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FACETEN – Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil

CURSO: LICENTURA EM HISTÓRIA


DISCIPLINA: TEORIA DA HISTÓRIA II
PROFESSOR:
ACADÊMICA:

MUCAJAÍ – RR
2021
RESUMO:
Teoria da História

No século XVIII, as ‘filosofias da história’ ganharam maior importância em sua


produção, e ao longo do século XIX foram fundamentais para a emergência da
Teoria da História. Isto se deve ao estabelecimento de condições epistemológicas
para que sejam trazidas para o centro da discussão historiográfica as questões
teóricas, ao lado das questões metodológicas.
A palavra teoria pode ser direcionada, nesse contexto, para se referir ao
modo de compreender, sistematizar ou interpretar por meio de documentos, que
estabelece determinados padrões, conceitos ou princípios entre si a fim de entender,
descrever e/ou explicar o objeto da observação. Mesmo que seja rigoroso e
impessoal com sua forma de análise, a formulação de uma teoria sempre ocorre a
partir de determinados valores, ideias e percepções do sujeito observador, o qual
está inserido em um tempo, espaço e circunstâncias específicas. A elaboração de
uma teoria, oriunda da relação entre sujeito e campo de observação, não é dada,
mas construída mutuamente de modo circular.
A palavra história possui significações que são marcadas pelo tempo, e dizem
respeito às relações das pessoas com o passado, presente e futuro. Dentre as
diversas significações de história, interessa neste trabalho, apresentar sob a
concepção da historiografia, esta considerada o desenvolvimento da história
enquanto disciplina – pois não existe escrita da história sem a reunião de operações
e procedimentos disciplinares – uma discussão das funções e necessidades de se
ter, estudar, analisar a história sob uma ótica diferenciada.
Assim, mediante essa perspectiva, apresenta-se aqui uma corrente ideológica
que se faz importante no construto historiográfico da história, onde denominada de
Nova História, esta surgiu nos anos 1970 e correspondente à terceira geração da
chamada Escola dos Annales. Seu nome derivou da publicação da obra "Fazer a
História", em três volumes, organizada pelos historiadores Jacques Le Goff e Pierre
Nora, seus principais expoentes na França.
A nova história é a história das soberanias; trata-se de estabelecer uma
história que banaliza as formas de representação coletivas e as estruturas mentais
das sociedades, cabendo ao historiador a análise e interpretação crítica dos dados.
São analisados globalmente os fenômenos de longa duração, os grandes conjuntos
coerentes na sua organização social e econômica e articulados por um sistema de
representações homogêneo. A nova história também recorre à antropologia
histórica. Por sua definição abrangente do objeto da História, essa corrente também
foi designada "História total", em contraste com as abordagens que privilegiam a
política ou a "teoria do grande homem" de Thomas Carlyle e outros.
A nova história rejeita a composição da História unicamente como narrativa e
a valorização dos documentos oficiais como única fonte básica de pesquisa. Em
contrapartida, considera as motivações e intenções individuais como elementos
explicativos para os eventos históricos, mantendo a velha crença na objetividade.
Hervé Coutau-Bégarie, em sua obra Le phénomène nouvelle histoire,
considera que a nova história falha, no entanto, por não considerar a história política,
militar e diplomática. No entanto, autores argumentam que a Nova História não
desconsidera a história política, militar e diplomática, mas sim enfoca um leque mais
diverso de fontes.
Nesse contexto de revisão crítica dos paradigmas tradicionais da escrita
histórica, está situado a historiografia recente sobre o cotidiano, revelando novos
sujeitos, antes negligenciados pela historiografia tradicional, novas experiências
sociais e interpenetrações entre as esferas do público e do privado, explorando, para
tal, novas fontes e métodos para sua análise.
O estudo do cotidiano oferece uma perspectiva privilegiada de análise, pronta
a subverte concepções universalistas, cristalizadas pela historiografia tradicional,
evidenciando uma multiplicidade de sujeitos históricos, bem como de temas antes
desprezados.
A expansão e o enriquecimento dos temas de investigação propostos pelos
estudos do cotidiano foram acompanhados por renovações dos marcos temáticos e
metodológicos, enfoques e modos de análise inovadores que, além de questionar os
paradigmas tradicionais, vêm colocando novas questões, descobrindo novas fontes,
enfim, contribuindo para redefinir e ampliar noções tradicionais do significado
histórico.
Em oposição à história tradicional, os novos referenciais analíticos, reunidos
sob o signo da Nouvelle Histoire, caracterizam-se, como sugere Jacques Le Goff e
Pierre Nora, pelo descortinamento de novos problemas, abordagens e objetos no
campo dos estudos históricos.
É na ampliação das áreas de investigação proporcionada pelo esforço teórico
e metodológico da Nova História que se situam os estudos sobre o cotidiano,
sobretudo pela análise da dimensão política deste, levantando questionamentos
sobre as transformações na sociedade, na família e nas condutas de homens e
mulheres. Ainda, pela análise do político na esfera privada e cotidiana, operando
tanto um deslocamento das análises sobre o poder centradas no Estado, típicas na
história metódica, como uma ampliação dessa noção para o campo dos discursos,
saberes – como poderes – e ações cotidianas, numa politização do dia-a-dia, ou
melhor, na sua evidenciação como problema de pesquisa.
O interesse de historiadores pelo cotidiano não é exatamente recente como
se poderia supor pela emergência desses estudos no contexto da Nova História.
Trata-se mais de uma redescoberta, embora sob uma perspectiva teórico-
metodológica bastante distinta das primeiras investigações históricas. Esse campo
de investigação foi recuperado pelos historiadores ligados ao movimento dos
Annales, em sua terceira fase, no momento de emergência de uma história
antropológica.
Perspectivado pela história – e sob os influxos dos novos referenciais – o
cotidiano responde a questões amplas, sobre as sociedades, ou melhor, sobre os
homens e mulheres em movimento no tempo e no espaço. Essa história que se
debruça audaciosamente sobre o cotidiano realiza-se no aparente paradoxo: ao
descortinar o processo de construção de instituições, poderes, saberes, verdades,
hábitos e tradições, pelas relações sociais e tensões inerentes a esse âmbito,
desconstrói-se categorias abstratas, tomadas irrefletidamente como universais,
independentes do terreno histórico e social em que se constituem culturalmente,
rompendo com os essencialismos que tornam ininteligível a vida social em sua
historicidade.
Destacam-se, todavia, algumas dificuldades enfrentadas pela história do
cotidiano, sobretudo pela diversidade de significações atribuídas à noção de
cotidiano, como “vida privada”, “mundo das pessoas comuns” e “reino da rotina”.
Outro desafio é analisar a relação entre as estruturas do cotidiano e as condições de
produção das mudanças – aí reside a vitalidade dos estudos do cotidiano –,
lançando luzes nas experiências comuns para compreensão tanto das continuidades
quanto dos processos de mudança social, superando a ilusão de um cotidiano
imutável através de uma abordagem analítica, relacionando-o às conjunturas e
estabelecendo relações e articulações mais amplas com o processo de
transformações sociais, econômicas, políticas e culturais.
Na historiografia, também surgiu de dentro da vertente neomarxista inglesa e
da história francesa dos Annales, a abertura de uma nova corrente historiográfica a
que chamamos de História Cultural ou mesmo de Nova História Cultural.
Para se construir esta nova história cultural foram deixadas de lado
concepções de viés marxistas, que entendiam a cultura como um reflexo das
estruturas sociais. Da mesma forma, abandonou-se o conceito de cultura como
manifestação superior do conhecimento, como domínio das elites.
Em linhas gerais, pode-se afirmar que a história cultural, no final do século
XX, passou a decifrar a realidade do passado por meio das suas representações. O
historiador passou a se dedicar ao estudo das diferentes relações sociais, dos mitos,
dos valores, das crenças, etc.
Seguindo esta linha, autores como Robert Darton produziram obras
memoráveis, que retrataram a sociedade, a cultura, o cotidiano, de uma forma até
então desconhecida. A título de exemplo podemos citar o livro O grande Massacres
de Gatos e outros episódios da História Cultural Francesa, obra dedicada à análise
da maneira de pensar na França do século XVIII, dos valores culturais, dos mitos e
do cotidiano.
Uma outra característica da história cultural, constatada após a década de
1980 diz respeito à redução da escala de abordagem. Por meio da denominada
micro-história, a historiografia propôs-se a estudar as vivências históricas individuais,
passiveis de serem parcialmente reconstituídas, como um nível privilegiado de
observação.

REFERÊNCIAS

BURKE, Peter. A Escola dos Annales, 1929 - 1989. São Paulo: UNESP, 2003.

DEL PRIORE, M. História do cotidiano e da vida privada In: CARDOSO, C. F.,


VAINFAS, R. (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de
Janeiro: Editora Campus, 1997. p. 376- 398

SALLES, Jéssica Scheer. Teoria da História. 2021? Disponível em:


<https://www.infoescola.com/historia/teoria-da-historia/> Acesso em: 16 abr. 2021.

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