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Apostila
História do Jornalismo
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques
O autor
Luís Henrique Marques é jornalista com bacharelado e mestrado pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru, e historiador, com licenciatura em
História pelo Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR) e doutorado em História pela
mesma universidade, campus de Assis. Possui mais de 20 anos de jornalismo e 20
anos de atuação no magistério superior. Atualmente, é docente do curso de
Jornalismo da Universidade Paulista (Unip) e tutor presencial e a distância do curso de
História EaD do CEUCLAR. Acumula também experiência em assessoria de
imprensa, jornalismo comunitário, produção de programas jornalísticos e culturais em
rádio, reportagem e redação em revista e é autor da obra Teoria e pratica da redação
para jornalismo impresso (Edusc, 2003), além de diferentes artigos científicos sobre
temas a respeito de história da comunicação religiosa, sua área de pesquisa
acadêmico-científica.
Apostila de História do Jornalismo 3
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2º semestre de 2013
PLANO DE ENSINO
I – EMENTA
II – OBJETIVOS GERAIS
IV – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
V – ESTRATÉGIAS DE TRABALHO
• Aulas expositivas.
• Exercícios em classe, realizados individualmente e em grupo: discussão e debates;
elaboração de hipóteses; reunião de dados por meio de leituras, observação, seleção de
ilustrações e exemplos; avaliação crítica dos dados; formulação de conclusões.
• Análise e produção de textos.
VI – AVALIAÇÃO
VII – BIBLIOGRAFIA
Bibliografia Básica
Bibliografia Complementar
Cronograma
Semana/ Conteúdo
Data
1ª – 9/8 Apresentação geral da disciplina; A evolução da imprensa: do
jornalismo revolucionário na França ao New Journalism
2ª – 16/8 Continuação do tema anterior
3ª – 23/8 Continuação do tema anterior: o caso Watergate e o jornalismo hoje
4ª – 30/8 Continuação do tema anterior
5ª – 6/9 O Jornalismo e a História: semelhanças e diferenças no ato de narrar
Fato histórico e fato jornalístico; Jornalismo como fonte histórica
6ª – 13/9 O papel dos jornalistas nas grandes transformações sociais e conflitos
mundiais
7ª – 20/9 A imprensa colonial no Brasil
8ª – 27/9 A imprensa na Independência: as condições políticas e a perseguição
à imprensa ou Prova 1
9ª – 4/10 Prova 1 ou A imprensa na Independência: as condições políticas e a
perseguição à imprensa
10ª – 11/10 Relações entre imprensa e literatura
11ª – 18/10 A imprensa brasileira na República Velha
12ª – 25/10 O Estado Novo e a censura à imprensa; A formação das grandes
cadeias jornalísticas
13ª – 1º/11 O golpe de 1964 e a imprensa; A imprensa e a redemocratização
14ª – 8/11 As grandes questões atuais e o jornalismo (meio ambiente, terrorismo,
cidadania etc)
15ª – 15/11 Feriado nacional (Dia da Proclamação da República)
16ª – 22/11 Prova 2
17ª – 29/11 Prova Substitutiva
18ª – 6/12 Exame
Apostila de História do Jornalismo 6
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2º semestre de 2013
A comunicação social e as origens do jornalismo
O jornal
Para definir quais publicações são, de fato, jornais, entre tantos materiais
impressos que a humanidade já produziu – desde o surgimento da imprensa de
Gutenberg -, os historiadores têm levando em conta algumas características básicas
para a classificação de um material impresso como jornal, a saber:
a) é publicado regularmente e com freqüência;
b) inclui variedade de assuntos abordados;
c) apresenta título consistente e reconhecível, além do formato próprio.
A Gazzetta veneziana
1
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Florianópolis: Insular/Editora da UFSC, 3. ed.
2001, p. 25.
2
Idem, p. 25.
3
Gazzette, em italiano, é o plural de gazzetta.
Apostila de História do Jornalismo 8
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2º semestre de 2013
historiadores acreditam tratar-se do governo; outros, de escritores profissionais de
notícia, os avvisatori).
Em Strasburgo, na Alemanha, no ano de 1609, Johann Carolus passou a
imprimir um semanário, acredita-se, produzido a partir de um material manuscrito. Os
primeiros jornais europeus impressos reuniam notícias curtas e de locais diversos,
assim como eram organizadas as gazzette.
O Coranto holandês
Superando limitações
4
DeFLUER, Melvin & BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa.
Tradução: Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.
Apostila de História do Jornalismo 9
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A evolução da imprensa no mundo
Notícias e Revolução
Publicismo
A história identifica que a economia do jornalismo faz ora a opção dos jornais
por atingir leitores mais abastados (porque atraem mais anunciantes), ora por atingir
leitores mais pobres (porque isso aumenta a circulação). Nos EUA, amenizadas as
disputas partidárias no período pós-revolução, os jornais voltam-se aos negócios e,
em função disso, aos leitores.
Benjamin Day funda, em 1833, o jornal Sun cujo lema se tornou “brilha para
todos”. De caráter bastante popular (seja pelo preço seja pelo conteúdo), em pouco
tempo, atinge um amplo público. Jornais como este formaram o que ficou conhecido
como “imprensa pobre”. Sobre esse tipo de imprensa, De Fleur (1993) afirma: “um dos
mais importantes aspectos do jornal de tostão de (Benjamin) Day, e dos que se
seguiram, foi a redefinição de ‘notícia’ para se adaptar aos gostos, interesses e
capacidades de leitura do nível menos instruído da sociedade”.
O surgimento da imprensa a vapor no lugar do velho modelo inventado por
Gutenberg acelera e amplia a produção de jornais – inclusive diários – em milhares de
exemplares. Isso contribui para que os editores, aos poucos e sempre mais, se
desvinculem da interferência financeira dos políticos. Ao mesmo tempo, esses jornais
contribuem para que as camadas mais pobres da população participem mais do
processo político do país.
Na Inglaterra, contudo, o processo é bem diferente. O governo mantém o
controle sobre a imprensa, inclusive com a manutenção do antigo imposto sobre as
publicações (o imposto do Selo). Muitos jornais existem clandestinamente para não
pagar o imposto. Essa imprensa marginal estimula a população a participar dos
assuntos do governo, até que esse imposto é abolido em 1855.
Nos EUA, a imprensa passa a ter uma circulação massiva, sendo o lucro obtido
dos anúncios e não mais da circulação. Nesse período, destaque para a ação de
Joseph Pulitzer cujo primeiro jornal – o New York World – passa de 20 mil exemplares
em 1883 para uma tiragem de 190 mil durante a semana e 250 mil aos domingos, em
1887. Ele mistura sensacionalismo, política progressiva e campanhas para chamar a
atenção sobre si, constituindo o que ficou conhecido como “novo jornalismo”. A disputa
de Pulitzer com seu ex-empregado William Randolph Hearst deu origem ao que ficou
conhecido como “jornalismo amarelo”, quando as tiragens dos seus jornais
ultrapassaram a marca de um milhão de exemplares5.
Em Londres, na Inglaterra, por iniciativa do próprio Pulitzer em parceria com
Alfred Harmsworth, é fundado o Daily Mirror cujo formato – tablóide – ganha força a
uma nova onda de jornalismo popular. Nos EUA, surge então o Daily News. (O termo
tablóide surgiu inspirada num produto farmacêutico da década de 1880 sob
forma de comprimido e de fácil digestão).
Do incentivo à revolução no século 18 com seu discurso progressista contra os
monopólios imperialistas, os jornais passaram eles mesmos a constituírem um novo
monopólio, o “do saber”, uma vez que este passou a estar sob o controle do capital
(confira quadro a seguir sobre “Sensacionalismo e educação”)
5
A concorrência entre os diários do chamado “jornalismo amarelo” norte-americano assumiu
proporções alarmantes. Tudo se justificava para vencer a concorrência. Tantos foram os
excessos, que a sociedade daquele país, representada por grupos e instituições organizadas
(igrejas, partidos políticos, empresários etc) e pelas próprias organizações de editores e
publicadores, reagiu agressivamente a essa prática jornalística e conseguiu fazer com que os
jornais passassem a observar normas que melhor regulassem o trabalho da imprensa. A
expressão “jornalismo amarelo” tem origem num primitivo personagem – o “Garoto Amarelo” –
que foi um dos recursos (no caso, o uso de desenhos coloridos) que os jornais desse período
utilizaram como artifício para vencer a concorrência, chamando a atenção do público.
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Sensacionalismo e educação
A veneração do fato
6
Trecho extraído da obra “Comunicação Mundo: história das idéias e das estratégias”, de
Armand Mattelart, Editora Vozes, 1994, página 27.
Apostila de História do Jornalismo 13
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internacionais. Apenas na virada do século é que a americana vai empreender essa via.
Por um acordo explícito assinado em 1870, o cartel Havas, Reuter e Wolff partilha entre si
o mercado mundial. O território da agência parisiense é mais especialmente a Europa
Meridional; o da Wolff, a Europa Central e Setentrional. Quanto à britânica, vai se modelar
segundo as linhas de força do império. Desde o início, um de seus alvo privilegiados será
a informação comercial e financeira. A originalidade de Havas é o fato de combinar
informação com publicidade. Por essa acumulação, será a precursora dos grupos
multimídia do século XX. Outra originalidade é a história complexa de suas imbricações
com o Estado. Na seqüência da Primeira Guerra Mundial, Wolff deixa de ser uma agência
mundial. E, por isso mesmo, as agências Havas e Reuter acabam sendo reforçadas até os
anos 30, época em que as agências americanas AP e United Press (UP) hão de começar
a caçar notícias no mesmo terreno.
A rápida progressão das redes das grandes agências é paralela ao advento de
uma imprensa liberada dos constrangimentos a censura. De 1853 a 1861, a Grã-Bretanha
suprime os ‘impostos sobre o saber’ que entravavam o desenvolvimento de uma imprensa
de massa. Os Estados Unidos já se encontravam na dianteira pois, bem antes de 1850,
tinha surgido uma imprensa cotidiana, a preços módicos, lida pelo povo.
Na França, em 1881, a legislação marca uma etapa. A imprensa e a atividade
editorial são livres. O depósito prévio é suprimido, assim como a caução e a taxa. Os
únicos delitos da imprensa são a provocação ao crime, a incitação de militares à
desobediência, os ultrajes ao presidente da República, os gritos sediciosos, os ultrajes aos
bons costumes, as difamações e injúrias pessoais, a ofensa contra chefes de Estado e
agentes diplomáticos estrangeiros. Divulgação, venda e afixação são autorizadas. O
diretor é responsável pela publicação; seu nome deve figurar no jornal. Tal era, em
substância, o conteúdo da lei francesa de 29 de julho de 1881, saudada como a grande lei
sobre a liberdade de imprensa e considerada como a vitória da burguesia republicana.
Em 1890, ‘Le Petit Parisien’ gaba-se por ser o primeiro cotidiano popular europeu a
ultrapassar a tiragem de um milhão de exemplares. O ‘New York Journal’ do americano
William Randolph Hearst, emblema da imprensa sensacionalista, não chega a atingir essa
cifra, a despeito de seus suplementos dominicais e seus ‘comics’. De um e outro lado do
Atlântico, a concorrência estimula a procura dos primeiros gêneros da cultura de massa.
Na França, onde ‘Le Petit Journal’ e ‘Le Petit Parisien’ travam uma guerra encarniçada
entre si, o folhetim se converte em um dos trunfos do jornalismo popular. Introduzido a
partir de 1836, esse gênero atingirá seu apogeu no meio da década de 1880, quando esse
jornais vão publicar dois ou três folhetins ao mesmo tempo com a ajuda importante de
campanhas promocionais.
Nos Estados Unidos, a luta entre os suplementos dominicais do jornal de Hearst e
do ‘New York World’ de Joseph Pulitzer vê surgir, em 1894, os primeiros ‘comics’. Em
menos de quinze anos, a primeira estratégia de penetração do mercado internacional terá
atingido o ponto de bala a partir desse tipo de produto editorial. Em 1909, Hearst cria o
primeiro ‘syndicate’, International News Service: a função dessa agência é vender aos
jornais material literário, artigos de divulgação científica, palavras cruzadas e histórias em
quadrinhos. Vai suceder-lhe, em 1915, O King Feature Syndicate: entre seus produtos de
base estão os ‘comics’. Conseqüência da reestruturação desse gênero em torno do
‘syndicate’: o fim do estágio artesanal em benefício da divisão do trabalho e da produção
(a agência arroga-se o direito de ‘autor’; pode retocar, suprimir e modificar, encontrar um
sucessor por ocasião do desaparecimento do desenhador; tem, portanto, uma política
editorial); uma ‘padronização do material que proporciona uma certa homogeneidade me
face do mercado internacional e elimina os aspectos críticos ou agressivos que poderiam
afastar os clientes de países com costumes, religião ou princípios políticos diferentes’.
No entanto, é no domínio da indústria cinematográfica que se prepara o primeiro processo
importante de internacionalização da cultura de massa nascente. As primeiras projeções
cinematográficas realizaram-se em Paris e Berlim, em 1895; no ano seguinte, em Londres,
Bruxelas e Nova Iorque. Os irmãos Lumiére disputam com Edison a primazia da invenção
dessa técnica.(...)”
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O caso do Watergate7
O caso Watergate é o mais conhecido escândalo político da história americana,
e "Garganta Profunda" é a fonte anônima mais famosa do jornalismo. O que começou
com o que parecia ser um mero roubo em junho de 1972 levou à queda do presidente
Richard Nixon e também revelou uma trama política de espionagem, sabotagem e
suborno.
Algumas pessoas dizem que o caso mudou a cultura política americana para
sempre, derrubando o presidente de seu pedestal e tornando a imprensa mais
corajosa. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal americano
Washington Post, desempenharam um papel-chave na revelação do escândalo,
auxiliados por informações cruciais de seu misterioso informante.
Pesadelo político
Gravações secretas
7
Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/12/19/entenda-escandalo-de-watergate-
587370049.asp
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'Siga o rastro do dinheiro'
Textos de referência:
ESPERANÇA, Clarice Gontarski. Testemunhas ou fontes: relações e
desencontros entre jornalistas e historiadores. Em Questão, Porto Alegre, v. 12,
n. 2, p. 235-251, jun./dez.2006.
MOURA, Samira da Silva. Jornalismo e História: caminhos que se cruzam.
Jornalismo História
No início: foco no registro do instante, do No início: foco na recuperação e
novo, do imediato. reinterpretação do passado.
Hoje: freqüente referência a fatos Hoje: mídia é tida como fonte de
passados. Divulgação dos fatos exige pesquisa por ser documento capaz de
contextualização histórica. recuperar, ao menos em parte, o
cotidiano.
Uso da entrevista. Uso da entrevista (História Oral).
Emprego de sua visão de mundo quando Emprego de sua visão de mundo quando
realiza seu relato. realiza seu relato.
Poder de transmissão de informação. Poder de transmissão de informação e
produção do conhecimento.
Ao basear-se em relato de fontes Ao basear-se em relato de fontes
(testemunhas), visa reconstruir o real. (testemunhas), visa reconstruir o real.
Testemunha (fonte) produz afirmação de Testemunha (fonte) produz afirmação de
algo que, de fato, existiu, aconteceu. algo que, de fato, existiu, aconteceu.
Mediante entrevista, ela é vista como Busca-se analisar o significado dos
acesso à informação por excelência. Em testemunhos para além do aparente, mas
razão da autoridade moral de quem que identifiquem permanências,
testemunha, o fato passado é contingências (incertezas) e
considerado verdade objetiva. subjetividade.
Relato jornalístico é feito mediante o uso Relato historiográfico é feito mediante o
da investigação apressada e linguagem uso da investigação cautelosa, teórica e
fluente e atrativa. metodologicamente embasada. Uso da
linguagem erudita e complexa.
O jornalista torna-se “fiador” do relato da Verdade não é apontada, mas sim as
testemunha a quem atribui a “verdade verdades possíveis.
dos fatos”.
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A imprensa colonial no Brasil e A imprensa na Independência:
as condições políticas e a perseguição à imprensa
“Primeiras batalhas8
8
Texto extraído do livro “Imprensa e História do Brasil”, de Maria Helena R. Capelatto,
Contexto/EDUSP, 2a ed., 1994, página 38.
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A atuação da imprensa nesse movimento teve muita importância. O Typhis
Pernambuco, fundado e dirigido por frei Caneca, instigou a população contra o
governo que, entre outras arbitrariedades, dissolvera a Constituinte. O periódico O
Desengano dos Brasileiros também teve papel significativo na Confederação.
Nessa época, tornou-se famoso Cipriano Barata. Através de suas Sentinelas
da Liberdade, escritas muitas vezes no cárcere, travou polêmica acirrada com o
político conservador Visconde de Cairu (José da Silva Lisboa). Cipriano afirmou:
Essa afirmativa data de 1823, ano em que teve início um período de intensa
repressão política. Jornalistas foram perseguidos, espancados, processados e
deportados.
Na fase de Abdicação, Regência e Maioridade alguns jornais se destacaram.
Dentre ele a Aurora Fluminense de Evaristo da Veiga, que fez campanha pela
abdicação de D. Pedro I.
Durante a Regência proliferaram os pasquins, jornais de formato reduzido e
poucas páginas, de linguagem violenta e função agitadora. Tinham curta duração e
entraram em declínio após a Maioridade. Outros jornais dessa mesma época
sobreviveram por mais tempo.
Em 1827 surgiu o famoso Jornal do Commercio do Rio de Janeiro; em 1829 o
Observador Constitucional (São Paulo) de Líbero Badaró que promoveu intensa luta
pela liberdade de imprensa. Badaró acabou sendo assassinado.
Na segunda metade do século XIX começaram a aparecer os jornais
republicanos. O primeiro foi o O Apóstolo (1849) de Minas Gerais. O Jornal do
Commercio, O Correio Paulistano, Diário de Pernambuco e muitos outros
transformaram-se em arautos de uma nova era”.
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Relações entre imprensa e literatura
Textos de referência:
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tânia Regina (organizadoras). História da imprensa
no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p. 107-111.
PENA, Felipe. Jornalismo literário. São Paulo: Contexto, 2006, p. 11-36.
• Jornalismo literário:
potencializa os recursos do jornalismo;
ultrapassa os limites dos acontecimentos cotidianos;
proporciona visões amplas da realidade;
exerce plenamente a cidadania (contribui para a formação do cidadão e da
solidariedade);
rompe as correntes burocráticas do lead;
evita os definidores primários (“as fontes de sempre”, as “oficiais”; na verdade,
vai além desse tipo de fonte, indo ao encontro do cidadão comum, anônimo);
garante perenidade e profundidade aos relatos.
Movimento conhecido como New Journalism (iniciado nas redações dos EUA
na década de 1960): para alguns historiadores, seu iniciador foi o jornalista
Daniel Defoe (Diário do ano da peste, 1665; Robinson Crusoé, 1719; Moll
Flanders, 1722). Outros nomes: John Hersey (Hiroshima, 1946) e Truman
Capote (A sangue frio, 1965). Motivação do movimento: insatisfação de
jornalistas com as regras de objetividade do texto jornalístico (lead, por
exemplo) e opção pelo valor estético do texto (uso de técnicas literárias).
Recursos básicos: reconstruir a história cena a cena; registrar diálogos
completos; apresentar as cenas pelos pontos de vista de diferentes
personagens; registrar hábitos, roupas, gestos e outras características
simbólicas do personagem. Suas novas vertentes:
- Jornalismo Gonzo: versão mais radical do New Journalism. Criador: Hunter S.
Thompson (repórter da Rolling Stone). Fundamentos: entrevistado deve ser
provocado para que a reportagem renda; é preciso viver as reportagens para
poder relatá-las. Características: não se preocupa com personagem da história;
o autor é o próprio personagem; tudo que for narrado é a partir da visão do
jornalista que o faz com irreverência, sarcasmo, exageros e opinião. No Brasil,
conferir: www.jornalistademerda.org.
- Novo Jornalismo Novo: é uma atualização – embora, não organizada – do
“velho” Novo Jornalismo. Principais características: explorar situações do
cotidiano, do mundo ordinário, das subculturas, sem usar da abordagem do
exotismo ou do extraordinário; envolvimento com matéria e entrevistados; tom
informal (sem preocupações estilísticas). Objetivos: assumir perfil ativista,
questionar valores, propor soluções.
Textos de referência:
MARQUES, Luís Henrique. História da comunicação. Bauru: Universidade do
Sagrado Coração, 2008, p. 23-26 (apostila).
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tânia Regina (organizadoras). História da imprensa
no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p. 83-102.
“A revolução (de 1930) não assegura, desde logo, como era do seu objetivo, a
democracia formal de inspiração liberal, basicamente porque não se liberta totalmente
dos grupos oligárquicos e das contradições ideológicas, mas muda o país e moderna
as instituições”. A afirmação é do jornalista e escritor Juarez Bahia (1990). Para ele,
essa modernização chega também aos jornais e, em seguida, ao rádio, revistas, livros
e propaganda – que vão constituir o aparato a nascente indústria cultural brasileira –
os quais são atingidos por significativas transformações.
Essa modernização começa pelo posicionamento de parte da imprensa em
relação aos fatos que abalam as antigas estruturas do País nos anos 30 (como é o
caso da Revolução Constitucionalista de 32): esta se alinha com as reivindicações que
pedem a modernização do Estado brasileiro, tais como o voto livre, secreto e
universal, o acesso de todas as camadas sociais aos benefícios do desenvolvimento,
o fim do colonialismo etc. Cada vez mais independente do poder político, a imprensa
brasileira se coloca na condição de “voz do povo” e pressiona o governo a mudanças,
como foi a promulgação da Constituição de 1934 por Getúlio Vargas.
A modernização da imprensa brasileira é verificável também na inovação dos
conteúdos e aprimoramento dos seus recursos técnicos (exemplo: a introdução do
sistema ofsete); pela utilização de uma ortografia simplificada; pelo uso do material
enviado por agências (Associated Press e Reuters) na cobertura internacional. Esse
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desenvolvimento da imprensa – e especificamente dos jornais – contribui para o
desenvolvimento dos outros veículos de comunicação que, por sua vez, pressionam
os jornais a constantes inovações.
O exemplo do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro: o que havia de mais
moderno chegava à sua redação com a novidade das máquinas de escrever para
cada um dos jornalistas; foi um dos primeiros a estampar tiras de histórias em
quadrinhos e dedicar uma página para esportes. Além disso, a partir de 1924,
introduziu uma seção sobre rádio e, a partir de 1929, outra sobre cinema. Ainda a
partir de 1922, passou a publicar seções de informações recebidas da agência
internacional de notícias United Press, além das já publicadas notícias das agências
Havas e Reuters. Além disso, detinha o monopólio de classificados.
Textos complementares
Reportagem gráfica (caricatura, charges etc)
9
Texto extraído da obra Reportagem, imprensa, estilo e manuais de redação: a construção
da autoria nos textos do jornalismo diário, de Jacira Werle Rodrigues (FACOS/UFSM, Santa
Maria-RS), 2003, p. 22-24..
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ter sido o repórter que documentou as modificações, na sociedade de sua época, pois,
independente do pioneirismo, soube usar a metodologia. A observação da realidade,
vinculada à busca por informações na rua, e a utilização de fontes e entrevistas,
aliadas à tentativa de aprofundar, contextualizar, reconstruir os fatos e humanizar os
relatos, são os pontos-chave levantados por Medina (1988), na carreira de Paulo
Barreto, quanto ao universo das informações jornalísticas.
Quanto ao estilo de texto, a própria Medina afirma que João do Rio não é um
estilista modelo. Ele lembra, também, que as críticas são fruto dos crivos das análises
feitas por conhecedores de trabalhos de reportagem amadurecida. O posicionamento
do narrados é um deles. Na realidade, a postura é de autor, e não de um intermediário
impessoal, entre fato e leitor. Essa situação mostra-se clara, expõe Medina, no
momento em que a transcrição dos diálogos, apesar de trazer dinâmica à narrativa,
possui tom centrado, excessivamente, no interlocutor. Apesar disso, alternativas para
as narrações surgem nos textos. “O ritmo de cenas, situações descritas, é dinâmico,
fixa o leitor na ação – as frases entram no ritmo, se precipitam; conforme o tema
palpitante, as falas dão cor local à informação. Os deslizes retóricos ficam em segundo
plano” (MEDINA, 1988, p. 63).
Assim como o sumiço de João do Rio, mesmo tendo uma obra que levanta
contradições nas análises dos pesquisadores, a reportagem parece desaparecer da
imprensa por um período, além de serem escassos os estudos sobre o seu
desenvolvimento. “Depois de João do Rio, parece existir um hiato na evolução da
reportagem brasileira, que só vai ser retomada significativamente após a Segunda
Guerra, chegando ao ápice da renovação no período 1966-1968”. (PEREIRA LIMA,
1995, p. 166)
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O Estado Novo e a censura. A formação das grandes cadeias
jornalísticas. O golpe de 1964 e a imprensa.
Textos de referência:
MARQUES, Luís Henrique. História da comunicação. Bauru: Universidade do
Sagrado Coração, 2008, p. 26-31 e p. 59-61 (apostila).
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tania Regina (organizadoras). História da imprensa
no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p. 167-174.
(...) O famoso artigo 122 da Constituição de 1937, que tratava dos direitos e
garantias individuais, considerava a imprensa um serviço de utilidade pública, o que
alterava a natureza de sua relação com o Estado e impunha aos periódicos a
obrigação de inserir comunicados do governo. (...)
O direito individual de livre manifestação, por sua vez, subordinava-se a
condições e limites prescritos em lei. Em nome de garantir a paz, a ordem e a
segurança pública, justificava-se a censura prévia à imprensa, teatro, cinema e
radiodifusão, além de se facultar às autoridades competência para proibir a circulação,
a difusão ou a representação do quer que fosse considerado impróprio.
10
Trechos extraídos da obra História da imprensa no Brasil, de Ana Luiza Martins e Tania
Regina de Luca (orgs.), Editora Contexto, 2008, p. 167-174.
11
A chamada Revolução de 1930, protagonizada por Vargas, “não se limitou a repisar práticas
conhecidas, como o suborno ou a violência, antes inovou ao criar órgãos específicos
destinados à propaganda e ao controle da informação, caso do sempre citado Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP), genericamente referido como responsável pela censura na
Era Vargas”. (MARTINS; DE LUCA, 2008, p. 170).
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(...) a Agência Nacional, que coordenava as atividades relativas à imprensa,
“atuava como um jornal, durante os três expedientes, dispondo de equipes completas
de redatores, repórteres, tradutores, taquígrafos etc, inclusive editores em áreas
específicas e editor-chefe. Porcentagem muito significativa do que se publicava nos
matutinos, semanários e mensários provinha desse braço do DIP.
A isenção de taxas alfandegárias na importação do papel utilizado pela
imprensa constituiu-se noutro poderoso instrumento de coerção.
(...) O quadro alterou-se significativamente a partir de 1942, quando a batalha
no interior do círculo governista foi ganha pelos defensores dos Aliados [da Segunda
Guerra Mundial], o que implicou mudanças significativas, como exemplifica a saída de
Lourival Fontes do DIP. A contradição entre a luta a favor da democracia nos campos
de batalha e as restrições à liberdade no âmbito interno não poderia persistir
indefinidamente. E a imprensa tomou parte ativa no desgaste que acabou levando à
deposição de Getúlio Vargas em 1945.
Grupo Abril
Esse grupo foi criado em 1950 pelo ítalo-americano Victor Civita. Iniciou suas
atividades com revistas infantis da Disney. Hoje, possui o maior parque gráfico da
América Latina. Entre suas publicações, está a revista Veja, considerada uma das
quatro maiores do mundo. Sua entrada na área da televisão foi impedida pela ditadura
militar. Apenas no final da década de 1980, o grupo obtém o direito a um canal aberto
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em UHF. A partir da década de 1990, a organização chega aos canais MMDS (início
da TV por assinatura no Brasil).
Experiências internacionais
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É no mínimo curioso constatar, no entanto, que a própria grande imprensa – inclusive
grandes veículos liberais como o Correio da Manhã – criticou o governo de João Goulart pelo
estado de corrupção que existia no País no período imediatamente anterior ao golpe de 64,
chegando a pedir o seu afastamento da presidência da República.
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Escreve Bahia (ibid): “A convivência das ideologias dominantes no golpe de 64
é interrompida pelo impasse ético que se cria entre os líderes militares e os diretores
dos grandes jornais que toleram tudo, menos a censura ‘vexatória’, executada por
delegados do arbítrio”. E completa: “A imprensa conservadora teme o prolongamento
das medidas ditatoriais e embora exalte acertos econômicos se mostra pessimista
quanto à evolução política e cética quanto à liberdade de opinião”.
O fortalecimento do poder militar cresce na mesma medida em que suas
relações com a imprensa se agravam. Veículos e profissionais, especialmente do
jornalismo impresso, são perseguidos com atitudes que vão desde a cassação de
credenciais (para repórteres que trabalhavam em repartições públicas), o
cancelamento da publicidade governamental, a instalação das leis de imprensa e de
segurança nacional (entre as quais, a mais temida foi o Ato Institucional nº 5, o AI-5)
até à prisão e tortura.
A censura militar parece chegar ao auge quando, em 1970, são criadas as
Normas Doutrinárias da Censura Federal:
É nesse contexto que a imprensa se supera para realizar o seu trabalho, criando
artifícios que lhe permitam, de alguma forma, burlar a censura militar. É o caso, por
exemplo, do uso frequente da notícia em off the record (sem identificação da fonte).
“Sem demora, esse tipo de informação se transforma em regra do noticiário,
construindo um jornalismo de versões dirigidas pelo interesse exclusivo de quem as
revela, sempre protegido pelo anonimato”. (Bahia, ibid). Por outro lado, “essa prática
sobrecarrega o veículo obrigado a acolher o que lhe traz o informante não identificado,
causando danos à sua reputação e enfraquecendo a sua credibilidade”. Vale salientar
que a censura, por sua vez, tinha o hábito de também usar o off para proibir e, depois,
negar a proibição em público.
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Mas a imprensa segue sua luta criativamente. De fato, nunca o jornalismo
brasileiro foi tão criativo quanto em relação ao regime militar de 1964 a 1985. Além
disso, a própria censura apresenta falhas. Ela não é uniforme nem consegue seguir a
risca suas próprias normas. Ao contrário, mostra-se subjetiva e aleatória, permitindo a
uns o que é negado a outros. A censura mostra-se também hilária, conforme relata
Juarez Bahia (ibid) ao registrar o seguinte fato:
Textos complementares
Breve passeio pelos anos 5013
Até os anos 50, eram o rádio e a imprensa escrita que detinham o monopólio
da informação. A televisão, hoje onipresente, apenas engatinhava – basta dizer que a
primeira emissora do país e da América Latina, a TV Tupi de São Paulo, de
propriedade de Assis Chateaubriand, foi inaugurada em setembro de 1950. O
noticiário radiofônico mais famoso, o Repórter Esso, só estreou na televisão em 1953.
Os jornais de grande circulação eram vespertinos e poucos, concentrados no Rio de
Janeiro e São Paulo, o que por si só era um claro indicador da importância política e
econômica dos dois centros. Os incipientes sistemas de telecomunicações, as
deficiências dos correios e as precárias condições das redes e meios de transportes
eram fatores que impediam a expansão rápida da comunicação por todo o território
nacional – um território, ainda por cima, de dimensões continentais.
A imprensa, antes dos anos 50, dependia dos favores do Estado, dos
pequenos anúncios populares ou domésticos – os classificados – e da publicidade das
lojas comerciais. Foi exatamente a partir daí, no segundo governo Vargas (1950-
1954), que o processo de industrialização do país se tornou mais visível e, no governo
de Juscelino Kubitschek (1956-1960), mais acelerado e irreversível. Com a maior
diversificação da atividade produtiva trazida pela indústria, começaram os
investimentos de peso em propaganda e surgiram as primeiras grandes agências de
publicidade. Era preciso, agora, anunciar produtos como automóveis e
eletrodomésticos, além de produtos alimentícios e agrícolas. Em pouco tempo, os
jornais passaram a obter 80% de sua receita dos anúncios. A ocupação do espaço
com publicidade passou a ser administrada por uma tabela de preços calculada em
centímetros de coluna ou em frações de tempo no rádio e na televisão. A publicidade
também obrigou os jornais a se preocupar em aumentar sua circulação, já que as
agências preferiam entregar seus anúncios aos veículos de maior tiragem, que
cobrissem as maiores áreas do território nacional.
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Texto extraído da obra A modernização da imprensa (1970-2000), de Alzira Alves de
Abreu, Coleção Descobrindo o Brasil, da Jorge Zahar Editor, 2002, p. 8-12.
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À medida que avançava o desenvolvimento industrial e aumentava o peso da
publicidade, a imprensa foi se tornando menos dependente do poder público. Mas,
afinal, quais eram os favores do Estado de que ela dependia naquela época? Eram,
como hoje, os financiamentos dos bancos oficiais, as isenções fiscais, a publicidade
governamental. No caso do rádio e da televisão, era principalmente a concessão de
canais. Mas no caso dos jornais havia um problema adicional: era o governo que
controlava a distribuição das quotas de papel, matéria-prima em grande parte
importada sem a qual o veículo simplesmente não existia.
A década de 1950 assistiu também ao lançamento de jornais que foram
precursores da modernização do jornalismo brasileiro, e as reformas de outros que
atuavam desde o início da República e então ganharam novo fôlego. A Última Hora,
criada em 1951, com financiamento do governo, foi um dos jornais mais inovadores do
período, ao adotar técnicas de comunicação de massa até então desconhecidas no
Brasil, uma diagramação revolucionária e grande racionalidade na gestão empresarial.
O Diário Carioca, jornal mais antigo, que mantinha um grupo de jornalistas altamente
qualificado, foi igualmente inovador ao introduzir, também em 1951, o uso do lead – o
parágrafo inicial da notícia, onde devem estar respondidas as questões quem? o quê?
onde? quando? como? por quê?. Foi ainda o Diário Carioca o primeiro a empregar
uma equipe de copidesque em sua redação, desempenhando um papel de formador
de novos quadros para a imprensa.
Em 1956, o Jornal do Brasil, que durante muitos anos foi tido como um “boletim
de anúncios”, deu início à sua reforma com a criação do Suplemento Dominical, o
SDJB, que tinha à frente Reynaldo Jardim. O SDJB recebeu a colaboração de poetas,
escritores, artistas plásticos, todos jovens de vanguarda ligados ao movimento
concretista, e seu sucesso foi tal que a direção do jornal decidiu aprofundar a reforma,
trazendo, para coordená-la, Odylo Costa Filho. Odylo, por sua vez, trouxe outros
jornalistas que vinham de experiências inovadoras no Diário Carioca e na Tribuna da
Imprensa. O jornal ampliou o noticiário, adotou a fotografia na primeira página e, a
partir de 1959, sob a orientação de Amílcar de Castro, sofreu modificações gráficas.
Surgiram o Caderno B, dedicado às artes, teatro e cinema. A redação foi
reestruturada, e a partir de 1962, já sob a direção de Alberto Dines, instituíram-se as
editorias, que se especializaram na cobertura de temas como política, economia,
esportes, cidade, internacional etc. A reforma do JB teria grande impacto e serviria de
exemplo para as transformações subsequentes da imprensa brasileira.
Uma das marcas do jornalismo dos anos 50 foi a paixão política. O debate
político conduzido pelos partidos de maior penetração nacional – de um lado o Partido
Social Democrático (PDS) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de outro a União
Democrática Nacional (UDN) – dominou o espaço de todos os jornais de grande
circulação do período, o que o levou muitos vezes a ter papel ativo nas crises que
sacudiram o país. Quando, por exemplo, Getúlio Vargas se suicidou, em 24 de agosto
de 1954, a Última Hora, que o apoiava, foi o único jornal que circulou no Rio de
Janeiro. Os demais foram impedidos pelo povo, que chegou a atacar as sedes da
Tribuna da Imprensa e de O Globo, opositores do presidente morto.
O jornalismo de combate, de crítica, de doutrina e de opinião convivia com o
jornal popular, que tinha como característica o grande espaço para o fait divers – a
notícia menor, relativa aos fatos do quotidiano, a crimes, acidentes etc -, para a
crônica e para o folhetim. A política não estava ausente, mas era apresentada com
uma linguagem pouco objetiva.
Esse jornalismo de influência francesa acabaria por ser substituído pelo modelo
norte-americano: um jornalismo que privilegia a informação e a notícia, e que separa o
comentário pessoal da transmissão objetiva e impessoal da informação. Mas esse
seria um processo lento e gradativo.
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A revista Cruzeiro
A evolução do jornalismo impresso brasileiro no final da década de 1920 possui
um marco: a revista O Cruzeiro (que, nos dois primeiros anos, foi conhecida
simplesmente como Cruzeiro, nome inspirado na constelação do Cruzeiro do Sul). Sua
proposta editorial é revolucionária, tanto em termos de conteúdo quanto de impressão
e veiculação da notícia, desbancando consideravelmente as concorrentes mais diretas
da época, Revista da Semana e Mundo Ilustrado. Seu fundador e proprietário: Assis
Chateabriand.
Segundo Juarez Bahia (1990), “as matérias do primeiro número de O Cruzeiro
refletem o que o país aspira”. De fato, a revista abandona as características de um
jornalismo colonial para estampar a imagem de um país voltado para o futuro, em
pleno progresso. Com o passar do tempo e sua consolidação como um dos principais
veículos de comunicação impressa do Brasil no período de 1920 a 1970,
aproximadamente, O Cruzeiro “alia à sua agilidade, dinâmica e objetividade, uma
visão realista do país”. (Bahia, ibid) O sucesso é tanto que a revista chega a publicar,
de abril de 1957 a setembro de 1965, sua edição em espanhol, para a América Latina.
Como dito acima, o produto de Chateaubriand – editada no Rio de Janeiro e acessível
a leitores dos principais Estados brasileiros numa tiragem de 50 mil exemplares,
inédita em sua categoria – muda a concepção de revista semanal ilustrada do país em
sua época, seja pelo talento e criatividade de sua redação, seja pelo seu modo de
produção industrial, o qual concilia organização e meios técnicos com sensibilidade e
improvisação. Entre as “estrelas” de O Cruzeiro estão os artistas Portinari, Di
Cavalcanti, Guignard; os caricaturistas e humoristas Péricles (autor de “Amigo da
Onça”), Ziraldo, Carlos Estevão e Vão Gogo (Millôr Fernandes), entre outros.
Enquanto marco no trabalho de reportagem, O Cruzeiro revolucionou o
jornalismo impresso brasileiro:
a) ao valorizar a fotografia, que assume função prioritária e se especializa,
diferenciando-se do simples “retrato”. Há inovação com o uso da fotografia em
primeiro plano (utilizado para fixar o rosto da pessoa fotografada);
b) com o acabamento das reportagens produzido pelos ilustradores;
c) ao publicar em espaços nobres matérias sobre temas até então pouco
explorados como a mulher, a moda, a música, o teatro, a vida social;
d) ao se autopromover, por exemplo, com o patrocínio de concursos de
arquitetura e fotografia;
e) ao inaugurar a grande reportagem;
f) ao criar a primeira dupla de reportagem (formada pelo repórter e
fotojornalista), responsável pela cobertura de grandes eventos.
Questões preliminares
Informatização da imprensa
• A modernização da imprensa brasileira deu seus primeiros passos na década
de 1930, avançou na década de 1950 e consolidou o jornalismo como empresa
na década de 1960. No início dos anos 80, essa modernização avançou ainda
mais com a substituição das máquinas de escrever pelos computadores. Esse
processo não se deu, contudo, sem resistência por parte de muitos
profissionais que sentiam dificuldade em adaptar-se à nova tecnologia. Havia
também aqueles que receavam que o jornal impresso deixaria de existir para
dar lugar ao computador.
• É preciso afirmar que, com o computador, a mudança na rotina de uma
redação foi radical: o barulho das máquinas de escrever sumiu; o arquivamento
de informações e o trabalho de edição tornaram-se mais seguro e eficiente; a
partir do momento em que editores e revisores se familiarizaram com o uso do
editor de texto, aos poucos, a figura do revisor praticamente deixou de existir. A
conexão em rede também agilizou o processo de produção/edição das
matérias.
• O passo seguinte nessa modernização foi aprofundar o processo de
informatização do trabalho do jornal (já bastante “industrializado”), de modo a
atender as exigências de um mercado cada vez mais competitivo.
• A Folha de S. Paulo foi o primeiro, entre os grandes jornais brasileiros, a
implantar esse processo de informatização a qual veio agregada a um projeto
mais amplo, aplicado no início dos anos de 1980, o chamado Projeto Folha. “O
jornal, que angariara um tremendo prestígio ao envolver até a sua última
rotativa na campanha das Diretas Já!, decidiu incorporar métodos de
organização do trabalho similares aos das grandes indústrias e restringir a
opinião aos editoriais e colunas assinadas”, escreve a jornalista Luiza Villaméa.
O Manual de Redação da Folha tornou-se o referencial teórico do projeto cujas
diretrizes acabaram sendo incorporadas pela maioria dos veículos de imprensa
do País. Entre os princípios fundamentais do Projeto Folha “está a necessidade
de o jornalista apresentar ao leitor os diversos lados da história”.
A imprensa e a redemocratização
• No início dos anos 80, o governo da Ditadura Militar instalado no Brasil a partir
do golpe de 1964, demonstrava estar em crise, inclusive porque havia um
racha entre os seus líderes (havia aqueles que acenavam para uma abertura
política e relaxamento na censura e aqueles que ainda apostavam no uso da
força como forma de manter-se no poder). Algumas ações – de caráter
terrorista – ajudaram a minar o poder dos militares, uma vez que tiveram uma
repercussão muito negativa junto à sociedade civil. Um desses casos – entre
os últimos e bastante famoso – foi o chamado caso Riocentro: