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O Retrato de Dorian Gray

Escolhi, para esta apresentação, fazer uma apreciação crítica do livro ‘O retrato de
Dorian Gray’ de Oscar Wilde. Este livro é o único romance de Oscar Wilde e é
considerado um clássico da literatura gótica. Esta obra causou imenso furor, sendo até
censurada várias vezes, a primeira vez pelo próprio autor, as seguintes vezes por
editores. A causa desta censura centra-se à volta de dois motivos: a crítica de Wilde à
sociedade vaidosa e preocupada com aparências superficiais e a elevada quantidade de
homoerotismo, implícito e explicito presente na obra. Foi publicado pela primeira vez
em julho de 1890. Assim sendo, prevalecem características do realismo estético
dominante no século XIX, no entanto distingue-se do realismo clássico que vemos, por
exemplo, na obra ‘Os Maias’ e em ‘Amor de perdição’, devido aos elementos
sobrenaturais que vão tornar a obra em horror gótico.
Temos vários exemplos destes elementos nesta obra. Podemos começar por ver o
exemplo do Diabo, aqui representado pelo Lord Henry. Existe, no seu nome, um indício
trágico de quem este representa: Lord Henry é, possivelmente um aptômino para Harry
ou Old Harry, um nome dado ao Diabo. Percebemos ainda o seu caráter perverso pelo
seu discurso que visa corromper os valores morais de Dorian Gray, incutindo-lhe os
seus ideais hedonistas e fazendo-o crer que a única coisa valiosa da vida é a beleza
física e apenas uma vida de prazer, sem qualquer tipo de dor. Este personagem vai ainda
trazer o elemento do acordo com o Diabo, ao levar, Dorian a dizer-lhe qual era o seu
desejo. Um outro elemento notável é o momento repentino de rutura de violência. E,
talvez o mais notável, o retrato de Dorian, onde surge o elemento do doppelganger e do
objeto mágico.
Os símbolos estão também muito presentes nesta obra. O mais notável será o retrato de
Dorian, pintado por Basil. Apesar de ser um objeto inanimado, interage com Dorian, na
medida em que o seu retrato envelhece e torna-se horrendo, conforme Dorian peca,
enquanto o próprio Dorian mantem a sua beleza e juventude. A última vez que vemos a
obra é quando Basil pede a Dorian para lhe ver a alma e este lhe mostra o quadro
corrompido pela sua vida pecaminosa.
Um outro símbolo que carrega muito peso simbólico são as flores que pretendem, com a
sua essência de duração breve, mostram que a beleza, embora encantadora, não são
supostas terem uma vida prolongada.
A história revolve em torno da questão filosófica do campo da moral e ética: qual é o
bem último?
Dorian Gray, o personagem principal, que revela uma pureza e juventude de alma,
acaba por ser influenciado pelo ponto de vista hedonista de Lord Henry, tornando como
valor mais importante para a sua vida, a beleza e o prazer próprio e a ausência total de
dor. Isto leva-o a fazer um acordo com o diabo, representada por Lord Henry. Enquanto
este se aventura, tomando proveito da sua juventude, acaba por cometer imensos atos
extremamente imorais, entre os quais, homicídio, levar ao desespero e até ao suicídio
pessoas muito importantes na sua vida, deixando um rasto de morte, crime, desespero,
imoralidade e sensualismo autoindulgente.
Dorian gray apresenta-se inicialmente como alguém com pureza juvenil, extremamente
belo, e de personalidade extremamente influenciável. Ao contrário da clássica narrativa
onde o arco de personagem progride para um clímax bem depois do meio da história,
Dorian Gray apresenta um arco de personagem que começa perto da transformação
radical que se dá na sua personalidade. Dorian mantem-se assim até a um ponto onde
surge o clássico elemento do terror gótico que é a rutura repentina de violência. No
entanto, o seu personagem não inicia o declínio do arco de história seguido ao clímax,
mas prolonga o momento de violência até o momento em que se redime, já perto do
final. Quanto ao seu nome, é teorizado que tem um significado mais profundo. O nome
Dorian é especulado ser referente à sua semelhança com o termo “d’or”, proveniente do
francês, tranduzindo, “de ouro”, fazendo alusão ao seu aspeto jovial, conjetura-se ainda
que poderá se relativo ao termo grego ‘Dorian love’, o amor entre um Homem mais
velho e um Homem jovem. Quanto ao seu último nome, Gray, há um maior consenso de
que a origem terá a ver com a sua personalidade, que tal como o nome indica é,
moralmente falando, cinzenta. Isto é referente à ambiguidade da personalidade do
personagem, que, na sua complexidade, traz com esta falta de extremismos, um
realismo para a obra, não sendo, assim, Dorian Gray um personagem completamente
puro e bondoso, mas nem todos os seus ideais são corruptos
Dorian desperta, com a sua beleza, um sentimento tão forte em Basil que o leva a
inspirá-lo para aquilo que ele vai considerar a sua melhor obra de arte, ao ponto de que
Basil se recusa a expor o retrato pelo tempo e amor que pôs no quadro. Vemos o amor
que Basil nutre por Dorian pela forma como este o trata. O pintor admira o personagem
principal como se fosse não só a sua musa, mas também uma divindade. Basil ama-o
tanto que protege a sua imagem quando este ganha a fama de comodista e
autoindulgente até mesmo depois de deixarem de ser amigos próximos. Quando Basil
vê que o quadro que pintou e foi adulterado pelos pecados de Dorian, mostra a sua
entrega nesta paixão, chegando a ser fatal, uma vez que ele acaba por ser morto quando
Dorian se se insurge contra ele.
Lord Henry Wotton é um escolar, sábio e amigo de longa data de Basil Hallward É
Henry que desperta em Dorian o seu lado mais maldoso. Henry é bastante cínico, mas
pouco mais é revelado do seu carácter. Ele vive uma vida bastante exposta ao público,
segundo ele, por prazer. Henry é um personagem estático, ou seja, ao contrário de
outros personagens, a sua personalidade e situação de vida não evolui para melhor nem
pior ao longo do arco da história, podemos assim, concluir que o seu arco de
personagem é uma reta. A sua filosofia aparenta ser excitante no início da obra, mas
gradualmente perde o seu brilho inicial e torna-se vazia com a progressão da história.
Nem o próprio Henry mostra interesse em praticar a corrente filosófica em que diz
acreditar, vivendo uma vida calma e sem grandes agitações e mostra a sua limitação em
relação ao conhecimento acerca das consequências da sua filosofia na prática ou do
funcionamento da mente humana.
Sibyl e James Vane são personagens, embora secundários, muito complexos. Sibyl é a
atriz por quem Dorian se apaixona e se precipita em pedir em casamento. James, seu
irmão, desconfiado, ameaça Dorian que o mataria se este magoasse a sua irmã,
mostrando, assim, a sua sobre-proteção. Quando Dorian apresenta Sibyl a seus amigos,
esta mostra uma pobre performance, levando Dorian a cancelar o casamento, o que
deixa Sibyl tão transtornada, que acaba por se suicidar. É-nos, entretanto, revelado que
o que aconteceu é, na verdade, mais profundo. Sibyl recorria à arte, no caso, ao teatro,
para poder escapar à realidade do seu estado depressivo, e, quando conhece Dorian,
encontra uma razão para viver, motivo da sua péssima performance. A sua paixão
desconectou-a do seu método de suportar a dor. Ao terminar a sua relação com Sibyl,
Dorian tira-lhe tudo o que a fazia aguentar a sua vida miserável, conduzindo-a ao
suicídio.
Depois desta análise aprofundada, deixo a minha opinião pessoal. Este é um livro que
carrega um imenso peso emocional para mim, assim como o próprio autor, Oscar Wilde
foi um dos primeiros autores clássicos que li e este livro acompanhou-me no meu
crescimento, li-o com tenra idade, pela primeira vez e fui relendo-o ao longo dos anos e,
de cada vez que o faço, algo novo me chama a atenção e a minha interpretação vai
variando conforme o meu estado de espírito e o limite do meu conhecimento. Um
exemplo disso será a aquisição de novo conhecimento de diferentes correntes
filosóficas, o que me permitiu ver o livro de uma forma completamente diferente. Para
concluir, é opinião minha que Oscar Wilde era um autor muito avant-garde com ideias
muito fora da caixa, transparecendo, no seu livro, uma crítica ainda aplicada aos nossos
tempos. Para finalizar, cito a passagem que mais me tocou:
Words! Mere words! How terrible they were! How clear, and vivid, and cruel! One
could not escape from them. And yet what a subtle magic there was in them! They
seemed to be able to give a plastic form to formless things, and to have a music of their
own as sweet as that of viol or of lute. Mere words! Was there anything so real as
words?

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