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ASSISTÊNCIA AO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO OFERTADA POR

ENFERMEIROS NO BRASIL: revisão de literaturas publicadas no período


de 2016 a 2020

Kattysglay Endlich Silva Rocha1


Cleia Nascimento dos Santos 2
Cleiry Simone Moreira da Silva3

Resumo: Segundo o Ministério da Saúde a assistência ao pré-natal é um serviço de atendimento à


gestante, que visa a proteção e prevenção de complicações materno-infantil. Objetivo: analisar a
assistência pré-natal de baixo risco oferecida às gestantes usuárias do serviço de saúde no Brasil.
Método: trata-se de uma revisão de literatura, com a seleção e o fichamento de artigos originários das
seguintes banco de dados: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e LILACS (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Resultados: considerou-se os indicadores de qualidade
da assistência ao pré-natal de baixo risco, preconizados pelo Ministério da saúde; que são: número de
consultas realizadas, idade gestacional de início do pré-natal, educação em saúde, exame físico, exames
laboratoriais, realização de ultrassonografia, imunização completa, cuidados com a alimentação e
higiene, prescrição de sulfato ferroso e ácido fólico, assiduidade às consultas e consulta puerperal.
Considerações: os achados mostram o desafio da assistência pré-natal e apontam a necessidade de
permanentes avaliações e monitoramento dos serviços prestados, a fim de que, seja garantida uma
consulta pré-natal de qualidade, para que seja assegurado a diminuição da morbimortalidade materna-
infantil.

Palavras chave: Assistência ao Pré-natal, Enfermagem, Serviço de Saúde.

Abstract: According to the ministry of health in prenatal care, it is a service for pregnant women, aimed
at protecting and preventing maternal and child complications. Objective: to analyze low-risk prenatal
care offered to pregnant women who use health services in Brazil. Method: this is a literature review,
with the selection and listing of from the following databases- SCIELO (Scientific Electronic Library
Online) and LILACS (Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences). Results: we
considered the quality indicators of low risk prenatal care, recommended by the Ministry of health;
which are: number of consultations, gestational age at the beginning of prenatal care, health education,
physical examination, laboratory tests, ultrasound, complete immunization, care with food and hygiene,
prescription of ferrous sulfate and folic acid, attendance to consultations and puerperal consultation.
Considerations: the findings show the challenge of prenatal care and point to the need for permanent
evaluations and monitoring of the services provided, so that a quality prenatal consultation is guaranteed,
in order to ensure the reduction of maternal morbidity and mortality childish.

Keywords: Prenatal care, Nursing, Health Service.

1
Acadêmica do Curso de Pós-graduação em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Estácio da
Amazônia, e-mail: kattys.endlich@hotmail.com.
2
Acadêmica do Curso de Pós-graduação latu sensu Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Estácio da
Amazônia, e-mail: cleiasantos363@gmail.com
3
Docente do Curso de Pós-graduação latu sensu Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Estácio da
Amazônia, e-mail: cleiry.silva@estacio.br.
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1 INTRODUÇÃO

O período da gestação para uma mulher é um momento único, onde ela se transforma
físico e emocionalmente, não só a mulher, como toda a família e o meio se mobiliza para a
chegada de um novo integrante. E em todos os casos espera-se que a criança e a mãe saiam da
maternidade com saúde e sem intercorrências após o parto.
O objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gestação,
permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive
abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas (BRASIL, 2012).
Nesse sentido compreende-se que o pré-natal, através das consultas, promoção de
informações, da facilidade de acesso aos serviços de saúde necessários e orientações
satisfatórias, colabore evitando situações de risco e/ou complicações materno-infantil. O
enfermeiro por sua vez, possui uma vasta contribuição nesse processo, uma vez que, segundo
o Ministério da Saúde (MS), a assistência ao pré-natal de baixo risco pode ser realizado
integralmente por um profissional enfermeiro, sendo capaz de identificar situações que
apresente risco e de intervir.
A assistência pré-natal é um serviço de atendimento à gestante, onde destaca-se atuando
na proteção e prevenção de complicações atuais e/ou futuras na mãe e no bebê. Segundo Brasil
(2012), menciona que o “objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento
da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde
materna”.
Ainda, para Carvalho (2004), a assistência pré-natal talvez seja o principal indicador do
prognóstico ao nascimento e caracteriza-se desde a concepção até o início do trabalho de parto,
de forma preventiva, tendo como objetivos: identificar, tratar ou controlar patologias; prevenir
complicações na gestação e parto; assegurar a boa saúde materna; promover bom
desenvolvimento fetal; reduzir os índices de morbimortalidade materna e fetal e preparar o casal
para o exercício da paternidade.
Brasil (2006), preconiza um conjunto de recursos que se fazem necessários para que o
pré-natal seja realizado com qualidade, são eles: disponibilidade de recursos humanos; recursos
físicos; equipamentos e instrumentais mínimos; apoio laboratorial; material para registro,
análise dos dados e medicamentos.
Alguns autores (BARBEIRO, 2015; LANSKY, 2014), trazem que a assistência pré-
natal de qualidade têm capacidade de diminuir a morbidade e a mortalidade materna e infantil.

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Nesse sentido, a rejeição ou a realização inadequada dessa assistência tem sido relacionada a
maiores índices de morbimortalidade materno-infantil.
O MS, segundo o Caderno de Atenção Básica – Atenção ao pré-natal de baixo risco
(2012), traz que o acesso ao cuidado do pré-natal no primeiro trimestre da gestação tem sido
incorporado como indicador de avaliação da qualidade da Atenção Básica. E ressalta a
importância da captação de gestantes para início oportuno do pré-natal é essencial para o
diagnóstico precoce de alterações e para a realização de intervenções adequadas sobre
condições que tornam vulneráveis a saúde da gestante e a da criança.
A atenção ao pré-natal qualificado e humanizado, se dá por meio da incorporação de
condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias; do fácil acesso a serviços de saúde de
qualidade, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e
assistência à saúde da gestante e do recém-nascido, desde o atendimento ambulatorial básico
ao atendimento hospitalar para alto risco (BRASIL, 2006).
Para a gestante de risco habitual, o Programa de Humanização no Pré-natal e
Nascimento (PHPN) instituiu as normas básicas para uma assistência qualificada e humanizada,
recomendando a primeira consulta PN antes do quarto mês de gestação, mínimo de seis
consultas pré-natais (uma no primeiro trimestre da gestação, duas no segundo e três no terceiro)
e a consulta puerperal até 42 dias após o parto (BRASIL, 2000).
Portanto, é de extrema importância que o pré-natal na assistência de enfermagem seja
executado com qualidade, visto que, o enfermeiro conforme recomendação do Ministério da
Saúde, têm total autonomia de conduzir todo o pré-natal de baixo risco, conforme garantido
pela Lei do Exercício Profissional, regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87. Cabe ainda ao
enfermeiro, realizar a consulta de enfermagem; realizar a prescrição de enfermagem; prescrever
medicamentos, desde que estabelecido em programas de saúde pública e em rotina aprovada
pela instituição de saúde; prestar assistência a parturiente, puérpera e realizar educação em
saúde, sendo respaldado pela lei 7.498/86.
Barbosa (2011) enfatiza que o trabalho da Enfermagem está centrado no cuidado e tem
como sujeito o cliente. Dessa forma, o profissional tem o dever de participar do processo de
avaliação do “fazer da Enfermagem” de forma a contribuir para a melhoria da assistência
prestada nos serviços de saúde, inclusive na Estratégia de Saúde da Família. Diante disso,
Barbosa (2011) destaca que é necessário conhecer a percepção das gestantes quanto à Consulta
de Enfermagem pré-natal realizada no âmbito da atenção primária, como forma de detectar os

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fatores relacionados à satisfação e/ou insatisfação desse grupo. Sendo assim, torna-se
indispensável à Enfermagem estudos que abordem o reconhecimento do seu trabalho e
competência no âmbito da Estratégia de Saúde da Família, especificamente no atendimento às
gestantes com pré-natal de risco habitual, visto que a percepção do usuário é também importante
para as profissões.
A atenção pré-natal destaca-se como fator essencial na proteção e na prevenção a
eventos adversos sobre a saúde obstétrica, possibilitando a identificação e o manuseio clínico
de intervenções oportunas sobre potenciais fatores de risco para complicações à saúde das mães
e de seus recém-nascidos (BASSO, 2012).
A mortalidade infantil consiste num dos principais indicadores de saúde, uma vez que
permite medir a qualidade de vida de uma população, avaliar o nível de desenvolvimento e o
acesso aos serviços de saúde.
Muitas crianças vão a óbito antes de completar um ano de idade. Roraima registrou em
2013 uma taxa de mortalidade infantil de 18,11%. Em 2017 o Estado registrou 196 casos de
óbito materno, sendo 119 no município de Boa Vista. No mesmo período o estado registrou
131 casos de óbito fetal, 71 apenas na capital (DATASUS, 2019). Além disso, de acordo com
a Organização Mundial da Saúde, cerca de 289.000 mulheres morreram durante a gravidez ou
complicações relacionadas ao parto, incluindo causas consideradas evitáveis (WORLD, 2014).
Em seu estudo Waldemar et.al (2016), ressaltou que, todos os dias ocorrem óbitos maternos
evitáveis devido a complicações relacionadas à gravidez ou ao parto.
Apesar da mortalidade infantil mostrar uma tendência ao descenso nos últimos anos, a
sua taxa ainda permanece elevada, sendo que os principais motivos de mortalidade em crianças
menores de cinco anos incluem causas perinatais, infecções respiratórias, desnutrição e doenças
diarreicas (OMS/BRASIL, 2003).
Dentre as causas perinatais, que são decorrentes de problemas durante a gestação, parto
e nascimento, destacam-se as infecções neonatais, hipóxia/anóxia neonatal, malformações
congênitas, prematuridade e doenças sindrômicas (BASSO, 2012). Na maioria dos casos, essas
mortes perinatais podem ser consideradas evitáveis, por meio de serviços qualificados de
assistência ao pré-natal, parto e puerpério. Com isso, o Ministério da Saúde (MS) implementou,
em 1983, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), tendo como um dos
objetivos aperfeiçoar o controle do pré-natal, parto e puerpério (GONÇALVES, 2008).

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Para melhor qualificação da assistência em pré-natal, o MS lançou, em 2000, o
Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) e, em 2004, a Política Nacional
de Atenção à Saúde Integral da Mulher PNAISM), com a finalidade de ampliar o acesso aos
serviços de saúde, a cobertura e a qualidade da atenção no período perinatal. Ressalta-se, ainda,
a ênfase dessa política e programas focalizando a assistência integral à saúde da mulher,
buscando torná-las protagonistas das ações de saúde (BASSO, 2012).
A qualidade da assistência pré-natal tem se tornado cada vez mais importante pela
persistência de altos índices de mortalidades materna e perinatal. Nessa ótica, torna-se
fundamental, tanto para a saúde materna quanto neonatal, uma atenção pré-natal qualificada e
humanizada. As condições da assistência prestada à gestante, por meio do pré-natal, juntamente
com a assistência ao parto e ao recém-nascido, podem contribuir efetivamente para que os
coeficientes de morbimortalidade infantil sejam reduzidos.
Este estudo tem como principal objetivo analisar a assistência pré-natal de baixo risco
oferecida às gestantes usuárias do serviço de saúde no Brasil, possibilitando a indicação de
áreas que necessitem de incrementos ao padrão de qualidade de acordo como é preconizado
pelo Ministério da saúde.
Justifica-se o estudo por contribuir para a construção do conhecimento em saúde e
enfermagem. A relevância deste estudo reflete-se na necessidade de qualificação das ações de
enfermagem no pré-natal, a fim de contribuir para minimizar a morbimortalidade materno-
infantil.

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de uma revisão de literatura, com a seleção e o fichamento de artigos originários


das seguintes rede de dados: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde).
Os critérios de inclusão foram artigos realizados no Brasil, com idioma em português,
publicados entre o ano de 2016 a 2020, com textos na integra, sob o critério de pesquisa
realizado através das redes de dados acima mencionadas com as seguintes palavras-chave:
“qualidade do pré-natal”. Os critérios de exclusão foram artigos publicados em anos anteriores
a 2016, de língua estrangeira e artigos não encontrados nas redes de pesquisas mencionadas.

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Após essa seleção, os artigos passíveis de pesquisa de dados foram armazenados numa
pasta e analisados, utilizando como critério de seleção de dados textos que se enquadram no
objetivo geral da atual pesquisa. Vejamos o quadro I:
PROCEDIMENTOS DE DADOS
BANCO DE DADOS SCIELO LILACS
Descritores: Qualidade do Pré-natal 423 776
Tipo de trabalho: artigo 393 590
Idioma: português 354 480
Ano de publicação: 2016 a 2020 90 111
País pesquisado: Brasil 56 39
Área temática: Enfermagem 13 08
Amostra final 13 08
Quadro I – Estratégia de Procedimento de Seleção de dados
Fonte: Rocha, Santos e Silva, 2020.

Finalmente, para o procedimento e a análise dos dados dos 21 (vinte e um) artigos, foram
observados os resultados sobre o tema a assistência pré-natal de baixo risco ofertados nos
serviços de saúde no Brasil; a partir dos critérios de inclusão supracitados e após foi realizada
a leitura dos textos buscando os resultados comum entre os autores. Ressaltamos que, por se
tratar de um estudo de revisão de literatura, não foi preciso de apreciação do comitê de ética em
pesquisa.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Contexto Histórico e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher


O Sistema Único de Saúde deve estar orientado e capacitado para a atenção integral à
saúde da mulher, numa perspectiva que contemple a promoção da saúde, as necessidades de
saúde da população feminina, o controle de patologias mais prevalentes nesse grupo e a garantia
do direito à saúde (BRASIL,2004).
A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mulheres em todos os ciclos
de vida, resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e dos distintos grupos
populacionais (mulheres negras, indígenas, residentes em áreas urbanas e rurais, residentes em
locais de difícil acesso, em situação de risco, presidiárias, de orientação homossexual, com
deficiência, dentre outras) (BRASIL, 2004).
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De acordo com o IBGE (2017) as mulheres são a maioria da população brasileira
(51,6%), e as principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasil (2004), reitera que
elas frequentam os serviços de saúde para o seu próprio atendimento mas, sobretudo,
acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas, com deficiência, vizinhos, amigos.
São também cuidadoras, não só das crianças ou outros membros da família, mas também de
pessoas da vizinhança e da comunidade.
No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas
primeiras décadas do século XX, sendo limitada, nesse período, às demandas relativas à
gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, elaborados nas décadas de 30, 50 e 70,
traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no seu
papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com a
saúde dos filhos e demais familiares (BRASIL,2004).
Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde
da Mulher (PAISM), com princípios, diretrizes e propostas de descentralização, hierarquização
e regionalização dos serviços, a integralidade e a equidade da atenção (BRASIL,2004).
O novo programa para a saúde da mulher incluí ações educativas, preventivas, de
diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica
ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, infecção
sexualmente transmissíveis, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades
identificadas a partir do perfil populacional das mulheres (BRASIL, 1984).
Na área da saúde da mulher, a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS)
estabelece para os municípios a garantia das ações básicas mínimas de pré-natal e puerpério,
planejamento familiar e prevenção do câncer de colo uterino e, para garantir o acesso às ações
de maior complexidade, prevê a conformação de sistemas funcionais e resolutivos de
assistência à saúde, por meio da organização dos territórios estaduais (COELHO, 2003).
Desde a implantação do Sistema de Informação Ambulatorial (AIH), registra-se uma
tendência de aumento do número de consultas de pré-natal, especialmente a partir de 1997. Em
1995, foram registradas 1,2 consultas de pré-natal para cada parto realizado no SUS. Em
dezembro de 2002, essa razão era de 4,4 consultas de pré-natal para cada parto (Tabnet SIA-
Datasus e TabwinAIH-Datasus, 2003).
Apesar do aumento do número de consultas de pré-natal, a qualidade dessa assistência
é precária, o que pode ser atestado pela alta incidência de sífilis congênita, estimada em 12

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casos/1.000 nascidos vivos, no SUS (PN-DST/AIDS, 2002) e também pelo fato da hipertensão
arterial ser a causa mais frequente de morte materna no Brasil (BRASIL, 2012).
O Estado de Roraima, nos anos de 2012 a 2017, registrou uma prevalência de 341 casos
de sífilis congênita, sendo 85,6% dos casos identificados no município de Boa Vista (SINAN-
NET, 2018).
Observou-se aumento da cobertura da assistência pré-natal e do número de consultas
por gestantes nos últimos 15 anos, sendo a proporção de gestantes sem acesso a qualquer
consulta de pré-natal inferior a 2% no ano 2009 (DOMINGUES, 2012).

3.2 Assistência ao Pré-natal de Baixo Risco

O acesso ao cuidado do pré-natal no primeiro trimestre da gestação tem sido incorporado


como indicador de avaliação da qualidade da Atenção Básica, sendo fundamental o
envolvimento de toda a equipe para a assistência integral à gestante (BRASIL, 2016).
A captação de gestantes para início oportuno do pré-natal é essencial para o diagnóstico
precoce de alterações e para a realização de intervenções adequadas sobre condições que tornam
vulneráveis a saúde da gestante e a da criança (BRASIL, 2016).
Se o início precoce do pré-natal é essencial para a adequada assistência, o número ideal
de consultas permanece controverso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o
número adequado seria igual ou superior a 6 (seis). Pode ser que, mesmo com um número mais
reduzido de consultas (porém, com maior ênfase para o conteúdo de cada uma delas) em casos
de pacientes de baixo risco, não haja aumento de resultados perinatais adversos (BRASIL,
2012).
Os cuidados assistenciais no primeiro trimestre são utilizados como um indicador maior
da qualidade dos cuidados maternos (BRASIL, 2012); e traz 10 passos para o Pré-Natal de
Qualidade na Atenção Básica: 1. Iniciar o pré-natal na Atenção Primária à Saúde até a 12ª
semana de gestação (captação precoce); 2. Garantir os recursos humanos, físicos, materiais e
técnicos necessários à atenção pré-natal; 3. Toda gestante deve ter assegurado a solicitação,
realização e avaliação em termo oportuno do resultado dos exames preconizados no
atendimento pré-natal; 4. Promover a escuta ativa da gestante e de seus acompanhantes,
considerando aspectos intelectuais, emocionais, sociais e culturais e não somente um cuidado
biológico: "rodas de gestantes"; 5. Garantir o transporte público gratuito da gestante para o
atendimento pré-natal, quando necessário; 6. É direito do (a) parceiro (a) ser cuidado (realização
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de consultas, exames e ter acesso a informações) antes, durante e depois da gestação: "pré-natal
do (a) parceiro (a)"; 7. Garantir o acesso à unidade de referência especializada, caso seja
necessário; 8.Estimular e informar sobre os benefícios do parto fisiológico, incluindo a
elaboração do "Plano de Parto"; 9.Toda gestante tem direito de conhecer e visitar previamente
o serviço de saúde no qual irá dar à luz (vinculação) e 10. As mulheres devem conhecer e
exercer os direitos garantidos por lei no período gravídico-puerperal.

3.2.2 Assistência de enfermagem

Brasil (2012), retrata que a consulta de enfermagem é uma atividade independente,


realizada privativamente pelo enfermeiro, e tem como objetivo propiciar condições para a
promoção da saúde da gestante e a melhoria na sua qualidade de vida, mediante uma abordagem
contextualizada e participativa. O profissional enfermeiro pode acompanhar inteiramente o pré-
natal de baixo risco na rede básica de saúde, de acordo com o Ministério de Saúde e conforme
garantido pela Lei do Exercício Profissional, regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87.
Durante a consulta de enfermagem, além da competência técnica, o enfermeiro deve
demonstrar interesse pela gestante e pelo seu modo de vida, ouvindo suas queixas e
considerando suas preocupações e angústias. Para isso, o enfermeiro deve fazer uso de uma
escuta qualificada, a fim de proporcionar a criação de vínculo. Assim, ele poderá contribuir
para a produção de mudanças concretas e saudáveis nas atitudes da gestante, de sua família e
comunidade, exercendo assim papel educativo (BRASIL,2012).
Os enfermeiros e os enfermeiros obstetras (estes últimos com titulação de especialistas
em obstetrícia) estão habilitados para atender ao pré-natal, aos partos normais sem distócia e ao
puerpério em hospitais, centros de parto normal, unidades de saúde ou em domicílio (BRASIL,
2012). Caso haja alguma intercorrência durante a gestação, os referidos profissionais devem
encaminhar a gestante para o médico continuar a assistência.
Brasil (2012), enfatiza que prestar assistência humanizada à mulher desde o início de
sua gravidez – período quando ocorrem mudanças físicas e emocionais, época que cada gestante
vivencia de forma diferente – é uma das atribuições da enfermagem nas equipes de Atenção
Básica. Outras atribuições são também a solicitação de exames complementares, a realização
de testes rápidos e a prescrição de medicamentos previamente estabelecidos em programas de
saúde pública (como o pré-natal) e em rotina aprovada pela instituição de saúde (BRASIL,
2012).

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4 ANÁLISE E RESULTADOS

Para realizar análise dos artigos, considerou-se os indicadores de qualidade da


assistência ao pré-natal de baixo risco, preconizados pelo Ministério da saúde. São eles: número
de consultas realizadas, idade gestacional de início do pré-natal, educação em saúde, exame
físico, exames laboratoriais, realização de ultrassonografia, imunização completa, cuidados
com a alimentação e higiene, prescrição de sulfato ferroso e ácido fólico, assiduidade às
consultas e consulta puerperal.
Entretanto, observou-se que todos os trabalhos indicaram uma taxa superior a 80% das
gestantes com 6 ou mais consultas. Os estudos foram unânimes, a mesma afirmação: a
quantidade de consultas não significou que as gestantes tivessem consultas satisfatórias, que as
gestantes saem com dúvidas não respondidas, que o tempo para tal não é insuficiente, e a
linguagem expressa pelos profissionais na maioria das vezes não é compreendida.
Entre as estatísticas, a prescrição de sulfato ferroso e ácido fólico foi maior entre as
mulheres autodeclaras não brancas, as com baixa renda, as da Região Nordeste, residentes em
municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As variáveis cor da pele e
renda familiar não influenciaram no exame físico. Porém o exame físico completo era realizado
com um índice maior em mulheres em fase adulta. As orientações estavam associadas com a
idade, quanto maior a faixa etária, maiores as proporções de orientações recebidas.
Gestantes de baixa renda receberam menos orientações. Notou-se que, as orientações
dadas pelos profissionais são consideradas precárias, visto a independência das gestantes frente
a certos assuntos da gestação, parto e pós-parto. Tal situação corrobora com o modelo
tecnocrático, que de acordo com Livramento (2019), faz com que as gestantes, ao invés de
serem empoderadas para serem protagonistas no processo de gestação, parto e nascimento,
tornam-se submissas aos profissionais de saúde e com pouca autonomia.
A realização dos exames foi mais bem aceita em mulheres autodeclaradas brancas, de
idades maiores, de renda média/alta e gestantes que realizaram um número maior de consultas.
Identificou-se também que, no último trimestre de gestação, houve uma diminuição na
realização de exames de rotina pré-natal. A realização de exames laboratoriais recomendados
pelo Ministério da Saúde, é indispensável porque, de acordo com Carvalho (2016), permitem a

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identificação precoce de intercorrências e possibilitam intervenções com poder de minimizar o
risco de morbimortalidade materna e perinatal.
Com relação ao puerpério, os artigos na sua maioria apontam uma baixa cobertura na
consulta puerperal. Ainda observou-se a carência de aperfeiçoar o acompanhamento e
orientações às puérperas para a realização da consulta antes dos sete dias do parto.
A preparação para o parto é outro fator pouco abordado. A pesquisa de Gonçalves
(2017), mostra que entre as mulheres que realizaram mais de seis consultas, 81,7% relataram
não ter recebido orientações para o parto durante o pré-natal. E as que receberam mais
orientações sobre o parto (80,8%), tiveram um intervalo de até 15 dias entre a última consulta
pré-natal.
A análise dos estudos, conforme os indicadores de qualidade que a assistência ao
cuidado pré-natal mostrou que 15% das gestantes receberam atenção com qualidade adequada,
e a pior atenção pré-natal foi dedicada às mulheres mais jovens, de baixa renda, das regiões
Norte e Centro-oeste e de municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano.

5 CONSIDERAÇÕES

Os dados reforçam que sejam ofertados nos serviços de saúde uma assistência de pré-
natal com propriedade, considerando que indicadores de qualidade, sem diferença de faixa
etária, raça, de renda ou dificuldade ao acesso à Unidade que oferece o serviço.

Considerando que essas ações dependem quase que exclusivamente dos profissionais de
saúde que oferecem a consulta, o ponto de partida é buscar onde acontece essas deficiências,
para então corrigi-las, e oferecer um pré-natal com mais qualidade, como o preconizado pelo
Ministério da Saúde.

Esses achados mostram o desafio da assistência pré-natal e apontam a necessidade de


permanentes avaliações desse serviço a fim de que seja garantida uma consulta pré-natal de
qualidade, para que em consequência disso, seja assegurado a diminuição da morbimortalidade
materna e perinatal.
Por fim, sugere-se que seja implantado um programa de monitoração e avaliação da
assistência pré-natal, além de aumentar o tempo de cada consulta às usuárias desse serviço, pois
somente a quantidade de consultas não determina a qualidade do serviço.

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