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professores e a precarização do
trabalho: da prevenção ao combate
Chimica Francisco
http://lattes.cnpq.br/7943686245103765
1ª Edição
Rio de Janeiro
Libroe
2022
Copyright © da editora, 2022.
Capa e Editoração
Mares Editores
CDD 370
CDU 37/49
2022
Todos os direitos desta edição reservados à
Mares Editores e seus selos editoriais
Libroe é um selo editorial de Mares Editores
Contato: mareseditores@gmail.com
Sumário
APRESENTAÇÃO............................................................................. 9
-9-
No primeiro capítulo, intitulado como “Da agressão física ao
cyberbullying: quando o professor é a vítima da violência escolar”, de
autoria de Airton Rosa Lucion Guites (UFSM e Prefeitura Municipal de
Bossoroca – PMB) e Daniéli Uliana (UFSM), analisa que a violência no
ambiente escolar é algo que preocupa as autoridades competentes e
os educadores no Brasil. É importante destacar que a figura do
professor também se tornou a vítima desse processo, sendo alvo de
agressões físicas e/ou verbais por parte de seus alunos, seja
presencialmente na sala de aula ou até mesmo de modo virtual, no
fenômeno contemporâneo do cyberbullying. Portanto, este artigo irá
discutir, através de dados de pesquisas, livros, reportagens e artigos
acadêmicos, o tema da violência contra o professor em todas suas
vertentes, formatando-se em uma pesquisa bibliográfica. Por
conseguinte, destacamos que as reflexões alcançadas são de suma
importância para o entendimento da dinâmica da violência escolar
dirigida aos profissionais da educação no Brasil, a fim de tecer
estratégias para a prevenção e o combate em sua ocorrência.
No segundo capítulo, intitulado como “Mudando o foco
teremos resultados positivos: um olhar diferenciado na violência
escolar”, de autoria de Vera Regina Vieira Godoi (Prefeitura Municipal
de Santa Maria – PMSM; e Universidade Castelo Branco – UCB) e Vera
Lúcia Machado Müller (PMSM e Universidade de Passo Fundo – UPF),
trata-se de um relato de experiências que vem propor uma reflexão
sobre as relações estabelecidas no ambiente escolar e suas
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implicações frente aos desafios de minimizar o clima de violência
evidenciado nas escolas. Pretende, através de um rememorar de ações
e situações, deixar claro que, quando se toca no assunto “violência”,
todos os atores têm seu papel, seja ele de ação ou omissão. Falamos
de um lugar conhecido e de vivências de mais de duas décadas,
acompanhando as relações que se estabelecem no ambiente escolar,
para além as atividades cognitivas. Trazemos um olhar sobre as
aprendizagens de cunho emocional, afetivo e social, que são o pano
de fundo, onde a construção de todos os outros conhecimentos se
estabelecem. Após o período de distanciamento social pela COVID-19,
é primordial pensar a situação escolar com maior atenção.
O terceiro capítulo, com autoria de Carolin Jost (UFSM), Lucca
Rosito Machado (UFSM) e Francine Bolzan Bortoluzzi (Child Behavior
Institute of Miami – CBIofMIAMI), com o título de “Desafios da Terapia
Ocupacional e da Música frente à violência e à precarização escolar”,
cujo artigo mescla os conhecimentos da Música e da Terapia
Ocupacional diante das questões que envolvem a violência e a
precarização no ambiente escolar. Trata-se de uma pesquisa que se
baseia em relato de experiência em conjunto com reflexões teóricas a
respeito de práticas futuras. Reflete-se as adversidades que os
docentes enfrentam em sala de aula, a relação com os alunos e com a
equipe educacional, bem como os processos educacionais e o
cotidiano do ensinar e do aprender. Por fim, demonstrando a
estratégia de mediação de conflitos no contexto escolar, em
- 11 -
colaboração com as famílias, instituição e a sociedade, onde neste
local promova a formação do cidadão participativo, solidário e
consciente, intervindo de maneira ativa nas relações conflituosas e nos
casos de violência, promovendo uma ressignificação do conflito para
gerar uma boa convivência escolar.
O quarto capítulo, com autoria de Lenice Medianeira Cechin
(UFSM e PMSM), Alexandra Marin Colpo (UFSM e PMSM), Daiane
Colussi (UFSM e PMSM), Patrícia Santos da Silva (UFSM e PMSM) e
Vera Regina Vieira Godoi (PMSM e UCB), com o título de “Violência
escolar: até quando? A mediação de conflitos para promover uma
cultura de paz”. Este artigo visa contribuir para a reflexão acerca da
violência que se faz presente no contexto escolar e a importância de
iniciativas de ações pedagógicas que venham contribuir para uma
gradativa diminuição desta cultura da violência nas escolas. Percebe-
se a necessidade da inserção de uma cultura de paz, através da
mediação de conflitos escolares, envolvimento da família em
atividades no intuito de acompanhar os alunos na vida escolar, a partir
de projetos e ações construtivas, de modo a equilibrar os três pilares
da educação: familiares, alunos e professores, cujo equilíbrio
contribuirá para um processo ensino-aprendizagem de qualidade.
Entendemos a extensão do desafio, principalmente neste momento
pós-pandemia, mas acreditamos que é possível criar possibilidades
para que todos possam se desenvolver em um ambiente seguro.
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O quinto e penúltimo capítulo, “Precarização do trabalho
docente em Geografia e a violência escolar no contexto brasileiro”,
de Daniéli Uliana (UFSM), reflete que a década de 1990 foi marcada
por grandes mudanças no sistema educacional brasileiro. Tais
mudanças trouxeram à tona a precarização do trabalho docente, ou
seja, intensificaram as jornadas de trabalho escolar e extraescolar do
professor, a desvalorização salarial, além, é claro, dos aumentos de
violência. Em um país que acredita na educação como a principal
forma de combater a violência, não parece fazer sentido deixá-la
“andando de muletas”. Assim, o presente artigo pretende discorrer
sobre as condições do trabalho docente nas escolas do Brasil, com
destaque especial para os tipos de violência inseridas neste contexto.
Para isso foi feito uma ampla pesquisa em livros, teses, dissertações e
artigos científicos para melhor embasamento teórico, visto que trata-
se de um artigo de revisão bibliográfica.
Por fim, o sexto e último capítulo, “Violência por memes no
ciberespaço: a percepção discente na perspectiva geográfica”, de
Airton Rosa Lucion Guites (UFSM), é uma reflexão da aplicação de um
questionário sobre a violência digital e o cyberbullying entre os alunos
do 6º ano ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º e 2º ano do Ensino
Médio, no ano de 2021, como parte da investigação da tese de
Doutorado em Geografia. A metodologia embasada foi uma pesquisa
qualitativa que utiliza como ferramenta um questionário de
levantamento. Além de perguntas objetivas de respostas fechadas,
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foram utilizadas imagens de memes com teor preconceituoso, a fim de
observar a percepção dos discentes com atos de violência na internet.
A pesquisa contou com aprovação da equipe diretiva das duas escolas
no município de Bossoroca/RS, bem como com a consultoria de uma
psicóloga para seleção adequada de imagens.
Do início do projeto deste livro até o lançamento, novos casos
de violência e precarização tornaram-se notícia, no Brasil e no mundo.
E, infelizmente, após o lançamento do livro, casos assim continuarão a
ser noticiados e estudados. Porém, cabe aos profissionais de Educação
e áreas afins, bem como a sociedade em geral, se dedicarem a
combater e prevenir efetivamente essa realidade, buscando práticas
concretas com resultados positivos para encontrar formas de
enfrentar esse problema que assola o ensino. Esperamos que essa
coletânea proporcione reflexões importantes sobre a prática docente,
inspire novas ações na dinâmica escolar e promova uma mobilização
pessoal e/ou coletiva para o combate e prevenção, pois o foco e
esforço deve ser em evitar que o problema ocorra e se agrave, sem
medidas paliativas somente após sua ocorrência, são necessários um
aprofundamento e uma dedicação para ampliar os horizontes e
chegarmos a uma conclusão apropriada. Tenham todos uma excelente
leitura!
Os organizadores,
Airton Guites e Daniéli Uliana.
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DA AGRESSÃO FÍSICA AO CYBERBULLYING: QUANDO O
PROFESSOR É A VÍTIMA DA VIOLÊNCIA ESCOLAR
1
Doutorando em Geografia, pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia
(PPGGEO), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor efetivo na
Prefeitura Municipal de Bossoroca/RS. E-mail: airtonlucion@gmail.com.
2
Doutoranda em Geografia, pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia
(PPGGEO), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
daniuliana95@gmail.com.
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(Becker; Kassouf, 2016, p. 684). Para De Assis e Marriel (2010, p. 46),
“a violência dos estudantes se manifesta por meio de situações como:
vandalismo, pichações na parede, xingamentos e agressões físicas a
professores, indisciplinas no recreio e roubos no ambiente escolar”.
A violência presente no contexto escolar, que
paradoxalmente era considerado o ambiente ideal para aprendizagem
e transformação social, hoje “é uma realidade vertiginosa que reflete
no processo educacional do indivíduo em desenvolvimento e na
constituição de seus saberes” (Da Silva e Negreiros, 2020, p. 328). Os
autores corroboram a ideia de que a violência tem aumentado nos
últimos anos devido a diversos indicadores, tais como,
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um problema “em contextos urbanos das grandes e agora, como
comprovam os dados coletados por nós em campo, também nas
pequenas cidades” (Alves, 2018, p. 190). Para Da Silva e Negreiros
(2020, p. 328), a violência se expande também para os meios virtuais,
“nessa perspectiva, os dados trazem uma reflexão de que a violência
enquanto fenômeno social acontece em espaços extraescolares”.
Conforme estudos realizados por Lima (2012, p. 16) pode-se identificar
“ações de violência entre alunos (como chutes, tapa, prisão de colegas
no banheiro) e agressão verbal também contra professores”.
Lima (2012), elenca grande quantidade de manifestações de
violência presente no ambiente escolar, tais como: violência dos
poderes instituídos, violência institucional, da escola, simbólica,
mascarada, anômica, banal, dura, como “produto do uso da força e
provocação de dano ao outro” violência física, não física (psicológica e
moral), micro violências ou incivilidades, bullying, ausência de
disciplina/desobediência, indisciplina como desrespeitos as regras
justas, como característica natural do indivíduo e indisciplina positiva,
dentre tantas outras apontadas na literatura.
Portanto, o presente artigo irá discutir a violência contra os
professores em escolas no Brasil, seja no ambiente presencial ou no
ambiente virtual, bem como refletir sobre as causas e consequências,
por intermédio de notícias e artigos/livros acadêmicos. Trata-se de
uma pesquisa bibliográfica, pois “é feita a partir do levantamento de
referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e
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eletrônicos”, tendo por objetivo “recolher informações ou
conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se
procura a resposta” (FONSECA, 2002, p. 32 apud GERHARDT, T.;
SILVEIRA, D., 2009, p. 37).
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professora agredida com o arremesso de uma classe na cabeça ao
tentar separar uma briga, segundo o Gaúcha ZH (2015). Não obstante,
de acordo com a reportagem anterior,
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Eles voltaram com alguns comportamentos muito
estranhos e muito violentos, muitas vezes. Eu
nunca vi em sala de aula falarem tanto sobre arma,
nunca vi em sala de aula falarem tanto sobre
querer matar o outro, ameaçar o outro e bater no
outro. Eles estão toda vez com essas falas violentas,
como se fosse uma terra de ninguém.
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docentes, graves problemas com violência e criminalidade, isso sem
listar todos as outras questões socioeconômicas e estruturais, não se
faz necessário mais esse problema, apenas por audiência.
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alguém entre seus colegas. [...] Fotografias são
alteradas, incluindo ofensas, comentários sexistas
ou racistas. [...] A repetição não depende apenas de
um único autor para acontecer, na medida em que
cai em rede, sua autoria, amplitude e audiência são
caracterizadas pela comunicação horizontalizada,
todos com todos; as mensagens são
compartilhadas, manipuladas, reproduzidas com
rapidez e comodidade. (ROCHA, T., 2012, p. 83-84).
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no cyberbullying isso não ocorre mais: a violência escolar ultrapassou
os muros das instituições e acompanha as vítimas por onde elas forem,
causando um sofrimento psicológico muito mais intenso e
permanente.
A seguir, Richter e Silva (2013) elencam as características
centrais do cyberbullying:
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por intermédio do cyberbullying. Neste sentido, Zunin (2017, p. 13)
relata que “os próprios alunos questionam a existência do professor,
na medida em que podem recorrer a sites de busca para se informar
imediatamente a respeito de qualquer tema”. O autor ainda é
categórico ao afirmar, com base em sua pesquisa, que:
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(2017, p. 42) à luz das teorias de Dewey nos relembra que essa
autoridade não estaria relacionada com punições físicas ou morais,
tampouco se limitaria a falar e agir com firmeza diante de um
comportamento inadequado, mas que essa autoridade pedagógica
seria exercida “para incentivar o aluno a perceber que a ciência teria
aplicações práticas fundamentais para as ações do cotidiano”.
Com relação à violência entre alunos e professores na
sociedade contemporânea, Zunin reflete da seguinte forma:
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que todos se mobilizem para reivindicar e sugerir demandas sociais e
políticas. Uma ferramenta que pode ser utilizada para somar com o
processo de ensino-aprendizagem, auxiliando na dinâmica e fomento
da relação entre aluno e professor. Todavia, precisamos sim
reconhecer que essas mesmas novas tecnologias ofereceram um
campo de atuação inédito para ações criminosas e violentas, inclusive
que exigem a cada ano um novo aperfeiçoamento dos órgãos de
justiça e segurança pública para conduzirem mecanismos de combate,
proteção e punição dessas atitudes. Além disso, como bem destaca o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a faixa etária infanto-
juvenil apresenta uma característica especial de ser em
desenvolvimento, merecendo uma proteção integral; logo, podemos
concluir que não possuem maturidade e responsabilidade para gerir e
administrar os mecanismos tecnológicos das redes sociais, em especial
se o seu meio social for desajustado.
Em meio a um sucateamento da educação, o professor no
Brasil já enfrenta adversidades em sua atuação docente, como os
baixos salários, os planos de carreira insuficientes ou que não se
cumpram em sua integralidade, a pouca valorização social, a estrutura
precária das escolas, a indisciplina dos alunos, a convivência com o
tráfico de drogas na circunvizinhança, o uso de armas e drogas no
ambiente escolar, a agressão física e verbal, os danos ao patrimônio
público e privado; mas agora isso ampliou-se com a atmosfera de
violência permanente, em que o professor também é perseguido,
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ameaçado e denegrido nas redes sociais com a publicação de fotos,
vídeos e textos que comprometem sua dignidade, reputação e honra,
interferindo em sua vida pessoal e profissional. Paralelo a isso, há certo
silêncio e inoperância por parte do governo, seja em instância federal,
estadual ou municipal, diante do aumento da violência escolar.
Embora haja alguns avanços pontuais com relação à violência física e
verbal, ainda há uma lacuna no que se refere a violência virtual. A
soma de problemas que afetam a carreira profissional ocasiona no
professor brasileiro um aumento no número de pedidos de
exoneração ou de afastamento temporário por laudos médicos, como
bem demonstraram Rocha (2012) e Zunin (2017) em suas pesquisas.
A propósito, tais autores trouxeram em suas obras alguns
casos e relatos sobre a violência virtual dirigida por parte dos alunos
aos seus professores. No caso de Rocha (2012), ela analisou a questão
com base na incidência de cyberbullying em comunidades do Orkut,
rede social extinta3 em 2014. Porém, é possível relacionar e ampliar
tais informações ao comparar com as redes sociais atualmente em
uso, em especial o Facebook, o Instagram, o Twitter e o Whats’App.
Essas redes possuem uma dinâmica mais potencial entre seus usuários
do que o Orkut; logo, casos de cyberbullying de alunos contra seus
professores serão mais incisivos e dinâmicos. A autora nos apresenta
a distintos casos, em que alunos fundaram a comunidade “Eu Odeio o
3
Em abril de 2022, o domínio do site do Orkut foi reativado pelo criador, com
possibilidades de retornar ao funcionamento como rede social (Tavares, 2022).
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Professor George” para insultar, ofender, denegrir e ameaçar o
docente por considerar seus métodos de trabalho e de avaliação
incoerentes, desrespeitosos e humilhantes. Na época, as proporções
foram tão grandes que o próprio filho do professor entrou na
comunidade para advertir os alunos de seu pai a respeito da
agressividade das ameaças e ofensas; por conseguinte ele também se
tornou o alvo da violência virtual. Outra situação apresentada pela
autora é sobre uma comunidade denominada “Professores
Sofredores”4, também no extinto Orkut, em que os profissionais da
educação se reuniam para relatar episódios de violência e perseguição
de alunos ou então para desabafar sobre a crise institucional e
educacional do Brasil.
Entretanto, Zuin (2017) nos atualiza por relatar casos de
cyberbullying de alunos para seus professores através do YouTube, site
gratuito de compartilhamento de vídeos que pertence à Google. Em
sua obra, ele apresenta casos de vários países, como Portugal,
Inglaterra e Estados Unidos, mas enfoca nos casos do Brasil com um
capítulo inteiramente para ele. Por respeito as vítimas e também para
preservar a imagem dos menores infratores, o autor optou por não
identificar o título dos vídeos disponíveis no YouTube, apenas
descreveu a ação e propôs sua reflexão. São vídeos que se tornaram
4
Vale destacar que existem páginas no Facebook e no Instagram com esse nome,
mas que, a princípio, não apresentam relação com o propósito e operação da
comunidade do Orkut, importante não confundir.
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“virais”, ou seja, de grande repercussão na internet, em épocas
diferentes, mas todos apresentam professores sendo destratados com
palavras de baixo calão, agredidos com arremesso de materiais de
estudo e, principalmente, a perca de controle em explosões de raiva e
desgosto diante do profissional que vê sua aula interrompida pelo uso
permanente de celulares em sala de aula, discutindo com seus alunos
e até mesmo quebrando o aparelho. Em uma ocasião específica, o
vídeo mostra um professor idoso sendo agredido fisicamente em sala
de aula por recolher o celular de um aluno que o utilizava, sob
incentivo e aplauso de seus colegas, que sequer ajudaram o professor
a se levantar do chão após a queda pela violência da agressão.
Não podemos esquecer que, embora trate-se de uma
violência física ou verbal, considerada um bullying, mas por se tratar
de uma filmagem e exposição na rede mundial de computadores,
afetando a imagem e a honra da vítima para buscar a fama e a diversão
do agressor, isso enquadra-se na dinâmica do cyberbullying. Nas redes
sociais, a violência virtual contra os professores se propaga em
mensagens de ódio com diversos cunhos: idade, aparência física,
vestuário, orientação sexual, crença religiosa, preferência política,
raça/etnia, entre outras. Tanto o bullying quanto o cyberbullying
buscam agredir aquilo que consideram diferença do padrão aceito
como “normal” pela sociedade, isso também se encaixa na relação de
violência na direção aluno-professor. E isso também é um reflexo da
sociedade, do meio em que o aluno vive, pois repercute uma
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intolerância que é aceita e naturalizada pela família, amigos,
comunidade ou grupos virtuais de convivência (como redes sociais,
salas de jogos online ou aplicativos de relacionamentos).
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(art. 155), roubo (art. 157), dano ao patrimônio (art. 163), desacato ao
funcionário público (art. 331), entre outros. Segundo uma notícia do
Supremo Tribunal de Justiça (STJ) publicada no site JustBrasil em 2008:
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Educação em caso de omissão por parte da equipe diretiva; (6) buscar
uma ação judicial nos tribunais; (7) solicitar no cartório de notas uma
ata notarial do fato. Tudo isso para o docente resgatar sua dignidade,
lutar por um ambiente de trabalho mais seguro, respeitoso e
harmonioso, além de possuir um olhar humano para o aluno agressor,
que sendo menor de 18 anos deve ser encaminhado para um psicólogo
a fim de encontrar as causas que desencadeiam sua ação violenta, não
para abrandar o ato consumado por meio de justificativas, mas para
se buscar um trabalho em conjunto pela recuperação do menor e
consolidar uma nova conduta ao seu futuro.
Citaremos a seguir alguns casos recentes que ilustram ações
movidas por professores contra seus alunos, que estão julgadas ou em
fase de recurso. Afinal, como informou Posocco Advogados Associados
(2016), o Brasil é campeão no índice internacional de violência contra
docentes em sala de aula, segundo relatório de 2014 publicado pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE).
Quando nos referimos a violência no ambiente escolar,
também estamos falando do Ensino Superior, em universidades ou
faculdades, públicas e privadas. Em artigo publicado no site JustBrasil
(2010), um estudante universitário de Minas Gerais foi condenado
pelos crimes de injúria contra seu professor, cuja sentença determinou
o pagamento de uma multa e converteu a pena de um ano e oito
meses de detenção em prestação de serviços à comunidade. Segundo
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consta na queixa-crime, o aluno esbarrou no professor de propósito
em duas ocasiões ao entrar na sala de aula e, ao receber uma
advertência sobre esse comportamento, “o estudante demonstrou
desprezo e chegou a insinuar, com expressões chulas, que o professor
seria homossexual”. Na época da notícia, informou-se que cabia
recurso; todavia, não encontramos mais registros novos do caso em
nossa busca na internet para atualizações.
O Guia do Estudante (2010) noticiou que os responsáveis de
um aluno – cuja idade não foi informada – foram condenados a pagar
indenização de R$ 2 mil por agressão física contra uma professora no
Rio Grande do Sul, bem como reembolsar os gastos da docente com
médicos, psicólogos e advogados em decorrência da situação, no valor
de R$ 650 reais. No episódio, “a professora teria sido vítima de tapas
no ombro e no braço ao repreender o garoto, que atirava plantas em
outros estudantes”, chegando na sala da direção com as marcas das
mãos da criança. Pelo estado de nervos, precisou tirar licença do
trabalho para realizar tratamentos de saúde. Na interpretação da juíza
na sentença, a docente “teve sua reputação e autoridade perante os
demais alunos e colegas de profissão maculada”, por isso deve receber
um reembolso além da indenização.
Segundo o jornal Gazeta do Povo (2017), uma professora foi
indenizada com R$ 60 mil em São Paulo pelos responsáveis dos alunos
que criaram uma página no Facebook com seu nome, proferindo
ofensas a ela e utilizando suas fotos. A professora alegou difamação
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contra sua reputação com o agravante das proporções do alcance da
rede social. A família de um dos alunos envolvidos tentou argumentar
que foi em legítima defesa, uma vez que, segundo eles, a professora
cometeria bullying contra seus alunos; porém a juíza determinou que
esse argumento não cabe a situação, pois “bullying não justifica
eventual prática delituosa, como a de denegrir a imagem da
professora nas redes sociais, com o alcance que essa tem,
prejudicando mesmo o emprego dela”.
Em notícia do jornal O Sul (2021), uma estudante universitária
de Goiás foi condenada a indenizar um professor em R$ 3 mil por
difamação em uma rede social, cuja “mulher fez uma postagem o
acusando de assediar e até engravidar uma estudante. Ainda cabe
recurso da sentença”. Embora tenha confessado a publicação, a
estudante justificou que isso causou apenas um aborrecimento e que
excluiu a postagem em poucos segundos, fato que não se comprovou
ao passo que o professor tomou conhecimento da publicação dias
depois e enviou mensagem para a aluna excluir a postagem.
Considerações finais
Este artigo se apresenta como uma sinopse daquilo que vem
sendo demonstrado nos últimos anos sobre violência escolar. De um
lado, a violência expressa no cotidiano dos professores e, por outro ou
aliado a essa, a violência nas redes. Comportamentos delinquentes e
que denotam falta de respeito, ações que visam denegrir e/ou
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humilhar a imagem do docente, por vezes, geram muito engajamento
nas redes sociais, além de colocar o aluno – ou ele sentir-se – em uma
situação hierárquica de poder e status.
Esse artigo abre possibilidades de ampliar os estudos a
respeito da violência escolar, principalmente cyberbullying, temática
que vem ganhando destaque recentemente devido aos danos morais
e psicológicos de quem é vitimado. Faz-se necessário dar sequência
aos estudos sobre violência escolar para que a sociedade compreenda,
de fato, os impactos que determinadas ações e atitudes de alunos
impactam negativamente na vida pessoal e profissional dos
professores. Além do mais, as leis estabelecem direitos e garantias aos
menores, mas não impedem que haja punição de seus atos; em
contrapartida, é preciso haver uma legislação mais efetiva na direção
de reeducação do menor infrator e de assistência ao professor
vitimado, mas principalmente, de estabelecer uma campanha nacional
com ações voltadas ao combate e a prevenção à violência escolar.
Afinal, a violência em sala de aula é reflexo de uma sociedade
desajustada e é preciso um trabalho em conjunto de vários segmentos.
Os relatos aqui apresentados em consonância com as
reflexões teóricas vêm para defender que o combate e a prevenção de
qualquer violência são necessidades urgentes dos órgãos
educacionais, de justiça e de segurança pública, pois busca evitar que
a ação ocorra e gere sequelas, alguns vezes irrecuperáveis, como casos
de óbito. O Brasil ainda carece de uma política que atue como uma
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forma de prevenir e combater a violência escolar, realizando ações
paliativas e direcionadas para a punição quando já há um ato
consumado. Revitalizar o sentido da escola é uma tarefa árdua ao
Brasil, promovendo um ambiente saudável para a aprendizagem e
com infraestrutura ao trabalho docente, além de efetivar uma
educação de paz e fraternidade mediada pelos Direitos Humanos e
reduzindo os índices de violência, seja ela presencial ou virtual.
Importante que os pesquisadores em Educação, principalmente os
professores em atuação, participem de publicações científicas que
norteiem essas questões, a fim de embasar e reivindicar as possíveis
ações futuras do governo que envolvam a temática.
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Referências
- 38 -
EUFRÁSIO, J. et. al. Professor assassinado não retirou estudante de
projeto escolar. In: Correio Braziliense, 30.08.2019. Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/0
8/30/interna_cidadesdf,780023/professor-assassinado-nao-teria-
desligado-estudante-de-projeto-
escolar.shtmlhttps://www.agazeta.com.br/es/policia/professor-baleado-
em-linhares-adolescente-suspeito-de-ataque-e-detido-0422>. Acesso em:
abril de 2022.
- 39 -
content/uploads/2019/04/14142032-relatorio-mundial-sobre-
violencia-e-saude.pdf> Acesso em: janeiro de 2022.
RBS NOTÍCIAS. Aluno entra armado em escola de Nova Palma, RS. In:
Globoplay, 26.05.2015. Disponível em:
<https://globoplay.globo.com/v/4209119/> Acesso em: abril de 2022.
- 41 -
SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Justiça usa Código Penal para
combater crime virtual. In: JusBrasil, 23.11.2008. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/noticias/234770/justica-usa-codigo-
penal-para-combater-crime-virtual>. Acesso em: 23.04.2022.
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MUDANDO O FOCO TEREMOS RESULTADOS POSITIVOS: UM
OLHAR DIFERENCIADO NA VIOLÊNCIA ESCOLAR
Reflexões iniciais
Estamos imersos em um mundo onde as disparidades se
mostram cada vez mais gritantes. Depois de dois longos e danosos
anos de distanciamento social pela pandemia de COVID-19, nos parece
mais claro do que nunca o grande papel social que a escola
desempenha em nossa organização enquanto sociedade civilizada, se
assim pudermos chamar.
Que a educação escolar é direito fundamental não há o que
se discutir. Através dela, temos acesso ao conhecimento sem o qual
somos apenas passageiros nesse mundo. É o conhecimento que nos
proporciona a liberdade de construir uma vida melhor em todos os
aspectos e a escola é o espaço onde esse conhecimento é – ou deveria
ser – oferecido, construído e levado a efeito. Neste tempo de reclusão
pelo qual passamos, foi possível perceber de maneira incontestável
5
Especialista em Educação Infantil, pela Universidade Castelo Branco (UCB).
Professora aposentada da Prefeitura Municipal de Santa Maria/RS.
6
Especialista em Metodologia de Ensino, pela Universidade de Passo Fundo (UPF).
Atualmente, exerce o cargo de vice-diretora em uma escola da Prefeitura Municipal
de Santa Maria/RS.
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que a escola cumpre seu papel, pois sem ela é possível sentir a
defasagem de aprendizagens geradas e que só agora estão sendo
sentidas pela sociedade. Porém, como outros meios, entre eles os
digitais, de se buscar informação, o que nos fica mais efervescente é a
imensa lacuna que se formou no que diz respeito às relações
interpessoais estabelecidas no ambiente escolar.
Lidamos, nesse momento, com propostas e ações que visam
resgatar e construir conhecimentos que, de alguma forma, ficaram
“em aberto”. Mas acima de tudo, precisamos pensar em formas
eficientes de reconectar relações. Em nossa ingênua imaginação,
pensamos que o momento do reencontro com os pares na escola
proporcionaria vivências de alegria e valorização dos momentos junto
aos colegas. Percebe-se que estarmos distanciados promoveu muita
saudade e necessidade de ter o outro mais perto, mas também
aumentou sensivelmente ações egocêntricas e que eclodem na escola
nesse momento, mostrando a importância de pensar e estabelecer
relações mais empáticas, respeitosas e de acolhimento.
A violência, seja de que forma se apresente, tem feito parte
do ambiente escolar desde os primórdios. Sendo este um espaço de
encontro das realidades familiares e sociais, cada aluno traz consigo
uma forma de entender e reagir ao mundo, com uma bagagem de
conceitos e de preconceitos. No encontro, há o confronto de ideias, a
construção de relações, nem sempre de forma ordenada e pacífica.
Desde o princípio, buscou-se orientar, de forma positiva e producente,
- 44 -
as relações de respeito e bem conviver no ambiente escolar, sendo
essa a base onde se apoiam as atividades pedagógicas.
- 45 -
educação dos sentimentos e das ações para a vida também fora da
escola.
Existem dias e/ou meses específicos para comemoração de
determinados assuntos, que buscam chamar atenção para os
problemas envolvidos. Todavia, é possível notar que isso cria uma
atmosfera compartimentada e fragmentada, estabelecendo uma
rotulação bem definida, acabando por reforçar justamente aquilo que
se quer combater. É como se houvesse um momento para falar das
mulheres, outro momento para os indígenas, depois sobre os negros
e assim sucessivamente. É sabido que educamos para a vida e esse,
sem dúvida, é o papel da escola. Porém, em nossa prática docente,
sempre nos pareceu muito claro que tudo o que é iluminado, que “vira
título”, pode acabar ganhando maior força. Por exemplo: enfocar
apenas na violência, sem contextualizar ou ressignificar as
consequências, pode levar ao aumento de sua ocorrência.
Provavelmente, a neurolinguística explique com mais propriedade o
assunto.
Sendo assim, ao invés de trabalhar temas que queríamos ver
banidos do nosso dia a dia, enfocando o debate da violência de toda
espécie (racismo, drogadição, machismo e etc.), propomo-nos em
trabalhar temas que busquem a prática do respeito às diferenças, dos
valores de boa convivência, a compreensão dos direitos e dos deveres,
enfocando assim na construção da cidadania, onde é possível discutir
temáticas relacionadas ao bom convívio que tanto desejamos e, ao
- 46 -
mesmo tempo, esclarecer visões preconceituosas sobre diversos
assuntos. Em resumo: tentamos formar pessoas para combater a
violência na sociedade por meio da aprendizagem do respeito às
diferenças e ao longo de todo o ano letivo, com ou sem comemoração
específica em dia e/ou mês, tornando-se algo transversal e linear da
prática docente.
Lidamos com seres humanos diferentes de todas as maneiras,
seja pela cor de sua pele, pelas condições ou existência de
necessidades especiais, por crenças religiosas diversas, etc. Para cada
grupo, existe uma busca de igualdade em condições e em tratamento
para todos. É preciso, sim, conhecer as diferenças para respeitá-las,
mas esse conhecimento se faz no cotidiano e na vivência de
experiências reais, não somente em mencioná-las em datas específicas
e ignorá-las no restante do ano. Cabe salientar também que
estabelecer ou construir esses valores de respeito mútuo, boa
convivência nas relações entre os pares na escola exige, além de
termos como objetivo uma cultura de paz, que ofereçamos o exemplo
começando pela ação dos próprios professores.
Ninguém ensina, promove ou pode exigir aquilo que não vive.
Como mediadores de conhecimentos, somos responsáveis também
pela mediação das relações. É preciso que se estabeleça com os alunos
uma relação de confiança e respeito, em que nos momentos de
conflito possa ser exercida uma mediação efetiva e, principalmente,
afetiva, sem prejuízo da autoridade e levando em conta a
- 47 -
amorosidade. Não é possível pensar essas questões sobre violência no
ambiente escolar sem passar por todos os envolvidos. Na maioria dos
casos, quando surge o assunto, está ligado a violência dos alunos para
com seus pares ou mesmo para com os trabalhadores da escola.
Contudo, não podemos esquecer que a violência espreita cada um de
nós, de nossas ações. Se partimos do pressuposto que nossos
exemplos ensinam mais que nossas palavras, enquanto professores
precisamos também, em nossas relações, banir todo e qualquer tipo
de violência, inclusive a mais velada delas: o autoritarismo.
Resgatar a autoridade da figura do professor não significa
colocá-lo em uma posição de distanciamento dos alunos. Significa que
cada um desempenha seu papel e pode, mesmo assim, estabelecer
relação de confiança, respeito e colaboração. Em nossa prática, desde
sempre, tem sido ressignificar os momentos de vivência/convivência.
Atividades de integração entre turmas de anos diferentes,
proporcionando que os colegas com mais idade possam auxiliar os
alunos de menos idade, a distribuição de tarefas como servir o lanche
para os colegas, preparar momentos de jogos, brincadeiras, pesquisas,
onde possam agrupar-se por interesse e contribuir com os
conhecimentos que possuem sobre os assuntos, são exemplos de
ações onde trazemos ao centro das atividades à reflexão sobre o
respeito que tanto objetivamos.
Cada aluno oferece o que pode e contribui para o bom
andamento do trabalho. Fazê-los sentirem-se importantes porque
- 48 -
estão na escola para agir, aprender a fazer fazendo. Quadro “negro”,
giz, caderno e lápis são elementos ligados à uma forma de aprender,
mas não a única, tampouco a mais importante. Se aprende a conviver,
convivendo. Se aprende a tratar bem os outros, sendo bem tratado. É
essencial aprender a conduzir as questões mais delicadas de
relacionamento de uma forma positiva, onde a solução dos conflitos
ocorra de forma criativa e deixe claro o que de positivo podemos
aprender com ela. Conflitos são inevitáveis e, diríamos mais,
importantes ao crescimento pessoal e do próprio grupo. Em situações
complicadas, surgem os maiores aprendizados, caso sejam conduzidas
de forma assertiva. Esses aprendizados são tão essenciais à formação
humana quanto o Português, a Matemática, a História, a Geografia e
qualquer outra área do conhecimento científico.
Colocar cada aluno como protagonista é fundamental para
todo o processo, chamando-o para a resolução dos problemas, assim
como o planejamento das ações mais lúdicas como festas, passeios,
atividades recreativas. Poder votar no filme a ser assistido, escolher
qual oficina realizar na escola, compartilhar momentos de jogos e
brincadeiras, são formas de comprometer-se com suas escolhas.
Poder fazer projetos de atividades, sugerir ações, pensar em formas
de melhorar o recreio, o uso do pátio comum da escola, é uma forma
de colocar o conhecimento em ação com um objetivo que realmente
é importante para as crianças. Avaliar toda e qualquer ação promovida
pela escola ou realizada pelo próprio aluno, é uma forma de, além de
- 49 -
buscar o feedback, ensinar que para toda crítica é necessária uma
sugestão. Impossível que, em um ambiente assim estabelecido,
baseado em uma cultura de paz e respeito, haja tempo para
preocupar-se com a violência contra o outro, ao passo que todos
aprendam a ser cidadão ativos e sentem-se pertencentes a gerência
da escola. É uma proposta que entende que melhorando o próprio
mundo, o “mundo da escola” fica melhor e se melhora o mundo da
vida.
Mas, há que se dizer que, apesar desse olhar e das ações
implementadas com tanto empenho, sempre existem aqueles que,
por motivos alheios a nossa vontade, ainda não conseguem
desapegar-se de hábitos estabelecidos fora dos muros da escola.
Muitos carregam consigo o que vivem no ambiente doméstico, o que
absorvem dos jogos eletrônicos e dos programas de televisão,
reproduzindo relações mais violentas e pouco cordiais. Em nossa
profissão, são muitas as histórias de quem passou boa parte da vida
mergulhado na rotina de uma escola. Contar cada uma delas renderia
certamente um livro próprio e necessitaria da autorização expressa
dos envolvidos para ser compartilhado. Porém, algumas são
interessantes para ilustrar o que apresentamos até aqui.
- 50 -
ouvindo represálias, mas não conseguem conter-se com as
características dos que têm dificuldades em relacionar-se de forma
positiva com os colegas e que as chamadas de atenção já não são mais
levadas em conta, D. tinha verdadeira fixação em atirar pedras nos
colegas. Certo dia, a pedra em questão era realmente grande e por
pouco não fere com gravidade um colega. Então D. foi chamado e
convidado a transformar a pedra em sua companheira por uma
semana. Depois da conversa com o colega agredido, do socorro
prestado pela professora com auxílio do próprio aluno agressor para
ressignificar seu ato, a pedra ficou em suas mãos por sete dias. Foi uma
tarefa árdua acompanhar D. nessa jornada, sempre com os olhares
atentos para suas ações, mesmo que à distância. Mas enfim, houve o
sucesso no processo! Não foi mágica, tampouco desgaste de conversas
sem solução. D. compreendeu, por suas próprias vivências, o que
implicaria manter-se como agressor, percebendo que toda ação gera
consequências e que ele poderia aprender a fazer diferente, a ser
melhor. Aprendeu na prática o que é sentir empatia pela dor do
colega, reforçando os laços de convivência com sua vítima ao cuidar
do machucado com supervisão da professora e, assim, para torná-lo
seu amigo. Libertou-se!
Conhecer a realidade, o jeito de cada um dos alunos, suas
limitações e possibilidades, é o que garante que possamos oferecer a
eles o que realmente necessitam. A compreensão de suas ações, o
quanto podemos desafiá-los a progredir e superar suas dificuldades
- 51 -
sejam elas em que campos forem. Um aluno feliz, acolhido,
compreendido em suas necessidades emocionais, com certeza
aprende muito mais. Nem sempre é fácil encontrá-los em seu mundo,
mas é tarefa do professor tentar estabelecer tais laços e a partir disso
propor a mágica construção de conhecimentos com seres humanos de
verdade. É oferecer um olhar acolhedor, especial e atento, algo que
somente nossa prática diária na profissão pode nos ensinar a adquirir
para além do nosso diploma universitário. Afinal, capacitamos nossos
alunos em leitura e escrita, em cálculos e conhecimentos gerais, mas
também precisamos ensinar os valores humanitários.
Esse desafio todo de compreender o papel da escola e de
levá-lo a efeito faz parte de nossa função enquanto professores. Com
o passar dos anos, o desafio mostra-se cada vez mais intenso, mas
desanimar não é uma opção. Somos semeadores e, compreendendo
nossa tarefa, seguimos exercendo esse currículo oculto que nos coloca
na posição de professoras que amam muito o que fazem e com quem
convivem. Diante de uma nova realidade que se apresenta, trazida
pelos anos de afastamento em decorrência da pandemia, sentimos
que será preciso redobrar os cuidados, os esforços e as ações.
Esperamos que os envolvidos nesse processo de ensino-aprendizagem
tenham sabedoria para reorientar o caminho construído até aqui,
calma e consciência para mediar os conflitos que eclodem e uma
enorme dose de empatia pedagógica para acolher os todos os alunos
- 52 -
que estão construindo a significação das relações sociais no ambiente
escolar.
Acreditamos que combater a prevenir a violência escolar
pode e deve ser pautada pela abordagem da equidade, da consciência
humana e cidadã, construindo relações sociais que enfrentem essas
circunstâncias à luz do respeito as diferenças. Por meio de nossa
experiência profissional, defendemos que é possível atingir bons
resultados ao trabalhar a questão da violência em sala de aula sem dar
destaque para a violência em si, mas direcionando o debate para o
respeito e a igualdade. Logo, mudando o foco teremos resultados
positivos!
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Referências
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DESAFIOS DA TERAPIA OCUPACIONAL E DA MÚSICA FRENTE À
VIOLÊNCIA E À PRECARIZAÇÃO ESCOLAR
Carolin Jost7
Lucca Rosito Machado8
Francine Bolzan Bortoluzzi9
7
Graduada em Música Licenciatura Plena, pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). E-mail: carolinjost@hotmail.com.
8
Acadêmico do último semestre da graduação em Terapia Ocupacional Bacharelado,
na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: rositomachado@gmail.com.
9
Especialista em Transtorno do Espectro Autista, pela Child Behavior Institute of
Miami. E-mail: francineterapeutaocupacional@gmail.com.
- 55 -
para se deslocar ao longo do período, ocasionando gastos elevados
com combustível e tempo.
Ao realizar cálculos diante do orçamento mensal para
desempenhar o trabalho docente, foi observado que seria gasto mais
dinheiro em combustível no deslocamento entre uma escola e outra
do que o valor recebido pelos honorários cumpridos, até por que a
prefeitura não pagava o vale-transporte uma vez que não se tratava
de um vínculo por concurso público com regime de plano de carreira
prevista em lei.
Na escola em que realizou-se o primeiro contato como
professora após concluir a formação acadêmica, foi em uma escola
estadual cujos alunos possuíam histórico de depredação das áreas
comuns da escola, além de fechaduras e portas das salas onde eram
realizadas as aulas. O trabalho foi desempenhado em turmas do 1º e
2º anos do Ensino Fundamental, com alunos residentes em bairros
carentes. Ao entrar na sala, houve a apresentação inicial da professora
regente, que logo se retirou da sala e deixou as crianças em suas
classes, com um comportamento tranquilo e atencioso.
Propôs-se uma atividade prática, em que as crianças
deveriam ficar em pé. De início, todas participaram da maneira
esperada. Em poucos instantes, começaram a apresentar um
comportamento inapropriado, cujos colegas proferiram ofensas entre
si, levando a uma agressão física. Embora seja algo já relatado no
ambiente escolar, não estamos preparados para agir nestas situações,
- 56 -
precisamos aprender na prática. Os alunos envolvidos na briga foram
encaminhados para a direção, enquanto os demais permaneceram em
sala. Destes, parte queriam realizar a atividade da disciplina de Música
e a outra parte estava extremamente agitada. Surgem os
questionamentos frente tal situação: o que a professora poderia
fazer? Solicitar a saída de metade da turma que não queria prestar
atenção? Deveria ignorar e ministrar o conteúdo? Como o profissional
deveria se portar diante daquela situação? Qual seria o papel como
educadora ao se deparar com uma situação dessas?
Na universidade, quando entramos em estágio, não
costumamos atuar em escolas em que somos expostos a esse tipo de
situação, então quando entramos em uma escola em que os alunos
não respeitam o profissional docente, alunos que agridem
verbalmente e fisicamente uns aos outros, dentre outras
circunstâncias com a qual nos deparamos e que não estamos
preparados para agir, necessitando o aprendizado com a prática no
cotidiano profissional. Exemplificando determinado acontecimento, a
autora recorda um incidente quando uma das meninas ao se deslocar
para o toalete, voltou para a sala de aula e relatou ter sofrido uma
agressão por parte de outro aluno na região do estômago, relato que
assusta e surpreende qualquer um, e principalmente aqueles que se
deparam com este tipo de conjuntura e não saber como atender
adequadamente a menina, ao mesmo tempo em que é preciso lidar
- 57 -
com o restante da turma e cuidar para que eles não se agridam
novamente.
A maior angústia dessa experiência era o fato de que algumas
crianças relataram o desejo de evasão do ambiente escolar por
sofrerem agressão física e moral pelos colegas; no entanto, não
encontram vagas nas demais escolas para realizarem a matrícula e
para sair daquele ambiente que para eles tornou-se desconfortável e
prejudicial ao seu bem-estar. Surge a reflexão de que se nem mesmo
os docentes não desejavam ocupar aquele ambiente, os discentes que
manifestavam interesse e queriam estudar, consequentemente
também expressavam o descontentamento, inquietação e expectativa
de desvencilhar-se deste espaço educacional, visto que se sentiam
constrangidos pelos próprios colegas.
Nas escolas seguintes em que a professora frequentou
tratavam-se de escolas municipais. Foi possível observar que as
crianças estavam mais interessadas, sabiam se portar adequadamente
em sala de aula, gostavam de pertencer àquele ambiente. As escolas
eram estruturalmente melhores, com boa infraestrutura, embora
muitos materiais didáticos precisavam ser adquiridos pelos próprios
professores já que a prefeitura não fornecia o suficiente e por vezes
nada do que era solicitado. É mais um gasto financeiro que o docente
precisa arcar além do combustível para executar o seu trabalho da
melhor forma possível, mesmo em condições de precarização do
trabalho. Sendo assim, há o relato de muitos professores que optam
- 58 -
por lecionar em escola privada, cujo proprietário da instituição
disponibiliza em tempo hábil todo o material que é necessário ao invés
de lecionar em escola pública cujo o próprio docente precisa arcar com
material de trabalho e deslocamento.
Ao fim da jornada de trabalho, alguns alunos questionaram
quando seria a próxima aula de Música, mas ao procurar no mural da
escola, uma professora reiterou que não deveria ser informado aos
alunos para evitar que eles ficassem com expectativa e não
participassem das demais disciplinas. Logo, percebemos que os alunos
necessitam de um olhar de atenção e cuidado, mas a outra professora
da turma percebia isso como desrespeitoso pela “hierarquia”
constituída na instituição.
Exausta após o primeiro dia de trabalho temporário, circulando
por seis escolas com diferentes casos de violência e precarização, foi
decidido por apresentar um pedido de demissão. Entrando em contato
com a Secretaria de Educação da prefeitura e informando a decisão,
assinando a rescisão do contrato no dia seguinte, sendo necessário
abrir mão do salário mensal. Em 2022, a mesma prefeitura publicou
edital de um novo processo seletivo simplificado para contratação
temporária de professores, porém sem vaga para Música. O ideal seria
que o órgão público disponibilizasse mais vagas para professores de
Música, para não sobrecarregar o educador, assim haveria ao menos
um professor para cada duas escolas, cujo profissional teria melhores
condições de desenvolver seu trabalho, o gasto em combustível seria
- 59 -
menor e não ficaria em exaustão por se locomover de uma escola para
a outra em um curto espaço de tempo.
Observamos a necessidade de pedir demissão tendo em vista
as condições de trabalho que a prefeitura impôs a docente,
sobrecarregando-a com várias escolas em diversos locais da cidade e
com infraestrutura insuficiente. As prefeituras, geralmente, alegam
que não há professores habilitados para lecionar Música e, portanto,
não publicam editais; mas o que realmente acontece é que os
professores ficam sobrecarregados com a demanda de várias escolas
em que as prefeituras colocam o profissional para atuar, precarizando
o desenvolvimento de um trabalho adequado. Ademais, percebemos
que não foi somente uma professora que deixou o cargo neste edital,
já que a professora contratada anteriormente também rescindiu o
contrato. Sendo assim, podemos pressupor que ela também teve
problemas com a dinâmica que o município impôs ao seu trabalho.
- 60 -
supervisão e responsabilidades técnicas como gestão, direção,
consultoria, perícia e afins.
A Terapia Ocupacional está presente nas atividades cotidianas,
tem caráter terapêutico no intuito de facilitar os hábitos e rotinas dos
indivíduos em diferentes ambientes, de acordo com Associação
Americana de Terapia Ocupacional (AOTA, 2015). O terapeuta
ocupacional intervém no contexto escolar através do desempenho do
estudante (brincar, lazer, interação social, atividades de vida diária,
entre outros), propondo meios do aluno participar das atividades
relacionadas ao ambiente escolar e educacionais. A partir da resolução
citada acima, o terapeuta ocupacional ampliou seu campo de atuação,
podendo então efetivamente atuar na sala de aula, passeios escolares,
reforço escolar, recreio e dentre outras modalidades, com o intuito de
facilitar a rotina dos alunos em diferentes ambientes.
Inclui-se a isso também o papel do profissional enquanto
mediador de conflitos entre as partes, sejam elas docentes e discentes,
ou mesmo profissionais componentes na dinâmica cotidiana escolar,
atuando a fim de colaborar com o entendimento e possibilitando
alcançar os objetivos particulares a cada um, respeitando as
individualidades e necessidades, a partir do uso da comunicação não-
violenta e outras técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e
profissionais, assegurando a resolução destas divergências com êxito
e imparcialidade, com atenção, primazia aos detalhes e peculiaridades
pertinentes neste diálogo.
- 61 -
A mediação de conflitos configura-se como uma estratégia
para relacionamentos interpessoais, isto é, um método não
adversarial, consensual e cooperativo, de maneira voluntária que visa
à promoção do diálogo entre as partes, em um ambiente de respeito
e colaboração, em nenhum momento se estabelecerá papel de
ganhador ou perdedor, de inocente ou culpado, dentro de um conflito.
Os autores ressaltam que o papel do mediador está expresso no Novo
Código de Processo Civil, em seu artigo 165, caput e § 3º e 4º, segundo
o qual informa que o “mediador auxiliará os interessados a
compreender as questões e interesses em conflito, de modo que eles
possam, pelo restabelecimento da comunicação identificar por si
próprios, as soluções consensuais que gerem benefícios mútuos”.
À luz de Warat (1998, p. 09), compreendemos que o sujeito
mediador tem o papel de “chamar para o lugar da transferência, o
outro ou os outros envolvidos no conflito, tentando que cada um,
olhando-se a partir do olhar do outro, possam se transformar,
reencontrando-se em suas pulsões de vida”. Neste sentido, o contexto
escolar necessita da participação multidisciplinar dos diversos
profissionais que atuam na escola. Quando ressaltamos isso, incluímos
desde a equipe de limpeza, alimentação, diretiva até chegar nos
professores, terapeutas ocupacionais, educadores especiais e os
demais profissionais envolvidos no processo de aprendizagem e
inclusão escolar do aluno. É fundamental criar essa rede de apoio, para
- 62 -
que os conhecimentos e percepções possam ser partilhados e
potencializar as ações no ambiente educacional.
Salientamos que a facilitação do processo de aprendizagem se
completa com a parceria da família de cada aluno e a da comunidade
onde está inserido. É de suma importância que por trás de cada
atividade estruturada, lúdica, cada brincadeira, cada adaptação esteja
unida com a participação familiar e comunitária. O objetivo é
promover uma escola/educação respeitosa e acolhedora para cada
indivíduo participante. O terapeuta ocupacional pode agregar para
isso, pois compreende atividade e contexto no ambiente escolar. Os
autores reforçam o papel importante da interdisciplinaridade, onde se
destaca como a palavra-chave neste contexto, um alicerce que
evidencia práticas que sejam efetivas no ambiente escolar e nas
relações que abrangem o contexto educacional e comunitário.
Ademais, urge a necessidade de um olhar atento acerca da
temática da violência no âmbito escolar, pois este se reveste de grande
complexidade e traz à tona uma preocupação dos educadores e da
sociedade em geral, em virtude de que esse fenômeno não se resume
apenas a agressão ou indisciplina por parte dos alunos, trata-se de um
problema social. Diante da violência e das transformações sociais e
culturais na atualidade, as temáticas de mediação de conflitos e as
formas alternativas de resolução de conflitos se sobressaem ainda
mais na sociedade, que persiste em demonstrar uma necessidade de
(re)criar mecanismos que possibilitem uma interação social a fim de
- 63 -
construir uma cultura mais harmoniosa e respeitosa que assegure os
direitos e deveres fundamentais da população.
Sob esta ótica, diversos pesquisadores elucidam que o núcleo
e especificidade da Terapia Ocupacional utilizando-se da mediação de
conflitos como forma de resolução da violência como uma ferramenta
de transformação, de interação social; isto é, um método eficaz de
compreensão do problema, assim como o restabelecimento do
diálogo e promoção do respeito pelas diferenças, bem como forma de
encontrar pontos e desejos que coexistem com finalidades
semelhantes. É importante que a Terapia Ocupacional reflita sua
participação nesse âmbito, considerando o acesso, a permanência e a
qualidade da aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens à/na
educação escolar como um direito humano e também social, pois a
escola é um espaço de suporte social e que oportuniza o
desenvolvimento pessoal e da cidadania.
Devido a este entendimento, é necessário que o cotidiano
escolar educacional seja compreendido em todos os seus vieses, mas
que o lado pessoal de cada indivíduo seja levado em consideração,
sejam estes profissionais das diversas especialidades que compõem o
corpo docente e também aos discentes. Quando essa visão fica
esclarecida para a equipe, o vínculo com cada aluno se fortalece, as
intervenções se tornam mais potentes, plausíveis de se concretizarem,
as reflexões e resultados também se tornam mais satisfatórios. A
escola, em colaboração com as famílias e a sociedade, destaca-se
- 64 -
como o local de aprendizado e crescimento que promove a formação
do cidadão participativo, solidário e consciente. A instituição escolar
tem um importante papel na transformação de conflitos, intervindo
de maneira ativa nas relações conflituosas e nos casos de violência,
promovendo uma percepção positiva da situação, a fim de ocasionar
uma boa convivência escolar.
- 65 -
autores como Silva (2012, p. 36) evidenciam que a música é de suma
importância para alfabetizar, resgatar a cultura e ajudar na construção
do conhecimento pela criança. A música não só atrai a criança como
motiva, tornando-a mais atenta ao que o professor pretende.
Devemos ressaltar que a musicalização na escola não tem por
função formar músicos profissionais, mas demonstrar a linguagem
musical, estimular o desenvolvimento sensorial, organizar as emoções
e suas expressões para que a formação do indivíduo seja completa.
Tennroller e Cunha (2012, p. 35) salientam que “trabalhar atividades
pedagógicas fazendo uso da música é com certeza estimulante, pois
ela dá condições de observar a percepção musical das crianças e a sua
melhora na sensibilidade, na construção do conhecimento, no
raciocínio e em sua expressão corporal”.
A música se faz essencial no cotidiano da criança, pois está
relacionada com conceitos que se fazem necessários para o pleno
desenvolvimento infantil como ritmo, melodia, identificação de sons e
outros. Estes conceitos são parte do desenvolvimento saudável do
público infantil, direcionando estímulos para a memória, socialização,
emoções, atenção, sentimentos, sensibilidade, sequenciamento etc.
(Cardoso, 2013). A música tem o propósito de facilitar a aprendizagem
dos alunos em sala de aula, tornando a aquisição do conhecimento
algo prazeroso e principalmente, construído pelo próprio aluno, com
as suas características, com as suas potencialidades, no seu tempo
(Tennroller e Cunha, 2012).
- 66 -
A criança tem a percepção como um dos primeiros sinais de
aprendizagem. Ao utilizar-se de objetos com diferentes tipos de sons,
formatos e utilidades, ela assimila conhecimentos sobre o ambiente
que a cerca, desenvolvendo a aprendizagem (Silva, 2012). A música é
transdisciplinar, pois se faz da integração de vários conhecimentos e
de várias áreas trazidas pelo currículo escolar como Sociologia, línguas,
cultura, etc. Associado à manipulação instrumental, o aluno
desenvolve aprendizados tecnológicos, incluindo a produção dos sons,
a gravação e reprodução destes sons aprendidos e ensinados. A
música consegue reunir diferentes áreas do conhecimento e
desenvolver capacidades no indivíduo de forma global (Cardoso,
2013).
Considerações finais
Ressaltando uma oportunidade onde a Terapia Ocupacional
atuaria neste contexto escolar, recorrendo à mediação de conflitos
como estratégia plausível e benéfica para um melhor funcionamento
de relacionamentos interpessoais, exemplificamos a situação descrita
pela autora licenciada em Música, onde através de seu relato e
percepções vivenciadas no ambiente escolar, trouxe à tona
divergências cruciais na gestão e planejamento que poderiam
encontrar uma solução viável e evitaria desapontamento profissional
e reduzindo frustrações estudantis neste processo. O profissional
terapeuta ocupacional neste âmbito, ao considerar o acesso, a
- 67 -
permanência e a qualidade da aprendizagem de crianças, adolescentes
e jovens à/na educação escolar um direito humano e também social,
este último advindo da cidadania que detêm, mas compreendendo a
escola como um espaço de participação democrática que deve
também compor uma rede social de suporte.
Buscaria adequar os objetivos da instituição escolar com os da
profissional, de forma não adversarial, equilibrando os pontos de vista,
a fim de solucionar questões de logística e evitar possíveis eventos
danosos à escola, tais como os exemplificados dos alunos que
demonstraram descontentamento, inquietação e expectativa de
desvencilhar-se deste espaço educacional, visto que se sentiam
constrangidos pelos próprios colegas. Assim como o da docente, que
diante de tais circunstâncias dificultosas no cotidiano laboral, da
precarização de trabalho em que a prefeitura impôs a docente,
sobrecarregando-a com várias escolas em diversos locais da cidade e
com infraestrutura insuficiente, opta-se por fim pela rescisão de
contrato.
Culminando em um problema social da falta de professores
qualificados para o ensino de diferentes núcleos do saber, neste caso
o da Música, restringindo a aquisição, assimilação e acomodação do
conhecimento que esta arte despertaria na vida destes indivíduos, pois
como enfatizam diversos pesquisadores, a expressão e a Educação
Musical se apresentam como um domínio ou área que visa contribuir
- 68 -
para a formação geral da personalidade desse sujeito, através da
formação auditiva, psicomotora, intelectual, socioafetiva e estética.
A escola constitui-se como um espaço de participação
democrática que deve também compor uma rede social de suporte e
de convívio para os alunos que nela participam, para seus docentes e
demais profissionais que compõem e se utilizam deste ambiente, o
qual oportuniza aos mesmos o desenvolvimento pessoal e o da
cidadania. A violência é um fenômeno complexo que está inserido na
vida moderna, em todos os grupos sociais, tornando-se uma
preocupação conjunta. A violência e os conflitos, dentro do âmbito
escolar, dificultam o ensino, afetando as relações de toda
comunidade.
A mediação nas escolas apresenta-se como uma oportunidade
pedagógica de reflexão e de aprendizagem, que através da
intervenção de uma terceira pessoa imparcial, busca solucionar as
demandas conflitantes, por meio do consenso e do diálogo entre as
partes. Diante do exposto, é importante ressaltar a necessidade da
participação ativa de toda comunidade escolar (professores, alunos,
pais, diretores, servidores, funcionários e sociedade) reconhecendo e
promovendo os métodos consensuais, cedendo espaço para que os
envolvidos.
Por ser um meio onde o social ocorre, é necessário que o
cotidiano escolar seja compreendido em todos os seus vieses,
enfatizando o caráter pessoal de cada indivíduo. Quando a equipe
- 69 -
compreende o que acontece com cada aluno, seja este ambiente
dentro ou fora da escola, quando acolhe cada situação, necessidade e
dispõe-se a estar atento a todas as partes e partilha o saber, o vínculo
com cada aluno se fortalece e as intervenções se tornam mais
potentes, independentemente do núcleo e especialidade do saber.
Finalizamos indicando que torna-se importante e necessário a
ocupação de espaços escolares por parte dos profissionais de Música
e de Terapia Ocupacional, uma vez que há legislação para sua inserção
e permanência no contexto escolar, mas ainda falta uma mobilização
para reivindicar seus direitos enquanto profissionais habilitados e
competentes para atuar no desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem dos discentes, bem como em contribuir frente à
crescente violência escolar no Brasil. É preciso que as universidades,
os acadêmicos e os profissionais já formados, em Música e em Terapia
Ocupacional, lutem pela execução da lei vigente, ampliando o espaço
de atuação e auxiliando na dinâmica escolar contemporânea.
- 70 -
Referências
- 71 -
MORGADO, C.; OLIVEIRA, I. Mediação em contexto escolar:
transformar o conflito em oportunidade. In: EXEDRA. Revista
Científica da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de
Coimbra. p. 43-55, jun. 2009.
- 72 -
VIOLÊNCIA ESCOLAR: ATÉ QUANDO? A MEDIAÇÃO DE
CONFLITOS PARA PROMOVER UMA CULTURA DE PAZ
Introdução
Nos últimos anos têm se aprofundado os estudos no âmbito
escolar, buscando compreender os contextos de violência vivenciados,
destas discussões tem surgido uma proposta de construção de uma
cultura da paz. Neste sentido, ZIROLDO, JUNIOR & FAJARDO (2015),
refletem que a violência pode ser entendida como uma falha do
10
Cursando o Mestrado Acadêmico em Educação, pela Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM). Atualmente, exerce o cargo de diretora em uma escola na
Prefeitura Municipal de Santa Maria/RS.
11
Cursando o Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão Educacional, pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora na Prefeitura Municipal de
Santa Maria/RS.
12
Cursando o Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão Educacional, pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora na Prefeitura Municipal de
Santa Maria/RS.
13
Cursando o Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão Educacional, pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora na Prefeitura Municipal de
Santa Maria/RS.
14
Especialista em Educação Infantil, pela Universidade Castelo Branco (UCB).
Professora aposentada na Prefeitura Municipal de Santa Maria/RS.
- 73 -
comportamento humano em respeitar os limites do que se
consideraria agressão aceitável socialmente, o que varia de acordo
com o modelo e referencial cultural em cada sociedade. Destaca-se
também a necessidade de uma mediação de conflito que envolva o
aluno, professor e responsáveis, de modo a conhecer a realidade dos
alunos e suas famílias e atuar dentro de uma perspectiva de ações
construtivas.
Constantemente, presenciamos nas escolas situações
conflitivas e geradoras de desgaste emocional que envolvem pais,
alunos, professores e funcionários. Tais situações podem ser
conduzidas de diferentes modos; porém, o que normalmente
observamos é uma troca de acusações e culpas, uma tentativa de “se
livrar” daquilo que incomoda. Sabemos que os conflitos e desafios são
partes da profissão docente e que, diante da saturação do convívio,
sem percebermos, não olhamos de verdade para o que nos afeta.
Olhar de verdade, com atenção, sem pressa de acabar com o mal-
estar, significa abandonar nossos conceitos e julgamentos sobre o
outro, abandonar nossos preconceitos repetidos sem pensar. Sendo
assim, pretende-se avançar quanto às estratégias de intervenção que
auxiliem a trilhar uma trajetória de crescimento pessoal e social,
primando pelo diálogo e momento de escuta.
É comum ouvirmos relatos e situações sobre a violência no
âmbito escolar, seja pela mídia ou por meio de nossas vivências, a qual
está impregnada no cotidiano das instituições de ensino e que vem
- 74 -
crescendo consideravelmente nos últimos anos no Brasil, ocasionando
consequências na saúde física, psicológica e emocional dos alunos e
professores. Por meio da escrita deste artigo, pretende-se refletir
através de revisões literárias – leituras de artigos consultados na base
de dados Scielo – acerca do tema relacionado à violência escolar, assim
como também acesso há documentários com relatos e esclarecimento
de psicólogos, na busca por compreender a origem dessa conexão com
a violência, trazendo como proposta a mediação de conflitos escolares
com base em nossas atividades desempenhadas na Escola Municipal
de Ensino Fundamental Padre Gabriel Bolzan e Escola Municipal de
Educação Infantil Alfredo Tonetto, ambas compartilhando o mesmo
terreno e localizadas no município de Santa Maria/RS.
Percursos teóricos
Dentre as principais causas encontrada para este tipo de
violência, está a reprodução do ambiente doméstico no qual os alunos
estão inseridos, como por exemplo: constantes discussões familiares,
relações familiares conturbadas, falta de atenção, amor e carinho por
parte dos pais e ou responsáveis, desemprego, vulnerabilidade,
criminalidade, inclusive a violência presente na mídia (televisão,
celular, filmes, desenhos, redes sociais e jogos de videogames).
Segundo os estudos apresentados, a violência escolar, na maioria das
vezes, é a reprodução da violência doméstica, a qual o indivíduo
vivencia no cotidiano. Nesse sentido Barbieri, Santos e Avelino (2021)
- 75 -
apresentam Lourenço e Senra (2014), que trazem os principais fatores
que levam as crianças e adolescentes a reproduzirem tais condutas
com colegas e professores, os quais podem ser socioeconômicos,
culturais e temperamentais devido às influências familiares, colegas e
da comunidade. Portanto, o ambiente escolar acaba por tornar-se alvo
do reflexo das situações vivenciadas pelos alunos na realidade, na qual
estão inseridos; muitas vezes ainda, a escola acaba sendo o local do
“acerto de contas”, pois é o local em que as mesmas pessoas
frequentam todos os dias, o ano inteiro, sendo o local mais certo para
se encontrar a pessoa que se deseja uma revanche.
Trazemos aqui uma situação real de nosso contexto escolar.
Certo dia, uma mãe nos relatou que alguns colegas das turmas de
outros anos estariam rindo de seu filho, então na hora do intervalo
fizemos o chamamento de todas as turmas dos anos iniciais e
conversamos sobre algumas situações, sobre as brincadeiras
agressivas que havíamos observado no recreio, o tipo dos brinquedos
que estavam trazendo para a escola. Todas as crianças concordaram
que não se deve rir do outro, pois cada um tem a sua identidade e
devemos respeitar, todas concordaram que devemos ter cuidado para
com o outro, não empurrar, não bater, além do que existem muitas
brincadeiras saudáveis para fazer. Trouxemos aqui esse relato para
afirmar o que foi dito acima, que a violência está impregnada não só
no ambiente escolar, mas sim na sociedade.
- 76 -
Vivemos em um mundo no qual nos deparamos com
diferentes pessoas, relações, opiniões, vivências, culturas, essa
diversidade nem sempre é bem vista por todos, o que acaba
ocasionando falta de respeito para com o outro, julgamentos, injúria,
bullying e até agressões físicas, podendo muitas vezes levar a situação
de depressão do indivíduo vítima destas agressões, tal situação
demonstra como a sociedade está “doente”. Conforme o passar do
tempo, isso vem ocorrendo com maior frequência entre alunos, alunos
e professores; e esses, muitas vezes, são agredidos verbalmente,
moralmente, fisicamente e ainda se tornam alvos de ameaças, ficando
impedidos de entrar na escola.
A violência atinge a toda comunidade escolar, causando
medo, ansiedade, pânico, insegurança e fragilidade. Muitas escolas
chegam a fechar as portas por conta de ameaças por alunos, pais e
muitas vezes traficantes, por estarem localizadas em regiões de
grande criminalidade e vulnerabilidade. Violência que piorou muito
com a pandemia da COVID-19, conforme a palestra organizada pelo
Grupo de Estudos “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública”,
apresentada pela Dra. Luciene Tognetta (FCL/UNESP) e pela
mestranda Talita Salat Lahr (PPG/FCL/UNESP), no Portal IDEA.
Segundo elas, estamos vivendo um “boom” de violências e
incivilidades que parece ter piorado na pós-pandemia, o que tem sido
chamado de “demanda reprimida nas convivências”. Daremos conta
- 77 -
de tantas demandas? Até quando isso vai acontecer? O que podemos
fazer enquanto escola para que isso não ocorra?
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nº 9.394 de 20 de dezembro
de 1996, traz iniciativas como disposto no Art. 12, inciso VI, que
determina que os estabelecimentos de ensino devem se articular com
as famílias e a comunidade, criando processos de integração da
sociedade; devem ainda, conforme inciso IX, promover medidas de
conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de
violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no
âmbito das escolas; e também cabe aos colégios, de acordo com o
inciso X, estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz. Ou
seja, é por iniciativas assim que as escolas podem justamente acabar
com essa cultura de violência, pois a ideia é que os responsáveis pelos
alunos participem mais ativamente de atividades de forma a
acompanhar a vida escolar dos estudantes, a partir de projetos, ações
que envolvam familiares, alunos e professores, três pilares que se
sustentem em constante equilíbrio, visando melhores relações,
compreensão e principalmente respeito para com o outro, cujo
equilíbrio contribuirá para o processo ensino-aprendizagem de
qualidade, pois onde há coleguismo, companheirismo e respeito, a
educação acontece.
É importante refletir sobre a escola enquanto um espaço de
proteção para crianças e adolescentes, considerando todos os
envolvidos, desde professores, gestores e funcionários, assim alunos,
- 78 -
suas famílias e membros da comunidade. O espaço escolar deve se
constituir em um espaço de proteção social e psíquica para crianças e
adolescentes. Neste sentido, a mediação de conflitos escolares, pensa
nas relações interpessoais, visando melhorar as relações humanas
através da comunicação. A mediação não busca inocentes ou
culpados, ganhadores ou perdedores, mas têm como objetivo
trabalhar com os disputantes o enfrentamento da tensão através da
interação cooperativa com o propósito de descobrir alternativas
criativas na solução de impasses, de forma que não ocorram injustiças.
Segundo Freire (2005, p.119), ensinar exige saber escutar, e
escutar significa “a disponibilidade permanente por parte do sujeito
que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às
diferenças do outro”. Assim, torna-se imperativo aprender a gerir o
conflito, de uma forma eficaz, de modo a obter uma resposta criativa,
extraindo de cada situação o que ela detém de positivo. Considerando
que o conflito é inevitável, a aprendizagem da habilidade em resolvê-
los torna-se tão educativa e essencial quanto à aprendizagem da
Matemática, da História, da Geografia, etc. Para tanto, a nova LDB
(1996) recomenda a importância de educar para vida e formar
cidadãos, sua realização torna-se possível mediante a criação de
espaços, oportunidades, projetos e atividades através dos quais os
alunos aprendam a dialogar, respeitar o outro, negociar conflitos,
conviver com as diferenças, trabalhar em grupo, controlar os impulsos
agressivos, dentre outras habilidades sociais.
- 79 -
O desafio é gigante, o professor precisa lidar com todos os
conflitos existentes na ambiência escolar com doses de afeto, além de
firmeza e disciplina. No momento presente, as situações de
violência/conflitos estão mais afloradas nos estudantes devido ao
tempo de pandemia dentro de casa, vivenciando cada um seu
contexto, como já citado anteriormente. A convivência escolar já era
complexa e agora se tornou mais desafiadora, muitos não sabem mais
como agir dentro da escola e a agressividade é a forma que encontram
para expor seus sentimentos e angústias, muitas vezes tudo na maior
naturalidade como se fosse algo saudável.
Sabemos que é normal os estudantes “testarem” os
adultos/professores para entenderem e perceberem quais são os seus
limites, mas infelizmente muitos ultrapassam e não conseguem
perceber os seus erros, em que esse comportamento também pode
ser um pedido de socorro e de ajuda. Como diz Morin (2011), o dever
principal da educação é de armar cada um para o combate vital à
lucidez. Os educadores devem não somente apontar os erros, mas sim
observar e tentar conhecer aquele estudante para ajudar a
compreender seus fracassos que levam a violência para com o outro.
Nenhum tipo de violência deve ser ignorado e sim compreendido, não
devemos visualizar somente as partes e sim o todo, o que o levou a
certas atitudes.
O modo de pensar, de agir, a cultura individual de cada um
que torna tudo mais complexo, pois o ser humano é singular e plural,
- 80 -
racional e irracional, o que agrava a dificuldade de conhecer o outro.
Os estudantes são rodeados de incertezas, ainda não estão preparados
para o inesperado e, muitas vezes, a violência é a forma que
encontram para encarar a realidade. Morin (2011, p. 72) fala que “não
há evolução que não seja desorganizadora/reorganizadora em seu
processo de transformação ou de metamorfose. Os estudantes
precisam compreender a si mesmo e ao próximo, e muitas vezes a
comunicação não garante a compreensão”.
Delors (2012, p. 42) afirma que “a educação, ao permitir o
acesso de todos ao conhecimento, tem um papel concreto a
desempenhar no cumprimento desta tarefa universal: ajudar a
compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um compreenda
melhor a si mesmo”, e dentro dessa compreensão, cabe ao educador,
também trabalhar sobre a violência e a diversidade, o respeito ao
outro. Deste modo, configura-se imperativo que a escola promova
ações de sociabilidade pautadas pelo respeito e solidariedade,
tornando-a um lócus privilegiado para o desenvolvimento de
programas preventivos, em função do seu potencial estratégico para
tecer relações com a comunidade e, especialmente, com a família.
Reflexões gerais
É prática, desde muito tempo na escola, mediar os conflitos
através do diálogo e da ação positiva, qual seja, proporcionar meios
para que o lado gerador do desentendimento procure meios de
- 81 -
resolvê-los agindo de forma a compensar e desfazer os mal-
entendidos. Se houver algum tipo de agressão verbal, escrever ou falar
com a outra parte de forma a esclarecer seus sentimentos. Se houver
algum resultado físico, proporcionar os meios para que um auxilie a
cuidar do outro até que tudo volte à normalidade. Isso reflete a ideia
de ações compensatórias. Como já explica Piaget, é importante o ato
está diretamente ligado à sanção. É essa proporcionalidade que pode
fazer com que as crianças compreendam realmente o resultado de
seus atos. Sanções só são legítimas quando há uma preocupação em
fazer a criança compreender o alcance de sua ação.
Excluir a criança temporária ou permanentemente de
algumas rotinas ou atividades não garante que ela por si só
compreenda que seu ato foi responsável por algum dano a outrem. Ao
contrário, muitas vezes se sente da mesma forma agredida.
Pedagogicamente prezamos por fazer com que o autor da agressão
suporte as consequências de seus atos percebendo o resultado real de
suas ações. Nesse caso, Piaget (1994, p. 163) afirma que a sanção é
uma “consequência natural” da falta e ressalta que “a sanção dita
natural implica a reciprocidade, porque sempre existe a vontade do
grupo ou do educador de fazer o culpado compreender que o elo de
solidariedade está rompido”.
Se nós, professores, buscamos o fim da violência e da
arbitrariedade na escola, devemos em nossas ações demonstrar que
autoridade se exerce sem autoritarismo, castigos ou falsa moral. Agir
- 82 -
de forma justa, moderada e lógica na resolução dos conflitos nos
aproxima das ações que tanto buscamos com nossos alunos.
Compreender as relações humanas, a necessidade de limites claros
sobre respeito e de se fazer ao outro o que se deseja para si é ação de
toda a comunidade escolar, já que nem sempre são vivências
promovidas no ambiente familiar e social.
- 83 -
Referências
- 84 -
TV JUSTIÇA OFICIAL. Repórter Justiça – Violência nas escolas
brasileiras [Audiodescrição]. s/a. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=jLzG2VVpi24>. Acesso em: abril
de 2022.
- 85 -
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE EM GEOGRAFIA E A
VIOLÊNCIA ESCOLAR NO CONTEXTO BRASILEIRO
Daniéli Uliana15
Introdução
Para De Araújo e De Morais (2017, p. 7), a precarização do
trabalho diz respeito “ao crescimento do desemprego e ampliação do
exército de reserva quanto às especificidades dos empregos
disponíveis no mercado de trabalho, enfatizados pela instabilidade e
efemeridade contratuais”; portanto, o aumento de pessoas que estão
inseridos em empregos precários ou em condições impróprias de
trabalho “leva à expansão do contingente de trabalhadores alienados
de seus direitos e sujeitos a condições de trabalho instáveis e
insatisfatória”.
Conforme De Araújo e De Morais (2017, p. 11), “as formas
flexíveis de emprego, em grande parte, são inseguras e mal pagas”, de
modo que, ao invés de contribuir para uma gradativa melhoria de vida,
tende a provocar e agravar problemas de planejamento futuro devido
à instabilidade financeira. Para os autores os conceitos de precarização
e flexibilização são paralelos e por esse motivo “altera a
15
Doutoranda em Geografia, pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia
(PPGGEO), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
daniuliana95@gmail.com.
- 86 -
regulamentação do mercado de trabalho e a garantia de direitos dos
trabalhadores, levando à eliminação das condições de trabalho
favoráveis ao trabalhador, deixando-o mais suscetível a práticas
degradantes”.
Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo
discorrer sobre as condições do trabalho docente nas escolas
brasileiras, com destaque para a violência inserida nesse ambiente.
Serão abordadas questões como contrato temporário, ministrar aulas
em disciplinas distintas a da formação do professor, profissionalização
docente, trabalho extraclasse e remuneração ou falta dela. Assim, o
presente artigo é elaborado a partir de uma revisão bibliográfica sobre
os temas de violência e precarização do trabalho docente, retirados a
partir de artigos, teses e dissertações.
- 88 -
derrota política do PT16 nas eleições de 1989”. Assim, dentro dessa
conjuntura, destaca-se a terceirização, pois, “resulta ao capital tanto
um proveito econômico com a redução de custos quanto surte um
efeito político, uma vez que ela se torna um obstáculo à ação coletiva
dos trabalhadores”.
Desse modo, a terceirização abre espaço para problemas que
impactam diretamente na vida financeira e jurídica do trabalhador,
tais como: perda de direitos, precarização do trabalho e fragilização
sindical. O Uol Notícias (2018) informou que “4 em cada 10 professores
nas redes estaduais têm contratos temporários”. Isto nada mais é que
o reflexo do processo histórico e econômico do Brasil, conforme
supracitado.
Na dissertação de Marques (2006, p. 10), a autora traz à luz a
problemática das contratações temporárias e a mesma elabora seu
trabalho a partir de sua experiência como professora temporária no
ano de 1999, onde destaca que durante esse período teve que
enfrentar o exercício da profissão docente
16
Partido dos Trabalhadores.
- 89 -
qualquer momento poderia não tê-lo, mas que
mesmo assim a busca de sobrevivência mantinha a
sua permanência. O novo mundo do trabalho vai
impor ao trabalhador a humilhação de exercer suas
atividades sem a segurança de uma carteira
assinada, ou melhor, da dita estabilidade. Uma
política trabalhista séria parece ser algo distante
também para o magistério.
- 90 -
brasileiro, as disciplinas de Língua Estrangeira possuem os piores
resultados, ou seja, “31,3% das turmas são ministradas aulas por
professores com formação superior de licenciatura (ou equivalente) na
mesma área da disciplina”, e o melhor resultado é a Educação Física
com 79,3% das turmas atendidas por profissionais formados na
mesma área. Nos anos finais do Ensino Fundamental, o pior resultado
novamente é na Língua Estrangeira, com 39,5% dos docentes
atendidos com formação adequada, e o melhor resultado é na
Educação Física, com 72,2%. No Ensino Médio, a pior adequação da
formação docente é para a disciplina de Sociologia (36,3%) e os
melhores resultados nas disciplinas de “Língua Portuguesa, Educação
Física, Biologia, Matemática, História e Geografia, com percentuais
acima de 75%”.
Especificamente falando da Geografia nas escolas, Vitiello
(2018, p. 35) apresenta uma grave denúncia em sua obra ao afirmar,
com base em levantamento de dados no Brasil, que 41% dos
professores do Ensino Médio e 70% dos professores do Ensino
Fundamental, em 2015, não possuíam formação na área de Geografia,
embora lecionassem tal componente curricular. Desta forma,
percebemos que há uma defasagem no conhecimento geográfico dos
estudantes brasileiros, bem como a redução do espaço de trabalho
dos profissionais recém-formados. Na maioria dos casos, essa
porcentagem elevada de professores de Geografia sem habilitação
- 91 -
corresponde aos profissionais formados em curso Normal ou
Magistério, ou então nas extintas Licenciaturas de Curta Duração
(também chamados de “professores leigos”), que dentro da estrutura
dos planos de carreira docentes, estão em situação denominada de
“desvio de função”.
Vale destacar que, na maioria das vezes, o professor é contra
lecionar em áreas em desacordo com seu diploma, mas se vê obrigado
pelas circunstâncias quando faltam horários para cumprir exigência da
carga mínima semanal no componente curricular que foi designado
por contrato ou concurso, sendo condicionado a incluir em sua carga
as aulas de componentes os quais não possui formação acadêmica.
Isso prejudica seu desempenho pedagógico, uma vez que não tem o
domínio intelectual, além de interferir no aprendizado dos alunos, mas
isso parece ser uma problemática que se tornou corriqueira nas
Secretarias de Educação, municipais e/ou estaduais, algo comum que
pouco se questiona.
Ademais, destaca-se também os problemas para além da sala
de aula, Abonizio (2012, p. 16) argumenta que,
- 92 -
educacional, ou seja, não contabilizado no
pagamento dos professores
O trabalho do professor vai além das horas computadas em
sala de aula e na folha de pagamento. É um trabalho de renúncia aos
hobbies, a família e por vezes, de si mesmo. Isso porque demanda
muito tempo para os planos de aula e seus imprevistos, elaboração e
correções de provas, trabalhos e atividades afins. Ou realmente acha-
se que o professor “só dá aula” sem o mínimo planejamento?
No que se refere a formação docente de Educação Básica com
pós-graduação lato sensu17 ou stricto sensu18, conforme o gráfico 1, no
ano de 2016, no Brasil, eram 34,6% dos professores que possuíam pós-
graduação. Essa percentagem teve um aumento gradativo nos anos
seguintes, 2017 e 2018, e em 2019 e 2020 houve uma mudança
abrupta nos níveis de escolaridade, com 41,3% e 43,4%,
respectivamente.
17
Corresponde aos cursos de especialização ou MBA (Master Business
Administration).
18
Abrangem aos cursos de mestrado ou doutorado.
- 93 -
Gráfico 1 – Percentual de professores da Educação Básica com pós-
graduação lato sensu ou stricto sensu (indicador 16a – relatório do 3º ciclo
de monitoramento das metas do PNE) – Brasil – 2016-2020.
Fonte: elaborado por DEED19 e INEP20, com base nos dados do Censo da
Educação Básica.
19
Departamento de Estudos Educacionais.
20
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
- 94 -
ou seja, espera-se que o professor com especialização, mestrado e/ou
doutorado venha a ter um salário correspondente a tais titulações. Na
pesquisa de Martinez, Rockenbach e Kaercher (2020, p. 62), de 2016 a
2019, analisando 113 editais de concursos públicos para professor de
Geografia no estado do Rio Grande do Sul, concluiu-se que “a
remuneração média dentre os editais analisados no triênio foi de R$
1.485,39 para um regime de 20 horas semanais”, embora haja uma
discrepância salarial entre os municípios do estado supracitado.
Por fim, conforme Abonizio (2012, p. 25), “as condições de
trabalho que o professor está inserido não têm colaborado para o
êxito dessa profissão”, conforme supracitado, “cada vez mais esse
profissional tem se deparado com uma realidade difícil, por exemplo,
trabalho em vários turnos, salários depreciados, trabalho extrassala,
infraestrutura problemática, contratos de trabalho temporários, entre
outros”. Isso tudo colabora com os “enormes os níveis de afastamento
de profissionais da sala de aula por problemas relacionados à
deterioração de sua saúde” (ABONIZIO, 2012, p. 26).
- 95 -
um determinado grupo, com interferência “na integridade física,
moral ou cultural”, esses efeitos também podem ser provocados a
partir de “acontecimentos e/ou mudanças radicais ocorridas na
sociedade atingindo negativamente os indivíduos ou a coletividade em
relação aos laços de pertencimentos, dos meios e condições de vida,
etc.” (Priotto e Boneti, 2009, p. 162).
Sendo assim, Priotto e Boneti (2009, p. 162) destacam que a
violência vem tomando “proporções inéditas que o fenômeno vem
assumindo e se transformam em preocupação e insegurança, aos
diretores, alunos, professores, pais e sociedade”. Desse modo, a
violência escolar é representada por “todos os atos ou ações de
violência, comportamentos agressivos e antissociais, incluindo
conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos,
marginalizações, discriminações, dentre outros”, praticados por todos
os agentes envolvidos na estrutura escolar.
Partindo desse pressuposto, Priotto e Boneti (2009, p. 166)
discorrem que atitudes tais como “ofender, ignorar, excluir, ferir,
humilhar, sempre foram encontradas nas escolas, não importando se
de ensino público ou particular, se de ensino fundamental ou médio”.
Para eles, isso estende-se para os outros níveis de ensino e por vezes,
reflete na vida pessoal do aluno, “através de mensagens pela Internet
e celulares”. Os autores trazem à luz da discussão, duas vertentes de
estudo sobre a violência escolar. A primeira se refere a violência
escolar como “consequência de um processo que começaria na
- 96 -
família, a desestruturação familiar, a falta delimites e de referências
da maioria dos adolescentes”, que teriam continuidade nos grupos e
nas relações sociais externas à escola. A outra diz respeito
“Tá muito difícil dar aula hoje em dia, né. Por causa
da falta de limites, da falta de respeito dos alunos”
(P), “Já estava, inclusive, pensando em largar o
magistério porque estava muito difícil trabalhar”
(P), “É muito chato porque tu é professor, tu tá
trabalhando. Se tu não é respeitado pelos teus
alunos, sabe…” (P)”
- 98 -
cultural, interpessoal, sexual e negligência ou abandono. Portanto,
para os autores:
- 99 -
do país, com a consequente valorização do magistério, passando,
necessariamente, pela questão salarial, pela questão da formação e
pela questão das condições de trabalho” (Ristum, 2010, p. 69). E como
de costume, as políticas públicas brasileiras “acabaram sucateando as
escolas e promovendo uma crescente desvalorização social do
professor, aliada ao seu empobrecimento marcante, com reflexos
profundos em sua autoestima” (Ristum, 2010, p. 70). Ainda para
Ristum (2010, p. 70), isso pode ser pensado “como um desrespeito aos
direitos humanos”, de modo que “como resultado desse triste cenário,
as professoras apresentavam baixa autoestima, desvalorizando, elas
próprias, a profissão que haviam abraçado” (Ristum, 2010, p. 68).
Considerações Finais
O presente artigo buscou discorrer sobre os principais
problemas de precarização do trabalho docente no Brasil e o
fenômeno da violência escolar. Constatou-se, portanto, que o próprio
sistema contribui para que estes, sejam temas emergentes – o que não
é novidade, há muito tempo. Embora sejam discussões, por vezes,
maçantes, é importante entender que pouco está sendo feito para
melhorar essas condições e estrutura de trabalho. Muito pelo
contrário, o sucateamento da educação – principal termo
respeitosamente utilizado para demonstrar o máximo de indignação –
inicia na falta de valorização do professor, com baixas remunerações,
exaustivas horas de trabalho em sala de aula e extra sala,
- 100 -
infraestrutura insuficiente e destinação incoerente para atuar em
áreas distintas de sua formação acadêmica e previstas nos editais de
contratos temporários e concursos públicos.
Ademais, a violência escolar ganha proporções que foge do
alcance dos professores de impedi-la ou até mesmo se preparar para
isso, afinal, quem está pronto para ter violência no ambiente de
trabalho? Ainda mais que isso, aparentemente, tem se tornado um
problema banal e naturalizado socialmente. O fato é que, o professor
é munido de deveres, embora não pareça possuir uma lista
proporcional de direitos – ou até possui, mas não dispõe de
conhecimento aprofundado e/ou instrução adequada para reivindicá-
los ativamente e mudar essa realidade. Por esse e por muitos outros
motivos, conforme supracitados no artigo, a precarização e as
condições de trabalho docente, tendem a degringolar.
Conforme uma pesquisa feita por De Melo, Campos e Barbosa
(s/d, p. 16), conclui-se que, dos professores entrevistados “todos
afirmam ter anseios de deixar a profissão, por estar desmotivados ou
com algum transtorno de ordem física ou emocional para o trabalho
docente”. Além disso, as notícias da mídia demonstram que, ano após
ano, o número de estudantes que se inserem em cursos de
Licenciatura tem diminuído, demonstrando assim o desinteresse que
a carreira docente oferece a que busca o Ensino Superior e que,
obviamente, vai ocasionar uma alarmante falta de professores nas
próximas décadas no Brasil, em todas as áreas do conhecimento, já
- 101 -
que não está ocorrendo uma reposição maior que a saída de
professores, seja por intermédio de demissões, afastamentos ou
aposentadorias (Agência Brasil, 2017).
Por conseguinte, o presente artigo abre futuras possibilidades
de discussões e diálogos a respeito dessa temática, sendo necessária
uma produção acadêmica voltada para esse assunto como forma de
dar voz a categoria dos professores.
- 102 -
Referências
- 103 -
Disponível em:
<https://www.ufpe.br/documents/39399/2403144/MELO%3B+CAM
POS+-+2019.1.pdf/147c1320-4e19-46eb-a688-ab244b3b0bfa>.
Acesso em: maio de 2022.
- 104 -
MARTINEZ, C.A.F.; ROCKENBACH, I.A.; KAERCHER, N.A. Caracterização
da oferta de vagas para professores de geografia nas redes públicas
municipais do estado do Rio Grande do Sul. Boletim Geográfico do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, n. 35, p. 51-68, 2020.
- 105 -
VIOLÊNCIA POR MEMES NO CIBERESPAÇO: A PERCEPÇÃO
DISCENTE NA PERSPECTIVA GEOGRÁFICA
21
Doutorando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia
(PPGGEO) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor efetivo na
Prefeitura Municipal de Bossoroca. E-mail: airtonlucion@gmail.com.
- 106 -
violência nas escolas em que trabalham (eram 85% em 2017 e 84% em
2014), enquanto 81% dos estudantes relataram saber de casos de
violência nas escolas em que estudam (eram 80% em 2017 e 77% em
2014). Esse mesmo estudo apontou um crescimento aos casos de
bullying em relação aos estudos anteriores, com 62% dos estudantes
e 70% dos professores. (APEOESP, 2019).
O Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na
Adolescência, uma parceria entre a Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo (ALESP), governo estadual e o UNICEF (Fundo das Nações
Unidas para a Infância), apontou que oito em cada dez estudantes
entre 12 e 19 anos já presenciaram violência na escola, enquanto nove
em cada dez estudantes na mesma faixa etária já presenciaram casos
de violência no ambiente virtual. (Revista Educação, 2021). Em
situações mais extremas que a violência escolar pode chegar, há no
Brasil um aumento no número de atentados com tentativas de
homicídio e com vítimas fatais, com destaque para a repercussão dos
massacres em Realengo (no Rio de Janeio/RJ, em 2011) e em Suzano
(em São Paulo/SP, em 2019), além de outros casos de repercussão
menor, porém que chamam atenção para a gravidade e seriedade do
problema. (BIMBATI, 2021).
Devemos pensar o ciberespaço como uma extensão da
sociedade “real”, pois trata-se de um ambiente de convivência
“virtual”, com compartilhamento de conhecimentos e
relacionamentos através da rede mundial de computadores. Ao ser
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um reflexo e uma continuação da sociedade, o ciberespaço também
repercute atos de violência, associado a ideia erronia de anonimato
que a internet proporciona. Com a sensação de segurança pela tela do
computador ou do celular, as pessoas publicam seus preconceitos e
espalham fake news com habilidade.
Corroborando com a investigação da tese de Doutorado em
Geografia desenvolvida na Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) com orientação do Prof. Dr. Luis Fernando Pesce Guaraschelli
(docente visitante com origem na Universidad de la Republica, no
Uruguai), o pesquisador aplicou questionários aos seus alunos, a fim
de recolher informações sobre a percepção das crianças e
adolescentes sobre a violência no ciberespaço. Os alunos que
participaram desse processo estavam matriculados na Escola
Municipal de Ensino Fundamental Josefina Ferreira Aquino, localizada
na zona urbana de Bossoroca/RS, cujos questionários envolveram as
turmas de 6º e 7º anos; e na Escola Municipal de Educação Básica
Guiomar Medeiros, localizada na zona rural de Bossoroca/RS, cujos
questionários envolveram as turmas de 8º e 9º ano do Ensino
Fundamental e do 1º e 2º ano do Ensino Médio.
Metodologia
Antes da aplicação, os questionários foram apresentados
para a equipe diretiva de ambas escolas, que aprovaram os mesmos e
permitiram que fosse desenvolvida durante o período de aulas. O
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questionário foi elaborado em outubro de 2021 e aplicado entre os
dias 29 e 30 de novembro de 2021, com todos os alunos que estavam
presentes nestes dias.
Portanto, temos um estudo qualitativo que visa interpretar as
impressões sobre as violências no ciberespaço e o cyberbullying, pois
se refere aos aspectos idiográficos da ciência geográfica. Para tanto,
utilizou-se um questionário de levantamento como ferramenta para
interpretação dos dados recolhidos. Uma abordagem qualitativa “não
se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma
organização, etc.” (GERHARDT, T.; SILVEIRA, D., 2009, p. 31). Logo,
uma pesquisa qualitativa está preocupada “com aspectos da realidade
que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e
explicação da dinâmica das relações sociais.” (GERHARDT, T.; SILVEIRA,
D., 2009, p. 32).
Além disso, para a seleção de imagens de memes, foi
consultado uma psicóloga e especialista, de Sarandi/RS, para obter um
parecer sobre que tipo de imagens utilizar para cada faixa etária e
como lidar com possíveis situações na hora da aplicação, uma vez que
as imagens poderiam ocasionar alguma reação inesperada dos alunos
com base em suas vivências, o que, a propósito, não ocorreu. Os
memes foram retirados de redes sociais com amplo
compartilhamento, como Facebook, Instagram e Twitter, bem como
em sites de notícias e blogs.
- 109 -
Para seleção dos memes, buscou-se imagens e textos que
apresentassem alguma atitude de violência e que foi repercutido na
internet, principalmente que estivesse em evidência na mídia ou que
fosse mais próximo da realidade dos discentes, como por exemplo o
racismo, o machismo, a xenofobia, a discriminação por deficientes e
pela aparência física, dentre outros.
Percursos Teóricos
Primeiramente, devemos nos situar sobre o que é o
ciberespaço e qual sua ligação com a Geografia. Utilizaremos as duas
bases principais: o escritor William Gibson (1948-) e o sociólogo Pierre
Lévy (1956-). Reportamo-nos a primeira ocasião em que o termo
ciberespaço foi utilizado, por meio de Dodge & Kitchin apud Silva
(2013):
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Na sequência, há a definição científica para o ciberespaço,
proposto por Lévy (1999), o principal estudioso da temática na
atualidade:
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investigação sobre o ciberespaço diz respeito a outras ramificações
das Ciências Humanas.
Por décadas sem grande destaque na ciência, as pesquisas
que envolviam a violência escolar e o bullying ganharam notoriedade
no fim do século XX e início do século XXI, a fim de buscar soluções
diante da problemática crescente. A importância de se estudar esse
tipo de violência se percebe ao assumir o papel da escola e do
professor na formação da sociedade. Guareschi e Silva (2008) nos
relembra que:
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uma derivação de “bully”, palavra inglesa que significa valentão e
tirano (enquanto substantivo) ou então brutalizar, tiranizar e
amedrontar (enquanto verbo).
É uma prática intencional e repetitiva, que causa sofrimento
a vítima e satisfação ao agressor, geralmente com a participação dos
espectadores. Se manifesta de várias formas: verbal, física,
psicológica, material, moral, sexual e virtual. As consequências são
diversas, como elencou Silva (2010, p. 25-32): baixa autoestima,
depressão, sintomas psicossomáticos, transtorno do pânico, fobia
escolar e/ou social, transtorno de ansiedade generalizada, anorexia e
bulimia, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse pós-
traumático, podendo chegar até mesmo em quadros de esquizofrenia,
suicídio e homicídio.
Ao pensar no conceito de cyberbullying, que seria então uma
nova vertente do bullying, como a violência e perseguição no
ambiente eletrônico, Rocha (2012) complementa que:
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independe de hora ou local, pois está no infinito digital do ciberespaço.
Muitos cientistas, inclusive, consideram os danos psicológicos e
emocionais do cyberbullying como sendo mais devastadores do que
do próprio bullying. Silva (2010) reflete sobre essa conjuntura:
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progressivos às vítimas. Neste sentido, a prevenção e o combate é a
opção mais pertinente.
Resultados e Discussões
O questionário foi composto por 12 perguntas objetivas, de
respostas fechadas em múltipla escolha (algumas de resposta única e
outras permitido assinalar mais de uma opção), realizado de forma
impressa, com os 102 alunos que o professor de Geografia possui ao
somar suas turmas nas duas escolas. Destes, retornaram 87
questionários. Os resultados utilizam dados em porcentagem.
Inicialmente, questionamos sobre o acesso à internet na pergunta 1,
como podemos observar no gráfico abaixo.
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Na pergunta 2, sobre a forma de acessar o sinal de internet,
70% afirmaram ter um plano por cabo e 30% afirmaram utilizar o
pacote de dados do celular. Na pergunta 3, sobre o tempo médio de
estar online por dia, observamos o gráfico abaixo.
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indicadas pelas opções (foram citados pelos alunos: tutorial de
crochês, plataforma Classroom, Discord, Kwai, Telegram e sites de
conteúdo adulto).
A pergunta 5 questionou se eles tinham conhecimento do
termo cyberbullying, onde 39% afirmou talvez, mas não lembrar no
momento; 37% afirmou que sim e 24% afirmou que não. A pergunta 6
buscou saber se eles já presenciaram alguma atitude de violência na
internet contra outras pessoas; logo 40% disse que sim e com
frequência, 33% disse que sim e não é comum, 26% disse que não. A
pergunta 7 buscou saber se eles já foram alvos de alguma atitude de
violência na internet, onde 83% disse que não, 13% disse que sim e
não é comum, 5% disse que sim e com frequência.
A pergunta 8 buscou saber se eles já praticaram alguma
atitude de violência na internet, em que 86% disse que não, 13% disse
que sim e não é comum, 1% disse que sim e com frequência. A
pergunta 9 versou em entender o sentimento deles na internet, como
podemos observar no gráfico abaixo.
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Gráfico 3 – Pergunta 9 do questionário.
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Figura 2: xenofobia pela etnia indígena.
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Figura 5: generalização de lugar da violência.
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Figura 7: machismo.
Figura 8: racismo.
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Tabela 1: percepção dos discentes sobre a violência nos memes.
MEME SIM, É VIOLÊNCIA NÃO É VIOLÊNCIA
Figura 1 48% 52%
Figura 2 33% 67%
Figura 3 31% 69%
Figura 4 29% 71%
Figura 5 22% 78%
Figura 6 20% 80%
Figura 7 22% 78%
Figura 8 79% 21%
Elaboração: Guites (2022).
Considerações Finais
A aplicação de questionários nem sempre oferecem um
retorno significativo para as pesquisas, uma vez que as pessoas não
respondem em sua integralidade. Contudo, desta vez, pelo
questionário ter sido aplicado em dia de aula regular com os alunos do
professor-pesquisador, o retorno foi significativo, com poucas
exceções (alunos que faltaram no dia ou que não voltaram ao ensino
presencial mesmo com a obrigatoriedade do governo após o fim do
ensino remoto/híbrido pela pandemia de COVID-19).
Observamos que, dos oito memes levados para sala de aula,
todos com teor de violência, apenas um foi reconhecido pela maioria
como uma violência de fato. Isso nos faz refletir sobre a percepção de
violência que os discentes possuem, ainda mais ao pensar sobre a
violência digital. Por hipótese, podemos afirmar que a maioria dos
discentes de ambas escolas repercutiriam os memes em suas próprias
redes sociais pessoais, pois na percepção da maioria, trata-se apenas
- 123 -
de humor, não há a compreensão de agressão, de preconceito, de
discriminação ou de intolerância nas imagens e nos textos. Tampouco
no meme que promove preconceito contra os brasileiros no exterior
foi visto como violência; ao contrário, é aquele que possui a maior
porcentagem de aprovação (no caso, a maioria marcou como “não é
violência”).
A propósito, a maioria dos alunos afirmou ter conhecimento
sobre o que é cyberbullying; todavia, com o confronto dos memes
preconceituosos, é possível questionar essa resposta dos discentes,
pois mesmo afirmando saber o conceito de cyberbullying, foram
incapazes de reconhecer atitudes do tipo naquelas imagens. Outro
dado que desperta atenção é o fato de que a maioria dos alunos
respondeu se sentir deslocado, excluído ou pouco entrosado na
internet, bem como que a maioria dos discentes já presenciaram
algum ato de violência nas redes sociais. São dados prévios, mas que
apresentam grande potencial para dar sequência na investigação e
buscar refletir mais amplamente sobre a dinâmica geográfica no
ciberespaço.
O contato com o Ensino Fundamental e o Ensino Médio já
demonstram a necessidade de uma abordagem mais enfática sobre o
ciberespaço e o reconhecimento das formas de violências digitais.
Entender a percepção dos alunos sobre esses atos é de suma
importância para que, no futuro, seja desenvolvido algum projeto de
intervenção/extensão para mudar essa realidade.
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Referências
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GUARESCHI, P. A.; SILVA, M. R. (org.). Bullying: mais sério do que se
imagina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008, 100p.
- 126 -
SPOSITO, M. Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar
no Brasil. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.1, p. 87-103,
jan./jun. 2001.
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SOBRE OS AUTORES
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Carolin Jost
http://lattes.cnpq.br/5890577249055875
Formada em Técnico em Contabilidade pela Universidade Federal de
Santa Maria; Aprovada na CPA 20; Formada em Graduação em Música-
Licenciatura Plena na Universidade Federal de Santa Maria; Cursando
Ciências Contábeis- UFSM.
Daiane Colussi
http://lattes.cnpq.br/2691339288493649
Graduada em Pedagogia com habilitação em Anos Iniciais e Educação
Infantil pela Universidade Franciscana (UFN ex. UNIFRA, 2014). Com
especializações em Alfabetização e Letramento pela Faculdade de
Educação São Luís (2019) e em Gestão Educacional pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, 2021). Mestranda em PPPG em
Políticas Públicas e Gestão Educacional - UFSM Com experiência nas
áreas de educação infantil, anos iniciais, letramento e gestão
educacional. Atualmente, está como docente na Rede Municipal de
Santa Maria.
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Lenice Medianeira Cechin
http://lattes.cnpq.br/7625722994261602
Possui graduação em Pedagogia-Licenciatura pela Universidade
Federal de Santa Maria (2017). Tem experiência na área de Educação
Física, com ênfase em Especialização em Educação Física na Escola.
Atua como professora da Rede Municipal de Ensino de Santa Maria
desde 2018 lotada como professora Educação Infantil e
suplementação nos Anos Iniciais.
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EDUCAÇÃO. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Pedagogia Holística e Alfabetização.
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