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AULA JANE AUSTEN

“A maior vitalidade de uma obra se mede por sua capacidade de ampliar-se na


recepção e por sua duração no tempo”, nas palavras de Paulo Bezerra. O que dizer de JA?
Que é a criadora de uma obra curta (6 romances completos, 4 publicados em vida e 2
incompletos, mas que 200 anos após sua morte continua sendo lida e debatida dentro e
fora da academia. Que criou uma galeria de heroínas: algumas adoráveis – Elizabeth –
Outras nem tanto como Emma). Que tinha ciência que o casamento garantia estabilidade
(financeira) para a mulher, mesmo assim, ignorou essa regra. Não casou. Não teve filhos.

Jane Austen, assim como Machado de Assis, guardando claro as devidas


diferenças criou uma galeria de protagonistas (Elinor e Mariane RZ, Elizabeth OP, Fanny
MP, Ema E, Catherine Morland AN, Anne Elliot P que discutem o cotidiano, arte, as
convenções sociais de uma sociedade marcada pela hierarquização e o casamento em um
mundo orquestrado por senhores, ou seja, impera a dominação masculina para
lembrarmos de Pierre Bourdie. O teórico afirmava que a constituição da sociedade é feita
por homens e mulheres. A eles, dotados de força e racionalidade, caberia ser o provedor
da casa. A elas caberiam as atividades domésticas e a maternidade. A dominação
masculina não precisa ser justificada, porque no sistema patriarcal ela é naturalizada.

Até hj nós mulheres lutamos contra um discurso político, econômico, sobretudo,


religioso que estigmatiza nossos corpos e nossa alma. A condição subalterna a que fomos
submetidas (e algumas ainda estão) ao longo da História nos excluiu do espaço público,
nos tirou o direito de ler e escrever, sobretudo de decidir com quem passaríamos o resto
de nossas vidas porque existe um dogma que atesta que o que Deus uniu o homem não
separa”. A mulher foi negado o capital simbólico (prestígio, honra).

No que diz respeito à Educação, até no século XV era considerado desnecessário


a mulher. Sem acesso à instrução, educação e lazer ficava mais fácil a mulher entender
que o seu lugar era mesmo dentro de casa. Por não haver um sistema formal para educa-
las, os conventos foram úteis para educá-las. (MARY DEL PRIORE – HISTÓRIAS DAS
MULHERES NO BRASIL).

Em A Formação da Literatura no Brasil (2011), Marisa Lajolo e Regina Zilberman


também atestam o quanto era precária a educação da mulher. Sem formação e informação
a autoria feminina era inexistente.
A Literatura, de modo geral, teve como base a participação e homens letrados,
bacharéis, de áreas variadas, sobretudo, Direito e Medicina. Simone de Beveouair, em
seu Segundo Sexo (1980), declarava que “uma mulher se torna humana no momento em
que se dedica as atividades públicas”.

Na própria Literatura, no século XVIII, a mulher é retratada como um ser passivo,


frágil, amoroso, provida de beleza e sedução o que a impediria de ser dotada de razão. O
homem seria o seu fim por meio do casamento e da maternidade.

SLIDES - Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.

 Jane Austen – escritora britânica nascida em 16 de dezembro de 1775, em


Steventon, zona rural da Inglaterra.

 É a sétima filha de um total de oito irmãos do reverendo George Austen, o pároco


anglicano local, e de sua esposa Cassandra (Leigh – nome de solteira).

 Em 1783, Jane e Cassandra foram para a casa da Sra. Cawley, em Southampton


para prosseguir a educação sob sua tutela, porém tiveram que regressar para casa
devido terem contraído uma doença.

 Entre 1785 e 1786, ambas foram alunas de um internato (Abbey School) em


Reading. A irmã e a mãe eram uma antítese na vida de JA. A primeira foi uma
referência para criação de suas heroínas. A segunda era cronômetro que lembrava
que as filhas deveriam se casar para manter sua sobrevivência.

 A educação que Austen recebeu ali foi a única fora do âmbito familiar. Sabe-se
que o pai possuía uma ampla biblioteca e desde cedo foi uma leitora voraz. Em
suas cartas ela mesma confidencia: nós éramos “ávidos leitores de romances, e
não se envergonhavam disso". O pai era tutor, uma espécie de preceptor, que para
complementar a renda ministrava aulas. Possuía uma enorme biblioteca com cerca
de 500 livros. As autoras renascentistas, por exemplo, tinham uma figura
paternas que as encorajava. Também foi o caso de Austen Shelley. O romance
era visto como um gênero popular, plebeu, recém-chegado à cena literária e por
isso sem nenhuma tradição. Foi na era vitoriana (1837-1901) que o romance se
tornou a principal forma literária em língua inglesa. A maioria dos escritores
estava agora mais interessada em agradar ao público leitor de classe média do que
aos seus patronos aristocratas. As mais notáveis obras dessa época incluem
trabalhos poderosamente emocionais das irmãs Brontë;

 Jane Austen nunca se casou. Sabemos que ela teve um amor juvenil com Thomas
Lefroy, aos 20 anos. Por questões financeiras: não puderam casar-se. Tempos
depois, uma tia de Lefroy tentou aproximar Jane do reverendo Samuel Blackall,
mas ela não estava interessada.

 Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras versões dos romances que se
publicariam Pride and Prejudice (Sua primeira tradução realizou-se em 1940 por
Lúcio Costa), Sense and Sensibility (Sua primeira tradução realizou-se em 1944
por Dinah Silveira de Queiroz), e Northanger Abbbey (Sua primeira tradução
realizou-se em 1944 por Ledo Ivo).

 Em 1797, seu pai quis publicar Orgulho e Preconceito, mas o editor, Thomas
Cadell, recusou.

 Em 1800, a família muda-se para Bath, segundo vontade de seu pai, o reverendo
Austen. (Cidade de águas termais perto de Londres e que serviu de cenário para a
obra A Abadia de Northanger e Persuasão)

 Em 1803, em Bath, Jane conseguiu a primeira venda de um de seus romances


Northanger Abbey por 10 libras esterlinas, no entanto, este só foi publicado em
1817, 14 anos depois.

 Em 1805, o reverendo Austen veio a falecer deixando a família em uma situação


econômica precária.

 Em 1806, mudam-se para Southampton, cidade onde outrora recebera a instrução


na casa da Srª. Cawley.

 Em 1809, a família retorna a Hampshire, porém em Chawton onde o irmão,


Edward, as abrigaria em uma pequena casa dentro de uma de suas propriedades,
onde pôde retomar suas atividades literárias

 Em 1810 ou 1811, Sense and Sensibility, foi aceito por um editor e foi publicado
em outubro do mesmo ano, de maneira anônima, “By a Lady”, ainda que Jane
assumisse os riscos da publicação. Este livro lhe rendeu lucro de 140 libras
esterlinas e obteve algumas bem-sucedidas críticas. (Jane Todd explicou 4 formas
de publicação: 1) Vender o direito autoral e não se preocupar com a produção e a
venda; 2) Persuadir o editor a diminuir os custos e dividir lucros; 3) conseguir
uma lista de assinantes que pagassem pela obra; 4) pagar pela produção e receber
os lucros, exceto pela edição do editor, e aceitar as perdas.

 No final de 1812, Pride and Prejudice fora vendido a uma editora e o nome Jane
Austen começa a ser conhecido. Talvez pq escrever não fosse uma profissão
honrável. Honrável era ser preceptora, dama de companhia, governanta ou
modista. Escrever era “assumir a iniciativa do criador e como Sandra Gilbert
Susan Guban colocam seria “usurpar o instrumento masculino de poder”, o falo
que a pena pode simbolizar. A Literatura é linguagem. Linguem é poder. Clarice:
“adestrei-me dsde os 7 anos para que um dia eu tivesse a língua em meu poder”.

 Lançado em 1814, Mansfield Park foi sucesso absoluto, sendo vendidos todos
os exemplares em seis meses. (A primeira tradução ocorreu em 1942 por Raquel
de Queiroz)

 Em 1815, Jane publica Emma e inicia a obra Persuasion.

 Em 1816, uma nova edição de Mansfield Park não obteve o mesmo êxito da
edição anterior e ocasionou uma queda nos rendimentos com relação à primeira
edição. (A história da moderna teoria da literatura em três fases: preocupação com
o autor, preocupação com o texto, preocupação com o leitor. O que nos lembra a
Estética da Recepção, o leitor se torna a instância responsável pelo que lê. Jauss
reivindica que se torne como princípio historiográfico da literatura o modo como
as obras foram lidas e avaliadas por seus diferentes públicos na história

 Neste mesmo ano, Austen adoece. Escreve à irmã Cassandra: “Escrever me


parece impossível, com a cabeça cheia de quartos de carneiro e doses de ruibarbo”.
Ainda assim, por muitos meses insistiu que estava melhor, começando, inclusive,
um novo romance: Os Irmãos.

 O livro falava de várias famílias que viviam a beira-mar e nunca foi finalizado.
Após a morte da autora, os Austen mudaram o nome da história nunca finalizada
para Sanditon.
 Em 1817 falece aos 41 anos de idade em decorrência da Doença de Addison
(Doença em que as glândulas adrenais não produzem hormônios). Suas últimas
palavras foram: "Não quero nada mais que a morte”.

 Jane está sepultada na Catedral de Winchester, em cujo epitáfio lemos: “She


opened her mouth with wisdom and in her tongues is the law of kindness” (“Ela
abriu sua boca com sabedoria e em sua língua reside a lei da bondade”). Nele não
mencionava que ela era autora de romances.

 Jane deixou em seu testamento tudo que possuía para Cassandra, sua irmã.

 AUSTEN E SUAS PERSONAGENS

 É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de


uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa”. (Orgulho e Preconceito,
1813) (Uma das características de JA para desafiar o sistema patriarcal era a
IRONIA= Rossi entende a ironia como um subtexto. Ele caracteriza a escrita
feminina repleta de subtextos que são bem perceptíveis para as leitoras, pois aos
olhos da Lit Masculina a subjetividade do texto feminino seria “algo inferior,
opacado e indefinido”. É no subtexto que se articula um Feminismo que tentará
minar as oposições patriarcais. O diálogo entre o texto e o subtexto, entre o dito e
não dito, entre o significante e o significado tornam a escrita das mulheres
complexa e “estranha” aos homens que não conseguem submeter sua voz, por isso
a trata como inferior. Aparecido Donizete Rossi.

Seria a pena uma metáfora do falo? Ou a inquietante presença da mulher na literatura.


 Como a escrita de mulheres não se encontra dentro de uma tradição, as mulheres
que escreveram não se encontravam amparadas por suas antecessoras desta forma,
segundo Rossi, esta falta de bases teóricas causaria nelas “um medo da incerteza,
o medo de ser uma voz única gritando”. Muitas dessas mulheres produziam,
segundo Virginia Woolf, “semanais de má qualidade” que não iam além do que
era permitido na sociedade.
 E afinal Marianne, por mais fascinante que seja a ideia de um único e constante
amor e apesar de tudo o que se possa dizer sobre a felicidade de alguém depender
completamente de uma pessoa determinada, as coisas não devem ser assim, nem
é adequado ou possível que seja”. (Elinor) “… não tenho medo de mostrar meus
sentimentos e de fazer coisas imprudentes, pois acredito que o que não se mostra,
não se sente”. (Marianne)

 “O que é tolerável na juventude é detestável na velhice”. (Emma)

 “‘Eu acho, Fanny começou, depois de refletir por alguns instantes, que toda
mulher deveria admitir a possibilidade de um homem não ser aceito, não ser
amado por alguma mulher, por mais atraente que muitas o considerem. Ainda que
ele tenha toda a perfeição do mundo, nenhuma mulher que por acaso lhe inspire
afeição tem necessariamente de aceitá-lo. (Mansfield Park, 1814)

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