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Fundamentação de

Projeto Arquitetônico
Material Teórico
Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Tiago Azzi Coleet e Silva

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Análise Formal do Objeto
Arquitetônico – Primeira Parte

• Estudos de Caso;
• Análise versus Projetar;
• Acessos e Perímetros;
• Circulação e Espaços/Usos;
• Compartimentação;
• Hierarquia;
• Simetria e Equilíbrio;
• Campos Visuais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Entender os principais métodos de análises e as principais simbologias para as aná-
lises gráficas nos planos em duas dimensões.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Estudos de Caso
O estudo de caso em um curso de Arquitetura e Urbanismo consiste em anali-
sar o que os outros arquitetos fazem ou fizeram, sendo de suma relevância para o
amadurecimento de um pensamento crítico sobre o que é arquitetura ao se instigar
metodologias projetuais de como começar a abordar uma folha em “branco”, ten-
do uma problemática determinada por alguém.
Essas análises realizadas por meios de desenhos (croquis) podem auxiliar o es-
tudante e o arquiteto a tentarem desvendar os pensamentos projetuais sobre um
determinado objeto arquitetônico inserido em uma malha urbana. Descobrindo
e entendendo as diversas gamas de possibilidades para a apropriação do espaço
que foi produzido pelo arquiteto para a sua obra, a fim de resolver um problema
incumbido a ele.
Ao tentar revelar esses pensamentos, o leitor da obra se utiliza de desenhos,
isso é, análises gráficas para entender a organização volumétrica, funcionalidade,
plástica, inserção urbana e demais elementos que justifiquem ter a análise desse es-
tudo de caso, para assim termos um posicionamento crítico porque achamos uma
determinada obra bela e outra não.
As imagens a seguir retratam desenhos de como podem ser realizados essas análises.
Explor

Ginásio de Barueri, Croquis de Mario Biselli, disponível em: https://goo.gl/PkmJNa

Conforme Simon Unwin em seu livro A Análise da Arquitetura,


A arquitetura é uma aventura mais bem explorada pelo desafio de pra-
ticá-la. Porém, como em qualquer disciplina criativa, a aventura da ar-
quitetura pode se inspirar na análise daquilo que outros fizeram e, por
meio dessa análise, tentar entender as maneiras que eles encontram para
alcançar os desafios. Ao examinar os cadernos de croquis de qualquer
grande arquiteto, você encontrará um colecionador compulsivo adquirin-
do ideias de todos e qualquer lugar, brincando com elas e se apropriando
delas. (UNWIN, 2013, p. 3)

Podemos entender com esse pensamento que quanto mais estudos de casos e
análises gráficas fizermos sobre as obras arquitetônicas de diversos usos e portes,
maior será a gama de repertório/referências arquitetônicas que auxiliarão nas pri-
meiras abordagens sobre um determinado tema a ser desenvolvido em uma folha
em “branco”.

Sendo assim, um estudo de caso bem realizado possibilita que as pessoas tenham
a capacidade intelectual e crítica de defender um ponto de vista tanto relacionado a
uma obra existente, como em seus próprios pensamento arquitetônicos, demons-
trando as estratégias projetuais que resolverão questões fornecidas a ele e que serão
retratados no discurso de um partido arquitetônico.

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Análise versus Projetar
Quando estamos no curso de arquitetura, estamos aprendendo os princípios de
como organizar os pensamentos sobre um abrigo a ser idealizado para o ser huma-
no, partindo de uma criação do “zero”.
A arquitetura, sendo uma disciplina criativa, necessita instigar o imaginário das
pessoas para, assim, poder gerar discussões sobre um tema. Quando pensamos em
uma casa, surgem várias imagens em nossas cabeças, desde a mais simples até a
mais complexa. Porém, para projetar sem nenhuma base, isso é, sem repertório,
esse tema parece ser muito complicado ou quase impossível. Dessa forma, revi-
ver o imaginário das pessoas induzindo a elas a tentarem reproduzir como são os
espaços dos ambientes por meios de croquis permite criar uma maneira de tentar
reviver os espaços e ter a capacidade de iniciar uma discussão sobre um tema.
Com o agrupamento de vários pensamentos de pessoas diferentes sobre o mesmo
assunto, podemos ter várias experiencias sobre esse assunto e começar a ter base
e subsídios para criar algo no espaço. Ainda conforme Unwin (2013, p. 9):
Alguns anos atrás, organizei uma pequena exposição com desenhos pro-
duzidos pela Royal Commission for Ancient and Historic Monuments
(Comissão Real para Monumentos Antigos e Históricos), no País de Ga-
les. Há anos, a comissão vinha preparando um inventário das edificações
venarculares de Gales e possuía muitos desenhos, claros e bonitos, de
cabanas, casas, celeiros, etc., de diferentes partes do país. Eram, em sua
maioria, plantas e seções, embora alguns desenhos fossem tridimensio-
nais. Ilustravam a organização do espaço, assim como a construção. Para
preparar esses desenhos, eles estudaram muitos exemplos. Lembro-me
de conversar com arqueólogos envolvidos no inventario. Eu disse algo do
tipo: “Depois de medir e desenhar centenas de casas, vocês devem ter
facilidade para projetar uma. Além disso, podem projetar de acordo com
as diferenças sutis entre as regiões.” Eles concordaram. Percebi que, ao
imergir-se em exemplos – e reproduzir tais exemplos por meio do dese-
nho – haviam aprendido o “idioma” e os “dialetos” regionais da arquitetu-
ra do País de Gales; e já conseguiram “fala-los” com fluência.

Com esse pensamento, podemos retratar que a arquitetura surge de experimen-


tos absorvidos durante o tempo e organizados em desenhos sobre um assunto.
Então, a palavra análise com o significado de decompor, soltar, não tem significado
se não estiver relacionado a algo que será decomposto. Devemos pensar, portanto
no conceito analisar algo.
O objeto que deverá ser analisado, o algo, na arquitetura, é o objeto arquitetônico
com a finalidade de entender os seus componentes e funcionamentos fundamentais
para aquele objeto; para aí sim tentar assimilar e absorver os seus conceitos.
Na arquitetura, temos que pensar que a análise não é meramente uma discussão
acadêmica, isso é, no mundo das ideias, mas sim uma discussão mais precisa e útil,
quando temos o entendimento e a compreensão do que é possível retirar para de-
senvolver uma metodologia ou ideias ao qual o imaginário poderá trabalhar.

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UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Tem-se na cabeça que para projetar não existe receita, porém esse módulo de
aula demonstrará que o repertorio arquitetônico e suas análises auxiliam em qual-
quer tipo de pensamento. Conforme retrata também Unwin (2013, p. 13).
Ajudamos nossa capacidade de projetar arquitetura nos envolvendo e
analisando aquilo que os outros fizeram (assim como a criança escuta avi-
damente o que seus pais dizem e pondera como aquilo se relaciona com
o que está acontecendo).

Esse trecho nos mostra ainda que a nossa capacidade de assimilar algo está
intimamente ligada à quantidade de repetições e análises sobre um assunto. Essa
“brincadeira” de entender o projeto dos outro por desenhos é muito produtiva
quando aliada a experimentos e à exploração sobre o assunto, isso é, colocando a
mão na massa e desenhando as ideias assimiladas.

O projeto arquitetônico depende de ideias, essas podem ser adquiridas através


de análises de obras de outros arquitetos, visando estimular o que é possível realizar
com elas.
“A única maneira de definir uma ideia de arquitetura é por meio de exem-
plos, e, mesmo assim, corre-se o risco de limitar algo que talvez devesse ficar
sujeito a reinvenções continuas. As ideias mais simples possivelmente são as
mais fáceis de entender. As duas paredes paralelas erguidas na praia consti-
tuem a concretização de uma ideia. (por acaso, eu lhe dei essa ideia, mas não
a inventei.). Outras ideias, arquitetônicas e rudimentares, seriam: fixar um
pedaço de madeira trazido pelo mar - um tronco de árvore, talvez - vertical-
mente na areia, estabelecendo um marco que pode ser visto a quilômetros de
distância; ou desenhar um circulo ao redor de uma pequena área de praia,
definindo-a e limitando o interior e o exterior. (UNWIN, 2013, p. 15)

Pensando dessa forma, desenhar é o principal meio de expressar a arquitetura,


seja em uma análise ou em uma ideia de linguagem a fim de praticar o jogo de
como começar a organizar as ideias.
Os arquitetos têm o desenho como sua principal habilidade para transmitir as
ideias, um arquiteto que não possui essas habilidades pode ser comparado a um
professor que não tem o domínio da oratória para transmiti-la. Assim, ambos neces-
sitam dessas habilidades para demonstrarem seus conhecimentos a outras pessoas.
Hoje em dia, existem várias formas de representar as ideias em desenho, desde
o desenho a mão até os desenhos assistidos por computador, mas nada substitui o
lápis e o papel em branco para realização desses pensamentos.
Através de diversas técnicas de representações, com a utilização do desenho,
podemos começar a realizar as análises e as ideias de projeto. Para isso, pode-se
criar diversos métodos de como analisar algo ou alguma coisa para demonstrar o
entendimento sobre um objeto arquitetônico, ou ainda ajudar a retratar as primei-
ras ideias sobre um tema a ser abordado no papel, isso é, um partido arquitetônico.
Esses métodos podem ser explanados em alguns itens, como, por exemplo:
• Acesso e perímetro;

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• Circulação e espaços/usos;
• Compartimentação;
• Hierarquia;
• Simetria e equilíbrio;
• Campos visuais.
Esses itens podem auxiliar numa metodologia de pesquisa quando se aborda um
tema. Para entendê-lo melhor, podemos fragmentá-lo, isso é, dividindo o objeto arquite-
tônico em várias partes a fim de entendermos o todo pelas partes. Florio et al. afirma:
A natureza visual do diagrama proporciona uma vantagem sobre os mé-
todos verbais analíticos. Por meio de um processo de extração e sepa-
ração de atributos, os diagramas tornam mais fáceis a visualização e a
síntese das ideias. Os diagramas permitem ao pesquisador explicar e
comprar visualmente características especificas do edifício ou do artefato
arquitetônico, desvinculando parte e todo. (FLORIO et al., 2014, p. 165)

Dessa forma, esse módulo demonstrará uma metodologia de análise gráfica


com base nos itens listados acima, retratando-os em símbolos que possibilitarão
o entendimento da organização espacial em desenhos bidimensionais, isso em
duas dimensões.

Acessos e Perímetros
Quando discutimos as questões de acessos, não podemos esquecer o significado
desse termo. Acesso, segundo o dicionário Aurélio, significa “ter acesso a”, isso
significa que, quando adentramos a uma edificação, temos que identificar quais
são as possibilidade de adentrar em um recinto. Segundo também o dicionário da
Arquitetura Brasileira (2017, p. 16):
Acesso: Chegada, aproximação. Significa, em arquitetura, o modo pelo
qual pode-se passar de um local a outro, do exterior para o interior, de
um pavimento ao seguinte. O corredor, a rampa, a escada são modos de
acesso. No edifício do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, o Aces-
so principal se realiza através dos “Pilotis” do térreo”.

As imagens a seguir retratam o trecho relatado acima:

Edifício do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, disponível em: https://goo.gl/61hEfg e


Explor

https://goo.gl/z95A6b

As questões de determinar os acessos a um objeto arquitetônico não são simples-


mente pensar em uma entrada, mas sim refletir sobre um percurso por onde o usuário
passará ao percorrer um objeto arquitetônico, pensando na aproximação ao edifício e
que nesse caminho o telespectador possa ter visuais e percepções de diversos ângulos

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UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

sobre o objeto em si e discutindo a relação entre o espaço aberto e fechado, o público


e o privado, dentre outras relações. Florio et al. (2014, p. 169) ainda afirma:
Os itens acesso e circulação são importantes na leitura dos projetos de Arti-
gas. O percurso de acesso à residência define como o arquiteto planejou a
aproximação ao edifício, seus visuais e a transição entre o espaço aberto e
fechado, assim como as relações entre o espaço público e o privado. O aces-
so direto ou indireto revela como se dá a penetração nos espaços internos
cobertos. Esses acessos podem ter como intenção conduzir o percurso a
uma sucessão de descobertas paulatinas, ou se revelar em um só golpe.

Para entender os acessos a um objeto arquitetônico, precisamos entender que


esses percursos estão relacionados a um perímetro. Isso é, uma linha de contorno
que forma um objeto, podendo ser um lote, uma planta baixa e demais desenhos
que geram uma possibilidade de fechamento/perímetro. Através da delimitação do
perímetro, podemos começar a entender as possibilidades de acessos.
Para realizarmos as análises gráficas necessárias para entender acesso/perímetro,
podemos utilizar uma simbologia de desenho, como a seta e a linha, para represen-
tarmos respectivamente esses termos, conforme podemos ver na imagem a seguir.

Figura 1 – Diagrama elaborado por Florio


Fonte: Florio, 2008

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Nessa imagem, é possível entender pela linha vermelha a representação do pe-
rímetro fechado dessa obra, as linhas azuis representam as janelas e a linha verde,
com uma seta, a demarcação do acesso principal dessa casa. Segundo a autora
onde há portas, não há linha de representação.

Circulação e Espaços/Usos
Quando discutirmos as questões de circulação, temos que pensar no significado
da palavra circulação. Na arquitetura, o significado, segundo o dicionário da Arqui-
tetura Brasileira (2017, p. 132), é:
Ato de circular. Termo de características próprias no seu emprego na arqui-
tetura, que se refere à movimentação ou deslocamento que o ser humano
pode exercer nos espaços arquitetônicos tanto internos como externos.
Pelo GRÁFICO DE CIRCULAÇÃO se poderá deduzir da correta aplicação
no projeto dos elementos de circulação por excelência, como corredor, a
escada, etc., ou mesmo da funcionalidade de uma concepção arquitetônica,
que deverá favorecer a movimentação racional do homem no interior das
funções diferenciadas de determinado programa.

Com esse pensamento, os diagramas de circulação podem permitir o entendi-


mento de como são realizados e distribuídos os percursos e fluxos internos e exter-
nos em um objeto arquitetônico.

Através da circulação, é possível entender a definição dos espaços e como eles


estão organizados entre si, podendo estar interligados ou dispostos de maneira
sequencial a partir de um desenho de circulação principal. As análises sobre a
circulação de um objeto arquitetônico trazem a possibilidade de vislumbrar se elas
são claras e diretas, ou se são tortuosas e labirínticas/indiretas, a fim de discutir um
partido arquitetônico espelhando um programa de necessidades.

Esses diagramas, além de retratarem o funcionamento de um pavimento/arqui-


tetura, mostram outras relações intrínsecas, como a relação da área de circulação
e dos espaços de permanência “uteis”. Essas relações, retratadas por desenhos,
permitem ver as dilatações e as contrações dos espaços internos de uma edifica-
ção, com a finalidade de responder plasticamente um programa de necessidades.

A relação desses fluxos de circulação e espaços de permanência nos dão a capa-


cidade de analisar e refletir se o espaço referente a uma circulação comum interfere
ou não nos espaços de permanência, discutindo se eles foram bem dimensionados
para cumprir a função ao qual lhes foi destinado.

Esse tipo de diagrama nos dá a capacidade crítica de entender o funcionamento


(fluxo) entre os espaços de uma obra arquitetônica. E para auxiliar nesses desenhos,
podemos utilizar de setas e linhas para exemplificar como a circulação organiza o
espaço, conforme podemos ver na imagem a seguir.

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UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Figura 2 – Diagrama elaborado por Florio


Fonte: Florio, 2008

Os ambientes internos são representados por figuras geométricas em tons de


cinzas, as linhas verdes sendo setas demarcam os acessos principais, as setas pretas
simbolizam a circulação entre os ambientes e a linha vermelha simboliza o períme-
tro fechado dessa obra.

Compartimentação
Quando discutirmos a compartimentação de uma arquitetura, precisamos en-
tender que o termo compartimento na arquitetura está, segundo o dicionário da
Arquitetura Brasileira (2017, p. 139), relacionado a cada uma das divisões de uma
casa de um edifício, ou cômodo.

Podemos entender com esse pensamento que cada compartimento está ligado
a espaços decorrentes de um programa de necessidades.

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Para que se possa entender espacialmente essa compartimentação da arquitetu-
ra, podemos utilizar diversos métodos de representação de desenho para retratá-la,
como, por exemplo, tons de cinza.

Quando utilizamos essa forma de representar a compartimentação, pode-se en-


tender o grau que há de compartimentação de um objeto arquitetônico, isso é, de
um tom mais claro a um tom mais escuro, retratando das áreas menos às mais
compartimentadas.

A imagem a seguir exemplifica o que foi escrito acima.

Figura 3 – Diagrama elaborado por Florio


Fonte: Florio, 2008

Nessa imagem, é possível entender que os cinzas escuro, médio e claro indicam
espaços muito, médio e pouco compartimentados, respectivamente.

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UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Hierarquia
Quando pensamos numa hierarquia, pensamos em diferentes formas, tama-
nhos e espaços que se unem para dar significado a um programa de necessidades.
As diferenças entre esses espaços dão o grau de importância na composição volu-
métrica de um objeto arquitetônico.
Para podermos entender a hierarquia dos espaços em um projeto arquitetônico,
temos que entender muito bem o programa de necessidades desse objeto, bem
como o seu fluxograma, a fim de começar a compreender os espaços pensados e
organizados em desenhos como plantas e cortes.
Segundo Ching (2012, p. 338), hierarquia é:
O princípio de hierarquia implica que na maioria, se não em todas as
composições arquitetônicas, existem diferenças reais entre suas formas e
espaços. Tais diferenças refletem o grau de importância dessas formas e
espaços, assim como os papéis funcionais, formais e simbólicos que de-
sempenham na organização. O sistema de valor através do qual a impor-
tância relativa é medida dependerá, evidentemente, da situação específi-
ca, das necessidades e desejos dos usuários, e das decisões do arquiteto.

Dessa forma, a identificação da hierarquia nos auxiliará a entender as diferenças


funcionais ou simbólicas entre os espaços/elementos que um edifício transmitirá para
o telespectador ao se analisar os desenhos técnicos, a fim de realizar um estudo de
caso para entender a ordem de organização hierárquica entre suas formas e espaços.
Uma das maneiras de identificar as hierarquias que existem em um projeto é
pelo tamanho de seus ambientes. Segundo Ching (2012, p.339),
Uma forma ou um espaço podem dominar uma composição arquitetônica
por apresentar um tamanho significativamente diverso daquele de todos
os outros elementos da composição. Normalmente, tal domínio se faz
visível pela simples dimensão da composição. Em alguns casos, um ele-
mento pode dominar por ser significantemente menor do que os outros
elementos na organização, porém situado em um contexto bem definido.

Para retratar e identificar e entender esses quesitos em desenho, é aconselhável


utilizar um código de cores sobre as plantas e cortes, como tons de cinza, para
identificar a hierarquia por tamanhos dos ambientes e identificar quais são esses
espaços e porque estão dispostos espacialmente nessas posições.

Simetria e Equilíbrio
Quando discutimos as questões de simetria e equilíbrio, temos que entender o signi-
ficado dessas palavras no contexto da arquitetura.

Simetria, segundo o dicionário da Arquitetura Brasileira (2017, p. 427), é: “Equi-


distância de elementos formais de composição arquitetônica, semelhantes entre si,

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em relação a um eixo”. Também, segundo Ching (2012, p. 321), “A distribuição e
disposição equilibradas de forma e espaços equivalentes em lados opostos de uma
linha ou plano divisores, ou em relação a um centro ou eixo.”

Podemos entender que a relação entre os objetos organizados a partir de um eixo


organizador de objetos, como se fosse um espelho, pode ser caracterizado como um
objeto arquitetônico cujo o princípio do partido arquitetônico seja a simetria.

A imagem a seguir retrata o que foi relatado acima.

Figura 4 – Projeto arquitetônico localizado em 10010 N Torrey Pines Rd, San Diego,
CA 92037, Estados Unidos do arquiteto Louis Kahan
Fonte: iStock/Getty Images

Nessa imagem, é possível visualizar um eixo de simetria onde podemos visuali-


zar dois volumes organizados por um eixo central articulado por uma praça seca.
Quando pensamos em equilíbrio, podemos entender, segundo o dicionário da Ar-
quitetura Brasileira (2017, p. 189), que equilíbrio é:
Igualdade de valor ou de massa que se deve conseguir com as partes com-
ponentes de uma composição arquitetônica. Assim como na estática exis-
tem as leis mecânicas do equilíbrio, na arquitetura o sentido plástico possui
suas condições essenciais de equilíbrio, ou seja, depois de se ter atingido a
harmonia, a proporção, a unidade, etc. deve-se rematar a concepção com
o devido equilíbrio das partes com o fim máximo da beleza e da intenção
plástica. As condições do equilíbrio chegaram a ser consideradas como
constituindo a primeira lei estética. O arquiteto americano Talbot Hamlin,
em seu livro “Arquitetura, uma arte para todos” diz o seguinte, a respeito
do equilíbrio: “Todo edifício deve estar composto do modo que as partes
que possuem de ambos os lados de uma linha imaginária, expressas no
plano de uma forma ou de outra, tenham um peso operante igual. O fun-
damento da beleza própria de um equilíbrio adequado é ao mesmo tem-
po, fisiológico e associativo. Quando o observador percorre com o olhar a
superfície de um edifício equilibrado, instintivamente esse gesto encontra
facilmente o caminho de um lado a outro, voltando sempre ao centro de
equilíbrio. Não existem esforço, nem estéreis buscas visuais.

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UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Podemos entender com o texto acima que a compreensão do equilíbrio na ar-


quitetura é mais visível quando trabalhamos conjuntamente com as questões de
simetria numa concepção arquitetônica. Porém, em projetos onde temos uma as-
simetria, isso é, em objetos arquitetônicos onde não temos um eixo claro de com-
posição, isso é, a simetria, podemos ter a relação de equilíbrio mais claramente
caracterizados pelas posições e os tamanhos dos espaços, a fim de compreender a
situação de equilíbrio em objetos arquitetônicos assimétricos.
Uma metodologia gráfica de compreender essas relações pode ser feita por meio
de códigos visuais, como o traçar de um eixo de composição para se constatar ou
não a simetria através de linhas. A criação de figuras geométricas como retângulos,
quadrados etc., de modo a se ter a relação entre os tamanhos e os volumes, em con-
traposição a um eixo, ou não, de simetria, para assim entender as relações de pro-
porcionalidade e balanceamento dos espaços, volumes num projeto arquitetônico.

Campos Visuais
Os campos visuais num projeto arquitetônico são de suma importância para
entender qual a relação entre os espaços projetados internamente e as visuais com
relação ao lado externo da edificação, a fim de entender os posicionamentos dos
espaços em relação a um lote/contexto urbano.
A relações dos campos visuais com o objeto arquitetônico e seu lado externo, isso
é, com o lote e a cidade, estão estritamente relacionados com as posições das aber-
turas dos ambientes desejados num programa de necessidades, sejam para propiciar
insolação e ventilação, como vistas para as paisagens. Conforme imagens a seguir.

Figura 5 – Projeto Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Arquiteto Oscar Niemeyer


Fonte: iStock/Getty Images

Planta Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Arquiteto Oscar Niemeyer, disponível em:
Explor

https://goo.gl/FxD9MK

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Essas imagens retratam uma composição volumétrica de um museu que foi rea-
lizada pensando na ambientação externa, isso é, pensando na paisagem. Para isso,
o arquiteto se utiliza da localização das aberturas (as janelas) em seu entorno, a fim
de propiciar que seus usuários consigam desfrutar da paisagem natural do local.

Para realizar essas análises, podemos utilizar de métodos gráficos trabalhando


com bases em desenhos técnicos como plantas, cortes além de fotografias, a fim
de gerar diagramas analíticos que possam ajudar a entender a organização espacial
de um programa de necessidades e seus visuais para um lote/cidade/paisagem.

Podemos utilizar como método para a análise gráfica o redesenho criando cones
visuais, a fim de demostrar para onde se localizam as vistas dos ambientes para a
paisagem, tanto urbana quanto natural.

A imagem a seguir retrata essa possibilidade de análise em desenhos técnicos.

Figura 6 – Diagrama elaborado por Florio


Fonte: Florio, 2008

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UNIDADE Análise Formal do Objeto Arquitetônico – Primeira Parte

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Lições de arquitetura
HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. 2 ed. São Paulo: Martins fontes, 1999
272 ISBN 85-336-1034-3.
Arquitectura: temas de composición
CLARCK, Roger H.; PAUSE, Michael. Arquitectura: temas de composición. 3. ed.
México: Ed. Gustavo Gilli, 1997.
Projeto residencial moderno e contemporâneo: análise grafica dos princípios de forma, ordem e espaço de
exemplares da produção arquitetônica residencial
FLÓRIO, Wilson et al. Projeto residencial moderno e contemporâneo: análise grafica
dos princípios de forma, ordem e espaço de exemplares da produção arquitetônica
residencial. São Paulo: Editora Mackpesquisa, 2002. 2v.
Dicionário da Arquitetura Brasileira
CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos. Dicionário da Arquitetura Brasileira. 2. ed. São
Paulo: Romano Guerra Editora, 2017.

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Referências
CHING, Francis D. K. Arquitetura, forma, espaço e ordem. 3. ed. São Paulo.
Martins Fontes, 2012.

CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos. Dicionário da Arquitetura Brasileira.


2. ed. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2017.

FLORIO, Ana Maria Tagliari. Os princípios orgânicos na obra de Frank


LLoyd Wright: uma abordagem gráfica de exemplares residenciais. 2008. 361p.
Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Artes, Campinas, SP. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?co-
de=vtls000445767>. Acesso em: 11 jul. 2018.

FLORIO, Ana Maria Tagliari. Os projetos residenciais não-construídos de Vi-


lanova Artigas em São Paulo. 2012. 417 f. Tese (Doutorado em Projeto de
Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2012.

FLORIO, Ana Maria Tagliari et al. Os projetos residenciais não-construídos de Vi-


lanova Artigas em São Paulo. Pós-, São Paulo, v. 21, n. 35, jun. 2014.

UNWIN, Simon. A análise da Arquitetura. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

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