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“ A máquina de fazer espanhóis ”

O livro que eu escolhi foi publicado em 2010 e chama-se “A máquina de fazer espanhóis” de Valter
Hugo Mãe, que é um dos principais escritores contemporâneos de língua portuguesa, nomeadamente José
Saramago elogiava a escrita do autor.

Este livro insere-se num conjunto de 4 livros que representam fases diferentes da vida, sendo este
o último dos quatro, simbolizando a fase terminal da velhice, inclusive dedica este livro ao pai porque não
chegou a viver este período da vida.

Vamos então acompanhar a história do senhor silva, que é tanto o narrador como o protagonista,
contando a história na primeira pessoa. Este era barbeiro e no momento da história já tem mais que 80
anos. Logo no primeiro capítulo ele perde a esposa com a qual já era casado há décadas e por essa razão a
filha decide enclausurá-lo num lar de idosos.

Este acontecimento conduz à perda de identidade do silva uma vez que antes tinha uma vida
organizada e uma rotina com a esposa, e de repente sem família, sem casa, vai para o lar contra a sua
vontade.

A narrativa é linear mas o autor recorre a momentos do passado, particularmente da época do


Estado Novo, uma vez que as pessoas que estavam com ele serão a última geração que viveu essa realidade
avassaladora e é como se as memórias desse tempo morressem com eles, daí a necessidade de se
debruçarem sobre o assunto e dar o seu testemunho.

Na história está muito presente a identidade portuguesa e o caracter patriotista, o que leva para
uma das minhas partes favoritas da obra, que se baseia na chegada de um novo habitante do lar que é o
Esteves. Este é uma personagem de um poema de Álvaro de Campos, e quando ele entra identifica-se
como o Esteves do poema e toda a gente reconhece e adora-o o que demonstra a nacionalidade
portuguesa, uma vez que o poema de Fernando Pessoa foi reconhecido por todos, o que se assemelha à
personificação da personagem de Pessoa, tal como acontece com Ricardo Reis no romance de Saramago.

A narrativa que tinha tudo para ser monótona sobre o dia-a-dia de velhinhos num lar é convertida
em cativante por ser uma personagem muito realista e transparente, sem ser nenhum herói. Até os
diálogos entre eles são envolventes e são sobre diversas temáticas relevantes.

A obra escrita apenas em letras minúsculas e pontos finais e vírgulas, o que de certa forma prepara
para a escrita de Saramago, mesmo tendo muita informação e estando neste formato fora do normal é
muito percetível. Inclusivamente tendo muita informação ao longo da obra, são informações profundas e
intensas, abrangendo sentimentos de perda, saudade, evolução mesmo neste período da vida de uma
forma cativante. O livro tinha tudo para ser deprimente mas pelo contrário encara a morte de uma forma
natural, uma vez que estando num lar estão constantemente a entrar e a sair pessoas, tal como o
epicurismo representava.

Em relação ao título, este não é percetível numa primeira instância, até é estranho “é um livro
sobre portugueses porque é que tem este título?” ao longo da história é que se reflete sobre o assunto e se
percebe o porquê.

Eu gostei muito do livro e acho que não há aqui ninguém que se lê-se não iria gostar da história e
dos temas abordados nela, pessoalmente não tenho o hábito de ler mas esta obra cativa, mesmo que o
tema à primeira vista não seja chamativo. Faz-nos refletir em diversos aspetos da vida, inclusive darmos
mais oportunidade de ouvir as pessoas mais idosas que têm tanto para nos dizer.

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