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FACULDADE NOSSA SENHORA DE LOURDES

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

Ministrada E Certificada Pela Faculdade Nossa Senhora de Lourdes- FNSL

RINA MARA DE SANTIAGO ALMEIDA

O MÉTODO MONTESSORIANO NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

PORTO SEGURO-BA
2021

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RINA MARA DE SANTIAGO ALMEIDA

O MÉTODO MONTESSORIANO NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à Faculdade Nossa


Senhora de Lourdes- FNSL como requisito
obrigatório para obtenção do título de
GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

ORIENTADOR: Me. Francisco Erivando dos


Santos

PORTO SEGURO-BA
2021
1
Ficha Catalográfica

NOME: RINA MARA DE SANTIAGO ALMEIDA

O MÉTODO MONTESSORIANO NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Bibliotecário Responsável: Nome completo CRBXX/XXX (registro do Conselho de


bibliotecon.

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___________________________________________

RINA MARA DE SANTIAGO ALMEIDA

O MÉTODO MONTESSORIANO NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à Faculdade Nossa


Senhora de Lourdes- FNSL como requisito
obrigatório para obtenção do título de
GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

ORIENTADOR: Me. Francisco Erivando dos


Santos

____/____/____ ___________________

Data da apresentação Média

___________________________ ________________________

Prof. Ms. Francisco Erivando dos Santos Pontuação Atribuída

Orientador

___________________________ ________________________

Examinador Pontuação Atribuída

___________________________ ________________________

Examinador Pontuação Atribuída

PORTO SEGURO-BA

2021

3
DEDICATÓRIA

A Deus, pelo milagre que me concedeu de


voltar a viver, aos meus pais Edberto José e
Fátima Maria por toda a dedicação, aos meus
filhos Guilherme e Levi que são a razão da
minha vida.

4
AGRADECIMENTOS

Na execução deste trabalho Monográfico,


agradeço a Deus, criador soberano, guia e
fortaleza em todos os momentos da minha
vida. Agradeço carinhosamente ao meu esposo
Diogo Patrício por compartilhar comigo todos
os momentos de tristeza e de alegrias ao longo
desta caminhada, aos mestres e colegas do
curso.

5
Devemos ajudar a criança a agir por si mesma,
querer por si mesma, pensar por si mesma.

Maria Montessori

6
RESUMO

Esta pesquisa tem como tema, O método Montessoriano no processo de ensino-


aprendizagem na Educação Infantil, e seu objetivo principal é compreender a história
de vida de Maria Montessori, assim como seu embasamento teórico, verificar a,
preparação e organização do ambiente, os princípios dos materiais e das atividades
montessorianas, e a função atribuída ao professor da Educação Infantil. De acordo
com o estudo desenvolvido foi possível conhecer a trajetória de Maria Montessori
que migrou da medicina para a educação, se destacou e criou o seu método a partir
do ensino de crianças deficientes, Maria colocou a criança no centro do processo do
aprendizado, valorizando assim a capacidade inata de apreender, foi possível
perceber ainda, que o método desenvolvido por Montessori orienta que o ambiente
da sala de aula deve ser estimulante e convidativo, os objetos devem estar ao
alcance da criança e o papel do professor é de acompanhar o aluno e fornecer a ele
os materiais necessários para seu desenvolvimento. Com seu método, Maria
destacou-se durante o Movimento da Escola Nova, acreditando que a educação
poderia modificar o ser humano. A estratégia metodológica utilizada é baseada em
pesquisas bibliográficas. As obras a seguir serviram como fonte teórica, Rohrs,
(2010), Lillard, (2017), Saviani, (2000) e outros, além de artigos periódicos retirados
da internet para uma melhor reflexão do assunto abordado.

Palavras – Chave: Maria Montessori, método, criança, professor

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ABSTRACT

This research has as theme, The Montessorian method in the teaching-learning


process in Early Childhood Education, and its main objective is to understand the life
story of Maria Montessori, as well as her theoretical basis, to verify the environment
preparation, organization and principles. Montessori materials and activities, and the
role assigned to the Early Childhood Education teacher. According to the developed
study it was possible to know the trajectory of Maria Montessori who migrated from
medicine to education, stood out and created her method from the teaching of
disabled children, Maria placed the child at the center of the learning process, thus
valuing the innate capacity to apprehend, it was also possible to realize that the
method developed by Montessori guides that the classroom environment should be
stimulating and inviting, objects must be within reach of the child and the role of the
teacher is to accompany the student and provide him with the necessary materials
for his development. With her method, Maria stood out during the Escola Nova
Movement, believing that education could change human beings. The
methodological strategy used is based on bibliographic research. The following
works served as a theoretical source, Rohrs, (2010), Lillard, (2017), Saviani, (2000)
and others, in addition to periodic articles taken from the internet for a better
reflection of the subject addressed.

Keywords: Maria Montessori, method, child, teacher

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Maria Montessori com uma criança ...........................................................13


Figura 2: Casa Dei Bambini.......................................................................................17
Figura 3: Atividades de encaixe.................................................................................26
Figura 4: Números em lixa.........................................................................................27
Figura 5: Materiais sólidos de madeira......................................................................27
Figura 6: Atividades Maria Montessori.......................................................................30
Figura 7: Desenvolvendo os sentidos........................................................................30
Figura 8: Caixa de tato...............................................................................................31
Figura 9: Cilindros......................................................................................................31
Figura 10: Encaixe geométrico..................................................................................32
Figura 11: Cores e tintas........................................................................................... 32
Figura 12: Chocalhos.................................................................................................33

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................11

1. A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NA VISÃO DE MARIA MONTESSORI

1.1 A biografia de Maria Montessori.................................................................13


1.2 As influências teóricas que embasaram o método Montessoriano ...........18
1.3 O Método Montessori: a criança no centro do processo de ensino -
aprendizagem..................................................................................................22
1.4 O ambiente no método Montessoriano.......................................................24
1.5 Os princípios e materiais do método Montessori........................................25
1.6 O papel do professor e as atividades no método no método Montes-
sori.....................................................................................................................29
1.7 Diferenças do ensino regular e o método Montessori................................34

2 METODOLOGIA.............................................................................................36
3.CONSIDERASÇÕES FINAIS.........................................................................37
4.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................39

10
INTRODUÇÃO

Com o objetivo de permitir a criança se apropriar do conhecimento, foi


desenvolvido ao longo da história atividades e técnicas, que estão inseridas em
diferentes concepções e métodos. Entre essas metodologias educacionais podemos
encontrar o método desenvolvido pela italiana Maria Tecla Artemisia Montessori, no
início do século XX, voltado principalmente para o desenvolvimento de crianças de
até seis anos de idade.

Desta forma, através desta pesquisa cujo tema é O MÉTODO


MONTESSORIANO NO PROCESSO DE ESNSINO-APRENDIZAGEM NA
EDUCAÇÃO INFANTIL, busca-se apresentar o método desenvolvido por Maria
Montessori, respondendo os seguintes questionamentos. Em qual contexto foi
desenvolvido o método Montessoriano? Quais os teóricos que embasaram Maria
Montessori no desenvolvimento do método? Quais as principais características
(ambiente, princípios, principais materiais, papel do educador) do método
Montessori? Essas questões levam-nos a conhecer o Método Montessoriano e a sua
relação com o desenvolvimento do aluno na Educação Infantil.

Nessa pesquisa temos como principais objetivos, conhecer e contextualizar a


vida de Maria Montessori. Apresentar os principais teóricos que embasaram o
método desenvolvido por Montessori. Compreender a aplicação do método na
Educação Infantil. Verificar as práticas docentes utilizadas pelos professores desse
método, e sua relação com o aluno. Desenvolver um comparativo entre a
metodologia do ensino regular e o método Montessori.

Justificamos o trabalho com intuito de apresentar o método desenvolvido por


Maria Montessori no começo do século XX em um período de mudanças, onde
causou uma verdadeira revolução dentro da Educação principalmente na Europa.
Seu método colocou a criança no centro do processo educativo, contrariando o
ensino tradicional vigente da época que existe até os dias de hoje. A escolha do
tema apresentado nessa pesquisa surgiu da necessidade de compreender o método
Montessori que aqui no Brasil ainda não é muito conhecido, embora exista a
inclusão de alguns matérias do método Montessori nas aulas de escola adeptas de

11
outras metodologias, como por exemplo, o material dourado e o material de
alfabetização.

Surge assim, a necessidade de levar ao alcance do maior número de pessoas


este método, que não vê o aluno apenas como um repositório de conteúdo, mas que
forma um cidadão que participe da sociedade e trabalha com foco no bem-estar
comum, mantendo à estreita relação entre natureza e sociedade humana,
respeitando o desenvolvimento e as fases evolutivas de cada um.

12
1- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1- A BIOGRAFIA DE MARIA MONTESSORI

A primeira parte deste estudo visa apresentar a história de Maria Montessori,


esta que foi uma mulher que pensava muito à frente do seu tempo, era filha do casal
Alessandro Montessori, militar e político bem sucedido e Renilde Stoppan, dona de
casa, mulher muito educada e estudiosa, nasceu em 1870, na Itália, na cidade de
Chiaravalle, foi educadora, médica, pedagoga e cientificista, defensora do direito
das mulheres, nasceu no século XIX e morreu no século XX, em Nordwjik, na
Holanda em 1952, foi enterrada no cemitério de crianças.

Figura 1 – Maria Montessori com uma criança

Dispostos a oferecerem melhores oportunidades para a formação de Maria,


filha única, considerada uma menina interessada em mudanças e autoconfiante,
decidiram mudar para Roma, pois a família Montessori vivia numa cidade onde a
maior parte da população era analfabeta.

Assim, proveniente da classe média, Maria Montessori,

Encontrou na família lastro cultural e financeiro para investir em sua


formação e tornar-se uma árdua defensora de seus princípios,

13
posicionamentos e direitos como ser humano e mulher” (OLIVEIRA -
FORMOSINHO, 2007, p. 99).

Quando adolescente era apaixonada por matemática, cursou engenharia,


conclui o curso com sucesso, apaixonara-se por biologia logo depois, o que levou a
cursar medicina pela Universidade de Roma, sendo a primeira mulher italiana a
concluir o curso, estudou neuropatologia - algumas pesquisas apontam que ela teria
sido a terceira mulher italiana a cursar medicina, embora sem obter tanto destaque
como Montessori - e a segunda na Europa, enfrentando o pai, a família e a
segregação típica da sociedade da época.

Na Universidade foi considerada uma acadêmica extraordinária e, em


consequência de seus excelentes resultados, conseguiu ganhar uma bolsa de
estudos o que possibilitou se tornar independente dos pais.

Aranha (2011) afirma que Montessori,

Tornou–se assistente na clínica neuropsiquiátrica, tendo função de educar


deficientes mentais e excepcionais, a experiência resultou em um interesse
pela educação de crianças, o que lhe permitiu fazer observações
importantes sobre a psicologia infantil.” (ARANHA, 2011, p.38).

O interesse pelas crianças foi cada vez mais instigado, durante as visitas aos
asilos, onde percebeu o tratamento desumano dado as crianças.

Como afirma Hermann Rhors (2010, p.16), Maria Montessori fez parte do
movimento da escola nova, e recebeu influência de autores como Comenius,
Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Decroly, e John Dewey, autores que embasaram de
alguma maneira aquilo que Montessori viria a escrever durante o século XX sobre o
desenvolvimento da criança e métodos de ensino.

Jean Jacques Rousseau pode ser considerado precursor do sistema de


educação de Maria Montessori com sua corrente voltada para o liberalismo
pedagógico, leia o que Aranha (2006) afirma sobre o pensador:

Um dos instrumentos essenciais de sua pedagogia é o da educação natural:


voltar a unir natureza e humanidade. A família vista é outro dos elementos
centrais de sua pedagogia. De acordo com Rousseau, a educação deveria
levar o homem a agir por interesses naturais e não por imposição de regras
exteriores e artificiais. Para ele, o homem não se constitui apenas de
intelecto, estando presentes também as emoções, os sentidos e os
instintos. Rosseau afirmava que a criança deve ser tratada como criança,

14
por isso, a educação deve respeitar a natureza de criança, devendo ser um
processo natural e não artificial. (ARANHA, 2006, p.34)

Defendendo o tratamento igualitário entre crianças com ou sem deficiência,


Maria Montessori acaba se deparando com as obras de Itard, médico que no tempo
da Revolução Francesa educou um menino de oito anos encontrado na selva
vivendo entre os lobos, que ficou conhecido por Selvagem de Aveyron ou Menino
Selvagem, e pela primeira vez praticara uma observação metódica do aluno,
construindo depois, sobre ela, o seu método de educação, logo em seguida dedicou-
se aos estudos de Séguin, professor e médico, aluno de Itard, fizera durante dez
anos experiências pedagógicas com pequenos internados numa casa de saúde e
montara a primeira escola para anormais.

Segundo Rhors (2010), Montessori ficou encantada com o livro de Séguin,


que traduziu para o italiano, para estudar e desenvolver suas teses de forma mais
aprofundada:

Em geral, permaneceu discreta sobre as fontes de sua inspiração, mas nos


seus escritos descreve de maneira aprofundada seus esforços para
conciliar suas teses com aquelas de Séguin, principalmente as que são
expostas no seu livro Idiocy and its treatment by the physiological method [A
idiotia e seu tratamento pelos métodos fisiológicos], publicado depois que
ele emigrou para os Estados Unidos e n o qual descreve seu método, pela
segunda vez. (RHORS, 2010, p.13)

Depois de realizar muitas pesquisas, a médica italiana transformou a sala de


aula em uma atividade de observação e pesquisa científica. Segundo Formosinho
(2007), a sala de aula deve ser cientificamente preparada para prover às
necessidades de cada indivíduo. Com estas pesquisas, Montessori desenvolveu o
método para crianças anormais que foi apresentado em Turim, em 1898. Neste
congresso, Montessori defendeu a tese de que os deficientes e anormais
precisavam muito mais de um bom método pedagógico do que de medicina.

Data deste congresso uma das histórias da vida de Montessori. Conta-se


que, tendo terminado sua exposição, um médico da platéia pediu a palavra
e lhe perguntou: “Porque preocupa-se a senhora com estas crianças? Não
sabe que ellas não podem apreender?” – ao que Montessori respondeu:
“Elas podem. São os senhores que não permitem. (LAR MONTTESSORI
2020)

15
Ainda no mesmo congresso Montessori afirmou que:

[…] os deficientes e anormais precisavam muito menos da medicina do que


dum bom método pedagógico; não se punha, evidentemente, de parte tudo
o que fosse tratamento do sistema nervoso, reconstituintes e tónicos; mas
assegurava-se que as esperanças de qualquer desenvolvimento estavam
no mestre, não no clínico; era necessário que se criasse à volta do aluno
um ambiente que o ajudasse, e que os médicos desprezavam, demasiado
interessados por uma terapêutica tomada em sentido restrito; não havia que
internar os anormais em casas de saúde e fazê-los desfilar pelas clínicas;
tinham de se construir escolas onde se aperfeiçoassem, pela observação
quotidiana, os métodos de Séguin e onde, ao mesmo tempo, se pudessem
formar os professores; porque, sem bons professores, nada se poderia
fazer . (SANDERSON, 2018, p. 99)

Após o congresso foi inaugurada a Escola Magistral Ortofrênica, sobre os


cuidados de Montessori, e com aplicação de método pedagógico desenvolvido por
Jean Marc Gaspard Itard, para o desenvolvimento de crianças com deficiência
mental.

Durante seus dois anos de dedicação à escola, algumas crianças


apresentaram grande desenvolvimento, tanto que, ao realizarem o exame da escola
pública, foram aprovadas juntamente com os outros alunos que não apresentavam
nenhuma deficiência. (PORTELA, 2013, P.18)

Conforme Formosinho (2007, p. 103), após diplomar-se em medicina,


engravidou de um colega de profissão, o médico Montesano, com quem teve um
relacionamento de dois anos, em sigilo, enquanto trabalhavam na Escola
Ortofrênica. O mesmo não quis casar-se e nem assumir a criança. Aconselhada por
sua mãe, entregou seu filho Mário Montessori a outra família para que o criasse e
assim não houvesse nenhum escândalo. No entanto, visitava-o sempre que podia.

Montessori após se afastar da Escola Ortofrênicca teve a oportunidade de


modernizar um espaço no bairro pobre de Roma, San Lorenzo, oferecido por uma
empresa italiana, que visava diminuir o barulho e os estragos causados pelos
pequenos que eram deixados pelos pais quando iriam trabalhar. A classe era
composta por dois adultos e cinquenta crianças de até seis anos que, segundo
Montessori.

16
Eram crianças chorosas e amedrontadas, tão tímidas que era impossível
falar com elas. Seus rostos eram inexpressivos e os olhares tão perplexos
como se não tivessem visto nada na vida. Eram crianças muito pobres,
abandonadas, que haviam crescido em cortiços escuros e caindo aos
pedaços, de bairros miseráveis, onde não havia nada para estimular a
inteligência nem cuidados (...). Não era preciso ser médico para perceber
que elas tinham necessidade urgente de alimentação, ar livre e sol. (S/D,
p.110-111 APUD PORTELA, 2013, p. 19)

Em 06 de Janeiro de 1907 foi criada a primeira escola, que foi batizada com o
nome de “Casa dei Bambini” (Casa das Crianças).

Maria Montessori mediu imediatamente as vantagens excepcionais da


oferta: em primeiro lugar não se tratava de escolas, não havendo, portanto,
nenhuma espécie de exigências quanto a programas e exames; em
segundo lugar, os pais não possuíam a mínima noção de pedagogia e não
seriam tentados a intervir no funcionamento da sala; por fim, se o método
desse resultado, teria, para a sua difusão imediata e aplicação a todas as
escolas elementares, duas qualidades importantes: era barato e dava
resultado mesmo com camadas de população de baixo nível cultural e de
deficiente vida material.
Escolhido o prédio em que se devia fazer a primeira experiência e
contratada uma professora, elaborou-se o regulamente traçado em linhas
muito simples: admitiam-se todas as crianças da casa, desde os 3 aos 7
anos de idade, sem nenhum dispêndio para os pais, que apenas se
comprometiam a mandá-las às horas indicadas pela directora, lavadas e
com vestidos limpos; a ajudar o pessoal na sua tarefa de educação; a
darem à directora as informações que lhes pedissem quanto ao
comportamento da criança em casa; a acatarem os conselhos que lhes
dessem os professores; os pequenos que se apresentassem sujos ou mal
cuidados ou que se mostrassem indisciplinados não poderiam frequentar a
sala; por último, excluir-se-iam também aqueles cujos pais faltassem ao
respeito ao pessoal da Casa ou de qualquer modo entravassem a acção
educativa que se empreendia com a fundação; todos os casos omissos
seriam resolvidos pela directora. (SANDERSON, 2018, p. 108).

F
17
Figura 2 – Casa Dei Bambini

No dia 7 de abril do ano de 1907, foi aberta uma segunda “Casa dei Bambini”,
no mesmo quarteirão de San Lorenzo e, em 18 de outubro de 1908, foi inaugurada
uma terceira, em Milão, sob a direção de Anna Marcheroni, grande companheira de
Montessori. Em novembro, foi inaugurada outra casa, na cidade de Roma, em um
conjunto burguês moderno e, rapidamente foram surgindo outras inúmeras “Casas
dei Bambini” pelo país afora (ROHRS, 2010, p. 14)

Montessori mudou os rumos da educação tradicional, dando-lhe um sentido


vivo e ativo. Montessori fez de sua vida uma revolução de oitenta anos. Com sua
experiência, abriu caminhos para outros médicos, educadores, foi uma mulher que
enfrentou vários obstáculos, como ser presa no país indiano. Viveu a vida viajando e
ensinando seus métodos por onde passou.

1.2 AS INFLUÊNCIAS TEÓRICAS QUE EMBASARAM O MÉTODO


MONTESSORIANO

Para explicar o método desenvolvido por Maria Montessori se faz necessário


revisar a história das teorias que têm norteado a educação nos séculos XIX, isso por
que Montessori se insere no Movimento da Escola Nova.

São diferentes métodos de ensino que se desenvolveram ao longo do tempo.


Saviani em sua primeira edição do livro Escola e democracia (1983), aborda um
panorama das teorias da educação. O autor fala em dois grandes grupos, o das
teorias crítico-reprodutivas e o grupo das teorias não-críticas, neste estudo vamos
nos deter ao grupo das teorias não-críticas.

Entre as teorias não-críticas podemos destacar três principais linhas:


Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia tecnicista.

Pedagogia tradicional

Uma das concepções mais conhecida e aceita atualmente é a Escola


(pedagogia) tradicional, que se fez presente no contexto escolar, de modo
hegemônico, até o fim do século XIX, onde o centro e a base das escolas são

18
os professores e não as crianças, ou seja, as crianças dependem dos
professores. O professor é autoritário e transmite um saber fragmentado,
desfocado do contexto, enciclopédico. Preocupa-se com a memorização e
repetição dos conteúdos.

Segundo Saviani na pedagogia tradicional:

O marginal é o ignorante, acreditava-se que a escola, desempenhando o


seu papel de difusora dos conhecimentos, combateria a ignorância,
democratizando dessa forma a sociedade. Nessa pedagogia o saber é
centrado no professor e transmitido ao aluno, um receptor passivo que,
fazendo uso, principalmente dos recursos de sua memória, devolve os
conhecimentos dominados por ele nas avaliações e provas pelas quais
passa necessariamente em seu processo de escolarização. Isso delineia o
formalismo escolar em que a disciplina imposta, o não questionamento da
matéria estudada, a não exigência de uma relação dinâmica com os
conteúdos do currículo escolar resulta no silenciamento do estudante e na
atuação meramente reprodutiva do professor, que também não diz a sua
palavra. (SAVIANI apud RHORS, 2010, p. 34)

Pedagogia Nova (escolanovismo):

Com os avanços nos aspectos políticos e sociais do século XIX, foram


surgindo críticas formuladas a pedagogia tradicional e assim dando origem a outra
teoria da educação no final deste século e principalmente nas primeiras décadas do
século XX, chamada Pedagogia Nova ou escolanovismo, com uma proposta de
inovação, onde o aluno passa a ser o centro do processo educacional, agora agente
ativo, criativo e participativo no ensino-aprendizagem.

O marginalizado não é o ignorante, e sim o rejeitado. A “anormalidade


psíquica” pode ser detectada por meio de testes de inteligência, de aptidão,
de personalidade etc. Os homens são essencialmente diferentes, cada
indivíduo é único, e a escola precisa se adaptar a isso, ‘socializar’ o aluno.
(SAVIANI, 2009, p.5-7)

O papel do educador se modificou agora ele tem a função de facilitador e


coordenador, ele cria condições para que a criança atinja essas metas e desenvolva
sua personalidade integral por intermédio do trabalho, do jogo, de atividades
prazerosas e da formação artística e social,

“A aprendizagem humana não se explica ou esgota apenas pela integridade


dos genes e dos cromossomas, nem se limita a uma pura exposição direta
a objetos, acontecimentos, atitudes e situações, mas emerge de uma
relação indivíduo-meio que é mediatizada por outro indivíduo mais
experiente, cujas práticas e crenças culturais são transmitidas às gerações

19
futuras, promovendo nelas zonas mais amplas de desenvolvimento
cognitivo, crítico e criativo." (FATEC/2000, p. 34)

O professor interfere o mínimo possível na aprendizagem da criança, pois os


materiais didáticos despertam o interesse nos infantes e são eles próprios a escolher
o material que irá utilizar durante a aprendizagem,

[...] uma ajuda para a criança que os escolhe, que se apropria deles, os
utiliza e se exercita segundo suas próprias tendências e necessidades e
conforme os impulsos que o objeto desperta. (MONTESSORI, apud
LANCILLOTTIL, 2010, p.169)

Nesse novo modelo os conteúdos ganham significação, são expostos através


de atividades variadas como trabalhos em grupo, pesquisas, jogos, experiências,
entre outros.

[...] os alunos são levados a aprender observando, pesquisando,


perguntando, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo situações
problemáticas apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de
objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais
ou simbólicos (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 151).

Nessa pedagogia, sua principal característica é “não é aprender, mas


aprender a aprender” como diz Saviani:

O eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do aspecto


lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou
processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o
interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não
diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de
inspiração filosófica centrada na ciência lógica para uma pedagogia de
inspiração experimental baseada principalmente nas contribuições da
biologia e da psicologia. Em suma, tratase de uma teoria pedagógica que
considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender
(SAVIANI, 2000, p. 9).

No Brasil a escola nova aparece tardiamente em relação aos mais


desenvolvidos, por volta dos anos 30, com o Manifesto dos Pioneiros da Educação,
em 1932. Xavier afirma que:

O Manifesto pode ser visto como lugar de memória da educação


republicana na medida em que opera a legitimação do grupo que o assinou
e promove, em nível do discurso, a validação do projeto educacional que
defende, apresentando-o como o mais adequado para a reconstrução do
país segundo o ideal republicano. (XAVIER, 2002, p. 3)

Pedagogia tecnicista

20
Neste modelo de escola cabe ao aluno assimilar passivamente os conteúdos
transmitidos pelo professor.
Na pedagogia tecnicista, o professor tem posição secundária. Estes(as)
profissionais são meros executores de uma política educacional por parte
dos especialistas, que por sua vez são neutros, objetivos, imparciais; A
educação é um subsistema do sistema social. O marginalizado passa a ser
o ineficiente, o improdutivo. Na universidade, por exemplo, o que não
consegue publicar um artigo e ir a um congresso todo ano. O controle é feito
por meio de preenchimento de formulários. (SAVIANI, 1983, p.10-13)

São exemplos amplamente difundidos o tele ensino, a hiperespecialização e a


extensa utilização de cartilhas, objeto de críticas por parte de Paulo Freire por conta
do processo desumanizador que carrega. “Aprender a fazer” é a máxima.

Alguns teóricos e pensadores foram essenciais para se pensar os próprios


movimentos de renovação curricular. Esses autores, dentre os quais se destacam:
Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Decroly, e no contexto americano, John
Dewey, embasaram de alguma maneira aquilo que Montessori viria a escrever
durante o século XX sobre o desenvolvimento da criança e métodos de ensino.

Em 1912, foi para os Estados Unidos, para lecionaar em Nova Iorque e Los
Angele. Em 1915, apresentou na Panam Pacific Internacional Exposition
uma sala montessoriana com paredes de vidro, dentro da qual crianças e
uma professora trabalhavam tranquilamente. A sala ganhou duas medalhas
de ouro da feira, onde eram expostas diversas invenções e descobertas do
mundo todo.
Em 1916 foi para Barcelona e manteve-se em viagens entre Estados
Unidos, Barcelona e Londres até 1918. Depois deste ano, não retornou
mais aos Estados Unidos. Ao que se tem registro, no fim dos anos 1920,
lecionava em Londres e continuava viajando. (LAR MONTESSORI)

Montessori conseguiu colocar em prática um modelo de educação em vários


países e lutou pelas crianças sem se esquecer da mulher, já que possuía uma
vertente feminista, assumindo frentes que lutavam pelos direitos da mulher
(ARANHA, 2011.)

Estando a frente da escola nova, desenvolveu o método Montessori chamado


por ela Pedagogia Científica, ainda em vida citou a famosa frase: “Eu descobri a
criança”. A vida de Montessori se traduz na teoria que ela criou, na metodologia que
ela desenvolveu e no trabalho que ela edificou.

1.3 MÉTODO MONTESSORIANO: A CRIANÇA NO CENTRO DO PROCESSO DE


ENSINO-APRENDIZAGEM

21
Maria Montessori acreditava que desde seu nascimento a criança já é um ser
humano integral, compreendendo que ela é um ser livre e que é através de
experiências vivenciadas ela pode se auto-educar e se auto-disciplinar, ou seja, a
criança apreende melhor pela experiência, pela vivência e não pela imposição de
fatos.

Como afirma wajskop (1995), Maria desenvolveu seu método com base
principalmente na observação das crianças, assim ela elaborou uma pedagogia
científica que indicava o lúdico bem como a brincadeira como uma atividade livre de
aprendizagem e espaço educacional.

A criança não é um ser incapaz, frágil e dependente absoluto da


atenção do adulto para dirigir sua atividade. Ao contrário, a criança que
surge da observação e da teoria que a vê como um ser histórico-cultural é,
desde muito pequena, capaz de explorar os espaços e os objetos que
encontra ao redor, de estabelecer relações com as pessoas e os objetos
que encontra ao seu redor, de estabelecer relações com as pessoas, de
elaborar explicações sobre os fatos e fenômenos que vivencia.
(WASJSKOP, 1995, p. 66)

Dentre os princípios filosóficos que baseiam o método, pode-se citar: o ritmo


próprio, a construção da personalidade através do trabalho, a liberdade, a ordem
(considerada o elemento integrador da personalidade), o respeito e a normalização
(autodisciplina).

Para Montessori acredita que a escola tem que ser ativa, no sentido que a
criança absorve o meio, na noção de silêncio e autocontrole, na progressão
(inicialmente o controle de si, em seguida o controle das coisas), o respeito
pelos outros, na modificação e adaptação do mobiliário às crianças, na
utilização de materiais específicos que visam promover a aprendizagem nas
diferentes áreas (sensorial, vida prática, Linguagem e Matemática), na
concepção do Método Montessoriano, esses materiais são autocorretivos,
graduados, isolam as dificuldades e devem ser explorados segundo a lição
dos três tempos “informação, reconhecimento e fixação do vocabulário”.
(KRAMER, 1993, p.27).

A liberdade recebe maior destaque dentro do método montessoriano, nele a


criança está no centro do processo educativo, ela é livre para escolher os objetivos
para os quais possam agir. Deve-se permitir que as crianças se movimentem pela
sala de aula de forma a ampliar sua ação sobre os objetos e sobre o ambiente,
22
ambiente esse preparado adequadamente para cada faixa etária e para suas
relações, utilizando materiais de ensino propícios para sua aprendizagem.
(LILLARD, 2017).

Por meio da liberdade que recebe em um ambiente Montessori, a criança


tem uma oportunidade única de refletir sobre suas próprias ações,
determinar as consequências para si mesma e para os outros, testar-se
contra os limites da realidade, descobrir o que lhe dá senso de realização e
o que lhe faz sentir- se vazia e insatisfeita, além de descobrir tanto suas
capacidades quanto seus pontos fracos. A oportunidade de desenvolver o
autoconhecimento é um dos resultados mais importantes da liberdade em
uma sala de aula montessoriana. (LILLARD, 2017, p.51).

Marcio Ferrari (2018), afirma que Maria Montessori defendia que o caminho
do intelecto passa pelas mãos, porque é por meio do movimento e do toque que as
crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor. "A criança ama tocar os
objetos para depois poder reconhecê-los", disse certa vez.

O método Montessori parte do concreto rumo ao abstrato. Baseia-se na


observação de que meninos e meninas aprendem melhor pela experiência direta de
procura e descoberta. Para tornar esse processo o mais rico possível, a educadora
italiana desenvolveu os materiais didáticos que constituem um dos aspectos mais
conhecidos de seu trabalho.

1.4 O AMBIENTE NO MÉTODO MONTESSORIANO

Dentro do método Montessoriano, o ambiente tem fundamental importância, é


através do contato com os objetos, móveis e pessoas que neles estão, que se dá o
desenvolvimento da criança e de sua personalidade.

De acordo com Maria Montessori:


O princípio básico que sustenta a educação e cultura da pessoa humana
baseia se no estimulo de um ambiente adequado e motivador, que possa
educar os sentidos, despertar a vida intelectual da criança e prepara- lá
para as atividades de vida pratica, de vida cotidiana, oferecendo –lhe
condições de bastar-se sem viver o isolamento. (FORTMOSINHO,
KISHIMOTO E PIANAZZA, 2007, p.106)

No ambiente Montessoriano, a um espaço planejado e composto para atender


as necessidades infantis, bem como para despertar a curiosidade e interesse dos
pequenos pelo mundo, deve -se ensinar as crianças a lidar com múltiplos estímulos

23
que o cerca. A escola vem a ser um ambiente no qual o estudo é positivo e suas
atividades têm como base a realização do potencial da criança.
(FORTMOSINHO,2007)

Para Maria Montessori era importante que o espaço da escola despertasse o


interesse dos pequenos, permitindo que eles se movimentassem livremente, e
utilizassem os recursos disponibilizados para se desenvolver. Vale dizer que alunos
de diferentes idades compartilham o mesmo ambiente. Portanto, o ambiente no
método é de relevância, pois é preparado especialmente para crianças.

De fato, é comum que alunos de três anos permaneçam na mesa sala de


aula até os seis, idade em que ingressam no Ensino Fundamental. Ao contrário do
que você pode pensar, não há competitividade entre mais velhos e mais novos. Pelo
contrário, grupos de diferentes idades são formados justamente para que os mais
velhos ajam como “tutores” e ajudem os mais novos.

Nas salas de aulas montessorianas, há mesas e espaços que incentivam o


trabalho em grupo. Assim, há a possibilidades de as crianças dividirem a mesma
mesa, mesmo trabalhando em tarefas distintas: uma monta uma torre de blocos
enquanto a outra se dedica a encontrar as letras no alfabeto móvel.

Essa forma de organização é conhecida como “ambiente preparado”, sendo


um dos pilares da metodologia Montessori. Desde a Educação Infantil e
principalmente no Ensino Fundamental e Médio, as disciplinas tradicionais são
lecionadas. Porém, os conceitos são trabalhados de forma transversal e
interdisciplinar, ou seja, uma única questão pode envolver conhecimentos
linguísticos, matemáticos, geométricos, musicais, históricos, etc.

1.5 OS PRINCIPIOS E MATERIAIS DO MÉTODO MONTESSORI

A metodologia Montessori é norteada por seis princípios:

Autoeducação
Educação como ciência
Educação cósmica
Ambiente preparado
Adulto preparado
24
Criança equilibrada

Autoeducação

Autoeducação é o objetivo do método Montessori. Ela se baseia na


disposição intrínseca que a criança tem para aprender, para descobrir e investigar.
Os materiais elaborados por Montessori auxiliam os pequenos a identificarem os
próprios erros sem a interferência dos adultos. Aprender a ler, por exemplo, é uma
atividade que requer três ações distintas: a captura de símbolos; a decodificação dos
sons; e a atribuição de significados a esses símbolos e sons. Numa escola
montessoriana, essas funções cerebrais são acionadas ao mesmo tempo, por meio
dos materiais multissensoriais e lúdicos criados por Montessori. Lillard (2017) afirma
que os matérias oferecidos as crianças devem ser de acordo com suas
necessidades.

Uma quantidade excessiva de material educativo [...] pode dispensar


atenção, tornar mecânicos os exercícios com os objetos e fazer com que a
criança passe seu momento psicológico de ascensão sem perceber e sem
aproveitar. [...] A abundancia excessiva debilita e retarda o progresso. Isso
foi provado repetidas vezes. (LILLARD, 2017, p. 55)

Os materiais Montessorianos alem de serem escolhidos pela criança e tendo


seu significado, atende a cinco princípios.

Uma torre de blocos apresentará apenas uma variação em tamanho de


bloco a bloco, não uma variação em tamanho, cor, formatos e sons, como
tantas vezes é o caso com as torres de blocos nas lojas de brinquedos [...]”.
(LILLARD, 2017, p.56)

Os brinquedos não devem oferecer mais que um problema a ser resolvido ou


fazer com que a criança perca tempo procurando erros onde não tem.

Figura 3 - Atividade de encaixe

25
Em segundo lugar os materiais devem variar do mais simples para o mais
complexo.

Um primeiro conjunto de hastes numéricas para ensinar seriação varia


apenas em comprimento. Depois de descobrir o comprimento
sensorialmente por meio dessas hastes, um segundo conjunto com cores
vermelha e azul, em 1 metro de dimensão, pode ser usado para associar
números e comprimento e para entender problemas simples de adição e
subtração. Um terceiro conjunto de hastes, de tamanho muito menor (uma
vez que a dependência inicial da aprendizagem sensorial e do
desenvolvimento motor já tenha sido superada), é usado em associação
com uma tabela ou placa para problemas matemáticos mais complicados e
para a introdução da escrita em problemas numéricos. (LILLARD 2017 p.56)

Em terceiro lugar, os materiais devem ser planejados para indiretamente preparar


uma futura aprendizagem, como a preparação para o ato de escrever.

Desde o início, os pinos dos materiais, pelos quais a criança os levanta e


manipula, agem para coordenar a ação motora do indicador e do polegar.
Por meio dos projetos que envolvem o uso de encaixes de metal para guiar
seus movimentos, a criança desenvolve a capacidade de usar um lápis.
(LILLARD 2017 p.56)

Figura 4 – Números em lixa

Em quarto lugar, os materiais devem partir com a utilização do concreto


gradativamente utilizar aspectos e representações abstratas.

Um triângulo sólido de madeira é explorado sensorialmente. Peças


separadas de madeira, representando sua base e lados são introduzidas, e
26
as dimensões do triângulo são descobertas. Mais tarde, triângulos planos
de madeira são encaixados em bandejas de quebra-cabeças de madeira,
depois em triângulos de papel de cores sólidas, depois em triângulos com
uma linha de cor forte e, finalmente, na abstração de triângulos traçados
com linhas finas. (LILLARD 2017 p.56)

Figura 5 – Materiais sólidos de madeira

Esse processo gradual, partindo do concreto para o abstrato, com a


exploração sensorial do objeto e aos poucos sua substituição, permite que a criança
não seja mais dependente do material fisicamente, pois ela já compreendeu sua
utilização e suas características.

Educação como ciência

A educação como ciência corresponde ao modo como a educação acontece


em sala de aula. É função do educador empregar a observação científica para
averiguar o desempenho e o comportamento das crianças, auxiliando-as de forma
natural, respeitando seus interesses e escolhas sem impor um direcionamento. Alia-
se a isso a apresentação e a organização do material, que deve ser objetiva e
intuitiva. É essa lógica que deu ao método incialmente seu nome original. O
professor age de acordo com a postura de um cientista, apresentando os princípios
e deixando as crianças interagirem com eles de acordo com suas percepções,
interferindo o mínimo possível. Assim, por meio da interação com o ambiente que a
cerca, a criança vai construindo o próprio conhecimento e explorando todo o seu
potencial.

Educação cósmica

27
Educação cósmica, por sua vez, diz respeito à conexão entre todos os
elementos e conhecimentos. Quando a criança se dá conta dessa interdependência,
ela se sente ligada ao universo, o que, por si só, já desperta seu interesse e
curiosidade pelo ambiente à sua volta. A consciência de “pertencer” leva a criança a
querer saber mais, a aprender mais, a questionar e a compreender mais. O princípio
da educação cósmica também está ligado à ideia de ordem, de que a organização
de um espaço de aprendizagem permite maior produtividade e criatividade.

Podemos ter como exemplo, uma simples observação das formigas ao


carregar uma abelha, proporciona para as crianças uma rica aula de
Ciências além de possibilitar ensinamentos importantes para a vida. (E-
BOOK – ESCOLA INFANTIL MONTESSORI – 2018 P. 15)

O pensamento de Montessori condiz com uma citação do poeta inglês John


Donne (PENSADOR, 2005 -2021) “Ninguém é uma ilha, entregue a si só. Todos são
pedra do continente, uma parte do todo.” Ter essa percepção do cosmo é saber que
nunca se está sozinho.

Criança equilibrada

A criança equilibrada, por fim, é o resultado de todos esses princípios


funcionando em harmonia. A criança é equilibrada quando tem sua sensibilidade e
criatividade estimuladas pelos materiais adequados e por um ambiente preparado
para ela. Montessori acreditava que as crianças compreendiam e exploravam, aos
poucos, seu potencial. Se respeitadas em sua trajetória, elas se transformam em
jovens e adultos responsáveis, maduros e conscientes de seu papel na ordem
universal d cosmos. O que cabe aos adultos é fornecer os subsídios adequados
para auxiliá-las nessa jornada.

1.6 O PAPEL DO PROFESSOR E AS ATIVIDADES NO MÉTODO MONTESSORI

Para trabalhar com o método Montessori, é imperativo que o professor


conheça o desenvolvimento da criança, mas também se conheça enquanto sujeito
crítico do processo educativo.

Ele precisa estar posicionado no tempo e no espaço de forma consciente, ser


protagonista da própria aprendizagem, assim como seus alunos. Basicamente, ele

28
incorpora o conceito da autoeducação e da autodisciplina, podendo sentir e
compreender os caminhos percorridos pelas crianças, ter empatia e respeitá-las.

Em relação à educação em sala, ele é mais um guia do que um professor,


pois viabiliza a construção do conhecimento e o desenvolvimento de seus alunos
sem, de fato, ensinar (no sentido mais tradicional da palavra). Ele não é o centro
detentor de todo conhecimento e não deve se ver como tal, já que essa postura —
tão comum nas salas de aula mais tradicionais — é completamente oposta à
metodologia criada por Montessori.

O professor que decide seguir o método proposto por Montessori deve estar
atento às necessidades de seus alunos e auxiliá-los, de modo a desobstruir seu
caminho.

Isso não significa tentar facilitar o processo de amadurecimento ou fazer as


atividades pela criança quando ela apresenta dificuldade. Ao mesmo tempo,
entretanto, ele tem autoridade para estabelecer limites quando necessário. É dele a
responsabilidade de organizar a sala de aula de forma a facilitar a interação dos
alunos com o meio e com os recursos que dele fazem parte.

Em resumo, seu papel é o de um facilitador, um guia para o desenvolvimento


cognitivo e ético dos pequenos. Como consegue desempenhar seu trabalho? Sendo
um grande observador, respeitando os alunos, suas escolhas e sua jornada de
aprendizagem.

Dentro do método desenvolvido por Maria Montessori o professor trabalha


diferentes atividades, estas são divididas em grupos denominadas de exercícios de
vida prática, materiais sensoriais, materiais acadêmicos e materiais culturais.

Exercícios de vida prática

Para a vida cotidiana e pratica apresenta atividades consideradas apropriadas


para cada faixa etária da criança, de acordo com o método Montessori. Maria
Montessori acreditava que a criança aprendia muito com o que estava ao seu redor,

29
para isso montou uma tabela onde apresenta as atividades da vida prática e
relaciona com a idade das crianças.

Figura 6 – Atividades Maria Montessori

Atividades sensoriais.

Figura 7 - Desenvolvendo os sentidos

30
Os objetos acima quando explorados pela criança, ajudam no
desenvolvimento dos sentidos auditivos e táteis, pois os mesmos além de fazer
diferentes sons, proporcionam que a criança observe a maneira de pegá-los
corretamente e movimentos a serem realizados para a produção sonora.

Figura 8 – Caixa de tato

Essa atividade consiste em colocar os objetos na caixa e a criança precisa


descobrir por meio do tato qual é o objeto antes de retirá-lo, estimulando a
coordenação visomotora e o conhecimento sobre formas e texturas.

Atividades acadêmicas

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Figura 9 - Cilindros

Essa atividade auxilia no desenvolvimento da coordenação motora, pois é


uma atividade de encaixe, porém, por seus objetos serem de diferentes tamanhos,
proporciona o desenvolvimento de conceitos matemáticos, como tamanho, espaço,
medidas, altura e peso.

Figura 10 - Encaixe geométrico

Essa atividade consiste em encaixar o objeto a sua forma adequada,


desenvolvendo conceitos matemáticos sobre formas, tamanhos, espaços e medidas

Atividades culturais

32
Figuras 11 – Cores e tintas

As atividades com tinta, quando utilizadas livremente estimula a criança a


usar sua imaginação é também uma forma de trabalhar a expressão de sentimentos,
expressões culturais e artísticas. Desenhos e pinturas podem ser realizados com
objetos diversos, não apenas os pinceis, podem ser usados palitos, folhas e as
próprias mãos, para se seja manipulado e observado a textura das tintas, os
movimentos realizados que produzem coloração diversa, a pressão e força utilizada
na realização das atividades propostas.

33
Figura 12 – Chocalho

Atividades com chocalhos ou outros instrumentos musicais, são


desenvolvidas para que a criança aprenda ritmos, sons, gêneros musicais, músicas
regionais, a expressões culturais diversas.

1.7 DIFERENÇAS DO ENSINO REGULAR E O MÉTODO MONTESSORI

São características da escola tradicional, carteiras em fileiras paralelas e de


frente para o professor, livros didáticos, exercícios no quadro e divisão clássica entre
disciplinas, essas características estão presentes na maioria das escolas.

O que distingue a educação tradicional dos métodos mais contemporâneos e


progressistas (entre os quais está a metodologia Montessori) é o foco que os
primeiros têm na transferência de conhecimentos do professor ao aluno. Esta passa
a assumir uma postura passiva no processo de aprendizagem, apenas absorvendo o
que lhe é dito.

O foco do aprendizado no ensino regular, portanto, não é o aluno, e sim o


professor, que atua como um repositório de conhecimentos (por sua vez, também
aprendidos passivamente), como afirma Saviani:

34
Como as iniciativas cabiam ao professor, o essencial era contar com um
professor razoavelmente bem preparado. Assim, as escolas eram
organizadas em forma de classes, cada uma contando com um professor
que expunha as lições que os alunos seguiam atentamente e aplicava os
exercícios que os alunos deveriam realizar disciplinadamente. (SAVIANI,
1991. p.18)

Os alunos usam a memorização para decorar o conteúdo ministrado e


reproduzi-lo nas avaliações mensais e semestrais. Esse processo não leva em conta
os diferentes ritmos de aprendizagem e essencialmente encara os alunos como
“recipientes vazios” a serem preenchidos com conhecimento formal. Tal percepção e
a abordagem que resulta dela são exatamente o oposto do que foi proposto por
Maria Montessori.

Na escola Montessori, a criança é vista como agente de seu próprio


aprendizado e desenvolvimento.

No método Montessoriano, o conhecimento não é absorvido passivamente, e


sim construído ativamente. Quando a criança escolhe um material, ela está
aprendendo; quando desenvolve a atividade proposta, está aprendendo; quando
erra, está aprendendo; quando coloca o material de volta em sua prateleira de
origem, está aprendendo

O aprendizado, segundo essa percepção, é movimento, interação e


protagonismo! O aluno educado segundo a metodologia Montessori é mais seguro
de suas escolhas e mais disposto a cooperar e trabalhar em equipe. É a criança
equilibrada, mais madura emocional e intelectualmente.

Por consequência, essa criança estará mais preparada para solucionar os


entraves e desafios que forem surgindo em seu cotidiano, mantendo sempre uma
postura analítica e proativa. Ela tende a ser mais consciente em relação ao ambiente
que a cerca, e a se posicionar de forma empática frente às outras pessoas e ao
próprio meio ambiente. Em sua visão, todos esses elementos são parte de um
sistema harmônico, ao qual ela também pertence.

35
2. METODOLOGIA

Este estudo toma como fundamento metodológico a pesquisa qualitativa, haja


vista que este enfoque evidencia os significados que os sujeitos atribuem as suas
práticas cotidianas.

A investigação que pretendemos realizar constitui-se em uma pesquisa


bibliográfica, em que podemos desvelar como é utilizada o Método Montessoriano e
suas práticas pedagógicas na aprendizagem infantil. Para a realização da pesquisa
está sendo utilizado livros, artigos científicos e algumas publicações encontrada em
sites dedicados ao estudo do tema.
36
Por isso será feito um estudo baseado em obras produzidas sobre Maria
Montessori e o método desenvolvido por ela, como por exemplo Röhrs (2010), Lillard
(2017), Saviani (1983), entre outros. Foi utilizado como fonte de pesquisa ainda
alguns artigos e periódicos publicados referente ao tema. Essas obras nos fornece
uma visão ampla do Método Montessori e contribui com a qualidade dessa pesquisa.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho conclui que o Método Montessoriano, tem grandes


contribuições dentro do âmbito educacional, contemplando as peculiaridades e
especificidades de cada criança, contribuindo para o desenvolvimento normal do
indivíduo, e não a transmissão de conhecimento, proporcionando que as crianças
progridam e cresçam autônomos e críticos.

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Tais feitos são possíveis, pois o processo metodológico é iniciado desde a
primeira infância, com o ambiente apropriado, onde as crianças possam viver e
aprender, organizado e apto a fazer com que as crianças enfrentem desafios, pois é
durante a infância que se absorve tudo o que estiver no ambiente e constroem a
personalidade.

A importância da liberdade no ambiente ocorre, pois desse modo à criança


revelará seu potencial melhorando os aspectos mental, emocional e físico. Os
materiais são desenvolvidos para a autoeducação, com o objetivo de aprimorar a
aprendizagem e o desenvolvimento da inteligência por meio da exploração dos
sentidos tátil, visual, auditivo, olfativo, térmico, bárico, estereognóstico e cromático.

Os materiais acadêmicos são utilizados para o ensino da linguagem, escrita,


leitura, matemática, geografia e ciências sendo uma continuação das atividades
sensoriais. As atividades são pensadas e preparadas, para que sejam utilizadas
pelas crianças, de acordo com o momento e a necessidade de cada uma, essa
individualização precisa ser respeitada, para garantir que cada aluno aprenda de
acordo com o seu desenvolvimento.

O educador tem a função de preparar o ambiente e as atividades,


interpretando as necessidades das crianças e promovendo a autoeducação de
forma adequada, fazendo o mínimo de intervenções possíveis, na concepção de que
as crianças aprendem melhor pela experiência direta, pela descoberta, pela vivencia
e não pela imposição de fatos, situações e conhecimentos.

Fazendo um comparativo do método Montessori com o Ensino tradicional, foi


possível perceber que a uma divergência em relação ao conceito sobre educação.
Isso acontece porque, em vez do foco estar na transferência de conhecimentos
formais, a busca é por um desenvolvimento da criança, onde coexistem o
amadurecimento intelectual, social e também emocional.

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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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