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O MuCEM, situado em Marselha, na França, tem muxarabis executados com o UHPC (Foto:
Alastair Wallace/Shutterstock)
CADEIA DE INSUMOS
A composição do Concreto de Ultra Alto Desempenho desafia o conceito de
concreto. O produto convencional é usualmente associado aos agregados graúdos
em torno de 2 cm. “O UHPC, apesar de ter o nome Concrete, não incorpora
partículas maiores do que 1 mm. Ou seja, fica na faixa granulométrica da
argamassa que, no entanto, é classificada como de uso não estrutural”, comenta o
professor Rafael Pileggi, lembrando que o setor do concreto prefere identificá-lo
como microconcreto.
O processo de produção do UHPC depende de uma cadeia de matérias-primas
organizada e de boa qualidade, abrangendo cimento, agregados (areias) e fillers.
As formulações são muito ricas em partículas finas. “São usados fillers de grãos
ainda mais finos do que o do cimento, geralmente subprodutos de processos
industriais, como o pó fino resultante da moagem da rocha, incluindo a cadeia das
pozolanas, ou seja, microssílica e sílica coloidal”, detalha o especialista.
Para atingir sua elevada resistência, a formulação leva, também, aditivos e baixo
teor de água. “Quando a água evapora, não deixa tantos poros no concreto. Mas,
para usar pouca água, é preciso acrescentar aditivos superplastificantes
(dispersantes), e outros como o retardador de pega e os que facilitam a mistura”,
diz. Já o cimento, principal elemento, deve ser o Portland de alta qualidade –
clínquer de alta resistência.
Reunidas todas essas matérias-primas é possível fazer o UHPC. “Mas, surge um
último detalhe: é mais difícil misturar muitos fillers com pouca água”, alerta. Daí
que a produção desse concreto está atrelada, geralmente, à indústria de pré-
fabricados, dotada de misturadores mais eficientes do que os convencionais e de
balanças e sistemas de dosagem de alta precisão.
RESTRIÇÃO INDUSTRIAL
No Brasil, ao contrário dos Estados Unidos e Europa, a cadeia de suprimentos do
UHPC ainda não é suficientemente organizada, mas já existe um forte movimento
para avançar, impulsionado pelos benefícios ambientais de uso dos fillers,
principalmente quando se trata de rejeito. Por enquanto, o fornecimento é sob
pedido, com custos que se elevam.
“Quanto à indústria, as concreteiras não conseguem produzir UHPC, pois
trabalham com centrais dosadoras sem misturadores adequados, sendo que quem
mistura é o caminhão betoneira. Portanto, quem têm condições industriais são as
fábricas de pré-fabricados”, ressalta Pileggi. Em São Paulo, existem edifícios
construídos com Concreto de Alto Desempenho (HPC), na faixa dos 120 MPa,
feito por central de concreto, porém, não mais do que isso. “Não é uma coisa
trivial”, comenta.
A beleza de se construir com o UHPC tem, pelo menos, dois
benefícios: menor impacto ambiental, pois se constrói o mesmo
elemento com menos massa; e menor impacto no transporte, já
que as peças pré-fabricadas são mais leves
Rafael Pileggi
O professor defende que a construção civil brasileira deve apostar em matérias-
primas nacionais e acredita na rápida evolução da indústria de pré-fabricados para
produzir em escala. Hoje, são poucas as empresas do segmento que fabricam o
UHPC e são, basicamente, elementos decorativos, como painéis de acabamento
de fachada e mobiliário urbano.
“A beleza de se construir com o UHPC tem, pelo menos, dois benefícios: menor
impacto ambiental, pois se constrói o mesmo elemento com menos massa; e
menor impacto no transporte, já que as peças pré-fabricadas são mais leves e,
portanto, são levadas em maior quantidade da fábrica à obra”, conclui.