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MÓDULO

9 1. Contos
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
“George”, de Maria Judite de Carvalho
As três idosas da vida
O diálogo entre realidade, memória
e imaginação
Metamorfoses da figura feminina
A complexidade da natureza humana
Linguagem, estilo e estrutura
Leitura
Artigo de opinião
Escrita
Texto de opinião
Síntese
Oralidade
Apreciação crítica [EO]
Documentário [CO] [Ano 1]
Gramática
Em revisão:
Flexão verbal
Formação de palavras
Valor aspetual
Campo semântico
Coesão
PARA SABER | PARA VERIFICAR
Contos
PARA DESENVOLVER
MARIA JUDITE DE CARVALHO CU
PERA
R
COMPREENSÃO DO ORAL

RE
ÃO
E X P O S IÇ
Visione atentamente o seguinte documento sobre a escritora Maria
Judite de Carvalho. ANO 1

1. Centre a sua atenção no discurso da narradora e tome notas que lhe permitam realizar
as atividades.
1.1 Complete a tabela com alguns dados biográficos de Maria Judite de Carvalho.

Data Acontecimento
Ler Mais, Ler Melhor, Maria Judite
de Carvalho 1921 a. _______________________________________________________________

1949 b. _______________________________________________________________

1949-1955 c. _______________________________________________________________

1998 d. _______________________________________________________________

1.2 Indique duas das atividades exercidas pela autora.


1.3 Indique alguns títulos de obras de Maria Judite de Carvalho.

2. Complete as afirmações, associando os segmentos da coluna A aos elementos da co-


luna B.

Coluna A Coluna B

[A] Maria Judite de Carvalho, na [1] a liberdade de sentimentos da mulher.


infância, viveu com uma tia,
[2] comoveu o seu marido.
[B] Urbano Tavares Rodrigues
salienta dois traços da escritora:
[3] em virtude da morte da mãe e de um irmão
[C] De acordo com Paula Morão, e da ida de seu pai para a Bélgica.
a obra literária de Maria Judite
de Carvalho retrata [4] implica o leitor na construção da história.

[D] Uma das técnicas narrativas [5] que lhe garantiram os estudos no Ensino
usadas pela escritora é Superior.

[E] A beleza da sua primeira obra, [6] o humor e a ironia fria.


Tanta gente, Mariana
[7] o monólogo interior, conjugado com o diálogo.
[F] Através da arte narrativa, Maria
Judite de Carvalho
[8] a consciência, o interior da alma humana.
[G] Nas crónicas, nos contos e nas
novelas, a autora [9] faz uma análise realista da sociedade, em
especial das pessoas que estão sós.
[H] A leitura da obra de Maria Judite [10] um maior conhecimento de quem somos
de Carvalho permite e do meio em que estamos inseridos.

3. Infira sobre o relacionamento de Maria Judite de Carvalho com Urbano Tavares Rodri-
gues, evidenciando marcas do discurso comprovativas (marcas verbais e não verbais).

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

INFORMAR

Maria Judite de Carvalho – vida e obra


Cronista notável, excecional contista, novelista, jornalista, mas também tra-
dutora e artista plástica, Maria Judite de Carvalho conta ainda na sua bibliografia
com um livro de poemas e uma peça teatral, ambos postumamente editados em MARIA JUDITE DE CARVALHO
1998, ainda que por si preparados: A Flor que havia na água parada e Havemos (1921-1998)
5 de rir?.
Os volumes de narrativas breves constituem, porém, a espinha dorsal da sua
produção literária, a cujo conjunto foi atribuído o Prémio Vergílio Ferreira das
Universidades Portuguesas em 1998. Dos treze títulos que então a formavam,
alguns já traduzidos em França, o livro de estreia pode dizer-se, ainda hoje,
10 referência incontornável. Nele se surpreendem desde cedo as traves mestras do
seu universo narrativo peculiar, aí se definindo já, com segurança e mestria in-
vulgares, temas e formas de contar. Alicerçados numa escrita sóbria e depurada,
avessa às lágrimas, lúcida mas discreta e delicadamente enternecida, a solidão,
a morte, a inexorável passagem do tempo e as perdas que consigo arrasta mar-
15 cam desde logo presença. Sem dramatismo e sem frieza. Com sentida lucidez.
As raízes deste universo, dir-se-ia, mergulham fundo na experiência pessoal
da escritora: órfã de mãe aos sete anos e de pai aos quinze, o confronto precoce
com a morte de familiares tão próximos, transfigurado na novela epónima de
Tanta gente, Mariana…, parece ter marcado para sempre essa visão melancólica
20 e desencantada da vida e da condição humana que atravessa toda a sua obra – e
que não raro nos incomoda e perturba, chegando a doer e a parecer cruel. Radi-
cando numa agudíssima consciência da precariedade de todas as coisas, uma tal
visão compagina-se com traços fundamentais do caráter de Maria Judite e que
das palavras de uma das duas únicas entrevistas que concedeu aos jornais – a
25 última – se desprendem, bem como de testemunhos dos que com ela privaram.
Conto português. Séculos XIX-XXI – Antologia crítica, vol. 3 (coord. Maria Isabel Rocheta, Serafina Mar-
tins), Lisboa, Edições Caixotim, 2011, pp. 112-113 (com supressões).

1. Classifique as afirmações como verdadeiras ou falsas. Corrija as falsas.


a. Todas as obras de Maria Judite de Carvalho foram publicadas postumamente.
b. O livro Tanta gente, Mariana… é um marco na sua carreira literária em virtude da temá-
tica abordada.
c. As temáticas mais recorrentes na obra de Maria Judite de Carvalho parecem ter raízes
na sua vida pessoal.

PERA
CU R
E S C R I TA
RE

S ÍN T E S E
1. Faça a síntese do texto, reduzindo-o para cerca de um quarto
ANO 1
da sua extensão, isto é, cerca de 75 palavras.

BLOCO INFORMATIVO – p. 318

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

George
Andam lentamente, mais do que se pode, como quem luta sem forças con-
tra o vento, ou como quem caminha, também é possível, na pesada e espessa
e dura água do mar. Mas não há água nem vento, só calor, na longa rua onde
George volta a passar depois de mais de vinte anos. Calor e também aquela ara-
5 gem macia e como que redonda, de forno aberto, que talvez venha do sul ou de
qualquer outro ponto cardeal ou colateral, perdeu a bússola não sabe onde nem
quando, perdeu tanta coisa sem ser a bússola. Perdeu ou largou?
Caminham pois lentamente, George e a outra cujo nome quase quis esquecer,
quase esqueceu. Trazem ambas vestidos claros, amplos, e a aragem empurra-os
10 ao de leve, um deles para o lado esquerdo de quem vai, o outro para o lado di-
reito de quem vem, ambos na mesma direção, naturalmente.
O rosto da jovem que se aproxima é vago e sem contornos, uma pincelada
clara, e quando os tiver, a esses contornos, ele será o rosto de uma fotografia que
tem corrido mundo numa mala qualquer, que tem morado no fundo de muitas
15 gavetas, o único fetiche de George. As suas feições ainda são incertas, salpicando
a mancha pálida, como acontece com o rosto das pessoas mortas. Mas, tal como
essas pessoas, tem, vai ter, uma voz muito real e viva, uma voz que a cal e as pás
de terra, e a pedra e o tempo, e ainda a distância e a confusão da vida de George,
não prejudicaram. Quando falar não criará espanto, um simples mal-estar.
20 Agora estão mais perto e ela encontra, ainda sem os ver, dois olhos largos,
semicerrados, uma boca fina, cabelos escuros, lisos, sobre um pescoço alto de
Modigliani. Mas nesse tempo, dantes, não sabia quem era Modigliani e outros
que tais, não eram lá de casa, os pais tinham sido condenados pelas instâncias
supremas à quase ignorância, gente de trabalho, diziam como se os outros não
25 trabalhassem, e sorriam um pouco com a superioridade dessa mesma ignorân-
cia se a ouviam falar de um livro, de um filme, de um quadro nem pensar, o
único que tinham visto talvez fosse a velha estampa desbotada do Angelus que
estava na casa de jantar. Com superioridade, pois, e também com uma certa in-
dignação. Ou seria mesmo vergonha? Como quem ouve um filho atrasado dizer
30 inépcias diante de gente de fora que depois, Senhor, pode ir contar ao mundo o
que ouviu. E rir. E rir.
Já não sabe, não quer saber, quando saiu da vila e partiu à descoberta da ci-
dade grande, onde, dizia-se lá em casa, as mulheres se perdem. Mais tarde par-
tiu por além-terra, por além-mar. Fez loiros os cabelos, de todos os loiros, um
35 dia ruivos por cansaço de si, mais tarde castanhos, loiros de novo, esverdeados,
nunca escuros, quase pretos, como dantes eram. Teve muitos amores, grandes
e não tanto, definitivos e passageiros, simples amores, casou-se, divorciou-se,
partiu, chegou, voltou a partir e a chegar, quantas vezes? Agora está − estava −,
até quando? em Amesterdão.
40 Depois de ter deixado a vila, viveu sempre em quartos alugados mais ou
menos modestos, depois em casas mobiladas mais ou menos agradáveis. As
últimas foram mesmo francamente confortáveis. Vives numa casa mobilada sem
nada de teu? Mas deve ser um horror, como podes?, teria dito a mãe, se soubesse.
Não o soube, porém. As cartas que lhe escrevia nunca tinham sido minuciosas,

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

45 de resto detestava escrever cartas e só muito raramente o fazia. Depois o pai


morreu e a mãe logo a seguir.
Uma casa mobilada, sempre pensou, é a certeza de uma porta aberta de par
em par, de mãos livres, de rua nova à espera dos seus pés. As pessoas ficam tão
estupidamente presas a um móvel, a um tapete já gasto de tantos passos, aos
50 bibelots acumulados ao longo das vidas e cheios de recordações, de vozes, de
olhares, de mãos, de gente, enfim. Pega-se numa jarra e ali está algo de quem
um dia apareceu com rosas. Tem alguns livros, mas poucos, como os amigos
que julga sinceros, sê-lo-ão? Aos outros livros, dá-os, vende-os a peso, que leve
se sente depois!
55 − Parece-me que às vezes fazes isso, enfim, toda essa desertificação, com
esforço, com sofrimento – disse-lhe um dia o seu amor de então.
− Talvez – respondeu −, talvez. Mas prefiro não pensar no caso.
Queria estar sempre pronta para partir sem que os objetos a envolvessem,
a segurassem, a obrigassem a demorar-se mais um dia que fosse. Disponível,
60 pensava. Senhora de si. Para partir, para chegar. Mesmo para estar onde estava.
Os pais não sabiam compreender esse desejo de liberdade, por isso se foi um
dia com uma velha mala de cabedal riscado, não havia outra lá em casa. Mas
prefere não pensar nos primeiros tempos. E as suas malas agora são caras, leves,
malas de voar, e com rodinhas.
65 A outra está perto. Se houve um momento de nitidez no seu rosto, ele já
passou, George não deu por isso. Está novamente esfumado. A proximidade
destrói ultimamente as imagens de George, por isso a vai vendo pior à medida
que ela se aproxima. É certo que podia pôr os óculos, mas sabe que não vale a
pena tal trabalho. Param ao mesmo tempo, espantam-se em uníssono, embora
70 o espanto seja relativo, um pequeno espanto inverdadeiro, preparado com
tempo.
− Tu?
− Tu, Gi?
Tão jovem, Gi. A rapariguinha frágil, um vime, que ela tem le-
75 vado a vida inteira a pintar, primeiro à maneira de Modigliani, de-
pois à sua própria maneira, à de George, pintora já com nome nos
marchands das grandes cidades da Europa. Gi com um pregador de
oiro que um dia ficou, por tuta e meia, num penhorista qualquer
de Lisboa. Em tempos tão difíceis.
80 − Vim vender a casa.
− Ah, a casa.
É esquisito não lhe causar estranheza que Gi continue tão
jovem que podia ser sua filha. Quieta, de olhar esquecido,
vazio, e que não se espante com a venda assim anunciada,
85 tão subitamente, sem preparação, da casa onde talvez
ainda more.
− Que pensas fazer, Gi?
− Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, neste cu
de Judas, senão em partir? Ainda não me fui embora
90 por causa do Carlos, mas... O Carlos pertence a isto,
nunca se irá embora. Só a ideia o apavora, não é?
− Sim. Só a ideia.
Contos
MA R I A J UDI TE DE CA RVA L H O

− Ri-se de partir, como nós nos rimos de uma coisa impossível, de uma ideia
louca. Quer comprar uma terra, construir uma casa a seu modo. Recebeu uma he-
95 rança e só sonha com isso. Creio que é a altura de eu...
− Creio que sim.
− Pois não é verdade?
− Ainda desenhas?
− Se não desenhasse dava em maluca. E eles acham que eu tenho muito jeiti-
100 nho, que hei de um dia ser uma boa senhora da vila, uma esposa exemplar, uma
mãe perfeita, tudo isso com muito jeito para o desenho. Até posso fazer retratos das
crianças quando tiver tempo, não é verdade?
− É o que eles acham, não é?
− A mãe está a acabar o meu enxoval.
105 − Eu sei.
Há um breve silêncio, depois George diz devagar:
− Que calor, cheira a queimado, o ar. Terá sido sempre assim?
− Farto-me de dizer: cheira a queimado, o ar. Ninguém me ouve.
− Ninguém ouve ninguém, não sabes? Que aprendeste com a vida, mulher?
110 A sua voz está mole, pegajosa, difícil, as palavras perdem o fim, desinteres-
sadas de si próprias, é como se se preparassem para o sono.
− Creio que estou atrasada − diz então, olhando para o relógio. − Estou mesmo
− acrescenta, olhando melhor. − E não posso perder o comboio. Amanhã bem cedo
sigo para Amesterdão. Estou a viver em Amesterdão, agora. Tenho lá um atelier.
115 − Amesterdão é? Onde fica isso?
Mas é uma pergunta que não pede resposta. Gi fá-la por fazer e sorri o seu
lindo sorriso branco de 18 anos. Depois ambas dão um beijo rápido, breve, no ar,
não se tocam, nem tal seria possível, começam a mover-se ao mesmo tempo,
devagar, como quem anda na água ou contra o vento. Vão ficando longe, mais
120 longe. E nenhuma delas olha para trás. O esquecimento desceu sobre ambas.

Agora está à janela a ver o comboio fugir de dantes, perder para todo o sem-
pre árvores e casas da sua juventude, perder mesmo a mulher gorda, da passa-
gem de nível, será a mesma ou uma filha ou uma neta igual a ela? Árvores, casas
e mulher acabam agora mesmo de morrer, deram o último suspiro, adeus. Uma
125 lágrima que não tem nada a ver com isto mas com o que se passou antes – que
terá sido que já não se lembra? −, uma simples lágrima no olho direito, o outro,
que esquisito, sempre se recusa a chorar. É como se se negasse a compartilhar
os seus problemas, não e não.

A figura vai-se formando aos poucos como um puzzle gasoso, inquieto, in-
130 forme. Vê-se um pedacinho bem nítido e colorido mas que logo se esvai para

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

aparecer daí a pouco, nítido ainda, mas esfumado. George fecha os olhos com a
força possível, tem sono, volta a abri-los com dificuldade, olhos de pupilas es-
curas, semicirculares, boiando num material qualquer, esbranquiçado e oleoso.
À sua frente uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente comple-
135 ta, olha-a atentamente. De idade não, George detesta eufemismos, mesmo só
pensados, uma mulher velha. Tem as mãos enrugadas sobre uma carteira preta,
cara, talvez italiana, italiana, sim, tem a certeza. A velha sorri de si para consigo,
ou então partiu para qualquer lugar e deixou o sorriso como quem deixa um
guarda-chuva esquecido numa sala de espera. O seu sorriso não tem nada a ver
140 com o de Gi − porque havia de ter? −, são como o dia e a noite. Uma velha de
cabelos pintados de acaju, de rosto pintado de vários tons de rosa, é certo que
discretamente mas sem grande perfeição. A boca, por exemplo, está um pouco
esborratada.
Sem voz e sem perder o sorriso diz:
145 − Verá que há de passar, tudo passa. Amanhã é sempre outro dia. Só há uma
coisa, um crime, que ninguém nos perdoa, nada a fazer. Mas isso ainda está longe,
muito longe, para quê pensar nisso? Ainda ninguém a acusa, ainda ninguém a
condena. Que idade tem?
− Quarenta e cinco anos. Porquê?
150 − É muito nova − afirma. − Muito nova.
− Sinto-me velha, às vezes.
− É normal. Eu tenho quase 70 anos. Como estava a chorar, pensei...
Encolhe os ombros, responde aborrecida:
− Não tive desgosto nenhum, nenhum. Um encontro, um simples encontro...
155 − Também tenho muitos encontros, eu. Não quero tê-los mas sou obrigada a
isso, vivo tão só. Cheguei à ignomínia de pedir a pessoas conhecidas retratos da
minha família. Não tinha nenhum, só um retrato meu, de rapariguinha. E retratos
de amigos, também. De amigos desaparecidos, levados pelas tempestades, os mais
queridos, naturalmente. Porque... o tal crime de que lhe falei, o único sem perdão,
160 a velhice. Um dia vai acordar na sua casa mobilada...
− Como sabe que...
− E verá que está só e olhará para o espelho com mais atenção e verá que está
velha. Irremediavelmente velha.
− Tenho um trabalho que me agrada.
165 − Não seja tonta, menina. Outro dia vai reparar, ou talvez já tenha dado por
isso, que está a ver pior, e outro ainda que as mãos lhe tremem. E, se for um pouco
sensata, ou se souber olhar em volta, descobrirá que este mundo já não lhe per-
tence, é dos outros, dos que julgam que Baden Powell é um tipo que toca guitarra e
que Levi Strauss é uma marca de calças.
170 − Isso é ignorância, não tem nada a ver com a idade.
− Talvez seja ignorância, também. Talvez seja. Estou a incomodá-la, parece-me.
− Dói-me simplesmente a cabeça.
− Desculpe.

George fecha os olhos com força e deixa-se embalar por pensamentos mais
175 agradáveis, bem-vindos: a exposição que vai fazer, aquele quadro que vendeu
muito bem o mês passado, a próxima viagem aos Estados Unidos, o dinheiro que
pôs no banco. O dinheiro no banco, nos bancos, é uma das suas últimas paixões.

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

Ela pensa − sabe? − que com dinheiro ninguém está totalmente só, ninguém
é totalmente abandonado. A velha Georgina já o deve ter esquecido. A velhice
180 também traz consigo, deve trazer, um certo esquecimento das coisas essenciais,
pensa. Abre os olhos para lho dizer, para lho pensar, para lho atirar em silêncio
à cara enrugada, mas a velha já ali não está.
O calor de há pouco foi desaparecendo e agora não há vestígios daquela ara-
gem de forno aberto. O ar está muito levemente morno e quase agradável. Geor-
185 ge suspira, tranquilizada. Amanhã estará em Amesterdão na bela casa mobilada
onde, durante quanto tempo?, vai morar com o último dos seus amores.
Maria Judite de Carvalho, “George” in Conto português. Séculos XIX-XXI – Antologia crítica, vol. 3 (Coord.
Maria Isabel Rocheta, Serafina Martins), Porto, Edições Caixotim, 2011, pp. 115-120.

1. Atente no primeiro parágrafo do texto.


1.1 Indique a personagem destacada bem como as referências espácio-temporais da ação.

2. Nos parágrafos seguintes, o leitor depara-se, de forma mais explícita, com uma outra
personagem.
2.1 Explicite o modo como é progressivamente desenhado o retrato da “jovem que se
aproxima”.
2.2 Demonstre o recurso às sensações na construção do seu retrato.

3. Descodifique o valor simbólico do movimento dos vestidos, “naturalmente” idêntico,


da fotografia que tem corrido mundo numa mala e da voz da personagem evocada.

4. Identifique o recurso expressivo presente em “sorriam um pouco com a superioridade


dessa mesma ignorância” (ll. 25-26), comentando a sua expressividade.

5. Explique o significado da interrogação “até quando?” (l. 39) relacionando-a com o con-
teúdo de todo o parágrafo.

6. Indique o motivo da deslocação de George à aldeia natal, comentando a simbologia


desta ação.

7. O reencontro com Gi permite a George recordar a sua relação com Carlos.


7.1 Explicite algumas diferenças entre as ambições de ambos.

8. Após ter vendido a casa, George regressa a Amesterdão.


8.1 Interprete a afirmação “Agora está à janela a ver o comboio fugir de dantes”. (l. 121)

9. A viagem de regresso faz George confrontar-se com uma nova imagem.


9.1 Esclareça o processo de construção do retrato dessa imagem.

10. Infira o significado do uso do discurso direto no confronto de George com o passado
(Gi) e com o futuro (Georgina).

11. Demonstre o caráter fragmentário da figura feminina ao longo das três fases da sua
vida, caracterizando-a nessas diferentes fases (passado, presente e futuro).

12. Demonstra a prevalência do espaço psicológico sobre o espaço físico.

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

13. Apresente uma explicação para a adoção do nome “George” na fase adulta da perso-
nagem.

14. Justifique a inserção deste texto no género conto, considerando as suas caracterís-
ticas.

GRAMÁTICA

1. Indique o processo de formação dos termos “bibelots” (l. 50) e “guarda-chuva” (l. 139).

2. Considere o campo semântico da palavra “mão” nas seguintes frases:


a. “Outro dia vai reparar […] que as mãos lhe tremem” (ll. 165-166).
b. George não abre mão da sua liberdade.
c. Para entender os textos, é necessário ter à mão um dicionário.
2.1 Assinale os enunciados em que o termo “mão” ocorre com sentido conotativo.
2.2 Indique um sinónimo para o termo, considerando os contextos em que pode ocorrer.

3. Identifique os mecanismos de coesão, considerando os elementos sublinhados:


Abre os olhos para lho dizer, para lho pensar, para lho atirar em silêncio à cara enruga-
da, mas a velha já ali não está.

EXPRESSÃO ORAL

Observe atentamente o quadro de Gustav Klimt. Leia, igual-


mente, o documento/estudo de análise da pintura que o seu
professor disponibilizará.

1. Produza, oralmente, uma apreciação crítica, em 4-5 minu-


tos, emitindo um comentário crítico perspetivado segundo:
• descrição sucinta do objeto;
• temática evidenciada;
• simbologia presente (nudez);
• discurso claro e coeso;
• respeito pelas marcas do género.
BLOCO INFORMATIVO – p. 317
As três idades da mulher, 1905, Gustav Klimt,
Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma.

E S C R I TA

Recupere a personagem George e o seu desdobramento em Gi e Georgina – o passado e


o futuro.
1. Escreva um texto de opinião, entre 150 a 200 palavras, sobre a adequabilidade do
quadro de Klimt ao conteúdo do conto de Maria Judite de Carvalho.
BLOCO INFORMATIVO – p. 317

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

INFORMAR

A complexidade da natureza humana


Diálogo entre realidade, memória e imaginação
[A] atitude de fuga e evasão permanentes, traço mais sa-
liente da personalidade de George, não passa afinal de uma
forma de autoilusão, de um modo hábil mas não inteiramen-
te eficaz de a personagem se mentir a si própria sobre a vida
5 tal como ela é: feita de sucessos, é certo, mas também de fra-

cassos; de ganhos, mas também de perdas irreversíveis; de


luz, mas também de sombras e fantasmas que nos fazem so-
frer − e, sobretudo, um caminhar sem retrocesso para a mor-
te e a solidão, inerentes à condição humana. A própria George
10 tem disso consciência plena ao confrontar o seu passado, ain-

da que se recuse a admiti-lo perante si mesma e o negue. Em


diálogo com Georgina, que lhe aponta as lágrimas derrama-
das sobre a juventude perdida, de que acabara de despedir-se
ao afastar-se para sempre de Gi, afirma não ter tido “desgosto
15 nenhum”, apenas “um encontro, um simples encontro”. Recusa-

-se igualmente a dar crédito às palavras de desengano daquele


seu alter ego sobre o que a espera no futuro, quando Georgina
lhe indica a solidão por única companhia certa na velhice. Pre-
fere então afundar-se no esquecimento que lhe proporcionam
20 o seu dinheiro, o seu sucesso enquanto pintora, os seus múlti-

plos amores, as suas metamorfoses constantes, as mudanças,


as viagens – as contínuas deslocações físicas e mentais a que se
A revolta das bonecas, 1916, força para se sentir liberta e realizada e que configuram afinal a sua alienação.
Eduardo Viana, Museu
Nacional de Arte Passado e futuro, porém, colheram-na já a meio deste percurso de fugitiva, cru-
Contemporânea do Chiado, 25 zando-se com o presente. Dizendo talvez melhor: passado e futuro tornam-se
Lisboa.
presentes, como se, abolidas as fronteiras do Tempo, a personagem tivesse aces-
so a uma outra dimensão da existência, a uma outra perceção do tempo.
Maria João Pais do Amaral in Conto português. Séculos XIX-XXI – Antologia crítica, vol. 3
(coord. Maria Isabel Rocheta, Serafina Martins), Lisboa, Edições Caixotim, 2011, p. 129.

1. Ordene as seguintes afirmações, de acordo com o conteúdo do texto e a sua progressão.


[A] Georgina funciona como a voz da consciência, mostrando a George a realidade e a
verdade da passagem do tempo e alguns aspetos negativos que na velhice a acom-
panharão.
[B] O choro da personagem [quando o comboio a leva de volta a Amesterdão] é, apesar
de esta não o reconhecer, um sinal da perceção de que a juventude de outrora não
voltará, segundo Georgina.
[C] As metamorfoses constantes da pintora bem como a primazia dada aos bens mate-
riais e ao seu sucesso presentificam a sua vontade de não encarar a realidade de que
a juventude não durará para sempre.
[D] A fuga [da vila natal] é uma maneira que George encontra de tentar esquecer a vida,
com os seus problemas e a sua efemeridade.

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

INFORMAR

As três idades da vida


George está agora de partida, já no comboio que a levará
para longe da vila onde nasceu e das memórias de um pas-
sado que tudo fizera para esquecer, mas que o regresso ao lu-
gar de origem inevitavelmente ressuscita. O reencontro com
5 esse passado, de que a personagem não guardara senão uma
velha fotografia sua, acaba também por projetá-la no futuro,
obrigando-a a confrontar-se, primeiro, com a sua juventu-
de; depois, com a sua velhice – ambas figuradas nessas duas
imagens de mulher com quem enceta diálogo e que são afi-
10 nal seus duplos com nomes que constituem formas curtas
ou alongadas de George: Gi, a jovem frágil de dezoito anos, e
Georgina, a mulher idosa a rondar os setenta. Assim se confi-
gura o balanço de toda uma vida.
Velhice, adolescência e
infância (As três idades),
Pôde a personagem deambular incessantemente entre o presente e vários 1940, Salvador Dalí, Museu
15 momentos do passado, imobilizado num dos seus instantes na fotografia que Salvador Dalí, Florida.
ressuscita Gi e assim se associa à rememoração. Nada, porém, lhe devolverá in-
tacto esse passado que acabou de enterrar para sempre ao tomar o comboio que
dele a afasta, bem como do presente, para um futuro longínquo… e afinal tão ou
mais dececionante quanto o primeiro. Pode ainda George fugir desse futuro por
20 um esforço mental de deslocação em direção a outro, mais próximo e tranquili-
zante: o da sua próxima exposição, da sua próxima viagem aos Estados Unidos,
do seu regresso a Amesterdão, que acaba de encetar… Nada impedirá o tempo de
avançar. Muito pelo contrário. A fuga para a frente será sempre uma fuga para a
frente – para o futuro da velhice e da solidão, para a Morte.
25 Principal meio de que George dispõe para alcançar o esquecimento, a disper-
são no espaço físico e mental coaduna-se com o esforço de despojamento a que
sempre se obrigou a desfazer-se de múltiplos objetos, incluindo fotos de fami-
liares. Constitui, pois, o modo mais eficaz de fugir à dura verdade, que ela prefe-
riria ignorar e que desde sempre terá tentado apagar com o auxílio da fotografia
30 de juventude – seu “único fetiche”, único modelo de todos os seus autorretratos.
Guardou-a porque essa fotografia é um retrato de juventude, um retrato que a
tranquiliza assegurando-lhe que foi jovem um dia.
Maria João Pais do Amaral in Conto português. Séculos XIX-XXI – Antologia crítica, vol. 3 (coord.
Maria Isabel Rocheta, Serafina Martins), Lisboa, Edições Caixotim, 2011, pp. 123 e 131 (com supressões).

1. Assinale as afirmações verdadeiras e falsas. Corrija as falsas.


a. O regresso à vila natal afigura-se como um momento de confirmação do sucesso de
George.
b. O confronto com a consciência do que será o seu futuro longínquo leva George a procu-
rar conforto no futuro próximo e no seu sucesso como pintora.
c. A foto de Gi, guardada pela pintora durante toda a sua vida, serve de modelo a todas as
suas pinturas.

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

L E I T U RA /G RA M Á T I CA

Leia o seguinte artigo de opinião sobre Maria Barroso.

Os 90 anos de Maria Barroso

A
voz mantém a energia para transmitir a exaltação e o
protesto da Ode à Liberdade de Jaime Cortesão que, ao
longo de décadas, fez vibrar milhares de pessoas em
espetáculos públicos.
5 Os olhos continuam despertos para o mundo que a rodeia
e exige a partilha de compromissos de solidariedade para
transpor a incerteza, a violência, a desigualdade e estabelecer
uma cultura de justiça, de tolerância e diálogo.
Chama-se Maria de Jesus Barroso Soares.
10 Tem uma presença atuante, na vida cultural, na intervenção cívica, na militância política,
na orientação pedagógica de várias gerações, desde a segunda metade do século XX e que
se projeta nos dias atuais. Sempre com a mesma determinação e coragem.
Ao mesmo tempo que estudou no Conservatório, tirou o curso de História e Filosofia da
Faculdade de Letras de Lisboa. Um dos seus mestres inesquecíveis foi Vieira de Almeida que
15 fez da cátedra uma tribuna de combate à rotina, à mediocridade e ao pensamento único.
Incutia, em cada aluno, a responsabilidade ética, a ousadia, a inovação e o imperativo da
mudança, para transformar o País mergulhado em estruturas arcaicas.
Enquanto aluno do Colégio Moderno de João Soares, de Mário Soares, de Maria Barroso,
devo a Maria Barroso a iniciação no universo de Fernando Pessoa heterónimo e ortónimo,
20 que eu procurava decifrar, numa pequena-grande antologia selecionada por Casais Montei-
ro, que Vitorino Nemésio oferecera a meu Pai.
Entre tantas recordações que procuro sintetizar não esqueço os recitais de Maria Bar-
roso, com os poetas do Novo Cancioneiro − que enfureciam a polícia política que cercava
as salas – ao dizer com a voz firme e a sobriedade tensa, o poema de Sidónio Muralha: “já
25 não há mordaças, nem ameaças, nem algemas que possam impedir a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas”. Ou, então, o irreprimível clamor de
Prometeu recriado por Joaquim Namorado: “Abafai-me os gritos com mordaças, maior será
a minha ânsia de gritá-los; amarrai-me os pulsos com grilhetas, maior será a minha ânsia
de quebrá--las; rasgai a minha carne, triturai os meus ossos, o meu sangue será a minha
30 bandeira; meus ossos o cimento de uma outra humanidade, que aqui ninguém se entrega.
Isto é vencer ou morrer!”
Estas exortações veementes voltam a ter sentido perante um país cada vez mais desi-
gual, a sistemática destruição das conquistas do 25 de Abril, a fome, o desemprego, a crise
na Justiça, o medo que se voltou a instalar. Sei que por todas estas circunstâncias Maria
35 Barroso, também lhe apetece repetir os versos emblemáticos de Álvaro de Campos: “Hoje
não faço anos. Duro. Somam-se dias. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado
na algibeira”. Mas todos sabemos que, apesar das contrariedades e desilusões, a esperança
é um sinal de luz que lhe ilumina o caminho e se comunica aos que têm o privilégio do seu
convívio e da sua amizade.
António Valdemar, Público, edição online de 2 de maio de 2015
(consultado em agosto de 2016, com supressões).

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Contos
MARI A J UDI TE DE CARVA L H O

1. Selecione a opção correta de modo a obter afirmações verdadeiras.

1.1 A referência à voz e ao olhar de Maria Barroso


[A] pretende exemplificar dois aspetos físicos interessantes desta mulher.
[B] é pretexto para realçar qualidades de lutadora desta figura feminina.
[C] serve para inserir uma alusão a Jaime Cortesão.
[D] denuncia a falta de lucidez, fruto dos 90 anos desta mulher.

1.2 Este texto pode ser considerado um artigo de opinião porque


[A] o autor apresenta um retrato objetivo de Maria Barroso.
[B] se faz um juízo de valor sobre Maria Barroso, utilizando um discurso valorativo
e expondo argumentação pertinente.
[C] sintetiza as principais características físicas da personalidade em destaque.
[D] se trata de uma retrospetiva da vida do seu autor.

1.3 A figura de Vieira de Almeida influenciou Maria Barroso


[A] pois foi um defensor do pensamento único.
[B] já que foi um grande escritor português.
[C] em virtude do seu pensamento arcaico.
[D] pela sua lucidez e pela defesa de ideais progressistas.

1.4 No penúltimo parágrafo são evidentes as


[A] qualidades de atriz de Maria Barroso.
[B] características de Maria Barroso enquanto lutadora antifascista.
[C] referências aos seus poemas que integram o Novo Cancioneiro.
[D] alusões à importância da polícia política.

1.5 No presente, a atitude lutadora de Maria Barroso


[A] não faz sentido, em virtude do 25 de Abril.
[B] poderia ser comparada à do poeta Álvaro de Campos.
[C] continua a ser necessária, pois perderam-se as conquistas de Abril.
[D] só é entendida pelos seus amigos.

1.6 Na linha 29, as formas verbais “rasgai” e “triturai” encontram-se conjugadas no


[A] imperativo.
[B] gerúndio.
[C] futuro do conjuntivo.
[D] condicional.

1.7 A frase “Incutia, em cada aluno, a responsabilidade ética” (l. 16) apresenta um valor as-
petual
[A] perfetivo.
[B] imperfetivo.
[C] iterativo.
[D] habitual.

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PA R A S A B E R "George"
“GEORGE” – As três idades da vida, metamorfoses da figura feminina

Retrato construído com o recurso à memória; “rapariguinha frágil”; 18 anos; um lindo sorriso; propensão para o
Gi desenho; mora numa vila portuguesa; tem namorado e a mãe está a preparar-lhe o enxoval. Através do diálogo
(Passado/ entre Gi e George percebe-se que a jovem tenciona abandonar a terra natal (refere que o namorado não tem
juventude) outra ambição senão a de ficar e construir uma casa).
Tem a função de recordar a George quem foi no passado.

Mora em Amesterdão; visitou a terra natal para se desfazer da casa paterna (que recebeu em herança após
a morte dos pais), o que significa o corte com o passado; é uma pintora famosa. Durante a fase adulta, tem
George
sofrido diversas transformações; é inconstante no amor e de personalidade complexa – muda constantemente
(Presente/idade
a cor dos cabelos, não possui nada de seu, mora em casas alugadas, desfaz-se dos livros; nada possui do
adulta)
passado, com exceção de uma fotografia sua quando jovem. Possui ânsia de liberdade desde jovem.
Vive reconfortada com o seu êxito como pintora e com as repercussões financeiras que este lhe traz.

Retrato construído com recurso à imaginação; perspetivação do futuro da figura feminina. Trata-se de uma
velha, imperfeitamente maquilhada com vários tons de rosa, cabelos cor de acaju; no entanto, usa uma carteira
Georgina
cara (italiana).
(Futuro/velhice)
Tem a função de deixar antever a George o que será o seu futuro, um tempo marcado pela solidão e pela
degradação física, o que impedirá a protagonista de pintar.

PA R A V E R I F I C A R "George"
Atente no conto “George”.

1. Associe as afirmações da coluna A às afirmações da coluna B de modo a obter


afirmações verdadeiras.

Coluna A Coluna B

[1] leva a personagem a uma grande tristeza.


[A] Na sua juventude, Gi
[2] faz-se através do recurso à memória
e à imaginação, respetivamente.
[B] Os primeiros tempos de
independência [3] abandona a terra natal, em virtude da ânsia
de liberdade.

[4] remete para o caráter fragmentário e para


[C] O regresso à vila natal a complexidade da natureza humana.

[5] foram difíceis, e Gi teve de se desfazer


[D] O reencontro com o passado de alguns bens.
e o futuro de George
[6] origina o corte radical e definitivo com
o passado.
[E] A assunção de diversos nomes –
Gi, George e Georgina – ao longo [7] foge em virtude de conflitos com os pais
da vida da personagem e da vontade de ter casa própria.

[8] dever-se-á à sua maneira de ser, mulher


[F] A escolha do nome George para
independente, que singrou num campo
a fase adulta da personagem
predominantemente masculino – a pintura.

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