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ISSN: 2393-6401
revista.relap@gmail.com
Asociación Latinoamericana de Población
Uruguay
DOI: https://doi.org/10.31406/relap2020.v14.i12.n27.2
O impacto da segregação
ocupacional por gênero e raça na
desigualdade de renda no Brasil em
três décadas (1986-2015)
Resumo
O artigo tem como objetivo principal analisar a segre- Palabras-
gação ocupacional por gênero e raça e seu impacto no chave
diferencial de renda no Brasil entre 1986 e 2015. Para isso, Segregação
replicamos cinco índices multigrupos desenvolvidos por ocupacional
Del Río e Alonso-Villar (2015) que abarcam medidas globais Gênero
Raça
e locais e permitem a decomposição da desigualdade
Mercado de
salarial. Por meio da análise da segregação ao longo do trabalho
tempo, observamos que processos econômicos, sociais Brasil
e políticos nesses 29 anos levam a uma estrutura ocupa- Índices
cional e um mercado de trabalho mais igualitário no Brasil.
Além disso, também realizamos análises para trabalha-
dores com ensino superior completo e para as regiões Sul
e Sudeste. Os resultados apontam uma queda na segre-
gação ocupacional, principalmente por gênero, apesar
das heterogeneidades encontradas por escolaridade e na
definição salarial (discriminação).
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Abstract
The main objective of this paper is to analyze the occupa- Keywords
tional segregation by gender and race, and its impact on
Occupational
the income gap in Brazil between 1986 and 2015. In this segregation
sense, we replicated five multigroup indexes developed Gender
by Del Río e Alonso-Villar (2015). They present global and Race
Recibido: 30/7/2019
Aceptado: 3/1/2020
Introduçao
Fatores sociais determinantes na escolha laboral por raça e gênero
apresentam grande impacto na estrutura das ocupações dentro do
mercado de trabalho brasileiro. Neste artigo investigamos tendências e
mudanças da segregação ocupacional no Brasil por grupos de gênero
e raça por meio dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE)
dos anos de 1986, 1995, 2005 e 2015. Para tal finalidade, em consonância
com motivações teóricas, replicamos índices multigrupos desenvol-
vidos por Del Río e Alonso-Villar (2015)1, que nos permitem observar (i) a
concentração dos grupos; (ii) a diferença salarial decomposta em segre-
gação e discriminação, e (iii) a sua variação temporal.
1 O presente trabalho lança mão de metodologia desenvolvida por Del Río e Alonso-Villar
(2015) para analisar questão similar nos Estados Unidos entre 1940 e 2010.
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2 A região Centro-Oeste também apresenta alta média salarial comparada às outras regiões do
Brasil. Contudo, optamos por não inclui-la na análise devido à alta variação salarial entre os
estados que a compõem, problema que não ocorre nas regiões Sul e Sudeste. Vale ressaltar,
ainda, que em 2016 os sete estados das regiões Sudeste e Sul do Brasil representavam juntos
70 % do PIB nacional, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2018), indicando um recorte economicamente mais dinâmico que o restante do país.
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Nos anos 1970, a economia mundial sofre uma forte transformação com
a reestruturação produtiva, que influencia a estrutura e o mercado de
trabalho nas décadas seguintes. Segundo Kon (2006), essa tendência
expressa-se em uma queda nas ocupações agrícolas, na expansão do
setor de serviços, e na transformação do setor industrial por meio da
substituição do modo de produção fordista pelo toyotista. No Brasil, isso
se expressa com o aumento do setor terciário, que passa de aproxima-
damente 40 % do total de ocupações em 1970 para mais de 60 % em
2005. O autor demonstra, ainda, que entre 1990 e 2005 grupos ocupa-
cionais técnicos, de construção e comércio aumentaram enquanto
diminuíram os grupos de administração, agropecuária, transportes e
comunicação (Kon, 2006). Regionalmente, no entanto, não é possível
identificar tendências diferenciais para as transformações produtivas.
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O índice e os dados
5 Além disso, convém destacar que no artigo de referência (Del Río & Alonso-Villar, 2015),
as autoras também lidaram com oscilações no número de ocupações entre 1940 e 2010
(mínimo de 269 e máximo de 389). Outro ponto relevante é que testamos os índices com
outras classificações, como o ISCO (Classificação Internacional de Ocupações) e o EGP, de
apenas 11 categorias. De maneira geral, todas as variações são sensíveis aos índices. Por outro
lado, optamos por permanecer com a CBO, uma vez que quanto maior o número de grupos,
48 maior o nível de detalhamento da análise (Del Río & Alonso-Villar, 2015).
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6 O rendimento do trabalho principal utilizado não foi deflacionado, uma vez que se trata de
uma medida comparativa em determinado ponto do tempo.
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(1)
7 No estudo original, são incorporados oito grupos: negros, latinos, asiáticos e brancos, divididos
entre homens e mulheres (Del Río & Alonso-Villar, 2015).
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Quadro 1
Índices de Local Measure Segregation, cálculos e interpretações
# Cálculo Interpretação
(continua)
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Quadro 1 (continuaçao)
# Cálculo Interpretação
Resultados
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Tabela 1
Estatísticas descritivas de participação e razão por grupos de raça e gênero,
escolaridade e região – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
Homens brancos 35,4 Ref. (1) 31,2 Ref. (1) 26,8 Ref. (1) 23,2 Ref. (1)
Homens negros 29,8 0,53 26,9 0,51 29,3 0,55 32,2 0,58
Mulheres brancas 19,4 0,68 23,2 0,64 22,1 0,82 20,3 0,88
Mulheres negras 15,4 0,35 18,7 0,34 21,9 0,48 24,3 0,50
S/ensino superior 89,0 Ref. (1) 91,8 Ref. (1) 89,5 Ref. (1) 82,5 Ref. (1)
C/ensino superior 11,0 3,96 8,2 4,85 10,5 4,00 17,5 3,58
Norte 8,5 Ref. (1) 6,7 Ref. (1) 10,3 Ref. (1) 12,3 Ref. (1)
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8 A CBO também possui Grandes Grupos. Porém, como há variações ao longo do tempo,
optamos por padronizar esses dados apenas para a descrição nos Gráficos 1 e 2. Todo o
restante da análise é baseado na CBO.
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Gráfico 1
Participação por gênero e raça dos Grandes Grupos Ocupacionais
de acordo com a CBO – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
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Gráfico 2
Razão salarial por gênero e raça dos Grandes Grupos Ocupacionais
de acordo com a CBO – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
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Gráfico 3
Local Segregation Measure para o Brasil, por escolaridade
superior e regiões Sul/ Sudeste – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
Gráfico 4
Medida global de segregação M para o Brasil, por gênero,
por raça e segundo recortes por escolaridade superior e
regiões Sul/ Sudeste – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
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para os negros. Nesse sentido, o baixo valor de M para raça não significa
que sua influência seja irrisória, principalmente quando observados os
outros índices, mas que o gênero tem um papel preponderante no que
se refere à distribuição dos indivíduos, de maneira que seus resultados
também têm interação com a raça.
Gráfico 5
Medidas de contribuição do grupo para o Brasil, por gênero,
por raça e segundo recortes por escolaridade superior e
regiões Sul/ Sudeste – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
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Gráfico 6
Egap de renda para diferenças inter e
intraocupações – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
Gráfico 7
Egap de renda para diferenças inter e intraocupações
para trabalhadores com ensino superior
completo – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
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Gráfico 8
Egap de renda para diferenças inter e
intraocupações para trabalhadores nas regiões Sul
e Sudeste – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
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Discussão e conclusão
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Por fim, destacamos que os índices desenvolvidos por Del Río e Alonso-
Villar (2015) contribuem para a compreensão da estrutura ocupacional
e sua transformação ao longo do tempo. São índices multigrupos que
permitem a análise de desigualdades por gênero e raça, bem como sua
interseção, tendo resultados condizentes com análises anteriores, como
Oliveira (1998) e Soares (2000). A análise contínua dos índices com o passar
dos anos pode ser uma técnica de alguma valia para os estudos no país
e na região latino-americana, assim como os processos de reprodução
das desigualdades, dando atenção às variações e às heterogeneidades.
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Anexo 1
Índices de Local Measure Segregation, M, Contribuição do grupo, decomposição
entre e intragrupos – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015
Índice 1 – Local
1986 1995 2005 2015 1986 1995 2005 2015 1986 1995 2005 2015
Measure Segregation
Homem branco 0,2021 0,2370 0,2275 0,2125 0,1967 0,1913 0,2197 0,2295 0,1985 0,2276 0,2244 0,2064
Mulher branca 0,5033 0,3797 0,3314 0,3301 0,2402 0,1547 0,1033 0,1029 0,4855 0,3781 0,3281 0,3112
Homem negro 0,2363 0,2597 0,2398 0,2422 0,2476 0,2374 0,2257 0,2359 0,3036 0,3222 0,3053 0,2987
Mulher negra 0,6046 0,4743 0,3953 0,3821 0,4135 0,3589 0,2549 0,2261 0,77764 0,6126 0,4937 0,4392
Índice 2 - M
M 0,3328 0,3205 0,2908 0,2870 0,2364 0,1962 0,1775 0,1846 0,3484 0,3338 0,3097 0,2970
Gênero 0,2902 0,2824 0,2556 0,2534 --- --- --- --- --- --- --- ---
Raça 0,0396 0,0355 0,0340 0,0327 --- --- --- --- --- --- --- ---
Índice 3 – contribuição
do grupo
Homem branco 0,2147 0,2309 0,2092 0,1721 0,3794 0,4053 0,4129 0,3445 0,2645 0,2837 0,2639 0,2219
Mulher branca 0,2928 0,2748 0,2519 0,2328 0,3549 0,3175 0,2396 0,1985 0,3520 0,3414 0,3167 0,2934
Homem negro 0,2118 0,2179 0,2414 0,2718 0,1118 0,1071 0,1414 0,1975 0,1589 0,1625 0,1900 0,2290
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Mulher negra 0,2805 0,2764 0,2972 0,3231 0,1538 0,1699 0,2059 0,2594 0,2246 0,2123 0,2292 0,2555
(continua)
Índices de Local Measure Segregation, M, Contribuição do grupo, decomposição
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entre e intragrupos – Brasil, 1986, 1995, 2005 e 2015 (continuação)
Índice 4 –
Decomposição Salarial 1986 1995 2005 2015 1986 1995 2005 2015 1986 1995 2005 2015
Entre Ocupações
Homem branco 0,2844 0,3008 0,2314 0,2150 0,1863 0,1815 0,1628 0,2235 0,2181 0,2162 0,1649 0,1611
Mulher branca -0,0122 0,0196 0,1235 0,1633 -0,1988 -0,1424 -0,07159 -0,0582 -0,0748 -0,0432 0,0426 0,0900
Homem negro -0,1465 -0,1282 -0,1390 -0,1307 0,0558 0,0379 0,0182 0,0384 -0,208 -0,183 -0,168 -0,1654
O impacto da segregação ocupacional...
Mulher negra -0,3525 -0,3426 -0,2218 -0,1684 -0,2443 -0,2308 -0,1873 -0,2226 -0,441 -0,4047 -0,2813 -0,2259
Índice 5 –
Decomposição Salarial
Intraocupações
Homem branco 0,1458 0,1980 0,1710 0,1651 0,0752 0,1128 0,1215 0,2354 0,0814 0,1115 0,1168 0,0899
Mulher branca -0,0644 -0,0605 -0,0481 0,0207 -0,0899 -0,1242 -0,0898 -0,0595 -0,1032 -0,114 -0,0809 -0,0364
Homem negro -0,0875 -0,1138 -0,0582 -0,0497 -0,0508 -0,0447 -0,0584 -0,1035 -0,0866 -0,0909 -0,0740 -0,0186
Mulher negra -0,1567 -0,1559 -0,1288 -0,1482 -0,1509 -0,1556 -0,1033 -0,2024 -0,1254 -0,1142 -0,1183 -0,1495