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Aleister Crowley

Ocultista Inglês

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Aleister Crowley (nascido Edward


Alexander Crowley; Royal Leamington
Spa, 12 de outubro de 1875 — Hastings,
1 de dezembro de 1947), foi um membro
da Ordem Hermética da Aurora Dourada
e influente ocultista britânico,
responsável pela fundação de uma
doutrina (ou filosofia, dependendo do
ponto de vista) que batizou de Thelema.
Ele foi o co-fundador da A∴A∴ e, mais
tarde, um líder da O.T.O. Atualmente, é
mais conhecido como autor de obras
sobre magia e misticismo, dentre eles o
Livro da Lei, que tornou-se a escritura
sagrada principal dos thelemitas, e
doutros tratados sobre diversos
assuntos esotéricos como a cabala e o
tarô.
Aleister Crowley

Aleister Crowley em 1925.

Nascimento Edward Alexander


Crowley
12 de outubro de
1875
Royal Leamington
Spa, Warwickshire,
Inglaterra

Morte 1 de dezembro de
1947 (72 anos)
Hastings, East
Sussex, Inglaterra
Nacionalidade britânico

Cidadania Reino Unido, Reino


Unido da Grã-
Bretanha e Irlanda

Cônjuge Rose Edith Kelly

Alma mater Trinity College


Tonbridge School
Eastbourne College
Malvern College

Ocupação ocultista, escritor,


montanhista, poeta e
iogue

Obras destacadas Liber AL vel Legis,


Magick Without
Tears, 777 and Other
Qabalistic Writings of
Aleister Crowley
Movimento estético Thelema

Religião Thelema

Causa da morte bronquite

Assinatura

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Crowley também era poeta, mago,


escritor, hedonista, e crítico social. Em
muitas de suas façanhas, buscava "ir
contra os valores morais e religiosos do
seu tempo", defendendo a liberdade
individual e espiritual baseada no
principal lema thelêmico: "Faze o que tu
queres, há de ser tudo da Lei".[1] Por isso,
ganhou imensa notoriedade em vida, e
foi tachado pela imprensa britânica
como "The wickedest man in the world"
(algo como "O homem mais ímpio do
mundo").[2][3][4][5] Além das atividades
esotéricas, era também um premiado
enxadrista, alpinista, poeta, dramaturgo,
artista e novelista.[6] Em 2001, uma
enquete da BBC descrevia Crowley como
sendo o septuagésimo terceiro maior
britânico de todos os tempos, por
influenciar e ser referenciado por
numerosos escritores, músicos e
cineastas, incluindo Jimmy Page, Alan
Moore, Bruce Dickinson, Raul Seixas,
Marilyn Manson, John Lennon, Bruce
Dickinson, Kenneth Anger, David Bowie,
Fernando Pessoa, Lana Del Rey e Ozzy
Osbourne. Ele também foi citado como
influência principal de muitos grupos e
indivíduos influentes do esoterismo
ocidental da posteridade, incluindo
vultos como Kenneth Grant e Gerald
Gardner.[7]

Biografia

Primeiros anos, 1875-1894

Edward Alexander Crowley nasceu na


Rua Clarendon Square, n. 30, em Royal
Leamington Spa, no condado de
Warwickshire, Inglaterra, entre as 11h00
da noite e meia-noite do dia 12 de
outubro de 1875.[8] Seu pai, Edward
Crowley, era engenheiro de formação,
mas, segundo Crowley, nunca trabalhou
como um,[9] pois era um abastado dono
de uma cervejaria, que o permitiu se
aposentar antes mesmo que Crowley
nascesse. Através da cervejaria do pai,
Crowley conheceu o ilustrador Aubrey
Beardsley. A mãe de Crowley, Emily
Bertha Bishop, vinha de uma família com
raízes em Devon e Somerset.[9] Ambos
pais de Crowley pertenciam a uma seita
de nome Irmandade Reservada, uma
vertente ainda mais conservadora de
uma comunidade cristã fundamentalista
conhecida como Irmãos de Plymouth,[10]
na qual seu pai costumava ser
missionário. Deste modo, desde tenra
idade o jovem Crowley foi criado para ser
um Irmão de Plymouth, e obrigado todo
dia a ler um capítulo da Bíblia.[11]

Em 29 de Fevereiro de 1880,[12] Grace


Mary Elizabeth, uma irmã de Crowley,
nasceu, mas sobreviveu apenas cinco
horas. No velório, ao ver o corpo da
pequenina irmã, Crowley, detalhando-se
a si mesmo na terceira pessoa em sua
autobiografia As Confissões de Aleister
Crowley, descreve-nos a cena da
seguinte forma:

O incidente criou nele uma


curiosa impressão. Ele não
entendia o porque de estar tão
inutilmente perturbado. Ele
não poderia fazer nada; a
menina estava morta; aquilo
não era de sua conta. Essa
atitude persistiu nele com o
passar da vida. Nunca mais
compareceu a outro velório,
salvo o do próprio pai, que ele
não se importou em
comparecer porque sentiu que
o pai era, em verdade, o centro
de seu interesse.[13]

Em 5 de Março de 1887, quando Crowley


tinha apenas onze anos, seu pai morreu
de câncer de língua. Crowley mais tarde
descreveria esse evento como decisivo
em sua vida,[14] sendo neste o ponto em
que passa a descrever-se em primeira
pessoa nas Confissões. Tendo herdado
as riquezas do pai, mais tarde foi
matriculado numa escola particular da
Irmandade de Plymouth, mas foi expulso
por "tentar corromper outro aluno".[14]
Depois, tentou a Escola de Tonbridge e o
Colégio de Malvern, ambos os quais
desprezava.[14] Na adolescência,
gradativamente se desiludia e tornava-se
cético quanto ao cristianismo, e cada vez
mais atentava contra a moralidade cristã
que lhe fora forçada quando criança.
Universidade, 1895-1897

Em 1895, Crowley entrou num curso de


três anos do Trinity College, Cambridge,
para estudar filosofia. Porém, com
permissão do tutor, trocou o curso para
literatura inglesa, que até então não era
parte do currículo oferecido.[15] Foi aqui
que passou a ter uma visão mais severa
contra o cristianismo. Conforme
confessou:

A Igreja Anglicana […] me


parecia com uma estreita
tirania, tão detestável quanto a
dos Irmãos de Plymouth; ainda
menos lógica e mais
hipócrita… Quando descobri
que comparecer à capela era
obrigatório, imediatamente
recusei. O vice-reitor me
repreendeu por não estar
comparecendo à capela, e não
estava mesmo, pois tinha que
acordar cedo para isso. Dei a
desculpa de que tinha sido
criado entre os Irmãos de
Plymouth. O reitor pediu para
que eu viesse vê-lo de vez em
quando para contar mais do
assunto, ao que tive a
surpreendente ousadia de
escrever-lhe: "A semente
plantada pelo meu pai, regada
com as lágrimas de minha
mãe, arraigaram-se demais
para serem arrancadas, até
mesmo por alguém de sua
eloquência e erudição".[13]

Também foi na universidade em que


tomou a decisão de mudar o nome
Edward Alexander para Aleister. A
confissão sobre isso foi:

Por muitos aborreci-me ao ser


chamado de Alick, parte
devido ao ruído e estética
desagradáveis da palavra,
parte devido a ser esse o
nome pelo qual minha mãe
me chamava. Edward não
parecia combinar comigo,
muito menos os diminutivos
Ted ou Ned. Alexander era
muito longo e Sandy dava
ideia de uma loira sardenta.
Eu tinha lido num livro por aí
que o nome mais propenso a
se tornar famoso era
composto de um dátilo
seguido por um espondeu,
como no fim de um
hexâmetro: por exemplo
Jeremy Taylor. Aleister
Crowley preenchia essas
condições e Aleister é a forma
gaélica de Alexander. Era o
nome que satisfaria meu ideal
romântico. A ortografia atroz
A-L-E-I-S-T-E-R foi sugerido
como a correta pelo primo
Gregor, e ele que o diga! De
qualquer modo, A-L-A-I-S-D-A-
I-R cria um dátilo muito ruim.
Por essas razões eu decidi
ficar com meu pseudônimo
atual — não posso dizer com
certeza se facilitei ou não a
chegada da fama com isso.
Sem dúvida, deveria ter feito
isso qualquer um que tivesse o
nome que eu escolhesse.[16]
Boa parte dos anos universitários
Crowley passou com seus passatempos,
entre eles o alpinismo; todo ano durante
os feriadões, de 1894 a 1898, viajava
para os Alpes com vários outros
alpinistas, que o descreviam como "um
alpinista promissor, porém um tanto
quanto errático".[17] Outro de seus
passatempos era o de escrever poesia,
coisa que ele fazia desde os dez anos de
idade, e em 1898 publicara
independentemente cem cópias de um
de seus poemas, Aceldama, mas que não
vendeu muito.[18] Apesar disso, no
mesmo ano publicaria uma série de
outros poemas, sendo o mais notório
White Stains (literalmente, Alvas Máculas
(https://en.m.wikipedia.org/wiki/White_S
tains) ), uma obra erótica que teve de ser
impressa no exterior, para evitar
escândalos com as autoridades
britânicas.[19] Um terceiro passatempo
seu era o xadrez. Era sócio do clube de
xadrez da universidade, onde, segundo
alega, venceu o presidente do clube no
primeiro ano, e praticava duas horas por
dia para se tornar um campeão — "Minha
ambição mundana mais séria era a de
me tornar campeão mundial de
xadrez."[20] Também relata ter vencido os
famosos enxadristas Joseph Henry
Blackburne e Henry Bird, e que estava em
vias de se tornar um mestre enxadrista,
até que visitou um importante torneio de
1897 em Berlim, onde "vi os mestres — o
primeiro, um decrépito ranzinza e
cegueta; o outro, talvez um jeito
respeitoso de descrevê-lo seria mal-
apessoado; o terceiro, uma reles sátira
de gente, e desse nível para baixo quanto
ao resto. Esse era o tipo de pessoa cujo
lugar eu queria ter. "Dali, mas com a
graça de Deus, se vai Aleister Crowley",
exclamei para mim com desgosto, e
daquele dia em diante fiz um voto de
nunca mais jogar outra partida séria de
xadrez".[21] Na universidade, também
alegava manter uma vida sexual robusta,
quase toda vigorada à base de
prostitutas e moças que conhecia em
bares e tabacarias.[22] Em 1897, Crowley
conheceu um homem chamado Herbert
Charles Pollitt, com o qual teve um
relacionamento,[23] mas que não deu
certo pois Pollitt não compartilhava dos
interesses de Crowley no esoterismo.
Como confessa o próprio Crowley, "[e]u
disse pra ele, na maior franqueza, que eu
tinha devotado minha vida à religião e
por isso ele não se encaixaria. Hoje vejo
como fui babaca com ele, como
terrivelmente errado e fraco é rejeitar
uma pessoa por causa de uma parte da
personalidade dela".[24]

Em dezembro de 1896, Crowley teve a


primeira experiência religiosa marcante,
da qual mais tarde afirmou: "essa
filosofia nasceu em mim."[25][26] A partir
dessa experiência, Crowley começou a
pesquisar sobre ocultismo e misticismo
e, no ano seguinte, começou a ler
opúsculos de alquimistas, obras de
místicos e tratados de magia.[8] Em
outubro daquele ano, uma rápida e
severa doença lhe trouxe reflexões sobre
a mortalidade e a "futilidade de toda
atividade humana" ou, pelo menos, a
futilidade da carreira diplomática que
Crowley tinha considerado antes.[27] Ao
invés de tudo isso, decidiu devotar-se de
corpo e alma ao Oculto. Largou
Cambridge em 1897, sem conquistar
diploma algum.
A Aurora Dourada

Em 1898, Crowley passeava em Zermatt,


Suíça, quando conheceu o químico
Julian L. Baker, com quem começou
trocar interesses em comum sobre
alquimia. No retorno à Inglaterra, Baker
apresentou Crowley a George Cecil
Jones, seu cunhado e membro da
irmandade ocultista conhecida como
Ordem Hermética da Aurora Dourada.[28]
Mais tarde, o próprio Crowley foi iniciado
na outer order ("ordem exterior") da
Aurora Dourada, no dia 18 de novembro
de 1898, pelo grão-mestre da irmandade,
S. L. MacGregor Mathers.[29] A cerimônia
foi realizada no Mark Mason's Hall de
Londres, e foi nela que Crowley se apôs o
lema e nome mágico de Fráter
Perdurabo, que quer dizer "Perdurarei até
o fim." Richard Spence e Tobias Churton,
ambos biógrafos de Crowley, sugeriram
que Crowley juntara-se à Aurora Dourada
sob comando do serviço secreto
britânico para espionar Mathers, que
suspeitavam que era carlista.

Por volta dessa mesma época, mudou-se


de um aposento elegante no Cecil Hotel
para o próprio apartamento de luxo em
Chancery Lane. Ali, Crowley separaria
dois cômodos diferentes; uma câmara
para a prática de magia branca, e outra
para a de magia negra.[30] Pouco tempo
depois convidou um confrade da Aurora
Dourada, Allan Bennett, para morar com
ele, e Bennett lhe foi um mentor,
ensinando-lhe cada vez mais sobre
magia cerimonial e enteógenos.[31][32]
Todavia, em 1900, Bennett se mudou
para o Ceilão (atual Sri Lanka) para
estudar budismo,[33] enquanto Crowley,
em 1899, comprou a infame Mansão
Boleskine, em Inverness, Escócia, às
margens do Lago Ness. Lá, deixou
desabrochar um carinho especial pela
cultura escocesa, apelidando a si mesmo
de "Lorde Boleskine" e passando vestir
trajes tradicionais típicos até mesmo
durante visitas a Londres.[34] Enquanto
isso, uma dissensão chacoalhou a
Aurora Dourada, quando MacGregor
Mathers, o grão-mestre, foi deposto por
um corrilho de membros descontentes
com regime autocrático dele. A princípio,
Crowley contatara esse corrilho pedindo
para receber a iniciação às ordens
superiores da Aurora Dourada, mas foi
recusado. Impávido, foi ter com
MacGregor Mathers, que por uma grande
quantia em dinheiro o iniciou na segunda
ordem.[35] Agora leal a Mathers, ele (com
a então amante e parceira ritualística,
Elaine Simpson) tentaram ajudar a
interromper a rebelião, e sem sucesso
tentaram tomar o espaço de um lugar
conhecido como Cúpula de Rosenkreutz
dos rebeldes.[36] Crowley também
desenvolveu mais querelas com outros
confrades da Aurora Dourada;
desdenhava do poeta W.B. Yeats, que
tinha sido um dos rebeldes, e também
por que Yeats não era muito fã de um
dos poemas de Crowley, Jephthat.[37]
Também regava antipatias contra o
historiador maçônico e ocultista Arthur
Edward Waite, que por sua vez irritava os
demais confrades da Aurora Dourada por
ser um crítico notoriamente pedante do
esoterismo.[38] Crowley defendia o ponto
de vista de que Waite era um chato
pretensioso, graças às demasiadas
críticas que fazia aos escritos e
editoriais dos colegas ocultistas. No
periódico O Equinócio, do qual Crowley
era colunista, recorria até a trocadilhos
quando o criticava, como no caso de
Wisdom While You Waite ("Sabedoria
enquanto se espera" ou "Sabedoria
enquanto Waite", graças ao trocadilho
com wait), e até na nota de falecimento,
Dead Waite ("Peso Morto", trocadilho
com weighty).

Viagens pelo mundo

Enquanto isso, em 1900, numa veneta


aleatória, Crowley tinha viajado ao
México através dos Estados Unidos,
onde arranjou uma mulher local como
amante, e junto com o amigo Oscar
Eckenstein resolveram escalar diversas
montes, incluindo o Ixtaccihuatl, o
Popocatepetl e até o Colima, do qual
tiveram que abandonar de última hora
graças a uma erupção.[39] Durante esse
período, Eckenstein revelou as próprias
tendências místicas. Crowley tinha
continuado sozinho com experimentos
mágicos após renegar Mathers, e seus
diários indicam que foi durante nessa
época que ele descobriu o significado da
palavra mágica Abrahadabra. Eckenstein
lhe disse que precisava melhorar o
controle de própria mente, e lhe
recomendou a prática de raja ioga.[40]
Depois de deixar o México, um país do
qual se tornara um grande apreciador,
Crowley visitou São Francisco, Havaí,
Japão, Hong Kong e finalmente Ceilão,
quando re-encontrou Allan Bennett e se
devotou ainda mais à ioga, na qual mais
tarde alegou ter atingido o estado mental
de dhyana. Foi durante esta visita que
Bennett decidiu se tornar um monge
budista da tradição Theravada, viajando
até à Birmânia, enquanto Crowley tinha
ido à Índia estudar as muitas
ramificações do hinduísmo.[41] Em 1902,
Eckenstein se juntou a ele na Índia com
alguns outros alpinistas: Guy Knowles, H.
Pfannl, V. Wesseley, e Dr Jules Jacot-
Guillarmod. Juntos, a expedição
Eckenstein-Crowley tentou escalar o K2,
que até então nenhum outro europeu
tinha tentado escalar. Nessa jornada,
Crowley se infectou com influenza,
malária e cegueira de neve, junto com
outros membros. Atingiram seis mil
metros de altura antes de decidirem
retornar.[42] Ao retornar à Europa, visitou
MacGregor Mathers em Paris, e apesar
de terem sido amigos uma vez, os dois
logo se estranharam; Crowley afirmou
que Mathers estava roubando dele
enquanto ele esteve fora (Crowley mais
tarde roubou tudo de volta), e como o
biógrafo de Crowley John Symonds
notou, ambos se consideravam os
maiores esoteristas vivos e se
recusavam a sujeitar-se ao outro.[43] Em
1903, por conveniência ao invés de afeto,
Crowley se casou com Rose Edith Kelly,
que era irmã de um amigo de Crowley, o
pintor Gerard Kelly. Entretanto, pouco
depois do casamento, Crowley se
apaixonou de verdade por ela e os dois
começaram a namorar. Gerard Kelly era
de fato um grande amigo do escritor W.
Somerset Maugham, que mais tarde se
inspiraria Crowley para criar um
personagem na sua novela O Mágico,
publicada em 1908.[44]

O Liber T., ou Livro de Tóte

O Book of Thoth consiste em 78


ilustrações que compõem o Tarô de Tóte,
que antecipam a cultura psicodélica dos
anos 60; esse ilustrações foram pintados
pela artista inglesa Frieda Harris entre os
anos de 1938 e 1943, sob a direção de
Aleister Crowley. As aquarelas foram
compradas pelo Instituto Warburg em
Londres, onde são mantidos até hoje. O
baralho foi impresso pela primeira vez
em Dallas, em 1969, por Grady McMurtry,
mas apenas na cor vermelha. Por esta
razão, foi apelidado de Sangreal One-
Color Tarot. Só em 1977 o tarô foi
impresso com as cores originais, por US
Games Systems e Samuel Weiser.[45]

A Revelação do Livro da Lei

O ano de 1904 foi divisor de águas para


Crowley, o ano em que o mistério que
viria perseguí-lo por toda a vida estava
por se revelar, como bênção e maldição.
À época, Crowley já era um magista
(mago cerimonial) competente, e um
iniciado veterano na Aurora Dourada,
uma das mais importantes ordens
mágicas de todos os tempos.

Naquele tempo, Crowley estava viajando


o mundo. Em março e abril de 1904,
estava no Cairo, Egito, em lua-de-mel
com a esposa, Rose Kelly. Mesmo entre
as alegrias da viagem de núpcias,
Crowley e Kelly não largavam os afazeres
esotéricos. Durante um trabalho de
invocação de elementais do ar para a
esposa, ao invés dos sílfides Kelly
começa a canalizar e a balbuciar que o
deus egípcio Hórus falava através dela. O
deus prescreve então uma série de
detalhes para um ritual de invocação, e o
resultado deste ritual se dá nos dias 8, 9
e 10 de abril, nos quais Crowley recebe o
Liber Al vel Legis (Livro da Lei), uma
suposta escritura sagrada e grimório
contendo a Lei e as liturgias mágicas do
"Novo Aeon" (a Era de Aquário). Crowley
ficou perplexo com o conteúdo, mas a
força das revelações lá contidas, que
segundo ele influenciaram eventos
históricos de magnitude global (Primeira
e Segunda Guerras Mundiais, por
exemplo), deixou para ele fora de dúvida
a veracidade, beleza e poder do Livro da
Lei.

O Livro foi todo ditado por uma entidade


de nome Aiwass, que mais tarde Crowley
reconheceu que era o seu "Eu superior"
ou S.A.G. (Santo Anjo da Guarda, na
magia cerimonial). A Lei da Nova Era é
sintetizada na frase Faze o que tu queres
há de ser o todo da Lei, e tem como
contraponto e complemento Amor é a
Lei, amor sob Vontade. Essa vontade
seria a Verdadeira Vontade, ou Thelema
(do coiné θέλημα, "vontade, arbítrio"), em
que o indivíduo possui absoluto
discernimento das forças que
movimenta e o movimentam. Por isso,
dificilmente poderíamos concluir daí um
antro de libertinagem, pois o vasto corpo
de estudos thelêmicos escrito por
Crowley diferencia em mais de um
momento libertinagem de liberdade com
sabedoria. Nas próprias palavras de
Crowley:

O tolo bebe, e se embebeda: o covarde


deixa de beber. O homem sábio, valente
e livre, bebe, e glorifica ao Deus
Altíssimo.

Os Livros Sagrados de Thelema

"Os Livros Sagrados de Thelema" são


uma compilação dos mais importantes
livros escritos por Aleister Crowley entre
1907 e 1911, que resultaram na
fundação de uma nova religião, ou
filosofia, em nova esfera, distante do eixo
principal em torno do qual revolve-se a
vida espiritual judaico-cristã. Nesse
sentido, Thelema pode ser caracterizada
não apenas como uma religião secular,
mas também como uma ética filosófica.
A obra se subdivide em 14 livros
sagrados.

Os textos Classe A, segundo Crowley,


não são de sua autoria, pois foram
apenas redigidos através dele em
hierofanias ou epifanias. Portanto, são
considerados obras inspiradas, ou
reveladas, que apresentam
características em comum com outras
escrituras sagradas: estão acima das
necessidades e dos valores imanentes;
encarnam uma tradição religiosa com
práticas rituais; empregam alegorias
temporais para representar o mistério
que transcende o tempo; fazem
referência ao transcendente e a lugares
de pertença, de tradição e de
experiência. E o mais importante:
seguem o princípio da imutabilidade do
cânone religioso, em que mínimas
variações de uma só letra são capazes
de invalidar, de maneira irreversível, todo
o sentido dos escritos sagrados.[46]
Xadrez, Astrologia e Suicídio Teatral
em Portugal

Em 1930, a cidade de Lisboa assistiu ao


mais improvável dos encontros: o do
mago ocultista Aleister Crowley com o, à
época obscuro, poeta português
Fernando Pessoa.[47]

Nos idos de setembro de 1930, Crowley


recebe uma correspondência cujo
remetente residia em Portugal: à época
astrólogo e poeta entusiasta, o gentil
lusitano dizia ser um acompanhador de
suas obras e escrevera-lhe para informar
que a tabela de correspondências
astrológicas de Crowley no Magick in
theory and practice ("Magia na teoria e na
prática") continham sérios erros, e
anexou à carta a tabela devidamente
corrigida.

Impressionado com a presteza e


erudição, Crowley não só reconheceu os
erros como imediatamente marcou uma
viagem para cumprimentar e conhecer,
em pessoa, o astrólogo luso que, como
ele, também revoava pelos céus da
poesia em busca de um lugar entre as
plêiades dos editoriais literários.

Nesse encontro, diversas trocas foram


realizadas, incluindo uma tradução para
a língua portuguesa de um dos primeiros
poemas mágicos de Crowley, o Hino a
Pã, e várias partidas amistosas de
xadrez.

O encontro terminou a 23 de setembro


com o suposto suicídio de Crowley na
falésia da Boca do Inferno, em Cascais,
encenado por Pessoa com a
colaboração de um jornalista. Essas
circunstâncias tornam lícito especular
que Crowley já viera a Portugal com essa
intenção em mente. No entanto, nada o
indica. Sugere-se mesmo que Crowley
pode ter chegado a pensar em suicidar-
se a sério. Em todo o caso, parece claro
que Crowley queria desaparecer por uns
tempos, antes de "ressuscitar" em
Berlim, onde inaugurou uma exposição
de pintura em outubro de 1931.

Talvez Crowley pretendesse recrutar


súditos em Portugal para as suas ordens
iniciáticas; mas, se o fez, não foi através
de Pessoa, que estava mais interessado
em usar Crowley para conseguir publicar
na Revista Mandrake seus poemas em
inglês. Uma expectativa que Crowley
alimentou, tentando convencer o poeta a
investir na abertura de uma filial da
editora em Lisboa. Crowley sabia que a
Mandrake estava falida, o que Pessoa
ignorava. Ambos estiveram também
empenhados na publicação de uma
novela policial sobre o mistério da Boca
do Inferno, que Pessoa deveria escrever
e que seria atribuída a um suposto
detetive inglês. O poeta ainda escreveu
200 páginas de textos fragmentários
para este livro, que nunca chegou a
terminar.

Influência na cultura
popular

Rock

Socialmente, Crowley se tornou


conhecido devido as referências feitas a
ele no rock n' roll dos anos de 1960 e
1970, pelas bandas Led Zeppelin, Rolling
Stones, Iron Maiden, The Beatles e Black
Sabbath, e pelos cantores Bruce
Dickinson, Ozzy Osbourne, David Bowie,
Raul Seixas e John Frusciante.

Os primeiros a citar Crowley em sua obra


foram os Beatles. Por serem britânicos,
os quatro membros da banda
acreditaram que Crowley era uma
personalidade influente o bastante para
ser colocado na capa do disco Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club Band. Isso
possibilitou que os próximos artistas
tivessem conhecimento da obra de
Crowley, que fazia uma boa combinação
com a rebeldia e o anarquismo
promovidos pelo rock n' roll.
O cantor e compositor brasileiro Raul
Seixas foi um grande divulgador e
seguidor da obra de Aleister Crowley.
Suas principais canções sobre Crowley e
a Thelema são "Sociedade Alternativa",
"Novo Aeon", "Loteria de Babilônia" e "A
Lei".

Uma das principais e provavelmente a


mais explícita referência musical é a
canção Mr. Crowley, do cantor britânico
Ozzy Osbourne, na qual, ao contrário dos
outros músicos, Ozzy fazia uma critica a
Aleister Crowley. Mr. Crowley foi lançada
no álbum Blizzard of Ozz, de 1980.
E além disso, o nome do álbum do Ozzy
Diary of a Madman (Diário de um Louco)
é atribuído em "honra" a autobiografia de
Aleister Crowley.

TV

Seu nome é citado na série Supernatural,


exibida pela Warner Channel. Na
cronologia atual da série, o Rei do
Inferno se chama Crowley, além de um
demônio torturador chamado Aleister.
Ambos os nomes fazendo menção ao
escritor.

Ele inicialmente é um dos antagonistas


do anime e mangá D.Gray Man, mas logo
se torna um membro da Ordem Negra,
instituição responsável pelo combate ao
Conde do Milênio - Principal antagonista
das séries. Seu personagem é um
vampiro.

No anime e mangá Toaru Majutsu no


Index, Aleister Crowley é um mago que
renegou a religião e recorre a ciência
para seus fins, sendo o cérebro por trás
da Cidade-Escola e o 'criador' do Imagine
Breaker, a habilidade do braço direito de
Kamijou Touma.

Também é citado no 3º episódio da série


da britânica Luther, da BBC.
Aleister Crowley é um dos temas
principais da série estadunidense
Strange Angel, lançada em 14 de junho
de 2018.[48]

Cinema

Em 2003, Carlos Atanes dirigiu


"Perdurabo (Where is Aleister Crowley?)",
um filme que tem lugar na Abadia de
Thelema durante 1939.

Em 2008, John Doyle dirigiu "Chemical


Wedding", com roteiro e trilha sonora de
Bruce Dickinson. O filme de terror, que
leva o mesmo nome do álbum solo do
cantor Bruce Dickinson de 1998, The
Chemical Wedding, cuja tradução seria
“Casamento alquímico”, tem como
enredo a reencarnação de Crowley no
corpo de um professor universitário.

Histórias em quadrinhos

Nos quadrinhos, Crowley começou a


aparecer como personagem secundário
em alguns gibis de terror, a partir dos
anos 1970. Mas a chamada Invasão
Britânica dos quadrinhos, que, nos anos
1980, apresentou ao mundo uma nova
geração de quadrinistas do Reino Unido,
quase pode ser chamada também de
Invasão Crowleyana. O Sonho (Sandman)
de Neil Gaiman surge nos quadrinhos ao
ser capturado por engano em um ritual
desastroso do mago Roderick Burgess,
criado à imagem de Crowley (de quem,
na HQ, é um rival).

No caso do roteirista britânico Grant


Morrison, quase toda a sua obra tem
alguma influência de Crowley: “ele é o
Picasso da Magia”, diz o quadrinista, que
se autointitula também um mago. Na
graphic novel Batman: Asilo Arkham, que
é até hoje sua HQ de maior sucesso
tanto de vendas como de crítica,
Morrison menciona explicitamente
Crowley ao recriar a biografia fictícia do
fundador do manicômio de Gotham City.
Amadeus Arkham conta que, quando
jovem, viajou à Inglaterra e foi
“apresentado ao ‘homem mais perverso
do mundo’... Aleister Crowley”. “Pareceu-
me um homem encantador e muito
educado”, diz Amadeus, “discutimos o
simbolismo do Tarot egípcio e ele me
venceu no xadrez... duas vezes”. Além
disso, um dos personagens da graphic
novel aparece diversas vezes lendo o
Thoth Tarot, de Crowley. Morrison
também escreveu uma peça de teatro
sobre o mago: Depravity, de 1990.

Mas o maior divulgador das ideias de


Crowley nos gibis é Alan Moore, que cita
O Livro da Lei diversas vezes em seus
quadrinhos, entre eles o famoso V de
vingança. Crowley aparece como criança
em Do Inferno (From Hell), a obra-prima
de Moore. E aparece transformado em
mulher na série Promethea, que um
crítico já definiu como “um gibi da
Mulher-Maravilha escrito por Aleister
Crowley”. Em 1996, Moore chegou a
desenvolver com o desenhista John
Coulthart um ambicioso projeto
dedicado a Crowley, mas o trabalho ficou
inacabado.

Bastante influenciados pelo Do Inferno,


de Alan Moore, os britânicos Martin
Hayes (roteiro) e R. H. Stewart (desenho)
criaram Aleister Crowley (Veneta/Chave,
2017), uma biografia do mago em forma
de quadrinhos.

Ver também
Ocultismo
Magia
Tarô de Thoth
Thelema
Os Livros Sagrados de Thelema
Ordo Templi Orientis
Leah Hirsig
Leila Waddell
Contatos Imediatos do IV Graal - filme
baseado nos ensinamentos de Aleister

Referências
1. Symonds, John
666: The Life of (1997).
AleisterThe Beast
Crowley.
[S.l.]: Pindar Press. pp. vii

2. Powter, Geoff (2006). Strange and


dangerous dreams. [S.l.]: The
Mountaineers Books. 131 páginas.
ISBN 9780898869873

3. Owen, Alex (2004). The place of


enchantment. [S.l.]: University of
Chicago Press. 186 páginas.
ISBN 9780226642017

4. Spence, Lewis (2007). Encyclopedia


of Occultism and Parapsychology.
[S.l.]: Kessinger Publishing.
203 páginas. ISBN 9780766128156
5. Crowley, Aleister (2004). Diary of a
Drug Fiend. [S.l.]: Book Tree.
p. Contracapa. ISBN 9781585092451

6. Sutin, Lawrence (2000). Do What


Thou Wilt.

7. * BBC (British Broadcasting


Corporation), (21 de Setembro de
2002). BBC TWO revela o top 100
Maiores Britânicos de todos os
tempos. (em inglês) «BBC - Press
Office - Great Britons top 100» (http
s://www.bbc.co.uk/pressoffice/press
releases/stories/2002/08_august/2
1/100_list.shtml)
8. The Magical Diaries of Aleister
Crowley (Tunísia 1923): Editado por
Stephen Skinner; página 10

9. «The Confessions of Aleister


Crowley» (http://www.hermetic.com/
crowley/confess/chapter1.html) (em
inglês)

10. King, Magical World, página 5. Em


suas escritas entretanto, ele usa o
termo 'Irmãos de Plymouth', ao invés
de 'Irmandade Reservada'.

11. Symonds (1997:11)


12. As Confissões de Aleister Crowley
diz que ela nasceu em 1808 mas
parece ser um erro de tipografia.
13. «The Confessions of Aleister
Crowley» (http://www.hermetic.com/
crowley/confess/chapter12.html)
(em inglês)

14. Symonds (1997:12)


15. Booth, Martin (2001). «A Trinity
Man». A Magickal Life. Londres:
Coronet. 49 páginas. ISBN 978-0-
340-71806-3

16. « ''As Confissões de Aleister


Crowley''» (http://www.hermetic.co
m/crowley/confess/chapter16.htm
l) . Hermetic.com. Consultado em 8
de janeiro de 2010(em inglês)

17. Symonds (1997:13)


18. Symonds (1997:14-15)
19. Symonds (1997:15)
20. (As confissões de Aleister Crowley, p.
140)

21. (As Confissões de Aleister Crowley,


p. 140).

22. Magical World of Aleister Crowley,


Francis King, página 5

23. Sutin, pp. 47, 159, 245


24. As Confissões de Aleister Crowley,
citado por Sutin p. 47

25. Symonds (1997:14)


26. Sutin, p. 38
27. Sutin, pp. 37–39
28. Symonds (1997:18-19)
29. Symonds (1997:23)
30. Symonds (1997:25)
31. Sutin Do what thou wilt, pp. 64-66
32. Symonds (1997:20)
33. IAO131 Thelema & Buddhism (http://
www.geocities.com/hdbq111/JoTS/
JoTS1-1.pdf) in Journal of Thelemic
Studies, Vol. 1, No. 1, Autumn 2007,
pp. 18–32. Archived (http://www.web
citation.org/5kmWKeCKS) 2009-10-
25.

34. Symonds (1997:29)


35. Symonds (1997:32)
36. Symonds (1997:32-37)
37. Symonds (1997:37)
38. Owen, Alex (2004). The place of
enchantment: British occultism and
the culture of the modern. [S.l.]:
University of Chicago Press.
62 páginas. ISBN 0226642017
Verifique |isbn= (ajuda)

39. Symonds (1997:38-41)


40. Sutin, p. 84-85. Veja também
Abrahadabra.

41. Symonds (1997:42-44)


42. Symonds (1997:46-52)
43. Symonds (1997:54-56)
44. Curtis, Anthony (1987). W. Somerset
Maugham: the critical heritage. [S.l.]:
Routledge. p. 44. ISBN 0710096401
Verifique |isbn= (ajuda)
45. Berti, Giordano (1999). Tarocchi di
Aleister Crowley. [S.l.]: Lo Scarabeo.
p. 55-58

46. Cei, Vitor (2018). Prefácio de Os


Livros Sagrados de Thelema. São
Paulo: Madras. 8 páginas. ISBN 978-
85-370-1156-0

47. Queirós, Luís Miguel. «O poeta


Pessoa e o mago Crowley» (https://w
ww.publico.pt/2009/05/30/jornal/o-p
oeta-pessoa-e-o-mago-crowley-3082
14) . PÚBLICO

48. «Strange Angel» (https://www.imdb.c


om/title/tt7210448) (em inglês)
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Alesteir Crowley segundo a O.T.O. (htt


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Aleister Crowley e a contracultura (htt
p://www.ufjf.br/darandina/files/2010/0
1/artigo09.pdf)
«Aleister Crowley: mago, escritor e
guru do rock» (https://whiplash.net/ma
terias/news_843/146899-aleistercrowl
ey.html)
Livros e ensaios de Aleister Crowley
em português (http://hadnu.com/autor
es/aleister-crowley)
Thelema: Uma Religião da Nova Era (ht
tp://www.artemagicka.com/artigos/th
elema.htm)

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