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Biografia de Oscar Wilde

Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde é o nome completo daquele que viria a ser um dos
maiores escritores do século XIX. As turbulências e confusões cercam sua vida desde o dia do
seu nascimento; uma dúvida até os dias de hoje. A data mais defendida seria 16 de outubro de
1854, mas, existem algumas divergências, sendo que alguns estudiosos afirmam que a data
correta seria 15 de outubro de 1856; outros apontam o ano de 1855. Isso se torna irrelevante
diante da grandiosidade de sua obra, desenvolvida durante os seus 46 anos de vida.

Esse irlandês, nascido em Dublin, era filho de um médico, Sir William Wilde, morto em 1876 e
uma escritora, Jane Francesca Elgee, árdua defensora do movimento da Independência
Irlandesa, fazendo com que desde criança Oscar Wilde estivesse sempre rodeado pelos
maiores intelectuais da época.

Criado no Protestantismo, Oscar Wilde foi um aluno brilhante, sobretudo nos estudos das
grandes obras clássicas gregas e pelos seus altos conhecimentos dos idiomas. Estudante na
Portora Royal School de Enniskillem, onde ingressou em 1865, ganhou vários prêmios por esse
seu destaque, inclusive no Trinity College, em Dublin, e no Magdalen College, Oxford, onde
ingressou em 1874, saindo 4 anos depois. Nessa mesmo época, em 1978, ganhou o prêmio
Newdigate, com a clássico "Ravena".

Desde cedo, sobressaía-se entre os demais estudantes, tanto pela sua inteligência quanto pelo
temperamento forte e anticonvencional, levando-se em consideração a alta moralização dos
costumes no século XIX. Mantinha sempre um ar de superioridade por onde ia, mas, sua forte
personalidade e seu brilho natural sobrepunham-se a isso, tornando-o figura indispensável.

Em 1882, foi convidado para ir aos Estados Unidos e palestrar sobre o seu recém criado
Movimento Estético, onde se tornou o principal divulgador das idéias de renovação moral.
Defendia o 'belo' como única solução contra tudo o que considerava denegrir a sociedade da
época. Esse Movimento, que contava também com toda a nova geração de intelectuais
britânicos, visava transformar o tradicionalismo na época Vitoriana, dando um tom de
vanguarda ás artes.

No ano seguinte, 1883, vai para Paris, explorando todo o mundo literário francês, o que acaba
por enfraquecer seu Movimento. Nesse período, no qual conquistou vários títulos, começou a
publicar suas obras, pequenos escritos com inspiração clássica.

Em seguida, retorna para a Inglaterra, onde casa-se com Constance Lloyd, filha de um
advogado de renome em Dublin. Muda-se para Chelsea, notoriamente um bairro de artistas,
com grande influência cultural. Teve 2 filhos, Cyril em 1885, e Vyvyan no ano seguinte.

Mesmo após ao casamento, manteve-se muito conhecido e requisitados em todas as rodas


literárias, honrado com todos os compromissos aos quais era convidado. Tornou-se realmente
uma pessoa indispensável e comentada aos eventos sociais, espalhando glamour e
comentários por onde passava. Possuia uma aparência elegante, que atraia os olhares: vestia-
se elegante e extravagantemente bem, com roupas e adereços que, segundo suas próprias
palavras, sempre refletiam o que de mais íntimo existia dentro de si.

Continuando com suas obras, a seguinte foi "Vera", um texto teatral bem sucedido, publicado
em 1880. Após esta, publicou uma coletânea de poemas. Chegou a ter 3 peças em cartaz
simultaneamente nos teatros ingleses, fato notável tanto na época, como nos dias de hoje.
Em 1887 e 1888, foram lançados vários contos e novelas, como "O Princípe Feliz", "O Fantasma
de Canterville" e várias outras histórias, todas fantasiosas demais, chegando a ser comparadas
com Contos de Fadas, mas, como toda a amargura que residia no coração de Oscar Wilde.

Durante toda sua vida, rumores iam sendo criados em torno da suposta vida irregular que ele
teria, o que dava á sua figura, um ar de encantamento e atração ainda maior. Podia-se dizer
que era amado por uns, repudiado por outros. Alguns estudiosos consideram que essa má
fama chegou a atrapalhar sua carreira literária, mas, seus admiradores provam que era
justamente o contrário, Oscar Wilde tinha a mistura perfeita de petulância e doçura.

Seu período literário mais produtivo foi 1887-1895.

Em 1891, lançou o que viria a ser sua obra prima, a obra que o colocaria para sempre no hall
dos grandes escritores, "O Retrato de Dorian Gray". Livro que retrata a decadência moral
humana, "O Retrato..." fez com que seu escritor torna-se ainda mais admirado e famoso.

No entanto, no seu apogeu literário, começaram a surgir os problemas pessoais. O que antes
eram apenas boatos, passou a se concretizar, dando início á decadência pessoal daquele
grande homem.

Suas atitudes, já um tanto quanto audaciosas para a época, ainda desafiariam muito mais a
moralidade aristocrática inglesa. Rumores sobre seu homossexualismo, severamente
condenado por lei na Inglaterra, apareceram, não podendo mais serem negados por ele.

Conhece o Lord Alfred Douglas (ou Bosie, como era apelidado), pivô de todo seu drama
amoroso. O pai de Lord Douglas, Marquês de Queensberry, sabendo do envolvimento do filho
com o escritor, envia carta á Oscar Wilde no Albermale Club, onde o ofende e recrimina toda e
qualquer relação que ele venha a ter com o jovem Lord, dizendo "A Oscar Wilde, conhecido
Sodomita". O escritor decidi processar o Marquês por difamação.

Em seguida, tenta mudar de idéia e desistir do processo, visto que muitas rumores pairavam
sobre sua própria conduta. Mas, é tarde demais, e as provas concretas da sua desregrada vida
sexual começam a aparecer e um novo processo é instaurado contra ele. Entre as provas, a
mais contundente é uma carta enviada por Wilde para o jovem Lord, peça chave no
julgamento:

"January 1893, Babbacombe Cliff

My Own Boy,

Your sonnet is quite lovely, and it is a marvel that those red-roseleaf lips of yours should be
made no less for the madness of music and song than for the madness of kissing. Your slim gilt
soul walks between passion and poetry. I know Hyacinthus, whom Apollo loved so madly, was
you in Greek days.

Why are you alone in London, and when do you go to Salisbury? Do go there to cool your
hands in the grey twilight of Gothic things, and come here whenever you like. It is a lovely
place and lacks only you; but go to Salisbury first.

Always, with undying love,


Yours, OSCAR."
A 6 de abril começa o primeiro dos processos contra ele., no Tribunal de Old Bailey.

Em 11 de abril, é transferido da Prisão de Bow Street, onde estava encarcerado, para a de


Holloway, como réu de crime inafiançável.

Em 1985, a sentença é decretada: Oscar Wilde foi condenado por sua relação dúbia com o
Lord e suas práticas homossexuais á 2 anos de cárcere. Segue-se uma transcrição das palavras
do Juíz, onde ele diz, entre outras coisas, qual seria a penalidade para o literato:

"IT IS NO USE FOR ME TO ADDRESS YOU. PEOPLE WHO CAN DO THESE THINGS MUST BE DEAD
TO ALL SENSE OF SHAME, AND ONE CANNOT HOPE TO PRODUCE ANY EFFECT UPON THEM. IT
IS THE WORST CASE THAT I HAVE EVER TRIED...THAT YOU, WILDE, HAVE BEEN THE CENTRE OF
A CIRCLE OF EXTENSIVE CORRPUTION OF THE MOST HIDEOUS KIND AMONG YOUNG MEN, IT IS
EQUALLY IMPOSSIBLE TO DOUBT. I SHALL, UNDER SUCH CIRCUMSTANCES, BE EXPECTED TO
PASS THE SEVEREST SENTENCE THAT THE LAW ALLOWS. IN MY JUDGEMENT IT IS TOTALLY
INADEQUATE FOR SUCH A CASE AS THIS.

THE SENTENCE OF THE COURT IS THAT YOU BE IMPRISIONED AND KEPT TO HARD LABOR FOR
TWO YEARS".

Depois desse incidente, toda sua fama e sucesso financeiro começa a desmoronar. Suas obras
e livros são recolhidos das livrarias, assim como suas comédias tiradas de cartaz. O que lhe
resta, acaba sendo leiloado para suas despesas do processo judicial.

Mesmo condenado, Wilde não abaixaria sua cabeça e declararia á todos que quisessem ouvir,
o que se passava dentro de si:

"O amor que não ousa dizer o nome' nesse século é a grande afeição de um homem mais
velho por um homem mais jovem como aquela que houve entre Davi e Jonatas, é aquele amor
que Platão tornou a base de sua filosofia, é o amor que você pode achar nos sonetos de
Michelangelo e Shakespeare. É aquela afeição profunda, espiritual que é tão pura quanto
perfeita. Ele dita e preenche grandes obras de arte como as de Shakespeare e Michelangelo, e
aquelas minhas duas cartas, tal como são. Esse amor é mal entendido nesse século, tão mal
entendido que pode ser descrito como o `Amor que não ousa dizer o nome' e por causa disso
estou onde estou agora. Ele é bonito, é bom, é a mais nobre forma de afeição. Não há nada
que não seja natural nele. Ele é intelectual e repetidamente existe entre um homem mais
velho e um homem mais novo, quando o mais velho tem o intelecto e o mais jovem tem toda a
alegria, a esperança e o brilho da vida à sua frente. Que as coisas deveriam ser assim o mundo
não entende. O mundo zomba desse amor e às vezes expõe alguém ao ridículo por causa
dele."

Ainda assim, a poesia estava em suas veias e escreve mais duas obras: "A Balada do Cárcere de
Reading", baseado na execução do ex-sargento Charles T. Woolridge dentro da Prisão de
Reading e "De Profundis", uma longa carta ao Lord Douglas.

Wilde era o prisioneiro C-33 do presídio de Reading. E, enquanto estava preso, mais
especificamente no ano de 1896, aconteceu um fato curioso: naquela madrugada de 3 de
fevereiro, ele diz ter uma visão. Era o espírito de sua mãe que aparecia para ele. "Eu a convidei
para sentar, mas ela só balançou a cabeça", disse o escritor. No dia seguinte, ele recebe a
notícia da morte de sua mãe.
Foi libertado em 19 de maio de 1897 e transferiu-se para a França, onde adotou o pseudônimo
de Sebastian Melmouth, usando esse nome inclusive para o seu registro no Hotel d´Alsace,
onde passou a maior parte do resto dos seus dias. Mesmo após sua libertação, continua a
manter contato com Lord Douglas, mas, sua relação já não era mais tão íntima. E, mesmo
antes do julgamento, haviam dúvidas sobre o tamanho da intimidade entre os dois.

Após toda essa decadência, mais física, econômica do que moral, conhece a pobreza, e tudo o
que de pior ela pode trazer. Vive isolado em hotéis baratos, destruindo-se através do absinto,
cuja cor lhe rendeu frases célebres.

Não mais veria seus filhos, que chegaram a ter a atitude absurda de trocar de nomes, visto á
vergonha que seu pai teria "impingido" ás suas vidas. Sua ex-mulher morreria em 1899.

Oscar Wilde, espirituoso e brilhante escritor, morreu de meningite e uma infecção no ouvido
chamada "cholesteotoma" (doença muito comum antes do advento dos antibióticos) em um
quarto barato de um hotel de Paris, ás 9 hrs 50 mins do dia 30 de novembro de 1900. Morreu
sozinho, mas, não desmoralizado, pois havia deixado insubstituível obra que, mesmo depois de
1 século, ainda é admirada e relembrada, tamanho á sua genialidade. Suas últimas palavras
foram "Esse papel de parede é horrível! Alguém precisa trocá-lo!", referindo-se ao papel de
parede do quarto de hotel onde se encontrava.

O dramaturgo jaz no cemitério Père Lachaise, o mais célebre de Paris, onde estão os túmulos
de outras 105 grandes personalidades do mundo, como Balzac, Chopin, Alan Kardec, La
Fontaine e Molière. Seu túmulo fica no número 83 da Avenue Carette, entre a Transversal 3 e a
Avenue Circulaire. Porém, esse não é o lugar onde ele foi inicialmente enterrado. Em 1900, ele
foi sepultado no pequeno cemitério de Bagneux. As únicas pessoas que compareceram ao seu
enterro foram seu amigo Robert Boss, que certa vez fez divulgação de alguns manuscritos de
Wilde e Lord Douglas.

Lord Douglas, ironicamente, arca com todas as despesas do funeral do escritor e depois disso,
casa-se, porém, não foi feliz em sua nova união, separando-se mais tarde. Sua vida pregressa
com Oscar Wilde o impede de ter a custódia dos filhos. Ele acaba seus dias ainda
rememorando a lembrança do escritor; recordações que deixa evidente em seu livro de
memórias, escrito em 1938, Without Apology (Sem Desculpas), onde faz um balanço de toda a
sua vida.

Sheyla de Campos.

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