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O RETRATO DE
DORIAN GRAY
Índice
O autor 3
A obra 12
O tradutor 19
Personagens 21
Resumo dos capítulos 23
O autor
Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em Dublin, aos 16 de
outubro de 1854, segundo dos três filhos do casal de intelectuais
irlandeses Jane e William Wilde. Sua mãe, poetisa de inspiração na-
cionalista, colaborava na imprensa com seus poemas e artigos defen-
dendo a identidade irlandesa; também era autoridade em mitologia
céltica e se interessava pelo renascimento neoclássico, gosto manifes-
tado nas pinturas e bustos com que decorava a casa. Seu pai, além
de renomado médico, escrevera livros sobre arqueologia e cultura
popular irlandesas.
Até os nove anos, Oscar foi educado em casa, ambiente comumente fre-
quentado por artistas e intelectuais irlandeses. Ainda menino, aprendeu,
com a babá francesa e a governanta alemã, seus respectivos idiomas.
3
ter-se provado um estudante excepcional do Trinity, foi encorajado
a competir por uma bolsa para o Magdalen College (Oxford), que
conseguiu sem dificuldade.
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relevância e sinceridade dessa atração, ainda que seja fato que Wilde
lia avidamente as obras do cardeal Newman e tivesse mais de uma
vez discutido sua conversão com membros do clero. Enquanto W. H.
Auden comenta com indiferença que “aparentemente o flerte com o
Catolicismo Romano estava na moda em Oxford, na época”, o biógra-
fo e crítico literário Joseph Pearce vê nesses ensaios de conversão um
reflexo do drama interno pelo qual passava nosso autor, cujos poemas
exibem “um amor desinteressado pelo Cristo ou, nos momentos mais
sombrios, uma profunda aversão em face da feiura dos seus próprios
pecados”. Richard Ellmann, autor de uma das biografias mais com-
pletas de Wilde, considera o poema “Hélas!” uma manifestação das
dicotomias que o poeta via em si mesmo:
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Depois de formado, com o que restara da herança do seu pai, faleci-
do em 1876, Wilde estabeleceu-se em Londres. Três anos depois, em
1881, publica seu primeiro livro, Poems, a um só tempo um sucesso de
vendas e alvo de duras críticas pela imprensa. Nessa altura, Wilde já se
havia estabelecido nos círculos sociais e artísticos londrinos e era uma
das pessoas mais faladas da cidade, famoso por seu senso de humor
sagaz, seu sarcasmo implacável e sua presença quase que performática,
e alvo preferido dos periódicos críticos ao Esteticismo, nos quais era
frequentemente ridicularizado.
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impiedosamente, ridicularizando seus trajes de veludo, calças curtas
e meias de seda, Wilde, que então contava 28 anos, foi festejado nos
salões da moda e conquistou a simpatia das platéias mais improváveis,
como, por exemplo, um grupo de mineiros do Colorado, com quem
bebeu uísque no subsolo, após falar-lhes sobre Benvenuto Cellini.
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defense of Dorian Gray, lança luzes interessantes sobre a compreensão
que Wilde possuía acerca da própria obra, como veremos adiante.
No ano seguinte, o romance foi publicado em forma de livro, tendo
sido amplamente revisado pelo autor, que adicionou um prefácio,
sete novos capítulos, e removeu algumas passagens.
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Alfred, a quem o garoto fazia questão de confrontar, acusa Wilde pu-
blicamente de sodomia.
A maior parte da sua pena foi cumprida em Reading Gaol, onde, após
algum tempo, conseguiu permissão para possuir materiais para escrita
e livros. Solicitou, entre outros, a Bíblia, gramáticas de italiano e ale-
mão, a Divina Comédia, de Dante, o romance recém-publicado por
Joris-Karl Huysmanns, En route, uma história de redenção cristã, e
textos de Santo Agostinho, do Cardeal Newmann e de Walter Pater.
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todas as manhãs um trecho dos Evangelhos – “os quatro poemas em
prosa sobre Cristo”.
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Wilde chegou a se reencontrar com Bosie em 1897 e, em 1898, soube
da morte de sua esposa Constance, que havia mudado de sobreno-
me após o escândalo do processo. Ele mesmo passara a usar o nome
Sebastian Melmoth. Alguns amigos fiéis, como Robbie Ross, Max
Beerbohm e Reggie Turner, correspondiam-se regularmente com ele
e visitavam-no em Paris. A maior parte do tempo, entretanto, passava
sozinho, e acabou dissipando todo seu dinheiro em bebidas e rapazes.
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A obra
Aqueles que encontram intenções feias nas belas coisas são corrompidos sem sedução.
E isso é um crime.
Os que acham belas intenções nas belas coisas são cultivados. Esses têm esperança.
(...)
Um livro não é moral ou imoral. É bem ou mal escrito. Eis tudo.
(...)
Para o artista, pensamento e linguagem são instrumentos de uma arte.
O vício e a virtude são os materiais.
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vida moral humana, com seus vícios e virtudes – e da impropriedade de
julgar uma obra pela sua moralidade no lugar de sua beleza. Ficou famo-
so o aforismo “Um livro não é moral ou imoral. É bem ou mal escrito.
Eis tudo.”
Não foi por falta de aviso. O próprio Oscar Wilde, ainda em 1890,
publicou uma série de respostas aos críticos de seu romance recém-lan-
çado2, nas quais, após protestar contra a avaliação de qualquer obra de
arte por um ponto de vista moral – “a esfera da arte e a esfera da ética
são absolutamente distintas e separadas” –, afirma:
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O pintor, Basil Hallward, por adorar demais a beleza física,
como a maioria dos pintores faz, morre pela mão de alguém
em cuja alma ele criou uma vaidade monstruosa e absurda.
Dorian Gray, tendo levado uma vida de mera sensação e
prazer, tenta matar a consciência, e nesse momento se mata.
Lord Henry Wotton procura ser apenas o espectador da vida.
Ele descobre que aqueles que rejeitam a batalha estão mais
profundamente feridos do que aqueles que participam dela.
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De todo modo, ele deseja que essa “beleza ética” seja reconhecida em
seu romance “simplesmente porque ela existe, porque está lá”. Mas
não iremos encontrá-la, o próprio Wilde nos adverte, enunciada em
forma de uma lei ou um princípio geral. Essa moral
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Seu desejo de juventude perene será atendido, mas lhe custará sua
miséria moral. Deixa-se cada vez mais seduzir pelas teorias de Lorde
Henry que, por sua vez, já se decidira a dominar o jovem com sua in-
fluência, a fazer “seu esse ser maravilhoso”.
Após seu encontro trágico com Basil Hallward, que sempre se preo-
cupara com a influência perniciosa de Lorde Henry sobre o amigo a
quem adorava, Dorian começa a ser atormentado pelo peso de seus
pecados e pela aparente impossibilidade de expiação. Dedicara a vida
à busca da beleza, acumulara coisas belas, como que para se apropriar
do bem que emanam; mas sua alma tornara-se incompatível com esse
bem e ele percebe, em certo momento, que só estaria à vontade em
meio ao horror, à vileza e à degradação. “A fealdade, que ele odiara
porque faz as coisas reais, tornava-se-lhe cara por isso mesmo; a fealda-
de era a única realidade”.
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Oprimido pela consciência da própria corrupção e pela forte impres-
são que lhe causara a perspectiva da morte próxima, decide finalmente
emendar-se e levar uma vida de virtude. Tendo realizado o que consi-
dera sua primeira boa ação, vai ao retrato, na esperança de vê-lo menos
hediondo. O que contempla leva-o à beira do arrependimento, mas,
incapaz de aceitar as consequências de seus crimes, decide livrar-se da
pintura. É então que, nas palavras de Wilde, Dorian “tenta matar a
consciência, e nesse momento se mata.”3
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tanto –, das mais sublimes às mais degradantes. Conhecer é o primeiro
passo para desejar; caberá ao leitor decidir quais experiências e quali-
dades aspirará para si mesmo.
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O tradutor
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto nasceu no Rio
de Janeiro, em 5 de agosto de 1881, filho de dona Florência Cristóvão
dos Santos Barreto e do professor Alfredo Coelho Barreto. Paulo Bar-
reto, como era chamado pelos mais próximos, recebeu sua primeira
educação do próprio pai.
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Em 1904 publica o livro As religiões do Rio, coletânea de reportagens
de cunho sociológico sobre as manifestações religiosas minoritárias na
cidade. Sua obra mais conhecida, A Alma Encantadora das Ruas, de
1908, é também uma reunião de crônicas que retratam a cidade e seus
moradores, publicados na Gazeta de Notícias e na Revista Kosmos.
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Personagens
DORIAN GRAY. Jovem de beleza extraordinária, filho da bela Lady
Margaret Devereux – que poderia ter se casado com o homem que
quisesse – e de um rapaz pobre, com quem a jovem fugiu. O pai de
Dorian foi morto em uma armadilha armada por seu avô, Lorde Kel-
so. A mãe morreu quando ele era ainda um bebê. Os acontecimentos
narrados no romance se passam cinco anos após a morte de Lorde
Kelso, de quem Dorian herda a casa. O quarto superior, onde Dorian
esconde o retrato pintado por Basil Hallward, fora construído pelo
avô para uso específico do netinho, que odiava e desejava manter à
distância. Influenciado por Lorde Henry e por um livro, e seguro da
perenidade de sua beleza e juventude, Dorian cede a todos os prazeres,
cujos efeitos sobre si mesmo observa com interesse.
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LORDE HENRY “HARRY” WOTTON. Aristocrata cínico e de conver-
sação envolvente e sagaz. Sempre pronto a defender um hedonismo
autoindulgente e confrontar com ceticismo a moralidade comum,
compraz-se com impressionar e influenciar seus conhecidos, mas pa-
rece não colocar em prática os próprios conselhos. É antes um obser-
vador, com pretensões a analista “científico” das paixões humanas. É
ele quem aguça o narcisismo de Dorian, fazendo-o venerar a própria
beleza e juventude, e o corrompe com sua visão de mundo hedonista.
Lorde Henry confere total primazia à busca de novas experiências e
do prazer, mostrando-se sempre indiferente às consequências de suas
ações e conselhos. Trata também com indiferença, ou mesmo decep-
ção, seu casamento e sua esposa, Lady Victoria, que, por fim, deixa-o
por outro.
JAMES VANE. Irmão mais novo de Sibyl, que parte para a Austrália
como marinheiro. É ciumento e preocupado com o bem estar da irmã,
especialmente por não confiar que a mãe possa protegê-la. Promete
vingança, caso o cavalheiro por quem Sibyl se apaixona lhe faça algum
mal. Após a morte da irmã, torna-se obcecado por encontrar e matar
o “Príncipe Encantador”.
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Resumo
dos Capítulos
PREFÁCIO: Aforismos acerca dos temas da arte, do artista, do público
24
CAPÍTULO II: Retornam ao estúdio. Lorde Henry e Dorian são apre-
sentados. O aristocrata nota que o rapaz, realmente muito bonito, pos-
suía “a candura da mocidade aliada à pureza ardente da adolescência”.
Basil deseja terminar a pintura e pede a Lorde Henry que vá embora,
mas, por insistência de Dorian, esse acaba ficando.
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CAPÍTULO III: No dia seguinte, Lorde Henry visita seu tio, Lorde Fer-
Deixa entrever, porém, que seu namoro é menos pela jovem que pela
sua atuação nos palcos. “– Hoje à noite, ela é Imogênia e amanhã será
Julieta. – Quando ela é Sibyl Vane? – Nunca.”
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as paixões humanas. Quando retorna a casa, após jantar, encontra um
telegrama de Dorian comunicando seu noivado com Sibyl Vane.
alegria com a mãe, a quem fala sobre seu Príncipe Encantador, apelido
sob o qual oculta o nome de Dorian. A mãe, pragmática, acha incon-
veniente que a filha esteja apaixonada, menciona a dívida que possuem
para com o judeu dono do teatro, mas acrescenta que, se o rapaz for
rico, o casamento poderia ser considerado.
James, irmão mais novo da atriz, prepara sua partida para a Austrália,
como marinheiro. Preocupado com a irmã, recomenda repetidamente
à mãe que cuide bem dela. Odeia o jovem dândi que corteja Sibyl,
especialmente por ser um cavalheiro, e promete matá-lo caso faça mal
à irmã. Confronta a mãe acerca de um cochicho que ouvira e parte,
após reiterar sua preocupação com a irmã e sua ameaça ao jovem des-
conhecido.
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Após o jantar, os três partem para o teatro. Dorian e Lorde Henry
tomam uma carruagem e Basil Hallward segue-os sozinho, em outro
carro. O artista, sentindo cada vez mais o distanciamento de Dorian,
assume uma disposição melancólica.
Dorian passa a noite a vagar e quando retorna para casa, pela manhã,
nota que o retrato pintado por Basil Hallward, emoldurado em sua bi-
blioteca, parece mudado. De fato, a expressão do rosto está diferente,
a boca carrega um toque de crueldade. Ao olhar-se no espelho e ver
que permanece o mesmo, lembra-se do desejo que fizera no ateliê, de
que permanecesse jovem e o retrato recebesse, em seu lugar, os sinais
do envelhecimento e da corrupção. Considera se afinal teria sido real-
mente cruel com Sybil, e é tomado por uma profunda piedade, não
por si mesmo ou pela menina, mas pela imagem pintada, que teria sua
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beleza maculada a cada pecado que cometesse. Decide não mais pecar
e não mais dar ouvido às teorias de Lorde Henry, mas voltar para Sibyl
e reparar seu erro. O quadro seria o emblema de sua consciência. Co-
bre a pintura com um pano, pensa em Sybil e repete muitas vezes seu
nome. Retorna-lhe um eco enfraquecido do amor.
Lorde Henry visita o amigo e fica perplexo quando Dorian afirma que
pretende reparar sua brutalidade casando-se com Sibyl Vane. A carta
que o rapaz colocara de lado pela manhã trazia-lhe a notícia do suicí-
dio da atriz. Dorian, a princípio atordoado, acusa Sibyl de egoísmo,
por tirar-lhe a chance de se reerguer e escapar de suas paixões (pelo
casamento). Afinal, admite não estar tão sensibilizado pela tragédia
como deveria; pelo contrário, regozija-se com esse “maravilhoso epí-
logo” que tem a beleza das tragédias gregas. Lorde Henry aprova e
reforça a postura do rapaz frente aos acontecimentos. Decidem não
mais falar sobre o assunto e Dorian mostra-se grato ao amigo por suas
palavras e por compreendê-lo tão bem.
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Novamente sozinho, Dorian confere o retrato. Não há nova mudan-
ça. Por um momento pensa em rezar para que o estranho fenômeno
deixasse de operar; mas, afinal, quem não deseja a juventude eterna?
Decide-se por possuir todas as paixões, prazeres, alegrias e pecados.
Não importa o que acontecesse à imagem na tela, ele estaria a salvo.
Recoloca o pano sobre o quadro. Uma hora depois, junta-se a Lorde
Henry, na Ópera.
Mudam de assunto e Basil pede para ver o retrato, que decidira exibir
em Paris. Dorian, aterrorizado, impede que o amigo se aproxime do
quadro e ameaça romper a amizade. Em seguida, inverte a situação, e
consegue esconder seu segredo, fazendo com que Basil confesse o seu:
sua adoração por Dorian. Hallward, por fim, aceita que não verá mais
o retrato e vai embora. Dorian decide que precisa esconder o quadro.
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púrpura que, imagina, talvez já teria sido utilizada como pano mortu-
ário; agora ocultaria a degeneração do retrato. Por um momento, ar-
repende-se de não ter contato seu segredo a Basil, que o teria ajudado
a resistir à influência de Lorde Henry e de suas próprias paixões, mas
decide que já é tarde demais.
CAPÍTULO XI: Ano após ano, Dorian Gray, sob a influência do livro
amarelo, entrega-se a toda sorte de prazeres e curiosidades, sempre
insaciável, por mais que alimentasse seus desejos. Os boatos que seu
comportamento gerava eram neutralizados por sua aparência de pu-
reza jamais contaminada pelo mundo. Habituara-se a olhar-se em um
espelho colocado ao lado do retrato pintado por Basil Hallward. A
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comparação era-lhe prazerosa: enamorava-se mais e mais da própria
beleza e examinava com interesse sombrio as marcas do pecado e da
velhice que o quadro recebia em seu lugar. Observava os costumes da
sociedade, oferecia jantares; os jovens admiravam-no como modelo do
tipo ideal que combina o erudito e o cosmopolita. Elaborava filosofi-
camente sua nova forma de vida, o novo Hedonismo profetizado por
Lorde Henry, oposto ao puritanismo da época. A adoração dos sentidos,
o instinto da beleza e a ausência de obrigações e remorsos eram os artigos
do novo credo que colocava em prática. Buscava experimentar diferentes
modos de pensamento, um após o outro; colecionava histórias maravi-
lhosas e terríveis, de todas as épocas e lugares, e entesourava relíquias da
vida de outrora, que, como o herói do romance, experimentava como
sua própria vida. Fora envenenado pelo livro, a ponto de às vezes consi-
derar a maldade como simples meio para realizar sua concepção do belo.
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Dorian, com um riso de deboche, toma um lampião e diz a Basil que
o acompanhe para que conheça a verdade de sua alma.
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Dorian havia esquecido de esconder a tela na noite anterior e percebe
que uma mancha vermelha, como de sangue, brilhava úmida em uma
das mãos do retrato. Apressadamente cobre o quadro. Campbell entra
com seu equipamento. Horas depois, desce à biblioteca, declara que
fez o que lhe fora pedido e parte. Dorian vai à sala do andar de cima;
o cheiro é horrível, mas já não há sinal de Basil Hallward.
CAPÍTULO XV: Pouco mais de uma hora após Campbell deixar sua
casa, Dorian chega a uma recepção oferecida por Lady Narborough.
A festa e os convidados são entediantes e Dorian fica aliviado com a
chegada de Lorde Henry. Durante o jantar, não consegue comer nada,
mas sorve, ávido, várias taças de champagne. Dorian deixa a festa cedo.
Em casa, tenta relaxar, mas sua atenção é atraída para um móvel onde
guardava o que parecia um tipo de opiáceo. Soam as batidas da meia
noite, Dorian se disfarça com roupas comuns e toma um cabriolé em
direção ao rio.
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na penumbra e coloca-o sob a mira de seu revólver. O marinheiro é Ja-
mes Vane, irmão de Sibyl Vane. Dorian nega ter conhecido a menina e
pergunta há quanto tempo tudo acontecera. Quando James responde
que faz dezoito anos, Dorian ri e pede que o marinheiro veja seu rosto
sob a luz. James o conduz para debaixo de um poste e vê o rosto de
um rapaz de vinte anos. Atordoado por seu engano quase fatal, libera
Dorian. James permanece paralisado na calçada; a mulher do bar o
alcança e, desgostosa por Dorian continuar vivo, conta-lhe que há de-
zoito anos o Príncipe Encantador a tornara quem ela é, que se vendera
ao diabo em troca de um rosto bonito. James Vane corre até a esquina,
mas Dorian já havia desaparecido.
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dias resolve sair e vai juntar-se aos caçadores. Durante a caça, aciden-
talmente, um homem é baleado e morto. Dorian retorna a casa per-
turbado, considerando essa morte um mau presságio. Está decidido a
partir de Selby Royal naquela noite, quando o chefe dos guardas pede
para falar-lhe a respeito do homem morto há algumas horas. Não era
um dos batedores, como se pensara, mas um desconhecido com aspec-
to de marinheiro. Dorian toma um cavalo e corre ao local onde estava
o corpo. Ao confirmar que o morto era James Vane, solta um grito de
júbilo, com a certeza de que estava salvo.
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É tomado de dor e indignação ao perceber que a única mudança era
uma nova expressão de cinismo e hipocrisia, que a mancha vermelha
de sangue havia aumentado e se alastrado. Dá-se conta de que seu de-
sejo de ser bom não passava de vaidade e que o único modo de expiar
seus pecados seria pela confissão de seu crime. Jamais faria isso e, como
não havia outra prova contra ele a não ser o quadro, resolve destruí-lo.
Toma a mesma faca com que matara Basil Hallward e investe contra
o retrato.