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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

AUH 310, História da Arte II

Artur Lima Flosi, 11237593


São Paulo, 17 de dezembro de 2021.

Avaliações da disciplina: Resenha de Place de la Concorde, Edgar Degas (1875).

Em Place de la Concorde Edgar Degas retrata a família de Ludovic-Napoléon


Lepic, um amigo íntimo do pintor. O aristocrata reside em Paris e na cena passeia com
suas filhas e um cachorro através da Praça da Concórdia. O primeiro plano da cena
apresenta além da família um flâneur. O fundo é composto pelo vasto chão da praça e
encerrado por um horizonte modesto de árvores e dois edifícios. Entre o horizonte e as
figuras principais há o paisagismo da praça, contendo uma fonte e postes de iluminação
bem como uma carruagem.
A tradição familiar retratada não pertence ao grupo daquelas cujo aspecto
principal são as relações austeras entre pais e filhos ou entre cônjuges. As filhas postam-
se livremente, olhando para direções distintas entre si e completamente opostas à do
pai. Seu caminhar é autônomo, ainda que devam naturalmente referenciar-se no pai
para saber aonde vão. Há certa conexão entre o caminhar de cada personagem, mas
mesmo o cachorro tem sua autonomia preservada porque desvia livremente sua
atenção em relação à filha que o conduz pela coleira. Ainda assim, é o caminho do pai
que compõe um eixo orientado direto e reto quando somado ao caminho do flâneur e
o caminho da carruagem.
Neste desfile, do qual o pai é abre alas, está subentendida a orientação
arquitetônica da praça. Como de costume nas obras do século XVIII os elementos
ornamentais estruturam as marcas racionalistas de distribuição dos espaços. O pai, o
flâneur e a carruagem aproveitam essa distribuição e guiam-se por ela. As filhas
cirandam em volta do pai como se o ornamentassem cintilantes. Desse modo, o
arquétipo do pai pouco se constrói baseado na imposição dos desejos de Ludovic Lepic
sobre suas filhas. O pai naturalmente ensina as filhas como comportasse em uma praça,
ele age em concordância com o todo o ambiente público no que diz respeito aos
elementos concretos desse ambiente e aos outros participantes da comunhão.
A transmissão da função de referência que o pai exerce no ambiente privado da
família para o ambiente público é simbolicamente marcada pelos trajes que levam as
filhas. Pintados com a mesma cor, matiz e tonalidade que é pintado o traje do pai,
naturalmente representam o mesmo tecido, como se fossem rèplicazinhas feitas a partir
das sobras do tecido com o qual foi feito a roupa do patriarca.
Ainda, o chão que se levanta ao redor das figuras em tom amarelado destoa do
chão cinza sobre o qual estão a carruagem e o flâneur. O chão cinza une os elementos
secundários do primeiro e segundo plano. O chão amarelo une os elementos principais
do primeiro e secundo plano, qual sejam, a família e o próprio caminho. O contexto
retratado é a distinção que leva uma família em ambiente urbano. As filhas iniciantes na
prática citadina, devem através da observação e da livre experiência reter as normas
que imperam aqui. Seu pai é o modelo, é ele quem sabe como as coisas devem ser feitas.

DEGAS, Edgar. Place de la Concorde, 1875.


ГЭ-10622 (hermitagemuseum.org)
Óleo sobre tela.
78,4х117,5 cm

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