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All content following this page was uploaded by Rui Aragao Oliveira on 16 May 2014.
Abstract:
Psychoanalitic clinical interview express parts of intrapsychic world of both, patient and
interviewer: unconscients worlds, conflicts, changing process and resistences.
This paper is about different theoretical conceptualizations of the psychoanalitical
interview, as well as unconscient communication and interview thecniques.
Research and clinical development of the psychoanalitical interview are discuss.
Por outro lado, sabemos de há muito que o facto de nos encontrarmos, no âmbito da
entrevista clínica, nas condições de observador participante, nos remete para condições
onde a objectividade e a certeza se tornam paradoxalmente relativas. Os trabalhos
clássicos da psicologia experimental sobre a influência da maior ou menor proximidade
entre entrevistador e entrevistado na capacidade de execução do entrevistador, mesmo
em tarefas simples, objectivas e sem grandes consequências assumem uma clarividência
que não deve ser desprezada pelo clínico: a inerência da comunicação emocional
inevitável entre psicoterapeuta e paciente, mesmo não sendo consciente (diria até,
essencialmente a que não é consciente), interfere na sua observação, nas suas decisões e
na riqueza dos dados obtidos. De tal forma, que torna capaz de “falsear” muitos dos
discursos traduzidos pelos instrumentos de avaliação clássicos, quando aplicados de
forma arbitrária e descontextualizada – um pouco como medir a pulsação ao sujeito
após ter subido 10 andares, não levando esse pormenor em conta: o elevado nível das
pulsões são bem reais, objectivamente comprovadas, mas traduzem somente uma visão
muito parcelar do seu estado de saúde genérico.
A entrevista, com fins de acompanhamento clínico, não pode então ser utilizada como
um mero instrumento mecânico, pecando por inevitavelmente cair numa reducionista
comunicação lógica apenas.
São necessárias condições mínimas para o seu exercício: as devidas qualificações
profissionais (que certamente dariam outro interessante tema de debate), que
obrigatoriamente deve passar por um conhecimento aprofundado do entrevistador do
seu próprio mundo mental; o respeito humano e a atitude exploratória ou de
investigação; a renúncia ao exercício de influência sobre o paciente; a tolerância à
frustração, principalmente de tolerar ansiedades desintegradoras e ainda o
desenvolvimento da capacidade empática, suportando funções de contenção das partes
mais destrutivas e confusionais do Eu.
O trabalho de equipa interdisciplinar, sem dúvida rico e importante, pode criar no
entrevistador uma pressão (temporal, confirmatório de suposto diagnóstico, ou então
simples de resolução “mágica” como esperança última), mesmo inconsciente, que surge
como uma limitação importante ao desenvolvimento do seu trabalho. Igualmente as
limitações temporais, compreensivelmente frequentes no âmbito institucional, podem
inviabilizar a riqueza expressa pela entrevista clínica.
Por último, mas talvez a mais frequente limitação seja a exigência internalizada do
entrevistador, do que poderíamos designar de “supervisor interno” (P. Casement, 1985),
que o pode cegar ou destruir a sua capacidade de ir à descoberta, e de tolerar o
desconhecido do paciente, mas também o desconhecido em si mesmo.
* * *
Parece-nos então que a entrevista clínica psicanalítica, complexa na sua
conceptualização, e diferenciada pela inclusão dos processos inconscientes, oferece-se
como um elemento extraordinariamente rico no trabalho clínico e de grande
potencialidade na investigação científica.
Os seus campos de aplicação na compreensão de aspectos inconscientes da dinâmica do
mundo mental são vastos e ainda longe de se encontrarem bem explorados, afirmando-
se como estratégia complementar fundamental em múltiplas acções sociais.
Porém, de manejo difícil, reclama preparação e maturidade do entrevistador, mas
constitui-se sem dúvida como capaz de alcances profundos e frutíferos.
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