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GOIÂNIA
2021
IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
PRESBITÉRIO SUL DE GOIÂNIA
GOIÂNIA
2021
LISTA DE ABREVIATURAS DOS LIVROS DA BIBLIA
SINAIS E CONVENÇÕES
Colchetes, ([ )] .............................acréscimos
Colchetes, ([...)] .............................omissões, etc.
Colchetes, ([sic]) ............................incorreções, etc.
Colchetes, ([ ! ]) .............................ênfase, ao texto citado
Colchetes, ([ ? ]) ............................dúvida, ao texto citado
Grifo, itálico (“grifo nosso”) .........destaque com inscrição “grifo nosso”
Aspas duplas, (“ “) .......................citações diretas, literais ou textuais
Aspas simples, (´ ´) ......................citação de citação
Asterisco, ( * ) ...............................comunicações pessoais em notas de rodapé
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 5
2 ESTRUTURA................................................................................................................. 7
2.1 ESBOÇO DO LIVRO ..................................................................................................... 7
3 CONTEXTO HISTÓRICO ........................................................................................ 10
3.1 CONTEXTO HISTÓRICO GERAL ............................................................................. 10
3.1.1 Título da obra............................................................................................................... 10
3.1.2 Autoria .......................................................................................................................... 10
3.1.3 Data ............................................................................................................................... 14
3.1.4 Propósito, Ocasião, Destinatário e Principais Temas ............................................... 17
3.2 CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO .................................................................... 18
4 CONTEXTO LITERÁRIO ........................................................................................ 22
4.1 GÊNERO LITERÁRIO ................................................................................................. 22
4.2 ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO...................................................................... 23
4.3 CONTEXTO REMOTO ................................................................................................ 24
4.4 CONTEXTO ESPECÍFICO .......................................................................................... 25
5 ANÁLISE TEXTUAL ................................................................................................. 27
5.1 DELIMITAÇÃO DA PASSAGEM .............................................................................. 27
5.2 CRÍTICA TEXTUAL .................................................................................................... 28
5.3 ANÁLISE MORFOSSÍNTÁTICA................................................................................ 32
5.4 ANÁLISE SEMÂNTICA .............................................................................................. 62
5.5 TRADUÇÃO E PARÁFRASE ..................................................................................... 66
5.6 ANÁLISE DO DISCURSO........................................................................................... 68
5.6.1 Análise Sintática .......................................................................................................... 69
5.6.2 Diagramação ................................................................................................................ 74
5.6.3 Esboço Estrutural da Perícope ................................................................................... 79
6 ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA .......................................................................... 80
7 SERMÃO ...................................................................................................................... 96
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 109
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 111
5
1 INTRODUÇÃO
Esse trabalho exegético foi realizado para fins de avaliação da disciplina de “Exegese
de Pentateuco”, disciplina do curso de Bacharelado em Teologia do Seminário Presbiteriano
Brasil Central (SPBC) e devidamente aprovado no mesmo; segue, agora, como um dos
requisitos constitucionais para a licenciatura no Presbitério Sul de Goiânia (PSGA)1. A presente
pesquisa tem por objetivo levar a compreensão do sentido mais aproximado da intenção autoral
da perícope de Deuteronômio 16.18-17.13. A pesquisa aborda elementos estruturais do texto
tais como o contexto histórico, contexto literário e contexto textual. A partir desses elementos,
elabora-se uma argumentação teológica da passagem, expondo o sentido do texto e as
implicações teológicas. Por fim, apresenta-se uma aplicação das descobertas exegéticas em
forma de estrutura homilética na forma de sermão expositivo.
Esta pesquisa foi realizada de acordo com os padrões metodológicos por Stuart e Fee
(2008) e Vogt (2015). Esses referenciais de metodologias exegéticas foram norteados pelas
aulas ministradas pelo professor Ronaldo Crispim Ribeiro, que também conduziu a orientação
da metodologia da pesquisa exegética desta passagem, assim como as devidas correções deste
trabalho.
1
Art. 120, alínea “a” da CI/IPB: “uma exegese de um passo das Escrituras Sagradas, no texto original
em que deverá revelar capacidade para a crítica, método de exposição lógica nas conclusões e clareza
no salientar a força e expressão da passagem bíblica.”
6
2 ESTRUTURA
Prefácio (1.1-1.5)
2
O Esboço Estrutural do livro de Deuteronômio foi baseado na proposta de Craige (2013, p.66-68) e
Thompson (1985, p.77-79).
8
a. As bênçãos (28.1–14)
b. As maldições (28.15–68)
3 CONTEXTO HISTÓRICO
3.1.2 Autoria
faz a repetição da lei (cf. Dt.31.9,19,22,24). No entanto, essas citações internas do Pentateuco
não confirmam sozinhas que Moisés foi o autor de todo o Pentateuco, uma vez que elas apenas
citam alguns registros de Moisés e não atribui a autoria de todo o material dos cinco primeiros
livros das Escrituras.
Além das evidências internas aqui registradas, há elementos externos que colaboram
para a defesa de uma autoria mosaica. A tradição judaica amplamente reconhece esses livros
sendo escrito por Moisés. Documentos rabínicos como o Talmude e a Mishna, possuem trechos
que atribuem a autoria a Moisés. Personagens históricos como historiador judeu do séc. I Flávio
Josefo e Filo também atribuíram a autoria mosaica ao Pentateuco e até mesmo os livros
considerados apócrifos no cânon judaico e cristão protestante mencionam essa autoria de
Moisés (CRAIGE, 2013, p.69). Por fim, pode se dizer que até o séc. XV a comunidade cristã
considerou Moisés como autor desses livros sem muitas discordâncias.
3
Além desses textos, outras partes do Novo Testamento reconhecem a autoria Mosaica dos cinco
primeiros livros da Escritura Cf. At 13.39; 15.5; 28.23; 1Co 9.9; 2 Co 3.15; Hb 9.19; 10.28
4
Veja a apresentação completa deste estudo em ARCHER JR., Gleason L. Merece confiança o
Antigo Testamento?. 3°ed. São Paulo: Vida Nova, 1987. p.173-182.
12
analisar as Escrituras sem considerar como pressuposto a inerrância da mesma, ela se inicia
com a Crítica da Fonte, que tem como argumento principal defender que os textos bíblicos
foram uma composição baseada em diferentes fontes. Essa crítica, ao analisar os textos do
Pentateuco, afirma que este foi composto por quatro diferentes fontes em épocas diferentes
(ARNOLD e BEYER, 2001, p.69-71).
O precursor dessa teoria de análise autoral do Pentateuco foi W.M.L. de Wette em 1807,
ao defender que o “livro da lei” citado em 2 Rs. 22 no tempo de Josias foi datado em 622 a.C.
Contudo, o grande precursor da Hipótese Documentária foi Julius Wellhausen, que definiu as
sequências dos materiais. Wellhausen, em 1877 e 1883, pulicou dois livros que deu fim a
discussão entre os estudiosos alemães sobre a sequência dos materiais. Sua tese bastante
influenciada pela Teoria da Evolução, defendia que a sequência das fontes decorre da evolução
da religião israelita, a partir daí a teoria da Hipótese Documentária ganha grande força
(ARNOLD e BEYER, 2001, p.69-71).
Em sua natureza é composta de sermões sobre a lei, por isso defendem que o livro de
Deuteronômio são exposições da lei por conta da sua característica em discurso.
Alguns estudiosos postulam que o núcleo foi coletado e composto no início do século
VII a.C. Esse núcleo foi encontrado durante a reforma do templo no reinado de Josias
(2Rs 22); provendo depois a direção prática dessa reforma.
13
Diante desses elementos, há que se considerar que a hipótese documental precisa ser
rejeitada no entendimento da autoria do Pentateuco. Primeiramente, pelo fato da análise das
fontes ser extremamente subjetiva e hipotética (e.g. uso de nomes divinos como critério para
divisão de fonte e diferenças de “estilo”). Além da natureza problemática de suas
pressuposições que não concebem a possiblidade de uma inspiração divina. Observa-se,
também, que “a análise das fontes tradicional é um exercício de ‘redução ao absurdo’ e suas
abordagens múltiplas das complexidades da autoria do Pentateuco acabaram cancelando umas
às outras” (HILL e WALTON, 2007, p.652).
No entanto, há que se considerar, que em certa medida, essas críticas colaboraram para
o avanço da interpretação bíblica ortodoxa. Uma dessas contribuições da Alta Crítica está na
percepção de que o material do Pentateuco não foi composto por Moisés em sua totalidade -
como defende algumas posições que consideram até mesmo o relato da morte de Moisés como
uma profecia da sua morte. Assim sendo, a hipótese documental contribuiu para o entendimento
de que houve uma organização editorial no material dos autógrafos mosaicos do Pentateuco -
já em um tempo próximo a Moisés - trazendo a forma final pela qual temos hoje. Essa visão da
14
participação de editores no material final do Pentateuco não prejudica a autoria mosaica e nem
altera seu conteúdo, antes atribui a forma final dos escritos mosaicos como o temos hoje e
auxilia no entendimento da formação dos cinco primeiros livros do cânon cristão. Além desta
contribuição, Walton e Hill (2007, p.652) afirmam que os avanços no estudo literário dos textos
bíblicos têm crescido. De acordo com eles,
Diante disso, percebe-se que uma reação baseada em análises literárias tem se tornando
um grande contraponto para a hipótese documental e viabiliza o entendimento do Pentateuco
dentro de sua confiabilidade histórica.
3.1.3 Data
narrativas de Gênesis e defendem que a data do Êxodo do Egito é mais antiga. Os que
interpretam as fórmulas de datas em sentido figurado ou simbólico geralmente
defendem uma data recente para o Êxodo, diferindo, contudo, na compreensão da
historicidade das narrativas patriarcais.
A data recuada parte de duas datas dadas nas Escrituras para o acontecimento do Êxodo,
uma em 1 Rs. 6.1 - que diz ter acontecido o êxodo 480 anos antes do quarto ano do reinado de
Salomão – e Jz 11.26 – que diz ter se passado 300 anos da conquista de Canaã por parte dos
Israelitas antes de Jefté ser o juiz de Israel (HILL, 2006, p.96). Além disso, há algumas
evidências arqueológicas5 como Faraós que governaram por mais de quarenta anos (como
Tutmósis III que governou nos aproximadamente entre 1504-1450 a.C), algumas tabuinhas que
apontam o caos no Egito causado por hebreus e a presença deles no Egito (HIIL, 2006, p.96), a
estela do sonho de Tutmósis IV indica que ele não era o herdeiro legal do trono (i.e., o herdeiro
legal teria morrido na décima praga). Essa hipótese parte das datas apresentadas nas narrativas
bíblicas Escritura e encontra algumas evidências arqueológicas que corroboram com suas datas.
A definição entre uma dessas datas é extremamente complexa e complicada, visto que
ao assumir uma posição deve-se estar consciente dos problemas exegéticos e arqueológicos
5
Para conferir uma lista mais detalhada das evidências em prol da data recuada, cf. HILL, 2006, p.96
6
Para conferir uma lista mais detalhada das evidências em prol da data recente, cf. HILL, 2006, p.97
16
assumidos com a escolha entre uma dessas datas. Por não ser o objetivo primário desta pesquisa,
sugere-se como desenvolvimento de futuras abordagens uma pesquisa mais detalhada no
assunto. No entanto, assume-se que para os propósitos desta pesquisa exegética que a data
recuada apresenta menores problemas no desenvolvimento desta pesquisa exegética, pelos
seguintes motivos: (i) pelo seu pressuposto de que os livros históricos não estão apesentando
apenas simbologias, mas narrando fatos verídicos que aconteceram no tempo e no espaço, sendo
assim, assumindo a suficiência da Escritura na sua interpretação. (ii) Há a presença de
evidências arqueológicas que ajudam no entendimento deste período e que colaboram para a
data recuada. (iii) Apresenta menos problemas exegéticos para com outros textos da Escritura
quanto as datas e números apresentados nas Escrituras. (iv) Está de acordo com a defesa de que
o livro de Deuteronômio foi composto e escrito no período mosaico e não em uma data
posterior.
Entretanto, ainda se faz necessário defender a tese de que o livro foi composto no
período mosaico, uma vez que a hipótese documentária e a hipótese deuteronomista datam o
livro no final do século VII a.C, pois consideram ter sido esse documento composto no ano da
reforma religiosa do rei Josias. Para essas duas teorias, há elementos que não fazem parte do
contexto do êxodo, por exemplo: a construção de um santuário (Dt.16), similar ao que se tinha
do Templo nos períodos da monarquia de Israel e as leis para a escolha e direcionamento dos
reis de Israel (Dt.17), que será alvo de maior análise mais à frente. De acordo com Dillard e
Longman III (2006, p.92):
As críticas insistiram que a data da descoberta do livro no templo foi a mesma de sua
composição e, portanto, acabou fixando o séc VII como o período da redação de
Deuteronômio, ou o da etapa inicial de sua produção. Portanto, os estudiosos dessa
linha foram obrigados a considerar o livro uma fraude religiosa, possivelmente
desenvolvida por Josias e seus seguidores a fim de legitimar a reivindicação de
autoridade e controle de Jerusalém sobre as áreas vizinhas.
Apesar disso, com o advento de pesquisas mais modernas no séc. XX percebeu-se que
o livro de Deuteronômio possui traços bastante característicos do período do segundo milênio
a.C. O livro se organiza na forma de tratados de suserania muito comuns nesse período e que
se distingue em muito com os tratados Assírios do segundo milênio a.C (DILLARD e
LONGMAN III, 2006, p.95).
Dessa forma, pode-se defender a data deste livro como na época mosaica. Uma vez que,
conforme afirma Craige (2013, p.24), há dois elementos que corroboram para a defesa desta
tese: primeiro, “Deuteronômio reflete o padrão dos tratados suseranos na totalidade de sua
17
estrutura; segundo, em especial, a totalidade da obra reflete o ‘a forma legal clássica dos
tratados de suserania da era mosaica’”. Aliando isso, com a opção pela data recuada, entende-
se que o Pentateuco foi composto no segundo milênio a.C, durante o período do Êxodo por
Moisés, em que o livro de Deuteronômio é escrito no final do período do Êxodo, antes da morte
de Moisés, mas assumindo sua forma final no período de Josué e dos Juízes.
Tendo por base essa ocasião, podemos destacar os seguintes temas dentro do livro de
Deuteronômio que colaboram para sua unidade temática: (i) A lei – é considerada o elo nessa
relação pactual entre Deus e seu povo. Deus estabelece os termos e o povo obedece como ato
de gratidão e prova de seu amor. O resultado dessa obediência da lei é a benção de Deus
prometida nos termos da aliança sendo derramada sobre o povo. O inverso da obediência da lei
é a prova do não amor que se tem por Deus e, consequentemente, as maldições subsequentes
da desobediência. Além disso, como se observa no cap. 17 de Deuteronômio que as punições
eram pesadas para aqueles que prestavam cultos a outros deuses, pois tais termos eram
considerados uma traição no seu mais alto grau dos termos da aliança de Deus para com seu
povo. (ii) O santuário central – as ordens ligadas ao culto a Deus e um santuário que fosse
central revela o caráter de Deus como o centro daquela nação. Deus é o único que deve ter
exclusividade e centralidade na adoração de seu povo. (iii) A história como teologia – os erros
dos antepassados e as ações de graça e misericórdia no passado ensinam o povo a andar de
maneira fiel a Deus. O fato de Deus ter agido na história a seu favor serviu de convocação para
os israelitas aceitarem o governo benevolente de Deus (WALTON, 2007 p.157).
18
Por fim, podemos concluir dos aspectos gerais que Deuteronômio foi escrito para
formalizar a Aliança entre Israel e o SENHOR no Sinai. Além disso, esclarece o pacto e convida
o povo a viver em obediência às leis de Deus.
As primeiras menções do livro situam o leitor quanto a localidade e a época em que está
situado o livro de Deuteronômio. Arabá é a área da grande fenda do Jordão, limitada pelo Mar
Morto e o golfo de Ácaba. É nessa localidade que Moisés irá prenunciar os seus discursos e ao
mesmo tempo é o ponto final da peregrinação. Eles estavam do outro lado do Jordão, próximos
a Jericó, preparando-se para dar entrada a conquista de Canaã. É devido a essa eminente entrada
que Moisés se preocupa em repassar as leis para o povo. Há um zelo e um objetivo de que Israel
não se assemelhe aos cananeus, por isso a revisão histórica no início do livro com intuito de
conclamar ao povo a não cometer os erros de seus antepassados, a geração anterior que por
conta de sua incredulidade vageou 40 anos no deserto e foi impedida de adentrar a Terra
Prometida (TENNEY, 2008, v. II, p.138-139).
Moisés, o grande líder, está encerrando seu trabalho com o povo de Deus e não
continuará a peleja de Israel. O zelo de Moisés é que o povo cumpra sua missão de assumir a
terra que a tanto foi prometida e ao mesmo tempo exerça o juízo sobre uma Canaã idólatra. Para
isso as formas dos discursos assumirão um padrão de tratado comum no Antigo Oriente Médio,
que são os tratado de vassalagem. Esses tratados tinham como características conter
estipulações detalhadas do vassalo e autoridade do suserano, um prólogo relatando a
benevolência e autoridade do suserano, entre outras características (TENNEY, 2008, v. II,
p.138). Segundo Walton (2007, p.149), Deuteronômio pode ser considerado o documento
oficial do relacionamento formal entre o Senhor e Israel, sendo o primeiro como suserano e o
segundo como vassalo.7
7
As características literárias desse tratado estão detalhadas no Contexto Literário.
19
Sendo esse o contexto dos demais povos, é possível observar certa semelhança no
modelo hebreu com o modelo dos demais povos do Antigo Oriente. Segundo Vaux (2004,
p.179) os códigos israelitas do Antigo Testamento se assemelham aos “códigos” orientais na
forma de compilar regras particulares. De maneira geral, o código legislativo do AT pode ser
dividido em dois grupos: 1) formulações casuísticas – formadas por condições (“se” ou
“quando”), que introduzem um caso concreto, que pode ser exemplificado na perícope em 17.2
“quando no meio de ti, em alguma das tuas cidades que te dá o SENHOR, teu Deus, se achar
algum homem ou mulher que proceda mal aos olhos do SENHOR, teu Deus transgredindo a
sua aliança”. – 2) Formulações apodíticas – são proibições ou ordens em segunda pessoa e
podem ser exemplificados na perícope por “Juízes e o oficiais constituirás...” (Dt.16.18).
O sistema judiciário de Israel era composto por Anciões de cada cidade. Eles ficavam
assentados nas portas da cidade, que era o local onde eram executados os julgamentos e,
também, marcado decisões importantes, acordos, negócios e outras transações (e.g. Rt. 4.1-12).
Nas cidades de Israel, as suas respectivas entradas eram também o local onde as sentenças eram
20
aplicadas (e.g. o apredejamento). Para o mundo antigo, a porta de uma cidade era o ponto mais
importante dela, pois tendo o controle dela, se tinha o controle da cidade.
A grande e notória diferença entre a justiça de Israel com as dos demais povos estava
no fato dela proceder de YHWH, ou seja, o modelo do sistema jusdiciária da nação israelita
expresso em deuteronômio é um indicativo da justiça divina em meio aos homens. Isso fazia
com que aqueles que eram responsáveis por esse sistema judiciário tivessem responsabilidade
em representar a Deus e não o interesse pessoal de reis, líderes ou costumes da época. Eles eram
os mantenedores da Torah e deveriam prezar por ela para não incorrer em falso testemunho
(VAUX, 2004, p.186-190).
Além disso, as culturas cananeias e egípcias têm grande influência na história do povo
de Israel. De maneira geral, elas assumem as seguintes características: (i) uma diversidade de
deuses em seu panteão, principalmente marcado pela adoração de elementos da natureza – como
a religião egípcia que atribuía o Shu (ar), Rê/Hórus (Sol), Khonsu (Lua), Nut (firmamento), e
assim por diante.; (ii) a iconografia, que é justamente a adoração de imagens que são
21
representações do deuses; (iii) auto salvação como marca da forma de redenção, sendo que o
homem poderia e deveria fazer algo para a divindade para ser salvo de sua ira e/ou condenação;
(iv) fortemente ligada a sacrifícios, envolvendo não somente o sacrifício de animais, mas até de
seres humanos em alguns casos (PACKER; TENNEY; WHITE, 1982, p.58-67). De maneira
geral, as ordenanças de YHWH para Israel quanto aos seus deveres religiosos ia de contrário
com as características do Egito, do qual eles haviam acabado de sair, e da terra dos cananeus, a
qual eles iriam adentrar em breve.
Dessa forma, o zelo de YHWH contra a idolatria é tamanha que a sanção era o
apedrejamento. Tal ato era considerado como crime, pois era uma clara afronta aos termos da
aliança. Se as leis e o sistema judiciário de Israel representavam o caráter de YHWH, a pessoa
que cometesse o ato de idolatria estaria quebrando os termos básicos da aliança, expresso
resumidamente na primeira parte do decálogo. Por isso, os elementos religiosos pagãos são
fortemente condenados, não somente a adoração de astros e de postes ídolos.
Vale aqui comentar sobre o Código de Hamurabi que se destaca junto com o código
civil hebreu um dos principais códigos civis do mundo antigo. Contudo, embora o espírito da
lei do Código de Hamurabi destaque o princípio do olho por olho dente por dente, a lei de
apedrejamento não era comum em outras culturas. Era algo característico do povo hebreu e
tinha a característica de ser comunitário e não um órgão estatal executava a sentença
(WALTON, MATTHEWS; CHAVALAS, 2018, p.237).
Sobre o tema dos reis, a lei de YHWH para o reinado era diferente das demais pois
colocava o poder do monarca debaixo da lei de Deus. No Egito e na Mesopotâmia a lei procedia
do monarca. A lei de Deus coloca o rei como submisso a autoridade do reinado de YHWH
sobre seu povo. Além disso, a lei imposta diferencia-se dos reinados cananeus, egípcios e
mesopotâmicos por não permitir que o rei governe a seu bel prazer, a acumulação real era algo
que não compactuava com a lei. É sobre esse cenário contextual que o capítulo 17 se encontra.
22
4 CONTEXTO LITERÁRIO
Como mencionado anteriormente, o Pentateuco tem dentre vários temas que perpassam
todos os cinco livros que nele se inclui. Diante disso, o Pentateuco carrega como eixo central a
Torah que irá conduzir esse eixo temático. A Torah costumeiramente é entendida literalmente
como Lei, contudo, essa tradução reduz a grandiosidade de seu aspecto para os judeus, afinal
conforme afirma Peter Vogt (2015) “a palavra hebraica torah é mais bem traduzida como
instrução, ou ensino.” Dessa forma, ele conclui que a torah será um grande conjunto de
instruções necessárias para o povo de Deus, elas têm como objetivo levar o povo ao
conhecimento e uma vida prática de justiça e santidade diante de Deus.
Diante dessa definição, todos os cinco livros estarão conectados nesse eixo central de
uma narrativa/lei que tem um proposito teológico e educativo do povo de Deus. Arnold e Beyer
(2001, p.66) propõe a seguinte sequência para esse eixo narrativo/instrutivo do Pentateuco:
23
Assim sendo, todos os gêneros literários que encontramos no Pentateuco (lei, narrativa,
poesia, canções, listas e genealogias), colaborarão com essa progressividade histórica e
instrutiva. Sendo assim, podemos destacar a lei e a narrativa como os dois gêneros
predominantes no Pentateuco. Esses dois gêneros juntamente, com o propósito teológico central
do Pentateuco, irão formar um eixo que conduzirá a essa instrução do povo de Deus. Destaca-
se que o livro de Deuteronômio é composto desses dois gêneros, tanto o gênero narrativo quanto
o gênero legislativo. Na perícope em estudo o predomínio é do gênero da lei, pois, como será
exposto mais adiante, ele está inserido no 2º discurso, que apresenta a grande parte do material
legislativo do livro.
A estrutura literária do livro de Deuteronômio reflete seu tema central sobre a renovação
da aliança entre Deus e seu povo. Há quatro formas de se analisar a estrutura do livro de
Deuteronômio: como um tratado, como um discurso, como uma exposição do decálogo e como
música (DILLARD e LONGMAN III, 2006, p.95-99). Com exceção da forma como música,
todas elas são válidas para interpretação da perícope em análise, visto que com essas estruturas
é possível ter o entendimento da organização de todo o livro e de blocos específicos.
seja uma espécie de tratado entre Deus e o povo, que logo em seguida daria início a conquista
da Terra Prometida. Essa estrutura auxilia no entendimento de todo o livro de Deuteronômio e
a forma como se organiza a composição do livro e foi assumida como a estrutura principal do
livro (Cf. Esboço do Livro).
Esse tratado é composto por quatro discursos de Moisés (cf. Esboço do Livro), que
começam com um prólogo histórico, depois com a Lei sendo dada a Israel, seguido pelas
bençãos e maldições e, por fim, as instruções finais para o ingresso na terra prometida. Durante
esses discursos são percebidos, praticamente, duas vozes: a de Moisés e a de Deus (POLZIN
in: ALTER e KERMODE, 2009, p.108-111). Robert Polzin (in: ALTER e KERMODE, 2009,
p.107) também atribui o acréscimo da voz de um narrador intercalado entre as outras duas
vozes. Segundo ele, a voz desse narrador e de Moisés acabam assumindo o que ele chama de
papel de “dupla voz”, pois muitas vezes elas se misturam ao longo do livro.
Essa estrutura elaborada por Kaufman (1978/79) propõe que os blocos das leis não estão
soltos e desconectado, antes eles foram organizados de uma maneira que cada bloco de lei está
intimamente ligado com os Dez Mandamentos dados no Sinai, narrado em Ex.20 e repetidos
em Dt.5. Essa estrutura, posteriormente aprimorada por Walton (1987), sugere a seguinte
estrutura para o segundo discurso: 1) Mandamentos 1 e 2 (Dt 5.6-10): não ter outros deuses
nem ídolos = Dt 12.1-28; 2) Mandamento 3 (Dt 5.11): nao tomar o nome de YHWH em vão =
Dt 13.1— 14.27; 3) Mandamento 4 (Dt 5.12-15): guardar o dia de Sábado = Dt. 14.28—16.17;
4) Mandamento 5 (Dt. 5.16): honrar o pai e a mãe = Dt. 16.18— 18.22; 5) Mandamento 6
(Dt.5.17): não matar = Dt. 19.1—22.8; 6) Mandamento 7 (Dt. 5.18): não adulterar (nem fazer
misturas ilícitas) = Dt. 22.9—23.18; 7) Mandamento 8 (Dt. 5.19): não furtar (nem perpetrar
outras violações de propriedades) = Dt. 23.19—24.7; 8) Mandamento 9 (Dt. 5.20): não dar falso
testemunho contra o próximo = Dt. 24.8—25.4; 9) Mandamento 10a (Dt. 5.21a): não cobiçar a
25
mulher do próximo = Dt. 25.5-12; 10) Mandamento 10b (Dt. 5.21b): não cobiçar a casa do
próximo = Dt. 25.13-16 (HAMILTON, 2007, p.466).
Diferentemente dos juízes, os sacerdotes não eram escolhidos pelo povo, mas pela sua
hereditariedade, já os profetas eram julgados pelo povo.
A perícope tem uma grande importância no eixo teológico ao mostrar que as autoridades
civis de Israel (reis e/ou juízes) estão todos debaixo da mesma lei que o povo, todos eles estão
debaixo do mesmo pacto que estava sendo renovado ali. O rei, diferentemente dos reis vizinhos,
não era uma representação da divindade na Terra, antes ele estava submisso ao verdadeiro
suserano de Israel – YHWH.
27
5 ANÁLISE TEXTUAL
Nesse momento compete avaliar a perícope em questão quanto aos seus aspectos
textuais. O primeiro passo a ser executado é delimitar os limites da passagem. O início dessa
8
“Juízes e oficiais constituirás em todas as tuas cidades que o SENHOR, teu Deus, te der entre as tuas
tribos, para que julguem o povo com reto juiz.” Dt.16.18-ARA
9
Versões utilizadas para analisar a delimitação da perícope: ARA, ARC, NTLH, RVR, ESV, através da
ferramenta de comparação do Software Logos.
28
desse bloco, contudo, dos versículos Dt.16.18 a Dt.17.13 estão ligadas questões acerca dos
deveres de juízes e questões ligadas a julgamentos. (iv) A própria BHS faz uma quebra de
parágrafo a partir do v.14 até v.20 que envolvem os deveres reais, indicando assim uma perícope
a parte.
Tradução: “então, levarás o homem ou a mulher que fez este malefício às tuas portas e
os (o homem ou a mulher)10 apedrejarás, até que morram.” (ARA)
ou a mulher), está marcada entre duas letras “e” indicando que há uma variante e uma outra
leitura possível deste texto, além da proposta pelo Texto Massorético (TM). No aparato crítico
encontramos primeiramente a sinalização (>), que indica que nos documentos que se seguem
ocorreu uma omissão, uma ausência ou uma falta dos elementos indicados pela letra “e”. Os
documentos que apresentam essa leitura são a Septuaginta (𝔊) e a Vulgata (𝓥).
Análise: A partir de agora compete avaliar qual leitura está mais coerente com o texto
original, a proposta pelo TM ou a proposta pelas versões da LXX ou Vulgata. Partindo dos
elementos de crítica externa deve-se considerar que o TM tem prioridade sobre as demais, uma
vez que tanto a LXX como a Vulgata são traduções dos textos hebraicos para a língua grega e
língua latina, respectivamente. Contudo, quando avaliamos elementos internos, comentaristas
sugerem que possa ter havido uma ditografia, ou seja, o copista cometeu um erro ao repetir
10
Texto omitido pela ARA.
29
esses elementos que já estão sendo citados anteriormente, pois gramaticalmente as expressões
não se encaixam. Por isso, as traduções aqui suprimiram a repetição de “o homem e a mulher”.
Tradução: “Virás aos levitas sacerdotes e ao juiz que houver naqueles dias; inquirirás,
e te anunciarão a sentença do juízo.” (ARA)
Decodificação do aparato crítico: Na BHS, a palavra “( וְ ָד ַר ְׁש ָתE tu investigarás”) está
sinalizada pela letra “c” sobrescrita. indicando que há uma variante e uma outra leitura possível
deste texto, além da proposta pelo TM. No aparato crítico encontramos dois documentos que
concordam que a leitura sinaliza ( וְ ָד ְרשוe (eles) investigarão). A mudança sugere uma alteração
na pessoa verbal. Esses documentos que concordam com essa leitura são: ⅏ - Pentateuco
Análise: Tomando por base a análise externa, é consenso que as leituras propostas pelo
TM devem receber privilégio, pois este texto tem alto grau de validade como texto que melhor
remonta aos autógrafos. Contudo, temos na leitura alternativa, um outro texto de boa qualidade
que é o Pentateuco Samaritano. E juntamente como a LXX podemos buscar a chegar em um
acordo sobre qual deve ser o texto que melhor remonta ao texto original. Por isso, considerando
os elementos internos e se tomarmos a leitura do TM há problemas de concordância entre a
forma verbal na 2° pessoa do singular e os sujeitos serem compostos e estarem no plural. O que
podemos sugerir que houve um erro do copista ao transcrever esse texto. Já a leitura proposta
pelo texto do Pentateuco Samaritano colabora com a concordância gramatical do texto, pois
está na 3° do plural.
30
Conclusão: Dados esses elementos, é possível concordar com a leitura proposta pelo
Pentateuco Samaritano e pela LXX pelos seguintes motivos: (1) a leitura do TM não apresenta
concordância gramatical com o restante da oração. (2) O Pentateuco Samaritano representa um
texto de qualidade confiável e possivelmente esteja remontando melhor ao texto original por
apresentar melhor a concordância verbal do texto. A Septuaginta por sua vez ajuda a validar o
texto do Pentateuco Samaritano, pois por ser uma tradução, possivelmente a sua interpretação
do texto se encaixou melhor com a forma apresentada pelo Pentateuco Samaritano.
DEUTERONÔMIO 16.18-17.13
ָֹ֖להיך נ ֵֹׁ֥תן לְ ך
ֶ֛ ֶ יְהוָ֧ה ֱא
ָ ל־ׁש ָע ֶ ֶ֔ריך ֲא ֶֶׁׁ֨שר
ְ ׁש ְֹׁפ ִ ִ֣טים וְ ֹֽׁׁש ֹׁ ְט ִ ִ֗רים ִ ֹֽׁת ֶתן־לְ ך ְב ָכ 18
ט־צ ֶדק׃
ֹֽׁ ֶ ת־ה ָ ָ֖עם ִמ ְׁש ַפ
ָ ִל ְׁש ָב ֶ ֶ֑טיך וְ ָׁש ְפ ֵ֥טו ֶא
א־ת ַ ִ֣קח ֶׁ֔ש ֹׁ ַחד ִ ִ֣כי ַה ִ֗ש ֹׁ ַחד י ְַעור עינִ֣י
ִ ֹׁ ֹׁא־ת ֶ ִ֣טה ִמ ְׁש ֶ֔ ָפט ֵ֥ל ֹׁא ַת ִ ָ֖כיר ָפ ִנֶ֑ים וְ ל
ַ ל 19
ָ ֹֽׁלְך׃ ס
ה־לְך׃ ס
ֹֽׁ ָ ֹלהיך ֲא ֶ ֵׁ֥שר ַת ֲע ֶש
ָ֖ ֶ יְהוֵ֥ה ֱא
ָ א־ת ַ ֵ֥טע לְ ךֶ֛ ֲאׁש ָ ָ֖רה ָכל־עֶ֑ץ ִ֗א ֶצל ִמזְ ַבֶ֛ח
ִ ֹׁ ֹֽׁל 21
ֹלהיך׃ ס
ֹֽׁ ֶ יְהוֵ֥ה ֱא
ָ א־ת ִ ֵ֥קים לְ ךָ֖ ַמצ ָ ֶ֑בה ֲא ֶ ֵׁ֥שר ָשנָ֖א
ָ ֹׁ וְ ֹֽׁל 22
ֹלהיך ֹֽׁהוא׃ ס
ָ֖ ֶ יְהוֵ֥ה ֱא
ָ תֹוע ַ ֶ֛בת
ֲ
ֹלהיך נ ִֹׁ֣תן ָלְֶ֑ך ִ ִ֣איׁש אֹו־
ָ֖ ֶ ר־יְהוֵ֥ה ֱא
ָ י־יִמצַ֤א ְב ִק ְר ְבך ְב ַא ַ ִ֣חד ְׁש ָע ֶ ֶ֔ריך ֲא ֶׁש
ָ ִ ֹֽׁכ 2
יתֹו׃
ֹֽׁ ֹלהיך לַ ֲע ֵ֥בֹׁר ְב ִר
ָ֖ ֶ ֹֽׁה־א
ֱ יְהוָ ת־ה ַ ֶ֛רע ְבעינֵ֥י
ָ יַע ֶ ָ֧שה ֶא
ֲ ִא ִָ֗שה ֲא ֶֶׁׁ֨שר
ש ֶמׁש׀ ִ֣אֹו לַ יָ ִ֗ר ַח ֶ֛אֹו לְ ָכל־
ִ֣ ֶ ַֹלהים ֲאח ִ ֶ֔רים וַ יִ ְׁש ַ ָ֖תחו לָ ֶ ֶ֑הם וְ ל
ִ֣ ִ וַ ִ֗ילֶ ְך ַ ֹֽׁוַֽיַ ֲעבֹׁד ֱא 3
יתי׃
ִ ֹׁא־צִ ֹֽׁו
ִ ְצ ָ ֵ֥בא ַה ָש ַ ָ֖מיִ ם ֲא ֶ ֵׁ֥שר ל
יטב וְ ִהנַ֤ה ֱא ֶמת נָ ִ֣כֹון ַה ָד ֶָ֔בר נֶ ֶע ְש ָ ֶ֛תה ַהתֹוע ָ ֵ֥בה
ֶ֔ וְ ֹֽׁהגַ ד־לְ ךָ֖ וְ ָׁש ָ ֶ֑מ ְע ָת וְ ָד ַר ְׁש ָ ִ֣ת ה 4
יִש ָר ֹֽׁאל׃
ְ ַה ָ֖ז ֹׁאת ְב
31
ת־ה ָד ֶָׁ֨בר
ׁשר ָָ֠עשו ֶא ַ
ת־ה ִא ֶָׁ֨שה ַה ִֶ֜הוא ֲא ֶ ִ֣
ת־ה ִ ִ֣איׁש ַה ֡הוא אֹו֩ ֶא ָ
את ֶא ָ
וְ ֹֽׁהֹוצ ָ ִ֣ 5
ֶא ָ ֹֽׁחד׃
וב ַע ְר ָ ֵ֥ת
ל־ה ָ ָ֖עם ָב ַא ֲחר ָֹׁנֶ֑ה ִ ֹֽׁ
יתֹו וְ יַ ֵ֥ד ָכ ָ
יֶה־בֹו ָב ִראׁש ֹׁנָ ה לַ ֲה ִמ ֶ֔
יַ ִ֣ד ָהע ִ ִ֞דים ִ ֹֽׁת ְה ַ֤ 7
ֹלהיך ֹֽׁבֹו׃
ְהוֵ֥ה ֱא ֶ ָ֖
ל־ה ָמ ֶ֔קֹום ֲא ֶ ֵׁ֥שר י ְִב ַ ֶ֛חר י ָ
ית ֶא ַ
ִד ְב ֵ֥רי ִרי ָ֖בֹׁת ִב ְׁש ָע ֶ ֶ֑ריך וְ ַק ְמ ָ ִ֣ת וְ ָע ֶ֔ ִל ָ
יִהיֶ ָ֖ה ַביָ ִ ִ֣מים ָה ֶ֑הם וְ ָד ְרשו
ל־הש ֹׁ ֶ֔פט ֲא ֶ ֵׁ֥שר ְ
ל־הכ ֲֹׁהנִ ים ַהלְ וִ ִֶ֔ים וְ ֶא ַ
את ֶא ַ
וב ִָ֗
ָ 9
יֹורוך׃
וְ ָׁש ַמ ְר ָ ִ֣ת לַ ֲע ֶ֔שֹות ְכ ָ֖כֹׁל ֲא ֶ ֵׁ֥שר ֹֽׁ
אמ ֵ֥רו לְ ךָ֖ ַת ֲע ֶ ֶ֑שה ִ֣ל ֹׁא
ל־ה ִמ ְׁש ָ ֶ֛פט ֲא ֶׁשר־י ֹׁ ְ
יֹורוך וְ ַע ַ
ׁשר ִ֗
תֹורה ֲא ֶ ִ֣
ל־פי ַה ָ ֶ֜
ַע ֶׁ֨ ִ 11
11
Texto extraído de The Lexham Hebrew Bible. (2012). (Dt 16.18–17.13). Bellingham, WA: Lexham
Press.
32
Segue abaixo uma tabela com a análise morfológica e sintática, juntamente com uma
tradução das palavras que envolvem o texto da perícope.
Dt. 16.18
ׁש ְֹׁפ ִ ִ֣טים Verbo, Qal, De acordo com Waltke Julgadores ou juízes
particípio, masculino, (2006, p.614) esse particípio [deriva do verbo julgar,
plural, absoluto é usado substantivamente aqueles que praticam a
como um nomen agentis, ou ação de julgar, ou seja,
seja, ela é derivada de uma julgadores]
ação (verbo – שפטele
julgou) e que identifica uma
entidade que executa essa
ação. Nesse caso indica o
executor do ato de julgar, o
juiz. Sintaticamente, esse
particípio substantival,
funcionará na oração como
objeto direto.
וְ ֹֽׁׁש ֹׁ ְט ִ ִ֗רים ְְו- waw conjuntivo - O prefixo waw funciona E oficiais (ou
conjunção como conjunção aditiva e funcionários
liga os termos ׁש ְֹׁפ ִ ִ֣טיםe subalternos)
ֹֹֽׁׁש ְט ִ֗רים- substantivo,
comum, masculino, ֹֽׁׁש ֹׁ ְט ִ ִ֗רים. Nesse caso eles
plural, absoluto funcionarão como objetos
direto da oração.
ן־לך
ְ ִ ֹֽׁת ֶת – ֹֽׁתתֶּ ְןverbo, Qal, Esse verbo rege o sujeito Tu constituirás/
imperfeito, 2° pessoa, composto anterior. Por estar estabelecerás para ti
masculino, singular no Qal imperfeito indica
uma ação simples não
ל- preposição concluída. O tempo da ação
deve ser determinado pelo
ְ – ךsufixo
contexto. Normalmente, as
pronominal,
orações hebraicas tem o
2°pessoa, masculino,
verbo no início. Quando
singular
outro elemento aparece no
início, indica que está
querendo dar mais ênfase a
esse elemento do que na
ação expressa.
הוָ֧ה
ָ ְי Substantivo, próprio, Um substantivo próprio que SENHOR
masculino, singular, indica um sujeito.
absoluto
ֹלהיך
ֶ֛ ֶ ֱא ֱֹלה
ְֶּ א- substantivo, O substantivo é construto teu Deus
comum, masculino, plural. Pode
plural, construto
ser traduzido por
יך- sufixo Deus/deuses. O
pronominal, segunda
contexto define o sentido.
pessoa, masculino, Como seu antecessor é a
singular
palavra ְהוָ֧ה
ָ יtrata-se da
expressão SENHOR, teu
Deus. Que
gramaticalmente funciona
como aposto.
34
ִל ְׁש ָב ֶ ֶ֑טיך ְ ל- preposição A preposição aponta uma Para tuas tribos
finalidade. O substantivo
ְשבָ ְֶּט- substantivo, funciona numa relação de
comum, masculino, construto.
plural, construto
יך-sufixo
pronominal, 2°
pessoa, masculino,
singular
ת־ה ָ ָ֖עם
ָ ֶא – אֶּ ת־indicador de Juntamente com o O povo
objeto direto indicador de objeto direto,
o substantivo funcionará
ְָה- artigo como objeto direto da
oração. O artigo específica
– עָ םsubstantivo,
o substantivo.
comum, singular,
asboluto
ט־צ ֶדק
ֹֽׁ ֶ ִמ ְׁש ַפ מ ְשפַּט־-substantivo, Os substantivos funcionam Um julgamento justo/
comum, singular, numa relação de construo reto
construto
Relação construto-
absoluto
– ֶּ ֹֽׁצדֶּ קsubstantivo,
comum, singular,
absoluto
Dt. 16.19
ֹׁא־ת ֶ ִ֣טה
ַ ל – ל ֹׁא־partícula de O verbo se encontra na sua Não farás
forma causativa imperfeita. inclinar/torcer/subverter/
negação
Ele descreve uma ação perverter
causativa no futuro
– ַת ֶ ִ֣טהverbo, Hifil,
imperfeito, 2°
pessoa, masculino,
singular
ַת ִ ָ֖כיר Verbo, hifil, O verbo se encontra na sua Farás considerar/ prestar
imperfeito, 2º pessoa, forma causativa imperfeita. atenção/ reconhecer (no
masculino, singular Ele descreve uma ação sentido de privilegiar)
causativa no futuro.
ֹׁא־ת ַ ִ֣קח
ִ וְ ל ְו- conjunção O verbo no qal indica uma E não tomarás
ação simples e está no
– ל ֹׁא־partícula de imperfeito. Com o
acréscimo de conjunção e a
negação partícula de negação a ação
aqui demonstrada também
ִת ַ ִ֣קח- verbo, Qal, não deve ser realizada.
imperfeito, 2°
pessoa, masculino,
singular
comum, singular,
absoluto
יסלָ֖ף
ַ ִ ֹֽׁו ִ ֹֽׁו- conjunção O waw conjuntivo E perverterá
acrescenta mais uma ideia a
oração. O verbo está no Piel
indicando uma ação
37
יסלָ֖ף
ַ – verbo, Piel, intensiva e está no
imperfeito indicando uma
imperfeito, 3º ação não concluída.
pessoa, masculino,
singular
ִד ְב ֵ֥רי Substantivo, comum, Esse substantivo indica ser o Palavras dos
masculino, objeto da ação anterior. Está
masculino, plural, numa relação de construto
construto com o adjetivo a seguir.
Dt. 16.20
ֶצ ֶָ֖דק ֶ ֵ֥צ ֶדק Substantivo, comum, Funciona como sujeito da a Justiça, justiça
singular, absoluto oração. A repetição do
substantivo indica ênfase no
termo.
ִת ְר ֶ֑ד ֹׁף Verbo, qal, Verbo no tronco Qal indica Seguirás/ perseguirás/
imperfeito, 2° pessoa, uma ação simples ativa. buscarás
masculino, singular
ְל ַ ַ֤מ ַען Preposição + Estabelece uma relação de Por causa de/ para que
conjunção causa dos fatos ou ações
anteriores.
וְ ַיָר ְׁש ָ ִ֣ת ְו-conjunção Verbo no tronco Qal indica E tomarás posse
uma ação simples ativa. A
– י ַָר ְׁש ָ ִ֣תverbo, Qal, conjunção funciona para
adicionar mais uma ideia de
perfeito, 2° pessoa, causa para se buscar a
masculino, singular justiça. O verbo no Qal
perfeito tendo um waw
como prefixo indica uma
ação futura, pois, de acordo
com Kelley (2015, p.119)
“um perfeito ao qual se
tenha prefixado a conjunção
waw normalmente será
traduzido por um futuro.”
comum, singular,
absoluto
Dt. 16.21
א־ת ַ ֵ֥טע
ִ ֹׁ ֹֽׁל ֹֽׁל ֹׁא־- partícula de A partícula de negação nega Não estabelecerás
a ação expressa pelo verbo
negação que a acompanha. O verbo
indica uma ação simples,
ִת ַ ֵ֥טע- verbo, qal, ativa e inconclusa.
imperfeito, 2°
pessoa, masculino,
singular
ֲאׁש ָ ָ֖רה Substantivo, comum, Nome próprio de uma Asera (arvores sagradas
feminino, singular, divindade pagã ou poste-ídolo)
absoluto
ה־לְך
ֹֽׁ ָ ַת ֲע ֶש – ַת ֲע ֶשה־Verbo, O verbo indica uma ação Fabricarás, farás para ti
simples, ativa e inconclusa.
Qal, imperfeito, 2°
A expressão ־לְך ֹֽׁ ָ aponta
pessoa, masculino,
para quem ou o que é a
singular
finalidade e o sufixo
ָ ֹֽׁל- preposição pronominal a ela ligada
mostra que se refere ao
– ְךsufixo
povo de Israel.
pronominal, 2°
pessoa, masculino,
singular
Dt. 16.22
א־ת ִ ֵ֥קים
ָ ֹׁ וְ ֹֽׁל ְו- conjunção A conjunção junto com a Nem farás levantar
partícula aponta para uma
ֹֽׁל ֹׁא- partícula de conjunção aditiva negativa.
O verbo se encontra no
negação tronco hifil, o que indica
uma ação causativa e por
־ת ִ ֵ֥קים
ָ – verbo, hifil, estar no imperfeito indica
imperfeito, 2° uma ação inconclusa.
pessoa, masculino,
singular
Dt. 17.1
ֹׁא־תזְ ַב ֩ח
ִ ל ל ֹׁא־-partícula de Partícula de negação Não sacrificarás
transforma o verbo em uma
negação
ação negativa. O verbo se
encontra na qal imperfeito
– ִתזְ ַב ֩חVerbo, Qal, indicando uma ação simples
imperfeito, 2° e inconclusa.
40
pessoa, masculino,
singular
יִה ֶיֵ֥ה
ְ Verbo, qal, Verbo no qal incompleto houver
imperfeito, 3° pessoa, indicando um estado
masculino, singular inconcluso e simples.
תֹוע ַ ֶ֛בת
ֲ Substantivo, comum, Explica o motivo da ordem. Abominação/ detestável
feminino, singular,
construto
Dt.17.2
ת־ה ַ ֶ֛רע
ָ ֶא – ֶאת־indicador de O indicador de objeto direto O mau
indica que a palavra que o
objeto direto
acompanha exercerá papel
de objeto do verbo anterior.
ָה- artigo O adjetivo está sendo
definido pelo artigo e nesse
ַ ֶ֛רע- adjetivo, caso exercerá papel
singular, absoluto substantival.
יתֹו
ֹֽׁ ְב ִר Substantivo, comum, O substantivo está em Da aliança dele
singular, construto + relação genitiva com o
sufixo pronominal, 3° infinitivo anterior. E o
pessoa, masculino, sufixo pronominal indica de
singular quem.
Dt.17.3
ַ ֹֽׁוַֽיַ ֲעבֹׁד ַ ֹֽׁו- conjunção O waw exerce papel de waw E então serviu
consecutivo, indicando uma
יַ ֲעבֹׁד- verbo, Qal, ação que segue em
sequência. O verbo
imperfeito, encontra-se no qal
3°pessoa, imperfeito, indicando que
masculino, singular essa ação é simples, ativa e
inconclusa.
ֹלהים
ִ֣ ִ ֱא Substantivo, comum, Esse substantivo funciona deuses
masculino, plural, como objeto das ações
absoluto anteriores. O adjetivo
abaixo qualifica esse
substantivo.
וַ יִ ְׁש ַ ָ֖תחו ַו- conjunção (waw O waw exerce papel de E prostrou-se a (no
waw consecutivo, sentido de adorar)
consecutivo) indicando uma ação que
segue em sequência. O
יִ ְׁש ַ ָ֖תחו- Verbo, verbo se encontra em um
eshtafal, imperfeito, grau raro, denominado
3° pessoa, esthtafal, que segundo
Waltke (2006, p.434)
masculino, singular sugere que ela esteja em um
grau que deriva do hitphael,
pois a palavra הׁשתחוה
possivelmente seja um
hitphael da raiz ׁשחה. A
forma inusitada da palavra
sugere seu significado
cultural extraordinário.
ש ֶמׁש
ִ֣ ֶ וְ ַל ְ ו- conjunção A conjunção indica um E para o sol
acréscimo de ideia na
ַל- preposição oração. A preposição aponta
a finalidade e o substantivo
ש ֶמׁש
ִ֣ ֶ – substantivo, é o objeto dessa finalidade,
que está sendo definido pelo
comum, singular, artigo
absoluto + artigo
ַליָ ִ֗ר ַח ַל- preposição A preposição indica Para a (à) lua
finalidade. O substantivo,
יָ ִ֗ר ַח- substantivo, que está sendo definido pelo
artigo, está na relação de
comum, singular, alternatividade com o
absoluto + artigo substantivo anterior.
ית
ִ ֹׁא־צִ ֹֽׁו
ִ ל ל ֹׁא- partícula de Partícula de negação Não mandei/ ordenei
transforma a ação do verbo
negação em um negativa. O verbo
está no piel perfeito que
indica uma ação intensiva
completa. A pessoa indicada
45
ית
ִ ־צִ ֹֽׁו
ִ - verbo, Piel, está se referindo ao
SENHOR.
perfeito, 1° pessoa,
singular
Dt. 17.4
ָ֖ד־לך
ְ ַוְ ֹֽׁהג ְו- conjunção A conjunção estabelece E ser relatado para ti (no
ideia de sequência e adição sentido de denunciar)
– ֹֽׁהגַ דverbo, Hofal, das ações anteriores. O
verbo está no hofal perfeito,
perfeito, 3° pessoa, indicando uma ação
masculino, singular causativa passiva. A
preposição indica a
ָ֖ ְלך- preposição+ finalidade e sufixo
pronominal a pessoa.
sufixo pronominal,
2° pessoa,
masculino, singular
וְ ָד ַר ְׁש ָ ִ֣ת ְו- conjunção A conjunção estabelece E (tu) inqueres (no
ideia de sequência e adição sentido de investigar)
ָד ַר ְׁש ָ ִ֣ת- verbo, Qal, das ações anteriores. O
verbo está no qal perfeito,
perfeito, 2° pessoa, indicando uma ação simples
masculino, singular ativa.
יטב
ֶ֔ ה Verbo, Hifil, Esse infinitivo na forma do Bem (no sentido, de
infinitivo, absoluto hifil assumirá papel completamente)
adverbial, pois por ser
causativo e estar no
infinitivo, ele terá o papel de
advérbio de maneira
נֶ ֶע ְש ָ ֶ֛תה Verbo, Nifal, Indica uma ação simples e Foi feita
perfeito, 3° pessoa, passiva.
feminino, singular
comum, feminino,
singular, absoluto
Dt. 17.5
את
ִ֣ ָ וְ ֹֽׁהֹוצ ְו- conjunção A conjunção indica E (tu) faças sair
sequência nos fatos
את
ִ֣ ָ ֹֽׁהֹוצ- verbo, Hifil, narrados. O verbo no hifil
perfeito indica uma ação
perfeito, 2° pessoa, causativa ativa.
masculino, singular
ת־ה ִ ִ֣איׁש
ָ ֶא ֶאת- indicador de O indicador do objeto direto O homem
indica que o substantivo a
objeto direto seguir funciona com objeto
do verbo anterior. O artigo
ָה ִ ִ֣איש- artigo+ define o substantivo.
substantivo,
47
comum, singular,
absoluto
ת־ה ִא ֶָׁ֨שה
ָ ֶא – ֶאתindicador de O indicador do objeto direto A mulher
indica que o substantivo a
objeto direto
seguir funciona com objeto
do verbo anterior. O artigo
– ָה ִא ֶָׁ֨שהartigo+ define o substantivo.
substantivo,
comum, feminino
singular, absoluto
ָָ֠עשו Verbo, Qal, perfeito, Verbo no qal perfeito indica [ele] fez
3° pessoa, plural uma ação simples
concluída.
ת־ה ָד ֶָׁ֨בר
ַ ֶא – ֶאתindicador de O indicador de objeto direto A coisa
indica que o substantivo que
objeto direto o acompanha funciona
como objeto direto na
– ַה ָד ֶָׁ֨ברartigo + oração
substantivo,
comum, singular,
absoluto
ל־ׁש ָע ֶ ֶ֔ריך
ְ ֶא ֶאל- preposição Essa preposição coopera Às tuas portas
com o pronome
־ׁש ָע ֶ ֶ֔ר
ְ - substantivo, demonstrativo exercendo o
mesmo papel. Indica
comum, masculino, direção. O substantivo
plural, construto funciona como papel de
48
וס ַק ְל ָ ֵ֥תם
ְ ו- conjunção Conjunção acrescenta mais E (tu)apedrejarás
uma ação a sequência de
– ְס ַק ְלverbo, Qal, fatos narrados. O verbo
indica uma ação simples,
perfeito, 2° pessoa, ativa e conclusa.
masculino, singular
– ָ ֵ֥תםpronome,
sufixado, 3° pessoa,
masculino, plural
substantivo,
comum, masculino,
plural, absoluto
Dt. 17.6
ל־פי
ִ֣ ִ ַע ַעל- preposição A preposição introduz a Sobra boca (indica a
ideia de maneira. O ideia de pelo
־פי
ִ֣ ִ -substantivo, substantivo indica qual é a depoimento, pela fala de
maneira. Literalmente a alguém)
comum, singular,
palavra não faz sentido. O
construto
uso é metafórico.
ֹלׁשה
ֵ֥ ָ ְׁש Numeral, cardinal, Indica o número de “bocas” Três
feminino, absoluto, citados anteriormente
singular
יומת
ִ֣ ַ Verbo, Hofal, Verbo que indica uma ação Fará com que seja morto
imperfeito, 3° pessoa, causativa passiva.
masculino, singular
יומת
ֶַ֔ Verbo, Hofal, Verbo que indica uma ação Fará com que seja morto
imperfeito, 3° pessoa, causativa passiva.
masculino, singular
ל־פי
ָ֖ ִ ַע ַעל- preposição A preposição introduz a Sobra boca (indica a
ideia de maneira. O ideia de pelo
־פי
ִ֣ ִ -substantivo, substantivo indica qual é a depoimento, pela fala de
maneira. Literalmente a alguém)
comum, singular,
palavra não faz sentido. O
construto
uso é metafórico.
Dt. 17.7
יתֹו
ֶ֔ ַל ֲה ִמ ַל-preposição A preposição aponta para Para fazer ele morrer/
finalidade. O verbo está matar
יתֹו
ֶ֔ ֲה ִמ- verbo, Hifil, indicando uma ação
causativa ativa e inconclusa.
infinitivo, construto O sufixo pronominal está
+ sufixo ligado ao executado.
pronominal, 3°
pessoa, masculino,
singular
ל־ה ָ ָ֖עם
ָ ָכ ָכל- Substantivo, Esses substantivos estão em Todo o povo
uma relação de construto
comum, singular,
como o substantivo anterior.
construto O artigo define o segundo
substantivo.
־ה
ָ -artigo
ָ ָ֖עם- substantivo,
comum, singular,
absoluto
ָב ַא ֲחר ָֹׁנֶ֑ה ָב- preposição Essa expressão indica Logo após
sequência. Após as
51
וב ַע ְר ָ ֵ֥ת
ֹֽׁ ִ ו- Conjunção Indica uma adição de uma E devastarás/ removerás
ação as ações anteriormente
ִ ֹֽׁב ַע ְר ָ ֵ֥ת- verbo, Piel, narradas. O verbo está no
piel indicando uma ação
perfeito, 2° pessoa, intensiva ativa e concluída.
masculino, singular
Dt.17.8
יִפל ֩א
ָ Verbo Nifal, O verbo está no nifal Será/estará difícil ser de
imperfeito, 3° pessoa, imperfeito, indicando uma feito
masculino, singular ação incompleta e passiva
ou reflexiva (KELLEY,
2015, p.141).
pronominal, 2°
pessoa, masculino,
singular
ָד ֶָ֜בר Substantivo, comum, Funciona como o sujeito da Alguma coisa/ alguma
singular, absoluto oração. Por não haver artigo palavra/ alguma questão.
está indeterminado. O
52
ין־דם
ֶׁ֨ ָ ֹֽׁב ֹֽׁבין- substantivo, Funciona numa relação de Entre culpa de sangue
construto, porém, o (homicídio)
comum, singular, primeiro substantivo será
construto traduzido por uma
preposição. A palavra
(Relação de funciona tem sua tradução
construo-absoluto) literal como sangue, mas
sua conotação tem a ideia de
־דם
ֶׁ֨ ָ Substantivo, derramamento de sangue.
comum, singular,
absoluto
ין־דין
ִ֣ ִ ֹֽׁב – ֹֽׁביןsubstantivo, Os substantivos estão em Entre vários tipos de
uma relação de construto. A julgamentos
comum, singular, partir de agora será elencado
construto várias questões que podem
ser um exemplo de questões
־דין
ִ֣ ִ -substantivo, difíceis de julgar.
comum, singular,
absoluto
ובין
ֵ֥ Conjunção+ Indica acréscimo de ideia. E entre
substantivo, comum,
singular, construto
ית
ָ וְ ָע ֶ֔ ִל Conjunção+ verbo, Indica mais uma ação E irás
Qal, perfeito, 2° acrescentada. Pela presença
pessoa, masculino, do waw consecutivo o verbo
singular é traduzido no futuro
ל־ה ָמ ֶ֔קֹום
ַ ֶא ֶאל־- preposição Indica a ideia de movimento Para o lugar
a um lugar específico
ַה ָמ ֶ֔קֹום-artigo+
substantivo,
comum, singular,
absoluto
Dt. 17.9
את
ִָ֗ וב
ָ ו-conjunção A conjunção acrescenta E entrarás/virás
uma ideia a sequência das
ações. O verbo no qal indica
uma ação simples. A
54
את
ִָ֗ ָב- verbo, Qal, presença do waw
transforma o verbo em uma
perfeito, 2° pessoa, ação presente ou futura.
masculino, singular
masculino, plural,
absoluto
יִה ֶיָ֖ה
ְ Verbo, Qal, Indica uma ação simples, haverá
imperfeito, 3° pessoa, ativa e inconcluída.
masculino, singular
וְ ִה ִגִ֣ידו Conjunção+ verbo, A conjunção faz uma adição E farão declarar
Hifil, perfeito, 3° de mais uma ação, que será
pessoa, plural praticada pelo pronome
anterior. O verbo no Qal
perfeito tendo um waw
como prefixo indica uma
ação futura, pois, de acordo
com Kelley (2015, p.119)
“um perfeito ao qual se
tenha prefixado a conjunção
waw normalmente será
traduzido por um futuro.”
ַה ִמ ְׁש ָ ֹֽׁפט Artigo+ substantivo, Funciona como o absoluto O julgamento/ o juízo
comum, singular, da relação de construto. Está
absoluto definido pelo artigo.
Dt. 17.10
ית
ָ וְ ָע ִִ֗ש ְו-Conjunção Indica mais uma sequência E farás
de ação que com as demais.
ית
ָ ָע ִִ֗ש- verbo, Qal, O verbo no Qal perfeito
tendo um waw como prefixo
perfeito, 2° pessoa, indica uma ação futura,
masculino singular pois, de acordo com Kelley
(2015, p.119) “um perfeito
ao qual se tenha prefixado a
conjunção waw
normalmente será traduzido
por um futuro.”
־פי
ִ֣ ִ -substantivo, palavra não faz sentido. O depoimento, pela fala de
uso é metafórico. alguém)
comum, singular,
construto
ִיַג ִֹֽׁ֣ידו Verbo, Hifil, Indica uma ação causativa, Farás anunciar
imperfeito, 3° pessoa, ativa e inconclusa.
masculino, plural
יִ ְב ַ ִ֣חר Verbo, Qal, Indica a ação que será Escolher/ escolherá
imperfeito, 3° pessoa, praticada pelo substantivo a
masculino, singular seguir. È uma ação simples,
ativa e inconclusa.
הוֶ֑ה
ָ ְי Substantivo, próprio, Sujeito que pratica a ação. SENHOR
masculino, singular,
absoluto
וְ ָׁש ַמ ְר ָ ִ֣ת Conjunção + verbo, Indica mais uma ação E observarás/ guardarás
qal, perfeito, 2° subsequente. O verbo no
pessoa, masculino, Qal perfeito tendo um waw
singular como prefixo indica uma
ação futura, pois, de acordo
57
ָ֖כֹׁל-substantivo,
comum, singular,
absoluto
יֹורוך
ֹֽׁ Verbo, Hifil, O verbo indica ser uma ação Fores ensinado para você
imperfeito, causativa, inconclusa e
masculino,plural + ativa. O sufixo pronominal
sufixo pronominal, 2° + será o agente que praticará
pessoa, masculino, a ação.
singular
Dt.17.11
ל־פי
ַ֤ ִ ַע ַעל- preposição A preposição introduz a Sobra boca / pelo que foi
ideia de maneira. O dito (indica a ideia de
־פי
ִ֣ ִ -substantivo, substantivo indica qual é a pelo depoimento, pela
maneira. Literalmente a fala de alguém)
comum, singular,
palavra não faz sentido. O
construto
uso é metafórico.
תֹורה
ֶ֜ ָ ַה ַה- artigo Faz parte de uma frase A lei/ a instrução
nominal.
– ָד ָברsubstantivo,
comum, feminino,
singular, absoluto
ִיַג ִֹֽׁ֣ידו Verbo, Hifil, O verbo indica ser uma ação Fores instruído/ fores
imperfeito, 3° pessoa, causativa, inconclusa e ensinado a você/ a ti
masculino, plural + ativa. O sufixo pronominal
sufixo pronominal, 2° + será o agente que praticará
pessoa, masculino, a ação.
singular
ַה ִמ ְׁש ָ ֶ֛פט Artigo + substantivo, Funciona como o sujeito. A decisão/ a sentença/ o
comum, singular, julgamento
absoluto
58
ֹׁאמ ֵ֥רו
ְ י Verbo, Qal, Indica uma ação não Dirão
imperfeito, 3° pessoa, concluída, simples e ativa
masculino, plural
ִ ֵ֥יַג ֹֽׁידו Verbo, Hifill, O verbo indica ser uma ação fores instruído/ fores
imperfeito, 3° pessoa, causativa, inconclusa e ensinado a você/ a ti
masculino, plural ativa. O sufixo pronominal
+ será o agente que praticará
a ação.
ִִ֞איׁש- substantivo,
comum, singular,
absoluto
שה
ִ֣ ֶ יַ ֲע Verbo, Qal, Indica uma ação não Fará/ for
imperfeito, 3° pessoa, concluída, simples e ativa
masculino, singular
– זָ ִ֗דֹוןsubstantivo,
comum, singular,
absoluto
ְל ִב ְל ֶׁ֨ ִתי ְְל- preposição Expressa uma sentença por causa de não
negativa
– בלְ ִּ֨תיsubstantivo,
comum, singular,
construto
מ ַע
ֹׁ ַ֤ ְׁש Verbo, Qal, Exerce papel de verbo. ouvir
infinitivo, construto
– כֹׁהןsubstantivo,
comum, singular,
absoluto
לְ ָ ָׁ֤ש ֶּר ְת ְְל-preposição Indica a finalidade. O verbo Para servir
está no infinitivo piel.
ש ֶּרת-verbo,
ָׁ֤ ָ Piel,
Indicando uma ação
infinitivo, construto
intensica
וב ַע ְר ָ ֵ֥ת
ֹֽׁ ִ ו-conjunção Indica o acréscimo de mais E removerá
uma ação. O verbo está no
– ִ ֹֽׁב ַע ְר ָ ֵ֥תVerbo, Piel, piel perfeito indicando uma
ação intensiva. O verbo no
perfeito, 2° pessoa, perfeito tendo um waw
masculino, singular como prefixo indica uma
ação futura, pois, de acordo
com Kelley (2015, p.119)
“um perfeito ao qual se
tenha prefixado a conjunção
waw normalmente será
traduzido por um futuro.”
ָ ָ֖רע- adjetivo,
singular, absoluto
próprio, singular,
absoluto
Dt.17.13
ָכל- substantivo,
comum, singular,
construto
comum, singular,
absoluto
יִ ְׁש ְמ ִ֣עו Verbo, Qal, Verbo indica uma ação Ouvirá
imperfeito, 3° pessoa, simples, ativa e não
masculino, plural concluída.
יִראו
ֶ֑ ָ ְו ְו- conjunção (waw Adiciona uma ação e indica E
uma ação simples, ativa e
conjuntivo) não concluída
temerá
י ָ ִֶ֑ראו-verbo, qal,
imperfeito, 3°
pessoa, masculino,
plural
יְזִ ָ֖ידון Verbo, Hifil, Indica uma ação causativa, E fará comportar com
imperfeito, 3° pessoa, ativa e não concluída. insolência
masculino, plural
Essa expressão manifesta a ideia de algo que seja de natureza física, ritual ou ética na
qual pode causar repulsa em Deus ou no homem. Essa expressão é utilizada diversas vezes para
demonstrar algo que seja de costume abominável ou uma abominação e em Deuteronômio
várias vezes está associada a coisas que causam repulsa em Deus. Na perícope essa abominação
é atribuída aquele que não oferece sacrifícios de maneira adequada quando sacrifica animais
defeituosos (Dt.17.2) (HARRIS, 1998, v.I, p.1653).
A maioria dos estudiosos concorda que essa palavra é usada como nome da uma deusa
pagã. As referências a essa deusa no primeiro milênio ocorrem na Arábia e muitas vezes era
utilizada como uma deusa convidada nas adorações a Yavé (Cf.2Rs 21.7). Era totalmente
abominado por Deus nos atos de seu culto e nunca foi aceito como algo legitimo no culto a
Yavé. Sempre que foi acrescentado nos cultos era um sinal de idolatria (HARRIS, 1998, v.I,
p.554).
ְשע ֶָּריךé uma palavra cujo o radical dela é שַׁ עַׁרe que significa porta. Essa palavra no seu
sentido literal costumeiramente está associada a porta da cidade, pois esse era o local estratégico
de uma cidade. Nesse local se encontrava os “tribunais da cidade”. Cada porta da cidade tinha
um juiz que era nomeado para julgar as questões da cidade. “Os anciãos e sábios sentavam-se
à porta para arbitrar casos e lá eram levados a efeito os castigos e execuções (Dt 21.19; 22.15,
24; Pv 24.7; Jr 20.2).” (HESS, 2011, v. 4, p.208). Nas portas das cidades também se realizavam
negócios e outras transações e para as cidades de Israel era a cidade o local onde o julgamento
de Deus era realizado. Para o mundo antigo, a porta de uma cidade era o ponto mais importante
dela, pois tendo o controle dela, se tinha o controle da cidade. Em alguns momentos nessa
perícope essa palavra servirá para representar a cidade (metonímia) em outros momentos era o
63
local onde se deveria levar as pessoas julgadas e onde deveria acontecer seu julgamento e sua
sentença.
De acordo com o DITAT (1998, p.314) há duas formas em que ocorre esses termos no
AT. A primeira envolve o derramamento de sangue por violência e destruição, geralmente
resultando em morte, como acontece em guerras ou homicídios. A segunda ocorrência envolve
em uma morte sacrificial, como num sacrifício destinado a Deus. Em Deuteronômio o termo é
usado 23 vezes. Nesse caso o termo é usado mais comumente para denotar o derramamento de
sangue pela violência, quase sempre resultando em morte (TREBLICO, 2011, v.1, p.938). A
repetição dos termos invoca um exemplo de dificuldade de julgar o caso, nesse caso, por
exemplo está ligado a se a morte foi culposa ou dolosa, uma questão muitas vezes difícil de ser
analisada nos tribunais daquela época.
que todas elas possuem a sua origem do radical ׁשפט. Em seu sentido simples, a palavra
representa a ideia de executar o processo do governo. Essa ideia nem sempre estava atrelada a
uma pessoa com poderes judiciais tais como temos hoje na democracia moderna, mas competia
a pessoas que acumulavam funções judiciais, tais como um rei ou um sacerdote. Além disso,
era comum as pessoas conhecerem as leis de sua cultura (civil, religiosa, familiar etc.), contudo,
eles estavam acostumados não a serem governados por leis, mas por pessoas, o que dava a ideia
de que os julgamentos eram totalmente enraizados no homem.
No AT, essa palavra em sua forma verbal está ligada a ideia de manter, restaurar ou
preservar a ordem social e cerca de 60% das ocorrências estão ligadas a uma ação humana, e
cerca de 13% dessas formas se encontram no Pentateuco. Nessa perícope a palavra assume o
sentido de julgar, resolver disputas legais no meio do povo (SCHULTZ, 2011, p.1129). Essa
ação de julgar era feita por aqueles que foram escolhidos pelo povo para realizar tais atos. Por
64
isso, a forma do particípio de )ׁש ְֹׁפ ִ ִ֣טים( ׁשפטé a forma pela qual se designa alguém que pratica a
ação de julgar. De acordo com Dt.16.18–20, devia-se nomear juízes e oficiais das tribos (em
cada cidade para exercer justiça imparcial (cf. Dt 21.2; 25.2). E tudo indica que havia a ideia
de um tribunal central onde juntamente com sacerdote e levitas, eles deveriam julgar os casos
difíceis perante o SENHOR. (SCHULTZ, 2011, p.1129)
Já a palavra que atribui o sentido de justiça como retidão é ֶצ ֶָ֖דק. Essa palavra cuja raiz é
צדקtem basicamente a conotação de um padrão ético ou moral. Esse aspecto ético envolve a
conduta de uns com os outros e que costumeiramente está associado a ideia de retidão e que
está ligado ao andar de maneira coerente coma Lei de Deus. O homem que deseja andar
retamente ou de maneira justa é o que procura preservar a paz e prosperidade da comunidade.
O aspecto forense dessa palavra aplica-se maneira coerente de realizar os julgamentos,
independente de da condição dos envolvidos, envolve a retidão no julgar perante a lei e não em
privilegiar pessoas.
O nome Yavé, designa o nome pessoal e impronunciável de Deus, é a sua forma mais
comum no AT para designar a Deus. A forma Elohim geralmente está ligado a forma que se
chamava uma divindade de maneira genérica e, às vezes, está designa outros deuses que não
eram Yavé. A expressão ֱֹלהיך
ֶּ ( יְהוָ ָ֧ה אYavé Elohim) pode ter tido o objetivo de reivindicar que
esse Deus criador universal não é diferente do Deus pessoal de Israel. O uso com o sufixo
pronominal designa quem era o Deus, no qual Israel devia obediência e da mesma forma era o
Deus que dava as cidades a eles. A esse Deus tudo pertencia, até mesmo a forma de governo e
65
julgamento das questões civis deveriam ser norteados pela justiça de Deus (HARRIS, 1998,
p.345; FRETHEIM, 2011, v.1, p.396).
A ideia de ( ֲע ֹׁ֥ברquebrar, passar, transgredir) vem da ideia que essa palavra tem com
termos pactuais. Ela foi usada para a separação dos animais quando Deus faz o pacto com
Abraão (Gn.15.17) e com frequência ‘ ֲע ֹׁ֥ברé usado, tendo por objeto algo como “pacto” (Dt
17.2; Js 7.11, 15; Jz 2.20; 2Rs 18.12; Jr 34.18; Os 6.7; 8.1) ou “ordenanças (do pacto)” para
indicar violação de um relacionamento pactual (Dt 26.13; 1Sm 15.24; 2Cr 24.20; Sl 148.6; Is
24.5; Dn 9.11), em contextos como Josué 23.16, o qual indica que tal transgressão era
equivalente a ir após e servir a outros deuses (HARMAN, 2011, v.3, p.1129). No contexto de
Dt. 17.2 indica a ideia de que a pessoa que se prostra para adorar outros deuses ou acrescentar
elementos não autorizados por Deus na sua adoração é um transgressor da aliança, por romper
com os termos pactuais traçados no Sinai e que agora estão sendo revisados.
66
16.18 Juízes e oficiais tu constituirás para todas as cidades que o Senhor, teu Deus, der para
vocês e julgarão o povo retamente. 16.19 Não farás inclinar a justiça, não farás privilégio de
pessoas e não tomes suborno, visto que o suborno cega os olhos dos sábios e perverterá a palavra
dos justos.16.20 Justiça, justiça, buscarás para que vivas e tomes posse da terra que o SENHOR,
teu Deus, der para você. 16.21 Não estabelecerás para vocês Aserá, feito de qualquer tipo de
árvore, ao lado do altar do SENHOR, teu Deus, que fabricares para ti 16.22 Nem farás levantar
para ti coluna que o SENHOR, teu Deus, odiou. 17.1 Não sacrificarás para o SENHOR, teu
Deus, boi ou cordeiro que houver com ele qualquer defeito ou qualquer coisa ruim, pois isso é
abominação para o SENHOR, teu Deus. 17.2 Quando ele ou ela for achado, entre ti - em uma
das tuas cidades que o SENHOR, teu Deus, der para ti – homem ou mulher que fizer o que é
mau aos olhos do SENHOR, teu Deus, será como transgressor da aliança dele. 17.3 E foi e,
então, serviu a outros deuses e prostrou-se para eles, para o sol ou à lua ou para todo exército
dos céus, que eu não ordenei 17.4 e sendo denunciado; tu ouves e inqueres completamente e
eis que a denúncia sendo verdadeira de que foi feita esta abominação em Israel 17.5 e faças tu
sair o homem ou a mulher que fez a coisa má, este faça ser levado às portas das tuas cidades e
apedrejarás, com pedra, e mate. 17.6 Pelo depoimento de duas ou três testemunhas fará com
que seja morto o condenado; não fará com que seja morto pelo depoimento de uma testemunha
apenas. 17.7 A mão das testemunhas será a primeira a apedrejar, logo após a mão de todo o
povo removerás o mal para longe de ti. 17.8 Quando alguma coisa for difícil para o julgar: entre
assassinato e homicídio, e de julgamento e julgamento, e de violência e violência, e outras
contendas, então te levantarás e irás ao lugar que o SENHOR, teu Deus escolherás para ele.17.9
E virás para os sacerdotes, levitas e para o juiz que haverá no dia para que eles investiguem e
fará declarar para ti a sentença do julgamento. 17.10 E farás pronunciar a sentença que farás
anunciar para ti, naquele local que escolherá o SENHOR, e guardarás a fazer em tudo que fostes
ensinado para você 17.11 Pela instrução que foi dito e que fostes instruídos a ti e sobre a
sentença que dirá a ti, tu não farás desviar a sentença que fostes instruído nem para a direita
nem para a esquerda. 17.12 E o homem que for presunçoso por causa de não ouvir o sacerdote,
que está ali para servir ao SENHOR, teu Deus, ou o juiz; este homem morrerá e, assim,
removerá o mau para fora de Israel. 17.13 E todo o povo ouvirá e temerá; e não farão agir com
insolência novamente.
67
5.5.2 Paráfrase
16
18
Vocês deverão escolher e estabelecer juízes e oficiais, organizando-os por tribos, para que
eles façam o trabalho de julgar adequadamente nas cidades em que o SENHOR, o único e
verdadeiro Deus de vocês, irá dar para que vocês morem. Esse julgamento deve ser honesto e
não pode deturpar a lei. 19Por isso, eles não podem ser parciais, tendo pessoas favoritos, nem
mesmo privilegiem pessoas e desprezem outras no julgamento. O seu dever é ser sempre
imparcial e justo. Também, não aceitem suborno, afinal o suborno corrompe até as melhores
intenções das pessoas. Ele faz até o sábio não agir com sabedoria, pois está cego pela propina.
E este suborno também irá perverter a maneira pela qual o justo conduz os seus julgamentos,
tornando as suas palavras em palavras injustas. 19Justiça, eu disse que somente e exclusivamente
a justiça, vocês devem procurar executar para que vocês possam viver em paz, tomando posse
e aproveitando da Terra Prometida, que o SENHOR, o único Deus de vocês, dará a vocês como
cumprimento de sua promessa. 21Por isso, vocês não devem fazer para vocês nada consagrado
a Aserá. Isso quer dizer que nenhuma imagem de ídolos ou poste-ídolos feitos de qualquer tipo
de árvore ou material, deve ser inserida como objeto de adoração no culto ao SENHOR, pois o
altar que Deus irá fabricar para si é de exclusividade para o seu culto e nunca deve ser divido
22
com adoração para outro deus. Uma vez que Deus odeia quando vocês fazem outros ídolos
para vocês mesmo e não obedecem ao mandamento de somente adorar a Ele.
17
1
Vocês não devem, também, sacrificar animais – bois ou cordeiros – que possuem qualquer tipo
de defeito, pois Deus, o SENHOR, vê isso como uma abominação. Isso é uma ofensa gravíssima
a Ele e sua santidade. 2Por isso, quando vocês encontrarem alguém, seja homem ou mulher,
que cometer algo contrário a Lei do SENHOR, nas cidades em que vocês irão habitar dadas por
ele, e que aos olhos dele tal ato seja considerado uma abominação essa pessoa será tida como
um transgressor. Ele é um traidor da aliança que Deus fez com seu povo. 3Esta pessoa que vai
e serve a outro deus, prestando cultos e se submetendo a esse deus ou aos elementos da natureza
4
como o sol, a lua ou as constelações de estrelas; tais coisas que Deus não mandou fazer e
sendo essa pessoa denunciada por alguém; vocês devem ouvir e investigar essa situação
completamente – sempre de maneira justa – e sendo constatado que essa pessoa cometeu o
delito, considerem que houve uma traição em Israel. 5Então, vocês devem, sem qualquer sombra
68
de dúvidas, fazer com que este homem ou esta mulher culpada saía da tua cidade e seja levada
para os portões dela e vocês vão executar ela atirando pedras sobre o culpado. 6Contudo, isso
só deve ser feito se você tiver mais do que uma testemunha do caso - de preferência duas ou
três testemunhas - para que o condenado seja morto. Caso o contrário, se vocês tiverem apenas
uma testemunha, não é permitido executar a sentença de matar essa pessoa, pois ela não deve
7
ser morta com apenas uma testemunha. O procedimento da execução do condenado será
iniciado com as testemunhas dando início ao apedrejamento. Logo em seguida, todo o povo de
Israel deve executar essa pessoa, para que o mal seja retirado de vez por todas do meio do povo.
8
Agora, quando acontecer uma situação muito difícil de julgar - tal como decidir entre
homicídio culposo ou homicídio doloso, entre definir que tipo de violência foi praticada ou
qualquer tipo de questão que seja difícil de resolver - você deve se dirigir ao local que Deus
vai indicar para você, pois esse local é o Supremo Tribunal de Israel. 9Então, procure um
sacerdote, ou um levita ou juiz que esteja exercendo suas atividades naquele dia para que eles
façam a investigação e determinem a sentença do caso. 10 A sentença que derem para você deve
ser pronunciada, exatamente naquele local, e o seu dever é buscar seguir exatamente o que foi
dito para você, 11pois, essa sentença que foi dita a você ninguém pode muda-la, nem se deturpar
as suas instruções, em nenhuma situação. 12Mas aquele que agir de maneira orgulhosa e egoísta,
sendo presunçoso, não obedecendo a instrução do sacerdote ou juiz, que estava ali justamente
para servir ao SENHOR, o seu único Deus; este homem deve morrer para que Israel não se
contamine com esse mal, repetindo esse péssimo comportamento, e, assim, ele seja removido
do meio do povo. Dessa maneira, o povo ouvirá e ficará com medo, aprendendo com esse erro
e não buscando replicar esse comportamento insolente no meio do povo.
Legenda:
ְ
ְוְ י ַָּר ְש ָ ִ֣תְאֶּ ת־הָ אָ ֶּרץ e tomes posse OC
ְ da terra
ןְלְך׃ְס
ֹֽׁ ָ ֱֹלהיךְנ ֹׁ֥ת
ֶּ אֲשֶּ ר־יְ הוָ ֥הְא que o OS
SENHOR, teu
Deus, der para
ti
ֹֽׁל ֹׁא־ת ַּט֥עְלְ ךְאֲש ָרהְכָל־עץ v.21 Não OP
estabelecerás
para ti Aserá
feito de
ְ qualquer tipo
ה־לְך׃ְס
ֹֽׁ ָ ֲֶּשרְתַּ עֲש
֥ ֶּ ֱֹלהיךְא
ֶּ ְ ִ֗אצֶּ לְמז ְַּבחְיְ הוָ ֥הְא ao lado do altar OS
do SENHOR,
teu Deus, que
fabricares para
ti
וְ ֹֽׁל ֹׁא־תָ ֥קיםְלְ ךְמַּ צ ָב ְה v.22 Nem farás OC
levantar para ti
ְ coluna
ֱֹלהיך׃ְס
ֹֽׁ ֶּ ֲשרְשָ נאְיְ הוָ ֥הְא
֥ ֶּ ְא que o OS
SENHOR, teu
Deus, odiou
יךְשֹורְוָשִֶּ֗ ְה
ִ֣ ֱֹלה
ֶּ ֶ֜ ל ֹׁא־תזְבַּ חְ֩לַּיה ִּ֨ ָוהְא v.1 Não OP
sacrificarás
para o
SENHOR, teu
Deus, boi ou
ְ cordeiro
ִ֣רְרע
ָ ְ אֲשִֶּּ֨ רְיהְ יֶּ ֥הְבֹוְמּוםְ ֹׁכלְדָ ָב que houver OS
com ele
qualquer
defeito [ou]
ְ coisa ruim
יךְהּוא׃ְס
ֹֽׁ ֱֹלה
ֶּ ְ ָ֧כיְתֹוע ֲַּבתְיְ הוָ ֥הְא pois ele [é] OS
abominação
[para] o
SENHOR, teu
Deus.
ִ֣דְשע ֶָּריך
ְ ֹֽׁכי־ימָ צָׁ֤אְבְ ק ְרבְ ךְבְ אַּ ַּח v.2 Quando OS
[ele/ela] for
achado, entre ti
[em] uma das
ְ tuas cidades
ֱֹלהיךְנ ִֹׁ֣תןְלָ ְך
ֶּ אֲשֶּ ר־יְ הוָ ֥הְא que o OS
SENHOR, teu
Deus, der para
ְ ti
הוֹֽׁה־
ָ ִ֣אישְ אֹו־אשִָ֗ הְ אֲשִֶּּ֨ רְ ַּיע ֶּ ֲָ֧שהְ אֶּ ת־הָ ַּרעְְבְ עינ֥יְ ְי homem ou FR
mulher que
יתֹו׃
ֹֽׁ ֱֹלהיךְ ַּלעֲבֹׁ֥ רְבְ ר
ֶּ א fizer o mau aos
71
olhos do
SENHOR, teu
Deus, [será]
como
transgressor da
aliança dele
ֱֹלהיםְאֲחרי ְם
ִ֣ ְֶּךְוַֹֽֽׁ ַּיעֲבֹׁ דְא
ַּ ו ִַּ֗יל v.3 E foi e, então, OC
serviu outros
ְ deuses
ְְוַּי ְש ַּתחּוְל ֶָּהם e prostrou-se OC
ְ para eles
ֲשרְל ֹׁא ְ־
֥ ֶּ ש׀ְאֹוְ ַּלי ִָ֗רחַּ ְְאֹוְלְ כָל־צְ ָב֥אְהַּ שָ ַּמיםְא
ִ֣ ֶַּּשמ
ִ֣ ֶּ וְ ל e para o sol ou OC
à lua ou para
ְצ ֹּֽׁויתי׃ todo exercito
dos céus que
[eu] não
ordenei
ְוְ ֹֽׁהגַּד־לְ ך v.4 E sendo OC
denunciado
ְ para ti
ְְָוְ שָ ָמעְ ת ְ
e tu ouves OC
ֹלשהְעדי ְם
֥ ָ ֹוְש
ְ י׀ְשנַּ ִַֽ֣יםְע ִ֗דיםְא
ְ ַּל־פ
ִ֣ ע v.6 Pelo FR
depoimento
[de] duas ou
três
testemunhas
72
ְ
יּומִ֣תְהַּ מת
ַּ fará com que
seja morto o
ְ condenado
ִ֣ל ֹׁאְיּומַּ תְעַּל־פיְע֥דְאֶּ ָ ֹֽׁחד׃ não fará com OC
que seja morto
pelo
depoimento de
uma
testemunha
[apenas]
שנָהְ ַּלהֲמיתְֹו
ֹׁ ֶּה־בֹוְבָ רא
ָׁ֤ יםְתהְ י
ֹֽׁ יַּ ִ֣דְהָ ע ִ֞ד v.7 [a] mão das OP
testemunhas
será com ela, à
primeira a
fazer ele
ְ morrer
ְוְ יַּ ֥דְכָל־הָ עָ םְבָ אַּ ֲחרֹׁנָ ְה e logo após, [a] FR
mão de todo
ְ povo
ּובע ְַּר ָ ֥תְהָ ָרעְמק ְר ֶּ ֹֽׁבך׃ְפ
ֹֽׁ ְ e removerás o OC
mal para longe
de ti
ִ֣כיְיפָלאְ֩מ ְמךְדָ ֶ֜ ָברְלַּמ ְש ִָ֗פ ְט v.8 Quando OS
alguma coisa
estiver difícil
ְ de se julgar
ין־דיןְלְ ִ֗דיְן
ִ֣ םְב
ֹֽׁ ין־דם׀ְלְ ֶ֜ ָד
ָ ִּ֨ ְ ֹֽׁב entre FR
assassinato e
homicídio, e de
julgamento e
ְ julgamento,
ְּוב֥יןְ ֶּנגַּעְ ָל ֶּנגַּעְְדבְ ֥ריְרי ֹׁבתְב ְשע ֶָּריך e entre FR
violência e
violência, [e]
outras
contendas em
ְ sua cidade
וְ קַּ ְמ ָ ְִ֣ת então, te OC
ְ levatarás
ְוְ עָליתָ ְאֶּ ל־הַּ מָ קֹום ְ
e irás ao lugar OC
יךְבֹו׃
ֹֽׁ ֱֹלה
ֶּ ֲשרְיבְ ַּחרְיְ הוָ ֥הְא
֥ ֶּ א que o FR
SENHOR, teu
Deus,
escolherás para
ele.
ּובָ אתִָ֗ ְאֶּ ל־הַּ כֹׁ הֲניםְהַּ לְ וי ְם v.9 E virás para os OC
sacerdotes
ְ levitas
ְוְ אֶּ ל־הַּ שֹׁפט e para o juiz FR
73
ְ
ֲשרְיהְ יֶּ הְבַּ י ִָ֣מיםְהָ ה ְם
֥ ֶּ א que haverá no OS
ְ dia
ְ ְָוְ דָ ַּר ְשת e eles OC
ְ investigarão
ְוְ דָ ַּר ְשתָ ְוְ הגִ֣ידּוְלְ ְך e farão declarar OC
ְ para ti
אתְדְ ַּב֥רְהַּ מ ְש ָ ֹֽׁפט׃ a sentença do FR
julgamento
ַּל־פיְהַּ דָ בָ ְר
ָׁ֤ וְ ע ִָ֗שיתָ ְע v.10 e farás OC
pronunciar a
ְ sentença
ִ֣ידּוְלְ ְך
ֹֽׁ ֲשרְיַּג
ִ֣ ֶּ ְא que farás OS
ְ anunciar para ti
ְמן־הַּ מָ ִ֣קֹוםְהַּ הּואְא ֲֶּשרְיבְ ַּחִ֣רְ ְיהוָ ְה naquele local OS
que escolherá o
ְ SENHOR
וְ שָ מַּ ְר ָ ִ֣תְ ַּלעֲשֹו ְת e guardarás a OC
ְ fazer
רְיֹורּוךְ׃
ֹֽׁ ֲש֥ ֶּ ְכְ כֹׁ לְא em tudo que OS
fores ensinado
para você
רְיֹורּוך
ִ֗ ֲש
ִ֣ ֶּ תֹורהְא
ֶ֜ ָ ַַּּל־פיְה
ִּ֨ ע v.11 Pela instrução OS
que fores
ְ ensinado
ֹׁאמ ֥רּוְלְ ְך
ְ וְ עַּל־הַּ מ ְשפָ טְאֲשֶּ ר־י e sobre a OC
sentença que
ְ dirão para ti
תַּ ע ֲֶּשה ְ
[tu farás] OP
֥ידּוְלְ ְך
ֹֽׁ מן־הַּ דָ ָברְאֲשֶּ ר־יַּג a sentença que OS
fores intruído a
ְ ti
ְיןְּוש ֹֽׁמ ֹׁאל׃
ְ י ָ֥מ nem [para] a FR
direita nem
[para] a
esquerda
וְ הָ ִ֞אישְאֲשֶּ ר־ ַּיע ֶּ ֲִ֣שהְבְ זָדִ֗ ֹוְן v.12 E o homem OC
que for
ְ presunçoso
יְשמָֹׁׁ֤ עְַּאֶּ ל־הַּ כֹׁהְן
ְ לְ בלְ ִּ֨ת por causa de OP
não ouvir o
ְ sacerdote
הָ עֹׁ ִ֞מדְלְ ָ ָׁ֤ש ֶּרתְשָ םְאֶּ ת־ ְיהוָ ִ֣הְאֱֹלהֶּ יך que está ali OS
para servir ao
SENHOR, teu
ְ Deus
אֹוְאֶּ ל־הַּ שֹׁפ ְט ou o juiz FR
74
ְ
ְּומתְהָ ִ֣אישְהַּ הּו ְא então, morrerá OC
ְ este homem
ּובע ְַּר ָ ֥תְהָ ָרעְמי ְש ָר ֹֽׁאלְ׃
ֹֽׁ ְ e removerá o OC
mau para fora
de Israel
ְוְ כָל־הָ עָ םְי ְש ְמעִ֣ ּו v.13 E todo povo OC
ְ ouvirá
וְ י ָראּו ְ
e termerá OC
5.6.2 Diagramação
Legenda:
A JUSTIÇA EM ISRAEL
6 ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA
6.1 INTRODUÇÃO
Diante disso, o livro tem um papel teológico fundamental, pois ele mostra ao povo que
eles deveriam se lembrar do que YHWH12 tinha dito e feito por eles, e agora eles deveriam se
submeter aos seus preceitos (VAN GRONINGEN, 2006, p.58). A estrutura em forma de tratado
de vassalagem mostra que Israel estava se submetendo as condições de seu suserano – YHWH.
A centralidade da vida de Israel é que ame somente ao SENHOR com todo o seu ser (Dt.6.4-
9). O requerimento essencial desses termos era que Israel “tema o Senhor, teu Deus, e ande em
todos os seus caminhos, e os ame, e sirva ao Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda sua
força, pois isto era para o bem deles” (Dt. 10.12-11.30).
Após a revisão histórica e dos mandamentos que configuram partes essenciais da aliança
de Deus para com seu povo, o livro nos apresenta a partir do início capítulo 12 o início de um
código de leis que moldariam a vida de Israel, através do primeiro versículo deste capítulo: “são
12
Onde se encontra YHWH, lê-se Yavé.
81
estes os estatutos e os juízos que cuidares de guardar, cumprindo-os na terra que vos deu
YHWH, Deus de vossos pais, para possuirdes todos os dias que viverdes sobre a terra.” E
conclui em 26.16 com “hoje, YHWH, teu Deus, te manda cumprir estes estatutos e juízos;
guarda-os, pois, e cumpre-os de todo o seu coração e de toda a sua alma.” (BLOCK, 2017,
p.136-137). Esse código de lei é um desdobramento do decálogo e deveria ser observados
continuamente por Israel, pois, segundo Bartholomew e Goheen (2017, p.93-94) o intuito de
YHWH era que eles compreendessem que ele detém as instruções para todas as áreas da vida
do povo e somente observando e guardando essas leis Israel poderia ser luz para as nações.
Como será exposto adiante, a preocupação de Deus era que eles manifestassem o seu caráter
santo, justo e amoroso para as demais nações e que eles entendam que o Senhor quer que a sua
Lei permeie todas as dimensões da vida de seu povo; YHWH não se limitaria apenas ao âmbito
religioso, mas a todos os aspectos da vida de Israel (BARTHOLOMEW e GOHEEN, 2017,
p.94).
Por isso, após instruções sobre adoração na forma apropriada (cap.12), a idolatria
(cap.13), a santidade e a mordomia (cap.14), os desvalidos (cap.15) e as festas sagradas
(cap.16), o discurso de Moisés passa a dar instruções sobre as autoridades civis que liderariam
Israel (HAMILTON, 2007, p.467-478). A perícope trabalhada aborda os aspectos judiciais de
Israel, compreendendo: (i) as características e deveres dos juízes, (ii) o procedimento em
julgamentos religiosos e (iii) o procedimento em julgamentos de questões civis difíceis. O
proposito controlador da passagem é mostrar o caráter justo e santo de Deus através dos
julgamentos que são realizados de maneira coerente com a Lei.
Diante disso, a perícope que trata sobre as autoridades de Israel começa abordando os
elementos constituintes de um juiz em Israel. Esse primeiro bloco apresenta como deveriam ser
escolhidos os juízes, qual a característica que eles devem apresentar e o que eles devem fazer.
Tudo isso deve ser moldado pela justiça absoluta divina.
O verbo ֹֽׁתתֶּ ְןestá na sua forma ativa e é regido por um sufixo pronominal que indica
segunda pessoa (tu). A ideia aqui é apresentar uma ordenança para que o povo constitua juízes
e oficiais para que eles julguem os casos nas cidades que eles irão habitar. Thompson (1982,
82
p.191) sugere que possivelmente era os anciões da cidade que assumiam os tribunais locais,
pois entra em consonância com as ordenanças para lidar com o homicida em Dt.19.12, onde o
ancião tinha responsabilidade de condenar o homicida ou conforme é visto em outras passagens
eles poderiam ser pessoas que já eram chefes dentro das comunidades (cf. Jz 3.10; Os 13.10;
Am 2.3).
Além disso, a expressão ( שֹׁפְ ִ֣טיםְוְ ֹֹֽׁׁשטְ ִ֗ריםjuízes e oficiais) sugere que havia uma espécie
de organização desse sistema judiciário. A expressão para oficiais sugere alguém que tinha uma
patente abaixo do juiz, algo como um auxiliar de justiça e em outras passagens dentro do
Pentateuco ela é utilizada para designar alguém que encarregado de trabalho forçado (Ex. 5.6s)
e para designar um oficial administrativo do exército (Dt.20.5s) (THOMPSON, 1982, p.191).
O que se conjectura é que os juízes tinham um papel semelhante ao juiz moderno e o oficial
fosse alguém da área executiva, como um policial ou oficial de justiça (CRAIGE, 2013, p.242).
Dessa forma, cada cidade teria suas próprias autoridades legais para lidar com casos ordinários.
Esses tribunais geralmente estavam situados nas portas das cidades, o que sugere um possível
ְ ( ְב ָכem todas as tuas portas das cidades).13 Da mesma forma
significado para expressão ל־ׁש ָע ֶ ֶ֔ריך
que durante o tempo de peregrinação foram constituídos auxiliares para Moisés para auxiliar
nas questões do povo (Ex.18.13-27), Israel deveria manter um sistema judicial que continuasse
a funcionar, agora nas cidades e não mais da forma tribal que eles viviam.
13
A expressão ל־ׁש ָע ֶ ֶ֔ריך
ְ ְב ָכcomo sugere a expressão literalmente traduzida por portas da cidade, sendo
uma metonímia para se referir as cidades. As portas ou portões das cidades no mundo antigo eram
essenciais na vida das cidades, pois por serem em sua maioria fortificadas elas significavam o único
local de entrada e saída das cidades. Ver Contexto Histórico para mais informações.
83
dos juízes em Israel fazia parte dos elementos do mandato cultural que incluía tanto
ramificações em implicações espirituais como em implicações sociais. Eles eram responsáveis
por manter o caráter justo de Deus sendo manifestado dentro da nação através de julgamentos
justos e coerentes com a lei que eles possuíam.
O v.19 se inicia com duas ações causativas (Hifil) acompanhadas da partícula ֵ֥ל ֹׁאque
indica duas ações que não devem ser causadas. A primeira indica que o juiz não se faça parcial,
que literalmente é traduzido por “fazer torcer a justiça”. A ideia é que aquele que é responsável
pela justiça não busque agir por inclinações próprias e nem tentem pender a seu próprio favor.
Essa expressão contrasta com a ideia de um julgamento reto, pois quando se é parcial não é
mais possível ser reto no julgamento, por isso a justiça é torcida, o que vai de encontro contra
o caráter de Deus de ser reto em seu juízo. A segunda expressão indica que não se pode fazer
acepção de pessoas. Literalmente, a expressão significa “não levar em consideração rostos”.
Isso significa que mostrar preferência a certas pessoas também é sinal de um julgamento que
não está sendo reto. Novamente, o que está implícito aqui é que a justiça não está presa a pessoa,
mas a lei de um Deus santo. O juiz que pretere ou privilegia alguém em seu julgamento vai
contra essa lei e contra esse Deus santo.
Além desses dois verbos na forma hifil, há um verbo no qal e que também está dentro
do conjunto de leis apodíticas. dentre as três ações essa recebe mais destaque e está ligado a
prática de suborno. Literalmente, a expressão indica em não tomar presente, o que pode ser
compreendido por não tomar suborno. Criag (2013, p.242) diz que a prática do suborno é uma
das piores formas de fazer torcer a justiça e transforma um sistema justo em um sistema
hipócrita, pois ao invés de todos serem tratados da mesma maneira, aqueles com mais poderes
84
poderão ter privilégios. Conforme o próprio texto e outros textos das Escrituras afirmam essa
prática é capaz de transformar pessoas sábias em pessoas injustas (Ver Ex. 23. 6-8; Lv. 19.15-
16).
Todas essas regras estão diretamente ligadas ao caráter santo e justo de Deus. A justiça
de Deus é a característica da sua natureza que o leva manter a ideia da sua santidade. Ela
preserva intacta a noção de que Deus é absolutamente santo e que não pode ser manchado ou
provocado pelos seres humanos e angélicos sem que haja uma resposta punitiva da sua parte
(CAMPOS, 2002, p.340). A própria Escritura aponta que Deus é reto em sua justiça (ver p. ex.
Ed. 9.15, Sl.119.137) e ao mesmo tempo afirma que ele é um Deus que não faz acepção de
pessoas e não aceita suborno (Ver Dt. 10.17) e castiga aquele que pratica tal ato (Ver Dt.27.25).
A justiça de Deus é o atributo que está diretamente relacionado a sua santidade. A ideia de
justiça que Israel deveria ter está com seu referencial em Deus. Berkhof (2012, p.72) afirma
que a justiça absoluta de Deus é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Deus é
infinitamente reto em si mesmo e a justiça relativa aponta para a perfeição de Deus se manter
contra toda a violação da sua santidade. A justiça se mostra especialmente em dar a cada homem
o que é devido.
Se a justiça de Deus é a referência para Israel a ordem é que somente a justiça deve ser
buscada. A repetição da palavra ֶצ ֶָ֖דקaponta para a intensidade dessa busca. Diferentemente da
raiz ׁשפטque vinha sendo empregada no sentido de um procedimento judicial, agora foi
empregada a palavra ֶצ ֶָ֖דקque indica um padrão moral e ético de procedimento. Esse aspecto
ético envolve a conduta de uns com os outros e que costumeiramente está associado a ideia de
retidão. Ele está ligado ao andar de maneira coerente com a Lei de Deus. A repetição demonstra
a ênfase e como a justiça tendo como base o padrão santo de YHWH deveria ser buscado pelos
85
juízes. A palavra aqui aponta para um princípio de justiça plena, que coloca em harmonia as
relações humanas, pois tem como referência o próprio Deus.
Dessa forma, Israel deveria servir como modelo para as outras nações. O cumprimento
das leis e o andar na justiça de maneira reta traria bom testemunho as outras nações.
Além disso, o sistema judiciário em Israel tinha o importante papel de ser a instituição
que prezava pelo cumprimento do nono mandamento. A ordenança de não torcer a justiça tem
intima ligação com o mandamento do decálogo de não proferir falsos testemunhos. Os tribunais
tinham em suas mãos questões de vida ou morte e dessa forma, as sentenças estavam muito
ligadas aos testemunhos das pessoas. Brueggemann (In: BROWN, 2004, p. 293 apud
WALTKE, 2015, p.485) comenta que:
Os tribunais são vistos como algo crucial, pois em disputas sociais sobre questões
políticas e econômicas têm a competência e a responsabilidade de determinar, limitar
e dar forma à realidade. E, por esse motivo, caso o poder e os interesses possam
interferir na verdade – por meio de influência, manipulação ou suborno -, então a
verdade não tem nenhuma chance. Ela fica reduzida ao poder, e é previsível que os
impotentes sejam facilmente explorados [...]. O mandamento dá garantias de que a
realidade não é um produto inocente do poder. O futuro da humanidade não está aberto
a uma “reconstrução” infindável por aqueles que têm condições de fazê-lo, mas deve
se prender ao que é real.
Uma justiça corrompida era um sinal claro de que o nono mandamento não está sendo
zelado dentro da nação. O objetivo dos tribunais em Israel era dar forma ao conhecimento
epistemológico, de modo a se conformar com o conhecimento ontológico (WALTKE, 2015,
p.485-486).
86
Por fim, as ordenanças sobre a composição e as ordenanças ligadas aos juízes terminam
com uma promessa de benção de Deus. A promessa aponta para que se o povo buscar a justiça
e andar de maneira reta receberá a Terra que o SENHOR, teu Deus, dará para eles. Waltke
(2015, p.549) afirma que a Terra prometida possui um valor sacramental, pois ela era tanto a
fonte de bem-estar material como uma oportunidade de conformar e disciplinar o povo dentro
da aliança. O desfrutar da Terra é algo que está intimamente ligado a condição do
comportamento moral de Israel. A lei deveria ser vivida todos os dias e isso não exclui os
elementos sociais como o procedimento dos julgamentos em Israel. Todos os dias Israel deveria
ter como modelo de procedimento o próprio Deus, que é santo em sua justiça.
Se o caráter da justiça de Israel deve ser símile com o caráter da justiça de Deus,
demonstrando a sua retidão, tendo a consciência de que eles deveriam ser o modelo de justiça
para o mundo; a passagem passa a nos expor o que deve ser feito quando dentro de Israel surgir
casos de pessoas que estão corrompendo a santidade em Israel. Novamente se verá o papel que
o sistema judiciário de Israel terá para preservar o povo santo.
O texto novamente volta a apresentar elementos cultuais, o que faz parecer que esses
elementos estão fora de seu bloco e quebram o assunto sobre os juízes e julgamentos em Israel.
Contudo, eles se encaixam dentro da sequência da passagem, pois agora é apresentado o
procedimento para questões de julgamento de temas religiosos e, dessa vez, apresentará
proibições de duas ordens: proibições no culto a outros deuses (v.21-22) e proibição ao culto
inadequado a Deus (v.1). Essas duas proibições são apresentadas como leis apodíticas. O
principal objetivo dessas leis era preservar Israel da comunidade cananeia e de sua idolatria.
Essa falta representa a principal ameaça a missão de Deus e à preservação dos israelitas como
um povo puro na Terra. É importante ressaltar que a ameaça de perder a Terra é o castigo
principal que motiva Israel a não adorar outros deuses (WALTKE, 2015, p.549-551).
dento dos costumes de Israel. Por isso a proibição expressa de não acrescentar nenhum elemento
dentro do culto a YHWH. O culto a YHWH deveria conter somente os elementos por ele
expressos. A proibição destacada aqui é a proibição da prática do sincretismo. Uma mensagem
teológica importante para o livro de Deuteronômio é apresentar que somente Deus é o Deus de
Israel. Diversas vezes a expressão ֹלהיך
ֶ֛ ֶ ְהוָ֧ה ֱא
ָ ( יSENHOR, teu Deus) aparece na perícope, o que
sugere uma expressão que Israel deveria se lembrar de quem era o único Deus de Israel. Dentre
os elementos que destacam a ontologia de Deus o livro de Deuteronômio reforça diversas vezes
a sua asseidade, a sua eternidade, seu caráter inigualável e incomparável (WALTKE, 2015,
p.568-567). Portanto, se Israel deveria funcionar como a nação modelo do reino de Deus na
terra; ela, em nenhuma hipótese, poderia estar sujeita a dividir essa lealdade.
Após apresentar as normas apodíticas para as questões idolatras, o texto mostra uma
condição casuística, indicando um caso dentro de um contexto específico. A expressão ֹֽׁכיmarca
essa condição. O caso condicional sugere alguém que seja um apóstata da fé adorando outro
deus. O nome do crime está relatado pela expressão transgressor da aliança. A ideia transmitida
pelo verbo י ְש ַּתחּוencontrado na forma rara denominada esthafal e indica o ato de devotar
adoração, prostrar-se em um ato de culto a alguma divindade. Ele é comumente utilizado para
demonstrar adoração a outros deuses. Dessa forma, diante da descrição exposta pelo texto
sugere-se que a culpa de transgredir a aliança está em adorar outro deus e quebrar o primeiro
mandamento do decálogo. De acordo com Craige (2013, p.244) esse delito minava a própria
base sobre a qual a comunidade pactual existia e, por isso, devia ser tratado com muita
severidade, pois ameaçava a segurança e a vida dos israelitas.
Por isso, se alguém fosse pego no ato desse delito após a investigação devida, que será
tratada no próximo ponto, deveria sofrer a sentença de morte. É interessante notar que esse
88
julgamento não é feito necessariamente por autoridades religiosas, mas pelos juízes que não
necessariamente estavam ligados aos ofícios religiosos. Contudo, o pecado, posto que religioso
na forma, era político quanto ao significado. Romper com o principal elemento da nação de
Israel que era o de amar somente a Deus e a ele devotar obediência era um sinal de quebrar as
bases de uma sociedade pautada na aliança com Deus.
A severidade da punição por apedrejamento deve ser entendida dentro do seu contexto
histórico. Olhar para as punições e ordenanças de Deus para se fazer guerra sob o pano de fundo
dos termos da Convenção de Genebra - por exemplo - impede de se fazer uma boa interpretação
do texto e se transforma em um erro hermenêutico dentro do método histórico-gramatical
(WRIGHT, 2011, p.104). Primeiro, é necessário entender que dentro de um tratado de
vassalagem espera-se o total cumprimento dos termos desse pacto. De maneira geral, os termos
pactuais podem ser resumidos na forma do decálogo e conforme afirma Dt. 10.12ss o que Deus
requeria era a obediência a esses termos. Adorar outros deuses e não prestar o culto da maneira
com YHWH desejava era o rompimento dos termos mais básico dessa aliança. Por isso dentro
do contexto dos tratados de vassalagem se consideraria uma traição, nesse caso a YHWH, o
que como era costume da época era tratado com a morte do traidor. Vale lembrar que a justiça
em Israel possuía características muito comuns ao direito retributivo. O crime ou delito não era
cometido contra o Estado, mas sempre contra uma pessoa. Nesse caso a idolatria era o crime
contra o Senhor de Israel – YHWH.
Além disso, o propósito divino com Israel era uma nação modelo e por ser esse modelo
deveria atrair as demais nações por seu bom procedimento no período da época (Dt.4.5-8), mas
também em ser a nação que fosse exemplo em adorar o verdadeiro Deus. Contudo, essa
reputação em ser modelo para outras nações advinha de princípios básico: a proximidade de
Deus com seu povo e fundamentar-se na Torá (WRIGHT, 2012, p.156). Quando alguém quebra
aliança Israel estaria sujeita tanto a romper com essa presença de YHWH quanto a rejeitar a
Torá. Por isso, a sentença severa em eliminar a pessoa idolatra possui as seguintes implicações:
1) Manter os termos da aliança firmes; 2) Aplacar a ira divina por causa da traição contra os
termos da sua aliança; 3) Servir de exemplo tanto para os israelitas como para as nações vizinhas
de que somente o SENHOR é Deus sobre toda a Terra.
Contudo, esse julgamento não era arbitrário. Por se tratar de uma causa séria, não
deveria ser feita por suposições. Vaux (2004) sugere que a presença das testemunhas dava
89
validade as acusações e que a testemunha oral possuía grande força devido aos juramentos que
eram realizados e que se empregava alguma maldição divina caso não fosse dado um
testemunho verdadeiro. A presença de mais testemunhas serviria para confirmar as acusações.
Uma testemunha apenas não era possível para validar. Craige (2013) também complementa
sobre esse processo de que o fato das testemunhas serem as primeiras a lançar as pedras do
apedrejamento implica em elas assumirem para si a responsabilidade da morte do indivíduo. Se
fosse posteriormente comprovado a inocência do réu, eles seriam os principais responsáveis
pela morte de um inocente. Mas sendo comprovado o crime, a comunidade se responsabilizaria
com eles.
Por fim, o v.7 termina com um verbo no piel que demonstra uma ação intensiva, no caso
de mostrar que realizados esses procedimentos, o mal seria removido de Israel. Esse mal seria
o fato de alguém ter colocado a relação pactual em instabilidade. Todo esse procedimento
denota o cuidado - tanto em fazer um julgamento justo como em remover a idolatria de seu
meio - que Israel deveria manter-se santa e justa tanto em relação a Deus como em relação a si
mesmo e entre outras nações.
Por fim, o último tema apresentado envolve agora o procedimento com as questões civis
difíceis. Em 16.18-20 foi apresentado uma estrutura para organização local dos processos
judiciais. Agora, será apresentado uma estrutura tanto para julgar questões difíceis e que
envolvem a ideia de um local central ou um tribunal central.
Além disso, fica evidente a questão do envolvimento de líderes religiosos nessas questões
difíceis de serem julgadas. A ideia é que o local onde se encontra a habitação do SENHOR
esteja localizado o tribunal central. Essa corte central era responsável por avaliar o caso e
proferir uma sentença de acordo com a Lei de Deus (THOMSPON, 1982, p.194). Vale
relembrar que nesse livro os levitas também recebem a instrução não só de participarem do
tribunal central como de guardarem a lei escrita e cuidar dela (Dt. 17.18).
A composição desse tribunal central ser feita de juízes e sacerdotes mostra uma
importante questão sobre Israel. Não era apenas os juízes que tinham o conhecimento sobre a
lei, mas também os sacerdotes. Os ofícios religiosos e sociais se misturavam a ponto dessa corte
ser formada por esses dois líderes. Eles tinham o dever de conhecer bem a lei pela qual eles
eram os guardiões. Seu processo deveria ser sério e deveria buscar apurar bem o fato para que
se determinasse as questões com base na lei para que assim eles proferissem uma sentença sobre
o caso.
Dessa forma, após eles apurarem bem o caso e proferir a sentença ela deveria ser
executada, sem chance de apelar a outra entidade. Essa sentença deveria ser executada dentro
dos conformes ditos pelo tribunal central. Dois aspectos são importantes para o cumprimento
rigoroso das sanções: (1) a sentença havia sido proferida diante do SENHOR, o que implicava
que aquela sentença era a mesma dada por Deus. (2) Os juízes e sacerdotes que ali ficavam era
homens experientes na Lei e estariam acostumados a lidar com questões difíceis. Por isso, o
próprio texto entende que a palavra deles tem força de lei, semelhante a uma jurisprudência,
que pode ser identificada pela expressão יֹורּוך
ִ֗ ְֲשר
ִ֣ ֶּ תֹורהְ א
ֶ֜ ָ ַַּּל־פיְ ה
ִּ֨ ( עsobre a lei a que fostes
instruídos), que sugere a ideia de que essas pessoas tinham a opinião especializada sobre esse
assunto. Rejeitar tal ordem seria algo inadmissível (THOMPSON, 1982, p.194).
Era algo tão inadmissível não acatar as instruções do tribunal que foi constituído por
Deus que o texto utiliza a palavra זָדִ֗ ֹוְןque é traduzido por alguém tido como soberbo ou
prepotente. O indivíduo que estava ali rejeitando as orientações que foram dadas a ele estava
assumindo diante de todos que a sua justiça era maior do que a do próprio Deus e das pessoas
que ele havia constituído para realizar tal ofício. Da mesma forma que o pecado de idolatria
fazia a pessoa ser uma transgressora da aliança, a pessoa que não respeitava as ordens dadas
91
por Deus por meio da corte por ele estabelecida era tida como rebelde e deveria ser morta para
que não contaminasse Israel com o pecado. Craige (2013, p.247) afirma que a lei deveria ser
seguida à risca para que nenhuma autoridade menor a manipulasse a seu bel prazer e para que
fosse mantido o princípio da lei: “a justiça somente!”. O resultado da pessoa que havia sido
soberba era a sua condenação para que como texto afirma: o mau fosse removido de Israel e
servisse de exemplo para que outras pessoas não se levantassem altivas contra as autoridades
estabelecidas por Deus.
A severidade e a busca por justiça nas leis dadas a Israel não implicam em uma forma
de que Israel era mais justa e as outras nações são más e ímpias, antes, como a nação modelo
de Deus eles deveriam refletir seu caráter justo e santo. Por isso, diversas vezes Israel é
advertida que se elas não seguissem as ordenanças de Deus eles seriam severamente punidos
como os cananeus, os quais estavam prestes a serem julgados por Deus por meio de Israel. (ver
Lv. 18.28 e Dt. 28.25-68) (WRIGHT, 2011, p.114). Wright (2011) afirma que se Israel
cometesse os mesmos pecados das nações vizinhas eles também sofreriam as mesmas punições,
pois o mesmo Deus que agiu em julgamento moral sobre os inimigos de Israel agiria exatamente
da mesma forma com Israel. Por isso, a severidade da pena tanto para idolatria como para
aqueles que não acatam as ordens divinas são um exemplo para aqueles que agem de maneira
contrária a aliança feita com Deus.
Diante do que foi exposto, precisa ser feita uma última análise: a continuidade e
descontinuidade dessa lei com a Nova Aliança e seu diálogo no Novo Testamento. Um
equívoco hermenêutico e teológico é querer executar as leis cerimoniais e civis para a
atualidade, após a inauguração da Nova Aliança, sem o entendimento daquilo que se encerrou
e daquilo que deu continuidade (FEE e STUART, 2011, p.198-201).
Frame (2013, p.213-216) destaca que as mudanças da velha aliança para a nova foram:
(1) um novo sacrifício – em que Jesus de uma vez por todas se faz o nosso sacrifício vivo, não
havendo mais a necessidade de rituais e sacrifícios para expiação dos pecados, pois estes
apontavam para o sacrifício vicário de Cristo. (2) Consequentemente, um novo sacerdócio, onde
o sacerdócio araônico e a função do sacerdote como mediador entre Deus e os homens é
cumprido em Cristo. (3) Uma nova nação, onde os gentios participam diretamente dela pela
nova aliança inaugurada em Cristo, não mais envolvendo mais Israel como nação, mas o Israel
de Deus – que consiste em todos aqueles que foram comprados pelo sangue de Cristo Jesus e
escolhido por Deus desde a eternidade. (4) Uma nova missão é inaugurada. De acordo com
92
Frame (2013, p.214), a Israel de Deus agora não mais conquista territórios, mas conquista por
meio da evangelização. Não é mais uma conquista de território, mas sim a expansão do
evangelho por todo mundo e como resultado dessa conquista não há mais um templo construído
e geolocalizado em uma nação, antes, “como resultado dessa conquista missionária, Deus habita
em pessoas por todo o mundo, ‘de todas as nações, tribos, povos e línguas’ (Ap 7.9)” (FRAME,
2013, p.215).
De acordo com Frame (2013, p.219), o entendimento quanto ao que é renovado e quanto
aquilo que ficou específico em Israel como nação está no entendimento daquilo que ele chama
de Israel em seu status singular. Segundo Frame (2013, p.219):
Deus deu a Israel algumas leis que pressupõem seu status singular como povo
escolhido de Deus. Entre estas estão leis sobre sacrifícios, tabernáculo e sacerdócio.
Mas ele deu outras leis que não pressupõem o status singular de Israel, mas
simplesmente ordenam justiça básica. Vimos isso acima quanto à pena de morte por
assassinato. Como outro exemplo, a pena básica para roubo é a restituição dupla (Êx
22.7). Portanto, essa penalidade não é baseada no status singular de Israel como povo
santo de Deus. Antes, é uma questão de justiça simples: o ladrão deve devolver o que
roubou mais uma quantia igual, de modo que ele perca o que esperava ganhar. Essa
lei não é normativa apenas para Israel, mas sim para toda nação que busca justiça. Ou
seja, essa lei civil particular é uma lei moral. Todas as leis que Deus dá a Israel são
justas. Nesse sentido, são um modelo para as outras nações.
A lei dada a Israel configura-se como um modelo para as nações seguirem. Israel é o
povo santo de Deus e escolhido por ele como reino de sacerdotes. A Igreja hoje também observa
as leis dadas a nação de Israel como fundamento moral para as organizações civis nos dias de
hoje. Essas leis são perfeitas para um povo santo no ambiente da Terra Prometida. Se o povo
de Israel guardasse essas leis, as nações os veriam como sábio e bom (FRAME, 2013, p.219).
Dessa forma, a lei apresentada na perícope não pode ser entendida como uma ordem
para ser executada pela igreja atualmente nas dimensões de Estado, ou seja, essas leis não são
uma base para a defesa de uma teonomia14. A igreja não está confinada a um Estado político e
geograficamente definidos. Antes a dimensão de povo de Deus foi expandida a todos os
“confins da Terra”, não se limitando mais a ideia de um Israel como Estado. Sendo assim, a lei
para escolher juízes, executar penas de morte por desobediência a YHWH não são mais
praticadas pela igreja.
Contudo, é um erro achar que o texto não apresenta elementos de continuidade dentro
do NT, pois mesmo que elas não sirvam como leis imperativas para as nossas instituições
14
Veja mais sobre esse assunto em Frame, 2013, p.220-227, onde ele explora mais o papel da lei no
AT e como ela não dá bases para a defesa de uma teonomia.
93
sociais, ela serve como um modelo para o povo de Deus se guiar. Fee e Stuart (2011, p.203)
afirmam que a lei no AT tem um importante papel de demonstrar exemplos do próprio caráter
de Deus e como se espera que seu povo possa viver uma relação de adoração a Ele e de amor
ao próximo, refletindo seu caráter santo. Sendo assim, a lei apresentada na perícope se torna
importante também para demonstrar a igreja exemplos do próprio caráter de Deus quanto a sua
justiça.
A demonstração clara do caráter de Deus é a sua justiça santa. As normas que passavam
desde a escolha dos oficiais judiciários, passando pela sua conduta e pela integridade do
julgamento demonstram que YHWH não tolera nada menos do que a justiça santa. O referencial
de justiça do povo de Deus nunca pode estar baseado na moral de sua sociedade, mas sempre
no caráter justo de Deus. Isso é demonstrado de maneira clara na pessoa de Jesus que diversas
vezes foi questionado sobre interpretações da lei e sempre ele buscava mostrar a verdadeira
interpretação da lei que refletia o caráter justo de Deus e não o costume e tradições dos homens
de sua época. A justiça do povo de Deus deve sempre estar apontada e referenciada em Deus.
Na lei de Israel, Deus zela pela aplicação da justiça entre seu povo. A lei tem outros
propósitos também, incluindo santidade ritual, tipologia c simbologia, que não são
apropriados para outras nações. Mas a justiça é apropriada para todas as nações, e a
justiça da lei de Moisés é um modelo de justiça para todas as nações.
A lei aponta para incapacidade humana de se salvar e de ser justo por si mesmo. Mas ao
mesmo tempo aponta para a necessidade da graça que é encontrada somente em Jesus, pois, ele
cumpre a lei e pelo seu sacrifício na cruz e ressureição é que somos regenerados e recebemos o
Espírito Santo que é quem capacita os crentes a viverem uma vida que agrade a Deus, segundo
a sua lei. Sendo assim, além desses elementos, a lei também é esse modelo que direciona o
padrão de vida que o crente deve almejar viver nas esferas da sociedade em que vive. Se ele é
um representante do Reino de Deus, seu dever é refletir as características de um cidadão desse
reino. Por isso, seu papel é agir com justiça para refletir a justiça de Deus. Além disso, o Novo
Testamento nos mostra que certos princípios podem ser retirados dessa lei para as questões de
disciplina eclesiástica na vida da Igreja. Textos como Mt 18.16, 2 Co 13.1; 1 Tm 5.19; Hb 10.28
que tratam sobre o proceder com um irmão que caiu em algum pecado. Ele reforça a importância
das testemunhas no procedimento para refletir o procedimento integro de julgamento
94
apresentado na perícope em análise. A ideia de ter outras testemunhas para tanto se ter
denúncias como para arguir, representa o caráter do nono mandamento de não proferir falso
testemunho e zelar pela vida da pessoa. Além de nos apresentar um modelo para as condutas
de disciplina para Igreja que deve ter sempre a justiça divina como referência.
6.5 CONCLUSÃO
Bartholomew & Goheen (2017, p.94) afirmam que a Torá deveria moldar os
pensamentos e ações de todo o povo, todos os dias de sua vida (estando presentes tanto na
“testa” quanto na “mão”). A Torá reivindica tanto a vida familiar quanto a vida pública. Ao
deixar a casa, vê-se as palavras divinas escritas no portão. Ao retornar, vê-se elas novamente,
escritas nas portas das casas. Dessa forma, isso implica que a Torá é o guia para as conduções
na vida judicial de Israel, não somente o guia como também esse sistema judicial deveria
guardar em cumprir sempre essa lei. O modelo de justiça que deveria ser implantado em Israel
deveria apontar para o caráter justo e santo de Deus. Israel deveria ser modelo para as outras
nações de justiça e as pessoas dentro de Israel deveriam viver de maneira a preservar essa
justiça.
Hoje aIgreja desfruta da benção de ser feita povo de Deus por causa da justiça de Cristo.
E como Igreja tem-se o dever de agir em justiça tanto nos âmbitos internos quanto nos âmbitos
externos. O NT mostra que o padrão de procedimento de buscar mais testemunhas para lidar
com pessoas que pecaram dentro da Igreja e precisam ser disciplinadas é um exemplo (Cf.
p.ex.Mt.18.16; 2Co.13.1ss). Assim como Israel, a igreja tem o modelo e o padrão de justiça em
Deus. Devemos ser os portadores da mensagem de justiça para um mundo caído e injusto. O
cristão tem o dever de proceder justamente, pois ele carrega a importante missão de ser do povo
de Deus e anunciar a sua mensagem ao mundo e que segundo Wright (2012, p.156) “aqueles
que levam a mensagem devem ser, eles mesmo, transformados por ela. Não basta apenas sermos
ouvidos, é preciso também sermos vistos.” A mensagem da instituição dos modelos judiciários
em Israel nos chama a olhar para o padrão de Justiça de Deus e anunciar ao mundo a verdadeira
e santa justiça.
96
7 SERMÃO15
INTRODUÇÃO:
Quantas injustiças são cometidas em nome da justiça? Imagine-se cumprindo pena por
um homicídio que não cometeu. Imagine-se sofrendo com a dor emocional de achar que um
familiar seu está morto e que o principal suspeito é você. Imagine-se preso e sofrendo toda (má)
sorte de torturas para confessar o assassinato de um ente querido... Pode parece coisa de filme...
Mas essa história aconteceu em nosso país e é considerado um dos maiores erros da Justiça
Brasileira, conhecido até hoje como o caso dos irmãos Naves. 16
15
A partir da pesquisa realizada foi desenvolvido um sermão que aplica a pesquisa exegética em
uma estrutura homilética.
16
História extraída de: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/795222893/o-caso-dos-
irmaos-naves-um-dos-maiores-erros-judiciarios-do-brasil e http://www.justificando.com/2014/11/19/da-
serie-os-maiores-erros-judiciarios-brasileiros-o-caso-dos-irmaos-naves/. Acessado em: 15/07/2020.
97
Zé Prontidão vinda de Uberlândia de que Benedito havia sido visto por lá, decidiram informar
o novo delegado.
Mas o delegado não aceitou essa informação. Para ele os irmãos estavam enrolando as
investigações e eles mesmos eram os culpados pelo “assassinato” de seu primo Benedito para
ficarem com o dinheiro. Para o delegado essa era a única opção possível e assim ele teria certeza
de que conseguiria resolver o caso.
É aí que começa o cenário de erros e injustiça... nessa busca implacável por “justiça”
por parte da polícia foi que os irmãos Naves, juntamente com a própria mãe, bem como com a
testemunha “Zé Prontidão”, foram duramente torturados com socos, pontapés, privação de
sono, abuso sexual etc. Zé Prontidão, por não suportar o sofrimento das agressões, altera seu
depoimento imputando toda culpa nos irmãos Naves. Isso só piora a situação. O Tenente Chico
Vieira cada vez mais tinha certeza de que ambos eram culpados. Os irmãos Naves presenciaram
o estupro da própria mãe, para que confessassem o crime.
Após serem considerados réus confessos, o caso vai a justiça. Os irmãos são condenados
a 25 anos de prisão. Além disso, o caso se fez conhecido nacionalmente e o clamor popular era
de que os irmãos eram culpados e mereciam aquela dura sentença. Contudo... 15 anos depois...
o primo Benedito aparece... o “morto vivo” foi encontrado. Vivo. Os irmãos são declarados
inocentes e o Estado tem que pagar uma indenização para os herdeiros, de cerca de 12 milhões
de cruzeiros.
Quantas injustiças são cometidas em nome da justiça? Essa história nos faz refletir sobre
essa pergunta e questionar as bases judiciárias de nosso tempo. A história não mudou, os
tribunais de justiça ainda continuam cometendo erros. Além disso, por vivermos na era da
relatividade e nas morais afetivas temos tido cada vez mais dificuldade de guiar por um modelo
correto de justiça. Diante disso nos perguntamos qual o modelo correto de justiça? Qual o
padrão para mim, como crente, me guiar mediante uma sociedade repleta de injustiça? Essa
pergunta será respondida através da exposição deste texto.
CONTEXTO
Isso deve ao fato do livro de Deuteronômio ser um livro com características legislativas.
Diferentemente de Êxodo, Levíticos e Número que tratam da relação entre o povo de Deus
saindo do Egito, peregrinando no deserto e como deveria ser o comportamento do povo de Deus
98
e o seu relacionamento com Ele nesse interim; Deuteronômio marca o fim do povo rebelde no
deserto e apresentar um caminho para a renovação partindo do início da conquista da Terra
Prometida.
Por isso o livro de Deuteronômio é marcado pelos discursos do próprio autor do livro –
Moisés. Todo povo estava reunido no deserto de Arabá (Dt.1.1), que fica do outro lado da
margem do Jordão, que passava dividindo o povo e a Terra Prometida. Eles estão a poucos
quilômetros de Jericó. É nesse cenário que Moisés profere seus discursos finais. Moisés, o
grande líder, está encerrando seu trabalho com o povo de Deus e não continuará a peleja de
Israel.
O zelo final de Moisés consiste em que o povo não se assemelhe nem ao Egito como a
geração rebelde anterior, nem aos cananeus dos quais eles passariam a conviver em breve. Por
isso, a característica do livro como um todo é muito similar ao um tratado de vassalagem comum
no período do Antigo Oriente, em que há um suserano que impõe as suas condições aos seus
vassalos - nesse caso Deus é o suserano, o Grande Senhor e Rei de Israel, apresentado as
condições da sua aliança com o seu povo.
• O 1° discurso, que vai do cap.1 até 4.43, é marcado por um prefácio e uma revisão
histórica com intuito de conclamar ao povo a não cometer os erros de seus antepassados.
• O 2° discurso, que vai de 4.43 até o cap. 27 é marcado pelas leis desse tratado, que
podem ser divididas por estipulações gerais e específicas.
• O 3° discurso, que compreende os capítulos 27 e 28 é marcado pelas Bençãos e
Maldições da obediência ou não da lei que havia sido passada.
• Por fim, o 4° discurso marcas as instruções finais para a entrada na Terra Prometida.
O texto em que lemos hoje está dentro do 2° discurso. Algo que pode ser notado nesse discurso
é que as disposições e leis que estão contidas nelas podem ser organizadas de acordo com o
Dez Mandamentos. Cada lei está fundamentada e aponta para um princípio do decálogo. O
bloco anterior (Dt.14-16.17) por exemplo, trata de questões ligadas a adoração e envolve o
quarto mandamento. Já no bloco que se inicia no v. 18 marca o início de um novo bloco de leis
que tem como base o quinto mandamento, de honrar pai e mãe, que está ligado a obediência as
autoridades. O bloco que vai de Dt.16.18 até o final do cap.18 trata justamente das autoridades
99
de Israel. Começando pela justiça de Israel, passando pelo governo monárquico e por fim as
autoridades religiosas.
Dessa forma, se o eixo central de todo livro é apresentar uma renovação da aliança e
dizer para que Israel que eles não são como os outros povos, inclusive na questão das
organizações judiciárias. Essa ordem reflete para nós hoje um modelo santo de justiça. Não
devemos olhar para o texto buscando tirar dele ideias para um estado cristão, mas o que ela
ensina para nós como povo de Deus. Por isso a ideia central da passagem de hoje é mostrar o
caráter justo e santo de Deus através dos julgamentos que são realizados de maneira coerente
com a Lei e como Israel deveria refletir esse modelo.
Respondendo, então, a pergunta inicial sobre qual é o modelo de justiça para o povo de
Deus? A resposta é:
PROPOSIÇÃO: A justiça do próprio Deus é o modelo para seu povo e ela é apresentada de
três formas: 1) No caráter do oficiais; 2) Nos procedimentos jurídicos; 3) Na fidelidade nas
questões difíceis.
(Frase de Transição) Vejamos, então, como esse texto demonstra a verdadeira e justiça no
caráter dos oficiais.
A primeira questão que nos aparece nesse texto é justamente o cuidado de Deus em
ordenar a seu povo que mantenha um sistema judiciário organizado.
A frase inicia com a ordenança justamente de que o povo organizasse para si um sistema
jurídico. Isso pode ser demonstrado através da nomenclatura juízes e oficiais. As palavras
demonstram uma ideia hierárquica entre juiz e oficial, ou seja, o oficial estava a submetido as
ordens do juiz. De maneira semelhante a como organizamos os tribunais modernos, em que há
oficiais de justiça que estão a serviço do sistema judiciário para se fazer cumprir a sanção. Além
disso, embora nossas bíblias apresentem a palavra cidade, o texto original revela porta da
cidade. A porta da cidade no mundo antigo tinha uma grande importância, pois era de costume
100
que todas as questões legais eram resolvidas nas portas das cidades. O que sugere então é que
Deus ordene que as cidades de Israel tenham um local e um sistema judiciário atuante.
Se o desejo de Deus era que o sistema judiciário de Israel zelasse pelo cumprimento da lei, o
caráter dos oficiais deveria ser integro.
Já no final do v.18, mostra que o propósito do estabelecimento desses juízes estava neles
realizarem uma justiça reta. Bem diferente da justiça que vimos na história dos irmãos Naves.
Esse procedimento é marcado por três sentenças imperativas, ou seja, os juízes deveriam ser
íntegros independente da situação.
A primeira expressão “não torcer a justiça”, ou como expressa no original não fazer
torcer, indicando que essa ação não pode ser causada pelos juízes; marca justamente que o juiz
não deveria buscar agir por suas inclinações. Em outras palavras, ele não deveria dar o jeitinho
brasileiro, no sentido ruim da expressão de favorecer a si mesmo. A tão sonhada imparcialidade
por nós é justamente uma marca clara de como deveria ser os oficiais de Israel. A segunda
expressão indica claramente o propósito de privilegiar pessoas, a ideia hebraica é não distinguir
a face, ou seja, não levar em consideração os rostos. Independentemente de quem era a pessoas
101
a ser julgada, ela deveria receber a sua justa sanção. Por fim, a terceira expressão no original é
de não receber presentes, o que indica claramente a prática do suborno. A prática do suborno é
justamente a marca de uma sociedade hipócrita, pois de maneira oculta privilegia aqueles que
possuem mais poder.
Todas essas práticas demonstram de maneira muito clara o caráter de Deus. Deus não
julga com parcialidade, ele não faz acepção de pessoas nem muito menos pode ser subornado.
O teólogo Berkhof afirma que justiça absoluta de Deus é a retidão da natureza divina, em virtude
da qual Deus é infinitamente reto em si mesmo e a justiça relativa aponta para a perfeição de
Deus se manter contra toda a violação da sua santidade. Era esse referencial que Israel
necessitava ter, tanto para ter a dimensão de sua responsabilidade nos julgamentos como
também para que eles refletissem esse caráter de justiça santa de Deus.
Por refletir esse caráter santo de Israel era somente a justiça que eles deveriam buscar, nada
mais, nada menos.
A palavra justiça aqui é diferente das utilizadas anteriormente que tem muito mais a ver
com um procedimento jurídico. A palavra aqui aponta para um princípio de justiça plena, que
coloca em harmonia as relações humanas, pois tem como referência o próprio Deus. Era essa
justiça que deveria ser perseguida. A repetição nos traz essa ênfase de algo que deveria ser
constantemente buscado.
Aqui é importante entender que Israel era o grande representante do Reino de Deus. EU
SOU escolheu Israel para trazer a existência seu reino sobre a terra. Eles agora são mais do que
uma mera federação de tribos, são o povo que manifesta a relação de Deus em salvar o mundo.
Dessa forma, Israel deveria servir como modelo para as outras nações. O cumprimento das leis
e o andar na justiça de maneira reta traria bom testemunho as outras nações.
Por fim, as ordenanças sobre a composição e as ordenanças ligadas aos juízes terminam
com uma promessa de benção de Deus. A promessa aponta para que se o povo buscar a justiça
e andar de maneira reta receberá a Terra que o SENHOR, teu Deus, dará para eles. O desfrutar
da Terra é algo que está intimamente ligado a condição do comportamento moral de Israel. A
lei deveria ser vivida todos os dias e isso não exclui os elementos sociais como o procedimento
dos julgamentos em Israel. Todos os dias Israel deveria ter como modelo de procedimento o
próprio Deus, que é santo em sua justiça.
102
D) Implicações
Como sabemos Israel não conseguiu viver essa lei. Nós também não conseguimos.
Contudo, ela nos traz uma mensagem clara e vívida da pessoa de Jesus. O verdadeiro israelita.
O justo juiz. A morte de Jesus é a mais clara e plena demonstração da santa justiça de Deus.
Ele viveu uma vida totalmente íntegra. É por meio da sua justiça que nos também somos
justificados e podemos desfrutar desse caráter santo e justo de Deus. O texto nos aponta para
Cristo. O nosso modelo fiel de justiça. Cristo se mostrou o único capaz a proceder de maneira
justa a ponto de morrer na cruz para que pudesse nos justificar de nossos delitos e pecados. É
para ele que esse caráter justo dos tribunais e juízes de Israel no apontam. É nele que temos de
depositar a nossa esperança e olhar para ele como nosso modelo de justiça.
(Frase de Transição) Mas o texto não para por aí. Ele continua nos revelando mais sobre a
justiça de Deus. Agora ele vai revelar como a justiça de Deus se manifesta nos procedimentos
judiciais de Israel.
Se a justiça de Israel deveria refletir a justiça de Deus, vemos agora o que deveria acontecer
com alguém que desejava ser rebelde a esse ideal de justiça. Isso pode ser visto com as
ordenanças cultuais.
Embora pareça que os versículos não façam sentido em uma primeira leitura, pois
parecem se encaixar mais no tema sobre cultos e adoração a Iavé; elas possuem um importante
significado para a manutenção da aliança. Lembre-se que o principal objetivo dessas leis era
preservar Israel da comunidade cananeia e de sua idolatria. A ideia central sempre é não seja
como eles. Por isso, os elementos ligados a culto tinham muita importância social.
A segunda proibição está associada a forma de cultuar a Deus. O sacrifício a Deus e o seu culto
deveria ser conforme ele prescreveu. Inserir elemento estranho a essa adoração ou oferecer um
animal defeituoso era um claro sinal de desrespeito a Deus.
Ambas as proibições demonstram que quando alguém cometia um desses delitos ele
estava claramente quebrando os elementos básicos do pacto. A pessoa que cometia isso era tida
claramente como uma ameaça para a missão de Deus de separar um povo para si, como também
era uma grande ameaça para integridade do povo de Israel. Era um sinal claro de rebeldia de
uma pessoa contra o Grande Senhor e soberano de Israel.
Repare que agora temos um elemento condicional “quando”. Isso indica uma situação
específica e que deveria ser observada com cuidado. Por isso, ele indica que quando alguém
fizer justamente alguma dessas proibições que forma mencionadas anteriormente, essa pessoa
precisa receber a sua devida acusação: transgressor da aliança e a pena para essa acusação é
justamente a morte por apedrejamento. Isso aos nossos ouvidos pós Convenção de Genebra soa
muito duro. Mas uma pequena fábula pode nos ajudar a entender a situação:
Em outras palavras, não se espera que dentro do povo de Deus se cometa tamanha
traição. Não é o comportamento esperado do povo de Israel ser como o cananeu. O comentarista
Craige afirma justamente que esse delito minava a própria base sobre a qual a comunidade
pactual existia e, por isso, devia ser tratado com muita severidade, pois ameaçava a segurança
e a vida dos israelitas. Como se vê na continuidade do livro, o não seguir as leis de Deus traria
serias maldições ao povo (Dt.29) e a principal delas é que a presença de Deus seria retirada. Por
104
isso, a sentença era severa ela visava manter o shalom, ou seja, a paz e a prosperidade de Israel
mantendo-se fiel a aliança.
Contudo, essa sentença não era praticada simplesmente para se fazer justiça a qualquer
custo. Afinal era uma pena grave e seria. E o cuidado no procedimento também revela o caráter
justo de Deus.
Diferentemente do julgamento dos irmãos Naves que tinha o proposito apenas de manter
a reputação da instituição limpo e por isso a sede por justiça a qualquer custo, o modelo bíblico
está longe de ser arbitrário, principalmente se comparado a sociedades da época. Quando
comparamos Israel com outros povos notamos as diferenças. No Egito, os códigos de lei eram
baseados somente na tradição oral. Até hoje não encontraram códigos legislativos para nortear
as decisões. Isso devia tanto ao fato do poder esta nas mãos do Faraó era considerado o rei
divino, indicando que as suas palavras tinham o ponto final sobre as questões quanto as
tradições religiosas. Na Babilônia embora tivesse o código de Hamurabi, ainda sim muitas
questões eram resolvidas pela tradição. Já em Israel vemos um cuidado tanto de se ter uma lei
escrita quanto essa lei não estar sujeita as mudanças morais da tradição ou nas palavras de um
monarca.
A presença das testemunhas dava validade as acusações e que a testemunha oral possuía
grande força devido aos juramentos que eram realizados e que se empregava alguma maldição
divina caso não fosse dado um testemunho verdadeiro. A presença de mais testemunhas serviria
para confirmar as acusações. Uma testemunha apenas não era possível para validar. Além disso,
o fato das testemunhas serem as primeiras a lançar as pedras do apedrejamento implica em elas
assumirem para si a responsabilidade da morte do indivíduo. Se fosse posteriormente
comprovado a inocência do réu, eles seriam os principais responsáveis pela morte de um
inocente. Mas sendo comprovado o crime, a comunidade se responsabilizaria com eles. Isso
tudo era para que os tribunais zelassem para que não fosse quebrado o nono mandamento de
ser dado um falso testemunho. Além de zelar pelos dois primeiros mandamentos, a justiça em
Israel tinha esse importante papel de guardar o nono mandamento e evitar que por causa de
mentiras e calúnias um inocente fosse condenado.
quanto para evitar que seja propagado falso testemunho é como base sempre a justiça divina e
não as tradições e impressões humanas. A disciplina é justamente uma forma de se zelar para
que a Igreja se mantenha santa que deve refletir a justiça de Deus.
D) Implicações
O texto traz a seriedade do que significa ser um transgressor da aliança, também, nos
mostra que essa é justamente a nossa condição. Todas as vezes que fazemos ídolos estamos
sendo claramente rebeldes contra Deus. A nossa punição deveria ser dura e severa. Contudo,
como vimos anteriormente, Cristo é o nosso grande resgatador. Por causa da justiça dele não
sofremos a justa ira de Deus.
(Frase de Transição) Por fim, a última parte nos revela mais sobre a justiça de Deus. Agora, nas
situações em que julgamos ser difíceis definir.
Em 16.18-20 foi apresentado uma estrutura para organização local dos processos
judiciais. Agora, será apresentado uma estrutura tanto para julgar questões difíceis e que
envolvem a ideia de um local central ou um tribunal central. Essa ideia nos apresenta que para
julgar Israel precisa se manter fiel a sentença que Deus dá por meio de seus servos.
O texto nos apresenta três casos que podem ser exemplos de casos difíceis de serem
julgados. Por exemplo determinar se um homicídio é culposo ou doloso, ou que tipo de
violência foi praticada. A ideia é apresentar casos que possam ter interpretações ambíguas, que
tornem difíceis a tomada de uma sentença. Por isso, quando isso acontecia YHWH determina
um procedimento de se ir até o local que YHWH determinou. Possivelmente, já vislumbrava a
ideia de um local que seria centro de Israel, como Jerusalém se torna posteriormente. Há a ideia
de um tribunal central constituído pelos sacerdotes, levitas e juízes que estão a serviço de
YHWH. A mistura dos ofícios religiosos e civis é algo bastante interessante de se notar, pois
ambos possuíam autoridade para julgar os casos, não pelos seus cargos, mas pelo seu
conhecimento da Lei, que é o claro direcionamento para todas as áreas da vida do Povo de Deus.
Por isso, a ideia era que quando algo for difícil de resolver, que não esteja claro o povo
deveria recorrer a Deus, ao seu Senhor para julgar as questões. Era ele que iria pronunciar a
sentença por meio de seus servos. Desde questões civis até questões religiosas, o desejo de Deus
106
para seu povo era que eles buscassem o seu direcionamento e que as leis e ordenanças dele
fossem cumpridas em todos os âmbitos.
B) A obediência as instruções de Deus eram incondicionais, mesmo nas questões difíceis (v.10-
11)
O v.10 nos mostra novamente que o processo deveria ser bem analisado pelos
sacerdotes, levitas e juízes que ali estavam exercendo a sua função. Dessa forma, após eles
apurando bem o caso e proferindo a sentença. Essa mesma deveria ser executada, sem chance
de apelar a outra entidade. Essa sentença deveria ser executada dentro dos conformes ditos pelo
tribunal central. Dois aspectos são importantes para o cumprimento rigoroso das sanções: 1) a
sentença havia sido proferida diante do SENHOR, o que implicava que aquela sentença era a
mesma dada por Deus. 2) Os juízes e sacerdotes que ali ficavam era homens experientes na Lei
e estariam acostumados a lidar com questões difíceis. O próprio texto nos dá a entender que a
palavra dos homens desse tribunal central tinha efeito de lei para o povo. Algo semelhante ao
que temos com as jurisprudências. Tudo isso sugere que esses homens tinham a opinião
especializada para esse assunto, por esses fatores ela deveria ser obedecida pelo povo.
Israel como a nação modelo deveria refletir o caráter de Deus. Por isso, diversas vezes
Israel é advertida que se elas não seguissem as ordenanças de Deus eles seriam severamente
107
punidos como os cananeus, os quais estavam prestes a serem julgados por Deus por meio de
Israel. (ver Lv. 18.28 e Dt. 28.25-68).17 Wright (2011) afirma que se Israel cometesse os
mesmos pecados das nações vizinhas eles também sofreriam as mesmas punições, pois o
mesmo Deus que agiu em julgamento moral sobre os inimigos de Israel agiria exatamente da
mesma forma com Israel. Por isso, a severidade da pena tanto para idolatria como para aqueles
que não acatam as ordens divinas são um exemplo para aqueles que agem de maneira contrária
a aliança feita com Deus.
D) Implicações
O chamado hoje como o povo de Deus é ser fiel as suas ordenanças. Da mesma forma que Israel
deveria ser um representante de Deus para outras nações, nós como Igreja somos representantes
do Reino de Deus inaugurado por Cristo. Nosso dever é agir em conformidade com esse Reino.
Isso não significa que devemos inaugurar um Estado como Israel e aplicar as mesmas leis dadas
por Moisés. Significa que devemos observar em cumprir as ordenanças em todas as esferas de
soberania em que nos encontramos. Devemos ser fiéis e confiar na justiça de Deus mesmo que
as questões sejam complicadas de se resolver. A justiça somente é a regra para o povo de Deus,
pois essa justiça tem bases sólidas e tem seu referencial no criador e sustentador do universo.
CONCLUSÃO
Hoje vimos que para nos guiar em uma justiça verdadeira diante de uma sociedade injusta,
devemos confiar e olhar para o verdadeiro e justo juiz! Ele se manifestou integro em seu caráter
e mostrou sua justiça amorosa ao pagar o preço que nos era devido. Vimos que a nossa justiça
é falha, pois somos transgressores da aliança, mas também que Cristo nos resgata e nos declara
justos diante do Pai. Por isso podemos olhar para suas ordenanças como um guia,
principalmente em meio as questões difíceis que vivemos!
APLICAÇÃO
1-Deposite a sua esperança na justiça de Cristo. Confiar em ideias políticas, ideologias, pessoas,
dinheiro e outas coisas são apenas ídolos que estamos levantando diante do altar de Deus.
17
WRIGHT, Christopher J. H. O Deus que eu não entendo. 2011, p.114.
108
2-Aja como um oficial de justiça do Reino de Deus. Quando somos declarados justos por Deus,
a nossa missão é proclamar os feitos de Cristo! Agir como um oficial de justiça do Reino
significa obedecer a Deus nas ordenanças em cada área da nossa vida. Isso significa que em
nosso trabalho, nossa família, nossos relacionamentos temos o papel de representar a justiça de
Deus em todas as nossas ações. Agir de forma contrária a isso é como ser um traidor. Não deixe
que você seja subornado, não favoreça algo. Justiça, somente justiça busque!
3- Escolha e respeite as autoridades das esferas da sua vida. Temos o papel de zelar para que
cada esfera cumpra a sua missão criacional. Isso começa desde o representante do governo que
escolhemos, passa pela Igreja que frequentamos e até o local onde você irá trabalhar, estudar
ou a esposa/esposo que você quer escolher. O nosso padrão para essas escolhas deve ser sempre
as ordenanças de Deus, por mais difíceis que elas seja. Vemos hoje tantas crises de autoridade,
porque queremos ser os juízes finais da questão e colocamos de lado a justiça de Deus. A
obediência aos líderes, tendo como base a justiça de Deus, é uma marca de um cidadão do
Reino.
Por fim,
FRASE FINAL: Cristão, somente a justiça de Deus, somente ela você deve buscar e nada mais!
109
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
(1) Dentro dos elementos de contexto histórico geral da passagem, destaca-se que o livro
se insere dentro de uma estrutura maior de livros denominada Pentateuco, o qual Moisés é tido
como autor primário e principal tanto do Pentateuco como do livro de Deuteronômio e da
perícope analisada. Há, no entanto, que há processos editoriais posteriores a Moisés e que deram
a forma final, sem, contudo, prejudicar a integridade do material produzido por Moisés.
(3) Ao tratar sobre as questões de autoridade, a perícope tem como propósito controlador
é mostrar o caráter justo e santo de Deus através dos julgamentos que são realizados de maneira
coerente com a Lei na nação de Israel. O assunto principal deste texto é apresentar leis que
norteariam a vida de Israel nas suas questões judiciárias ao adentrar a Terra Prometida e
estabelecer suas cidades. Por isso, considera-se que a perícope tenha início em 16.18 e se
encerra em 17.13, pois, embora tratando sobre circunstâncias diferentes, trata-se ainda sobre a
aplicações das questões judiciárias, a organização judicial e os seus procedimentos. Tudo isso
com o propósito teológico de apontar para o caráter santo e justo de Deus.
(4) Concluiu-se também que dentro do progresso da revelação, a perícope não se aplica
como uma instrução para organização de um sistema judiciário teocrático. Antes, aponta
primariamente para a pessoa de Jesus Cristo, como o verdadeiro israelita que aplicou os
princípios presentes nesta lei apodítica. Não somente isso, pela sua morte que nos trouxe a
justificação dos nossos pecados, somos capazes de refletir como cidadãos do Reino de Deus
110
um procedimento de vida justo em diversas áreas da vida. Apontando, com isso, para a plena
justiça de Deus.
Além das conclusões da pesquisa exegética, destaca-se certas deficiências que esta
pesquisa por razões metodológicas e de acessibilidade não conseguiu compreender alguns
elementos históricos nos procedimentos de tribunais comuns no cotidiano do Antigo Oriente
Próximo. Sugere-se, portanto, como sugestão de novas abordagens e de novas pesquisas a partir
do texto, uma relação histórica e teológica das culturas próximas a Israel no seu modelo de
justiça. Fazendo assim, uma relação entre a influência religiosa e a conduta moral dos
procedimentos civis da nação de Israel e das regiões circunvizinhas.
111
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