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O género romance
Caraterísticas do romance:
Romance de personagem – existe uma personagem central (protagonista), Carlos da Maia, pelo que a ação se centra,
sobretudo, nas vivências dessa personagem e da sua família.
Romance de espaço – representa uma época, traduzindo um ambiente histórico e vários quadros sociais.
Estruturação do romance
Título: “Os Maias” – remete para a história de uma família ao longo de três gerações, incluindo a intriga/ação central, que
se constrói como uma ação fechada.
Subtítulo: “Episódios da vida romântica” – aponta para uma descrição/pintura de um certo estilo de vida, o romântico,
através da crónica de costumes da sociedade lisboeta da década de 70 do século XIX. A crónica de costumes concretiza-
se através da construção de ambientes e da atuação de personagens-tipo, revelando-se como uma ação aberta.
Amores entre Pedro da Maia e Maria Monforte – representa uma ação secundária que serve como preparação para a
intriga amorosa central e como introdução de um certo caráter trágico que se tornará evidente na intriga central.
Amores entre João da Ega e Raquel Cohen – tem como objetivo retratar um comportamento comum à época, mas
condenável, o adultério, mostrando a fragilidade da educação feminina e a influência perniciosa da literatura romântica.
Amores entre Carlos da Maia e Maria Eduarda – intriga central, que acaba num fim trágico dado o incesto.
Capítulo I
o A obra inicia-se com a instalação da família Maia no Ramalhete, no outono de 1875, vindos da Quinta de Santa Olávia,
onde já viviam há alguns anos, e tendo encarregado Vilaça de restaurar o palacete para o seu regresso. Inicia-se a
analepse que evoca o passado de Afonso da Maia: jovem apoiante do Liberalismo, que foi expulso de casa pelo pai
e a quem foi oferecida a Quinta de Santa Olávia. Mais tarde, parte para Inglaterra, regressando aquando da morte
do seu pai, altura em que conhece D. Maria Eduarda Runa, de quem tem um filho e com quem parte para o exílio. A
mulher não se adapta à vida do país e exige que venha um homem de Portugal para educar o seu filho. Com o
agravamento da doença de D. Maria Eduarda, a família volta para Lisboa, onde a senhora falece. Pedro apaixona-se
por Maria Monforte e, mesmo Afonso não apoiando a relação, casam às escondidas.
Capítulo II
o Pedro e Maria Monforte passeiam por Itália. Maria fica grávida e decidem voltar para Lisboa, onde têm uma vida de
boémia e luxo. Com o nascimento do segundo filho, Pedro põe a hipótese de se reconciliar com o pai e de lhe
apresentar os filhos. Contudo, a visita é adiada pois, numa caçada, Pedro fere acidentalmente um italiano, que fica
consigo em casa e que, mais tarde, foge com Maria Monforte e a filha desta, Maria Eduarda. Pedro procura ajuda
junto do pai, que o acolhe na casa de Benfica, e pouco depois suicida-se. Afonso decide fechar a casa e muda-se,
levando o neto consigo.
Capítulo III
o Capítulo onde se dá o contraste entre as educações tradicional e inglesa. Vilaça morre e o seu filho substitui-o como
procurador da família. Carlos faz o exame de admissão e entra na universidade em Coimbra.
Capítulo IV
o Vida boémia de Carlos em Coimbra, com um grupo de amigos no qual se destaca João da Ega. Terminado o curso,
Carlos parte para uma viagem de um ano pela Europa, instalando-se no Ramalhete quando volta, e construindo um
laboratório e um consultório.
Capítulo V
o A atividade no consultório de Carlos já começara a ter alguma popularidade. Ega aparece e percebe-se a razão do
seu desaparecimento: apaixonara-se por Raquel Cohen, que era, infelizmente, casada. Durante uma conversa, Carlos
aceita a proposta de Ega de conhecer a família Gouvarinho, e, quando tal acontece, Carlos pressente o interesse da
condessa.
Capítulo VI
o Quando Ega e Carlos saem para jantar, encontram Craft, com quem combinam um jantar no Hotel Central, no dia
seguinte. Após alguns contratempos, Ega consegue marcar o jantar com Carlos, Craft, Alencar, Dâmaso e Cohen,
onde se discute literatura, finanças, política e história. Já em casa, Carlos sonha com a mulher encantadora que vira
enquanto esperava pelos amigos para jantar.
Capítulo VII
o Carlos, na companhia de Steinbroken, vê Maria Eduarda pela segunda vez, quando esta está acompanhada pelo
marido (Castro Gomes). Mais tarde, convida Cruges para uma ida a Sintra.
Capítulo VIII
o Dá-se a visita a Sintra, que tem o propósito escondido de ter um encontro fortuito com Maria Eduarda. Após algumas
horas, chegam à vila e instalam-se no Hotel Nunes, mais tarde encontrando Eusebiozinho, com Palma, um amigo, e
duas espanholas. Carlos e Cruges decidem visitar Seteais, encontrando, pelo caminho, Alencar, que os acompanha.
Mais tarde, informado de que Maria Eduarda não se encontrava na vila, Carlos decide voltar para Lisboa.
Capítulo IX
o Carlos recebe uma carta para ir jantar, no sábado seguinte, a casa dos Gouvarinho. Dâmaso aparece pedindo-lhe que
veja Rosa, uma menina doente. Quando Carlos se preparava para o baile de máscaras, aparece Ega dizendo que fora
expulso por Cohen, dado o seu caso ter sido descoberto. No dia seguinte, Ega decide deixar Lisboa. Carlos torna-se
próximo dos Gouvarinho e a condessa comete adultério.
Capítulo X
o Algumas semanas depois, Carlos farta-se dos encontros com a Gouvarinho e continua focado em Maria Eduarda.
Chega o dia das corridas de cavalos, o acontecimento social que junta a elite lisboeta, onde se fazem apostas.
Chegado a casa, Carlos recebe uma carta de Maria, pedindo-lhe que passe por sua casa, pois tinha um familiar doente.
Capítulo XI
o Carlos visita Maria Eduarda e descobre o seu nome. Quem estava doente era Miss Sara, a governanta, e Carlos
prescreve a receita, alerta Maria dos cuidados que deve ter com a senhora e acrescenta que terá de a visitar
diariamente. Nas semanas seguintes, os protagonistas familiarizam-se e Dâmaso, quando os encontra juntos, pede
explicações a Carlos sobre tamanha intimidade.
Capítulo XII
o Ega regressa de Celorico e instala-se no Ramalhete, informando que os Gouvarinho os convidaram para jantar na
segunda-feira seguinte. Na terça-feira, após um encontro escaldante com a Gouvarinho, Carlos chega atrasado a
casa de Maria Eduarda, onde esta recusa receber Dâmaso. É nesse mesmo dia que se dá o primeiro beijo dos
protagonistas. Ega mostra-se magoado pelos segredos do amigo, mas este acaba por lhe contar que se apaixonou
e se envolveu com Maria Eduarda.
Capítulo XIII
o Ega informa Carlos que Dâmaso o anda a difamar e a Maria Eduarda. Quando o encontra na rua, Carlos ameaça
Dâmaso. No domingo é o aniversário de Afonso e todos os amigos da casa estão presentes. Descobre-se que Dâmaso
andava a namorar a Cohen. A Gouvarinho aparece, querendo falar com Carlos, e acabam por discutir sobre a sua
ausência. É o fim do romance amoroso.
Capítulo XIV
o Afonso parte para Santa Olávia e Carlos fica sozinho no Ramalhete, pois Ega parte para Sintra. Chega Setembro.
Carlos decide ir visitar Afonso, mas antes leva Maria a conhecer o Ramalhete, que lhe diz que às vezes ele lhe lembra
a sua mãe, contando-lhe a sua história. Uma semana depois, Castro Gomes aparece no Brasil pois havia recebido
uma carta que dizia que a sua mulher tinha um amante. Além disso, conta que não é marido de Maria e que não é pai
de Rosa, mas que apenas viva com ambas, além de que Maria se chama Madame Mac Gren. Furioso pela mentira de
Maria, dirige-se a sua casa, onde a encontra a chorar, pedindo-lhe perdão e acabando por conta a verdadeira história
da sua vida. Carlos pede Maria em casamento.
Capítulo XV
o Carlos conta a verdade a Ega, que lhe diz ser melhor esperar a morte de Afonso para se casar, pois ele não aguentaria
o desgosto. Mais tarde, Carlos toma conhecimento de um artigo de um jornal que o difama e denuncia o passado de
Maria. Percebe, mais tarde, que o artigo tinha sido encomendado por Dâmaso e Eusebiozinho. Dâmaso, sob a ordem
de Ega, acaba por escrever uma carta onde afirma ser um bêbedo incorrigível, carta que mais tarde é publicada a
mando de Ega, para humilhar Dâmaso, que parte para Itália.
Capítulo XVI
o Carlos e Ega vão ao Sarau do Teatro da Trindade, onde o segundo conhece o Sr. Guimarães, tio de Dâmaso. Mais
tarde, quando Ega regressava ao Ramalhete, Guimarães aparece dizendo que tem um cofre da mãe de Carlos para
dar à família. Ega descobre que Carlos tem uma irmã e que esta é Maria Eduarda, sendo-lhe o passado de Maria
Monforte. Guimarães entrega o cofre a Ega que, chocado com a verdade, decide pedir ajuda a Vilaça para contar
tudo a Carlos.
Capítulo XVII
o Vilaça e Ega abrem o cofre da Monforte e descobrem uma carta para Maria Eduarda, na qual se revela que Maria é
filha de Pedro da Maia. No dia seguinte, confrontam Carlos com a situação, que procura o avô, na esperança que
este lhe possa desmentir a história. Afonso confirma e, em segredo, conta a Ega que sabe que eles têm um caso.
Apesar de saber a verdade, Carlos dorme mais uma vez com a irmã, porque a ama. Afonso da Maia sabe que Carlos
se continua a encontrar com Maria e fica desolado. Ega, furioso, confronta Carlos. Na manhã seguinte, Afonso é
encontrado desmaiado. Estava morto. Destroçado e sentindo-se culpado pela morte do avô, Carlos pede a Ega que
trate do funeral e escreva um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Após o enterro, Carlos parte para Santa
Olávia e pede a Ega que conte toda a verdade a Maria, aconselhando-a a partir para Paris. Tal acontece e Maria parte,
para sempre.
Capítulo XVIII
o Partida de Carlos e Ega numa viagem pelo mundo. Ano e meio depois, Ega regressa dizendo que Carlos ficou em
Paris, não desejando voltar a Portugal. Dez anos depois, Carlos regressa a Lisboa e almoça com Ega que lhe conta as
novidades. Aos poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal, ainda mais decadente. No Ramalhete, a maior
parte das decorações encaminhava-se para Paris. Carlos conta a Ega que recebera uma carta de Maria, onde relatava
que ia casar. O protagonista encarava esse casamento como o fim da sua história, e os 2 amigos constatam que não
vale a pena viver e que tudo são desilusões e poeira.
O espaço
A descrição dos espaços físicos contribui para o efeito do real e para a dimensão simbólica da obra.
As personagens
Maria Eduarda Runa – filha do conde de Runa, casa com Afonso, um jovem revolucionário e liberal, cujas ideias
progressivas a atormentam, levando o casal ao exílio em Inglaterra. A vida nesse país, ao qual nunca se adaptou, tornou-
a mais doente e melancólica, encontrando o refúgio numa devoção religiosa exacerbada. Assim, não confiando numa
educação britânica, mesmo sendo católica, faz ir o Padre Vasques de Lisboa para educar o seu único filho.
Maria Monforte – destaca-se pela sua beleza e pela irreverência perante as normas discriminatórias da sociedade
oitocentista. Herdeira de uma fortuna ganha à custa do tráfico de escravos, é protagonista de aventuras amorosas, como
o casamento com Pedro da Maia e a fuga com o italiano Tancredo. Além disso, destaca-se por romper com um casamento
nobre que lhe permite ser aceite na sociedade e que a salvava de uma situação social sem título e por, ao fugir com
Tancredo, levar a filha consigo, abandonando o filho, e desfazendo a estrutura familiar.
Maria Eduarda – sempre apresentada ao leitor como um ser superior que se destaca das mulheres lisboetas, é alta, loira,
elegante, requintada e está envolta numa aura de mistério, o que aumenta o seu poder de sedução e a sua sensualidade.
Surge em Lisboa fazendo-se passar pela mulher do brasileiro Castro Gomes, com quem vivia há 3 anos, depois de ter
enviuvado de Mac Gren, pai de sua filha Rosa. Quando conhece e se torna íntima de Carlos, revela-se uma mulher sensata,
equilibrada, doce e com um forte sentido de dignidade, tendo um grande espírito culto. Encarna a heroína romântica,
perseguida pela vida e pelo destino, mas que acaba por encontrar, ainda que momentaneamente, a razão da sua vida, na
paixão e no amor.
Caetano da Maia – grande opositor do Liberalismo. A sua intolerância relativamente às ideias revolucionárias leva-o a
expulsar o filho (Afonso) de casa, desterrando-o para Santa Olávia, por este se envolver com os simpatizantes da
Revolução Francesa e partilhar os ideais jacobinistas.
Afonso da Maia – personagem que funciona como o esteio da família Maia e é para ele que todos se voltam nos momentos
de crise. Constitui o ponto de equilíbrio dos Maias e é a ele que Pedro entrega Carlos após a fuga de Maria e que Carlos
interroga na esperança que o avô desminta as revelações de Guimarães. É a encarnação do bom senso, da experiência,
dos valores da nação e da raça, é alguém que defende o património português face à descaracterização e à invasão das
modas estrangeiras. No entanto, é humano e, apesar de ter ultrapassado a tragédia do filho, não supera a do neto,
morrendo com ele o futuro da família.
Pedro da Maia – com uma educação católica e tradicional, herdando o caráter depressivo e melancólico de sua mãe, e
vivendo no meio do “sopro romântico da Regeneração”, Pedro nada mais podia fazer do que deixar-se arrastar por uma
vida de boémia e dissipação, que culmina numa paixão obsessiva e fatal por Maria Monforte (mulher que o precipita no
abismo da perdição).
Carlos da Maia – levando uma vida de boémia estudantil e literária em Coimbra, e passando, em Lisboa, pelos belos
momentos de ócio no seu consultório, vive de forma exacerbada e intensa a sua paixão por Maria Eduarda. Carlos é o
diletante culto, por excelência, que acaba por se deixar submergir pela modorra sociedade lisboeta em que vive,
desistindo, um a um, de todos os seus projetos de vida, inclusive da sua paixão, embora essa por razões que não pode
controlar.
João da Ega – é aquele que ampara e ajuda Carlos nos momentos mais difíceis da sua vida, quer em termos psicológicos,
quer em problemas práticos. É o símbolo da pura irreverência, do sarcasmo, da ironia, da crítica pela crítica, do prazer de
chocar e de questionar, mostrando-se, muitas vezes, contraditório nas suas opiniões. Gosta de se fazer notar e de ser
notado nos círculos que frequenta. Entusiasma-se facilmente pela novidade, iniciando vários projetos, mas sem os
concluir. No passeio final, extravasa o seu desencanto, desilusão e frustração, perante o país e perante o falhanço dos
seus projetos.
A sociedade representada é a aristocracia decadente e a alta burguesia sem vontade própria e espírito crítico, excessivamente
modista e materialista, muito distanciada das verdadeiras necessidades do país. Os seus hábitos sociais, o modo de vida, os
ambientes de doentia rotina são reveladores de ociosidade, superficialidade, corrupção, limitação intelectual, negação do
processo. É uma sociedade que vive do parecer em detrimento do ser. Assim, as suas personagens estão relacionadas a uma
representatividade social:
Linguagem e estilo
A obra “Os Maias” integra a fase realista/naturalista de Eça, sendo, então, a linguagem utilizada harmonizada com os
propósitos do Realismo, com o propósito de fazer um retrato vivo, intenso, duradouro e verosímil da realidade. Marcada pelo
impressionismo das descrições e pelo realismo dos diálogos, a linguagem é usada de forma inovadora, atribuindo-lhe novos
valores estéticos e literários: