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Resenha do Livro: O Retrato de Dorian Gray

O Retrato de Dorian Gray é a obra máxima do escritor irlandês Oscar Wilde, publicado
no século XIX, tal obra imortalizou-se no imaginário das pessoas, pois mesmo que não tenham
tido contacto com ela, de algum modo, conhecem ou já viram alguma história a respeito de
alguém que vende a alma em troca da eterna juventude e beleza.
Oscar Wilde nasceu em Dublim, na Irlanda, em 16 de outubro de 1854. Seu pai era o
doutor William Robert Wills Wilde, famoso cirurgião-oculista da rainha Vitória e sua mãe, Jane
Francesca Elgee, era poetisa e jornalista, autora de textos tão radicais que uma revista foi
fechada por ter publicado um deles. Oscar era o segundo filho do casal e sua mãe, que
desejava ter uma menina, vestia-o e tratava-o como se fosse uma.
O jovem Wilde foi um estudante exemplar que, em 1874, recebeu uma medalha de
ouro por seu conhecimento em grego clássico e foi estudar em Oxford, onde também foi
sempre o melhor aluno.
O retrato de Dorian Gray foi publicado como folhetim numa revista, em capítulos, a
partir de junho de 1890. Esse romance marcou o início da fase mais produtiva e marcante de
Wilde. Ele havia se casado com uma rica herdeira, em 1884, e com ela tivera uma filha e um
filho. Era o marido apaixonado e pai dedicado. Em 1889, porém, começou a ter experiências
homossexuais. A história de Dorian Gray veio então retratar as suas principais preocupações
estéticas e ideais. Em 1895, Oscar Wilde foi condenado a dois anos de prisão por sua relação
com Alfred Douglas, sob acusação do crime de homossexualidade.
Em 1900, alguns anos depois de sair da prisão, voltou a Paris, onde morreu. Seu último
ato foi converter-se à religião católica. Só nove anos depois, quando os herdeiros conseguiram
pagar as suas dívidas, foi levado para um lugar de honra no cemitério mais famoso de Paris, o
Pere-Lachaise onde estão enterradas várias personalidades famosas, desde escritores, poetas,
escultores, pintores, músicos...
A história de O retrato de Dorian Gray retrata a vida do jovem Gray na sociedade da
Inglaterra vitoriana no século XIX, em que Dorian é um jovem pertencente à burguesia inglesa,
de extrema beleza e que serve de modelo para o pintor Basil Hallward, resultando num quadro
que retrata Dorian com extrema semelhança e beleza, como se o pintor conseguisse captar a
própria alma do jovem no quadro.
Dorian Gray, encantado com a beleza do quadro, é influenciado pelo discurso de Lord
Henry Wotton, amigo de Basil, que diz que a coisa mais importante ou o que realmente
importa na vida é a beleza externa, a aparência, que tolo é aquele que acredita na beleza
interior e no caráter. A beleza torna aquelas que a possuem em príncipes e só dispomos de
alguns anos para aproveitar dessa beleza que é a juventude, depois só restarão recordações do
passado. Ao ouvir isso, Dorian volta-se para o quadro e, triste, constata que enquanto o
quadro preservará uma eterna beleza para além dos anos, ao contrário ele envelhecerá a cada
dia e aos poucos perderá a grande beleza retratada no quadro. Com isso, ele expressa o seu
maior desejo, de que pudesse manter a sua beleza da juventude eternamente, enquanto o
quadro envelhecesse em seu lugar, mesmo que para isso fosse preciso dar a sua própria alma
em troca.
Tal ideia da aparência estética como mais importante é uma crítica aos padrões sociais
da época. Essa obsessão com o belo está em desacordo com um puritanismo moral
predominante na época vitoriana, que insiste que a moral é o que realmente faz o homem, no
entanto, as pessoas viviam numa sociedade de aparências e é nessa sociedade que Oscar
Wilde insere Dorian Gray.
O desejo de Dorian é então atendido e a sua alma é dada em troca pela sua juventude.
Apesar de o demónio não aparecer para confirmar o pacto, ele é feito, a partir daí, a sua alma
passa a habitar no quadro e a sua juventude é preservada. Dorian passa a ter juventude
eterna e a usufruir da vida de forma inconsequente e irresponsável. Na companhia de Lord
Henry, e influenciado pelas suas palavras, destrói vidas, seduz, torna-se devasso e de
personalidade má enquanto o seu lindo rosto angelical de 18 anos permanece.
Um dos momentos que achei mais marcante na obra é quando Dorian conhece e se
apaixona pela jovem atriz Sibyl Vane, que o encanta pela sua capacidade de atuar e interpretar
tão bem personagens de Shakespeare. Dorian decide, então, casar-se com Sibyl e convida o
pintor Basil e seu amigo Lorde Henry para assistirem a uma das suas apresentações. Porém, na
noite da apresentação, toda a energia vital de Sibyl que antes estava tão somente
dirigida à arte de representar, agora estava dirigida apenas para Dorian e, uma vez que
o seu amor se torna real, Sibyl perde a sua capacidade de atuar, e Dorian despreza-a
cruelmente.
Desesperada, a jovem envenena-se e morre, causando a primeira mudança no
retrato e caráter de Dorian, que ao chegar a casa olhaa o seu retrato e se assusta quando
percebe que o mesmo se havia alterado, e que o sorriso pintado, já não era o mesmo. O que o
retrato mostrava era um sorriso cínico e maldoso, Dorian então percebe que o retrato era
nada mais nada menos que a figura de sua alma.
Segue-se, então, durante vários anos, uma vida de prazeres, onde Dorian vivia de
acordo como queria. Passou a ter uma conduta fria, interesseira, induzindo pessoas a atos
errados e vulgares, crimes, inclusive assassinatos, porém sempre saindo impune. Depois de
tantos atos maldosos, ele ainda se tentou redimir, mas, apesar das suas boas ações, o quadro
não se alterava para melhor, continuava com a horrenda figura cada vez mais monstruosa.
Então, Dorian percebe que na verdade, por vaidade, ele tentava não magoar mais ninguém, e
a hipocrisia colocara no rosto do retrato a máscara da bondade. Ele então percebe que a única
prova de seu mau caráter, era o quadro. Resolve, assim, destruí-lo.
Dorian Gray pega na mesma faca que usou para matar o pintor Basil, quando este
descobriu o seu segredo, e perfura o quadro. Ouve-se então um grito e os criados correm para
saber o que era, e ao entrarem no quarto, viram o lindo quadro na parede e o corpo de Dorian
no chão, com a faca encravada no peito, o qual só foi identificado pelos anéis que possuía nos
dedos.
Oscar Wilde parecia adivinhar que durante muitos anos o tema por ele abordado nesse
livro poderia ser relacionado com a formação de indivíduos de forma geral, pois vivemos num
mundo de estereótipos em que a imagem é fundamental, é preciso estar dentro de padrões da
sociedade para que possamos nos sentir como mais uma peça do quebra-cabeça e não ao
contrário. Além de tudo isso, é interessante destacar que a duplicidade do personagem
encontrada no decorrer da história só aconteceu porque Dorian adaptava-se às pessoas com
quem convivia e faria o que fosse possível para conquistar os seus objetivos.
Fica então uma pequena reflexão: que Oscar Wilde foi um grande crítico da sua
contemporaneidade, já sabemos, pois ele critica nessa obra vários valores e ideias da época.
Mas será que tais questões e ideias não são válidos para os dias de hoje? Ou melhor, não será
a mensagem que ele procura veicular intemporal?

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