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Os Maias – Eça de Queirós

Quem é Eça de Queirós?


José Maria de Eça de Queiroz, contemporaneamente escrito Eça de Queirós, nasceu em 1845, na Póvoa de Varzim, e foi
escritor e diplomata português. Considerado como um dos mais importantes escritores portugueses da história, foi autor
de romances de reconhecida importância, como seja a obra “Os Maias”. Eça notabilizou-se pela originalidade e riqueza
do seu estilo e linguagem, pelo realismo descritivo e pela crítica social constantes nos seus romances.

Contexto histórico-literário e cultural da produção do romance

 Segunda metade do século XIX


o Regeneração – Período da História de Portugal que se iniciou cerca de 1851 e durou até cerca de 1870. Politicamente,
correspondeu a um período de paz interna e à consolidação da democracia liberal; economicamente, ficou marcado
pela modernização de Fontes Pereira de Melo, que lançou a revolução dos transportes e a industrialização.
o Fontismo - Política de melhoramentos posta em prática pelo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria,
pelo governo da Regeneração e primeiramente chefiado por António Maria Fontes Pereira de Melo. Indissociável do
livre-cambismo e do capitalismo burguês, cujos interesses defendeu, a política “fontista” incidiu na criação de
infraestruturas materiais para o desenvolvimento económico do país.
 Realismo
o Movimento cultural das últimas décadas do século XIX, surgido em França, como reação ao Romantismo. Sendo uma
autocrítica para a recuperação do erro face à urgência da correção, centra o seu interesse no presente e em temas
sociais, de modo a denunciar aspetos da vida social que precisam de ser resolvidos.
 A Geração de 70
o Geração que procurava aproximar Portugal de países europeus mais desenvolvidos, defendendo a modernização do
país tanto na literatura como na política e nas questões sociais. Alguns dos seus membros foram Eça de Queirós,
Teófilo Braga, Oliveira Martins, entre outros.
 A “Questão Coimbrã”
o Polémica que envolveu defensores do Romantismo e defensores do Realismo e que, além de uma polémica
estritamente literária, envolvia uma discussão entre formas tradicionais de cultura, de vida social, de política e novas
formas que aproximassem Portugal da Europa evoluída. Tendo abalado as estruturas socioculturais do país, um dos
seus participantes foi Eça de Queirós, enquanto defensor do Realismo.
 Conferências do Casino
o Conjunto de conferências, realizadas em Lisboa, onde se reuniam elementos da Geração de 70 e se apresentavam
propostas de modo a fazer avançar Portugal em direção à Europa mais desenvolvida.

O género romance

Caraterísticas do romance:

 Ação extensa, podendo conter ramificações secundárias;


 Complexidade e densidade psicológica – construção das personagens implicando componentes de ordem social, cultural
e psicológica;
 Multiplicidade de espaços, caraterizados pela sua amplidão e pormenor;
 Organização temporal complexa: conjugação de diversos tratamentos temporais.

A obra “Os Maias” pode ser considerada como:

 Romance de personagem – existe uma personagem central (protagonista), Carlos da Maia, pelo que a ação se centra,
sobretudo, nas vivências dessa personagem e da sua família.
 Romance de espaço – representa uma época, traduzindo um ambiente histórico e vários quadros sociais.

Visão global do romance


A ação do romance baseia-se na história de três gerações da família Maia e tem como pano de fundo a sociedade lisboeta do
século XIX, sendo possível reconhecer um paralelismo entre os elementos da família Maia e os diferentes momentos da
História de Portugal do século XIX.

 Caetano da Maia – representa o Absolutismo e os seus valores retrógrados.


 Afonso da Maia – figura romântica do Liberalismo romântico, chegando a sofrer o exílio da pátria.
 Pedro da Maia – representante da política da Regeneração e do Ultrarromantismo.
 Carlos da Maia – fiel defensor do espírito da Geração de 70 e símbolo do subsequente Vencidismo (Vencidos da Vida).

Estruturação do romance

“Os Maias” apresentam dois níveis narrativos relacionados com:

 Título: “Os Maias” – remete para a história de uma família ao longo de três gerações, incluindo a intriga/ação central, que
se constrói como uma ação fechada.
 Subtítulo: “Episódios da vida romântica” – aponta para uma descrição/pintura de um certo estilo de vida, o romântico,
através da crónica de costumes da sociedade lisboeta da década de 70 do século XIX. A crónica de costumes concretiza-
se através da construção de ambientes e da atuação de personagens-tipo, revelando-se como uma ação aberta.

A arquitetura do romance conjuga três dimensões estruturadoras:

 Os antecedentes e a evolução da família Maia.


 A intriga amorosa relativa a Pedro da Maia, Carlos da Maia e Ega, destacando-se a intriga central, desenvolvida em torno
de Carlos da Maia e de Maria Eduarda.
o Intriga central: estrutura tripartida – antecedentes da ação, ação principal (amores incestuosos e desfecho trágico)
e epílogo.
 A visão e a crítica dos costumes quotidianos da sociedade lisboeta no final do século XIX, que serve de cenário da intriga
central.

Diversificação da intriga amorosa

 Amores entre Pedro da Maia e Maria Monforte – representa uma ação secundária que serve como preparação para a
intriga amorosa central e como introdução de um certo caráter trágico que se tornará evidente na intriga central.
 Amores entre João da Ega e Raquel Cohen – tem como objetivo retratar um comportamento comum à época, mas
condenável, o adultério, mostrando a fragilidade da educação feminina e a influência perniciosa da literatura romântica.
 Amores entre Carlos da Maia e Maria Eduarda – intriga central, que acaba num fim trágico dado o incesto.

Resumo dos capítulos

 Capítulo I
o A obra inicia-se com a instalação da família Maia no Ramalhete, no outono de 1875, vindos da Quinta de Santa Olávia,
onde já viviam há alguns anos, e tendo encarregado Vilaça de restaurar o palacete para o seu regresso. Inicia-se a
analepse que evoca o passado de Afonso da Maia: jovem apoiante do Liberalismo, que foi expulso de casa pelo pai
e a quem foi oferecida a Quinta de Santa Olávia. Mais tarde, parte para Inglaterra, regressando aquando da morte
do seu pai, altura em que conhece D. Maria Eduarda Runa, de quem tem um filho e com quem parte para o exílio. A
mulher não se adapta à vida do país e exige que venha um homem de Portugal para educar o seu filho. Com o
agravamento da doença de D. Maria Eduarda, a família volta para Lisboa, onde a senhora falece. Pedro apaixona-se
por Maria Monforte e, mesmo Afonso não apoiando a relação, casam às escondidas.
 Capítulo II
o Pedro e Maria Monforte passeiam por Itália. Maria fica grávida e decidem voltar para Lisboa, onde têm uma vida de
boémia e luxo. Com o nascimento do segundo filho, Pedro põe a hipótese de se reconciliar com o pai e de lhe
apresentar os filhos. Contudo, a visita é adiada pois, numa caçada, Pedro fere acidentalmente um italiano, que fica
consigo em casa e que, mais tarde, foge com Maria Monforte e a filha desta, Maria Eduarda. Pedro procura ajuda
junto do pai, que o acolhe na casa de Benfica, e pouco depois suicida-se. Afonso decide fechar a casa e muda-se,
levando o neto consigo.
 Capítulo III
o Capítulo onde se dá o contraste entre as educações tradicional e inglesa. Vilaça morre e o seu filho substitui-o como
procurador da família. Carlos faz o exame de admissão e entra na universidade em Coimbra.

Educação de Carlos: Educação de Eusebiozinho:


Educação liberal, por Mr. Brown, com pouca proteção Educação baseada no modelo livresco, na inatividade e
e onde se dá primazia ao contacto com o ar livre, ao na memorização de conceitos. Conhecimento
rigor, à disciplina e ao exercício físico. desatualizado.

 Capítulo IV
o Vida boémia de Carlos em Coimbra, com um grupo de amigos no qual se destaca João da Ega. Terminado o curso,
Carlos parte para uma viagem de um ano pela Europa, instalando-se no Ramalhete quando volta, e construindo um
laboratório e um consultório.
 Capítulo V
o A atividade no consultório de Carlos já começara a ter alguma popularidade. Ega aparece e percebe-se a razão do
seu desaparecimento: apaixonara-se por Raquel Cohen, que era, infelizmente, casada. Durante uma conversa, Carlos
aceita a proposta de Ega de conhecer a família Gouvarinho, e, quando tal acontece, Carlos pressente o interesse da
condessa.
 Capítulo VI
o Quando Ega e Carlos saem para jantar, encontram Craft, com quem combinam um jantar no Hotel Central, no dia
seguinte. Após alguns contratempos, Ega consegue marcar o jantar com Carlos, Craft, Alencar, Dâmaso e Cohen,
onde se discute literatura, finanças, política e história. Já em casa, Carlos sonha com a mulher encantadora que vira
enquanto esperava pelos amigos para jantar.
 Capítulo VII
o Carlos, na companhia de Steinbroken, vê Maria Eduarda pela segunda vez, quando esta está acompanhada pelo
marido (Castro Gomes). Mais tarde, convida Cruges para uma ida a Sintra.
 Capítulo VIII
o Dá-se a visita a Sintra, que tem o propósito escondido de ter um encontro fortuito com Maria Eduarda. Após algumas
horas, chegam à vila e instalam-se no Hotel Nunes, mais tarde encontrando Eusebiozinho, com Palma, um amigo, e
duas espanholas. Carlos e Cruges decidem visitar Seteais, encontrando, pelo caminho, Alencar, que os acompanha.
Mais tarde, informado de que Maria Eduarda não se encontrava na vila, Carlos decide voltar para Lisboa.
 Capítulo IX
o Carlos recebe uma carta para ir jantar, no sábado seguinte, a casa dos Gouvarinho. Dâmaso aparece pedindo-lhe que
veja Rosa, uma menina doente. Quando Carlos se preparava para o baile de máscaras, aparece Ega dizendo que fora
expulso por Cohen, dado o seu caso ter sido descoberto. No dia seguinte, Ega decide deixar Lisboa. Carlos torna-se
próximo dos Gouvarinho e a condessa comete adultério.
 Capítulo X
o Algumas semanas depois, Carlos farta-se dos encontros com a Gouvarinho e continua focado em Maria Eduarda.
Chega o dia das corridas de cavalos, o acontecimento social que junta a elite lisboeta, onde se fazem apostas.
Chegado a casa, Carlos recebe uma carta de Maria, pedindo-lhe que passe por sua casa, pois tinha um familiar doente.
 Capítulo XI
o Carlos visita Maria Eduarda e descobre o seu nome. Quem estava doente era Miss Sara, a governanta, e Carlos
prescreve a receita, alerta Maria dos cuidados que deve ter com a senhora e acrescenta que terá de a visitar
diariamente. Nas semanas seguintes, os protagonistas familiarizam-se e Dâmaso, quando os encontra juntos, pede
explicações a Carlos sobre tamanha intimidade.
 Capítulo XII
o Ega regressa de Celorico e instala-se no Ramalhete, informando que os Gouvarinho os convidaram para jantar na
segunda-feira seguinte. Na terça-feira, após um encontro escaldante com a Gouvarinho, Carlos chega atrasado a
casa de Maria Eduarda, onde esta recusa receber Dâmaso. É nesse mesmo dia que se dá o primeiro beijo dos
protagonistas. Ega mostra-se magoado pelos segredos do amigo, mas este acaba por lhe contar que se apaixonou
e se envolveu com Maria Eduarda.
 Capítulo XIII
o Ega informa Carlos que Dâmaso o anda a difamar e a Maria Eduarda. Quando o encontra na rua, Carlos ameaça
Dâmaso. No domingo é o aniversário de Afonso e todos os amigos da casa estão presentes. Descobre-se que Dâmaso
andava a namorar a Cohen. A Gouvarinho aparece, querendo falar com Carlos, e acabam por discutir sobre a sua
ausência. É o fim do romance amoroso.
 Capítulo XIV
o Afonso parte para Santa Olávia e Carlos fica sozinho no Ramalhete, pois Ega parte para Sintra. Chega Setembro.
Carlos decide ir visitar Afonso, mas antes leva Maria a conhecer o Ramalhete, que lhe diz que às vezes ele lhe lembra
a sua mãe, contando-lhe a sua história. Uma semana depois, Castro Gomes aparece no Brasil pois havia recebido
uma carta que dizia que a sua mulher tinha um amante. Além disso, conta que não é marido de Maria e que não é pai
de Rosa, mas que apenas viva com ambas, além de que Maria se chama Madame Mac Gren. Furioso pela mentira de
Maria, dirige-se a sua casa, onde a encontra a chorar, pedindo-lhe perdão e acabando por conta a verdadeira história
da sua vida. Carlos pede Maria em casamento.
 Capítulo XV
o Carlos conta a verdade a Ega, que lhe diz ser melhor esperar a morte de Afonso para se casar, pois ele não aguentaria
o desgosto. Mais tarde, Carlos toma conhecimento de um artigo de um jornal que o difama e denuncia o passado de
Maria. Percebe, mais tarde, que o artigo tinha sido encomendado por Dâmaso e Eusebiozinho. Dâmaso, sob a ordem
de Ega, acaba por escrever uma carta onde afirma ser um bêbedo incorrigível, carta que mais tarde é publicada a
mando de Ega, para humilhar Dâmaso, que parte para Itália.
 Capítulo XVI
o Carlos e Ega vão ao Sarau do Teatro da Trindade, onde o segundo conhece o Sr. Guimarães, tio de Dâmaso. Mais
tarde, quando Ega regressava ao Ramalhete, Guimarães aparece dizendo que tem um cofre da mãe de Carlos para
dar à família. Ega descobre que Carlos tem uma irmã e que esta é Maria Eduarda, sendo-lhe o passado de Maria
Monforte. Guimarães entrega o cofre a Ega que, chocado com a verdade, decide pedir ajuda a Vilaça para contar
tudo a Carlos.
 Capítulo XVII
o Vilaça e Ega abrem o cofre da Monforte e descobrem uma carta para Maria Eduarda, na qual se revela que Maria é
filha de Pedro da Maia. No dia seguinte, confrontam Carlos com a situação, que procura o avô, na esperança que
este lhe possa desmentir a história. Afonso confirma e, em segredo, conta a Ega que sabe que eles têm um caso.
Apesar de saber a verdade, Carlos dorme mais uma vez com a irmã, porque a ama. Afonso da Maia sabe que Carlos
se continua a encontrar com Maria e fica desolado. Ega, furioso, confronta Carlos. Na manhã seguinte, Afonso é
encontrado desmaiado. Estava morto. Destroçado e sentindo-se culpado pela morte do avô, Carlos pede a Ega que
trate do funeral e escreva um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Após o enterro, Carlos parte para Santa
Olávia e pede a Ega que conte toda a verdade a Maria, aconselhando-a a partir para Paris. Tal acontece e Maria parte,
para sempre.
 Capítulo XVIII
o Partida de Carlos e Ega numa viagem pelo mundo. Ano e meio depois, Ega regressa dizendo que Carlos ficou em
Paris, não desejando voltar a Portugal. Dez anos depois, Carlos regressa a Lisboa e almoça com Ega que lhe conta as
novidades. Aos poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal, ainda mais decadente. No Ramalhete, a maior
parte das decorações encaminhava-se para Paris. Carlos conta a Ega que recebera uma carta de Maria, onde relatava
que ia casar. O protagonista encarava esse casamento como o fim da sua história, e os 2 amigos constatam que não
vale a pena viver e que tudo são desilusões e poeira.

O espaço

A descrição dos espaços físicos contribui para o efeito do real e para a dimensão simbólica da obra.

 Os grandes espaços e o seu valor simbólico e emotivo


o Lisboa – símbolo da sociedade portuguesa da Regeneração, incapaz de se modernizar.
o Santa Olávia – lugar para onde a família se desloca para recuperar energias e as forças perdidas, para esquecer a dor
e enfrentar o futuro.
o Coimbra – símbolo da boémia estudantil, artística e literária, é o espaço de formação académica e cívica de Carlos.
o Sintra – espécie de paraíso romântico perdido, um refúgio campestre e purificador, que as pessoas procuram para
fugir ao tédio da capital.
 Os espaços físicos interiores e o seu valor simbólico e emotivo
o Ramalhete – constitui um marco de referência fundamental e o seu apogeu e/ou degradação acompanha o percurso
da família.
o Consultório – revela algumas facetas de Carlos, como o diletantismo e os seus projetos inacabados.
o “Toca” – ao longo da descrição do espaço, multiplicam-se os elementos simbólicos que indiciam o caráter interdito
e o fim trágico do amor.

As personagens

 Maria Eduarda Runa – filha do conde de Runa, casa com Afonso, um jovem revolucionário e liberal, cujas ideias
progressivas a atormentam, levando o casal ao exílio em Inglaterra. A vida nesse país, ao qual nunca se adaptou, tornou-
a mais doente e melancólica, encontrando o refúgio numa devoção religiosa exacerbada. Assim, não confiando numa
educação britânica, mesmo sendo católica, faz ir o Padre Vasques de Lisboa para educar o seu único filho.
 Maria Monforte – destaca-se pela sua beleza e pela irreverência perante as normas discriminatórias da sociedade
oitocentista. Herdeira de uma fortuna ganha à custa do tráfico de escravos, é protagonista de aventuras amorosas, como
o casamento com Pedro da Maia e a fuga com o italiano Tancredo. Além disso, destaca-se por romper com um casamento
nobre que lhe permite ser aceite na sociedade e que a salvava de uma situação social sem título e por, ao fugir com
Tancredo, levar a filha consigo, abandonando o filho, e desfazendo a estrutura familiar.
 Maria Eduarda – sempre apresentada ao leitor como um ser superior que se destaca das mulheres lisboetas, é alta, loira,
elegante, requintada e está envolta numa aura de mistério, o que aumenta o seu poder de sedução e a sua sensualidade.
Surge em Lisboa fazendo-se passar pela mulher do brasileiro Castro Gomes, com quem vivia há 3 anos, depois de ter
enviuvado de Mac Gren, pai de sua filha Rosa. Quando conhece e se torna íntima de Carlos, revela-se uma mulher sensata,
equilibrada, doce e com um forte sentido de dignidade, tendo um grande espírito culto. Encarna a heroína romântica,
perseguida pela vida e pelo destino, mas que acaba por encontrar, ainda que momentaneamente, a razão da sua vida, na
paixão e no amor.
 Caetano da Maia – grande opositor do Liberalismo. A sua intolerância relativamente às ideias revolucionárias leva-o a
expulsar o filho (Afonso) de casa, desterrando-o para Santa Olávia, por este se envolver com os simpatizantes da
Revolução Francesa e partilhar os ideais jacobinistas.
 Afonso da Maia – personagem que funciona como o esteio da família Maia e é para ele que todos se voltam nos momentos
de crise. Constitui o ponto de equilíbrio dos Maias e é a ele que Pedro entrega Carlos após a fuga de Maria e que Carlos
interroga na esperança que o avô desminta as revelações de Guimarães. É a encarnação do bom senso, da experiência,
dos valores da nação e da raça, é alguém que defende o património português face à descaracterização e à invasão das
modas estrangeiras. No entanto, é humano e, apesar de ter ultrapassado a tragédia do filho, não supera a do neto,
morrendo com ele o futuro da família.
 Pedro da Maia – com uma educação católica e tradicional, herdando o caráter depressivo e melancólico de sua mãe, e
vivendo no meio do “sopro romântico da Regeneração”, Pedro nada mais podia fazer do que deixar-se arrastar por uma
vida de boémia e dissipação, que culmina numa paixão obsessiva e fatal por Maria Monforte (mulher que o precipita no
abismo da perdição).
 Carlos da Maia – levando uma vida de boémia estudantil e literária em Coimbra, e passando, em Lisboa, pelos belos
momentos de ócio no seu consultório, vive de forma exacerbada e intensa a sua paixão por Maria Eduarda. Carlos é o
diletante culto, por excelência, que acaba por se deixar submergir pela modorra sociedade lisboeta em que vive,
desistindo, um a um, de todos os seus projetos de vida, inclusive da sua paixão, embora essa por razões que não pode
controlar.
 João da Ega – é aquele que ampara e ajuda Carlos nos momentos mais difíceis da sua vida, quer em termos psicológicos,
quer em problemas práticos. É o símbolo da pura irreverência, do sarcasmo, da ironia, da crítica pela crítica, do prazer de
chocar e de questionar, mostrando-se, muitas vezes, contraditório nas suas opiniões. Gosta de se fazer notar e de ser
notado nos círculos que frequenta. Entusiasma-se facilmente pela novidade, iniciando vários projetos, mas sem os
concluir. No passeio final, extravasa o seu desencanto, desilusão e frustração, perante o país e perante o falhanço dos
seus projetos.

A sociedade representada é a aristocracia decadente e a alta burguesia sem vontade própria e espírito crítico, excessivamente
modista e materialista, muito distanciada das verdadeiras necessidades do país. Os seus hábitos sociais, o modo de vida, os
ambientes de doentia rotina são reveladores de ociosidade, superficialidade, corrupção, limitação intelectual, negação do
processo. É uma sociedade que vive do parecer em detrimento do ser. Assim, as suas personagens estão relacionadas a uma
representatividade social:

 Afonso – português austero, símbolo das virtudes e da moral de outrora.


 Pedro – português fruto da educação romântica sentimental e beata, propenso a comportamentos neuróticos e trágicos.
 Alencar – poeta ultrarromântico, lírico arrebatado, de um idealismo extremo e exacerbado.
 Cohen – financeiro sem escrúpulos, símbolo da alta finança nacional oportunista.
 Conde de Gouvarinho – político incompetente, retrógrado, mas com poder; Ministro e par do reino, representa a
incompetência política.
 Sousa Neto – representante da Administração Pública, incompetente e inculto.
 Eusebiozinho – produto da educação portuguesa, retrógrada e deformadora.
 Dâmaso – português vulgar de um estrato social privilegiado, é súmula de vários defeitos – calúnia, cobardia, imitação
servil do estrangeiro, falta de identidade.
 Ega – protótipo do demagogo, incoerente nas suas posições, alheio a convenções, mas vítima do meio que
irreverentemente contesta.
 Carlos – português educado superiormente, dotado de um gosto requintado, que se distancia da mediocridade do meio
social que o rodeia, mas vítima de um diletantismo e ociosidade que o impedem de concretizar os seus projetos e vencer.
 Cruges – intelectual incompreendido e marginalizado.
 Steinbroken – político neutro, que nunca se compromete.
 Palma Cavalão e Neves – jornalistas corruptos, representantes da baixeza moral e do compadrio político na informação.
 Craft – inglês, símbolo do caráter e do bom gosto britânicos.

Linguagem e estilo

Narrador: ausente e omnisciente, emitindo juízos de valores através da focalização interna.

A obra “Os Maias” integra a fase realista/naturalista de Eça, sendo, então, a linguagem utilizada harmonizada com os
propósitos do Realismo, com o propósito de fazer um retrato vivo, intenso, duradouro e verosímil da realidade. Marcada pelo
impressionismo das descrições e pelo realismo dos diálogos, a linguagem é usada de forma inovadora, atribuindo-lhe novos
valores estéticos e literários:

 Narração – ganha maleabilidade de modo a relatar objetivamente os acontecimentos;


 Diálogo – enche-se de força colonial;
 Descrição – frequentemente sensorial, afirma-se pelo rigor da observação e pela análise dos acontecimentos sociais;
 Monólogo – ajuda a perscrutar o mundo interior das personagens;
 Comentário – permite a intervenção do narrador, que tudo observa com um olhar crítico e contundente.

A descrição do real é concretizada através de várias opções linguísticas:

 Uso preferencial do pretérito imperfeito e do gerúndio;


 Emprego de diminutivos (sugerem sensações e são usados com intencionalidade irónica);
 Utilização de um vocábulo sensorial, incluindo neologismos e estrangeirismos;
 Recursos expressivos dominantes:
o Personificação;
o Ironia;
o Comparação;
o Metáfora;
o Sinestesia.

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