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Publicação do
Instituto Brasileiro de Direito Comercial Comparado
e Biblioteca Tulio Ascarelli
e do Instituto de Direito Econ8mico e Financeiro,
respectivamente anexos aos
Depattamentos de Direito Comercial e de
Direito Econ8mico e Financeiro da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Edição da
Editora Revista dos Tribunais Ltda.
l
CONTROLE EXTERNO NAS COMPANHIAS
1 - Conceituação
outro como observa o Prof. Comparato), se exerce com muito menos carga
dominial, com muito menos influência de direito sobre a empresa e a sociedade.
Numa palavra, o controlador externo somente possui um direito de crédito contra
a sociedade, eventualmente um direito de garantia, possivelmente até uma expec-
tativa de assunção do controle interno, mas basicamente não tem um direito
de dispor dos bens de terceiros corno proprietário.
Assim, poderíamos concluir desde logo que o controle externo é o exercício,
não de uma soberania, mas de um poder contratual de constrição, ou como
observou o Prof. Fábio Comparato, seria o exercício "d'un pouvoir de contrainte
ou de domination". (Essai d'Analyse Dualiste dei l'Obligation en Droit Privé,
Dalloz, 1964, Paris, pp. 115 e ss.).
Não nos parece melhor a informação de Jean Paillusseau que distingue a
concentração empresarial em "por integração" (caso da associação vertical), da
"quase-integração" que a seu ver seria o processo pelo qual uma empresa domi-
nante exerce uma influência unilateral e preponderante, um quase-controle, sobre
as decisões das empresas dominadas (La Societé Anonyme - Technique d'Orga-
nisation de /'Entreprise, Sirey, 1967, Paris, p. 116). A separação parece pecar
do mesmo sentido de definir pela negativa, o que, ainda que didático, pode ser
completado.
Num estudo publicado no vai. LXXII-72 da Revista da Faculdade de Di-
reito da USP, Philomeno J. da Costa, embora com o fito de discutir tese diversa,
concluía de forma mais positiva, distinguindo os ajuntamentos de natureza
associativa (controle interno), daqueles de natureza contratual (o que Paillusseau
chama de quase-integração; que seria o equivalente ao controle externo) (Aspec-
tos da sociedade por ações, Imprensa Oficial do Estado, 2.° Fase., 1977, p. 83).
Com efeito, todo poder externo dimana de um contrato, mesmo em casos
tais em que o Poder Público, em sendo parte interessada, submeta os interesses
particular~s, aos coletivos, o que na palavra de Josserand nada mais seria que a
publicização do contrato. Não poderia um indivíduo pretender, por sua simples
determinação, em batendo na porta da empresa, influir ah extra, por exemplo,
nos destinos da Standard Oil of New Jersey, da IBM ou da Petrobrás. Há de
haver uma causa desta dominação e ela reside no contrato, com raras exceções
atípicas. como no caso de dominação por força legal . como na intervenção
administrativa, objeto da Lei 6.024/74.
Estas conceituações se destinam a um fim prático. Para nós o controlador
externo somente pode responder pelos danos causados à sociedade ou aos acio-
nistas "si et in quantum" houver agido além de seus limites contratuais, quando
deixar de respeitar, segundo Karl Larenz, entre outros requisitos, aqui menos
importantes, as "normas legais coativas" e "os bons costumes", como por
exemplo, quando esta "explore a situação econômica comprometida da outra
impondo-lhe condições opressivas" (Derecho de Obligaciones, t. !, Rev. Der.
Privado, 1958, Madrid, pp. 55 e ss.).
Em síntese, o controle externo é o direito de pretender o cumprimento de
uma divida, ou mesmo a expectativa ou desejo de transformação de direito de
crédito em controle interno, decorrente de um poder contratual de ação (não no
sentido processual, como salienta o mestre).
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IV -- l;onclusões
Parece-nos que o campo de estudo do controle externo é de uma amplitude
inexplorada. Os problemas suscitáveis no estudo do controle interno são espécies
de dissolução do núcleo atómico infinitesimal da sociedade, enquanto os pro-
blemas do controle externo são de dispersão de efeitos obrigacionais da mesma
sociedade.
Dois exemplos interessantes e dimensionais, lembrados ao acaso, servem
como ilustração. Quando o controle tecnológico for exercido por uma companhia
multinacional ou estrangeira, geralmente sobre uma pequena e próspera compa-
nhia média nacional, como poderá o direito, ausente de coerção, buscar noutro j
território, a responsabilização da empresa dominadora? Conseguem, enfim, não
só os acionistas lesados, mas o próprio Estado, exercer a coerção fora de seu
território? O assunto interliga-se com um dos principais temas de direito inter-
nacional privado.
Outro angustiante problema consiste em saber se apenas u1n acionista, sozi-
nho pode mover ação de responsabilidade contra a sociedade. Segundo que
condições haverá legitimação ativa para pleitear em juízo? ·Haveria aplicação
analógica do art. 246, § l .º, "a" da atual lei das companhias, também para o
controle interno, ou mais além, para o controle externo? Não podemos nos
esquecer da validade lógica do precedente americano, citado por Gower, no caso
Foss v. Harbottle, no sentido de que, se cada acionista movesse ação contra a
companhia, esta poderia ter que só se dedicar a respondê-las. A questão contrária
também se põe: haveria então irresponsabilização quantitativa? (The Principies
.of Modern Company Law, 3.ª ed., S.' impres., Stevens & Sons, 1969, Londres,
pp. 581 e ss.).
DOUTRINA 75