislativo e executivo, tem ocupado os
setores “mais elitizados do campo”.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicado no ano de
2011 intitulado: “Superação da pobreza e a nova classe média no campo” com
base no cruzamento dos dados do Censo Agropecuário de 2006 e a Pesquisa
Nacional por amostra de domicílios (PNAD) de 2009 analisou a questão da
distribuição da renda no rural brasileiro e demonstrou que neste recorte a
desigualdade entre os mais ricos e mais pobres é ainda maior em comparação
aos estudos que analisaram a população em geral. Porém, este estudo, assim
como os criticados por Jessé Souza consideram as classes baseados na renda
e também são otimistas quanto o crescimento de uma suposta classe média
dentre as populações do meio rural brasileiro. Porém, como apresentado no
primeiro parágrafo, a sociologia tem avançado em não restringir as análises de
classe apenas a questão da renda em si. Mas há de se levar em conta que
estas análises de Jessé de Souza que dá estes novos elementos para se
pensar classe social, são mais recentes que o estudo da FGV. Portanto, seria
necessário, para se pensar em uma análise de classe mais robusta do rural
brasileiro, levar em conta estes novos apontamentos para classificar as classes
sociais deste mundo rural. Isto se faz imperativo principalmente neste momento
que o IBGE lançou dados preliminares do mais recente Censo Agropecuário
(2017) realizado.
Portanto quando falamos em analisar o rural sobre a perspectiva das
classes sociais, estamos também pensando nas contradições, divergências e
conflitos sociais explicitados através da ação dos movimentos sociais (com
personagens, organizações e instituições constituintes) que representam e
agrupam os diferentes sujeitos do rural brasileiro, buscando ainda qualificar
estes sujeitos a partir do levantamento das desigualdades sociais do rural
brasileiro (renda, posse e propriedade da terra) utilizando estatísticas oficiais
de forma crítica. Analisando também este mundo rural levando em conta a
efetividade e alcance ou não ao tratar de fenômenos sociais, principalmente
rurais, o conceito e a classificação destes sujeitos do meio rural em classes
socais com as contribuições do referencial que contribuiu para os estudos de
Jessé Souza e suas recentes conclusões visando revelar um retrato mais
fidedigno da situação do rural brasileiro. As denominações são fundamentais e
dão sentido, portanto serão analisadas e questionadas. Levantarmos
informações para observar melhor as classes de renda que compõem o rural
brasileiro com base no mais novo Censo Agropecuário (2017) comparando-os
com o feito há 13 anos para um retrato mais fiel das contradições no rural sem
perder de vista as análises qualitativas que colocam em cena os debates de
classe social, além e apesar da renda. Bem como, avançar para análises que
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levem em conta as contribuições de Jessé Souza quanto à classe social com o


filtro do meio rural, além de apresentar algumas “classificações” já feitas dos
sujeitos do mundo rural em classes sociais pelo mundo e sua efetividade de
aplicação no Brasil já que inspiram alguns movimentos sociais pelo país em
suas lutas, suas expectativas de transformação social. Levando ainda em conta
comparações e cruzamentos entre os diferentes índices para se analisar as
desigualdades sociais no meio rural brasileiro, tais como GINI, PNAD e o
Censo Agropecuário, fazendo cumprir um dos objetivos clássicos da sociologia
que é desvelar o que está oculto na sociedade, neste caso as contradições
sociais no seio das populações rurais brasileiras. Buscando dar um panorama
de posicionamentos destes grupos (organizações/instituições) que tem se
manifestado por diversas formas (manifestos, documentos, ações públicas,
audiências, etc) representando seus interesses de classe nestes diferentes
espaços políticos de mediação a partir dos seus movimentos representativos,
tais como movimentos sociais, sindicais, confederações, partidos políticos, etc.

Por isso, é de suma importância os novos referenciais que olham para estas
desigualdades e estas classes sociais tem politizado os conflitos no rural
brasileiro para conhecer mais esta realidade e para quem sabe prever os
próximos capítulos desta história se levarmos em conta as contribuições de
Karl Marx que afirmava que a luta de classe é o seu motor.
Assim como a categoria trabalho, e por causa dela, a dimensão
de classe desempenha um papel central na perspectiva
marxista: é ela que permite construir a unidade a despeito das
diferentes aparências que os movimentos possam assumir e
das categorias distintas que eles mobilizam. (Galvão, 2011, p.
123)
Incorporando os conceitos de classe para si e classe em si deste mesmo
autor para entender quando estas desigualdades não geram conflitos tão
explícitos.

MÉTODO
A pesquisa em questão está utilizando de métodos diversos
buscando uma maior compreensão do tema que se propõe que é uma análise
da desigualdade social do meio rural do país e em que medida estas
desigualdades tem colocado em conflitos grupos sociais. Os métodos
envolvem pesquisa em fontes secundárias e serão articulados em duas
dimensões: pesquisa bibliográfica e documental e análise de estatísticas
oficiais. Abaixo uma organização sequencial e mais sistemática de como isto
se desenvolverá:

 Pesquisa e levantamento bibliográfico sobre o tema buscando maior


capacidade de garantir um aprofundamento que permita realizar uma
discussão teórico-metodológica sobre os alcances e limites dos objetivos
elencados;
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 Pesquisa documental dos movimentos/ organizações/ instituições que


representem os interesses destas supostas “classes sociais” do rural
brasileiro identificando quem fala, o que se fala, para quem fala e de
onde se fala objetivando compreender as concepções e posições dos
agentes envolvidos;
 Pesquisa em artigos em periódicos especializados no tema e publicados
nos últimos anos para saber da atualidade destas discussões na
academia, principalmente no campo das ciências humanas;
 Análise de indicadores estatísticos a partir da consulta às bases de
dados oficiais das instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e
a Fundação Getúlio Vargas (FGV);
 Análise de dados a partir do Excel e do Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS);
 Construção e reprodução de mapas já existentes para melhor elucidar
as análises das desigualdades sociais no rural Brasileiro;

RESULTADOS

“os conflitos sociais são a manifestação de contradições


estruturais, agravadas por problemas conjunturais a depender
do perfil político-ideológico das organizações que assumem o
papel de mediação da ação dos dominados”. (Galvão, 2011, p.
112 e 113).

A apresentação da realidade social do meio rural brasileiro através


de uma análise da sua desigualdade (econômica, social, política e cultural) e
das lutas sociais representadas pelos interesses antagônicos dos vários grupos
sociais representativos destes sujeitos em vários espaços, possibilitando
elucidar o que gera conflitos sociais no campo brasileiro, assim como funciona
os processos de exclusão ou e concentração com base na posição social de
cada um dos atores, esta era a ideia da nossa pesquisa, porém, há de se
convergir que retratar a realidade dos sujeitos sociais do rural brasileiro é uma
tarefa hercúlea. O Brasil não é para principiantes! Já dizia Antônio Carlos Tom
Jobim e levado à luz da interpretação de análise sociológica e antropológica
por Roberto da Matta (1979, 1984). Se aventurar nesta tarefa, portanto, parte
do pressuposto da necessidade de se fazer recortes de temas, porém,
incorreríamos ainda no risco extrapolar a escala de análise tendo em vista a
visível e flagrante complexidade das diferenças de um canto a outro deste país
continental. Objetiva-se neste trabalho, levando em conta estes riscos de
simplificações da realidade, buscar entender e relatar com base em algumas
questões mais objetivas as desigualdades sociais que assolam historicamente
este país. O nosso recorte se dará em observar o rural brasileiro. Mas
novamente se faz necessário uma teorização que adotaremos que pode deixar
mais explícito o que estamos chamando de rural brasileiro. Que o Brasil é
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ocupado por mais de 210 milhões de habitantes, isso não se discute. Como
também não é passível de discussão a extensão do mesmo que tem cerca de
851.600.00 hectares. Porém, as afirmações mais objetivas e sem divergências
praticamente se encerram aí. Este foi o ponto de partida das nossas análises.
José Eli da Veiga apontou diversos fatores que questionam a
classificação rural/urbano no Brasil (2002). Falta de critérios para as
municipalizações, câmara dos municípios como responsável pela classificação
do seu território em urbano ou rural visando o aumento na arrecadação de
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), uso de um decreto lei de 1938,
ainda do Estado Novo em um contexto que urbanização e modernização eram
sinônimos, onde toda área de municípios e sedes distritais como urbanas,
dentre outras explicações são o mote da crítica do autor que seria, segundo o
mesmo, menos urbano do que se calcula se usarmos como base alguns
critérios usados em outros países. (VEIGA, 2002). Enfim, no ano 2000 com
estes critérios questionáveis, segundo Veiga, a população urbana atingiu
81,2%, sendo que em 1991 a população rural era 24,5% da população.
Segundo Veiga, se usados os critérios da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) de densidade demográfica e pressão
antrópica sobre os ecossistemas a população rural seria 30% e não os 18,8%
apontados pelo IBGE no ano de 2000. Porém, hegemonicamente na geografia
este debate não ecoou tanto, e quando o foi, partiu da negação dos
argumentos de Veiga, sobretudo pelo simplismo que acometeria às críticas do
mesmo. (CARLOS, 2003). Fato é que, oficialmente no estado através do IBGE
a população Brasileira estaria divida entre 84,4% urbana e 15,6% rural (IBGE,
2010). Ao que parece estes dados permanecerão assim no próximo censo
demográfico de 2020, estagnando assim grandes mudanças nestes
percentuais observados nas últimas décadas.
Em relação a concentração fundiária, apesar de todas as críticas
que recebe já que calcula somente quem tem terra, o melhor índice para
determina-la segue sendo o coeficiente de GINI . Quanto mais perto de 1 maior
é a concentração, estando o Brasil em 0,867 no censo agropecuário de 2017. A
série histórica mostra o Brasil em aumento gradual desta concentração, sendo
que em 1985 este índice era 0,857 e em 1995 era 0,856. No Brasil, 1% das
propriedades agrícolas ocupa quase metade das áreas rurais do país, este já é
um índice do novo censo agropecuário de 2017. São 51.203 propriedades com
mais de mil hectares que representam 1% das 5.073.324 propriedades
existentes que ocupam 47,6% da área rural, sendo que no censo agropecuário
de 2006 esta participação era de 45%. Por outro lado, as pequenas
propriedades igual ou abaixo de 10 hectares ocupam somente 2,3% da área
rural.
Passando da análise da concentração fundiária, da análise da
divisão geográfica, cabe agora o mais trabalho mais árduo que é a análise das
pessoas que vivem no rural objetivamente. Para iniciar, cabe trazer para o
debate o seguinte dado trazido pelo IBGE (PNAD/IBGE, 2009): no Brasil há
30,7 milhões de pessoas no rural, destas aproximadamente 54%, ou seja, 16,5
milhões são pobres (renda familiar per capita mensal de até 0,5 salários) e 8,1
milhões de pessoas estão ainda na extrema pobreza (renda familiar per capita
de até 0,25 salários mínimos). Este dado retrata como o rural, mesmo com
somente 15% de toda a população brasileira, concentra quase metade de toda
a população nesta situação de extrema pobreza que totalizam 16,27 milhões
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de pessoas. Para ampliar esta análise, trazemos para o debate os dados do


estudo da FGV que foram baseados, sobretudo nos critérios da renda da
população rural atualizando e interpretando os dados do censo agropecuário
de 2006. Inicialmente, cabe retomar a interpretação de que pode-se falar neste
caso não em classe social, mas sim em classe de renda. Mundialmente, é
definido que os 10% mais ricos são a classe alta e entre estes 10% mais ricos
e os 50% mais pobres estaria a classe média. No estudo da FGV consideraram
o estudo da Pesquisa Nacional por Amostras dos Domicílios (PNAD) que avalia
a renda de toda a família, somados seus membros e seus ganhos sejam,
dentre outros, em salários, aposentadorias, pensões e programas sociais.
Neste retrato foram identificadas 800 mil propriedades como pertencentes a
classe C (com renda líquida mensal entre 947 e 4.083 reais), representando
15% do total de propriedades.

DISCUSSÃO
Não podem esquecer que lutam contra os efeitos e não contra
as causas desses efeitos, que o que fazem é refrear o
movimento descendente, mas não alterar o seu rumo; que
aplicam paliativos, e não a cura da doença. (Marx, 1987, p.85-
86).

Inicialmente, a expectativa de alcance do projeto foi superestimada em


relação às possibilidades práticas da pesquisa empírica e também de alguns
dados que ainda não estão disponíveis, sobretudo o do Censo Agropecuário
realizado em 2017. Há ainda possibilidades múltiplas de interpretação sobre
“classe social” do rural brasileiro que descobri, nos vários artigos científicos que
estou lendo. Na proposta inicial, pensava que o que encontraria era somente
esta interpretação de classe limitada, sobretudo a renda e a colocação destas
entre A e E, porém encontrei muitas análises balizadas na teoria Webberiana
que aproxima-se mais do status destas classes com base, sobretudo, nas
ocupações das pessoas com base no CBO (Cadastro Brasileiro de Ocupações)
fazendo análises também partir do PNAD. Outras contribuições neste sentido
tenho encontrado nas interpretações mais simplificadas de pensar proprietário,
despossuído e seu intermediário, o arrendatário. Fato é que cada vez me
afasto das interpretações muito fria dos dados, sobretudo de renda, pois
deixam uma lacuna muito grande entre os contextos histórico, geográfico e a
continuidade dos processos sociais excludentes. Entretanto, uma questão que
me chamou muito a atenção é como a população da extrema pobreza do país
esteja concentrada, sobretudo na população rural, apesar desta ocupar apenas
15% da população geral, o que, de certa forma, confirma a hipótese de maior
desigualdade no rural, apesar das críticas destes indicadores não
considerarem a produção para o próprio consumo.

Enfim, a pesquisa bibliográfica retomou bastante informações


secundária e já analisada sobre a questão da terra, os conflitos, a produção,
enfim, uma série de possibilidades de interpretação. Há uma grande
necessidade de um rumo a tomar em relação a isso. Portanto, há necessidade
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de se fazer adequações na proposta inicial. Pensar o rural brasileiro com o


recorte de classe social é realmente desafiador tendo em vista a complexidade
e a falta de objetividade deste rural. Um exemplo é um empresário que
empreenda suas atividades econômicas no campo e na cidade. Há ainda as
realidades dos que usam o campo apenas para o lazer nos finais de semana,
enfim o debate sobe a pluriatividade. Há ainda um grande debate onde se
critica a classificação do rural e urbano, sendo ponto principal de crítica à
subestimação da população rural. Portanto é uma realidade muito complexa
para interpretação. Porém, um debate já feito há mais tempo e com dados mais
objetivos e que tem relação com o objeto da pesquisa é a concentração de
terra no país, autores como o geógrafo Ariovaldo Umbelino Oliveira traz
contribuições valorosas para estes estudos com dados sistematizados em
gráficos, tabelas e mapas. Oliveira traz também muitos estudos dos conflitos
por terra que também tem interface direta com o objetivo de pesquisa que
traçamos. Porém, uma dúvida que recai sobre a pesquisa é sobre avançar em
direção a há uma análise ou mais pensar bases para esta, vista às dificuldades
relatadas. Quanto à parte de análise destes sujeitos em si, me perdi nesta
possibilidade de condensá-los em classe a partir da ideologia, pois isso
demandaria um esforço empírico e teórico muito grande para uma iniciação
científica. Por isso, talvez, uma possibilidade que vejo em avançar na pesquisa
é essa de continuar levantando estas análises mesmo que de forma superficial
na forma de síntese em quadros, para depois buscando similaridades e
diferenças apontar alguma contribuição a estas análises para entender o rural
brasileiro sob este conceito de classe social. Uma hipótese que tenho, mas que
deve ser ainda comprovada é de que a área rural é ocupada economicamente,
seja para especulação, seja para produção de commodities por população não
rural. Ou seja, a maioria das terras do Brasil não são ocupadas por quem nela
vive e trabalha de verdade. “Terra para quem nela vive e trabalha”! Esta
inclusive fora a palavra de ordem reivindicada pelas Ligas Camponesas e mais
recentemente pelo MST.
Em relação ao conceito de classe social, temos lido bastante Regina
Bruno (2009), que busca resumir o discurso ideológica da “burguesia agrária”
brasileira. Chamando-a ao modo marxista de dominante, Bruno (2009) aponta
a expressão desta classe social no cenário econômico, político, social e cultural
do país, apontando as seguintes entidades patronais de abrangência nacional
e várias algumas regionais, como: a Associação Brasileira de Agronegócio
(Abag), Movimento Nacional dos Produtores (MNP), Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB), Sociedade Rural Brasileira (SRB), União
Democrática Ruralista (UDR), Confederação Nacional da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA), Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Ainda sobre o conceito de classe social, concordando com Galvão
(2011, p. 108), também “descartamos os conceitos de classe que se
circunscrevem à renda e/ ou dimensão ocupacional”. Concordamos ainda que:
“as classes como força social em ação não podem ser consideradas como
meros reflexos da posição na estrutura econômica”, ou seja, não se pode
esperar que a posição estática por si só garanta alguma ação.

Compreender o posicionamento de classe requer, pois, a


análise das condições materiais e da conjuntura política, do
impacto da ideologia dominante, da relação com as outras
classes, para evitar afirmações que relacionam
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automaticamente base social e posição política, e também


porque a situação objetiva de classe não leva automaticamente
à ação coletiva. (Galvão, 2011, p. 112).

Com isso, foge-se de um determinismo econômico e de um


essencialismo que não é histórico-dialético. Ou seja, é mais inteligente falar de
uma “multideterminação simultânea econômica, política e ideológica”.
(Poulantzas apud Galvão, 1978). Assim, “não há classe senão na relação
conflitual com outras classes” (Bensaïd apud Galvão, 2001, p.110). Porém,
fugir do economicismo, não implica cair em uma indeterminação ou relativismo
absoluto. (Galvão, 2011). Galvão (2011), aponta o operariado, a pequena
burguesia, o campesinato e as classes médias - que se distinguem quanto ao
tipo de trabalho realizado, às condições em que a força de trabalho é vendida
e, no caso do produtor familiar, ao tipo de vínculo estabelecido com a pequena
propriedade. Estas análises de Galvão contrariam a bipolarização e adotam
uma multipolarização, pois, segundo esta autora:
“... a recusa do conceito de classe média dificulta a apreensão
das diferentes formas de manifestação e dos interesses
específicos defendidos pelos movimentos concretamente
existentes, bem como dificulta a compreensão dos obstáculos
que cercam a construção da unidade entre diferentes
movimentos”. (Galvão, 2011, p. 111).

Outro debate interessante que a autora faz para nossa pesquisa é o


ajuste ao uso da classe média no singular, considerando melhor falar em
classes médias. Para a autora:
“Reconhecer tais diferenças é, a nosso ver, condição
fundamental para se compreender não apenas as dificuldades
para a ação coletiva, mas também para uma ação unificada,
capaz de transcender as especifidades objetivas e subjetivas
das diversas categorias de trabalhadores, sejam eles
assalariados ou não. (Galvão, 2011, p. 112).

. Classe social é um conceito chave do marxismo, quanto como o


conceito de trabalho. Mas, sobretudo, com a ascensão dos chamados novos
movimentos sociais e um referencial diferente para analisá-los (Touraine,
1985), assim como as teorias do reconhecimento (Honneth, 2003) passaram a
negar a relevância da classe social de viés marxista na luta política. Pensar
pertencimento a classe social para estes autores seria irrelevante, já que os
objetivos culturais e pós-materialistas, como identidade, que realmente
mobilizariam os sujeitos sociais em grupos. Porém, o aspecto que unifica estes
conceitos é a busca por entender os conflitos, enfim as contradições. Portanto,
camponês e latifundiário, agricultura familiar e agronegócio, trabalhador rural e
fazendeiro, mais do que contradições são permeados pelo tempo histórico e
pelo espaço onde estas classificações acontecem. Isso se faz necessário
pensar nas escolhas políticas e ideológicas destes sujeitos e como estas se
institucionalizam nos movimentos, sindicatos, associações, confederações e
apontam uma direção que criará quase que necessariamente um ou mais
opositores. Apresentar este cenário tem como objetivo fugir de uma simples
aplicação de um conceito na interpretação de uma realidade tão multifacetada.
Porém, as ciências sociais, devem generalizar para encontrar algumas
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regularidades, sobretudo no aspecto onde um grupo se beneficia enquanto


outro é restrito aos recursos mínimos para sobrevivência. Neste caso, para se
pensar nesta classificação no Brasil, como demonstra os dados quantitativos,
parece mais prudente interpretar que a maior contradição dos sujeitos sociais
do meio rural é o acesso a terra. Analisar o uso da terra no Brasil, portanto
também é definir classes sociais do rural Brasileiro. Concentração fundiária é a
porta do trabalho escravo, da migração forçada e da desigualdade social no
campo.

“As condições econômicas, inicialmente, transformaram a


massa do país em trabalhadores. A dominação do capital criou
para esta massa uma situação comum, interesses comuns.
Esta massa, pois, é, já, face ao capital, uma classe, mais ainda
não o é para si mesma. Na luta, de que assinalamos algumas
fases, esta mesma se reúne, se constitui em classe para si
mesma. Os interesses que defende se tornam interesses de
classe. Mas a luta entre as classes é uma luta política. [...] Uma
classe oprimida é a condição vital de toda a sociedade fundada
no antagonismo entre as classes”. (Marx,1985 p. 159)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Concentração no campo bate recorde - 1% das propriedades


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recorde-1-das-propriedades-rurais-tem-quase-metade-da-area-no-
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ANEXOS

Grupos de área Número de Concentração do total


estabelecimentos da área rural do país (%)
agropecuários (%)
Página 15 de 15

2.500 hectares ou mais 0,3% 30,4%


de 1.000 a 2.500 hectares 0,6% 14,6%
de 500 a 1.000 hectares 1% 11,16%
de 200 a 500 hectares 2,9% 13,9%
de 100 a 200 hectares 4,2% 8,7%
de 50 a 100 hectares 7,5% 7,9%
de 20 a 50 hectares 16,3% 7,8%
de 10 a 20 hectares 14,2% 3,0%
até 10 hectares 47,8% 2,3%
Produtor sem area 4,93% —
Fonte: OXFAM com dados do Censo Agropecuário (2006)

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